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PSICOPATIA ANTE CASOS DE NECROFILIA EM SÉRIE: A INCÓGNITA POR

TRÁS DA VIOLAÇÃO SEXUAL

PSYCHOPATHY BEFORE SERIES NECROPHILIA: THE INCOGNITA BEHIND


SEXUAL VIOLATION
Rafael Alexandre Martins 1
Mônica Welchen Siqueira2

RESUMO
O presente estudo tem por objetivo a análise do fenômeno necrofilia. Denota-se que existe
em nosso ordenamento jurídico brasileiro e no entendimento criminológico, um abismo ou
ainda, uma incógnita acerca do crime sexual de necrofilia e suas motivações. Ao longo do
presente artigo, será abordado o “modus operandi” do necrófilo, onde será formulada uma
classificação operacional do mesmo. A necrofilia é uma rara parafilia que muitas vezes pode
ser comparado a um desvio comportamental aliado a psicopatia. Por tratar-se de um assunto
um tanto pouco explorado, que ainda abala o meio social, buscamos a partir de referências
bibliográficas e estudos comportamentais documentados e/ou relatados por jornais, livros,
artigos, publicados por profissionais da psiquiatria, entre outros pesquisadores da
criminologia.
O presente artigo visa determinar as variantes operacionais e psicológicas do indivíduo
necrófilo, bem como, tentar responder se existe um padrão comportamental específico ao
qual se pode identificar se é possível obter um tratamento médico adequado a este individuo,
tal qual possa isentá-lo dos comportamentos atípicos e doentios.
Palavras-chave: Necrofilia; Psicopatia; Violação; Cadáver; Sexual.

ABSTRACT
The present study aims to analyze the necrophilia phenomenon. It is noted that there is in
our Brazilian legal system and in the criminological understanding, an abyss or even an
unknown about the sexual crime of necrophilia and its motivations. Throughout this article,
the “modus operandi” of the necrophiliac will be addressed, where an operational
classification will be formulated. Necrophilia is a rare paraphilia that can often be compared
to a deviant behavior associated with psychopathy. As this is a somewhat unexplored
subject, which still shakes the social environment, we searched from bibliographical
references and behavioral studies documented and/or reported by newspapers, books,
articles, published by psychiatry professionals, among other researchers from criminology.
This article aims to determine the operational and psychological variants of the necrophilic
individual, as well as trying to answer if there is a specific behavioral pattern to which it is
possible to identify if it is possible to obtain an adequate medical treatment for this
individual, such as can exempt him from the behaviors. atypical and unhealthy.
KEYWORDS: Necrophilia; Psychopathy; Violation; Corpse; Sexual.

1 INTRODUÇÃO

1
Acadêmico de direito da UNIFTEC.
2
Acadêmica de direito da UNIFTEC.
Diante da incógnita a qual o presente estudo visa desvendar, denota-se um ímpeto
desgosto acerca do assunto, porém o estudo se faz imprescindível diante do abismo que
existe entre o problema e a solução, diferentemente dos já estudados seriais killers, os
necrófilos por algum motivo não conseguem trazer uma discussão maior sobre o artigo penal
referente ao crime de vilipendio ao cadáver como também até o presente momento não
conseguiu levantar maiores discussões acerca das parafilias, importa ressaltar que, assim
como os seriais killers, os necrófilos também tem uma distinta determinação inicial,
determinada como necrófilo homicida, necrófilo fantasioso e necrófilo comum.
CÂMARA de, Pinheiro, Bezerra, André; e PINHEIRO, Gomes, Alencar de Adriana; (2020),
trazem a distinção dos grupos de classificação necrofílica3:
A necrofilia se desdobra em três grupos distintos: a necrofilia comum, prática
sexual com corpo sem vida; homicida, quando o indivíduo chega a matar para
obter o cadáver; e a fantasiada, em que existe a fantasia de relacionamento sexual
com cadáveres, sem atuação necrofílica.

“Necrofilia é uma parafilia incomum e peculiar e tem como característica principal a


atração e satisfação sexual em que envolva pessoas mortas. A literatura mais antiga
associava necrofilia com severa psicopatologia”. (CÂMARA, Andre; 2020). Hoje em dia, se
tem a visão de necrofilia a partir de categorias, a Necrofilia é muito maior que desenterrar
um corpo, por isso existem as categorias, onde em determinada categoria da necrofilia o
indivíduo jamais fará isso. No presente artigo será abordado a categoria Necrosadismo, que
são pessoas que tem um desejo sexual por outras, após sua morte, onde assassinam a pessoa
e antes ou depois de matá-la a violentam. Sem prazer de relacionamento, mas o prazer de ter
o controle total sobre aquele cadáver. Além desta, abordaremos também, a categoria
chamada Canibalesca, onde o necrófilo mata a pessoa, violenta ou não o corpo
sexualmente, parte ele, come as partes nobres e o resto se desfaz.
A partir disso, a necrofilia precisa ser entendida, como uma perversão mais próxima
da doença mental. Há um ato de prazer contínuo, a vontade de sentir aquilo novamente, a
cura não se encaixa neste caso, pois, por ser perversão isso corresponde a uma estruturação
na personalidade daquele individuo, o diagnóstico de uma pessoa necrófila é muito difícil,
pois elas nunca procuram psicoterapia nem psicanálise, essas pessoas são procuradas pelos

