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A relação entre a teoria da anomia e a teoria da


subcultura da delinquência na explicação da
criminalidade juvenil.

RESUMO

O trabalho que ora se apresenta visa discorrer em breves linhas, sobre a Teoria da Anomia de Robert
Merton, fazendo uma associação com a Teoria da Subcultura da Delinquência de A. Cohen, no que se
refere à explicar a delinquência juvenil e neste contexto, demonstrar, à luz das referidas correntes
sociológicas, que a impossibilidade de alcance de metas culturais impostas à sociedade, resulta na
produção de comportamentos desviantes, especificamente, da delinquência juvenil, visualizada no
contexto de uma subcultura, a qual é caracterizada como reação ao sentimento de frustração
vivenciado pelos indivíduos não possuidores de meios legítimos para atingir os referidos padrões
sociais.

Palavras – chave: Anomia. Criminologia. Delinquência

The relationship between anomie theory and delinquency subculture


theory in explaining juvenile crime.
RESUMEN

The work presented here aims to briefly discuss Robert Merton's Theory of Anomie, making an
association with A. Cohen's Theory of the Subculture of Delinquency, with regard to explaining
juvenile delinquency and in this context, demonstrating , in light of the aforementioned sociological
currents, that the impossibility of achieving cultural goals imposed on society, results in the
production of deviant behaviors, specifically, juvenile delinquency, viewed in the context of a
subculture, which is characterized as a reaction to the feeling of frustration experienced by individuals
who do not have legitimate means to achieve the aforementioned social standards.

Keywords: Anomie. Criminology. Delinquency

1. Introdução

O fenômeno do crime pode ser compreendido sob diversos enfoques e


suas respostas são analisadas por teorias e análises que buscam não só compreendê-
lo, como também, encontrar respostas eficazes para modelos de prevenção e
repressão.

Sob a presente ótica, a criminologia possibilita a pesquisa


comportamental da prática criminosa sob um ângulo de análise múltiplo, visto que
permeia o viés do criminoso, da vítima e das ferramentas de controle social, bem
como, a repercussão das condutas na sociedade.

Diversas escolas criminais trouxeram um arcabouço de análises a


acerca do comportamento criminoso e o presente artigo procura fazer uma relação
entre as teorias da Anomia de Robert Merton e da subdeliquência juvenil de Albert
Cohen, visando com tais análises, compreender o referido fenômeno como resposta
à falta de igualdade de recursos para o alcance dos padrões sociais e econômicos
estabelecidos em sociedade.
2

Para tais análises, foi utilizada a revisão bibliográfica através de


artigos e obras relacionadas ao tema, traçando uma análise da evolução das teorias
criminológicas para a compreensão do tema.

Por fim, são elencadas sugestões de políticas públicas voltadas à


inclusão do jovem em sociedade, como um sujeito de direitos, dentro de uma
concepção de inclusão e pertencimento, visando com tais medidas, à redução dos
números da criminalidade entre o referido grupo.

2. Desenvolvimento
A criminologia pode ser compreendida como uma ciência que tem por
vetores: a análise do crime, do criminoso, as circunstâncias que levam o indivíduo
ao cometimento do crime, bem como, as formas de prevenção do delito.

Neste contexto, o crime e suas causas dão escopo à referida ciência, a


qual pode assim ser definida1:
Ciência empírica e interdisciplinar, que se preocupa do estudo do crime, da pessoa do
infrator, da vítima e do controle social do comportamento delitivo, e que trata de
subministrar uma informação válida, contrastada, sobre a gênese, dinâmica e variáveis
principais do crime – contemplado este como problema individual e como problema
social - assim como sobre os programas de prevenção eficaz do mesmo e técnicas de
intervenção positiva no homem delinquente e nos diversos modelos ou sistemas de
respostas do delito

Neste diapasão, diversas correntes doutrinárias se propuseram a


identificar as razões do crime, de forma que a criminologia tradicional, analisou o
delito a partir de três teorias básicas: a da escola clássica, a da escola positivista e a
da sociologia criminal2.

A Escola Clássica baseava-se em ideais filosóficos e humanistas-


racionalistas e teve como um de seus representantes, Cesare Beccaria (1764), o
qual, com a clássica obra “Dos delitos e das penas”, segundo lições de Roque de
Brito Alves, “humanizou o Direito Penal e a própria aplicação da Justiça
Criminal”3. A referida escola analisava o crime como a ruptura do pacto social, não
se preocupando, contudo, com a etiologia do delito, elencando ainda o livre-arbítrio
do homem em relação às suas ações e que este se tornava criminoso por vontade
própria.

A teoria Clássica projetava o homem como um ser ideal, sublime, como


centro do universo, como dono e senhor absoluto de si mesmo e de seus atos, assim
como protagonista da liberdade. O crime, nesta perspectiva, era fruto do mau uso
da liberdade4.

Em sentido oposto, a Escola Positivista vislumbrava o crime como “um


fenômeno humano e social”5 onde o destaque é a personalidade do delinqüente.

