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JURÍDICA
Sabine Heumann
Comportamento desviante
e intervenção familiar
Objetivos de aprendizagem
Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados:
Introdução
A psicologia jurídica é um campo do saber que pode auxiliar o processo
de trabalho no campo jurídico, de forma geral. Pode-se dizer que essa
área da Psicologia auxilia na busca pela verdade de um testemunho,
por exemplo, ou na produção de diagnósticos, ou ainda na predição de
condutas e, de uma maneira mais geral, na compreensão dos aspectos
psicológicos envolvidos nos casos discutidos no meio legal. Ou seja, de
uma forma ampla, pode-se dizer que a psicologia jurídica é uma ciência
que apoia o juiz no sentido de subsidiar a sua tomada de decisão, tra-
zendo outro olhar para esse meio e fazendo com que a decisão seja a
mais assertiva possível, conforme explicam Gonçalves e Brandão (2018).
Neste capítulo, você vai estudar sobre o papel e a importância da
família na intervenção de um comportamento desviante, entendido
como uma conduta transgressora, que abrange comportamentos de
risco, como o não respeito a normas e regras, conforme expõe Formiga
(2011). Para isso, você vai explorar as diferentes abordagens que podem
ser utilizadas na prevenção desses comportamentos e os fatores que
estão envolvidos, aumentando ou diminuindo as chances de que tais
comportamentos ocorram. Por fim, você vai perceber como a intervenção
familiar pode impactar nesse tipo de conduta, conhecimento que tem
2 Comportamento desviante e intervenção familiar
Você vai perceber que muitas vezes, na literatura, termos como “comportamento
desviante”, “conduta desviante” e “comportamento delinquente” aparecem como
sinônimos. Entretanto, é importante destacar que se considera delinquente, especifi-
camente, quem cometeu um ato de violação à lei criminal. Grande parte dos estudos
sobre essa temática se dedicam à análise de comportamentos relacionados ao uso
de drogas e ao crime na adolescência.
vida, da sua posição econômica e social, das suas interações familiares, dos
meios nos quais convive, do momento histórico em que ela está inserida, entre
outros fatores, conforme expõe Bronfenbrenner (2011). É importante que essa
dimensão da origem dos comportamentos desviantes fique clara para você,
visto que ela é fundamental para o delineamento de ações preventivas, como
afirma Benavente (2002).
Quando falamos em prevenção você deve entender que esta é, sempre, uma atitude
antecipatória. Ou seja, é uma ação frente à uma previsão de futuro que, no caso, é
negativa.
Isso posto, você pode estar pensando sobre formas de prevenir o compor-
tamento desviante. Para isso, deve-se ter em vista que, como ele é resultado de
um conjunto de variáveis, a prevenção também deve abarcar uma variedade de
fatores, não apenas a pessoa que manifesta esses comportamentos. Em meio
a todos os aspectos que estão relacionados, a família ganha especial atenção
de muitos estudiosos do assunto. Isso ocorre pelo fato de que a família pode
ser considerada uma estrutura de ajuda e suporte mútuo, tanto no que diz
respeito ao material quanto ao emocional, conforme explica Formiga (2005).
Nesse sentido, a família pode ocupar um lugar de fator de risco ou de proteção,
conforme você vai ver mais adiante.
Nesse momento, vamos tratar em específico da abordagem preventiva do
comportamento desviante na família, pois entende-se que o bom relaciona-
mento afetivo e a boa comunicação entre pais e filhos podem produzir relações
familiares que satisfaçam às necessidades dos seus membros, contribuindo,
assim, para a prevenção de futuros comportamentos desviantes, conforme
expõe Formiga (2005).
Vale destacar que, quando se fala em prevenção, fala-se na construção de
condições favoráveis para o desenvolvimento saudável de uma maneira geral,
e não necessariamente em ações pontuais. Ou seja, é importante que você
entenda que a prevenção de comportamentos desviantes, principalmente no
que tange à abordagem no contexto familiar, está relacionada à presença de
diversos fatores de proteção no desenvolvimento de crianças, adolescentes e
também de adultos.
4 Comportamento desviante e intervenção familiar
Para que fique mais claro, pode-se citar, entre esses fatores de proteção, a
importância do relacionamento entre pais e filhos pautado na mútua confiança,
no diálogo e no acompanhamento da rotina por parte dos pais/responsáveis,
em especial quando se trata de adolescentes, conforme explica Silva (2017).
Além disso, outra estratégia interessante é a utilização de membros da família
que podem ser bons exemplos e servir como inspiração para comportamentos
desejáveis, como é o caso de irmãos mais velhos com condutas desejáveis,
primos e até mesmo os próprios pais.
