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CAPÍTULO 1: INTRODUÇÃO

Moçambique está entre os países cobiçados pelo seu potencial agrícola. A corrida à terra por
parte de investidores estrangeiros tem levado a conflitos entre estes e as comunidades rurais
que normalmente saem a perder. O interesse e a procura por terra arável tem vindo a
aumentar, dada a instabilidade do preço de comodidades, as crescentes pressões sobre o
Homem e meio ambiente e a crescente preocupação com questões de segurança alimentar.
Este interesse e procura irá com certeza aumentar ainda mais, em particular no mundo em
desenvolvimento (Deininger, et al, 2010).

Durante o processo de atribuição do direito de uso e aproveitamento de terra, que permite o


uso da terra por cidadãos estrangeiros em Moçambique, as comunidades rurais muitas vezes
não são consultadas. Em algumas situações, a terra chega a ser vendida aos estrangeiros em
detrimento dos cidadãos nacionais (Silva, 2013).

Uma organização não-governamental moçambicana de investigação e intervenção ambiental


(Centro Terra Viva, e Observatório)1 citado por (Ibid.), aponta o que falha nestes
procedimentos é precisamente o facto de, independentemente de Moçambique ter instituições
do Governo preparadas e preocupadas em conduzir a consulta devidamente, “se o consultado
não está preparado, não conhece os seus direitos nem as suas obrigações e não tem
capacidade de avaliar as suas oportunidades, para si haverá sempre problemas”.

Nos últimos 10 anos, em Moçambique, tem-se denunciado vários casos de conflito de terras
entre investidores privados, produtores e camponeses. Estes casos parecem ser ignorados
pelas entidades governamentais pois não estão a ser tomadas quaisquer medidas para reverter
estas situações e evitar casos futuros (Silva, 2013).

A maioria dos grandes projectos, pertencem a investidores estrangeiros e actuam nos sectores
de agro-negócios, turismo e mineração. Os investimentos analisados têm vindo a criar cada
vez mais conflitos e a agravar a situação de pobreza, carência e vulnerabilidade das
comunidades rurais. Os investidores dos países nórdicos apesar de nos seus países de origem
cumprirem com os mais elevados padrões de respeito pelos direitos humanos e por todos os

1
O Centro Terra Viva – Estudos e Advocacia Ambiental (CTV) Criado oficialmente em Novembro de 2002, é
uma instituição não governamental moçambicana, de investigação e intervenção ambiental, que congrega
profissionais de diferentes áreas fundamentais para a gestão do ambiente e dos recursos naturais, com destaque
para o Direito Ambiental, Conservação e Gestão Ambiental, Informação e Educação Ambiental, Economia
Rural e Sociologia Ambiental. Disponível online: http://www.ctv.org.mz/qshistoria.php. Consultado em
16/03/2017.

1
processos de participação pública em qualquer empreendimento que apresente potenciais
impactos sociais e ambientais, em Moçambique o seu comportamento e padrões a seguir são
completamente distintos. As suas práticas alimentam um sistema corrupto, beneficiando-se
das falhas existentes na implementação das leis em vigor no País e agravando deste modo as
condições de vida já precárias da maioria das comunidades rurais (Matável, 2011).

Um dos requisitos para a atribuição do direito de uso e aproveitamento de terra é a realização


de consulta pública, verificando-se que ocorre com falhas e de forma imprópria, atentando
gravemente contra o direito à informação e à participação pública, pela manipulação das
comunidades por parte dos investidores, muitas vezes através das estruturas de poder locais,
com falsas promessas (Ibid.).

Muitos dos conflitos actualmente existentes entre as comunidades e as empresas são resultado
do incumprimento das promessas feitas no processo de consulta pública, da invasão de terras
comunitárias e do reassentamento em condições e locais impróprios.

Deste modo, pretende-se trazer uma abordagem institucional e social para perceber o Papel
das Comunidades Locais na Gestão de Conflitos de terra: Caso da Localidade de Michafutene
no Distrito de Marracuene (2013 a 2016).

1.1. DELIMITAÇÃO TEMPORAL E ESPACIAL

A presente pesquisa tem como espaço de estudo Localidade de Michafutene no Distrito de


Marracuene e preenche o período compreendido entre 2013 a 2016.

A escolha da Localidade de Michafutene no Distrito de Marracuene, deve-se ao facto de


abranger parte das comunidades locais e alguns actores envolvidos no processo de prevenção
e gestão de conflitos de terra. Destaca-se ainda, um caso recente 2 de conflito de terra
envolvendo uma empresa florestal e cidadãos nativos.

E quanto ao período de estudo (2012 a 2016), é pelo simples facto da proximidade temporal
com o período da realização do estudo constituindo uma mais-valia na busca de evidências
sobre o fenómeno de conflitos de terra.

2
In Jornal Noticia. Conflito de Terra em Marracuene: População ignora embargo das obras. Publicado em 24
de Agosto de 2016. Disponível online em: www.Jornalnoticia.co.mz/índex.php/capital/57366- Conflito-de-
Terra-em-Marracuene: População ignora embargo das obras. Consultado em 18 de Dezembro de 2016.

2
1.2. CONTEXTUALIZAÇÃO

O desenvolvimento deste estudo surge no contexto de transformações sócio económicas em


que a corrida à terra em Moçambique aliada a falta de consulta as comunidades rurais leva
muitas vezes a conflitos durante o processo de atribuição do direito de uso e aproveitamento
de terra, que permite o uso da terra por cidadãos estrangeiros em Moçambique.

Moçambique é um país Africano que têm desenvolvido metodologias de delimitação das


comunidades rurais e tem estado a implementar com sucesso a sua reforma da lei de terra,
(Negrão, 1996). A nova lei de terra em Moçambique surgiu em 1997 e desde então um
número significativo de comunidades rurais reforçou o seu direito de uso e aproveitamento da
terra. Este é uma vitória, um marco social e histórico.

Com a entrada em vigor da Lei de Terras, a Lei nº 19/97, de 1 de Outubro (BR,1997), as


comunidades Locais passaram a ser tratadas como entidades jurídicas a quem lhes foi
reconhecido o direito “natural” que elas têm sobre as terras comunitárias. Com efeito, sendo a
comunidade local um dado sociológico anterior ao surgimento do Estado, era lógico que a
elas lhe fosse reconhecido o direito que elas ocupam enquanto um aglomerado de pessoas
que, de forma homogénea, apresentam interesses comuns sobre a respectiva terra
comunitária, (MAE, 1998).

É assim que a Lei de Terras determina que as comunidades locais adquirem o direito de uso e
aproveitamento da terra (DUAT) por ocupação. O significado jurídico da aquisição do DUAT
por ocupação é que a atribuição deste direito às comunidades locais é feita directamente por
lei e não por via de intermediação de nenhum acto administrativo a praticar pela
Administração Pública.

Com o objectivo fundamental de evitar conflitos de terra e de facilitar a própria administração


da terra, bem como o desenvolvimento local, a Lei criou a figura de “Delimitação das Áreas
Comunitárias”, que culmina com a emissão e o registo do título do DUAT das comunidades
locais.

Juridicamente, a Delimitação das Áreas Comunitárias é um processo declarativo de um


direito já existente. Por outras palavras, quando a Administração Pública delimita uma área
comunitária não está a atribuir nenhum direito à comunidade local, pois este direito já foi
atribuído por lei. Limita-se a administração a declarar para todos os efeitos jurídicos a
existência do DUAT sobre uma determinada área, (Paulo, 1992).

3
1.3. JUSTIFICATIVA
A terra é um recurso imprescindível para qualquer ser humano. Entretanto, a sua posse
levanta questões e conflitos que, pela sua natureza, têm sido objecto de análise por
académicos, políticos, governantes, e sociedade civil em geral.

Pela sua importância, a terra constitui um dos principais, senão mesmo o principal recurso
para a sobrevivência de vários países e populações que dependem dela para realizar a
produção para o seu sustento e desenvolvimento económico. Para a sua Administração,
acesso, posse, uso e controlo é imprescindível que se tenha um sistema jurídico devidamente
estruturado e que tenha em consideração uma distribuição e gestão racional deste importante
recurso natural.

A Gestão de conflito de terra é abrangente, constitui uma perspectiva diferente da


problemática de ordenamento territorial, articulada com o reconhecimento dos actores sociais
como a gentes activos, responsáveis das transformações positivas. Constitui um processo
lento e complexo, pretende redefinir dinâmicas intersectoriais e um fortalecimento da vontade
política, (MICOA 2005:7).

