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UNIVERSIDADE ZAMBEZE

Faculdade de Direito

Licenciatura em Direito

Praticas Jurídicas Forenses

4o Ano

Tema: Relatório referente Análise do Direito de Uso e Aproveitamento de Terra em


Zonas Rurais no Ordenamento Jurídico Moçambicano

Discente: Docente:

Francisco Inocêncio Agostinho Tangawise Msc. Tamele

Beira

2022
UNIVERSIDADE ZAMBEZE

Faculdade de Direito

Licenciatura em Direito

Praticas Jurídicas Forenses

4o Ano

Tema: Relatório referente Análise do Direito de Uso e Aproveitamento de Terra em


Zonas Rurais no Ordenamento Jurídico Moçambicano

Discente: Francisco Inocêncio Agostinho Tangawise

Relatório a ser apresentado à Faculdade de Direito

Na Universidade Zambeze

Como requisito parcial para Avalição na cadeira de

Praticas Jurídicas Forenses

___________________________________________ Docente:

Msc. Tamele

Beira

2022
Índice

I. INTRODUÇÃO ............................................................................................................ 4

1.1. Problematizacao......................................................................................................... 6

1.2. Metodologia ............................................................................................................... 8

II. DIREITO DE USO E APROVEITAMENTO DA TERRA ........................................ 9

2.1. Enquadramento Normativo ....................................................................................... 9

2.1.1. Evolução legislativa até ao Decreto n.º 12/90, de 4 de Julho ................................. 9

2.2. Após a independência e até ao Decreto n.º 12/90, de 4 de Julho. ........................... 10

2.3. A Lei n.º 19/97 de 7 de Outubro e a Constituição de 2004. .................................... 10

2.4.1. Acesso à Terra ...................................................................................................... 12

2.4.2. Posse de Terra ....................................................................................................... 13

III. FUNDAMENTOS DO DIREITO DE USO E APROVEITAMENTO DA TERRA15

3.1. Aspectos Gerais ....................................................................................................... 15

3.1.1. Noção e objecto .................................................................................................... 15

3.1.2. Titularidade........................................................................................................... 15

3.2. Conteúdo.................................................................................................................. 17

3.2.1. Conteúdo positivo: O uso e aproveitamento ........................................................ 17

IV. CAUSAS DE CONFLITOS DE TERRA, CONSEQUÊNCIAS E MEDIAÇÃO ... 19

4.1. Causas e Conflitos da Terra ..................................................................................... 19

V. CONCLUSÃO ........................................................................................................... 25

VI. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ..................................................................... 26


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I. INTRODUÇÃO

O presente relatório refere-se a “Análise do Direito de Uso e Aproveitamento de


Terra em Zonas Rurais no Ordenamento Jurídico Moçambicano”. e tem como
objectivo analisar as dinâmicas de uso e aproveitamento de terras em zonas rurais face
aos investimentos estrangeiros em Moçambique.

Moçambique é um dos países africanos que tem desenvolvido metodologias de


delimitação de terras das comunidades rurais e tem estado a implementar a sua reforma
da Lei de Terra. Esta Lei de Terra de Moçambique surgiu em 1997, e neste âmbito há
um número significativo de comunidades rurais que reforçou o seu Direito de Uso e
Aproveitamento de Terra (DUAT). Apesar deste progresso, em Moçambique verifica-se
ainda um grande debate sobre o desenvolvimento rural. Com efeito, a terra é uma
questão primordial para o desenvolvimento, visto que entre 75 a 80% da população
activa do país dedica-se à agricultura, e acima da metade da mesma depende do uso da
terra para a sua sobrevivência.
Assiste-se que na fase de implementação de leis, verifica-se uma aparente
conflitualidade entre o sistema formal (leis e regulamentos) e as práticas sociais, usos e
costumes sobretudo nas comunidades rurais. Este choque entre as normas vigentes e os
costumes provoca conflitos entre os diferentes grupos de interesses envolvidos na
aquisição de terras. Neste contexto, importa ressaltar que a comunicação social tem
reportado com frequência vários casos de conflitos de terra, que acontecem um pouco
por todo o país.

A Constituição da República de Moçambique reconhece o direito de uso e


aproveitamento da terra, como sendo direito de todo o povo, em virtude de ser um meio
universal de criação da riqueza e do bem-estar social. No que diz respeito ao uso e
aproveitamento da terra, esta acção fica à responsabilidade do Estado, estabelecendo
que “o Estado determina as condições de uso e aproveitamento da terra”.

Assim, em termos de titularidade, estabelece a mesma Constituição que “o


direito de uso e aproveitamento da terra é conferido às pessoas singulares ou colectivas
tendo em conta o seu fim social e económico”. As pessoas singulares são os cidadãos
nacionais homens e mulheres em nome individual, ou estrangeiros, desde que estejam a
residir em Moçambique há mais de 5 anos. As pessoas colectivas são as Comunidades

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Locais devidamente organizadas ou empresas estrangeiras, desde que estejam


constituídas ou registadas na República de Moçambique.

A Lei de Terras reconhece a ocupação da terra por pessoas singulares (cidadãos


nacionais) e comunidades locais, segundo as normas e práticas costumeiras, desde que
não contrariem a Constituição. É admitida a ocupação por pessoas singulares nacionais
que, de boa-fé, estejam a utilizar a terra há pelo menos dez anos. Este procedimento
significa um direito “automático” de uso e aproveitamento da terra.

A Lei de Terras de 1997 introduziu várias inovações que, no contexto da


estrutura agrária do país, não implicaram uma reforma no sentido de uma redistribuição
da terra, mas sim um processo de reforma jurídica com base no reconhecimento dos
direitos existentes da população rural, na sua grande maioria pobre e analfabeta. Nos
termos do que dispõe o artigo 10 da Lei de Terras, todos os cidadãos têm iguais direitos
de acesso, desde que interessados, e para diversos fins. A Lei de Terras concedeu um
tratamento especial ao acesso de grupos vulneráveis como a mulher e as comunidades
locais, como forma de proteger os cidadãos mais necessitados.

Deste modo, o Estado, isto é, a sua máquina administrativa, através de vários


níveis de organização tem a tarefa de facilitar o acesso à terra, moderando os vários
interesses postos, cuidando da equidade e justeza nesse acesso, através de um
mecanismo descentralizado que começa, dependendo da área pretendida, pelo
Administrador distrital, Presidente do Conselho Municipal, Governador provincial,
Ministro da Agricultura e Conselho de Ministros, conforme consta dos artigos 22 e 23,
ambos da Lei de Terras.