3
CÂMARA de, Pinheiro, Bezerra, André; e PINHEIRO, Gomes, Alencar de Adriana; Transtorno parafílico –
sadismo sexual, necrofilia e inclinação para a antropofagia no modus operandi do Maníaco do Parque.
Paraphilic disorder -sexual sadism, necrofilia and inclination for anthropophagy in the modus operandi of Park
Maniac. 2020. Disponível em:
https://andrecamaraadv.jusbrasil.com.br/artigos/818747725/transtorno-parafilico-sadismo-sexual-necrofilia-e-i
nclinacao-para-a-antropofagia-no-modus-operandi-do-maniaco-do-parque. Acesso em: 31.08.21.
profissionais quando já fizeram o ato criminoso. Não há nenhum sentimento de culpa e sim
uma certeza de gratificação.
Optou-se neste projeto pela análise de caráter qualitativo, realizando pesquisas na
rede mundial de computadores e afins, e a pesquisa descritiva, permeada de uma análise
minuciosa do presente estudo.
O problema de pesquisa consiste em encontrar semelhanças e traços de ligação
comportamental entre os necrófilos e os assassinos em series como são também conhecidos
“seriais killers”.
O objeto a ser estudado busca classificar e entender a motivação para cometimento
da violação aos corpos após o óbito. Quanto aos objetivos cita-se a abordagem acerca da
classificação do “modus operandi” do necrófilo. Dentro disso, pretende-se utilizar desta
classificação para criar uma qualificação específica do necrófilo e entender as ligações que a
parafilia de necrofilia pode ter com a psicopatia. Por fim, será estudado os perfis
psicológicos da parafilia supracitada. Baseou-se na análise da bibliografia proposta no
sentido de selecionar conceitos que trouxessem ao texto um melhor argumento no que se
refere a classificação e significado do termo necrofilia e a sua incógnita por trás da violação
sexual.

2 ASSASSINOS EM SÉRIE – DA EXCITAÇÃO AO CRIME

Assassinos em série ou também conhecidos como Serial Killers, são indivíduos que
cometem séries de homicídios durante determinado lapso temporal, com pelo menos alguns
dias de intervalo entre eles.
Observa-se que, as parafilias sexuais de cunho sádico, apontam com exatidão, a
crescente prática da necrofilia e o surgimento do canibalismo. No trecho a seguir, os autores
CÂMERA da, Pinheiro, Bezerra, André; PINHEIRO, Gomes, Alencar de, Adriana; retratam muito
bem o que dito anteriormente sobre o difícil diagnostico do psicopata necrófilo4:
Na década de 1970, nos Estados Unidos, Robert K. Ressler, um agente do FBI,
rotulou de serial killer, termo dado aos assassinos em série, nome que se tornaria
mundialmente conhecido. Sua principal característica é a sequência de
assassinatos que o indivíduo comete, seguindo um padrão ou roteiro

4
CÂMARA da, Pinheiro, Bezerra, André; PINHEIRO, Gomes, Alencar de, Adriana; Transtorno parafílico –
sadismo sexual, necrofilia e inclinação para a antropofagia no modus operandi do Maníaco do Parque.
Paraphilic disorder -sexual sadism, necrofilia and inclination for anthropophagy in the modus operandi of Park
Maniac. 2020. Disponível em:
https://andrecamaraadv.jusbrasil.com.br/artigos/818747725/transtorno-parafilico-sadismo-sexual-necrofilia-e-i
nclinacao-para-a-antropofagia-no-modus-operandi-do-maniaco-do-parque. Acesso em: 11.08.21.
previamente estabelecido, como se fosse uma espécie de assinatura que identifica
seu crime.
Enquanto o transtorno parafílico e personalidade antissocial são diagnósticos
médicos, podem-se entender os termos “parafilias” e “psicopatia”, pertencente à
esfera psiquiátrico-forense, como um "diagnóstico legal". Não se pode falar ainda
de tratamento eficaz para os chamados "serial killers". Resultados apontam que
os transtornos de personalidade, especialmente o tipo antissocial, representam
ainda hoje um verdadeiro desafio para a psiquiatria forense. (Grifo nosso)
O Serial killer nos anos 70, foi muito estudado, e a partir destes estudos se teve a construção
do seu modus operandi. Porém, em 1956, criou-se o conceito de sistema, chamado Hall e
Fagen. A partir disso, elaborou-se o modelo S.I.R, como cita SÁ DE, AUGUSTO, Alvino;
(1999)5:
O modelo S.I.R. busca analisar e compreender o comportamento do homicida
serial à luz da teoria sistêmica. O autor adota o conceito de sistema de Hall e
Fagen (1956): "Um conjunto de objetos e de relações entre os objetos e entre os
seus atributos".
O modelo proposto pelo autor para analisar e classificar a conduta dos homicidas
seriais prevê três fatores, ou três conjuntos de fatores: Fatores Socioambientais -
F (S), Fatores Individuais - F (I) e Fatores Relacionais - F (R). Daí a sigla
S.I.R.
Vejamos esses três conjuntos de fatores:
- F(S): famílias problemáticas, geradoras de uma série de traumas. Na adolescência
e vida adulta: baixo nível de inserção social, com a vida interior voltada a fantasias
sexuais e a imaginações distantes da realidade. Ocorrem eventos facilitadores e
desencadeantes que, para o homicida serial, são fatais.
- F(I): duas características fundamentais do homicida serial são a força e qualidade
de sua sexualidade e a sua vida imaginativa muito rica e articulada. Encontram-se
nele necessidades estritamente subjetivas, muito estranhas, que ele coloca como
justificativas de seus crimes.
- F(R): é a síntese, o ponto de encontro entre os dois fatores precedentes. Os
homicidas seriais têm dificuldades em manter relações adequadas com o próximo.
Ainda que aparentemente possam manter relações sociais, profundamente vivem
na solidão, entregues às suas fantasias e imaginação. As relações sociais são
superficiais e tensas, inclusive no seio familiar. (grifo nosso)