O argumento que se levanta é de que os problemas no âmbito da administração, alocação,


posse, uso e aproveitamento e controlo da terra resultam da inoperância da máquina
administrativa do Estado, a aplicação da lei de terras não estar a ser feita de forma adequada,
havendo injustiça em relação aos que detendo a posse da terra nem sempre exercerem os seus
direitos convenientemente (Ibid.:8).

Assim, o interesse pelo tema surge da vontade da pesquisadora em aprofundar questões


relacionadas com o grau de envolvimento das comunidades locais na gestão e prevenção de
conflitos de terra e sua prevenção, uma vez tratar de um processo social complexo, por meio
do qual a sociedade cria conhecimentos, gera consciência, analisa os níveis de risco que sofre
e enfrenta, garantindo um manejo de risco aceitável de acordo com as condições económicas,
sociais, culturais, históricas e ambientais,

Do ponto de vista de princípios jurídicos, em Moçambique o Estado reconhece e determina


constitucionalmente o uso e aproveitamento da terra como o “meio universal de criação da
riqueza e do bem-estar social” e, por isso, direito de todo o povo moçambicano.3

E sob ponto de vista âmbito académico e especial a nível do Instituto Superior de Relações
Internacionais, esta pesquisa denota-se relevante na medida em que contribui para o
3
Lei n.º 19/97, de 1 de Outubro (Lei de Terras).

4
enriquecimento das pesquisas que envolvem o entendimento desta problemática social que é
a gestão de conflitos de terra em Moçambique. Não obstante, constituir um contributo na
medida em que serve de inspiração e contributo para todo pesquisador que se interessar
aprofundar sobre o tema em destaque.

1.4. PROBLEMATIZAÇÃO
Moçambique é um país que de forma frequente tem sido assolado por fenómeno de conflito
de terra, nos estados actuais do terceiro mundo a maior parte dos paises africanos e da
america latina o problema do uso e aproveitamento da terra e da gestão de recursos naturais
tem sido causas de grandes conflitos entre o Estado, as Entidades Privadas e a população
(Loforte,1996).

Segundo Myers (1993) no caso de Moçambique, a explicação para este fenómeno tem sido
atribuída ao processo de expropriação de terras verificado nos últimos anos. Em Gaza, por
exemplo, muitas famílias são arrancadas as suas terras e atribuidas a outrem sejam privado ou
singulares tidas como burguesia emergentes. Também a expansão de grandes empresas que
procuram terras para prática de turismo provocam conflitos.

Por isso, o estudo da resolução de conflitos e sua gestão em Moçambique é, sem dúvida,
significativo, pois permitiria encontrar plataformas de entendimento capazes de assegurar e
harmonizar os interesses dos diferentes intervenientes, uma vez que a lei da terra (Lei
nº19/97, de 1 de Outubro), o único dispositivo legal existente, que preconiza a participação
das comunidades na gestão da terra, factor que, embora conhecido, é ignorado pelas
instituições do estado, (Loforte, 1996).

Esta lei, ao estabelecer e regular o acesso e uso da terra, e funcionar como instrumento
orientador da ocupação de espaços, para além de definir as formas que devem ser usadas para
a sua aquisição, apresenta algumas contradições que contribuem, na nossa maneira de ver,
para a eclosão de conflitos. Olhando para o exposto surge a seguinte questão: Qual é o papel
das comunidades locais na gestão e prevenção do iminente fenómeno de conflitos de
terra?

5
1.5. OBJECTIVOS

1.5.1. Objectivo Geral


Analisar o papel das comunidades locais na gestão e prevenção de conflitos de terra.

1.5.2. Objectivos específicos


 Identificar as causas dos conflitos de terra na Localidade de Michafutene.
 Descrever os mecanismos de acção usados pela comunidade na prevenção e gestão de
conflitos de terra na Localidade de Michafutene.
 Avaliar o grau de envolvimento das comunidades locais na prevenção e gestão de
conflitos de terra na Localidade de Michafutene.

1.6. HIPÓTESES
 Com a introdução de novos mecanismos tais como: parcelamento de terrenos e
delimitação de terras comunitária mesmo que sejam primitivos estes métodos, podem
ajudar a prevenir os conflitos de terra.
 A transmissão ilegal da Terra e atribuição do DUAT a mais de 1 pessoa são as causas
que tem feito com que surjam os conflitos de terra na localidade de Michafutene.
 Existe um maior envolvimento das comunidades locais o que contribui positivamente
na Prevenção e gestão de conflitos de terra na Localidade de Michafutene.

1.7. QUESTÕES DE PESQUISA


 Quais são as causas dos conflitos de terra na Localidade de Michafutene?
 Quais são os mecanismos de acção usados pela comunidade na prevenção e gestão de
conflitos de terra na Localidade de Michafutene?
 Qual é o grau de envolvimento das comunidades locais na gestão de conflito de terra
na Localidade de Michafutene?

1.8. METODOLOGIA DE TRABALHO


Para efeitos de realização de qualquer pesquisa, pressupõe-se a estruturação de uma
metodologia a fim de guiar os passos do pesquisador e de possibilitar a sua replicação caso
seja conveniente. Desta forma, Demo (1985)4 citado por Fonseca, (2007) metodologia trata
das formas de se fazer ciência. Cuida dos procedimentos, das ferramentas e de caminhos para
se atingir a realidade teórica e prática, pois essa é a finalidade da ciência. Deste modo, para
efeito de materialização da presente pesquisa optaremos pela seguinte metodologia:

4
Demo, P. (1985), Introdução a metodologia da ciência, 2ª Edição, Atlas: São Paulo.

6
1.8.1. Caracterização da Pesquisa
a) Quanto aos Objectivos: A pesquisa será exploratória e explicativa.

Segundo Gil (2007) a pesquisa exploratória tem como objectivo proporcionar maior
familiaridade com o problema, com vistas a torná-lo mais explícito ou a construir hipóteses.
A grande maioria dessas pesquisas envolve: (a) levantamento bibliográfico; (b) entrevistas
com pessoas que tiveram experiências práticas com o problema pesquisado; e (c) análise de
exemplos que estimulem a compreensão.

E a segundo mesmo autor a pesquisa explicativa preocupa-se em identificar os factores que


determinam ou que contribuem para a ocorrência dos fenómenos. Ou seja, este tipo de
pesquisa explica o porquê das coisas através dos resultados oferecidos. Segundo Gil
(2007:43), uma pesquisa explicativa pode ser a continuação de outra descritiva, posto que a
identificação de factores que determinam um fenómeno exige que este esteja suficientemente
descrito e detalhado.

b) Quanto à abordagem: A Pesquisa será Qualitativa.

A pesquisa qualitativa não se preocupa com representatividade numérica, mas, sim, com o
aprofundamento da compreensão de um grupo social, de uma organização, etc. Os
pesquisadores que adoptam a abordagem qualitativa opõem-se ao pressuposto que defende
um modelo único de pesquisa para todas as ciências, já que as ciências sociais têm sua
especificidade, o que pressupõe uma metodologia própria. Assim, os pesquisadores
qualitativos recusam o modelo positivista aplicado ao estudo da vida social, uma vez que o
pesquisador não pode fazer julgamentos nem permitir que seus preconceitos e crenças
contaminem a pesquisa (Goldenberg, 1997, p. 34).

c) Quanto à Natureza: A pesquisa será Aplicada.

A pesquisa é Aplicada. Segundo Menezes e Silva (2005:20) este tipo de pesquisa objectiva
gerar conhecimentos para aplicação prática dirigidos à solução de problemas específicos.
Envolve verdades e interesses locais. Assim, a pesquisa conceberá conhecimentos inerentes
ao tema para o entendimento do papel das comunidades locais na gestão e prevenção de
conflitos de terra na localidade de Michafutene no Distrito de Marracuene.

7
1.8.2. Métodos de Pesquisa
a) Quanto ao Método de Procedimento

Relativamente aos métodos de procedimento, é aplicado ao estudo o Monográfico ou Estudo


de Caso.

O Método Monográfico ou Estudo de Caso, de acordo com Gil (2002:54), consiste no


estudo profundo e exaustivo de um ou poucos objectos, de maneira que permita seu amplo e
detalhado conhecimento e para a realização da pesquisa. Nestes termos pautou-se por
situações da vida real (Social), possibilitando assim a descrição do problema no contexto em
que está sendo feita a pesquisa.

Um estudo de caso pode ser caracterizado como um estudo de uma entidade bem definida
como um programa, uma instituição, um sistema educativo, uma pessoa, ou uma unidade
social. Visa conhecer em profundidade o como e o porquê de uma determinada situação que
se supõe ser única em muitos aspectos, procurando descobrir o que há nela de mais essencial
e característico.

