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UNIVERSIDADE FEDERAL DE SERGIPE

CENTRO DE EDUCAÇÃO E CIÊNCIAS HUMANAS


DEPARTAMENTO DE PSICOLOGIA
DISCIPLINA: PSICOLOGIA SOCIAL III
PROFESSORA: TERESA NOBRE
ALUNA: MICHELLE FERREIRA ANDRADE

AVALIAÇÃO DE PSICOLOGIA
SOCIAL III
MEDICALIZAR, PATOLOGIZAR E DISCIPLINAR A
LOUCURA E A CRIMINALIDADE

São Cristóvão
Janeiro/2007
Introdução

O presente trabalho tem por objetivo alinhar conhecimentos expostos em sala


de aula sobre Instituições e Organizações Sociais e a temática de Medicalizar,
patologizar e disciplinar a loucura e a criminalidade fazendo um paralelo
analítico de idéias baseadas nos conhecimentos abordados em sala de aula
com a Professora Teresa Nobre e fundamentado principalmente no livro de
Michel Foucault que apresenta um crime praticado por Pierre Rivière em 1835
“Eu, Pierre Rivière, que degolei minha mãe, minha irmã e meu irmão...”.

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DESENVOLVIMENTO

“ Marie Riviére , 74 anos:

Hoje, entre onze e meia e meio-dia, estando à porta de minha casa, que , como
vêem, dá para o mesmo pátio da casa onde o crime foi cometido, do outro lado
do referido pátio, à esquerda, vi a mocinha Victoire Rivière na porta que dá
para nosso pátio, vi a mocinha Vistorie Rivière na porta que dá para o nosso
pátio, e seu irmão a segurava pelos cabelos. Ela parecia querer escapar.
Tendo-me aproximado deles, Pierre Rivière segurava uma foice na mão que
erguia sobre sua irmã. Gritei: “Ah, desgraçado, que vai você fazer!”, tentando
imobilizar-lhe o braço, mas no mesmo instante ele desfechou sobre a cabeça
de sua infeliz irmã vários golpes que a fizeram cair morta a seus pés. Tudo isso
passou-se em menos de um minuto. Ele fugiu pela porta que dá para o
caminho vicinal , em direção ao burgo de Aunay; ao mesmo instante, botei a
cabeça para dentro da casa e percebi a razão e comecei a gritar: “Meu Deus,
que desgraça; meu Deus, que desgraça”. Várias pessoas acorreram, mas
todos os que moram nas casaS de nosso pátio estavam ausentes no
momento.” (Pág. 7)

É habitual a questão do crime envolver uma série de reflexões e


comentários que ultrapassam em muito o ato delituoso em si; são questões
que resvalam na ética, na moral, na psicologia e na psiquiatria
simultaneamente. Sempre há alguém atrelando ao criminoso, traços e
características psicopatológicas ou sociológicas: porque Fulano cometeu
esse crime?

Atualmente, apesar da ciência não ter ainda um consenso definitivo sobre


a questão, sabe-se, no mínimo, que qualquer abordagem isolada do ser
humano corre enorme risco de errar. Assim sendo, atualmente usamos o
modelo bio-psico-social, na tentativa de compreender as pessoas e os
fatores que influenciam seus comportamentos. Dentre esses três modelos
(biológico, psicológico e social), sem dúvida a abordagem biológica da
pessoa é um dos aspectos mais criticados e polêmicos.

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Neste caso citado por Foucault podemos notar o quão é difícil definir uma
“sentença” para um monomaníaco como foi definido pelo parecer médico da
época. 

“Quero dizer a verdade; foi para tirar meu pai de apuros que fiz aquilo. Quis livrá-lo
de uma mulher má que o atormentava continuamente, desde que se casou com
ele, e que o arruinava, que o levava a tal desespero que às vezes ele era tentado
a suicidar-se. Matei minha irmã Victoire porque tomava partido de minha mãe.
Matei meu irmão porque amava minha mãe e minha imã.” (depoimento de Pierre
Riviére segundo o livro “Eu,... pág.23)

Pierre Rivière foi condenado à prisão perpétua por crime de parrídio à


pena de morte, pena esta que a clemência real comutou para prisão
perpétua sem exposição, acaba de ser transferido para a prisão central de
Beaulieu e que futuramente veio a falecer por suicídio no próprio presídio.