Esta forma é referida na Lei de Terras como a aquisição de terras por


autorização, de acordo com o artigo 12 da Lei, mas podem-se obter legalmente terras
para a agricultura e habitação própria, directamente junto das comunidades desde que
seja pessoa singular nacional e não se destine a grandes investimentos, nos termos do
mesmo artigo. Com vista a se conferir maior segurança à posse de terra por parte das
comunidades e cidadãos rurais, em particular, a Lei de Terras inovou um outro princípio
jurídico ligado à garantia dos direitos reais que assenta no reconhecimento da prova
documental como a mãe das provas.

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Quanto aos objectivos do relatorio, constitui objectivo geral deste trabalho fazer uma
análise sobre a dinâmica de uso e aproveitamento de terras nas zonas rurais face aos
investimentos estrangeiros no Ordenamento Jurídico Moçambicano. No que diz respeito
aos objectivos específicos pretende-se: Identificar as causas que propiciam a
discrepância de oportunidades no acesso e aproveitamento da terra nas zonas rurais;
Analisar até que ponto as políticas do governo têm atenção à protecção dos mais
desfavorecidos nas zonas rurais; Identificar medidas a serem tomadas para que a
desigualdade no acesso à terra nas zonas rurais seja revertida.

1.1. Problematizacao

Assim, verificou-se em Moçambique que a prioridade do Estado na atribuição de


terra tem sido a favor do investimento e em detrimento das necessidades do povo, o que
contraria, sobremaneira, os princípios estabelecidos na Constituição da República. A lei
de terras no seu artigo 24 do № 1 da alínea e), estabelece que para efeitos de atribuição
do Direito de Uso Aproveitamento de Terra, para qualquer que seja a sua finalidade, as
comunidades locais devem ser auscultadas e consultadas. Ou seja, o Estado reconhece-
lhes esse direito, contudo a realidade mostra outros cenários.

A pesquisa de mapeamento de conflitos de terra, aponta também para o grave


déficit de conhecimentos das comunidades pelos seus direitos, obrigações e deveres, na
gestão e exploração dos recursos o que resulta na violação sistemática destes, quer seja
pelo Estado ou investidores que procuram cada vez mais, obter o Direito de Uso de
Terra comunitária, para exploração de diversos recursos naturais.

Em Moçambique a terra é propriedade do Estado e não pode ser vendida, ou por


qualquer outra forma, alienada, hipotecada ou penhorada. Como meio universal de
criação de riqueza e de bem-estar social, o uso e aproveitamento da terra é direito de
todo povo moçambicano.

Com efeito, apesar do uso e aproveitamento da terra constituir um direito do


povo moçambicano consagrado na Constituição da República e na respectiva Lei de
Terras, tem havido problemas na gestão e administração de terras que culminam em
conflitos de terra pelo país, com sérios impactos sobre as populações mais pobres e
vulneráveis. Outrossim, a gestão da terra é desde a independência um assunto que vem
despertando muita preocupação das entidades governamentais a todos os níveis (central

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e local), assim como para a sociedade como um todo. Por se tratar de um recurso base
ou fundamental para constituição de qualquer riqueza, a procura por este recurso por
vários segmentos da sociedade tem crescido muito, principalmente em áreas rurais.

Por seu turno, a deficiente e ineficaz gestão e administração da terra pelo Estado,
sobretudo no que se refere à atribuição do Direito de Uso e Aproveitamento de Terra
(DUAT) e à defesa do Direito da população à terra, tem sido largamente estudada e
denunciada. No entanto, os conflitos de terra, na sua grande maioria entre comunidades
rurais e grandes projectos de investimento, permanecem sem resolução. Em 2011, a
Justiça Ambiental (JA) e a União Nacional de Camponeses (UNAC) lançaram um
estudo “Os senhores da Terra”, que apresentava uma série de projectos de investimento
com conflitos de terra com as comunidades locais. Estas e outras evidências foram
submetidas ao Estado, mas, grande parte destes mantêm-se e outros tantos surgiram. A
JA, e várias organizações têm denunciado estes casos e têm exigido a intervenção do
Estado na resolução dos mesmos, inclusive através dos tribunais. No entanto, é evidente
a inacção do Estado e a protecção dos interesses dos grandes investimentos estrangeiros
em detrimento dos direitos das comunidades locais.

Nesta senda, defende-se que o Estado deve priorizar o sector privado na


atribuição de terra, que tem ocupado lugares-chave na agricultura empresarial, onde se
apoia a economia rural, relegando os camponeses e as comunidades locais, em geral,
para o papel de fornecedores de mão-de-obra a baixo custo e um meio de acesso à terra,
recursos naturais e excedente da produção agrícola.

No processo de atribuição de terras a grandes investimentos verifica-se que,


vezes sem conta, são concessionadas terras já ocupadas pelas comunidades locais, sem
salvaguarda dos seus direitos e sem considerar o potencial da terra para produção de
alimentos. Sendo estas terras férteis utilizadas para o uso intensivo e em grande escala
(plantio de monoculturas de árvores, normalmente espécies exóticas de crescimento
rápido - tais como eucalipto e pinheiro, agronegócio, e mineração), sem o devido rigor
no cumprimento dos requisitos exigidos por Lei, particularmente no que se refere às
consultas comunitárias, para a sua aquisição, quando comparado com o processo de
obtenção de DUAT para projectos de gestão comunitária. De acordo com a abordagem
acima descrito chegou-se uma questão geral que sustentará a pesquisa: Como Proteger

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as Comunidades Rurais face aos Investimentos Estrangeiros no Ordenamento


Jurídico Moçambicano?

1.2. Metodologia

Para além da consulta bibliográfica e artigos científicos sobre o tema, a


metodologia utilizada baseou-se também na recolha de informação qualitativa através
da pesquisa de campo, com recurso a entrevistas de membros das comunidades locais,
Líderes comunitários e outros actores do judiciário. Privilegiou-se para a primeira etapa
da pesquisa, a auscultação das comunidades que beneficiaram da assistência jurídica dos
para legais na resolução e mediação de conflitos.

Os métodos de procedimentos esclarecem acerca dos procedimentos técnicos a


serem utilizados, proporcionando ao pesquisador os meios adequados para garantir a
objectividade e a precisão no estudo de ciências sociais.

Por sua vez, os métodos de procedimento constituem etapas mais concretas da


investigação, com a finalidade mais restrita em termos de explicação geral dos
fenómenos abstractos. Pressupõem uma atitude concreta em relação aos fenómenos que
e estão limitados a um domínio particular.

Tendo em conta os tipos de métodos de procedimento, o trabalho, guiar-se-á


pelo método histórico, que parte da investigação de acontecimentos, processos e
instituições no passado, para verificar se há alguma influência na sociedade actual. As
origens e raízes do passado possibilitam-nos a melhor compreensão das funções e
natureza quer das instituições, costumes e formas de vivências sociais. Nestes termos,
procuramos olhar para como a questão do acesso à terra tem se desenvolvido.