O pesquisador não pretende intervir sobre o objecto a ser estudado, mas revelá-lo tal como
ele o percebe. O estudo de caso pode decorrer de acordo com uma perspectiva interpretativa,
que procura compreender como é o mundo do ponto de vista dos participantes, ou uma
perspectiva pragmática, que visa simplesmente apresentar uma perspectiva global, tanto
quanto possível completa e coerente, do objecto de estudo do ponto de vista do investigador
(Fonseca, 2002:33).

b) Método de Abordagem

O método de abordagem escolhido é o hipotético-dedutivo. Segundo Marconi & Lakatos


(2009:110) afirmam que este método inicia-se pela percepção de uma lacuna nos
conhecimentos da qual formulam-se hipóteses, pelo processo de inferência dedutiva e testa a
predição da ocorrência de fenómenos abrangidos pela hipótese.

Este método para K. Poper (1977)5 citado por (Ibid), traduz a ideia de que para a explicação
de um problema devem se formular hipóteses, deduzem-se consequências que devem ser
testadas ou falseadas. Segundo Carvalho (2009:87), o método hipotético-dedutivo parte de
percepção de lacunas acerca do qual são formuladas hipóteses que devem ser testadas ou

5
Poper, K. (1977) A Lógica das Ciências Sociais. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro: UnB. Brasil.

8
verificadas. A aplicação deste método vai orienta o pesquisador no caminho
para alcançar a “verdade” através da testagem das hipóteses no campo.

1.8.3. Técnica de Colecta de Dados


Quanto aos procedimentos técnicos optou-se pela Pesquisa Bibliográfica, Documental,
Entrevista e Questionário.

a) Pesquisa Bibliográfica

A pesquisa bibliográfica é feita a partir do levantamento de referências teóricas já analisadas,


e publicadas por meios escritos e electrónicos, como livros, artigos científicos, páginas de
web sites. Qualquer trabalho científico inicia-se com uma pesquisa bibliográfica, que permite
ao pesquisador conhecer o que já se estudou sobre o assunto. Existem porém pesquisas
científicas que se baseiam unicamente na pesquisa bibliográfica, procurando referências
teóricas publicadas com o objectivo de recolher informações ou conhecimentos prévios sobre
o problema a respeito do qual se procura a resposta (Fonseca, 2002:32).

Neste caso, vai fazer-se a revisão dos dados publicados e não publicados, em diversas formas,
tais como livros, dissertações, relatórios apresentados em vários fóruns, artigos de revistas,
quase todos relacionados com o tema em estudo constituiu a principal técnica para o
desenvolvimento do tema.

b) Pesquisa Documental

A pesquisa documental trilha os mesmos caminhos da pesquisa bibliográfica, não sendo fácil
por vezes distingui-las. A pesquisa bibliográfica utiliza fontes constituídas por material já
elaborado, constituído basicamente por livros e artigos científicos localizados em bibliotecas.
A pesquisa documental recorre a fontes mais diversificadas e dispersas, sem tratamento
analítico, tais como: tabelas estatísticas, jornais, revistas, relatórios, documentos oficiais,
cartas, filmes, fotografias, pinturas, tapeçarias, relatórios de empresas, vídeos de programas
de televisão, etc. (Fonseca, 2002:32)

c) Entrevista

Constitui uma serie de perguntas e consiste na comunicação bilateral. Na presente pesquisa


optou-se pela entrevista de caracter exploratório, onde foram usadas eventuais indagações ou
levantamento de dados e informações que não estavam contempladas no formulário, (Kauark
et al, 2010:64).

9
Por outro lado, para facultar a recolha de dados sobre o assunto em causa, vai pautar-se pela
elaboração da Entrevista semi-estruturada, neste caso, o entrevistador prepara uma lista
padronizada de perguntas, mas acrescenta, em cada entrevista que conduzir, perguntas
adicionais que porventura permitam maior alcance dos objectivos, de acordo com os
comentários e as respostas do entrevistado, dando maior liberdade e flexibilidade para o
entrevistador, que poderá buscar maior esclarecimento junto ao entrevistado ou sondar suas
respostas (May, 2004).

Dencker (2000) destaca que a entrevista permite maior flexibilidade na elaboração das
questões e consegue maior sinceridade por parte do respondente.

d) Questionário

O questionário é um instrumento de colecta de dados constituído por uma série ordenada de


perguntas que devem ser respondidas por escrito pelo informante, sem a presença do
pesquisador. Objectiva levantar opiniões, crenças, sentimentos, interesses, expectativas,
situações vivenciadas. A linguagem utilizada no questionário deve ser simples e directa, para
que quem vá responder compreenda com clareza o que está sendo perguntado (Goldenberg,
1997:34).

A escolha do questionário como técnica de recolha de dados vai permitir suportar as


deficiências que surgiram durante a entrevista. Não só, o questionário permitiu atingir grande
número de pessoas, mesmo dispersas; não exigiu gastos com treinamento de entrevistadores;
garantiu o anonimato dos respondentes e abriu a possibilidade das pessoas responderem no
momento mais conveniente (Gil, 1995).

1.8.4. Processo de Amostragem


a) População e Amostra

De acordo com Reis (2008: 3) população ou universo, é “um conjunto de indivíduos ou


objectos que apresentam uma ou mais características em comum”.

População é o conjunto de elementos para os quais desejamos que as conclusões da pesquisa


sejam validadas, com a restrição de que esses elementos possam ser observados ou
mensurados sob as mesmas condições (Barbetta, 2008:41). Assim, foram definidos como
elementos da população deste estudo a actores locais na gestão de conflitos de terra e os
Funcionários a nível do Governo do Distrito de Marracuene.

10
Amostra é um segmento da população em estudo, recolhida com os objectivos de se
estimarem certas características da população em estudo (idem).

A amostra foi escolhida e definida de forma propositada (intencional). O pesquisador


deliberadamente escolhe alguns elementos para fazer parte da amostra, com base no seu
julgamento define aqueles seriam representativos da população. Este tipo de amostragem é
bastante usado em estudos qualitativos (Quivy, 2003). Assim, foram escolhidas 60 pessoas
pertencentes a vários grupos sociais dentre os quais Membros de Tribunais Comunitários,
Secretários de Bairro, Moradores da Localidade de Michafutene e funcionários do Serviço
Distrital de Planeamento e Infra-estrutura.

1.9. ESTRUTURA DO TRABALHO


O presente trabalho encontra-se dividido em quatro (4) capítulos, sendo que:

No primeiro capítulo, apresenta-se introdução e agrega a: delimitação espacial e temporal,


contextualização, justificativa, problematização, objetivos, hipoteses, perguntas de pesquisa,
metodologias e a estrutura do trabalho.

No segundo capítulo, apresenta-se a abordagem teórica que orienta o trabalho e os conceitos


que são usados no desenvolvimento. Com o quadro teórico pretende-se explicar os factos
(problema) a partir da reflexão feita por diversos autores da Teoria Institucionalista e a Teoria
de Sistema que servem de suporte para a leitura deste trabalho, assim como os conceitos-
chave.

No terceiro capítulo, falaremos sobre a discussão do processo de recrutamento e selecção


interno, importância e a natureza de recrutamento e selecção interno.

No quarto capítulo, são apresentados os resultados do estudo realizado no campo. Este


capítulo compreende, especificamente a caracterização do local do estudo, apresentação,
análise e interpretação dos resultados obtidos. E por fim as considerações finais e
recomendações, e os anexos.

11
CAPITULO 2: DEBATE TEÓRICO-CONCEPTUAL
Neste capítulo, faz-se alusão às teorias usadas para a leitura do tema em análise e apresenta-
se o debate conceptual sobre os conceitos relevantes para o entendimento do tema.

2.1. DEBATE TEÓRICO


Para Minayo et al. (1960), a definição teórica e conceptual é um momento crucial da
investigação científica, pois constitui a base de sustentação. Neste âmbito, as teorias usadas
para a leitura são: Teoria Institucionalista e Teoria de Sistema.

2.1.1. Teoria Institucionalista


Versões iniciais da teoria institucional colocaram ênfase particular sobre o carácter
legitimado das regras institucionais, mitos e crenças moldando a realidade social e sobre o
processo pelo qual organizações tendem a tornar-se impregnadas de valor e significado social
(Berger; Luckmann, 1967; Selznick, 1949, 1957)6 citados por (Rossetto e Rossetto, 2005).