Diante da montagem do modelo S.I.R, podemos dizer que este se faz condizente ao
estudo também dos perfis necrófilos, sendo estes os produtos estudados no presente artigo.
Porém dentro do modelo, existem 11 classificações de homicidas seriais, sendo o modelo 10
embasado a esta pesquisa6:
H.S. sexual (HS-Sex) está presente uma motivação sexual primária na base da
ação homicida. Pode haver o estupro (antes e/ou depois da morte) ou uma agressão
sexual pela introdução de objetos nos orifícios do corpo da vítima. Distinguem-se
dois subgrupos:
a) Homicídio serial sexual sádico (HS-Sex S). O indivíduo obtém gratificação
sexual impondo grandes sofrimentos às vítimas. Muitos indivíduos começam sua
carreira criminal com uma série de estupros. Na base desta conduta, pode haver
uma "hiperestesia sexual".
b) Homicídio serial sexual necrófilo (HS-Sex N). É o oposto do antecedente. O
assassino mata a vítima o mais rápido possível, procurando preservar o
máximo possível seu corpo, a fim de manter consigo um corpo intacto. Às vezes,

5
SÁ DE, AUGUSTO, Alvino. HOMICIDAS SERIAIS, Revista Brasileira de Ciências Criminais | vol. 27/1999
| p. 217 - 229 | Jul - Set / 1999 | DTR\1999\284. Acesso em: 31.08.21.
6
HOMICIDAS SERIAIS, Revista Brasileira de Ciências Criminais | vol. 27/1999 | p. 217 - 229 | Jul - Set /
1999 | DTR\1999\284. Acesso em: 31.08.21.
nem consegue completar o ato sexual. Após alguns dias, pode seccionar o cadáver
para conservar algumas partes e desfazer-se do resto.
- F1(I) e F2(S): ambientes familiares traumatizantes, sobretudo no que diz respeito
à sexualidade, podendo ter ocorrido abusos sexuais ou uma educação sexual muito
severa e repressiva. (grifo nosso)

Segundo classificações já determinadas através de doutrinadores como André


Câmara e Adriana Pinheiro, temos o perfil necrófilo subdividido em três grupos distintos,
tais grupos podem ter subcategorias das quais cada perfil necrófilo altera sua percepção ao
crime.

3 NECROFILIA HOMICIDA

Essa percepção necrofílica é distinta, como supracitada acima. Trazendo para o


contexto pratico a utilização do modelo S.I.R, sendo, portanto, indispensável a análise
socioambiental, individual e relacional de cada necrófilo, desta forma, podemos então,
reclassificar a motivação e o discernimento destes.
A partir disso, podemos citar alguns casos, um dos casos mais conhecido, surpreendente e
revoltante no Brasil foi a ascensão dos irmãos necrófilos, estes aterrorizaram a região onde
viviam, Nova Friburgo dentre os anos 90. Estes, como modus operandi costumavam matar e
tentavam no ato, conservar o corpo do pescoço para baixo, para que pudessem cometer o ato
de necrofilia.
Os irmãos necrófilos, como eram conhecidos, começaram a demonstrar traços de
psicopatia ainda antes de começar seus atos infracionais. Antes de seu primeiro assassinato,
há relatos da época, de que o irmão mais novo, Ibraim, costumava matar animais e fazer
sexo com as carcaças. Ainda antes dos assassinatos, os irmãos compartilham de uma história
de agressões cometidas pelo pai, durante o período da infância e adolescência, o que os
forçava a conviver em meio a mata. Além disso, há relatos de que após a prisão dos dois
primeiros crimes, Ibraim, durante sua punição na casa prisional, antes da maioridade, sofreu
abuso sexual. De fato, a última contestação não tem comprovação fática e nem tamanha
relevância, visto que estes estavam começando a cometer os crimes de necrofilia, porém,
denota-se uma total desordem socioambiental visto que estes viveram em um ambiente
toxico e individualmente eram ou se tornaram doentes psicologicamente.
A partir disso, não puderam desenvolver competências relacionais suficientes para
um bom desenvolvimento pessoal. Por tanto podemos salientar, que estes indivíduos
desenvolveram um prazer em cometer estes crimes, visto que, tinham total controle sobre
suas vítimas, descarregando talvez, uma carga psicológica sobre estas, das quais carregavam
consigo, oriundo do ambiente conturbado dos quais foram expostos durante toda a infância e
adolescência. Os irmãos fizeram a maioria de suas vítimas, de pele negra, agiam da mesma
forma, matando e abusando dos corpos das vítimas. Estes tinham quadros psicológicos
extremamente irregulares e com motivações sexuais diferentes. Mesmo sendo uma dupla, há
relatos de que Henrique era muito religioso e gostava apenas de assistir as mortes cometidas
por seu irmão, Ibraim, que por sua vez, parecia ter sua ação de forma muito mais agressiva e
direta, quase como se fosse, um quadro de histeria compartilhada. A infância e os traumas
são fatores essenciais e comuns para a criação do comportamento homicida.
Edmund Kemper, foi um dos assassinos amplamente estudado pelo FBI, durante a
construção dos perfis dos assassinos em serie. Este cita em sua história também um membro
familiar autoritário, neste caso sua mãe. Kemper durante sua ascensão ficou conhecido como
assassino de colegiais. Após ser capturado, constatou-se que este cometeu ato necrofilico
contra algumas de suas vítimas, Kemper em seu relato sobre os crimes, explana que abusou
sexualmente a cabeça de sua mãe, decapitada, em entrevista cita que: “HUMILHOU O
CADAVER COMO FORMA DE AFRONTA”. Na mesma gravação Kemper cita sua
motivação como “fúria dominadora” e atribui a sua mãe o estopim para os atos do qual
cometeu. Kemper diferentemente dos irmãos necrófilos, tinha um intelecto mais elevado, o
que não alterou a sua vontade de matar, pelo contrário, sua inteligência foi utilizada para
premeditar os crimes e ocultá-los.
Edmund Kemper, tem um perfil operacional e motivacional distinto dos irmãos necrófilos,
existem algumas semelhanças nos comportamentos durante a infância, a exemplo do ato de
matar animais, porém, a satisfação sexual de Kemper não vinha da necrofilia e sim, do
desejo sádico de matar e estuprar suas vítimas. Kemper durante a entrevista ainda cita, que
sabia que todas as mortes cometidas por ele só parariam com o assassinato de sua mãe.
Porém, alguns biógrafos tentam mostrar que a atividade criminosa de Kemper não estava
enraizada na raiva por sua mãe, mas sim, por um desejo de vingança social. ELIAS, Cristina,
Juliana; 2019, discorre sobre uma das vítimas de Kemper7:

No dia 8 de janeiro de 1973 assassinou Cynthia Schall com um tiro na cabeça.