Fatores de risco
Existe uma série de fatores que favorecem o aparecimento de comportamentos
desviantes. Muitos estudos já levantaram esse ponto (HUSS, 2009; SILVA,
2017; OLIVEIRA, BITTENCOURT, CARMO, 2008), conforme você verá
a seguir.
um membro da família faz parte de uma gangue e integra outro membro a esse
grupo, ou ainda, de maneira mais simples, quando um membro facilita o acesso
a situações com potencial risco ao outro membro, devido à sua proximidade
com essas situações, como expõem Loeber e Dishion (1983).
Quer saber mais sobre isso? Quer conhecer os estudos que deram origem a essas
ideias? No link a seguir você pode acessar na íntegra o texto Análise comparativa
entre as histórias de vida de jovens delinquentes e de jovens “normativos”: serão assim
tão diferentes?
Essa é uma dissertação de mestrado que compara a história de vida de adolescentes
tidos como “normativos” e adolescentes delinquentes, com o objetivo de entender
o que os distingue. É uma leitura bastante interessante para quem quer aprofundar
os conhecimentos acerca dos fatores envolvidos no desenvolvimento desse tipo de
comportamento.
https://goo.gl/1ruDT6
Fatores de proteção
Os fatores de proteção, de acordo com Habigzang et al. (2006), são fatores
que atuam na redução da probabilidade de que determinada pessoa desen-
volva comportamentos desviantes. Novamente, você vai ver a família como
um importante fator associado a esses comportamentos. Dessa forma, fica
evidente a importância de destinar ações voltadas à família nos processos
de intervenção dos comportamentos desviantes. Essas são as formas mais
promissoras de intervenção.
Posto isso, observa-se que a relação entre pares pode atuar como um fator
de proteção para o comportamento desviante. Quando a pessoa tem a opor-
tunidade de vivenciar relações positivas, há menor chance de desenvolver
comportamentos desviantes. Ou seja, pode-se dizer que, quanto mais fortes
os laços que a pessoa desenvolve com a sociedade de maneira geral (incluindo
família, amigos e demais interações), menor a chance de que ela desenvolva
comportamentos socialmente indesejáveis, ponto de vista defendido por vá-
rios autores (HUSS, 2009; SILVA, 2017; OLIVEIRA, BITTENCOURT e
CARMO, 2008).
Alguns exemplos de comportamentos que podem atuar como fatores de
proteção para o comportamento desviante, compilados por Silva (2017), são
listados abaixo:
Em síntese, você pode ver que os maiores aliados na diminuição das chances
de se desenvolver comportamentos socialmente indesejáveis estão relaciona-
dos ao meio e às relações que a pessoa desenvolve. Ter amigos, desenvolver
laços próximos com eles, ter uma família estável, com relações adequadas
e desenvolver expectativas positivas de futuro são aspectos que contribuem
muito nesse processo, como defendem Huss (2009), Carvalho (2011), Silva
(2017) e Oliveira, Bittencourt e Carmo (2008).
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Fatores de risco:
a comunidade em que o jovem vive (se possibilita fácil acesso às drogas);
o incentivo/pressão dos amigos (pares);
os hábitos e costumes da família (como a utilização de drogas dentro da família).
Fatores de proteção:
o diálogo familiar (clima de confiança mútua entre pais e filhos);
famílias estruturadas (com valores morais e exemplos de comportamento que o
jovem pode seguir);
atividades socioeducativas (participação em esportes ou atividades de desenvol-
vimento profissional).
Fonte: Oliveira, Bittencourt e Carmo (2008).
Mesmo diante da suposta crise que a instituição familiar vem passando nos últimos
anos, principalmente no que diz respeito à visão da sociedade sobre seu papel social
e a sua influência no comportamento dos seus membros, a família ainda apresenta
uma grande influência nas atitudes, na personalidade, na motivação e nos valores
das pessoas que fazem parte dela. Por isso, continua sendo interesse de estudo e
intervenção, conforme expõe Formiga (2011).
Você sabia que a Organização Mundial da Saúde reconhece que pessoas que pertencem
a uma família bem estruturada, bem informada, em que os membros têm qualidade
de vida, vivem de forma harmônica e recebem informações sobre os riscos do uso de
drogas têm menores chances de usarem drogas de forma abusiva?
Leitura recomendada
VITARO, F. et al. Disruptive behavior, peer association, and conduct disorder: testing
the developmental links through early intervention. Development and Psychopathology,
v. 11, n. 2, p. 287-304, 1999.
Encerra aqui o trecho do livro disponibilizado para
esta Unidade de Aprendizagem. Na Biblioteca Virtual
da Instituição, você encontra a obra na íntegra.
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