Segundo Carvalho e Vieira (2003), a partir da década de 1950 acrescentaram-se aos estudos
empíricos realizados no campo das organizações, sob os enfoques estrutural e
comportamental, as contribuições da perspectiva institucional. Contudo, Scott (19877, citado
por Fonseca, 2003) afirma que a origem da abordagem institucional remonta a conceitos
formulados no final do século XIX, sob o impulso de debates empreendidos na Alemanha
acerca do método científico.

i. Percursor

Sobre o percursor da Teoria Institucionalista, vários autores como: Scott (1987) e Fachin e
Mendonça (2003), consideram Philip Selznick (1957), como o principal precursor da
abordagem institucional por ter introduzido as bases desta teoria e interpretado as
organizações como uma “expressão estrutural da acção racional” que, ao longo do tempo, são
sujeitas às pressões do ambiente social e se transformam em sistemas orgânicos passando
por um processo de institucionalização através do qual “os valores substituem os factores
técnicos na determinação das tarefas organizativas”.

Com as ideias de Philip Selznick, a concepção tradicional, baseada nos modelos racionais,
começou, assim, a ser desafiada. Ao rejeitar a concepção racionalista e tratar como variáveis

6
Berger, p. L.; Luckmann, (1967). T. The social construction of reality. New York: Doubleday.
7
Scott, W. R. (1987). Institutions and organizations. Thousand Oaks, California: Sage.

12
independentes as instituições, Philip Selznick, passou a vislumbrar a Organização como
expressão de valores sociais, destacando sua relação com o ambiente.

Sendo seu objectivo explicar os fenómenos organizacionais por meio do entendimento do


“como” e do “por que” as estruturas e processos organizacionais tornam-se legitimados, e
quais as suas consequências nos resultados planeados para as organizações, (Barbosa Neto e
Colauto, 2010).

ii. Pressupostos da Teoria Institucionalista

O institucionalismo aponta a necessidade de se levar em conta as mediações entre estruturas


sociais e indivíduos e suas manifestações colectivas, ou ainda as mediações entre estruturas
sociais e comportamentos individuais, (Dimaggio; Powell, 1988) citados por (Rossetto e
Rossetto, 2005).

A perspectiva institucional, em consequência, concebe o desenho organizacional não como


um processo racional, e sim como processo derivado das pressões tanto externas como
internas que, com o tempo, levam às organizações a se parecerem uma com as outras. De
acordo com esta perspectiva, as escolhas estratégicas ou as intenções de controle seriam
originadas na ordem institucional na qual uma organização se vê imersa.

Neste sentido, a teoria institucional preconiza que as organizações podem tentar mudar, mas,
passado algum tempo, o efeito do intercâmbio de conhecimento em busca de legitimidade no
ambiente institucional levará à redução do grau da diversidade, (Aligleri e Souza, 2010).

iii. Aplicabilidade da Teoria para o Trabalho

Entendendo a gestão dos conflitos de terra como um problema eminentemente social


derivado da interacção social entre os indivíduos e da convergência de interesses entre os
mesmos, a teoria encontra aplicabilidade no tema na medida em que o institucionalismo
aponta a necessidade de se levar em conta as mediações entre estruturas sociais e indivíduos e
suas manifestações colectivas, ou ainda as mediações entre estruturas sociais e
comportamentos individuais.

2.1.2. Teoria de Sistema


O ponto de partida para a teoria sistémica é a ideia de sistema, que Oliveira (1992:31) define
como “um conjunto de partes interjacentes e interdependentes que, conjuntamente, formam
um todo unitário com determinado objectivo e efectuam determinada função”. Ou seja, nesta

13
teoria enfatiza-se a natureza das organizações como sendo sistemas. Maximiano (2004:357)
acrescenta que esses sistemas são constituídos por “elementos interdependentes que se
organizam em três partes: entradas, processos, saídas”. Essa interdependência é reforçada por
Hampton (1983: 23) ao afirmar que em uma “ em organização, as pessoas, as tarefas e a
administração são interdependentes, tais os nervos, a digestão e a circulação o são no corpo
humano.” A palavra-chave nesta teoria é a interdependência.

i. Precursores

A teoria de sistema surgiu entre os anos de 1950 e 1968, através dos trabalhos do biólogo
alemão Ludwig Von Bertalanffy. A teoria geral de sistemas não buscava solucionar
problemas práticos, mas produzir teorias e formulações conceituais para aplicações na
realidade empírica, (Chiavenato, 2003). A teoria dos sistemas começou a ser aplicada na
administração principalmente em função das necessidades de uma síntese e uma maior
integração das teorias anteriores (Cientificas e Relações Humanas, Estruturalista e
Comportamental oriundas das Ciências Socias) e da intensificação do uso da cibernética e da
tecnologia de informação nas empresas, (Stoner e Freeman, 1999).

Para Stoner e Freeman (1999:33), a abordagem sistémica vê a organização como um todo,


sistema unificado e propositado, compostas por partes inter-relacionadas. Defendendo que
cada departamento necessita de programa que o ajude a realizar as suas tarefas com
flexibilidade.

ii. Pressupostos Básicos

Na perspectiva de Chiavenato (2003:474), a teoria de sistema tem como pressupostos


básicos:

• Existência de uma nítida tendência para a integração nas várias ciências naturais e socias;

• Essa integração parece orientar-se rumo a uma teoria dos sistemas;

• Essa teoria de sistema pode ser uma maneira mais abrangente de estudar os campos não
físicos do conhecimento cientifico, especialmente as ciências socias;

• Essa teoria de sistema, ao desenvolver princípios unificadores que atravessam verticalmente


os universos particulares das diversas ciências envolvidas, aproxima-nos do objectivo da
unidade da ciência,

14
A teoria de sistemas parte do princípio que assim como os organismos, as organizações estão
abertas ao ambiente no qual estão inseridas e precisam manter uma relação adequada com
este caso queiram sobreviver (Bertalanffy, 1975). Chiavenato (2002) enfatiza que as
organizações para sobreviverem devem ajustar-se constantemente às condições do meio, e
para isso, elas são adaptivas. A sua adaptabilidade é um contínuo processo de aprendizagem e
de auto-organização.

iii. Aplicabilidade da Teoria para o Estudo

Optamos pela teoria de sistema por entender que esta melhor auxilia na explicação dos
problemas a que a pesquisa se propõe proceder. Será através da análise do ambiente que será
possível perceber quais as causas dos conflitos de terra na Localidade de Michafutene.
Através da análise do processamento será possível perceber quais os moldes de actuação do
as comunidades locais com vista a gestão e prevenção de casos de conflitos de terra
existentes a nível desta região.

Figura1. Processo de inclusão de conflitos de terra

Ambiente

Retroacção

2.2. DEBATE CONCEPTUAL


Nesta a secção faz-se um debate de conceitos relevantes para a leitura e a compreensão do
trabalho, trazendo abordagens de vários autores sobre um determinado assunto. As definições
variam de autor para autor, porém, algumas convergem em sentido. Assim, foram abordados
analiticamente os seguintes conceitos: Comunidade local, Gestão, Conflito, Conflito de
Terra, Expropriação e Participação.

15
Para Fortin (1999:39), conceptualizar refere-se, então, a “um processo, a uma forma ordenada
de formular ideias, de as documentar em torno de um assunto preciso, com vista a chegar a
uma concepção clara e organizada do objecto em estudo”.

2.2.1. Comunidade local


Rogério (2016), considera que uma comunidade local é uma população humana duradoura e
organizada que integra um espaço de proximidade. Tipicamente, os indivíduos que a
constituem partilham múltiplos laços – são parentes, amigos ou simplesmente conhecidos;
compram e vendem entre si, encontram-se nos mesmos lugares, têm referências comuns. A
exemplo de um estado, a comunidade local íntegra população, Governo e território. Já a sua
durabilidade implica um elevado grau de auto-sustentabilidade – política, demográfica,
económica, social, ambiental.

De acordo com o Artigo 1 da Lei nº 19/97 de, 1 de Outubro que aprova a Lei de Terra, define
a Comunidade Local como o agrupamento de famílias e indivíduos, vivendo numa
circunscrição territorial de nível de localidade ou inferior, que visa a salvaguarda de
interesses comuns através da protecção das áreas habitacionais, áreas agrícolas, sejam
cultivadas ou em pousio, florestas, sítios de importância cultural, pastagens, fontes de água e
áreas de expansão.

