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Luísa Isabel Disse

Disciplina de Direitos Fundamentais

Tema: Direitos Fundamentais em Sentido Material

Licenciatura em Ciências Jurídicas Públicas

Docente: Dr. Aurélio Díniz

Universidade Alberto Chipande

Beira

2024
Luísa Isabel Disse

Tema: Direitos Fundamentais em Sentido Material

Docente:
Dr. Aurélio Díniz
O presente trabalho constitui
Uma avaliação parcial na disciplina
De Direitos Fundamentais a ser apresentado
Na universidade Alberto Chipande
Sob orientação Dr. Aurélio Díniz

Universidade Alberto Chipande


Beira
2024
Índice

I. INTRODUÇÃO ........................................................................................................ 4

1.1. Objectivos do trabalho ........................................................................................... 4

1.1.1. Objectivo geral ................................................................................................... 4

1.1.2. Objectivos específicos ....................................................................................... 4

1.2. Metodologia ........................................................................................................... 4

II. DIREITOS FUNDAMENTAIS EM SENTIDO MATERIAL .............................. 5

2.1. Breve retrospectiva acerca dos direitos fundamentais ........................................... 5

2.2. Terminologia e fundamentalidade ......................................................................... 7

2.3. Conceitos e fundamentalidade ............................................................................... 8

2.4. Compreensão dos Direitos Fundamentais ........................................................... 10

2.5. Dimensão Objectiva e Subjectiva dos Direitos Fundamentais ............................ 11

2.6. Direitos fundamentais na Constituição Moçambicana ........................................ 12

III. EM SENTIDO MATERIAL ............................................................................... 13

3.1. Categorias dos direitos fundamentais .................................................................. 13

3.1.1. Direitos Fundamentais Individuais e Direitos Fundamentais Institucionais ... 14

3.1.2. Direitos de Exercício Individual e Direitos de Exercício Colectivo ................ 15

3.1.3. Direitos de Liberdade e Direitos Sociais ......................................................... 15

IV. CONCLUSÃO ..................................................................................................... 17

V. BIBLIOGRAFIA ................................................................................................. 18
I. INTRODUÇÃO
Falar dos direitos fundamentais em Moçambique, em particular, no sentido
material, sua importância significa aprimorar inúmeros aspectos da história do nosso
pais e para justificar o conceito sendo assim, não se mostra tarefa fácil e muito menos
algo que possa ser esgotado numa reflexão apenas, contudo, a necessidade de fazer este
trabalho tentar entende a real essência de direitos e deveres em moçambique, devido aos
conturbados momentos que marcam o quotidiano moçambicano.

1.1.Objectivos do trabalho
O presente trabalho, que é o culminar dos estudos do curso de licenciatura em Ciências
Juridicas, tem os seguintes objectivos:

1.1.1. Objectivo geral


 Estudar os Direitos Fundamentais em Sentido Material em Moçambique.

1.1.2. Objectivos específicos


 Trazer um historial da oriem dos direitos fundamentais em geral e particulmente em
Moçambique;
 Descrever um catalogo dos direitos fundamentais em sentido material;
 Mostrar as diferenças que existem na doutrina no conceito de direitos fundamentais.

1.2.Metodologia
Enquanto procedimento, este trabalho realizou-se por meio de observação
indirecta e indutiva, porque foi partindo de uma análise documental e do seu despectivo
conteúdo que obtivemos um parecer, um ponto de vista generalizado sobre o tema em
causa.

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II. DIREITOS FUNDAMENTAIS EM SENTIDO MATERIAL

2.1.Breve retrospectiva acerca dos direitos fundamentais


O reconhecimento dos direitos fundamentais do homem teve origem em
documentos históricos que acompanharam o avanço da humanidade na conquista de
novos direitos. Tais documentos foram o ponto de origem que deu ensejo à garantia de
liberdades que culminaram com o posterior reconhecimento e positivação dos direitos
fundamentais nas constituições. Os antecedentes mais diretos das declarações de
direitos surgiram na Idade Média. Tem-se como referência histórica da garantia dos
direitos fundamentais o pacto firmado em 1215 na Inglaterra, mas tornado efectivo
somente em 1225, entre o Rei João Sem Terra e os nobres, conhecido como Magna
Charta Libertatum.