É importante ressaltar, o momento histórico da publicação da referida


obra, haja vista, ter sido marcado pela desilusão em relação às expectativas criadas

1
GARCÍA-PABLOS DE MOLINA, A .Criminologia: introdução a seus fundamentos . 2ª ed. ver. atual. e ampl.,
São Paulo: Editora dos Tribunais,1997
2
ANTUNES,Laudelina Inácio. O Egresso do Sistema Prisional e a rotulação. Disponivel em:
<http://www.revistapersona.com.ar/Persona51/51Laudelina.htm.>Acesso: 01 dez. 2023.
3
ALVES, Roque de Brito. Programa de direito penal (parte geral). Pernambuco: Ed. FASA, 1997.p.28
4
LIBERATI, Wilson Donizeti.Teoria da subcultura delinquente: como surgem as gangues juvenis. Disponível em
<http://periodicos.uem.br/ojs/index.php/RevCiencJurid/article/view/8993/5030> Acesso em 05 jan 2010
5
ALVES, op. cit. p.34
3

pelas idéias iluministas no que se refere às reformas penais e em âmbito


penitenciário.

De forma que a teoria positivista, influenciada pelos estudos biológicos e


psicológicos, contrariava a idéia da responsabilidade penal baseada no livre-
arbítrio.

No que tange à referida teoria, destacam-se os papéis de Ferri, Garófalo e


César Lombroso. O primeiro destacou-se pela condicionante sociológica, Garófalo
foi o pioneiro na utilização da expressão "Criminologia" para as ciências penais e
realizou estudos sobre o crime, o delinquente e a pena e Lombroso notabilizou-se
por ser considerado o criador da Antropologia Criminal, tendo pesquisado o delito
como fenômeno biológico e destacado-se pela obra L´uomo Delinquente (1876),
inaugurando a Escola Positiva Italiana.

E neste cenário, surge a Escola Italiana, que se notabilizara pelo caráter


científico nos estudos da criminologia a par das críticas à Escola Clássica, marcada
pela abstração das idéias que lhes davam sustentação.

Em relação à referida escola doutrinária, discorre Lélio Braga Calhau 6:

As idéias de Lombroso sustentaram um momento de rompimento de paradigmas no


Direito Penal e o surgimento da fase científica da Criminologia. Lombroso e os
adeptos da Escola Positiva de Direito Penal rebateram a tese da Escola Clássica da
responsabilidade penal lastreada no livre-arbítrio.

A teoria do homem delinquente de Lombroso, também conhecida por


biologia criminal, considerava o homem criminoso como um tipo especial,
caracterizado por uma série de fatores somato psíquicos, que o definia como um
delinquente nato7.

Em seguida, surge a fase da Sociologia Criminal, com teorias contrárias


às idéias defendidas pelo Positivismo, sendo o 3º Congresso de Antropologia
Criminal em Bruxelas (1892) considerado como marco inicial do predomínio das
teorias sociológicas.

A teoria Sociológica destaca-se pela abordagem do crime como um


fenômeno de ordem coletiva, sujeito ao viés do determinismo sociológico e
suscetível de previsibilidade8, reconhecendo a miséria, ambiente moral, educação e
família como fatores criminológicos.

Além disto, surge a aplicação dos métodos e instrumentos próprios da


sociologia criminal, como recolha e processamento de dados estatísticos 9.

Dentre os representantes da Sociologia Criminal, Émile Durkheim,


destacou-se em virtude de sua generalidade10, de forma que o crime seria um
fenômeno presente em todas as sociedades.

Neste sentido, Durkheim afasta o caráter patológico do delito,


analisando-o como resultante das relações sociais.

6
CALHAU, Lélio Braga. Cesare Lombroso: Criminologia e a Escola Positiva do Direito Penal. Disponível em:
<www.jusbrasil.com.br/.../comentarios-cesare-lombroso-criminologia-e-a-escola-positiva-de-direito-penal>. Acesso em
01 jan.2010
7
LIBERATI, Wilson Donizeti op. cit
8
ALBERGARIA, Jason. Criminologia. Teoria e Prática 2 ed. Edta.AIDE, 1988. p.20
9
ALBEGARIA. op. cit. p. 20
10
FABRETTI, Humberto Barrionuevo. Teoria do Crime e da Pena em Durkheim: Uma concepção Peculiar do
Delito. Disponível em: <www.mackenzie.br/fileadmin/Graduacao/.../humbertorevisado.pdf> Acesso em 02 jan. 2010.
4

Diversas teorias da Sociologia Jurídica pesquisaram o delito e o


delinquente sob óticas distintas, destacando-se as Teorias Multifatoriais, que
retrataram o âmbito da delinquência juvenil, a Escola de Chicago e a Teoria
Ecológica e a Teoria Estrutural – Funcionalista, a qual destaca-se pela Teoria da
Anomia, analisada por Durkheim, Merton, Clonard e Ohlen, estas surgidas no
contexto de algumas economias da crescente industrialização e de profundas
mudanças sociais em decorrência do enfraquecimento dos modos e normas em
relação á conduta da sociedade11.