Marquis e Battilana (2009:286), consideram “um nível de análise local que corresponde à
população, às organizações e aos mercados localizados em um território geográfico e
compartilham, como resultado desta localização comum, elementos locais da cultura, das
normas, de identidade e de leis.” Assim sendo, pode-se considerar a comunidade geográfica
local como um campo ou esfera institucional que exibe características cognitivas, normativas
e regulativas”.

No entanto, para efeito do presente trabalho adopta-se o conceito legal de comunidade local,
pois considera-se adequado para o entendimento do tema, dada a sua objectividade e clareza.
Além de, realçar as características locais das comunidades tais como: estrutura de mercado,
tipos de políticas públicas, sistemas relacionais e redes de relacionamento, história, tradição e
até mesmo distância geográfica dos grandes centros, mantêm uma significativa influência nas
organizações.

16
2.2.2. Gestão
O termo gestão (do inglês management) pode ser definido como “o conjunto de ações,
métodos e processos de direção, organização, assimilação de recursos, controle,
planejamento, ativação e animação de uma empresa ou unidade de trabalho” (Hermel,
1990:75). Ele não está ligado somente à direção de uma empresa, mas a todos aqueles que
participam do processo de produção da empresa. Entretanto, o grau de implicação e a
natureza da participação podem variar de caso para caso. Os diferentes tipos de participação
são: a participação nos meios; participação nos processos, e a participação nos resultados.

Para chegar a esses tipos de classificação este autor propõe quatro factores a serem 3
analisados com relação à participação: sua natureza (financeira, ativa, etc...); seu nível (forte
ou fraca, etc...); os atores (conjunto de pessoas, corpo diretivo, etc...), e a mediação
(participação direta, indireta, por meio de sindicatos, representantes, etc...)

A PCNunes – Consultores de Gestão, Lda, (2017) 8, resume o conceito de gestão a


optimização do funcionamento das organizações através da tomada de decisões racionais e
fundamentadas na recolha e tratamento de dados e informação relevante e, por essa via,
contribuir para o seu desenvolvimento e para a satisfação dos interesses de todos os
seus colaboradores e proprietários e para a satisfação de necessidades e interesse dos
seus stakeholders ou da sociedade em geral.

A gestão, de acordo com Houaiss9, é o "conjunto de normas e funções cujo objectivo é


disciplinar os elementos de produção e submeter a produtividade a um controle de qualidade,
para a obtenção de um resultado eficaz, bem como uma satisfação financeira". Gerir envolve
a elaboração de planos, pareceres, relatórios, projectos, arbitragens e laudos, em que é exigida
a aplicação de conhecimentos inerentes às técnicas de gestão.

Portanto, fica percebido que independente da variedade e de certa heterogeneidade entre


algumas definições e especialmente apesar da pluralidade atuacional concernente à gestão,
este é um campo que abrange acções como a preparação de planos, pareceres, relatórios,
projectos, arbitragens e laudos. Logo, e sobretudo, ao gestor cabe o papel de: Planejar;
Organizar; Controlar; e (em dias atuais) Liderar.

8
PCNunes – Consultores de Gestão, Lda. Conceito de Gestão (ou Administração). Artigo Cientifico. Disponível
online em http://knoow.net/cienceconempr/gestao/gestao/. Publicado em 21/01/2017. Consultado a 16/03/2017.
9
O primeiro grande dicionário a ser publicado com adaptação integral ao Acordo Ortográfico e a qualidade da
obra de António Houaiss Moderno.

17
2.2.3. Conflito
Conforme argumenta Ivala (2000:225), o conflito é o processo de procurar obter recompensas
pela eliminação ou enfraquecimento dos competidores. Consiste na luta de populações ou
grupos diferentes por objetivos que são de difícil conciliação. Trata-se de uma “situação”,
seja social, cultural, económica ou política que emerge quando actores encaram interesses
mutuamente incompatíveis. Resulta de processos e dinâmicas diferentes que determinam sua
natureza, tipo, evolução ou escala.

Pode ser fruto de uma disputa quanto a relações de poder, valores culturais, riquezas ou
recursos naturais ou ambientais. Até mesmo a luta quotidiana por parte de indivíduos ou de
grupos e a interação entre eles com o objetivo de satisfazer uma necessidade específica pode,
às vezes, representar uma fonte de tensão e conflito. Estas situações podem ser potenciais
diferendos entre as partes, potencial de conflito entre as partes, conflito latente entre as
partes, conflito patente entre as partes e conflito que descambou em violência entre as partes.
O termo conflito faz lembrar a ideia de litígio, disputa ou querela.

Por outro lado, William (1937) define o conflito como uma luta de valores (distribuitivos ou
nao distribuitivo), na qual os objectivos imediatos dos oponentes consiste em neutralizar,
lecionar ou iliminar seus rivais.

2.2.4. Conflito de Terra


O conceito conflito de terra não está definido na lei de terras, nem no Regulamento, sendo,
pois, definido por várias outras formas. No entanto, que há de comum entre os autores na
tentativa de definição de conflito é o facto de se tratar de uma situação, manifestação da
contraposição de interesses, opondo duas ou mais pessoas que alegam ser possuidores do
direito sobre a terra ou de ser titulares do DUAT, cuja solução de tal conflito carece de
intervenção de uma autoridade com poderes para tal. Por isso, o conflito há-de ser entendido
como uma situação de tensão e disputa claramente manifestadas pelas partes que reivindicam
um direito sobre a terra (Alfredo, 2009:222).

Segundo este autor, os conflitos de terras envolvem, na generalidade, as comunidades locais,


os investidores (pessoas singulares e colectivas) e o Estado. Entretanto, os conflitos não
acontecem só nas zonas rurais mas também nas zonas urbanas. Os conflitos de terras surgem,
devido a interesses que os particulares têm em relação ao seu uso e aproveitamento da terra
(Ibid.).

18
Chauveau e Mathieu (199810 citados Uacitissa Mandamule, 2016) consideram que um
conflito de terra pode ser iminente ou declarado. O conflito de terra é iminente quando
envolve violência simbólica e é declarado quando a carga de violência simbólica ou física
ultrapassa o considerado tolerável nas relações da vida social quotidiana, ou seja, quando
passa da simples ameaça, presente nos momentos de interacção e negociação quotidiana, à
acção. Assim, pode-se considerar um conflito de terra a disputa, simbólica ou física, pelo
acesso e controlo deste recurso, que opõe diferentes interessados e utilizadores.

Por sua vez, Moreira (1997: 296) considera conflito de terra como fruto do choque de
interesses entre capital e trabalho representado, de um lado, pela necessidade de subordinação
da produção à lei do lucro e do outro, pelo direito de permanecer na terra, de viver na terra e
garantir a sobrevivência da unidade familiar de produção

Para efeito do presente trabalho adoptamos a abordagem teórica dos autores Chauveau e
Mathieu (1998), pois neste conceito verifica-se a abrangência do contexto que envolve o
conflito de terra, estes autores dividem o cenário de exclusão em duas vertentes: Conflito
iminente ou declarado. Assim, importa neste trabalho trazer atona o entendimento do conflito
de terra iminente na medida em o Estado faz uso do poder legal que lhe é atribuido para
gestão da terra.

2.2.5. Participação
Participação em sociologia, é um termo que designa o envolvimento de indivíduos ou grupos
que são afetados de alguma maneira por alguma proposta ou resolução que está sujeita a um
processo de decisão, ou que estão interessados na mesma (Enserink, 2006).

Para Cáceres et al (2007:49), Participação é um processo que envolve pessoas tal como
grupos populacionais, organizações, associações, activa e significativamente na execução de
uma actividade específica .

Por outro lado, Babcock et al, (2008) citado por Nguenha (2009:15) participação não significa
apenas a simples acção da aplicação mecânica da técnica participativa ou do método
participativo que inclui um processo contínuo de diálogo, acção, análise e troca.

10
Chaveau, J.-P. & Mathieu, P. (1998). “Dynamiques et enjeux des conflits fonciers”. In LAVIGNE-
DELVILLE, P. (eds.) (1998) Quelles politiques foncières pour l'Afrique rurale ? Réconcilier pratiques,
légitimité et légalité, Paris: Karthala. pp: 243-258.

19
A ideia de participação encontra reforço no quadro legal, através da Lei nº 19/2007 de, 18 de
Julho11, que estabelece no seu artigo 22 nº 1 e 2 que: “A Todos os cidadãos, comunidades
locais, e pessoas colectivas, publicas e privadas, tem direito de colaborar nas acções de
ordenamento do território, participando na elaboração, execução, alteração e revisão dos
instrumentos de ordenamento territorial; As comunidades locais, em articulação com os
órgãos locais do Estado, participam na elaboração dos instrumentos de ordenamento
territorial, nos termos da legislação aplicável. Direito da participação compreende o pedido
de esclarecimento, a formulação de sugestões e a intervenção pública”.

