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1º ano de Direito História do Direito Português CAD
Com o inicio da pandemia COVID-19 em 2020, em Portugal, veio também mais tempo livre no
sentido em que nos encontrávamos em confinamento geral obrigatório. Com mais tempo livre,
já que, por exemplo, as horas despendidas em transportes diariamente para a faculdade
podiam ser agora direcionadas para outras questões. Decidi então, literalmente de um dia
para o outro, criar a CAD, Comunidade de Aficionados de Direito. Com que objetivo? Queria
ligar os estudantes de Direito de todo o país, queria divulgar e criticar as mais recentes notícias
jurídico-políticas, queria levar a cabo iniciativas que aproveitassem a todo e qualquer jurista,
professor, estudante, advogado, etc… Criei o site, a página no Instagram e assim se começou a
erguer o projeto. Entretanto, com as aulas online, pensei também em elaborar apontamentos
semanais e divulgar com os meus colegas, utópico para um trabalho a sós, mas perfeitamente
possível com a entreajuda dos meus colegas porque cada grupo de estudantes faria os
apontamentos semanais de cada cadeira. Porque fazer os apontamentos semanais? A resposta
é extensa, mas simples. Com a “obrigação” de preparar esses mesmos apontamentos, tenho
também um duplo dever de assistir às aulas, de perceber e apontar as mesmas, porque não o
fazendo, falharia comigo e com os restantes colegas com quem me comprometi a partilhar os
apontamentos. Desta forma, dividimos até pelos vários estudantes a tarefa de recolher os
escritos relativos às diversas matérias. É trabalhoso, mas, inevitavelmente, ao preocuparmo-
nos com nos próprios estamos também a ajudar todos os outros alunos. Ou seja, no 1º ano,
começamos apenas a partir de março com os apontamentos semanais, mas no 2º ano, ano
letivo 2020/2021, os apontamentos semanais começaram no inicio e acabaram apenas no fim
do ano letivo! Dito isto, pode conter falhas de escrita ou de direito, foi feito ao longo do tempo
por juristas em formação, entregue semanalmente, portanto, é compreensível e pedimos
também que quando notada alguma falha grave nesse sentido, que nos seja comunicado. Este
projeto ajudou também a impulsionar um ambiente saudável no curso de Direito na nossa
universidade, não que já não o houvesse, mas esta iniciativa só o veio melhorar. Esperamos
ainda que esta iniciativa inspire ad aeternum o maior número de estudantes possíveis, já que
ficou demonstrado que a entreajuda tem efeitos positivos para todos nós. Se tiveres interesse
em colaborar connosco, envia-nos mensagem no Instagram. Somos vários estudantes da
licenciatura em Direito com vontade de mudar, ajudar e com disponibilidade em ser ajudados.
Obrigado a todos aqueles que todos os dias se esforçam por uma comunidade melhor,
saudavelmente competitiva, consciente e dedicada.
Índice:
Conceitos:....................................................................................................................................3
Tema 3: época da individualização do direito português:............................................................8
Tema 4: Renascimento do direito romano.................................................................................13
Tema 7: Direito português entre 1248 e 1446/471....................................................................15
Tema 8: Ordenações.................................................................................................................18
Tema 9: Legislação Manuelina...................................................................................................27
Tema 10: Renascença.................................................................................................................28
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1. Conceitos:
Costume: normas jurídicas surgiram pela prática reiterada das mesmas condutas,
perante os vários problemas e situações sociais, acompanhada da convicção ou
consciência da sua obrigatoriedade.
Entrar às varas: é uma forma de punição de certos delitos, não graves, que se
traduz na composição corporal ou por açoites. O agressor recebia do ofendido, ou
de quem este indicasse, o número de varadas definido na sentença. Se a pena
tivesse de ser aplicada a uma mulher casada, o executor seria o seu marido, em
homenagem à autoridade familiar.