O presente trabalho procura analisar a Teoria da Anomia, a qual, sob a


ótica de Robert K. Merton procurou relacionar o fenômeno criminológico ao
desequilíbrio apresentado em grupos sociais, nas quais se verifica a
supervalorização de metas culturalmente impostas na sociedade, restando aos que
não obtém meios legítimos para o atingir tais objetivos, buscar através de condutas
desviantes, o êxito almejado.

Ainda é feita uma relação da Teoria da Anomia com a Teoria da


Subcultura da Delinquência, consagrada pela obra Delinquent Boys de A. Cohen,
considerando-se o comportamento da delinquência juvenil como resposta ante a
frustração dos objetivos não alcançados.

2. TEORIA DA ANOMIA

A expressão “Anomia” tem origem grega, vem de anomos (a representa


ausência, inexistência, privação de; nomos, é lei formal) e em sua concepção
etimológica, define a falta de lei ou falta de norma de conduta 12 e reflete a corrente
teórica surgida em um momento onde se apresentavam mudanças sociais e crise
nos modelos e normas das sociedades e apresenta como principais representantes:
Durkheim, Merton, Cloward e Ohlin, destacando-se, no trabalho em tela, as teorias
dos dois primeiros autores mencionados.

Foi Émile Durkheim o pioneiro à utilizar a referida expressão associando-a


como uma explicação de fenômenos sociais em seu estudo acerca da divisão do
trabalho social e do suicídio Depois dele, diversos autores vieram abordar o
conceito de anomia, contudo, apresentando variações acerca do conceito exato no
que se refere aos pontos de vista rigorosamente científico e sociológico 13.

2.1. A Teoria da Anomia na Concepção de Émile Durkheim

Émile Durkheim influenciou a Sociologia Jurídica com suas concepções.


Segundo o referido sociólogo, o delito não deriva de patologias ou da
desorganização social, mas, resulta da rotina das relações humanas 14:

Frente às concepções tradicionais, a tese de Durkheim significa, em suma, admitir


que o delito é um comportamento normal (não patológico)e ubíquo (é cometido por
pessoas de qualquer estrato da pirâmide social e em qualquer modelo de sociedade)
e derivado não de anomalias do indivíduo nem da própria organização social, senão
estruturas e fenômenos cotidianos no seio de uma ordem social intacta.

Em alusão às concepções de Durkheim o crime não deve ser analisado à


luz de supostas anomalias do sujeito, mas, dentro da estrutura social, tendo ainda
asseverado que o delito se apresenta como a “outra face da moeda” em relação ao
grupo social disciplinado por regras norteadoras de conduta, enquanto o
11
ALBEGARI. op. cit. p. 20
12
ROSA, F.A de Miranda. Sociologia do direito. O fenômeno jurídico como fato social. 7ed. Rio de Janeiro: Zahar
Editores, 1981. p.97
13
ROSA , op. cit. p.98
14
GARCÍA-PABLOS DE MOLINA, A.op. cit, p.253
5

delinquente é visto como um fator pertencente ao regular funcionamento da


sociedade e a pena, uma instituição social das relações estrutural-funcionais 15.

No que se refere à concepção da “Anomia”, segundo Durkheim, a


referida expressão representa a falta de efetividade ou desmoronamento de normas
e valores em vigor na sociedade, em decorrência do célere desenvolvimento da
economia e as alterações sociais decorrentes destas situações, o que resulta no
enfraquecimento da consciência coletiva.

Émile Durkheim ao examinar a divisão de trabalho na sociedade, trouxe a


concepção da anomia em tais relações, sob o título "divisão do trabalho anômico",
analisando que a medida que a divisão de trabalho supera um determinado grau de
desenvolvimento, o indivíduo passa a se debruçar sobre suas tarefas, isolando-se
em sua atividade e afastando-se do convívio social em relação aos colaboradores
que trabalham a seu lado.

De forma que, o indivíduo, dentro da ótica mencionada, perde a noção do


conjunto, o senso de coletividade existente no ambiente de trabalho, passando a se
voltar cada vez mais para a especialização do desempenho da atividade laboral, não
vindo a sentir, portanto, a presença dos colaboradores que trabalham ao seu lado na
mesma obra e não tem mesmo, até a partir de um certo ponto, a idéia dessa obra
comum16.:

Durkheim invocou as palavras de Comte no sentido de que as separações das


funções sociais tendem espontaneamente, ao lado de um desenvolvimento
favorável do espírito de minúcia, no sentido de abafar o espírito de conjunto, ou
pelo menos, de entravar seriamente o seu desenvolvimento.

E nessa esteira, conforme as lições de Durkheim, a idéia de divisão de


trabalho anômico, por força de sua própria natureza, teria a capacidade de dissolver
as relações, notadamente, nas funções que exigissem um maior grau de
especialização e por força desse isolamento, os indivíduos perdiam a visão de
conjunto da atividade social.