Para efeito do presente trabalho, consideramos o conceito legal de Participação, pelo facto da
Lei considerar este um princípio enquadrado nos Direito e Garantias dos Cidadãos. Assim, a
participação é o direito público.

2.2.5. Expropriação
O Artigo 20 da Lei nº 19/2007 de, 18 de Julho, estabelece que “(...), quando prevejam a
implantação de projectos ou de empreendimento públicos em terrenos urbanos ou rurais, que
sejam objecto de concessão de uso e aproveitamento de privados ou de uso tradicional por
comunidades locais delimitada ou não, procedem a identificação da área para efeitos de
expropriação por interesse, necessidade ou utilidade pública, que é precedida da respectiva
declaração, devidamente fundamentada, nos termos da Lei.

De acordo com o mesmo artigo, a expropriação por interesse, necessidade ou utilidade


pública dá lugar ao pagamento de uma justa indemnização de modo a compensar entre outras
a perda de bens tangíveis e intangíveis, a ruptura da coesão social e a perda de bens de
produção.

11
Aprova a Lei do Ordenamento do Território.

20
CAPÍTULO 3: GESTÃO DE CONFLITOS DE TERRA EM MOÇAMBIQUE
O Presente capítulo é estritamente reservado a revisão da literatura em torno do tema em
alusão. Faz-se a revisão da literatura sobre os conflitos de um modo geral, conflitos de terra
em Moçambique, instrumentos que regem e regulam o sistema de direito de uso e
aproveitamento de Terra – DUAT, e por fim aborda-se os mecanismos de participação da
comunidade na gestão de conflitos de terra. O desenvolvimento deste capítulo é composto por
subtítulos.

3.1. Origem dos conflitos


De acordo com Ferreira (1996: 363), conflito vem do latim conflictu, embate dos que lutam;
discussão acompanhada de injúrias e ameaças; desavença; guerra, combate, colisão, choque;
o elemento básico determinante da acção dramática, a qual se desenvolve em função da
oposição e luta entre diferentes forças.

Segundo Beck (2009: 13), as discordâncias e os conflitos existem desde o início da


humanidade, pois fazem parte do processo de vida dos seres humanos, e são necessários para
que haja desenvolvimento e evolução familiar, social, político e organizacional. Em todos
estes grupos, cada pessoa é única, com histórias de vida diferentes e personalidades distintas.
(…) Porem, com a convivência encontra-se em algum ponto discordância de ideias entre os
membros do grupo.

Ainda o mesmo autor acentua que “a partir de divergências de percepção e ideias, as pessoas
se colocam em posições antagónicas, caracterizando uma situação conflitiva”, (Ibid.).

Por seu turno Neto (2005), refere que para compreender-se a gênese de um conflito, faz-se
necessário não só compreender o comportamento das pessoas envolvidas, como também
dissecá-los. Para tal, é imperioso entender que o comportamento nada mais é do que o
resultado do somatório de vários factores, dentre eles podemos citar: os medos que uma
pessoa possui, as emoções vivenciadas, suas experiências adquiridas no transcorrer de sua
existência, suas crenças, as preocupações que a afligem; sua auto-estima etc.

O conflito surge quando há a necessidade de escolher entre situações difíceis de conciliar.


Trata-se, portanto, de um choque de motivos ou de informações díspares, de uma competição
entre pessoas, forças ou ideias. Esta oposição ocorre quando existem perspectivas, interesses
ou objectivos diferentes face a pessoas, objectos ou opiniões. No entanto, também podem
existir conflitos criados por interesses iguais. A estas situações podemos chamar de

21
concorrência ou competição e são inúmeros os exemplos que podemos apresentar: disputas
por heranças, concorrência no trabalho, conflitos em divórcios, entre outros, (Neto, 2005).

Portanto, para Chiavenato (1993:500), o conflito significa a existência de ideias, sentimentos,


atitudes ou interesses antagónicos e colidentes que podem se chocar. Sempre que se fala em
acordo, aprovação, coordenação, resolução, unidade, consentimento, consistência, harmonia,
deve-se lembrar que essas palavras pressupõem a existência ou a iminência de seus opostos,
como desacordo, desaprovação, dissenção, desentendimento, incongruência, discordância,
inconsistência, oposição – o que significa conflito. Portanto, o conflito é a condição geral do
mundo animal.

3.1.1. Efeitos Positivos e Negativos dos Conflitos

De acordo com Dunha (2000), identificar as vantagens e as desvantagens de um determinado


conflito pode contribuir para o desenvolvimento ou para a destruição de uma organização, um
individuo, grupo e a sociedade no geral. São efeitos positivos dos conflitos:
 Fortalece as relações e solidifica sentimentos de coesão e de identidade dentro do
grupo;
 As pessoas aprendem através do confronto de ideias, o que pode melhorar a qualidade
das decisões;
 Desenvolve a criatividade e aumenta a motivação, a energia e a produtividade na
execução das tarefas;
 O conflito pode servir como mecanismo de correcção dos problemas existentes e
evitar problemas mais graves;
 Facilita a inovação, a mudança e a adaptação, evitando a entropia; Permite libertar
tensões.

São efeitos negativos de conflitos:


 Cria ambientes de trabalho desagradáveis. O conflito fora de controlo, destrutivo, pode
criar um ambiente de trabalho muito hostil, prejudicando os desempenhos das pessoas;
 Reduz o desempenho e a produtividade organizacional. Ao se gastar muito tempo a lidar
com o conflito o trabalho passa para segundo plano;
 Enfraquece os relacionamentos e afecta a cooperação entre pessoas e grupos. A
cooperação entre as pessoas passa a ser substituída por comportamentos de tensão que

22
acabam por prejudicar o bom funcionamento da organização e influenciar negativamente
a natureza dos relacionamentos existentes entre pessoas e grupos;
 Os conflitos podem provocar stress, desgaste emocional, sentimentos de dor,
antagonismo, hostilidade e insatisfação no trabalho.

Por seu turno Cunha et al., (2007:536), defende que, são consequências positivas e negativas
dos conflitos os seguintes:

Positivos Negativos

Permite clarificar os assuntos. Fomenta a Destrói a moral dos grupos e organizações


compreensão dos argumentos da contraparte

É um antídoto contra o pensamento grupal Induz cada adversário a fazer atribuições hostis
ao outro.

Permite reconhecer problemas ignorados Provoca decréscimo nos níveis de satisfação.

Permite que os méritos das diferentes ideias, Aumenta os níveis de tensão e stress, podendo
propostas e argumentos sejam testados. suscitar problemas de saúde (física e
psicológica).

Conduz a novas abordagens ao problema, Polariza os grupos e os indivíduos, aprofunda e


permitindo resolver desacordos e conflitos de dilata as diferenças.
longa data.

Facilita a partilha de pontos de vista e a Obstrui a cooperação.


compreensão dos valores e objectivos da
contraparte.

Pode induzir a motivação e a energia necessárias Empobrece o processo de coordenação do


à melhor execução das tarefas. trabalho.

Gerando diversidade de pontos de vista, aumenta Suscita comportamentos retaliatórios e


a probabilidade de surgirem ideias e soluções irresponsáveis.
criativas e inovadoras para os problemas gerados
pela turbulência ambiental.

Cada pessoa ou grupo adquire maior Cria suspeições, desconfianças e estereótipos


compreensão da sua própria posição na discussão negativos acerca dos outros.
(é forçada a articular os seus pontos de vista e a

23
descortinar os argumentos que a suportem).

Facilita a inovação, a mudança e a adaptação. Desvia as energias das tarefas mais importantes
(os objetivos da organização e a satisfação
individual subordinam-se às lutas entre os
contentores).

Cada contentor incrementa a sua identidade Toma a organização numa “arena política
completa”.
(individual, grupal e organizacional).

Aumenta a lealdade e a coesão no seio de cada Gera um clima “paranoico”.


grupo rival.

Pode facilitar a integração de interesses opostos. Suscita distorção na comunicação.

Desafia o status quo. Torna o clima Gera um clima caracterizado pela orientação de
organizacional mais entusiasmante. soma-zero.

Permite libertar tensões. Arruína a carreira de algumas pessoas.

Se for construtivo, pode gerar maior aceitação Aumenta os níveis de absentismo e turnover.
dos acordos e decisões.