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Existem vários ordálios, dos quais cabe destacar a prova do ferro candente, no qual
o suspeito pegava num ferro em brasa, percorria o espaço de nove pés e punha-o
devagar no chão. De seguida, o sacerdote abençoava a mão e o juiz cobria-a com
cera e envolvia-a num pano. Três dias depois a mão era examinada e, se
aparecesse queimada, este era condenado.
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Cúria: órgão auxiliar do rei que tinha um caráter eminentemente político. Das
reuniões extraordinárias ou plenárias da Cúria resultou a instituição das Cortes.
Foral ou carta de foral é o diploma concedido pelo rei, ou por um senhorio laico ou
eclesiástico, a determinada terra, que contém normas que disciplinam as relações
dos povoadores ou habitantes, entre si, e destes com a entidade outorgante. O
foral representa a espécie mais significativa das chamadas cartas de privilégio.
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enfiteuta, a quem cabia o domínio útil, uma pensão anual. Esta pensão anual
consistia, geralmente, numa parte proporcional dos frutos que o prédio produzia.
Dote romano: O dote romano é o conjunto de bens que a noiva leva para o
casamento para que possa ajudar nas despesas da família e para que depois da
morte do marido ela possa sobreviver.
Glosas: consiste num processo de exegese textual. Por outras palavras, eram
nótulas ou pequenos comentários dos manuscritos que continham as normas
analisadas.
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A Cúria, filiação da Aula Régia visigótica, era um órgão auxiliar do rei que tinha,
portanto, um caráter eminentemente político. Das reuniões extraordinárias ou
plenárias da Cúria resultou a instituição das Cortes.
Foral ou carta de foral é o diploma concedido pelo rei, ou por um senhorio laico ou
eclesiástico, a determinada terra, contendo normas que disciplinam as relações dos
povoadores ou habitantes, entre si, e destes com a entidade outorgante.
Representa o foral a espécie mais significativa das chamadas cartas de privilégio.
d) Costume:
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Por último, refere-se o costume. Este conservou, entre nós, a sua vigência anterior
o direito privado, designadamente, tinha como fonte principal ou quase exclusiva o
costume que prosseguia a linha das normas consuetudinárias leonesas. Importa,
porém, salientar a amplitude com que no período medieval se entendia essa fonte
de direito.
Com Afonso II, a legislação principia a tomar incremento. Este soberano convocou
uma reunião extraordinária da Cúria. Dela saíram várias leis, onde já parece
vislumbrar-se influência do direito romano das compilações justinianeias.
Posto que não formem um corpo legislativo unitário, são, em todo o caso, um
conjunto de preceitos ordenados com algum método.
b) Forais:
Compensando a escassez das leis gerais, são abundantes nesta época as fontes de
direito local. Durante os primeiros reinados concederam-se muitos forais e cartas
de povoação.
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c) Concórdias e concordatas:
Consistiam as concórdias e as concordatas em acordos efetuados entre o rei e as
autoridades eclesiásticas, comprometendo-se a reconhecer direito e obrigações
relativos ao Estado e à Igreja. Não raro esses acordos resultavam de respostas aos
agravamentos proferidos em Cortes pelos representantes do clero. Outras vezes,
derivavam de negociações do rei com as autoridades eclesiásticas, apenas
nacionais ou intervindo o Papa.
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Antes de aplicar uma lex, recorre-se à intuição para ponderar as suas consequências.
Depois, a ars inveniendi decompõe-se sucessivamente nos seguintes elementos:
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1. Leges: são os textos do Corpus Iuris Civilis que se interpretam segundo uma
Gramática de tipo especulativo ou dinâmico para extrair as virtualidades que os
textos comportam;
2. Rationes: são os argumentos fornecidos pela Tópica, que se fazem valer através da
Dialética (arte da discussão) e da Retórica (arte da persuasão).
b) Resoluções régias:
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Ao lado das providências legislativas de iniciativa do monarca, havia outras por ele
tomadas em Cortes, perante solicitações ou queixas que lhe apresentavam. Eram
as resoluções régias. Estas traduziam-se nas respostas do soberano aos
agravamentos feitos pelos representantes das três classes sociais.