De forma que, com a perda da visão de obra comum e do seu sentido,


também vai o esmaecimento das normas que refletem a solidariedade grupal,
resultando em um enfraquecimento da interação, obstaculizando, por consequência,
a existência de relações baseadas no consenso, na idéia de conjunto, o que, em
suma, reflete que o conjunto de normas comuns que constitui o principal
mecanismo para a regulação das relações entre os componentes de um sistema
social se desmorona. Durkheim qualificou tal situação de anomia, no sentido de
ausência de normas.

Na obra “O Suicídio”, escrito em 1897, Durkheim aborda o tema


analisando o suicídio como fenômeno social, de forma que sua intenção era provar
que o suicídio se tratava de uma forma de coerção social, independente do
indivíduo, estabelecida em toda sociedade e que merecia ser objeto de estudo da
sociologia.

Em sua análise, Durkheim analisa o suicídio de acordo com suas


características e circunstâncias, chegando à concepção do “suicídio anômico”, o
qual é observado em duas situações contraditórias: em momentos de depressão
econômica e em períodos de prosperidade, crescimento acelerado.

15
GARCÍA-PABLOS DE MOLINA, A. op. cit, p. 254
16
ROSA.op. cit . p. 99
6

No que se refere às características do suicídio anômico, traz-se as


seguintes linhas17:

É chamado de anômico porque ocorre em um estado excepcional que só se dá


quando há uma crise doentia, seja dolorosa ou não, mas demasiado súbita, tornando
a sociedade incapaz, provisoriamente, de exercer seu papel de reguladora. É um
estado de desregramento, acentuado pelo fato de as paixões serem menos
disciplinadas na altura exata em que teriam necessidade de uma disciplina mais
forte. "A partir do momento em que nada nos detém," escreve Durkheim,
"deixamos de ser capazes de nos determos a nós próprios."

Segundo a análise de Durkheim, as circunstâncias, de aparente


antagonismo, que resultam no aumento do índices de suicídio, têm explicação 18:

No primeiro quadro, a falta de sucesso ao atingir níveis de vida considerados e a


legítima recompensa do trabalho de cada um, explicaria claramente a conduta
evidentemente patológica. Tal fracasso, para muitos, significa vergonha, desespero,
futilidade da vida que não parece valer a pena ser vivida. Já o segundo quadro
apresenta aspectos mais difíceis de compreender, à primeira vista. Para Durkheim,
a explicação desse comportamento surpreendente estaria no fato de que os homens
têm desejos, em princípio, ilimitados... Todas as pretensões passam a valer pouco e
uma espécie de desencanto penetra no modo de ver as coisas, conduzindo a um
comportamento de autodestruição. Seria, portanto, ainda aqui, o desaparecimento
das normas de conduta, preso à perda dos alvos culturalmente prescritos e
individualmente entendidos e buscados, a raiz da conduta anômia referida.

Durkheim não analisou o conceito da anomia para o estudo de


comportamentos desviantes, aplicando-o apenas na divisão de trabalho e suicídio,
como visto.

Neste compasso, a teoria da Anomia de Durkheim é reelaborada pela


sociologia norte americana, destacando a teoria elaborada por R.Merton, o qual
procura dar explicação ao comportamento desviado, através da análise da
sociedade norte-americana, enfatizando que a anomia não se enquadraria apenas no
desmoronamento ou crise de valores ou normas sociais em determinadas
circunstâncias, mas, retrata ainda “o sintoma ou expressão de vazio que se produz
quando os meios socioculturais existentes não servem para fazer as expectativas
culturais de uma sociedade19”

2.2. A Teoria da Anomia sob a Ótica de Robert K. Merton

Robert Merton analisou a anomia sob a ênfase que esta não seria
resultante do desmoronamento ou uma crise de valores e normas em razão das
circunstâncias sociais, conforme Durkheim, mas, que esta seria decorrente de
fatores sócio-culturais existentes na sociedade, em decorrência de uma disfunção
estrutural, crônica, endêmica e inerente a certo modelo de sociedade 20.

Segundo o referido autor, a situação de anomia é verificada quando se


constata uma tensão entre as metas culturalmente existentes na sociedade e a
impossibilidade de o indivíduo alcançar estes objetivos utilizando-se de meios
legitimamente aceitos, levando-o, por consequência, à criminalidade como forma
de obter êxito em relação a seus propósitos.

17
FERNANDES, Amanda Noronha. O suicídio.Émile Durhkeim. Disponível em
<http://www.webartigos.com/articles/24750/1/O-Suicidio-Emile-Durkheim/pagina1.html) Acesso em 06 jan. 2010.
18
ROSA. op. cit. p. 100
19
GARCÍA-PABLOS DE MOLINA, A op. cit.p. 255
20
LIBERATI, op. cit
7

Neste contexto, a anomia pode ser compreendida como uma situação de


rompimento entre as metas e valores tidos como objetivos sociais a serem
alcançados pelo indivíduo e a incapacidade de atingi-los, levando-o ao
comportamento desviante:21

A anomia é então concebida como uma ruptura na estrutura cultural, ocorrendo,


particularmente, quando há uma disjunção aguda entre as normas e metas culturais
e as capacidades socialmente estruturadas dos membros do grupo em agir de
acordo com as primeiras. Conforme essa concepção, os valores culturais podem
ajudar a produzir um comportamento que esteja em oposição aos mandatos dos
próprios valores

Segundo a teoria do referido autor, o grau de anomia de um sistema


social pode ser verificado a partir da ausência de consenso quanto à aplicação e
preservação das normas tidas como legítimas, ressaltando que o descumprimento
destas normas, leva a um estado de insegurança nas relações sociais 22.