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II. DIREITO DE USO E APROVEITAMENTO DA TERRA

2.1. Enquadramento Normativo

2.1.1. Evolução legislativa até ao Decreto n.º 12/90, de 4 de Julho

É possível historicamente distinguir três períodos distintos na evolução da


propriedade sobre a terra em Moçambique: antes da independência, da independência
até ao Decreto n. ° 12/90, de 4 de Julho, deste decreto à actualidade, incluindo a Lei
19/97, de 7 de Outubro (Lei de Terras).

Antes da independência funcionava aquilo que podemos designar como um


sistema de direitos reais plenamente privado. A base do sistema era a propriedade
privada. Sem prejuízo da existência de propriedade do Estado, o direito de propriedade
dos particulares era o direito real por excelência de afectação de bens aos sujeitos da
ordem jurídica. A volta dele, onerando-o, gravitavam os direitos menores, usufruto, uso
e habitação, superfície, servidões.

Esta importância da propriedade privada, tinha correspondente expressão


económica no funcionamento efectivo de garantias reais, bem como de direitos reais de
aquisição sobre aqueles direitos reais de gozo de incidência particular ou privada. O
fundamento normativo desse sistema era o Código Civil que entrara em vigor em
Portugal continental e na Madeira e Açores, em 1 de Junho de 1967 (art. 2.°, n.º 1 do
Decreto n.º 47 344, de 25 de Novembro de 1966) e cuja aplicação o art. l.° da Portaria
n.º 22 869, de 4 de Setembro de 1967 estendera às, então ditas províncias ultramarinas,
para nelas vigor a partir do dia 1 de Janeiro de 1968, ex vi art. 2.°, n.º 1 da dita portaria.

No Preâmbulo da referida Portaria, ressalvavam-se, nos termos permitidos pelo


art. 3. °, n.º 2 CC, os “usos e costumes legalmente reconhecidos, e só na medida em que
a lei admite a sua observância”. E ainda também se salvaguardaria “a diversa
legislação privativa de natureza civil das províncias ultramarinas quando traduza
interesses superiores, situações enraizadas nas tradições locais ou condicionalismos
próprios que convém respeitar”. Segundo o art. 3. °, n.º 2 do mesmo diploma essa
legislação seria a “emanada pelos órgãos legislativos metropolitanos ou provinciais”
que, no caso, vigorasse em Moçambique.

A dinâmica deste sistema tinha expressão registai no rol de vicissitudes a que se


refere o art. 2. ° e o art. 3. ° do Código de Registo Predial em vigor desde 1 de Junho

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de 1967 (Decreto-Lei n° 47 611, de 28 de Março de 1967, tomado extensivo a


Moçambique pela Portaria n.º 23 088, de 30 de Dezembro de 1967), e inerentes
inscrições registais.

2.2. Após a independência e até ao Decreto n.º 12/90, de 4 de Julho.

Ocorreram importantes movimentos político-sociais de confisco e


nacionalização. O seu objectivo foi a substituição do quadro económico-social
dominante por outro em que os interesses e anseios de todas as parcelas do povo
moçambicano fossem verdadeiramente tidos em conta. A sua expressão legal veio a ser
o Decreto-Lei n.º 5/76, de 5 de Fevereiro. Assim, foram objecto de confisco, reversão
na terminologia legal, já que “sem direito a qualquer indemnização” (art. 7. °, n.º 1
desse diploma).

• O direito de propriedade “sobre bens imóveis pertencentes a estrangeiros que não


tenham o seu domicílio na República Popular de Moçambique” (art. 3. °, n.º 1),
bem como de “pessoas colectivas ou sociedades estrangeiras” (art. 4. °, n.º 1) e de
“moçambicanos residentes no estrangeiro e que não se encontrem ao serviço do
país, ou que não estejam devidamente autorizados pelas autoridades competentes”
(art. 5. °, n.º 1);

• Os restantes direitos reais “imobiliários constituídos a favor dos estrangeiros não


domiciliados em Moçambique” (art. 3. °, n.º 2);

• Os “prédios de rendimento ou parte deles” (art. 6. °, n.º 1), “todos os edifícios que,
sendo destinados a habitação ou outros fins, designadamente comércio, indústria ou
agricultura, não sejam ocupados pelos proprietários ou usufrutuários” (art. 6. °, n.º
2).

2.3. A Lei n.º 19/97 de 7 de Outubro e a Constituição de 2004.

A partir do início da década de noventa, este quadro começou a alterar-se no


sentido de uma revalorização e revitalização dos direitos reais privados.
Correlativamente, o registo predial foi recuperando pelo menos no papel, boa parte da
sua importância inicial. Este processo está longe de ter chegado ao fim.

O movimento começou com o Decreto n.º 12/90, de 4 de Julho. Este, no seu art.
1, °, veio impor o registo de toda a propriedade imobiliária do Estado resultante de

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nacionalização ou reversão. Essa propriedade foi registada em nome do Estado, pelo


Ministério das Finanças (art. 5. ° do mesmo Decreto). E, precisamente, tudo o que fosse
omisso relativamente ao registo seria regulado pela legislação em vigor (art. 8. °
daquele Decreto), ou seja, pelo Código do Registo Predial.

Desta forma procurava-se regularizar a situações do parque imobiliário do


Estado preparando-o para subsequentes alterações. Tal veio efectivamente a suceder: a
Lei n.º 5/91, de 9 de Janeiro veio conceder aos inquilinos do Estado o direito de
adquirir a título oneroso imóveis de habitação do Estado, aquisição sujeita a registo.
Este processo de venda de casas do Estado aos locatários veio renovar o papel da
propriedade horizontal, a qual estava desde as nacionalizações reduzida a situações
praticamente teóricas dada a raridade dos casos de propriedade particular.

O Regulamento do Regime Jurídico do Condomínio (Decreto n.º 53/99, de 8 de


Setembro) veio dar corpo legal a esta valorização. Quanto ao solo surgiu, uma vez
terminada a guerra civil a Lei de Terras (Lei 19/97, de 7 de Outubro) e respectivo
Regulamento de Terras para o solo não urbano (Decreto n.º 66/98, de 8 de Dezembro,
com as alterações aos arts. 20. ° e 39. ° introduzidas pelo Decreto n.º 01/2003 de 18 de
Fevereiro). Mais recentemente foi introduzido o Regulamento do Solo Urbano (Decreto
n.º 60/2006, de 26 de Dezembro).