Nascido das controvérsias entre o Rei e os bispos e barões ingleses, este pacto é
considerado pelos estudiosos dos direitos humanos um marco na garantia de liberdades
e limitação do poder do soberano, tornando-se um símbolo das liberdades públicas
(Silva, 2009, p. 152).

Trata-se do principal documento, apesar de não ser o primeiro, a reconhecer


direitos, ainda que apenas para os nobres ingleses e homens livres, que se pode chamar
de fundamentais. Alguns séculos mais tarde, na vigência do Estado Absolutista, com o
surgimento das correntes jusnaturalistas, tem início a fase de afirmação dos direitos
fundamentais. O primeiro fato a marcar a fase de desenvolvimento social e luta por
novos direitos foi a Reforma Protestante ocorrida no século XVI, que pretendeu, por
meio do movimento reformista cristão contra a doutrina do catolicismo, garantir a
liberdade religiosa e de culto.

Décadas mais tarde, já no século XVII, foram as Declarações de Direitos


ingleses que marcaram a ampliação da titularidade e do conteúdo das liberdades e
privilégios nascidos na Idade Média, garantindo a liberdade individual dos cidadãos. A
primeira delas foi a Petição de Direitos (Petition of Rights), de 1628, que consistia em
um acordo entre o Parlamento inglês e o Monarca, em que era pedido a este o
reconhecimento de direitos para seus súditos, isto é, o efetivo cumprimento por parte do
rei, dos direitos previstos na Carta Magna.

Anos mais tarde, o Habeas Corpus Act de 1679, que teve particular importância
na supressão das prisões arbitrárias comandadas pelos déspotas do regime absolutista.
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Por fim, a mais importante das Declarações, que foi a Declaração de Direitos (Bill of
Rights), de 1689, advinda da Revolução Gloriosa, cuja principal conquista foi a
desvinculação da imagem do monarca da imagem divina, fazendo nascer, para a
Inglaterra, a monarquia submetida à soberania popular. Este documento foi fonte de
inspiração para a instauração das democracias liberais na Europa e na América, nos
séculos XVIII e XIX (Silva, 2009, p. 153).

Nota-se que até o século XVII, apesar da positivação dos direitos e liberdades
civis na Inglaterra, houve uma “fundamentalização, mas não uma constitucionalização
dos direitos e liberdades individuais fundamentais” (Sarlet, 2009, p. 43). Foi somente
no século seguinte, sob a influência dos movimentos revolucionários que provocaram a
derrocada do regime absolutista que se deu a consolidação dos direitos fundamentais em
documentos constitucionais.

A consagração dos direitos e liberdades até então reconhecidos, que culminou


com a constitucionalização dos direitos fundamentais se deu, portanto, somente em
1776, com a Declaração de Direitos do Povo da Virgínia. Nascida sob a influência da
ideologia iluminista propulsora dos movimentos revolucionários que tinham como
principais expoentes Montesquieu e Rousseau, foi o primeiro documento a marcar a
transição das liberdades e garantias até então assegurados aos ingleses, para os direitos
fundamentais. Também, sob a influência filosófica e ideológica do iluminismo, foi
aprovada na França, a Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão em 1789,
como resultado dos ideais liberais que culminaram com a Revolução Francesa,
reconhecendo e garantindo direitos e liberdades públicas.

Estas duas Declarações foram, portanto, os primeiros documentos a positivar os


direitos fundamentais, como resultado da transformação do Estado Absolutista em um
Estado Liberal, garantidor dos direitos individuais. Mas foi na Declaração Francesa que
a universalidade dos direitos se manifestou pela primeira vez como ideal da pessoa
humana, já que este documento tinha como destinatário o gênero humano e não apenas
o povo francês.

A história constitucional mostra que o direito constitucional foi influenciado


pelas transformações sociais, políticas, culturais e econômicas de cada época e que, em
razão disso, todos os documentos que podem ser equiparados a uma Constituição como
a concebida actualmente, retratam a realidade de seu tempo. A Constituição esteve deste

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modo, sempre vinculada à realidade social, estruturando um conjunto de valores e
regras. A doutrina apresenta alguns sentidos em que se deve tomar a Constituição, os
quais variam conforme diferentes tipos de concepção.