Robert Merton explica em sua tese, que a anomia “é o conflito entre os


objetivos culturais e a possibilidade de usar os meios institucionais – qualquer que
seja o caráter do objetivo – que produz uma tensão em direção à anomia 23”.

A teoria de Merton baseou-se na sociedade norte-americana, inserida na


filosofia do sonho americano (american dream) e veio a observar que todo
contexto sociocultural desenvolve metas culturais, as quais norteiam a vida dos
indivíduos, ao mesmo tempo, que este mesmo grupo social, determina os meios
institucionalizados para que estas metas sejam atingidas.

E em seu estudo, Merton foi buscar as metas mais importantes da


sociedade norte-americana: status social, sucesso na vida, riqueza e prestígio e que
estes objetivos, tidos como padrões, deveriam ser almejados por toda coletividade,
sem exceção, Contudo, em sua tese, analisou que muito embora existissem tais
objetivos, estes não eram permitidos serem alcançados por todos do grupo social,
resultando em um desajuste entre os objetivos tidos como mais importantes do
grupo social e os meios legítimos para consegui-los.

De forma que, segundo a referida teoria, a discrepância entre as metas


impostas socialmente e os recursos para o êxito do indivíduo, levaria o indivíduo
ao cometimento de condutas desviantes24:

Disso resulta um desajustamento entre os fins sugeridos a todos (e insistentemente


estimulados os cidadãos a alcançá-los), de um lado, e os recursos oferecidos pela
sociedade para que se alcance aqueles objetivos, de outro. Como resultado, surgem
os comportamentos individuais e mesmo de grupos, a encontrar outros meios para
atingir as metas, mesmo que contrários ás normas estabelecidas pela sociedade
como válidos para isso.

Em alusão à referida teoria, Antonio Garcia-Pablos de Molina, tece as


seguintes considerações:

A teoria da anomia logicamente está vinculada com a filosofia do sonho americano


(sociedade do bem-estar, baseada na igualdade real de oportunidades) destaca que
aqueles aos quais a sociedade não oferece caminhos legais (oportunidades) para
21
SOARES, Janine Borges Soares. O garantismo no sistema infanto-juvenil.Disponível em
http://www.mp.rs.gov.br/infancia/doutrina/id214.htm.Acesso em 03jan. 2010
22
LISBOA, Ângela Maria Patrício . A pobreza, um livre trânsito para a delinqüência juvenil? Disponível em <http
www.repository.utl.pt/.../Angela,%20tese,reformdefinit%202.pdf> Acesso em 05 jan. 2010
23
MERTON, Robert K. Sociologia. Teoria e estrutura social. São Paulo: Ed. Mestre Jon, 1970. P.241
24
ROSA., op.cit. p. 102
8

aceder aos níveis de bem-estar desejados serão pressionados muito mais e muito
antes que os demais para o cometimento de condutas irregulares, com a finalidade
de alcance da meta cobiçada.

O indivíduo, segundo Albergaria25, pode aceitar ou rejeitar os fins culturais,


bem como, aceitar ou rejeitar os meios institucionalizados.

E neste contexto, observando a dissociação das aspirações culturalmente


prescritas e o caminho estruturado para atingi-las, Merton identificou e criou uma
classificação resultante do modo de adaptação do indivíduo às metas culturais e aos
meios institucionalizados, que assim foram definidos: conformidade, inovação,
ritualismo, evasão e rebelião.

Excetuando-se o primeiro, os demais apresentam conduta irregular.

O comportamento classificado por inovação retrata que a ausência de êxito


no alcance da meta socialmente estipulada, diante da insuficiência dos meios
legalmente instituídos, produz o que se denomina por Anomia, a qual “trata-se de
um comportamento em que as normas são abandonadas ou contornadas. É o
chamado comportamento de desvio, pelo qual superando obstáculos institucionais
ou instrumentais, procura-se atingir os alvos culturalmente estimulados pelo
sistema26”

Segundo Merton27:

A grande ênfase sobre a meta do êxito estimula este modo de adaptação através de
meios institucionalmente proibidos, mas frequentemente eficientes, de atingir pelo
menos o simulacro do sucesso – a riqueza e o poder. Esta reação ocorre quando o
indivíduo assimilou a ênfase cultural sobre o alvo a alcançar sem ao mesmo tempo
absorver igualmente as normas institucionais que governam os meios e processos
para o seu atingimento.

E sob tal perspectiva, sob a ótica do comportamento de desvio estão


retratadas a criminalidade e todas as formas de delinquência 28.