Finalmente, em 2004 a nova Constituição da República Popular de


Moçambique de 2004 guarda os princípios directores do direito patrimonial privado, e
desse modo, também dos direitos reais: as garantias de estado de Direito (art. 3. °),
liberdade (Preâmbulo, art. 11. °al. f)), igualdade (arts. 11. °, al. e), 35. °) e de
propriedade privada (art. 82. °, n.º 1) e a regra da excepcionalidade das expropriações
(art. 82. °, n.º 2).

A expropriação só pode ter lugar por causa de necessidade, utilidade ou interesse


públicos, definidos nos termos da lei e dá lugar ajusta indemnização”) na previsão de
um sector privado dos meios de produção (art. 99. °), Mas centremo-nos na questão da
propriedade. O referido art. 82. ° n.º 1 CRM estatui que “O Estado reconhece e
garante o direito de propriedade”. Portanto, à partida dir-se-ia que pode, em
abstracto, existir apropriação jurídico-privada de coisas em Moçambique. Sim, mas
importa distinguir consoante o objecto da afectação.

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A terra, expressão cujo sentido jurídico melhor precisaremos adiante, não pode
ser afectada nos termos do direito de propriedade, de um direito subjectivo de exclusivo
no aproveitamento e na disposição e oneração da coisa. O art. 109. ° CRM declara que
“A terra é propriedade do Estado” e que está fora do comércio jurídico da
transmissibilidade, não devendo ser “vendida, ou por qualquer outra forma alienada,
nem hipotecada ou penhorada”. No entanto, admite-se uma afectação privada da terra
que seja um “meio universal de criação da riqueza e do bem-estar social” de “todo o
povo moçambicano” no dizer do art. 110. ° CRM: o direito de uso e aproveitamento da
terra (DUAT). Cabe ao Estado determinar as condições de uso e aproveitamento da terra
(art. 110. ° n.º 2 CRM). Actualmente, é o seguinte o leque de legislação avulsa em
matéria de direitos reais, ao lado do Código Civil e do Código de Registo Predial.

2.4. Conceitos e Definições

Para uma melhor compreensão da pesquisa, serão definidos os seguintes


conceitos: Acesso à Terra, Posse de Terra, Conflitos de Terra e Resolução de Conflitos.

2.4.1. Acesso à Terra

Existem duas formas de acesso à terra, nomeadamente: Acesso livre e Acesso


restrito. Considerando a primeira forma (Acesso Livre), temos a terra disponível,
podendo ser adquirida e passar a ser propriedade de quem a adquirir, sendo que, o seu
uso é feito de forma ampla, sem limitações, permitindo aliená-la, penhorar, hipotecar,
arrendar ou usa-la e dá-la como garantia. Por isso, o acesso, uso, gestão e controlo são
feitos livrement.

A segunda forma que é o Acesso Restrito da terra implica outra compreensão


dos direitos sobre a terra. Neste caso o proprietário é uma entidade que possui todos os
direitos sobre a terra e que só ele pode exerce-los e transferir para outros o direito de
acesso à terra. Podemos dizer neste caso que a terra é pertença única e exclusiva duma
pessoa, associação, sociedade ou comunidade, cujos direitos lhe são reconhecidos por
lei ou por facto juridicamente relevante.

Relativamente às duas formas de acesso à terra referenciadas por ALFREDO, há


que destacar que na presente pesquisa, nos orientamos pela segunda forma de acesso,
isto é, o acesso restrito. Que se enquadra melhor na linha de abordagem da pesquisa.

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2.4.2. Posse de Terra

A posse da terra significa apenas direitos de terra. Legalmente definido, um


sistema de posse de terra é um conjunto de regras que governa o acesso e a utilização da
terra e que determina todos os direitos que se podem manter na terra. Por seu turno,,
defino a posse de terra como:

O modo como a terra é detido ou possuído por indivíduos e grupos, ou o


conjunto de relações definidas por leis ou costumes entre as pessoas com respeito à
terra. Em outras palavras, a posse é reflexo directo da relação entre as pessoas e a terra,
e entre indivíduos e grupos de pessoas nas suas interacções relativas à terra. Afirmo
ainda que a posse de terra é mais do que uma questão legal, ou mesmo de
produtividade. Como dá a oportunidade básica para a sobrevivência e a prosperidade em
muitas sociedades africanas, a terra é objecto de competição entre pessoas e entre
grupos.

A terra tem uma conotação muito profunda para os povos africanos. A terra não
só simboliza a fertilidade e a vida, mas também o local sagrado que pertenceu e onde
viveram e morreram seus antepassados. Por isso, cada membro da aldeia tem uma
ligação muito forte com a terra, não com qualquer terra, mas a dos seus antepassados1.

As autoridades tradicionais embora destituídos de poder político no quadro de


nova organização administrativa, os chefes titulares tradicionais possuem um
património simbólico derivado tanto do prestígio do seu estatuto como dos rituais pelos
quais são responsáveis, ou dos quais são sujeitos, o qual é utilizado para aumentar a seu
poder efectivo, tornando-se os representantes das aspirações da população local, bem
como os principais intermediários entre estas e o aparelho político nacional.

No contexto moçambicano, a problemática de conflitos de terra é analisada


tendo em vista três perspectivas:

A primeira perspectiva advoga que os conflitos de terra surgem em consequência


da ineficiência das políticas pública. Por exemplo, segundo o autor, evoca o
desconhecimento da Lei de Terra nas zonas rurais, a inadequação e a inefectividade da
lei, a falta de capacidade de implementação e circulação da informação sobre
experiências de implementação, aliado à problemática de conflitos de terra, a falta de

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definição de limites físicos e conceituais, insuficiência de planeamento na


administração, como factores que concorrem para esta problemática.

A questão da posse de terra tem ocupado um lugar de destaque nas agendas


políticas, sociais e económicas de vários grupos. A terra (incluindo a sua posse,
usufruto, herança, manutenção da sua propriedade) constitui um tema com tal peso e
força que nenhum poder político a ignora, mesmo quando não a toma na sua verdadeira
dimensão. Salienta que, actualmente em Moçambique a terra é um recurso que não está
livre de concorrência e ou de conflitos.

Defende igualmente que há um forte mercado de terras, se bem que subterrâneo


e clandestino, devido a legislação em vigor que, se bem que promova a chamada
“economia de mercado”, considere a terra, propriedade do Estado e que não pode ser
transaccionada como qualquer outra mercadoria.

Antes da nova lei um dos maiores conflitos que decorre do DUAT deriva de
factores tais como as insuficiências de legislação em vigor, a situação precária a que se
relegou a autoridade tradicional na altura da socialização do campo e, acima de tudo, a
proximidade de infra-estruturas sociais e económica.