Fortalece as relações interpessoais quando é Reduz o empenhamento organizacional.


resolvido construtivamente.

Reduz a preguiça social. Os líderes transitam de estilos de liderança


participativa para estilos directivos (visando
manter firmeza sobre o ambiente de trabalho).

Constitui uma oportunidade para as pessoas Provoca impasses e atrasos no processo


formarem e expressarem as suas necessidades, decisório.
opiniões e posições. Ajuda-as a resolverem os
seus conflitos internos (intrapessoais).

As pessoas aprendem através do confronto de Provoca desgaste do empenhamento das pessoas


ideias (e não da estagnação). na implementação das decisões.

Pode melhorar a qualidade das decisões (pois os Suscita a destruição do grupo.


vários aspectos da situação, riscos, custos,
vantagens e desvantagens são debatidos).

24
Fonte: Cunha et al., (2007:536).

3.1.2. Estilos de Gestão ou Administração dos Conflitos


Existem vários estilos de comportamentos com que uma pessoa ou grupo pode lidar com o
conflito. Estes estilos denominam-se “estratégias básicas para gerir uma situação em que as
partes consideram os seus interesses como incompatíveis” (McIntyre, 2007: 299).

No entanto, segundo Rahim (198512), citado por Dimas et al (2005:10), podemos encontrar os
seguintes estilos de gestão de conflitos nomeadamente: Integração, Acomodação, Domínio,
Evitamento e Compromisso.
1. Estilo “Integração” tem como finalidade encontrar uma solução benéfica para ambas
as partes, através da partilha de informação. Para isso é fundamental que se sigam
duas fases: a fase da confrontação onde as partes exploram as diferentes formas de
percecionar o problema, falam abertamente sobre as divergências e procuram as
causas dos conflitos; e a fase da resolução do problema onde as partes procuram
soluções adequadas aos interesses envolvidos;
2. Estilo “Acomodação” tem como finalidade a satisfação dos objectivos de uma parte.
Consiste na tentativa de satisfazer os interesses do outro, negligenciando os próprios,
a parte que adopta este estilo sai sacrificada e prejudicada;
3. Estilo “Dominar” tem como finalidade a estratégia de ganhar-perder, em que os
objectivos de uma parte são considerados prioritários perante os da outra parte, sendo
extremamente difícil chegar-se a uma solução mútua;
4. Estilo “Evitamento” tem como finalidade a fuga ou negação do conflito, um meio de
adiamento da resolução do conflito ou até um meio de fuga perante uma situação
ameaçadora;
5. Estilo “Compromisso” tem como finalidade procurar uma solução aceitável para
ambas as partes, sendo que cada uma das partes abdica de algo. Representa a tentativa
de satisfazer, moderada, mas incompletamente, os interesses de ambas as partes. Daí
pode resultar uma busca parcial de um objectivo.

Evidencia-se, através de vários estudos, que o estilo mais utilizado é a Integração e o menos
utilizado é o Evitamento. O estilo integração é visto como a melhor forma de gerir o conflito
construtivamente, estimula a criatividade e beneficia as partes envolvidas. No entanto,
existem autores que contrariam esta versão e designam que o melhor estilo a adoptar numas
12
RAHIM, M. A. (1985). A Strategy for Managing Conflict in Complex Organizations. Human Relations.

25
situações pode não ser nas outras, desta forma deve-se analisar as condições para as quais
cada estilo é apropriado.

Chiavenato (199913), citado por Beck, (2009) refere os seguintes estilos de gestão de
conflitos:
1. Estilo de evitação ou evitar: significa supressão e fuga, consiste em fugir ou ignorar
o conflito. Neste estilo procura-se evitar as situações de conflito, procurando outra
saída ou deixando as coisas como estão para que, com o tempo, o conflito seja
esquecido. As consequências deste estilo podem ser negativas, pois as razões do
conflito permanecem as mesmas podendo voltar no futuro e mais forte. O indivíduo
ignora ou negligencia os interesses de ambas as partes.
2. Estilo de acomodação: significa cedência e apaziguamento, acalma o conflito,
atenua a situação. Consiste em resolver os pontos menores de discordância e, por
conseguinte, deixam os problemas maiores para frente. Funciona quando as pessoas
sabem o que não está certo ou que a harmonia é essencial.
3. Estilo competitivo: utiliza a autoridade que reflecte forte assertividade para impor o
seu próprio interesse. É a atitude de confronto e de dominação. Uma das partes ganha
à custa da outra, o que gera grandes possibilidades de futuros conflitos da mesma
natureza e ainda mais fortes. Reflecte a tentativa de satisfazer os próprios interesses à
custa dos interesses do outro, ou seja, o indivíduo tenta alcançar os seus objectivos
sacrificando os do adversário, ou tenta convencer a outra parte de que o seu
julgamento é correto (Rego, 1998).
4. Estilo de compromisso: consiste em ganhar e perder, discute e ataca, deita a pessoa
abaixo e culpabiliza. Quando cada parte aceita ganhos e perdas na solução e os
componentes têm iguais poderes e ambos os lados querem reduzir as diferenças ou
quando as pessoas precisam chegar a uma solução temporária. Nenhuma parte fica
satisfeita e os antecedentes para futuros conflitos ficam mantidos. Tenta satisfazer
moderadamente os interesses de ambas as partes.
5. Estilo de colaboração: significa assertividade, enfrentar o conflito e tentar resolvê-lo.
Ambas as partes ganham, enquanto utiliza a negociação e o consenso para reduzir
diferenças. Tende a dissolver as diferenças entre os envolvidos, onde os assuntos são
discutidos e ouvidos dando atenção ao necessário para benefício mútuo. É o meio

13
CHIAVENATO, I. (1999). Gestão de Pessoas: o novo papel dos recursos humanos nas organizações.
Editora Campus: Rio de Janeiro.

26
mais eficaz de resolução de conflito, mas também é o que exige o mais alto grau de
profissionalismo dos envolvidos.

Dos estilos apresentados e outros que se possam citar, há a salientar que não existe um bom
estilo e um mau estilo de gestão de conflitos, mas deve-se usar o estilo mais apropriado
perante cada situação de conflito (Cavalcanti, 2006).

3.1.3. Importância da Gestão dos Conflitos


O que fortalece as “guerras internas” são os conflitos. Certamente, muitas dessas guerras são
as fontes de conflitos. Além das causas mais novas, geradas pela nossa sociedade moderna,
como a competitividade, continuam inabaladas todas as causas mais antigas: luta pelo poder,
o desejo de êxito económico, a necessidade de status e a exploração de terceiros.
Consequentemente, por muitas razões, a sociedade actual pode estar sujeita a experimentar
um aumento e não uma diminuição de conflitos.

A necessidade de gerir construtivamente conflitos aumenta de importância a cada dia que


passa. Os conflitos, como já verificado anteriormente, estão presentes em toda a parte da
nossa vida, quer seja pessoal como profissional. Deste facto, ressalta a importância da gestão
de conflitos, a qual deve ser efectuada de forma correcta, de modo a proporcionar resultados
construtivos. Conforme Beck (2009:21), “além do diagnóstico bem feito do conflito é
necessário que, ao lidar com conflitos, a pessoa tenha habilidades de actuação, as quais nem
sempre são desenvolvidas na educação sistemática, em ambiente escolar ou em programas de
desenvolvimento profissional”.

Para Fraga (1993:69), ser capaz de constatar a existência do conflito é apenas parte do
problema. Tem de saber também a que ponto o conflito é grave e ser capaz de o gerir
devidamente.

3.2. Conflitos de Terra


O conflito de terra é tido como uma situação, manifestação da contraposição de interesses,
opondo duas ou mais pessoas que alegam ser possuidores do direito sobre a terra ou de ser
titulares do DUAT, cuja solução de tal conflito carece de intervenção de uma autoridade com
poderes para tal. Por isso, o conflito há-de ser entendido como uma situação de tensão e
disputa claramente manifestadas pelas partes que reivindicam um direito sobre a terra,
(Araújo, 1983).

27
Os conflitos de terras envolvem, na generalidade, as comunidades locais, os investidores
(pessoas singulares e colectivas) e o Estado. Entretanto, os conflitos não acontecem só nas
zonas rurais mas também nas zonas urbanas.

Os conflitos de terras surgem, devido a interesses que os particulares têm em relação ao seu
uso e aproveitamento da terra. O conceito de interesse é, pois, entendido de várias maneiras
dependendo da situação ou do contexto em que o mesmo se deve aplicar, (Ibid).