Levou o seu corpo até a casa de sua mãe, mais especificamente em seu quarto,
onde a profanou. Antes da chegada de Clarnell, a escondeu em um armário secreto,
onde a corda de Nylon de Mary Ann Pesee, a mochila e a blusa de aiko koo já
estavam. Ele esperou a saída de sua mãe para a universidade na manhã seguinte
para abusar do corpo novamente, antes de dissecá-la e esquartejá-la, mantendo
como troféu um anel.

7
Universidade federal de juiz de fora, Curso de graduação em Direito. ELIAS, Cristina, Juliana; SOCIOPATAS
OU PSICOPATAS? ANÁLISE DE CASOS. 2019. Disponível em: julianacristinaelias.pdf (ufjf.br). Acesso em:
21.07.21.
A necrofilia em alguns casos de Kemper poderiam, portanto, serem “explicadas e/ou
motivadas”. Afinal, mesmo Kemper tendo abusado e profanado o corpo da amiga de sua
mãe pode ter feito por causa da ligação de ambas e suas semelhanças.
Em seu julgamento, Kemper confessou “guardar cabelo, dentes e pele de algumas vítimas
como troféus, também admitiu praticar canibalismo, dizendo preferir a carne da coxa de suas
vítimas para fazer a caçarola de macarrão. Comia suas vítimas para que fizessem parte dele”.
Ainda, no quadro de homicidas necrófilos podemos citar Jeffrey Dahmer, este era muito
distinto dos demais assassinos supracitados, em um aspecto social, relacional e individual.
Dahmer, era homossexual e matou apenas homens.
Após abusar sexualmente de suas vítimas, as matava e abusava pós mortem. Com o
passar do tempo, Dahmer teve suas ações se tornando progressivas. Jeffrey com o tempo,
além de cometer necrofilia passou a mumificar membros de suas vítimas, fotografar seus
cadáveres e se alimentar de partes desses. Dahmer desde a infância compartilha traços
violentos contra animais, porém, no tocante ao fator relacional e socioambiental, este veio de
uma família culta, cujo pai, era cientista e aos 4 anos ensinou Jeffrey a conservar corpos, em
uma tentativa de se aproximar de seu filho. Em sua entrevista, na Instituição Correcional
Columbia, em Portage Jeffrey diz que foi aproximadamente entre 14 e 15 anos que começou
a ter pensamentos obsessivos de violência misturada com sexo. “E isso só foi piorando, e eu
mantinha tudo em segredo, conversei com alguns psicólogos sobre o assunto, e apesar de
suas teorias nenhum deles tem quaisquer respostas concretas”, complementa Jeffrey.
No início, conduzia suas vítimas até seu apartamento, onde lá as drogava e após
cometia os seus crimes, o comportamento progressivo de Dahmer, se dá, a partir do
momento que este, ultrapassa os abusos e os atos necrófilos, e começa a praticar o
canibalismo, a adoração aos corpos e a documentação fotográfica de suas vítimas em
posições sexuais dos seus cadáveres.
Para ele, a raça e a perfeição sexual do jovem não importavam, o modus operandi de
Jeffrey era sempre o mesmo, ele encontrava suas vítimas em bares, na rua, em qualquer
lugar e oferecia dinheiro em troca de algo, conseguindo levar a pessoa a algum lugar restrito
e cometer seus atos. Jeffrey em seu julgamento diz que mantinha os crânios e esqueletos
preservados pois pretendia fazer “um altar na sala, para admirar todos aqueles que naquele
momento, agora eram parte dele”.
Por conseguinte, temos três necrófilos dos quais podemos classificar três motivações
diferentes em seu modo de agir. Os irmãos necrófilos eram reflexo de uma vida agressiva e,
portanto, todas as suas ações adivinham de sequelas sociais e familiares das quais vieram a
se tornar uma forma de justificativa psicológica e/ou uma forma de ter total controle sobre
suas próprias vidas e as de suas vítimas. Agindo com total domínio sobre aqueles que
escolhiam e sendo evitados por aqueles que poderiam gerar hostilidade ao entendimento
deles. No entanto Edmund Kemper tem um perfil diferente, sendo este motivado por sua
incapacidade social e pelo menosprezo de sua mãe.
No ponto de vista de Kemper, a motivação de seus crimes vinha através da satisfação
de matar, a fúria dominadora que ele citou, não condizia com algum desejo necrófilo
específico, então, a sua motivação necrofilica adveio de um desejo de humilhação, portanto
sendo, quase que casual. E por fim, Jeffrey Dahmer, tinha sua total satisfação no ato de
abusar dos corpos, dessecar suas partes e progressivamente comer sua carne. Dahmer,
demonstra ter criado cada vez mais satisfação sexual nos atos, sendo assim, comporta um
desejo progressivo e insaciável, demonstrando uma piora comportamental conforme suas
ações foram acontecendo, se a polícia não o pegasse não sabemos como este ainda iria
prosseguir satisfazendo sua lascívia.