2.2.Terminologia e fundamentalidade
Os direitos fundamentais envolvem uma variedade terminológica que torna
difícil sua delimitação conceitual. José Afonso da Silva (2009, p. 175) ressalta que, “a
ampliação e a transformação” desses direitos, no decorrer da história, dificulta a
definição de um “conceito sintético e preciso”, o que é agravado pela diversidade de
expressões para designá-los.

As expressões direitos fundamentais, “direitos humanos”, “direitos humanos


fundamentais”, “direitos do homem”, “direitos individuais”, “direitos públicos
subjetivos”, “direitos e garantias fundamentais”, dentre outras, são comumente
utilizadas pela doutrina e pelo direito positivo no mesmo sentido terminológico.

Em que pese serem, muitas vezes, consideradas expressões sinônimas, conforme


entendimento da doutrina moderna (Barreto, 2009, p. 243), sendo utilizadas no mesmo
sentido semântico, tona-se necessário estabelecer, ao menos para fins deste estudo, uma
delimitação dos conceitos a que se referem tais termos, buscando uma uniformização de
sentido em relação às expressões contidas no texto da CRM e utilizadas pela doutrina.

Gomes Canotilho (2010, p. 359) distingue as expressões direitos fundamentais e


“direitos do homem”, ressaltando que ambas são frequentemente utilizadas como
sinônimas. Os direitos do homem seriam, na sua concepção, “direitos válidos para
todos os povos e em todos os tempos (dimensão jusnaturalista-universalista)”, enquanto
os direitos fundamentais são os “direitos do homem jurídico-institucionalmente
garantidos e limitados espacio temporalmente.” Assim, os primeiros decorrem da
própria natureza humana e “os direitos fundamentais seriam os direitos objectivamente
vigentes numa ordem jurídica concreta”.

Em conformidade com este entendimento, Ingo Sarlet (2009, p. 35) destaca a


dificuldade em se sustentar que “direitos humanos” e direitos fundamentais possam ser
a mesma coisa, a não ser que se parta de um acordo semântico em que se estabeleça
serem termos sinônimos. Para o autor, a expressão “direitos humanos” se revelou
conceito de contornos mais amplos e imprecisos que a noção de direitos fundamentais.
Nesse sentido, os “direitos humanos”, expressão comumente utilizada pelos autores
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anglo-americanos e latinos referem-se ao ser humano enquanto tal, aos direitos do
homem e possuem relação com uma concepção jusnaturalista (Bonavides, 2007, p.
560).

É a expressão utilizada nos documentos de direito internacional (Silva, 2009, p.


176), enquanto o termo direitos fundamentais, em geral, preferido pelos autores
alemães, adoptado pela Constituinte Moçambicana de 1990 inspirado na Lei
Fundamental da Alemanha e na Constituição Portuguesa de 1976, refere-se a uma
perspectiva positivista, isto é, nascem, se desenvolvem e acabam com as constituições
nas quais foram reconhecidos e assegurados (Sarlet, 2009, p. 35).

Ao tratar, ainda, das terminologias comumente utilizadas para se referir aos


direitos fundamentais, Silva (2009, p. 178) coloca a expressão “direitos fundamentais
do homem” como sendo a mais adequada, pois diz respeito a uma limitação imposta
pela soberania popular aos ditames dos poderes estatais que, inclusive, é um dos
fundamentos do Estado de Direito. A esse respeito, mas no sentido de serem utilizadas
indistintamente as expressões “direitos humanos”, direitos fundamentais e “direitos da
liberdade”, Antônio Perez Luño (1995, p. 33) afirma que o processo de evolução e
reconhecimento dos “direitos humanos” que culminou com a sua positivação foi
acompanhado por uma progressiva recepção dos “direitos e liberdades” individuais
apontados como sendo anteriores aos direitos fundamentais.