No comportamento ritualista se constata o abandono ou a redução dos


elevados alvos culturais do grande sucesso pecuniário e da rápida mobilidade
social, até o ponto em que possam ser satisfeitas as aspirações de cada um.

O retraimento é caracterizado pelo comportamento estranho apresentado


pelos indivíduos em relação aos modos socialmente estabelecidos e à adesão às
metas culturais, que conforme Merton 29, "as pessoas que se adaptam (ou mal se
adaptam) desta maneira estão, para se falar estritamente na sociedade, mas não são
da sociedade”. Ou seja, vivem no meio social, mas a ele não aderem ou dele
retiram a adesão antes dada.

E a rebelião se caracteriza pela rejeição do indivíduo aos parâmetros


socioculturais, pretendendo substituí-los de maneira total, revolucionária. O
comportamento da rebelião não se limita a aperfeiçoar instrumentos, pois ele tem
por objetivo, substituir totalmente metas e meios, fins e processos para atingir os
valores e metas culturais, com a recusa absoluta dos já existentes.

25
ALBEGARIA, op. cit. p.130
26
ROSA, op. cit. p. 104
27
MERTON, op.cit. p. 214
28
ROSA, op. cit.p.105
29
MERTON, op. cit. p 226
9

Em relação às Teorias da Anomia, a doutrina aponta que as mesmas, por


estarem inseridas no contexto das teorias macrossociológicas, conforme Garcia-
Pablos de Molina, apresentam alto nível de abstração, além de menosprezo pelo
componente biopsicológico e de relacionarem o crime com estruturas sociais e
determinadas manifestações delitivas operando sempre com as magnitudes
unitárias e indiscriminadas, além de sofrer críticas por não terem estabelecido
limites concretos e operativos (fronteiras) entre o que é considerado "normal" e o
"anômico", tendo sido ainda consideradas como conservadoras no que cerne ao
exame do crime, focando-o nas baixas classes sociais, o que, segundo o autor
mencionado, sustenta "um enfoque mais sintomatológico que etiológico, isto é,
contempla o delito onde se manifesta e quando se exterioriza o conflito, não
quando e onde ele é gerado, razão pela qual manifesta uma vocação conservadora
inclinada a legitimar sistematicamente o status quo" 30.

Porém, é reconhecido que as teorias referidas acertadamente relacionam o


crime com estruturas sociais, com fenômenos da vida cotidiana, além de terem
considerado o delito como um fato normal, inextirpável da sociedade, sem que
sejam invocadas patologias individuais ou complexos conflitos sociais e além
disso, serviram de base para um conjunto de teorias que aparecem na sociologia
jurídica.

2.3. A Relação entre a Teoria da Anomia e Teoria da Subcultura da


Delinquência de Cohen.

A. Cohen, autor da obra Delinquent Boys, utilizou-se da Teoria da Anomia


de Merton para explicar a delinquência juvenil, destinando-se a analisar o referido
tema partindo da idéia que a estrutura de classes é causadora da delinquência, a
qual se apresenta como um produto de soluções coletivas para os problemas de
status, necessidades e frustrações das classes baixas num mundo de valores de
classe média31.

E explica a idéia da subcultura como “uma cultura dentro da cultura” 32

Neste contexto, pode-se se compreender que33:

A subcultura advém de uma certa reação conflituosa e de rejeição às normas


instauradas na comunidade. Deste conflito, que gera frustrações face à cultura
dominante surgem as subculturas delinquentes. Assim, nesta nova cultura que
nasce dentro mas de forma oposta à cultura dominante, os elementos convertem-se
a um sistema de crenças e valores em ação.

Assim, na visão de Cohen, a delinquência juvenil seria resultante da


rejeição dos valores das classes dominantes, vez que estes valores não fazem parte
da realidade dos jovens que pertencem à classes de menor poder aquisitivo e assim,
a formação de um bando é o desfecho natural para os indivíduos daquelas classes,
que se reúnem por seus sentimentos comuns de hostilidade.

Fazendo alusão à teoria de Merton, a subcultura da delinquência, portanto,


emerge dos extratos inferiores da sociedade, do jovem de classe baixa, baseado no
sentimento de frustração por não ter alcançado os objetivos culturalmente
valorados e essa frustração resulta na negação desses valores predominantes,
30
MOLINA, p.258-259
31
SOARES, Janine Borges. O Garantismo do Sistema Infanto Juvenil Disponível em <
http://www.mp.rs.gov.br/infancia/doutrina/id214.htm>. Acesso em 03 jan.2010
32
GARCÍA-PABLOS DE MOLINA, A. op. cit. p. 289
33
MEIRELES,Adriana.Abordagem sociológica do crime. Disponível em
<http://sociuslogia.blogspot.com/2009/02/abordagem-sociologica-do-crime_05.html> Acesso em 06 jan. 2010
10

fazendo com que se construa um conjunto de valores próprios daquele grupo


(subcultura) harmonizados com sua realidade, de forma que a subcultura da
delinquência surge como uma reação contra a sociedade, em decorrência do
sentimento de exclusão.