A segunda perspectiva analisa os conflitos no contexto jurídico. Para estes


autores, os conflitos surgem como resultado de choque entre interesses públicos e
interesses particulares. Os conflitos de terra resultam de situações de luta, de choque
entre interesses públicos e interesses particulares, por um lado, e de interesse particular
entre si, por outro lado, visando o exercício do poder sobre o bem imobiliário terra,

Ainda de acordo com o mesmo autor, as comunidades estão protegidas por leis.
Contudo, o que muitas das vezes acontece é que esses mecanismos “são mal aplicados,
o que leva a que pareça que do ponto de vista do Estado não haja medidas protectoras
dos interesses das pessoas mais fracas nessas relações contratuais ao nível da entrada de
investimento privado estrangeiro”.

A segurança de acesso e posse de terra tem de ser garantida para o sector


familiar, em particular para a mulher rural e para o investidor.

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III. FUNDAMENTOS DO DIREITO DE USO E APROVEITAMENTO DA


TERRA

3.1. Aspectos Gerais

3.1.1. Noção e objecto

O art. l.° n.º 1 LT define o direito de uso aproveitamento da terra como o


“direito que as pessoas singulares ou colectivas e as comunidades locais adquirem
sobre a terra, com as exigências e limitações da presente Lei”. Antecipando o núcleo
do respectivo regime no quadro geral dos direitos reais e dos direitos subjectivos
podemos nós mesmos defini-lo como a afectação, eventualmente temporária, em termos
reais de uma parcela de solo ao gozo de uma pessoa individualmente considerada dentro
dos limites da propriedade que o Estado tem sobre a mesma.

O seu objecto imediato é o gozo, pelo uso e aproveitamento, e o objecto mediato


é a terra. Trata-se de um conceito que a lei não define, mas terra é sinónimo de solo ou
terreno, seja de prédio rústico, seja de prédio urbano (cf. art. 204. ° n.º 2 CC e arts. l.°
n.º 18. °, 13. ° n.º 1 e 16. ° n.°4 LT). O art. 9. ° LT prevê que não podem ser adquiridos
direitos de uso e aproveitamento da terra nas zonas de protecção total e parcial listadas
nos arts. 7. ° e 8. ° LT podendo, no entanto, ser emitidas licenças especiais para o
exercício de actividades determinadas.

3.1.2. Titularidade

Podem ser sujeitos do direito de uso e aproveitamento da terra as pessoas


nacionais, colectivas e singulares, homens e mulheres, bem como as comunidades locais
(art. 10.° n.º 1 LT), Estas são agrupamento de famílias e indivíduos, vivendo numa
circunscrição territorial de nível de localidade ou inferior, que visa a salvaguarda de
interesses comuns através da protecção de áreas habitacionais, áreas agrícolas, sejam
cultivadas ou em pousio, florestas, sítios de importância cultural, pastagens, fontes de
água e áreas de expansão.

As pessoas singulares ou colectivas nacionais podem obter o direito de uso e


aproveitamento da terra, individualmente ou em conjunto com outras pessoas singulares
ou colectivas, sob a fornia de contitularidade (art. 10. ° n.º 2 LT e art. 12. ° RLT) nos
termos dos arts 140.3° ss CC, como resulta da remissão do n.º 3 do art. 10. ° LT. Esta

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contitularidade pode, por exemplo, constituir-se quando o DUAT é recebido em herança


(art. 16° n.º 1 LT).

Também as pessoas singulares ou colectivas estrangeiras, e sociedades ou


instituições constituídas nos termos de legislação moçambicana ou estrangeira, cujo
capital social seja detido em mais de cinquenta por cento por cidadãos, podem ser
titulares de um DUAT, desde que tenham projecto de investimento devidamente
aprovado e observem as seguintes condições:

• Sendo pessoas singulares, desde que residam há pelo menos cinco anos na
República de Moçambique;

• Sendo pessoas colectivas, desde que estejam constituídas ou registadas na República


de Moçambique.

O DUAT é eventualmente temporário. Esse carácter depende da finalidade:

• Se for para actividade económica está sujeito a um prazo máximo de 50 anos,


renovável por igual período a pedido do interessado, após o período de renovação,
um novo pedido deve ser apresentado;

• Se for para habitação própria ou para exploração familiar por pessoa singular
nacional não tem prazo.

Em qualquer caso não está sujeito a prazo o DUAT adquirido por ocupação
pelas comunidades locais.

3.1.3. Tipicidade fechada

Importa determinar com algum cuidado e precisão como se relaciona o direito


em estudo com o princípio da tipicidade dos direitos reais, ou da proibição legal como
surge enunciada no art. 1306. ° enquanto numerus clausus. O objecto da tipicidade
geral é, prima facie, o tipo de direito real, e o conteúdo, a que o sujeito pode aspirar
constituir na sua esfera jurídica: apenas pode ser um dos tipos de direitos reais
previstos na lei, não sendo permitida a constituição privada de direitos reais que a
mesma não preveja. Pela mesma ratio decorre da norma a proibição de aplicação por
analogia do regime de um dado direito real a situações ou direitos não reais e não

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puderem os sujeitos partir de direitos legalmente previstos e modificá-los: o direito


modificado já não seria o mesmo, mas, seguramente, um direito novo.

Mas este sistema do art. 1306. ° CC permite os tipos abertos, pois pode apurar-
se se, em relação a um dado direito real legalmente previsto, os interessados apenas
podem aderir ao quadro legal previsto ou se este é maleável, porque apresenta normas
supletivas. Ora, se em relação a certos direitos reais de gozo, como o usufruto (art.
1445. ° CC), as partes podem, em maior ou menor grau, apurar a sua configuração final
por via de normas supletivas já quanto ao DUAT não se vislumbra essa possibilidade. E
que parecem não existir normas supletivas na LT e nos seus regulamentos e, em
especial, o titular do DUAT não poderá negociar com o Estado o conteúdo do direito:
pode determinar a finalidade pela formulação de um plano de exploração, mas não os
direitos e deveres. Ou seja: o DUAT não é passível de estipulações contratuais. Por
isso, o tipo do DUAT tem carácter fechado, sem prejuízo da intervenção do
interessado ao formular o plano de exploração.

Por outro lado, ficam de fora do âmbito da tipicidade imposta pelo art. 1306. °
CC as categorias de vicissitudes por que o direito real pode passar: constituição,
modificação, transmissão, extinção e, bem assim, os factos jurídicos concretos, os
negócios jurídicos de que essas vicissitudes derivam. Por exemplo, o art. 1306. ° CC
não impede as partes de pretenderem constituir direitos reais usando de formas
contratuais atípicas, essa é uma questão obrigacional. O que pretende é o que o efeito
real se coadune com o quadro de tipos legais. Ora, este aspecto não se verifica nos
mesmos termos com o DUAT.