4 NECROFILIA COMUM

A partir do estudo do necrófilo homicida, é comum ficarmos perplexos e de certa


forma inconformados com o quadro psicológico e a racionalidade deste individuo, afinal,
toda a agressividade que este expressa traz consigo uma carga emocional, das quais, pode ou
não, ter relação familiar e/ou social, porém, quando analisamos o necrófilo comum, notamos
um comportamento obscuro e mórbido. Afinal, como expressaremos a seguir, este é um
infrator velado.
Existe muitas diferenças entre o padrão operacional do necrófilo homicida e o
necrófilo comum, como por exemplo, o necrófilo comum não mata suas vítimas, este é
sistemático. Ele não mata par5a abusar, pelo contrário, assim como urubus, se aproveita de
corpos já inanimados.
A necrofilia comum, é a forma necrófila mais difícil e comum, afinal, esta se
encontra caracterizada de duas formas:
VELADA: Quando é perpetrada por médico, agentes funerários, agentes do IML, e/ou
funcionários de cemitérios.

5 NECROFILIA “CRIMINOSA”
Trata-se quando cometida por individuo social comum, que passa por quadro
parafílico que não consegue controlar seus impulsos, este não possui fácil acesso aos corpos,
então, comete a violação de túmulos, infringindo assim, algumas vezes, o título V, Capítulo
II, do Código Penal Brasileiro de 1940, que cita, “dos crimes contra o respeito aos mortos”8:
CAPÍTULO II DOS CRIMES CONTRA O RESPEITO AOS MORTOS
Violação de sepultura
Art. 210 - Violar ou profanar sepultura ou urna funerária:
Pena - reclusão, de um a três anos, e multa.
Destruição, subtração ou ocultação de cadáver
Art. 211 - Destruir, subtrair ou ocultar cadáver ou parte dele:
Pena - reclusão, de um a três anos, e multa.
Vilipêndio a cadáver
Art. 212 - Vilipendiar cadáver ou suas cinzas:
Pena - detenção, de um a três anos, e multa.

6 QUAIS AS DIFERENÇAS DIRETAS ENTRE OS PERFIS?

Importante salientar, que uma das maiores diferenças destes perfis, encontra-se no
fato do violador premeditado, no caso, os violadores Velados, dificilmente irão responder
penalmente e além disso, desfrutam de um comportamento controlável, diferente do
necrófilo criminoso, tal diferença talvez encontra-se na escassez, visto que, o necrófilo
velado tem acesso facilitado aos corpos, o mesmo não representa a sua satisfação sexual em
todos os corpos, estes parecem ser seletivos, satisfazendo o interesse pessoal do necrófilo.
Já o perfil criminoso, não tem uma faixa etária especifica, há relatos de túmulos
velados logo após o funeral da vítima, há também, relatos de casos em que a vítima teve seu
corpo retirado de seu tumulo e violado após já estar em estado avançado de putrefação.
Existem casos recentes, que trouxeram esta questão à tona, um destes foi levantado através
de uma notícia publicada pela Folha de São Paulo, por APPEL, Camila; (2020) 9:
Acostumados a ouvir comentários alheios sobre a aparência de alguns cadáveres, o
casal de tanato praxistas e diretores funerários Nina Maluf e Vinicius Cunha se
chocou com dois casos recentes.
“Escutei, na funerária onde eu trabalhava, homens falando sobre uma menina de
24 anos que tinha morrido por suicídio. ‘Toda depilada, nossa que peitão, baita de
uma gostosa’. Fiquei tão irritada que botei todo mundo para fora. Fiquei sozinha
preparando o corpo dela”, diz Nina.
No caso exposto, a notícia refere-se a um grupo motivado pelo Facebook, hoje já
banido das redes sociais, após denúncias, onde fazia referência e comentários maldosos a
fotos e vídeos de partes intimas de mulheres mortas, segundo denúncias do IML e dos
agentes funerários. Ainda na entrevista, cita-se que em certa ocasião, já viu colegas terem

8
DECRETO-LEI No 2.848, DE 7 DE DEZEMBRO DE 1940. Disponível em: DEL2848compilado
(planalto.gov.br). Acesso em: 01.09.21.
9
APPEL, Camila; (2020). Disponível em: Grupos em redes sociais incentivam necrofilia - 25/09/2020 -
Cotidiano - Folha (uol.com.br). Acesso em: 01.09.21.
ereção se deparando com uma falecida, jovem, bonita, porém, com o rosto desfigurado
devido a um acidente.
A necrofilia dentro destas instituições médicas e empresariais é uma realidade triste e
comum.
Quando se trata do necrófilo criminoso, podemos dizer que este possui um quadro parafílico
grave, as circunstâncias em que este individuo se expõe e deixa explicito o descontrole e a
necessidade de sua satisfação sexual. Este individuo, se sente, comumente inferiorizado. O
que ajuda a prevalecer o controle total que este tem sobre a sua vítima.
De fato, o estudo dos homicidas necrófilos, é muito mais amplo, mesmo que ínfimo,
do que um estudo necessário para desvendar a mente da classe necrófila comum, porém, é
plausível, já que os necrófilos homicidas, são mais perigosos para a sociedade que um
necrófilo comum.
Ainda, dentro dos necrófilos comuns, encontramos poucos relatos, mas existentes.
Explana-se agora outra classe existente:

7 NECRÓFILO CRIMINOSO EM SÉRIE

Esta classe é uma variação do necrófilo caracterizado como criminoso, o indivíduo


aqui categorizado possui, um quadro clínico e/ou psicológico diferente do necrófilo
criminoso comum, onde os necrófilos comuns, podem ter a sua motivação advinda algumas
vezes, pelo uso de drogas ou álcool. MOSCATELLO, Roberto; (2010), em seu artigo cita
alguns renomados autores sobre dados da psicopatologia associada à necrofilia10:
A literatura mais antiga associava necrofilia com severa psicopatologia.
Desrosières analisou 53 observações de casos descritos e encontrou 19% de
debilidade mental, 13% de problemas neuróticos, 7,5% de epilepsia, 5,5% de
depressão e 4% de psicose3. Estas observações são concordantes com o caso
relatado (presença de severa psicopatologia e retardo mental).
Rosman e Resnick revisaram 122 casos de necrofilia, classificando-os em três
tipos (homicídio necrofílico, necrofilia regular e fantasia necrofílica), e
descobriram que 11% dos necrófilos genuínos mostraram evidência de psicose.
Álcool foi considerado um fator importante para vencer a inibição e cometer o ato
(especialmente no grupo homicida), mas o diagnóstico mais comum foi transtorno
de personalidade (metade da amostra). O uso de álcool contribuiu para o delito
ocorrido no caso relatado e se mostrou congruente com a revisão desses autores.
Porém, quando falamos de necrófilo criminoso em série, estamos relatando
possivelmente algum doente mental, ou pessoa com impulso sexual e desvio
comportamental drástico, ao ponto de impulsioná-lo a cometer as violações muito mais
frequentemente. Um exemplo disto, foi o caso investigado no Paraná, onde um indivíduo,

10
MOSCATELLO, Roberto; (2010). Necrofilia: uma rara parafilia. Disponível em: 05.09.21.
violou túmulos e abusou diversos corpos, dentro de um certo período. APPLE, Caroline;
(2015), explana sobre tal investigação11:
O Paraná lidera a busca na internet do termo necrofilia. De acordo com o Google,
o Estado está à frente na busca desde 2004, quando a medição começou a ser feita.
Não é possível afirmar que a busca esteja ligada apenas ao interesse sexual de
alguns paranaenses. Os casos também podem despertar a curiosidade dos
moradores do Estado e fazer com que as buscas na internet aumentem. Porém, na
medição nacional, os termos mais buscados não indicam a vontade de se informar
sobre o assunto. No ranking dos três termos mais buscados no Google desde 2004
estão: "sexo necrofilia", "necrofilia vídeos" e "fotos necrofilia".

A falta de estudos acerca de tal prática, denominada necrofilia comum, nos traz de
fato, a uma obscura realidade de impunidades de certas condutas. O estudo acerca do perfil
deste individuo, se faz indispensável diante de tal conduta incomum e reprovável. Afinal,
ainda existe uma incógnita por trás de tais condutas, será que podemos dizer, que o abuso
sexual de cadáveres infringe não somente o respeito as famílias como também os direitos
sexuais inerentes de todo individuo, mesmo post mortem?

8 NECROFILIA FANTASIADA

Dentro de todos os perfis vistos até agora, existe um quadro progressivo de desejo
sexual. A necrofilia denominada fantasiada, deve ser descrita, como um pré-requisito para o
crime de necrofilia, visto que, quase todo necrófilo em algum momento passará por este
quadro necrófilo.
A necrofilia fantasiada é aquela vivida pelo individuo onde este, imagina o
comportamento antes de efetuá-lo, seria por exemplo, o ato de se masturbar imaginando
cadáveres e/ou refletindo em situações que poderiam vir a se tornar realidade. Um
comportamento possível deste índice progressivo é por exemplo, em um relacionamento
conjugal, um tipo de pedido/pacto, onde o homem ou a mulher necrófila(o), pede para
seu(ua), companheiro(a), se passar por algo inanimado, ou pedindo para não se mover, não
falar ou se quer expressar reações. Talvez, em alguns casos até sentindo prazer com a pele
fria.
Importante salientar, que o necrófilo vivencia estes atos na fantasia e transpassa para
a realidade, muitas vezes ele vive anos, meses ou décadas só fantasiando isso, até o
momento que ele faz a passagem para a realidade.

11
APPLE, Caroline; (2015). Polícia investiga série de abusos sexuais de cadáveres no Paraná.
Disponível em: Polícia investiga série de abusos sexuais de cadáveres no Paraná - Notícias - R7 Cidades.
Acesso em: 02.03.21.
Este quadro parafílico, como citado anteriormente, é quase que essencial entre os necrófilos.
Jeffrey Dahmer, trata do assassinato de suas vítimas como um meio, era a parte que ele
menos gostava, o objetivo dele era ter uma pessoa sob seu total controle. Jeffrey diz que essa
vontade de controlar veio de sua infância e juventude, que misturando com a sua
sexualidade resultou em algo que desse a ele o controle completo, do qual tanto desejava.
A partir daí o pesadelo se tornou realidade e Jeffrey começou a agir conforme suas
fantasias e desde então, “não conseguiu parar mais”. Jeffrey relata que após a sua segunda
vítima, a compulsão para continuar era tão grande que ele nem sequer tentou parar.
Devido ao pouco material bibliográfico sobre o assunto aqui abordado, seria improvável
afirmar com precisão todos os declínios psicológicos que o necrófilo sofre até cometer o ato,
porém, é nítido que estes passam por fantasias e desejos antes dos atos se tornarem
realidade.
Concluindo, a necrofilia fantasiada não é um quadro que alcança a esfera penal,
devido ao comportamento estar ligado a um desejo íntimo e pessoal, porém, importa
salientar que devemos classificar dois tipos de necrofilia fantasiada, uma que é progressiva e
outra que é controlada, os progressivos podem vir a se tornar quadros necrófilos mais graves
e a controlada é aquela que sempre estará a imaginar ou se auto realizar, seja pela
masturbação ou terceiros em comum acordo ou não.