2.3.Conceitos e fundamentalidade
Sobre a fundamentalidade dos direitos em estudo, Canotilho (2010, p. 369)
observa também uma distinção dos direitos fundamentais em formalmente
constitucionais e materialmente fundamentais. Os primeiros alcançam todos os
direitos reconhecidos e consagrados pela Constituição, pois são enunciados em normas
positivadas sob a forma constitucional. Há, em outro contexto, direitos fundamentais
reconhecidos por normas que não possuem forma constitucional. São, por esse motivo,
materialmente fundamentais, configurando normas de “fattispecie aberta”.

Nesse caso, o autor esclarece que serão considerados fundamentais: “direitos


extraconstitucionais materialmente fundamentais os direitos equiparáveis pelo seu
objecto e importância aos diversos tipos de direitos formalmente fundamentais”. Sob
esse aspecto, Paulo Bonavides (2007, p. 561) ressalta que, segundo uma concepção
formal estabelecida por Carl Schmitt, os direitos fundamentais são todos os direitos e

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garantias elencados no texto constitucional, e que foram beneficiados pela imutabilidade
que torna necessária uma emenda constitucional para sua modificação. No sentido
material, os direitos fundamentais “variam conforme a ideologia, a modalidade de
Estado, a espécie de valores e princípios que a Constituição consagra. Em suma, cada
Estado tem seus direitos fundamentais específicos”.

A fundamentalidade dos direitos diz respeito, por conseguinte, à sua proteção


em um sentido formal e em um sentido material. A fundamentalidade formal refere-se à
posição hierárquica que as normas de direitos fundamentais ocupam no ordenamento
jurídico, vinculando diretamente o legislador, o Poder Executivo e o Judiciário (Alexy,
2008, p. 520). A fundamentalidade material pode ensejar a abertura da Constituição a
direitos fundamentais que não se encontram positivados em seu texto, direitos
materialmente, mas não formalmente fundamentais.

Sarlet (2009) esclarece que tal distinção não tem gerado grandes controvérsias
no âmbito doutrinário, distinguindo os direitos fundamentais:

Em sentido formal podem, na esteira de Konrad Hesse,


ser definidos como aquelas posições jurídicas da pessoa, na sua
dimensão individual colectiva ou social que, por decisão
expressa do Legislador-Constituinte foram consagradas no
catálogo dos direitos fundamentais (aqui considerados em
sentido amplo). Direitos fundamentais em sentido material são
aqueles que, apesar de se encontrarem fora do catálogo, por seu
conteúdo e por sua importância podem ser equiparados aos
direitos formalmente (e materialmente) fundamentais (Sarlet,
2009, p. 80).

Diante disso, é possível perceber que, esclarecidas as distinções apresentadas


alhures, a doutrina constitucional pátria reconhece a existência de direitos fundamentais
fora do catálogo constitucional, direitos materiais, não restringindo a dependência
daqueles direitos exclusivamente ao legislador constituinte. Entende-se, portanto, sob
este aspecto, que existem direitos que são fundamentais em razão de sua essência,
independentemente de estarem positivados em um texto constitucional. São os “direitos
fundamentais materiais”.

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Importa consignar a constatação de Sarlet (2009, p. 32-33), quanto à
movimentação doutrinária rumo a um direito constitucional internacional, reconhecendo
uma estreita relação entre os “direitos humanos” e os direitos fundamentais assentada
em uma proximidade de conteúdo entre os documentos internacionais e os textos
constitucionais. Nesse contexto, o autor destaca o uso da expressão “direitos humanos
fundamentais”, ressaltando uma “unidade essencial e indissolúvel entre direitos
humanos e direitos fundamentais”. Diante das considerações apresentadas, pode-se
dizer que as expressões “direitos humanos” e direitos fundamentais não são termos
excludentes. Na verdade, entende-se que os direitos fundamentais remetem aos “direitos
humanos” na medida em que estes se referem aos direitos inerentes a todos os homens
em decorrência da sua própria natureza humana.

Assim, sob uma perspectiva material, a dignidade da pessoa humana aparece


como princípio formador do “núcleo essencial intangível dos direitos fundamentais”
(Andrade, 2009, p. 233), sendo estes, portanto, os direitos próprios da pessoa,
assegurados por um ordenamento constitucional e em outros documentos.