Conforme Albegaria34, o menor da classe baixa assume uma virtude


ambivalente ante os valores da classe alta e os valores da classe baixa. Essa atitude
de ambivalência resolve-se de três modos:
a) o menor abandona o seu modo de vida original em favor do padrão de educação
da classe média, ao torna-se colegial;
b) o menor permanece conformista: aceita suas limitações e faz melhor para seguir
os padrões da classe baixa. Evita as frustrações ou desapontamento do colegial, que
abandona o seu meio;
c) o menor adota a solução do delinquente, rompendo com valores tradicionais.
Esses menores constroem a subcultura delinquente com suas normas e valores, que
se opõem às normas e valores da classe média: suas normas são certas e justas
porque consideram erradas e injustas as normas da classe média: estas normas
mostram a sua polaridade negativa. As normas de subcultura justificam o furto, o
vandalismo e a violência, porque são condenados pela classe média.
Quanto ao surgimento da referida Teoria, Molina 35 analisa que o primeiro
momento da teoria, é de democratização do denominado american dream, cujos
valores se disseminam tanto no âmbito das classes com poder aquisitivo quanto nas
classes baixas.

O primeiro momento da teoria é a idéia da total democratização do chamado


american dream: tanto os jovens das classes possidentes como os jovens das
classes baixas ineriorizam e começam por aderir à ética do sucesso que preside a
toda a sociedade americana. Tanto uns como outros participam, com igual
legitimidade, na competição pela realização pessoal, pelo sucesso, peça aquisição
de status, em síntese, pela subida. E é ainda por obediência á mesma ideologia
igualitária e democrática que a todos se aplicam os mesmos critérios de sucesso e
distribuição de status

Contudo, este critério democrático, na prática, apresenta-se extremamente


discriminatório, pois são típicos critérios da classe média, de forma que estes
valores seriam aplicados a todos do grupo social, denotando, contudo, as
desvantagens enfrentadas pelos jovens das classes trabalhadoras, haja vista, a
redução de oportunidades, mesmo diante de objetivos e padrões impostos sem
observância quanto à viabilização de alcance das referidas metas por todos, através
dos meios considerados legítimos.

Ocorre que, os menores dessa classe, não têm os meios e oportunidades


para lograr êxito e tem na escola, o ambiente propício á constatação do insucesso 36:

É sobretudo na escola que este contraste se torna mais nítido e mais condicionante
da sorte dos jovens das classes trabalhadoras. Lugar privilegiado de seleção, a
escola espelha-se na ideologia democratizante e meritocrática da sociedade global:
abre-se a todos e nela todos são julgados segundo os mesmos padrões.
Simplesmente, os filhos da classe média sofrem a socialização escolar como um
prolongamento e desenvolvimento da educação familiar, já para os jovens das
classes trabalhadoras a aculturação na escola implica a desaculturação da sua
socialização familiar, Isto é, enquanto os primeiros correm no seu próprio terreno,
os últimos correm no terreno alheio e são condenados a partir com atraso. Acresce

34
ALBEGARIA, p.132
35
GARCÍA-PABLOS DE MOLINA, A . p. 294
36
GARCÍA-PABLOS DE MOLINA, A. p. 269
11

que os critério de seleção e distribuição de status, manipulados pelos professores,


são critérios da classe média”.

Assim, tem-se por consequência a evidente sensação de humilhação,


angústia e culpa suportados pelos jovens de classes trabalhadoras,devido à
assimilação da cultura de sucesso, de forma que, os jovens de classe baixa, que
vivem em áreas pobres, não alcançam, pelos meios convencionais, o sucesso
almejado dentro das metas socialmente definidas, vindo a desenvolver, portanto,
sentimentos de anomia pela tensão, vivendo em um conjunto único de valores
culturais e símbolos37.

Logo, os sentimentos de inferioridade e de exclusão, evidenciam a


motivação do agrupamento de jovens das camadas excluídas da sociedade,
funcionando como uma resposta à sociedad38:

Oes jovens de classes trabalhadores se encontram em flagrante desvantagem na


corrida pelos bens escassos, desvantagem esta, sobretudo pelo teor da socialização,
uma vez que é no processo de socialização que se distingue uma classe social da
outra Neste contexto, os oriundos das camadas excluídas estão fadados ao fracasso,
que por sua vez, provoca um forte sentimento de frustração e humilhação, angústia
e culpa. Uma possível saída é repudiar o jogo e sair dele, criando um novo jogo
com próprias regras e critérios possíveis de se realizar. O agrupamento de um
número considerável de jovens nesta situação é inevitável, criando-se assim, uma
cultura delinquente. O processo é de reação-formação, ou seja, a ruptura da cultura
e de acolhimento da nova subcultura.

E nesta associação, a prática de delitos será compreendido como um


resultado da identificação destes jovens em relação às práticas e valores inerentes à
subcultura delinquente39.