e) Concórdias e concordatas:
Já se esclareceu em que consistiam estas fontes de direito. Resta salientar que
sempre persistiram múltiplos diferendos, entre o clero e a realeza, após a subida
ao trono de Afonso III.
f) Direito subsidiário:
Apesar da variedade de fontes de direito, existiam muitos e frequentes situações
para as quais não se encontrava disciplina no sistema jurídico nacional. Só mais
tarde, com as Ordenações Afonsinas, o legislador estabeleceu uma
regulamentação completa sobre o preenchimento das lacunas. Até então, o
problema foi deixado ao critério dos juristas e dos tribunais.
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Apenas duas chegaram até nós: o Livro das Leis e Posturas e as Ordenações de D.
Duarte. Ambas se caracterizam pela sua índole privada.
b) Ordenações de D. Duarte:
Não constituem as Ordenações de D. Duarte uma codificação oficial devida a esse
monarca. Trata-se de uma coletânea privada que deriva o nome por que é
conhecida do simples facto de ter pertencido, segundo se crê, à biblioteca de D.
Duarte, o qual lhe acrescentou um índice da sua autoria e um discurso sobre as
virtudes do bom julgador.
Tema 8: Ordenações
6. Ordenações Afonsinas:
6.1. Elaboração e inicio da vigência:
Antes de mais convém referir que as Ordenações Afonsinas marcam uma viragem
na história do direito em Portugal. Elas consistem, basicamente, na organização do
direito português compilando-o com a legislação existente nos dois séculos
anteriores.
Esta diferença de estilo pode ser explicada pelo facto de terem trabalhado nesta
obra dois compiladores (João Mendes e Rui Fernandes). Por esta razão, há quem
tenha defendido que um estilo se refere a um determinado autor e outro estilo se
refere ao outro compilador. Contudo, de acordo com a perspetiva do Professor
José Domingues, foi Rui Fernandes quem produziu os cinco livros de que é
composta a referida obra. Sustentando, genericamente, que existindo remissões
entre os livros torna-se lógico que essas remissões tiveram de ser feitas em
simultâneo e, portanto, pelo mesmo autor. Não descartando, obviamente, que
João Mendes trabalhou, também, nesta obra só se tornando difícil aferir a sua
função especifica.
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6.5. Edição:
A codificação afonsina não chegou a ser dada à estampa durante a respetiva
vigência. Só nos fins do século XVIII a Universidade de Coimbra promoveu à sua
edição impressa. Vivia-se um ciclo de exaltação dos estudos históricos e tinha
surgido o ensino universitário da história do direito pátrio.
7. Ordenações Manuelinas:
a) Elaboração:
Relativamente pouco tempo durou a vigência das Ordenações Afonsinas.
Concluídas e aprovados em meados do século XV, logo em 1505 se tratava da sua
reforma. Com efeito, nesse ano, D. Manuel encarregou três juristas da época, Rui
Boto, Rui da Grã e João Cotrim de procederem à atualização das Ordenações do
Reino, alterando, suprimindo e acrescentando o que entendessem necessário.
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d) Edição:
Enquanto estiveram em vigor, as Ordenações Manuelinas foram objeto de várias
edições, que levantam algumas difíceis querelas bibliográficas. A primeira, acabada
de imprimir a 11 de março de 1521, saiu da tipografia de Jacob Cromberger.
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b) Edição:
A edição de 1569, constitui a única realizada durante a vigência da Coleção das Leis
Extravagantes de Duarte Nunes do Lião. Apenas conheceria uma segunda edição
setecentista, por iniciativa da Universidade de Coimbra, com escopo histórico. Foi
esta edição universitária objeto de reprodução fac-similada, em 1987.