O legislador criou para este direito uma tipicidade reforçada ao fixar de modo
taxativo os factos jurídicos de constituição do direito (art. 12. ° LT), transmissão do
direito (art. 16. °, nºs 1 e 4 LT) e extinção do direito (art. 17. ° LT). Estas normas, ao
contrário das normas congéneres do Código Civil, pretendem não ser exemplificativas.

3.2. Conteúdo

3.2.1. Conteúdo positivo: O uso e aproveitamento

O direito de uso é um direito real de gozo sobre imóvel que é da propriedade do


Estado, sujeito, por isso a limites. Efectivamente, o DUAT confere ao seu titular
poderes que são, no essencial, semelhantes aos do direito de superfície: manter ou fazer

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plantação ou obra sua em solo do Estado, consoante seja um prédio rústico ou urbano (o
art. 1524. ° CC). Ou seja: a terra é usada e aproveitada através da implantação ou da
manutenção de uma plantação ou obra e ao, mesmo tempo, o titular do DUAT tem o
direito de propriedade sobre as coisas que plantar ou construir sobre o solo.

Essas infra-estruturas, construções e benfeitorias podem ser objecto de


transmissão autónoma entre os vivos como referiremos adiante. Por outro, o termo dual
uso e aproveitamento parece apontar para os dois primeiros termos da propriedade,
constantes do art. 1305. ° CC, onde se diz que o proprietário goza de modo pleno e
exclusivo dos “direitos de uso, fruição e disposição” das coisas que lhe pertencem.

Segundo minha opinião o uso consiste no “poder de utilizar facticamente a


coisa para a satisfação de necessidades”, enquanto a fruição consiste “no poder de
retirar da coisa utilidades que dela periodicamente se desprendem”. Mas, porventura,
deve fazer-se uma leitura estrutural daquela designação: ela aponta para o direito de
manter o solo como é recebido (uso) ou de nele se incorporar plantação ou construção
(aproveitamento), e uma benfeitoria.

Deste modo, o direito de uso e aproveitamento tem como conteúdo positivo o


uso e fruição do solo como é recebido ou após benfeitorias. O sentido funcional desse
uso e fruição serão ditados pela finalidade. O conteúdo concreto desse uso ou dessa
fruição dependerá do modo pelo qual o direito se constituiu: será nos termos da posse
nos casos de constituição por ocupação ou por usucapião (art. 12. ° ais. a) e b) LT); será
nos termos do plano de exploração no caso de concessão administrativa (arts. 12. ° al.
c) e 19. ° LT)

De acordo com o art. 1251. ° CC, a posse é o “poder que se manifesta quando
alguém actua por forma correspondente ao exercício do direito de propriedade ou de
outro direito real”. No que aos direitos reais de gozo diz respeito a posse é
manifestação externa do conteúdo de direitos reais de gozo, e do gozo e fruição. A
posse é, assim, uma situação de facto: o próprio aproveitamento material da coisa. O
direito de uso e aproveitamento, sendo um direito real de gozo, confere, por isso, posse.

A função social que está associada à titularidade do direito real traduz-se, por
vontade do legislador, em alguns aspectos do regime dos direitos reais. O direito de uso
e aproveitamento está imbuído fortemente pela ideia de função social: o direito de uso e

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aproveitamento é concedido “tendo em conta o seu fim social ou económico” declara o


art. 110. °, n.º 2 CRM. E, em especial, ver-se-á mais adiante como a autorização de uso
e aproveitamento de uma parcela de solo está dependente da apresentação de um plano
de exploração ou de um projecto de investimento, com um calendário.

O seu não cumprimento acarreta a extinção do direito de uso e aproveitamento,


nos termos do art. 18. °, n.º 1, al. a) LT. Ora, presunção da titularidade do direito,
afirmada no art. 1268. ° do CC, é o efeito mais importante da posse. A presunção da
titularidade do direito significa que quem tem a posse tem o direito correspondente. O
direito que se presume, que se aparenta, é, em regra, o direito de propriedade. Mas no
caso do solo como, termos do n.º 1 do art. 109. ° da Constituição da República de
Moçambique, a terra é propriedade do Estado, consequentemente, a posse de um
sujeito sobre um talhão não pode apresentar como efeito a presunção da titularidade do
direito de propriedade, constatado que na República de Moçambique a terra é
propriedade do Estado.

Além disso, a Lei de Terras, no seu art. 12. °, al. b) favorece aquele que de facto
fez uso do solo em detrimento de quem o abandonou ao admitir a aquisição do DUAT a
favor das pessoas singulares que, de boa-fé, a tenham utilizado, ou seja, efectiva e
continuamente explorado, há, pelo menos, dez anos. Trata-se de um prazo mais curto
que o prazo normal de 15 anos para a usucapião de imóveis de boa-fé e sem registo, art.
1294. °, al. a) CC.

IV. CAUSAS DE CONFLITOS DE TERRA, CONSEQUÊNCIAS E MEDIAÇÃO

4.1. Causas e Conflitos da Terra

Levantei alguns factores durante minha pesquisa que determinam as causas dos
conflitos de terra em Moçambique, agrupando-os em geográfico, político, económico,
jurídico e institucional:

Factor Geográfico- Em regra as zonas urbanas das grandes cidades capitais de


Moçambique têm uma densidade populacional bastante elevada quando comparada com
a maioria dos distritos do país. Daí que a pressão exercida sobre os recursos naturais
seja de facto muito intensa, estando assim na origem de alguns conflitos sobre a posse
de terra.

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Factor Político- A guerra civil de 16 anos obrigou a que muitas famílias


procurassem abrigo perto das regiões urbanizadas e próximas das principais vias de
acesso. Com o fim da guerra em 1992, parte dessas famílias preferiram continuar a viver
no local em que se instalaram, procurando encontrar terras para cultivo nas
proximidades do local, o que fez surgir no seio dos camponeses um certo
descontentamento, pois estes não estavam interessados em compartilhar com estranhos,
nas terras legadas pelos seus antepassados.

Este processo de deslocação dos camponeses de uma região para outra fez surgir
um outro problema que ocorre principalmente no momento de regresso e
reassentamento da população deslocada, o que também provocou a eclosão dos conflitos
de terra.

Factor económico- Muitas vezes a grande procura de terra por agentes


económicos de várias origens e com objectivos de realizar os seus investimentos
constitui também factor de conflitos de terra, pois, a falta de um cadastro organizado de
terras disponíveis obriga a que sempre a sua procura se faça em condições tais que
conflictuam com as terras dos camponeses ou de outros agentes económicos que já
possuem o DUAT e por estes entenderem que as terras são ainda férteis e que permitem
que em boas condições se desenvolva a agro-pecuária.