2.4.Compreensão dos Direitos Fundamentais


O Prof. Jorge Miranda define direitos fundamentais como os direitos ou as
posições jurídicas subjectivas das pessoas enquanto tais, individual ou
institucionalmente consideradas, assentes na Constituição, seja na Constituição formal,
seja na Constituição material donde direitos fundamentais em sentido formal e direitos
fundamentais em sentido material.

Para este autor, os direitos fundamentais não se resumem aos que constam do
texto constitucional, uma vez que eles representam valores supremos intrínsecos à
dignidade humana, cuja validade não carece da consagração em nenhum instrumento
jurídico. Eles têm valor em si, existem independentemente da vontade e consciência do
seu titular e transcendem a vontade de qualquer ente jurídico.

Discordando desta posição, Gomes Canotilho sustenta que os direitos


fundamentais são direitos jurídico institucionalmente garantidos e limitados espácio-
temporalmente, são direitos objectivamente vigentes numa ordem jurídica concreta.
Para este, os direitos fundamentais só existem na relação directa com a Constituição,
isto é, na medida em que tenham sido positivados. É preciso constarem da lei
fundamental (a Constituição). A positivação dos direitos fundamentais significa, para

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este doutrinário, a incorporação na ordem jurídica dos direitos considerados “naturais” e
inalienáveis do indivíduo.

Portanto, para Gomes Canotilho os direitos fundamentais só existem onde


existindo uma Constituição, esta os tenha consagrado e, se justifica citando Cruz
Villalon segundo o qual “onde não existir Constituição não haverá direitos
fundamentais (...)”. Um outro autor que discute os direitos fundamentais é Vieira de
Andrade. Para este, os preceitos relativos aos direitos fundamentais não podem ser
pensados apenas do ponto de vista dos indivíduos, enquanto posições jurídicas de que
estes são titulares perante o Estado, designadamente para se defenderem, antes valem
juridicamente também do ponto de vista da comunidade, como valores ou fins que esta
se propõe prosseguir, em grande medida através da acção estadual.

Para Menezes Cordeiro, os direitos fundamentais correspondem à positivação,


nas ordens jurídicas internas do tipo continental, dos direitos do homem. Correspondem
às posições jurídicas activas consagradas na Constituição. Qualquer que seja o
entendimento que se tenha dos direitos fundamentais o certo é que, perfilhando o Prof.
Jorge Miranda, estes não se esgotam nos consagrados na Constituição (dimensão
objectiva), existem outros direitos inerentes à natureza humana para além dos
consagrados na Constituição (dimensão subjectiva). Aliás, este foi o entendimento
acolhido pelo legislador constituinte moçambicano, ao estabelecer no art. 42 da CRM
que “os direitos fundamentais consagrados na Constituição não excluem quaisquer
outros constantes das leis”.

2.5.Dimensão Objectiva e Subjectiva dos Direitos Fundamentais


A concepção institucional dos direitos fundamentais, grandemente desenvolvida
por Haberle, despertou a atenção para o duplo sentido dos direitos fundamentais, por
um lado como direitos jurídico-individuais, na medida em que garantem aos seus
titulares um direito subjectivo público (liberdade e autodeterminação individual) e, por
outro, como direito institucional objectivo, enquanto garantias constitucionais de
âmbitos de vida de liberdade juridicamente ordenados e conformados. Assim, numa
perspectiva de seus titulares, os direitos fundamentais surgem como direitos subjectivos
públicos, enquanto que na perspectiva das relações de vida, surgem como institutos,
unidos não por uma relação de dependência, complementaridade ou instrumentalidade,
mas sim, por uma relação de integração essencial. Para Haberle, os direitos

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fundamentais apresentam um “lado” jurídico-individual , enquanto garantem aos seus
titulares um direito subjectivo público, e um “lado” institucional objectivo, enquanto
garantias constitucionais de âmbitos de vida de liberdade juridicamente ordenado e
conformados.