9 A INCÓGNITA POR TRÁS DA VIOLAÇÃO SEXUAL

Diante de tal mazela se encontra-se a principal pergunta por trás de todo


comportamento, qual a motivação do indivíduo necrófilo e este, tem controle sobre seus
atos?
Podemos dizer que em alguns casos, de fato, estes indivíduos contêm distúrbios mentais e
alguns desvios comportamentais graves, porém, quando destacado o necrófilo velado é
difícil conseguir levantar tal aspecto, visto que, este foi normalmente criado em meio a uma
família comum, teve acesso a educação e um desenvolvimento pessoal proporcional a todos
os seus pares, este é um necrófilo situacional, é seletivo e não compulsivo, sua motivação
vem da impunidade e do domínio que a ocultação de seu crime o proporciona, o desejo pode
e/ou não ser o mesmo por indivíduos vivos, porém ele é bilateral, utilizando dos mortes,
apenas para satisfazer sua lascívia, este é também um dos necrófilos, com quadro
psiquiátrico mais diverso, pois, de fato alguns podem ser necrófilos compulsivos dos quais
conseguiram adentrar a uma profissão que lhes permitiriam tais abusos, porém, outros
somente são profissionais “comuns” que encontram oportunidades de satisfazer um fetiche
inexplorável.
Ao analisar os fatores socioambientais, individuais e relacionais dos necrófilos
homicidas em geral, nota-se que este sofre de algum quadro psíquico especifico, seja
psicopatia, retardo, esquizofrenia ou algum outro desvio comportamental, seja físico ou
psíquico, é clara a discordância de pesquisadores acerca das motivações e controles, que os
assassinos em série tem, citamos este raciocínio, visto que se estuda que possa existir uma
causa física para a falta de empatia e emoção do assassino serial, tentando responder está
incógnita. ARREGUY, ETINNE, Marília; (2010), cita em seu artigo dois grandes
pesquisadores:12
O neurocientista Antônio Damásio (1994) investigou exaustivamente casos de
sujeitos com lesão na região ventromedial do lobo pré-frontal apontando conexões
entre emoções não inibidas, descontroladas e a atitude socialmente desadaptada.
As lesões na região ventromedial do córtex pré-frontal estariam relacionadas à
impossibilidade de “tomada de decisão” na escolha de ações socialmente
adequadas, sobretudo pela falha na inibição do impulso para a ação. Embora esse
autor tenha mostrado muitos indícios do papel dos lobos pré-frontais na
emergência da emoção violenta, não estabeleceu relação direta entre lesão e crime.

ARREGUY, ainda cita RAINE:


O pesquisador americano Adrian Raine (1994), baseado em hipóteses semelhantes,
tornou-se um dos maiores especialistas em estudos experimentais sobre a
neuropsicologia da violência. Ele partiu do estudo de sujeitos que cometeram
crimes e foram condenados à pena de privação da liberdade, para mapear as
características de um suposto “cérebro criminoso”. Fez diversas correlações entre
transtornos psicopatológicos e a tendência para atitudes violentas. Dentre diversas
proposições a partir de estudos experimentais com animais ou seres humanos
dados como violentos (prisioneiros) – em suma, os neurocientistas apontaram
evidências, por exemplo, de que: alterações no córtex temporal de epiléticos
estejam associadas ao comportamento violento; lesões na região orbital do córtex
pré-frontal estariam relacionadas ao transtorno de personalidade antissocial por
erro no processo de tomada de decisão (DAMASIO, 1994; RAINE, 2004)

Quando se trata de um necrófilo homicida, este de fato contém algum tipo de


problema psicológico, visto que não apenas fere e mata sua vítima, como um assassino serial
comum, mas muitas vezes o desejo e a satisfação vem do controle que tem sobre o cadáver,
Jeffrey Dahmer cita isto, quando analisado os crimes de Edmund Kemper é nítido que
abusar da cabeça decapitada de sua mãe não era necessário, porém para Kemper era visto
como essencial, talvez por uma questão de superioridade e controle, todos os necrófilos
homicidas citados no presente artigo, demonstram um quadro leve ou grave de falhas socio
ambientais, seja por parte de sua família ou sociedade, descontentamento individual deste
individuo normalmente contém dificuldade sexual ou descontentamento com a sua vida

12
ARREGUY, ETINNE, Marília; (2010). A leitura das emoções e o comportamento violento mapeado no
cérebro. Disponível em: Revista physis 20-4.indd (scielo.br). Acesso em: 02.03.21.
sexual, não que este não tenha relações, mas sim que este não consegue se satisfazer com as
relações que mantém, o que de fato leva também a um fator relacional, das quais, mesmo
acompanhado, se sente só e/ou perdido em meio a sua existência, estes fatores, são
estressores essenciais para um aumento de suas fantasias e sua iniciativa.
Quando citamos os necrófilos criminosos, estes talvez tenham ou não a vida
conturbada, porém sua ação criminosa começa a partir do momento que já não sentem mais
controle sobre seu quadro psiquiátrico, estes deveriam procurar auxilio psiquiátrico, pois
sofrem de um quadro grave de parafilia, porém normalmente só irão receber tal tratamento,
após encarcerados devido a conduta ilícita de vilipêndio à cadáver, alguns sentem desejo em
abusar sexualmente do corpo, outros sentem satisfação na imagem, no odor, ou na sensação
de controle acerca do corpo ou ossos da vítima, de fato é um ato aterrador e um risco ao
autor da necrofilia tendo em mente que o corpo após o óbito pode conter infecções ou
doenças contagiosas. De acordo com LOPES, JESUS DE, Yan; (2017) 13:
A busca de satisfação do desejo de forma imediata faz com que algumas parafilias
passem a constituir grande risco para o sujeito e para sociedade, pois, a
necessidade e busca incessante de se realizar sexualmente em uma fase maníaca da
parafilia ou quando se apresenta como transtorno parafílico, possibilitará como um
veículo propulsor, onde o sujeito possa vir a agir de modo impulsivo, até mesmo
irracionalmente frente à realização do desejo

Compreende-se que em fase maníaca do transtorno parafílico o sujeito que possui uma ou
mais variações sexuais poderão apresentar riscos a outros, de tal forma que, para extrair o
prazer necessário para sua satisfação, o mesmo possa vir a cometer crimes de atentado a vida
humana para fins sexuais como em alguns casos de necrofilia.

