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Uma coisa é norma jurídica, a qual continua a ser norma jurídica independentemente de
haver garantia da sua observância, o que significa que não é a garantia que torna a norma,
norma jurídica. A garantia é um mecanismo acessório para assegurar a efectividade da
norma, para assegurar que a norma exerça a sua função. Deste modo, a garantia está fora
da norma garantida, e constitui um reforço à norma garantida.
Entretanto, é preciso notar que a garantia necessita obrigatoriamente de uma norma, pois
ela não pode existir fora de qualquer norma: a garantia é exprimida por uma norma
jurídica, “a norma de garantia”, pois, “o conteúdo e o sentido de uma norma não se
garantem de per si, garantem se através do conteúdo e do sentido de outra ou outras
normas. Donde normas jurídicas garantidas e normas jurídicas de garantia”.
As normas jurídicas garantidas são as que são reforçadas por outras, pelas normas
jurídicas de garantia. Já as normas jurídicas de garantia são as que visam assegurar ou
reforçar a efectividade das normas jurídicas (garantidas). As normas jurídicas de garantia
ainda podem ser garantidas por outras normas jurídicas.
Assim, porque as normas constitucionais substantivas podem ser violadas, por acção ou
por omissão, são acompanhadas por normas constitucionais adjectivas. “A
inconstitucionalidade corresponde garantia da constitucionalidade”153.
Garantia e fiscalização
A garantia da constituição pode ser feita através de meios individuais (exemplo, o cidadão
pode exercer o direito de resistência, previsto no artigo 80 da CRM), por meios
orgânicos (sendo órgãos de soberania a controlar o comportamento doutros órgãos de
soberania, por formas a permitir que a conduta desses seja consentânea com a
Constituição) e garantia institucional (quando é feita em forma de fiscalização).
É óbvio que, a garantia individual é menos relevante quando se trata de assegurar que os
órgãos do poder se comportem conforme a constituição, pois “contra o poder só o poder,
em último temo, consegue prevalecer”.
2. quanto aos órgãos ou sujeitos da fiscalização: trata-se de definir que tipos de órgãos
realizam a fiscalização. Assim, pode se falar de (+) fiscalização de órgãos comuns ou por
órgãos especiais (+) fiscalização por órgãos por órgãos políticos e por órgãos
jurisdicionais ou até por órgãos políticos, jurisdicionais e administrativos, (+) fiscalização
difusa e concentrada.
* Fiscalização por órgãos comuns: é a fiscalização que é feita por órgãos que não foram
especialmente criados para fiscalizar a constitucionalidade, pois têm outras funções,
entretanto, dessas funções não se exclui a da garantia da constituição. É a fiscalização
feita pela Assembleia da República, pelo Presidente da República, pelos tribunais
comuns.
* Fiscalização por órgãos especiais: é a que é feita por órgãos que têm competências
especiais para o efeito; exemplo o Conselho Constitucional moçambicano.
* Fiscalização política: a que é feita por órgãos políticos (que têm função política). Esta
normalmente é concentrada.
* Fiscalização difusa: a que é feita por uma pluralidade de órgãos. Nos casos em que a
Constituição prevê que mais de um órgão fiscalizem a constitucionalidade. Exemplo, o
artigo 214 da CRM estabelece que os tribunais não devem aplicar normas
inconstitucionais.
* Fiscalização sucessiva: a que é feita depois do acto fiscalizado ter sido integralmente
produzido, designadamente depois da publicação do texto da norma no Boletim da
República. Exemplo, o Conselho Constitucional pronunciou-se recentemente sobre a
inconstitucionalidade de alguns preceitos do CPP.
Verifica-se naqueles casos que, sem que esteja em curso qualquer processo judicial ou
administrativo distinto, o Conselho constitucional é solicitado a declarar a
inconstitucionalidade de uma norma (cf. Artigos 244 e 245 da CRM). A fiscalização
abstracta tem força obrigatória geral.
> Fiscalização objectiva: quando não visa a satisfação de nenhum interesse de pessoas,
mas sim, para assegurar a normalidade objectiva da constitucionalidade.
> Fiscalização incidental: é que se verifica num processo cujo objecto principal é
distinto do da garantia da constituição, entretanto, a inconstitucionalidade aparece como
uma questão prejudicial (uma questão de índole substantiva cuja decisão prévia
condiciona o conhecimento e decisão da causa principal). A inconstitucionalidade é uma
questão prejudicial que é suscitada incidentalmente num processo.
c) quanto à forma processual: fiscalização por via de excepção e fiscalização por via
de acção.
> Fiscalização por via de excepção: verifica-se quando, estando em curso determinado
processo jurisdicional, se suscita no mesmo processo, a inconstitucionalidade. E esta pode
ser suscitada por uma das partes intervenientes com vista a lograr a procedência ou não
da acção principal. A fiscalização por via de excepção corresponde à fiscalização
incidental.
A decisão na fiscalização difusa se esgota no caso concreto, e não tem efeitos externos,
pois é inter partes, ou seja, apenas se declara a inconstitucionalidade de uma certa norma
para aquele caso concreto que está em tribunal, o que significa que a decisão da
inconstitucionalidade não vincula outros casos ou processos.
É verdade que alguns autores entendem que a natureza “erga omnes” (força obrigatória
geral) das decisões sobre a inconstitucionalidade em sede de fiscalização concentrada,
transforma essas decisões jurisdicionais em decisões legislativas, pois “anular uma lei
seria ainda editar uma norma geral, editá-la com sentido negativo”.
Quer o órgão jurisdicional que anula a lei (o fiscalizador) quer o órgão legislativo
ordinário (fiscalizado), seriam ambos legislativos, entretanto, o fiscalizador apareceria
ainda com estatuto jurisdicional.