2.6.Direitos fundamentais na Constituição Moçambicana


Direito, concebido como sendo um “sistema de regras de conduta social,
obrigatórias para todos os membros de uma certa comunidade, a fim de garantir no seu
seio a justiça, a segurança e os Direitos Humanos, sob a ameaça das sanções
estabelecidas para quem violar tais regras” (AMARAL, 2004, p. 65), revela que o bem
por ele perseguido é o homem, que já nasce com direitos (direitos humanos) que
merecem uma tutela por parte da ordem jurídica onde se insere.

É esta protecção do bem perseguido (o homem) que gera a facção “Direitos


Humanos”. Tratam-se de direitos de que uma pessoa necessita para viver com certa
dignidade humana. São direitos inerentes à pessoa humana, isto é, “direitos individuais,
conferidos por Deus ou pela Natureza, reconhecidos pela Razão, inerentes à condição
da pessoa humana, e por isso mesmo, anteriores e superiores ao próprio Estado, a
quem são oponíveis pelos indivíduos” (AMARAL, 2004, p. 56).

A ideia de reconhecimento e de protecção de Direitos Humanos surgiu na


Inglaterra com John Locke (1690), e foi proclamada pela primeira vez num grande texto
internacional, em 1776, na Declaração de Independência dos Estados Unidos da
América, redigida por Thomas Jefferson, que dizia “Nós temos por evidentes por si
próprias as verdades seguintes: todos os homens são criados iguais; são dotados pelo
Criador de certos direitos inalienáveis; entre estes direitos contam-se a vida, a
liberdade e a procura de felicidade” (AMARAL, 2004, p. 57).

A expressão Direitos Humanos, para designar os direitos que cada pessoa tem
por ser pessoa, mostra-se vaga e com sentido diferenciado para determinadas áreas
(MIRANDA, 2014b). Aos que trabalham o Direito Constitucional, nesse caso, Direito
Interno (positivo) de cada Estado soberano, preferem a expressão Direitos
Fundamentais. Isto porque tratam-se, segundo eles, de direitos assentes na ordem
jurídica, e não de direitos derivados da natureza do homem e que subsistam sem
embargo de negação da lei (MIRANDA, 2014b).

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Tratam-se de direitos humanos consagrados em texto fundamental
(Constituição) por forma a dar-lhes maior protecção e garantia. A Constituição
Moçambicana atribui os direitos fundamentais a todos os cidadãos perante a lei, e todos
gozam dos mesmos direitos e estão sujeitos aos mesmos deveres. O artigo 35º e
seguintes da CRM enumeram princípios e uma série de direitos, deveres e liberdades
consignados na lei do país. Refere ainda que: “...os direitos fundamentais consagrados
na Constituição não excluem quaisquer outros constantes das leis” (CRM, 2004). Isto
para dizer que todos os assuntos sobre os direitos fundamentais não se esgotam apenas
na Constituição, existindo outros instrumentos legais ou leis que de forma específica
nos remetem à sua consulta e apreciação.

Ou seja, a fonte de reconhecimento dos direitos humanos em si não é, apenas, a


Constituição mas também a Lei ordinária. Assim, as atribuições dos direitos
fundamentais na CRM encontram-se dispostos em: Princípio da Universalidade: Este
é o primeiro comum a quaisquer direitos fundamentais. Todos quanto fazem parte da
comunidade política são titulares dos direitos e deveres aí consagrados. Portanto, este
princípio diz respeito aos destinatários das normas. Princípio da Igualdade:Neste
princípio, todos têm os mesmos direitos e deveres, e diz respeito ao conteúdo do
princípio da universalidade.

No positivismo os valores éticos são aqueles que devem ser seguidos pela
sociedade. Actualmente os princípios já não são vistos como eram no antigamente, mas
sim carregados de normatividade, o que os faz um tipo de norma, bem assim como
regras. Os princípios constitucionais são normas que sustentam e servem de fundamento
jurídico para o ordenamento constitucional; são valores primordiais e bases do sistema
normativo da sociedade. Não são meros programas ou sugestões que visem acções para
iniciativa privada ou simplesmente para um poder público, dão a direcção e possuem
verdadeira força vinculativa.