O que fazer com essas pessoas que estariam perturbadas


psiquicamente? Encurralá-las socialmente? Seria essa a única alternativa?
Ou, ao contrário, seria elas simplesmente pessoas maldosas? Portadora de
um caráter delituosos?

Segundo Sérgio Carrara, no Brasil como proposta oficial, evento que ele
considerou, num certo sentido, um "monumento ao triunfo da psiquiatria".

Carrara deixa transparente que ao separar a convivência do louco comum


com o louco criminoso, foi majoritária na psiquiatria alienista brasileira. Foi isso
mesmo que aconteceu.

Atualmente, o problema do crime-doença continua sendo desafiador para a


psiquiatria. Carrara diz que "ao serem levantados os muros do manicômio
judiciário, emparedava-se o conflito e aqueles sobre os quais ele se projetava;
emparedava-se uma concepção da pessoa humana que, mesmo incompatível
com qualquer sistema de regras morais, impunha-se, através da ciência, em
um mundo inebriado pelo progresso" (pg.199).

Os manicômios judiciais foram criados em meados da década de 20 em


nosso país, caracterizando-se como instituições totais que integravam o

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sistema de repressão penal, serviam como instrumento de controle social,
locais apropriados e destinados a punições. Tratava-se de uma violência
institucionalizada, que demonstrava que a justiça criminal e a psiquiatria
estavam definitivamente ligadas, no que tangia no tratamento do individuo
delinqüente/doente.

Referindo-se aos indivíduos processados por vadiagem e submetidos ao


exame mental no Manicômio Judiciário, afirma Carrilho: "A ociosidade em que
vivem tais contraventores, sendo como é, muitas vezes, a expressão de
anomalias mentais corrigíveis, deixaria, sem dúvida, de existir, se a orientação
e adaptação profissionais, cientificamente realizadas, sobre eles fizessem
convergir os seus benefícios..."

Na opinião dos peritos, mesmo não sendo um vadio, mas sim um "incapaz",
um "credor da proteção social e não de sua proscrição", a liberdade "constitui
uma grande ameaça para a sociedade, convindo portanto que seja internado
em estabelecimento onde tenha tratamento adequado".

Hoje, no caso dos doentes mentais que cometeram crime, a legislação


estabelece medidas de segurança, com caráter terapêutico e realizadas em
instituições diferenciadas, chamados de Hospitais de Custódia e tratamento
ou Manicômios Judiciais, constituindo-se em estabelecimentos híbridos entre
o manicômio e a prisão.

Existem também entre os funcionários destes manicômios, uma


preocupação quanto à própria segurança e integridade física e o
conseqüente e ameaçador sentimento de ser a próxima vítima, assim como o
anseio de indignação pelo fato de ter que atender um indivíduo que cometeu
uma infração.

Porque não prevenir o crime, alimentando adequadamente os sujeitos


para evitar desencadear alguns distúrbios neurológicos que apesar de não
terem ainda cometido crimes possam apresentar estas características?
Avançando um pouco mais, porque não efetuar terapias genéticas no

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embrião para os sujeitos que apresentam a este nível alterações
identificadas como características do criminoso? 

Perante estas questões levanta-se uma outra, que é da liberdade


individual, remetendo esta para a certeza do comportamento ser
determinado unicamente por fatores biológicos. Essas questões são de
primordial importância na Psiquiatria Forense porque dizem respeito à
imputabilidade, culpabilidade e responsabilidade. De qualquer forma, parece
que a idéia da biologia ser a única e principal determinante do
comportamento é universalmente rejeitada. 

Assim sendo, tentar explicar o comportamento e as atitudes humanas,


apenas a partir de fatores biológicos não parece ser um bom método, pois
qualquer comportamento, incluindo o comportamento criminoso, é
considerado como um conjunto de inúmeros processos em complexa
interação bio-psico-social.

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Bibliografia

 Foucault, Michel. “Eu, Pierre Rivière, que degolei minha mãe, minha
irmã e meu irmão... um caso de parrídio do século XIX, apresentado
por Michel Foucault. Trad. Denize Lezan de Almeida. Rio de Janeiro,
Edições Graal, 1977.

Sites:

http://www.psiqweb.med.br/forense/biocrime.html

http://www.psiqweb.med.br/forense/crime.html

http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S0034-
77011998000200010&script=sci_arttext&tlng=en

http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0104-
59701999000100001&lng=es&nrm=iso&tlng=pt

http://www.madres.org/asp/contenido.asp?clave=1488

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