9. Ordenações Filipinas:
a) Elaboração:
A Coleção das Leis Extravagantes não passou de simples obra intercalar. Impunha-
se uma reforma profunda das Ordenações Manuelinas, cada vez mais urgente dado
o crescimento da legislação avulsa, a desatualização das coletâneas anteriores e,
ainda, a intenção de agradar aos portugueses, com Ordenações só de direito
português. A elaboração das novas Ordenações constituiu um facto natural de
Filipe I.
É patente que se procurou realizar uma pura revisão atualizadora das Ordenações
Manuelinas. Realçando que, a existência de normas de inspiração castelhana não
retira o típico caráter português das Ordenações Filipinas.
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e) Os “filipismos”:
Os compiladores filipinos tiveram a preocupação de rever e coordenar o direito
vigente, reduzindo-se ao mínimo as inovações.
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f) Edição:
A primeira edição das Ordenações filipinas foi publicada em Lisboa, com a data de
1603. Houve ainda outras, antes de o privilégio da impressão das Ordenações
passar à Universidade de Coimbra, nos finais de 1773.
Numa síntese de conjunto, quanto ao seu conteúdo, poderá considerar-se que esta
legislação extravagante se dirigia à manutenção da ordem pública.
b) Espécies de diplomas:
Os mais importantes eram as cartas de lei e os alvarás. Quanto ao formulário, as
cartas de lei começavam pelo nome próprio do monarca, ao passo que os alvarás
continham a simples expressão “Eu ElRei”. Pelo que tocava à duração, deviam
promulgar-se em carta de lei as disposições destinadas a vigorar mais do que um
ano e através de alvará as que tivessem vigência inferior. Contudo, passaram a
confundir-se os dois tipos de diplomas. Apareceram, assim, os chamados alvarás de
lei, alvarás com força de lei ou em forma de lei.
Num plano menos relevante situavam-se os decretos. Não principiavam pelo nome
do monarca e dirigiam-se a um ministro ou tribunal. O âmbito próprio dos decretos
cingia-se à introdução de determinações respeitantes a casos particulares.
Outros diplomas eram as cartas régias, perfeitamente distintas das cartas de lei.
Com efeito, as cartas régias constituíam cartas dirigidas a pessoas determinadas,
que começavam pela indicação do destinatário, mas cujo formulário variava
consoante a sua categoria social.
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Pelos finais de 1518, providenciou-se acerca do inicio da vigência das leis: estas
teriam eficácia, em todo o país, decorridos três meses sobre a sua publicação na
chancelaria e independentemente de serem publicadas nas comarcas. Entendia-se
que a vigência dos restantes diplomas, isto é, dos não submetidos à chancelaria
começava na data da publicação. As Ordenações Filipinas conservaram os prazos
indicados.
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Apenas no século XVIII se pôs cobro a este abuso. A chamada Lei da Boa Razão, de
18 de agosto de 1769, estabeleceu que só os assentos da Casa da Suplicação
teriam eficácia interpretativa.
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Tal foi o pano de fundo da vida jurídica portuguesa durante mais de três séculos.
Apenas no contexto das reformas pombalinas o quadro das fontes de direito
sofreria alterações multifacetadas de vulto.
Dado que a obra não se encontrava efetuada quando D. Manuel I subiu ao trono,
voltaram os munícipes a solicitar essa revisão. Para que a tarefa fosse levada a
cabo, impôs o rei, em 1497, a remessa à Corte dos forais ainda não entregues, ao
mesmo tempo que nomeou uma comissão de revisão.
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A partir de certa altura, os Bartolistas limitam-se a amontoar nos seus escritos uma
série interminável de questões, distinções e subdistinções, ao lado de uma quase
exclusiva citação das opiniões dos autores precedentes. A impreparação e o
menosprezo dos Comentadores quanto aos aspetos históricos provocaram viva
censura dos espíritos cultos da época.
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Não é de excluir, aliás, que se tenha podido chegar a fórmulas autóctones mais ou
menos coincidentes com a do “mos gallicus”, posto que sem influência direta desta
estrita corrente, antes como resultado do movimento humanista geral. Sempre
contaria, porém, o sentido pragmático dos juristas de formação bartolista.