III. EM SENTIDO MATERIAL

3.1.Categorias dos direitos fundamentais


A análise do catálogo constitucional dos direitos fundamentais de qualquer
ordenamento permite-nos, contudo, concluir que a natureza e o tipo dos bens protegidos
pelas normas de direitos fundamentais são muito diferenciados: é que podem respeitar a
liberdades em sentido restrito, jurídicas ou fácticas, consistindo em faculdades, livres de

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obstáculos jurídicos ou fácticos, de conduta activa ou de alternativa de comportamento,
como acontece no caso da liberdade e expressão. Mas, e não só, também podem
respeitar a atributos, valores ou situações do titular do direito fundamental relacionados
com a personalidade ou exigências derivadas da autodeterminação sobre a sua espera
pessoal ou da sua integração social, tal como acontece com o direito à vida, ao
desenvolvimento da personalidade, ao trabalho e outra infinidade de situações. Não
obstante os direitos fundamentais constituírem, em cada ordenamento constitucional,
uma unidade, estes podem ser classificados em categorias diversas.

Contudo, não pretendemos aqui estudar as várias classificações dos direitos


fundamentais, interessando-nos apenas algumas classificações que têm interesse para a
nossa pesquisa.

3.1.1. Direitos Fundamentais Individuais e Direitos Fundamentais


Institucionais
Para Jorge Miranda, os direitos fundamentais reportam-se à pessoa humana, mas
há bens jurídicos da pessoa que só podem ser salvaguardados no âmbito ou através de
instituições (associações, grupos de qualquer natureza, instituições stricto sensu),
doptadas de maior ou menor autonomia frente aos indivíduos que as constituem, tudo na
perspectiva de protecção, promoção e realização da pessoa, pela atribuição de direitos a
essas instituições (personificadas ou não). É aqui que se justifica a classificação dos
direitos fundamentais em individuais e institucionais. No plano de titularidade, os
direitos fundamentais individuais prendem-se com a pessoa singularmente considerada,
isto é, são direitos que o Estado atribui ao indivíduo enquanto membro de uma
comunidade politicamente organizada.

É por isso que, citando Jorge Miranda, a concepção oitocentista dos direitos
fundamentais tomava-os como direitos exclusivamente individuais, direitos das pessoas
singulares e de exercício individual, voltados para a salvaguarda da liberdade pessoal,
tal é o exemplo do direito à vida, a objecção de consciência e ao bom nome,
constitucionalmente consagrados nos arts.40 e 41, respectivamente. Os direitos
fundamentais institucionais, por seu turno, reportam-se aos direitos atribuídos às
instituições e não às pessoas. E porquê?

É que apesar de os direitos fundamentais se reportarem sempre à pessoa


humana, existem determinados bens jurídicos da pessoa que só podem ser

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salvaguardados no âmbito ou através das instituições personificadas ou não
(associações, grupos de qualquer natureza, instituições stricto sensu), doptadas de
maior ou menor autonomia frente aos indivíduos que, em cada momento, as constituem,
sempre numa perspectiva da promoção, da realização da pessoa. Nestes direitos cite-se,
a título de exemplo, a liberdade de consciência, de religião e de culto consagrados
constitucionalmente às confissões religiosas (art. 54, n° 3), o direito de livre acção das
associações (art. 52, n° 2).

3.1.2. Direitos de Exercício Individual e Direitos de Exercício Colectivo


No plano de exercício, encontramos direitos de exercício individual que são
direitos de existência, direito ao desenvolvimento da personalidade, a liberdade física, a
liberdade de consciência, a liberdade positiva e negativa de associação, o direito ao
trabalho e, em geral, todos os direitos sociais. Os direitos de exercício colectivo são
aqueles que somente podem ser postos em prática por um conjunto de pessoas, por
exemplo: a liberdade de imprensa, de reunião, de manifestação, o direito à greve, o
direito de sufrágio. Não obstante, refere Jorge Miranda, em nenhuma circunstância,
num Estado de Direito, o exercício colectivo de direitos pode sacrificar a liberdade de
escolha individual das pessoas pertencentes à colectividade. É por isso que o direito de
manifestação implica o de não participar em manifestações contra a própria vontade, o
direito à greve o de não aderir à greve e a liberdade de associação a liberdade negativa
de associação.