10 CONCLUSÃO
Por conseguinte, constata-se que, os necrófilos possuem motivações e perfis
específicos, baseado em seu quadro psicológico, desejo sexual assim como histórico pessoal.
Por conta de o assunto ser um tanto que incomum, nota-se a dificuldade na busca por
referências, portanto ao estudarmos casos reais e os padrões comportamentais de cada
classificação necrófila, nota-se que não há um padrão específico compartilhado entre todos
os tipos necrofilicos expostos no presente artigo, visto que, existem algumas diferenças
claras entre os motivadores e estressores dentre os diferentes tipos de necrófilos.
Como citado ao decorrer do artigo, o tipo velado é o mais impune e diverso, visto
que, estes talvez não compartilhem de uma compulsão, este necrófilo pode ter ou não, uma

13
LOPES, JESUS DE, Yan; (2017). As parafilias e os transtornos parafílicos, uma perspectiva das
variações sexuais normais e patológicas. Disponível em: As parafilias e os transtornos parafílicos, uma
perspectiva das variações sexuais normais e patológicas (psicologia.pt). Acesso em: 04.09.21.
parafilia grave, tendo em comparação o exemplo de estuprador e pedófilo, nem todo o
abusador age por impulso sexual, e nem todo estuprador é pedófilo, o mesmo acontece com
esta classificação necrófila. Importa salientar, que de fato, dentro das categorias necrofilicas
listadas ao decorrer do projeto devemos subdividi-las, da seguinte forma:
A classificação Homicida, se caracteriza por tipo compulsivo, onde grande parte das
vítimas destes sofrem abuso sexual pós morte, estes necrófilos normalmente tentam
conservar o corpo, para então cometer o ato. O tipo coordenado, se encaixa na esfera mais
comum dos assassinos em série, pois, neste, a necrofilia ocorre esporadicamente, sendo,
portanto, o crime premeditado. E por fim, o progressivo, este pode começar como um
assassino em série comum, porém, ao longo de seus crimes progride, alcançando desvios
parafílicos mais graves, como a exemplo da necrofilia, canibalismo e afins.
Na classificação de necrófilo comum, temos a necrofilia criminosa, que viola
sepulturas e deste a variação necrofilica em série, onde o indivíduo viola diversas sepulturas
com o intuito de cometer necrofilia com os corpos. E o velado, citado ao longo do presente
artigo, cometido pelos profissionais que possuem fácil acesso aos corpos pós morte.
Por fim, temos a categoria de necrófilos fantasiados, são dois tipos, Benigno onde este
somente fantasiará e jamais cometerá o crime, e o tipo Híbrido, que virá a se tornar um
necrófilo comum ou homicida.
Em relação ao tratamento médico a estes indivíduos, todos devem ser acompanhados
por um médico psiquiátrico, porém, não há dados concretos que comprovem a cura total de
tais comportamentos.

REFERÊNCIAS

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(2020). Disponível em:
https://www1.folha.uol.com.br/cotidiano/2020/09/grupos-em-redes-sociais-incentivam-necr
ofilia.shtml. Acesso em: 01.09.21.

APPLE, Caroline; POLÍCIA INVESTIGA SÉRIE DE ABUSOS SEXUAIS DE


CADÁVERES NO PARANÁ. (2015). Disponível em:
https://noticias.r7.com/cidades/policia-investiga-serie-de-abusos-sexuais-de-cadaveres-no-pa
rana-20062015. Acesso em: 02.03.21.

ARREGUY, Marília Etinne; A LEITURA DAS EMOÇÕES E O COMPORTAMENTO


VIOLENTO MAPEADO NO CÉREBRO. (2010). Disponível em:
https://www.scielo.br/j/physis/a/nXVCbfJ6s3MbzKLJZVwHMGC/abstract/?lang=pt#.
Acesso em: 02.03.21.
CÂMARA, André Bezerra Pinheiro da; PINHEIRO, Adriana de Alencar Gomes;
TRANSTORNO PARAFÍLICO – SADISMO SEXUAL, NECROFILIA E
INCLINAÇÃO PARA A ANTROPOFAGIA NO MODUS OPERANDI DO MANÍACO
DO PARQUE.

PARAPHILIC DISORDER -SEXUAL SADISM, NECROFILIA AND INCLINATION


FOR ANTHROPOPHAGY IN THE MODUS OPERANDI OF PARK MANIAC.
(2020). Disponível em:
https://andrecamaraadv.jusbrasil.com.br/artigos/818747725/transtorno-parafilico-sadismo-se
xual-necrofilia-e-inclinacao-para-a-antropofagia-no-modus-operandi-do-maniaco-do-parque.
Acesso em: 11.08.21.

ELIAS, Juliana Cristina; SOCIOPATAS OU PSICOPATAS? ANÁLISE DE CASOS.


(2019). Disponível em: https://repositorio.ufjf.br/jspui/handle/ufjf/11076?locale=pt_BR.
Acesso em: 21.07.21.

LOPES, Yan Jesus de; AS PARAFILIAS E OS TRANSTORNOS PARAFÍLICOS, UMA


PERSPECTIVA DAS VARIAÇÕES SEXUAIS NORMAIS E PATOLÓGICAS. (2017).
Disponível em:
https://www.psicologia.pt/artigos/ver_artigo.php?as-parafilias-e-os-transtornos-parafilicos-u
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Acesso em: 04.09.21.

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SÁ, Alvino Augusto de; HOMICIDAS SERIAIS, Revista Brasileira de Ciências Criminais
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BRASIL. Decreto-Lei 2.848, de 07 de dezembro de 1940. CÓDIGO PENAL. Diário


Oficial da União, Rio de Janeiro. Disponível em:
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