Ressalte-se que, nessa subcultura, compreendida como uma cultura que


nasce no interior de outra, mas com valores opostos àquela que se apresenta como
dominante, existe o processo de aprendizagem, socialização e assimilação de
valores, surgindo uma espécie de código interno que regulará as ações daqueles
indivíduos, inclusive, valorizando condutas criminosas40:

Este processo leva à interiorização de um código moral específico ou cultural


permitindo e favorecendo a ocorrência do crime. O delinquente vai, dentro da
subcultura, querer corresponder às expectativas dos outros elementos integrantes
que incentivam atos delinquentes. Desta forma o delinquente pretende atingir
dentro do seu grupo o status que lhe foi negado ou dificultado dentro da cultura
dominante. A dificuldade do delinquente em enveredar pela aceitação das normas
da sociedade em que se insere parte de uma desigualdade e descriminação que
sofre dentro dela. Ou seja, a cultura dominante impõe um código de conduta para a
procura do sucesso que não está ao alcance de todas as classes.

Segundo lições de Garcia-Pablos de Molina 41, o delinquente "não


pretende mais do que corresponder à expectativa dos outros significantes que
definem o seu meio cultural e funcionam como grupo de referência para efeito de
status e sucesso".
37
LIBERATI, Wilson Donizeti. op. cit
38
DULESKO. Darlei de Andrade. Criminologia: A Multidisciplinariedade na investigação das origens do crime do
processo de seletividade penal no vale do Itajaí/SC.Disponível em <
http://revista.grupointegrado.br/revista/index.php/discursojuridico/article/view/263/127> Acesso em 03 jan.2010
39
LISBOA, Ângela Maria. op cit
40
MEIRELES, Adriana. op. cit
41
GARCÍA-PABLOS DE MOLINA, A. p.291
12

Em conformidade ao texto de Wilson Donizeti Liberati, a anomia em


relação aos valores da classe média estimula a formação da subcultura
delinquente42:

Ao invés de aspirarem a ser "mauricinhos" e "patricinhas", ou mesmo “yuppies”,


eles se empenham em ser valentões, arruaceiros e espertos, malandros das ruas. Em
outras palavras, sentimento de anomia e exclusão encorajam os cidadãos de classe
baixa a formarem uma subcultura independente, que se tornará sua base de
sustentação. Eles podem falhar na interação com a sociedade convencional, mas
são os reis e rainhas da vizinhança.

Logo, compreende-se que a subcultura da delinquência, sob a ótica da


teoria de Cohen, resulta àqueles indivíduos que participam do grupo, uma sensação
de êxito, de status, que a cultura dominante não reconhece, uma espécie de êxito às
avessas, pois o sucesso social é alcançado dentro de regras que vigoram na
subcultura e não, perante os códigos de conduta e valores da cultura em vigor.

Em relação ao perfil do grupo delinquente, na visão de Cohen, aquele é


composto de jovens masculinos das classes mais baixas e o crime não é praticado
para a realização de qualquer finalidade, cometendo-se o crime pelo próprio crime
e seus atos se destacam pela malignidade, pois na conduta dos delinquentes, são
revelados o prazer em agredir ou molestar pessoas. A participação no grupo
representa uma válvula para a agressão, aliviando a sua frustração.

De forma que, estes grupos convivem sob regras e valores de conduta


específicos, alheios aos valores que norteiam as relações da sociedade em geral,
notadamente, no âmbito da classe média e classe média alta, resultando em um
estado de anomia, bem como, esta reação, se enquadra em um sentimento de reação
à frustração do não alcance das metas e objetivos, que diante da ausência de meios
institucionais para atingir o êxito almejado, são considerados impossíveis.

3. CONCLUSÃO

Em relação ao trabalho exposto, fora analisada a relação entre a


concepção de Anomia de Robert Merton e a Teoria da Subdelinquência de Cohen,
sendo discorrido que, a cultura da subdelinquência surge como forma de resposta
ao sentimento de exclusão social, notadamente, diante da ausência de meios
legítimos de alcance das metas e objetivos socialmente impostos à sociedade.

E neste diapasão, é evidente que as problemáticas da delinquência e


criminalidade juvenil, passam a ser um dos principais temas que de política de
segurança por parte do Estado, requerendo a definição de medidas adequadas à sua
redução, através de ações preventivas e repressivas, dado o alarmante número
crescente de jovens em situação de criminalidade.

Ajustar os meios institucionalmente aceitos à realidade daqueles que são


desprovidos, desde cedo, do alcance das metas sociais, cada vez mais ligadas ao
consumo e ao status econômico, é um dos caminhos da prevenção que deve ser
observado.

Medidas como a integrar do jovem a novos valores, através de campanhas


de conscientização em comunidades carentes e escolas públicas, o acesso à cursos
profissionalizantes e técnicos, o estímulo para que os jovens se relacionem melhor
com a comunidade que vivem, acesso a tratamentos psicológicos e assistentes
42
LIBERATI, Wilson Donizeti. op. cit
13

sociais no sentido de reverter a supervalorização da subcultura delinquente e a


redefinição dos conceitos de status social à luz da cidadania, são medidas simples e
que podem ser utilizadas como políticas preventivas, reduzindo, os percentuais dos
números de jovens que encontram na criminalidade a saída para as suas frustrações
pessoais.

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