Factor jurídico- Relativamente a este ponto, destaca-se o facto de grande parte


dos conflitos de terra terem ocorrido na vigência da Lei n.ᴼ 6/79, de 3 de Julho e do
respectivo Regulamento da Lei de Terras, aprovado pelo Decreto n.ᴼ 16/87, de 15 de
Julho. Entretanto, alguns aspectos da lei n.º 6/79 propiciaram o surgimento dos conflitos
de terra face a uma lacuna e distorção na interpretação da referida lei e o seu
regulamento.

O n.º 1 do artigo 8 da lei n.ᴼ 6/79 estabelecia que “o direito de uso e


aproveitamento da terra é titulado por uma licença, emitida por órgão estatal
competente”. Este princípio constituía uma excepção nos termos do n.º 2 quando o uso e
aproveitamento da terra prosseguisse fins de economia familiar. Porém, se atentar ao
disposto no n.º 1 do artigo 47 do Regulamento da Lei de Terras aprovado em 1987,
pode se constatar que, de facto, o uso e aproveitamento da terra, embora visando
satisfazer as necessidades do agregado familiar, pode vir a carecer de uma licença. Ora,

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essa situação ocorria quando tratasse de ocupação de zonas de protecção e de planos de


desenvolvimento agrário.

Decorre, no entanto, destes preceitos que a ocupação, como forma de aquisição


do direito de uso e aproveitamento de terra, comportava ambiguidades no seu
tratamento, logo, susceptíveis de criar conflitos de direitos sobre a terra. Acresce-se a
este aspecto o disposto no artigo 36 do Regulamento da Lei de Terras que determinava
que “o título de direito de uso e aproveitamento da terra faz prova plena em juízo e fora
dele dos factos que nele estejam inscritos”.

Contudo, de acordo com o Regulamento de Lei de Terra aprovado em 1987, “o


título é o documento emitido pelos Serviços de Cadastro, ou pelos Conselhos
Executivos nos termos da Lei de Terras e do referido Regulamento comprovativo do
direito de uso e aproveitamento de determinada porção de terra”. Com base neste
comando legal, constituía sem dúvida, o que mais realça o valor jurídico do título do
direito de uso e aproveitamento de terra, conferindo a legalidade do seu titular e
colocando-o numa posição juridicamente segura, face a todos aqueles, embora estejam a
ocupar a terra, não possuíssem título, encontrando-se no entanto, nessa maioria, em
situação vulnerável, os camponeses.

Factor Institucional- A falta de técnicos devidamente formados, equipamento


adequado às exigências do trabalho, a excessiva burocratização típica das instituições
públicas, o desconhecimento por parte de alguns funcionários dos procedimentos legais
inerentes à aplicação da legislação sobre a terra e ainda actos de corrupção durante os
procedimentos, criam principalmente aos utentes mais vulneráveis, como é o caso dos
camponeses, condições para que estes se sintam cada vez mais desmotivadas a legalizar
a titulação das áreas ocupadas.

Os conflitos de terra nem sempre se mostram abertos. A maior parte deles, até
aparecem de forma camuflada, mas são tão nefastos que podem contribuir para criar um
mau ambiente ao desenvolvimento. O processo de concessão de espaços pelos serviços
distritais de planificação e infra-estruturas é feito de acordo com o Regulamento da Lei
de Ordenamento do Território (Decreto no 23/2008, de 1 de Julho).

Quando a terra é abundante, a sua valorização é dada pelo seu significado


simbólico, e a gestão é feita pelas instituições locais de acordo com as normas e

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costumes comummente aceites. Todavia, à medida que a procura aumenta, a percepção


sobre o valor da terra altera-se, passando esta a ser tida como “recurso” que é preciso
preservar e usar com normas e regras, muitas vezes de carácter legal, sob a
responsabilidade do Estado.

Esta forma de acesso à terra tem sido problemática devido a sua morosidade,
repelindo deste modo maior parte dos que procuram parcela no distrito em geral,
levando-os a efectuar contactos com os antigos moradores que os vendem as parcelas
que necessitam.

Os conflitos de terra registados resultam de intensa expansão demográfica


acompanhada pelo desenvolvimento urbano. Os indivíduos procuram a cada dia usufruir
ao máximo dos espaços que detêm. A venda de terra virou algo mais valioso e cada dia
notam-se discussões entre populares através da delimitação de terrenos. Maior parte de
conflitos de terra em alguns bairros estão relacionados aos aspectos da localização
geográfica e do processo de indemnização desencadeado pelas grandes firmas de
exploração. Actualmente, os principais intervenientes dos conflitos de terra são a
população nativa e os serviços distritais/ provinciais de planificação e urbanização.

A concorrência pelo acesso à terra, sobretudo nas zonas comercial dos distritos,
constitui o principal eixo de conflitualidade quer no seio de uma mesma família (intra-
familiar), quer entre famílias diferentes (inter-familiar). Nas comunidades rurais o
conflito intra-familiar acontece em muitos casos entre tios e sobrinhos, podendo em
determinadas situações envolver os filhos dentro da mesma família (homens e
mulheres).

Segundo a tradição e cultura predominante nas sociedades matrilineares, o filho


que atinge a maturidade deve deixar a sua zona de origem para se instalar na terra onde
irá contrair o matrimónio. No entanto, a herança para os sobrinhos uterinos nem sempre
constitui unanimidade no seio destas sociedades, particularmente no que concerne à
partilha da terra. Assim, dois posicionamentos contrários existem envolvendo, por um
lado, os que defendem a herança da terra para os sobrinhos uterinos (sistema
matrilinear) e, por outro lado, os que defendem a herança da terra apenas para os
filhos do casal (característico do sistema patrilinear).

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Quando o chefe de família morre, é frequente os sobrinhos uterinos reivindicar


as terras deixadas pelo seu tio, argumentando ser a norma vigente na família e na
sociedade por gerações. O conflito surge, pois, os filhos descendentes directos do
falecido, também reclamam a herança das terras deixadas pelo seu pai, não aceitando
compartilhar a mesma com os seus primos. A disputa sobre a herança e a divisão das
terras pode igualmente envolver os filhos de uma mesma família (homens e mulheres).

Verificou-se em algumas famílias matrilineares que as novas gerações, com


algum grau de instrução, líderes comunitários, algumas instituições religiosas e
membros da administração local, considerarem que os filhos têm o direito de herdar
todos os bens deixados pelos seus pais, incluindo as terras da família (posicionamento
defendido pelo direito positivo em Moçambique). Os filhos são os frutos directos
deixados pelos pais e, são o garante da continuidade do legado da família e, portanto, os
legítimos merecedores da herança, pondo em causa o princípio matrilocal destas
sociedades que reconhece os sobrinhos uterinos como herdeiros directos.