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razão divina, e franciscana (ou voluntarista) que defende que o direito natural é
criado pela vontade de Deus, sem conciliação à vista. Por isso, não faltou quem
desse o golpe fatal: o direito natural não tem por fonte nem a razão nem a vontade
divinas, mas a razão humana.
A Grócio, considerado por alguns autores o seu caput scholae, juntam-se Hobbes,
Locke, Pufendorf, Thomasius e Wolff.
Segundo Grócio, a lei natural não é uma participação na lei eterna, porque não há
analogia entre Deus e as criaturas, nem o homem participa do Ser divino.
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E houve quem profetizasse o seu fim: acolhido nas constituições políticas e nos
códigos civis onde se positivou, o direito natural foi considerado desnecessário e
entrou e permanece em grave crise. Os novos tempos proclamam o positivismo, ou
seja, um só direito: o direito positivo.
Pode afirmar-se que o usus modernus traduz o reflexo da penetração das ideias
jusracionalistas no campo do direito. Influência que se fez sentir em dois planos.
Apenas desde os finais do século XVII se verifica a influencia do jusracionalismo ao
nível da doutrina e da prática do direito.
Como traço comum a ambas as fases, assinale-se que se encarava o direito romano
com os olhos postos na realidade. Os juristas procuravam distinguir, no sistema do
Corpus Iuris Civilis, o que se conservava direito vivo do que se tornara direito
obsoleto. Por outras palavras: importava separarar normas suscetíveis de uso
moderno, ou seja, adaptadas às exigências do tempo, das que correspondiam a
circunstâncias romanas peculiares. Só aquelas deveriam considerar-se aplicáveis.
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c) Jurisprudência Elegante:
Despontou, no século XVI, com sede holandesa, a Escola dos Jurisconsultos
Elegantes, apesar da difusão crescente do usus modernus. O nome adveio da
preocupação de rigor das formulações jurídicas e dos cuidados da expressão escrita
dos seus adeptos. Juristas notáveis continuaram a estudar o direito romano dentro
do método histórico-crítico. Esta jurisprudência elegante dos Países Baixos não
deixou de assumir uma orientação prática, que combinava as finalidades do usus
modernus com as puras tendências do humanismo jurídico.
b) Humanitarismo:
A respeito do âmbito especifico do direito penal e do tratamento penitenciário, há
que mencionar as correntes humanistas derivadas do Iluminismo. Dentro de uma
linha racionalista, desdobram-se essas orientações em dois aspetos básicos.
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No que concerne aos fins das penas, as sanções criminais passam a ter como
fundamento predominante uma pura ideia de prevenção e defesa da sociedade.
Ou seja: a pena justificava-se não como castigo pelo facto passado, antes como
meio de evitar futuras violações da lei criminal.
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2. Também se estatui expressamente sobre o costume. Para que valesse como fonte
de direito, deveria subordinar-se aos requisitos seguintes: ser conforme à boa
razão, não contrariar a lei; ter mais de cem anos de existência. O direito
consuetudinário só conservou, portanto, validade “secundum legem” e “praeter
legem”, nunca “contra legem”.
4. As lacunas devem ser integradas pelo direito romano conforme ao usus modernus
pandectarum. Em matérias politicas, económicas, mercantis ou marítimas,
determinava-se o recurso direto às leis das Nações Cristãs, iluminadas e polidas.
O Compêndio Histórico tinha apontado como graves defeitos dos nossos estudos
jurídicos a preferência absoluta dada ao ensino do direito romano e do direito
canónico, desconhecendo-se praticamente o direito pátrio, o abuso que se fazia do
método bartolista, o respeito cego pela “opinio communis”, o completo desprezo
pelo direito natural e pela história do direito.
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Começou-se pelo projeto de Código de Direito Público, que levantaria uma forte
polémica entre Ribeiro dos Santos e Mello Freire. O último mostrava-se partidário
das ideias absolutistas, ao passo que o primeiro militava no campo dos princípios
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liberais. O projeto de Código de Direito Público acabaria por não vingar. A mesma
sorte teve o projeto de Código Criminal, que nem sequer chegou a ser discutido.