3.1.3. Direitos de Liberdade e Direitos Sociais


A concepção dos direitos sociais não acolhe consenso em todos os ordenamentos
jurídicos. Se em alguns ordenamentos, estes direitos são encarados como princípios
políticos, noutros assumem a natureza de normas programáticas, de preceitos
indicadores dos fins do Estado, de princípios jurídicos, de normas organizatórias e, até
mesmo de garantias institucionais, noutros, contudo raros, são considerados como
direitos subjectivos públicos. No exemplo da Constituição portuguesa, como refere
Vieira de Andrade, as normas que preveem os direitos sociais contêm directivas ao
legislador, significando que são normas impositivas de legislação, não conferindo,
apesar disso, aos seus titulares verdadeiros poderes de exigir. Elas visam, porém, impor
ao Estado que tome medidas para uma maior satisfação ou realização concreta dos bens
por elas protegidas. Significa que vinculam efectivamente os poderes públicos (embora
nem sempre de modo imediato) e não estão revestidos de carácter programático, na
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medida em que a Constituição fixa critérios para a determinação do conteúdo mínimo
dos interesses dos beneficiários.

Estes direitos sociais, tidos como posições subjectivas face à actividade do poder
público, resultam da conquista dos movimentos sociais ao longo dos séculos e,
actualmente, são reconhecidos no âmbito do direito internacional em documentos como
Declaração Universal dos Direitos do Homem de 1948 e o Pacto Internacional dos
Direitos Económicos, Sociais e Culturais de 1966. Os direitos de liberdade têm como
conteúdo positivo o direito de agir e como conteúdo negativo não sofrer o sujeito
interferência ou impedimento. Segundo Jorge Reis Novais, nos direitos de liberdade a
norma constitucional de direitos fundamentais cria, ela própria, uma área juridicamente
delimitada ou delimitável de livre acesso ou fruição de um bem ou interesse de
liberdade protegido pelo direito fundamental, impondo, por conseguinte, aos poderes
constituídos a obrigação de acatarem e garantirem a inviolabilidade e possibilidade
jurídica de realização e concretização do poder de autodeterminação individual assim,
directa ou indirectamente, reconhecido.

Segundo o Prof. Jorge Miranda, tal como nos direitos de liberdade se recorta
uma dimensão positiva, também nos direitos sociais se encontra, pois, uma dimensão
negativa. As prestações que lhe correspondem não podem ser impostas às pessoas
contra a sua vontade, salvo quando envolvam deveres e, mesmo aqui, com certos
limites.

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IV. CONCLUSÃO
Contudo, pode concluir que direitos fundamentais são direitos de defesa que se
destinam a proteger determinadas posições subjectivas contra a intervenção do poder
público. Os direitos fundamentais do homem são situações jurídicas objectivas e
subjectivas definidas no direito positivo em prol da dignidade, igualdade e liberdade da
pessoa humana. Direitos fundamentais e Deveres fundamentais são situações jurídicas
ou adstrição de comportamentos impostas constitucionalmente às pessoas, aos membros
da comunidade política. São deveres que o homem tem perante o Estado, ou perante
outros homens enquanto cidadão e que derivam do seu estatuto básico, a Constituição,
em conformidade com os princípios que a enformam.

A Constituição Moçambicana atribui os direitos fundamentais a todos os


cidadãos perante a lei, e todos gozam dos mesmos direitos e estão sujeitos aos mesmos
deveres. O artigo 35º e seguintes da CRM enumeram princípios e uma série de direitos,
deveres e liberdades consignados na “lei mãe” do país. Os direitos humanos pode ser
vista como uma limitação às acções do Estado em relação aos indivíduos, concebendo-
lhe a um âmbito de liberdade de acordo com a sua condição própria de ser humano.

Portanto os direitos humanos são de suma importância visto que são


indispensáveis para viver com dignidade, livremente, em um entorno justo e pacífico.

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Textos Legais

 MOÇAMBIQUE, Código Civil, aprovado pelo Decreto-Lei n.º 47 344, de 25 de


Novembro de 1966.
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2004, Maputo.
 Constituição da Republica de Moçambique -1990
 Declaração universal dos Direitos Humanos.

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