Apesar de concordarem sobre quem deve herdar os bens da família, os filhos


(homens e mulheres) não são unânimes quanto ao sexo que merece gerir os bens
herdados. A disputa surge, pois, as filhas, que são consideradas guardiãs da família,
defendem que os seus irmãos não devem ter direitos sobre as terras deixadas pelos pais
uma vez que estes, ao contrair matrimónio, receberão um espaço nas terras da família de
sua mulher, onde irão construir a sua casa, destroncar e cultivar a terra.

Os conflitos avolumam quando o homem se separa da sua esposa, devendo


regressar à sua zona de origem onde deverá reconstruir a sua vida até contrair um novo
matrimónio. Este regresso nem sempre é pacífico pois, em alguns casos, os filhos
regressados encontram que as irmãs já contraíram matrimónio e seus maridos com
residências fixas nas terras da família da esposa. Como nem sempre os filhos
regressados aceitam que os seus cunhados tenham fixado residência nas terras da
família, os irmãos regressados e as irmãs guardiãs das terras da família entram em
conflito, alguns dos quais tornam-se graves, chegando a envolver agressões físicas e
práticas obscurantistas, na tentativa de impedir o acesso à terra pelo pretendente da
irmã.

Também compreende-se que uma das maiores causas de conflito de terra está
relacionada com a ausência de plano geral de urbanização do distrito devido à falta de

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clarificação de áreas para investimentos industriais, comerciais, imobiliária, entre


outros. Constituem ainda factores essenciais que contribuem para o fenómeno de
usurpação da terra, o fraco domínio da comunidade sobre a legislação de terra, a falta
de uma estrutura devidamente montada, que vele pela gestão de terras, envolvendo o
pessoal técnico na matéria; a prática de corrupção por parte das autoridades
comunitárias e a falta de consciência sobre os benefícios dos processos formais de
posse de terra. Como consequência dos conflitos de terra, está o desordenamento
territorial.

Os bairros periféricos podem ser considerados potencialmente de risco, com um


espaço urbano cada vez mais heterogéneo e com problemática do ordenamento do
território, crescimento espontâneo dos bairros e em áreas com condições urbanas
inadequadas (como os leitos do rio) provocando grandes problemas de acessibilidade e
mobilidade, e com uma visibilidade comprometido devido á quantidade de ruelas, becos
e bloqueios com implicações tanto no sentimento de insegurança quanto na facilitação
de acções de criminalidade devido a dificuldades e fraca intervenção das instituições de
segurança.

Os líderes comunitários servem de elo de ligação entre o governo local e a


comunidade. Ajudam a resolver os conflitos e quando se encontram limitados
transferem os casos para o tribunal comunitário local e posteriormente para o tribunal
distrital. As estruturas governamentais procuram através dos líderes comunitários e
régulos conhecer as preocupações que assolam a comunidade e em conjunto traçar as
melhores forma.

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V. CONCLUSÃO

O conflito de terra em Moçambique é uma realidade que ganhou espaço com a


evolução das actividades económicas e a maior procura de espaço habitacional nas
zonas urbanas, fazendo com que as antigas formas de acesso, através do direito
consuetudinário ou convencional, sejam ignoradas ou ocorram com menor frequência
para dar espaço o acesso através da compra. Os conflitos mais frequentes são
intrafamiliar quando se trata de uma propriedade herdada ou da passagem da mesma
para as outras gerações, e inter-familiar quando as famílias pretendem alargar as áreas
anteriormente ocupadas, anexando áreas pertencentes a outras família.

A ausência de plano geral de urbanização do distrito que clarifica as futuras


áreas para investimentos industriais, comerciais, imobiliária, entre outras está entre os
factores de conflitos visto que a sua materialização abrange áreas já habitadas. Associa-
se as causas de conflito de terra o processo das indemnizações e reassentamento às
populações nativas localizadas em zonas de descoberta de hidrocarbonetos pelas
grandes firmas de exploração pelo facto de as compensações serem consideradas
injustas pelas populações e estas clamam pela terra que os viu nascer.

A cooperação entre as autoridades governamentais e as autoridades


comunitárias/ tradicionais é uma via a seguir para minimizar os conflitos de terra pois
permitirá avaliações regulares e análise de conflitos, baseando-se nos direitos
consuetudinário e judiciário e estratégias para a superação. Os conflitos intrafamiliares
e inter-familiares são resultados da não consciencialização das famílias sobre as
vantagens dos sistemas de herança de propriedade defendidos na modernidade e como
estes podem ser ajustados aos sistemas tradicionais.

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VI. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

1. ARAÚJO, Manuel Mendes de. Os espaços urbanos em Moçambique. GEOUSP –


Espaço e Tempo, n.º 14, 2003.

2. ALFREDO, Benjamim. Alguns Aspectos do Regime Jurídico da Posse e do Direito


de Uso e Aproveitamento da Terra e os Conflitos Emergentes em Moçambique. Tese
(Doutorado em Direito), Universidade de África de Sul. Pretória, 2009.

3. Carvalho Fernandes, Lições de direitos reais, 2004.

4. CISTAC, G. e CHIZIANE, E. “Aspectos Jurídicos, económicos e sociais do uso e


aproveitamento da terra” UEM, 2003.

5. Oliveira Ascensão, Direito Civil. Reais, 2000.

6. Menezes Cordeiro, Direitos Reais, 1979 (reimp. 1996), 417

7. NEGRÃO, José. Mercado de Terras Urbanas em Moçambique. Maputo - Alcance


editores, 2011.

8. Penha Gonçalves, Curso de Direitos Reais, 112-113; Carvalho Fernandes, idem, 80.

Legislação

• Constituição da República de Moçambique (1975)

• Constituição da República de Moçambique (1990)

• Constituição da República de Moçambique (2004, Actualizado)

• Codigo Civil

• Código de Registo Predial

• Decreto n.º 12/90, de 4 de Julho

• Decreto n.º 5/76, de 5 de Fevereiro

• Decreto n.º 53/99, de 8 de Setembro)

• Decreto n.º 47 344, de 25 de Novembro de 1966

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• Decreto-Lei n° 47 611, de 28 de Março de 1967

• Decreto n° 66/98, de 8 de Dezembro

• Portaria n.º 22 869, de 4 de Setembro de 1967

• Portaria n.º 23 088, de 30 de Dezembro de 1967

• Lei n.º 6/79, de 3 de Julho

• Lei 19/97, de 7 de Outubro (Lei de Terras)

• Lei n.º 1/86, de 16 de Abril

• Lei n.º 5/91, de 9 de Janeiro

as de intervenção.

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