O objetivo desta invasão era, justamente, capturar o rei português, para, desta
forma, “decapitar”, por assim dizer, a coroa portuguesa e, posteriormente,
satisfazer os seus ideais de rompimento com Inglaterra para que os franceses
pudessem servir-se de Portugal. Porém, sem sucesso.
A revolução liberal acabou com o antigo regime, o regime em que o rei era
absoluto, era chefe de Estado, primeiro-ministro, juiz, tudo estava nas suas mãos.
Deu-se, por sua vez, lugar a um novo sistema jurídico-político, consagrado na
Constituição de 1822 e, posteriormente, na Carta Constitucional, com a separação
de poderes.
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Posto isto, uns anos mais tarde estabeleceu-se uma guerra civil trágica que matou
milhares de portugueses, uma guerra entre portugueses, mais especificamente,
entre absolutistas e liberais. Essa guerra civil culmina com a Carta Constitucional de
1826 que é, por assim dizer, um documento de compromisso entre liberais e
absolutistas.
Dir-se-á que o que se apresentava agora efetivamente original não eram as ideias
em si, mas o caráter universalista e humano que elas assumiam. Considerou-se o
aspeto do individualismo politico.
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Interpretação da lei:
Lei inserida nas ordenações afonsinas: se pai/mãe deixar a quota disponível (1/3) a
terceiros, sem expressamente instituir herdeiros ou deserdar os filhos, estes
consideram-se tacitamente instituídos herdeiros nos restantes 2/3. Assim se
continuou a aplicar o principio romano de que o testamento só é válido com
herdeiros instituídos na totalidade da herança.
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Não há duvida que foi, sobretudo, a vertente romanista que revelou influencia
significativa no pensamento jurídico europeu. Projetou-se na Pandectística e na
jurisprudência dos conceitos.
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Com precedentes desde os meados de séc. XVIII, mas sobretudo durante o séc. XIX,
assiste-se a um importante movimento codificador em diversos países da Europa,
que viria a comunicar-se a outros continentes. Traduziu-se na elaboração de
amplos corpos legislativos unitários, obedecendo a uma orgânica mais ou menos
científica e que condensavam, autonomamente, as normas relativas aos ramos
básicos do direito, já então individualizados.
Entre nós, foram as ideias da Revolução Francesa que impulsionaram, logo depois
da implantação do Liberalismo, a atividade codificadora.
a) Direito Comercial:
Iniciou-se o nosso movimento codificador pelo direito mercantil. Em 1833 surge o
Código Comercial, que se ficou a dever a Ferreira Borges.
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O nosso primeiro Código Comercial não se revelava voltado para o futuro, nem
pelo conteúdo normativo, nem pela técnica legislativa adotada. De qualquer modo,
teve o mérito de muito contribuir para a instituição e compreensão do direito
comercial como um específico domínio jurídico-privado.
b) Direito Civil:
O primeiro Código Civil português assentou no projeto de António Luís de Seabra,
desembargador da Relação do Porto, e foi aprovado em 1867.
A curto prazo, este Código começou a ser rodeado por uma imensidade crescente
de diplomas que tutelavam, para além ou contra os seus preceitos, capítulos
fundamentais do Direito Civil. Ainda, também do ponto de vista técnico, estava
longe de poder ir ao encontro das instâncias da moderna ciência jurídica.
Consequentemente, impunha-se uma urgente e completa revisão, realizada pelo
Código Civil de 1966.
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AGRADECIMENTOS:
Adriana Borges
David Silva
Eduardo Leão
Érica Araújo
Gabriel Pinho
Manuela
Marlene Ferreira
Matilde Campos
Miguel Ledo
Pedro Gomes
Apontamentos realizados por membros da CAD. Pedimos que qualquer erro de escrita ou de
direito verificado seja comunicado a um dos membros para posterior correção.
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