Segundo Matável et al., (2011), os conflitos da terra são originados também muitas vezes por
falta de respeito dos limites estabelecidos nas suas concessões, invadindo áreas comunitárias,
originando conflitos entre as comunidades e a empresa.

3.2.1. Causas de Conflitos de Terra


Alfredo (2009) levanta alguns factores que determinam as causas dos conflitos de terra em
Moçambique, agrupando-os em Geográfico, Político, Económico, Jurídico e Institucional:

 Factor Geográfico

Em regra as zonas urbanas das grandes cidades capitais de Moçambique têm uma densidade
populacional bastante elevada quando comparada com a maioria dos distritos do país. Daí
que a pressão exercida sobre os recursos naturais seja de facto muito intensa, estando assim
na origem de alguns conflitos sobre a posse de terra.

 Factor Político

A guerra civil de 16 anos obrigou a que muitas famílias procurassem abrigo perto das regiões
urbanizadas e próximas das principais vias de acesso. Com o fim da guerra em 1992, parte
dessas famílias preferiram continuar a viver no local em que se instalaram, procurando
encontrar terras para cultivo nas proximidades do local, o que fez surgir no seio dos
camponeses um certo descontentamento, pois estes não estavam interessados em
compartilhar com estranhos, nas terras legadas pelos seus antepassados. Este processo de
deslocação dos camponeses de uma região para outra fez surgir um outro problema que
ocorre principalmente no momento de regresso e reassentamento da população deslocada, o
que também provocou a eclosão dos conflitos de terra.

 Factor económico

28
Muitas vezes a grande procura de terra por agentes económicos de varias origens e com
objectivos de realizar os seus investimentos constitui também factor de conflitos de terra,
pois, a falta de um cadastro organizado de terras disponíveis, obriga a que sempre a sua
procura se faça em condições tais que conflituam com as terras dos camponeses ou de outros
agentes económicos que já possuem o DUAT sobre as referidas terras. A tendência
conflituosa dos investimentos deriva muitas vezes do facto de as terras serem férteis e
estarem rodeadas de infra-estruturas que permitem que em boas condições de desenvolva a
agro-pecuária.

 Factor jurídico

Relativamente a este ponto, destaca-se o facto de grande parte dos conflitos de terra terem
ocorrido na vigência da Lei n.ᴼ 6/79, de 3 de Julho e do respectivo Regulamento da Lei de
Terras, aprovado pelo Decreto n.ᴼ 16/87, de 15 de Julho. Entretanto, alguns aspectos da lei
n.ᴼ 6/79 propiciaram o surgimento dos conflitos de terra face a uma lacuna e distorção na
interpretação da referida lei e o seu regulamento.

O n.ᴼ 1 do artigo 8 da lei n.ᴼ 6/79 estabelecia que “o direito de uso e aproveitamento da terra
é titulado por uma licença, emitida por órgão estatal competente”. Este princípio constituía
uma excepção nos termos do n.ᴼ 2 quando o uso e aproveitamento da terra prosseguisse fins
de economia familiar.

Porém, se atentar ao disposto no n.ᴼ 1 do artigo 47 do Regulamento da Lei de Terras


aprovado em 1987, pode se constatar que, de facto, o uso e aproveitamento da terra, embora
visando satisfazer as necessidades do agregado familiar, pode vir a carecer de uma licença.
Ora, essa situação ocorria, quando se trata de ocupação de zonas de protecção e de planos de
desenvolvimento agrário.

Decorre no entanto destes preceitos que a ocupação, como forma de aquisição do direito de
uso e aproveitamento de terra, comportava ambiguidades no seu tratamento, logo,
susceptíveis de criar conflitos de direitos sobre a terra. Acresce-se a este aspecto o disposto
no artigo 36 do Regulamento da Lei de Terras que determinava que “o título de direito de uso
e aproveitamento da terra faz prova plena em juízo e fora dele dos factos que nele estejam
inscritos”.

Contudo, de acordo com o Regulamento de Lei de Terra., aprovado em 1987, “o título é o


documento emitido pelos Serviços de Cadastro, ou pelos Conselhos Executivos nos termos da

29
Lei de Terras e do referido Regulamento comprovativo do direito de uso e aproveitamento de
determinada porção de terra”. Com base neste comando legal, constituía sem dúvida, o que
mais realça o valor jurídico do título do direito de uso e aproveitamento de terra, conferindo a
legalidade do seu titular e colocando-o numa posição juridicamente segura, face a todos
aqueles, embora estejam a ocupar a terra, não possuíssem título, encontrando-se no entanto,
nessa maioria, em situação vulnerável, os camponeses

 Factor Institucional

Dentre vários obstáculo que o aparelho administrativo moçambicano enfrenta, destacam-se as


dificuldades financeiras, humanas e logísticas para levar a cabo as suas actividades. Não só o
orçamento que lhes é atribuído é insuficiente para levar a cabo um trabalho de qualidade
aceitável, como também enfrentam problemas de falta de técnicos devidamente formados,
equipamento adequado às exigências do trabalho.

Não obstante, a excessiva burocratização típica das instituições públicas, o desconhecimento


por parte de alguns funcionários dos procedimentos legais inerentes à aplicação da legislação
sobre a terra, criam principalmente no seio dos camponeses, a camada social desprovida de
meios financeiros e de conhecimentos, condições para que estas se sintam cada vez mais
desmotivadas a legalizar a titulação das áreas ocupadas.

Por outro lado, existem algumas irregularidades denunciadas pelos camponeses, como por
exemplo, procedimentos pouco claros em matéria de atribuição de terrenos, o que leva
nalguns casos a classificarem-se de corrupção

3.2.2. Meios de Resolução dos Conflitos de Terra


O artigo 4 da Constituição da República em vigor em Moçambique prevê o pluralismo
jurídico ao consagrar que o estado reconhece os vários sistemas normativos e de resolução de
conflitos que coexistem na sociedade moçambicana, na medida em que não contrariem os
valores e os princípios fundamentais da Constituição.

Por este artigo entende-se que os conflitos de terra podem ser dirigidos por via formal,
através dos Tribunais Judiciais, e por via informal através de outras instâncias não judiciais
de resolução de conflitos.

30
No plano extrajudicial, onde são resolvidos a maior dos conflitos, podem-se recorrer as
seguintes instâncias:

 As comunidades locais. Segundo a alínea b) do número 1 do artigo 24 da Lei de


Terras, nas zonas rurais, as comunidades participam na resolução de conflitos,
utilizando, entre outras, as normas e práticas costumeiras.

 Aos tribunais comunitários, criados pela Lei nº 4/92, de 6 de Maio, são parte integrante
do direito e da justiça oficiais, mas, por outro lado, a lei refere que eles operam fora da
organização judiciária. Estes localizam-se nas comunidades, os juízes comunitários
fazem parte da comunidade e julgam com base nos usos e costumes, tendo em conta a
diversidade étnica e cultural da sociedade.
 As associações não-governamentais (Liga dos Direitos Humanos, Centro de Práticas
Jurídicas, Associação das Mulheres de Carreira Jurídica, Associações de Médicos
Tradicionais e, outras), entidades religiosas, as autoridades tradicionais (régulos,
curandeiros, chefes religiosos e outros), a polícia, os órgãos administrativos locais,
funcionam como instâncias de resolução de litígios.

Estas instâncias não judiciais tem recorrido a conciliação e a mediação, com vista a encontrar
uma solução por mútuo acordo de qualquer litígio, métodos estes que foram objecto da Lei nº
11/99, de 8 de Julho (Lei da Arbitragem, Conciliação e Mediação).

No plano judicial, em caso de conflito os cidadãos podem recorrer:

 Aos tribunais Administrativos quando o conflito ocorre entre Estado e particular, ou por
outra, se tem origem numa decisão das entidades competentes para autorização dos
pedidos, revogação da autorização provisória ou extinção do direito, o tribunal
competente é o Tribunal Administrativo, o qual já se pronunciou sobre vários conflitos
relacionados com a terra.

 Aos Tribunais comuns que têm igualmente apreciado e julgado um grande número de
casos relativos a conflitos entre particulares sobre direitos à terra. São a seguir
apresentados alguns casos, com o objectivo de analisar as diferentes abordagens
adoptadas, os argumentos legais e as soluções escolhidas.

31
3.3. Papeis das Instituições na Prevenção e Gestão de Conflitos
Entre várias diferenças entre os sistemas de direitos costumeiros fundamentados na oralidade
e os sistemas de direito estatutário codificados há uma que tem um significado fundamental.
Enquanto os primeiros têm por objectivo a prevenção dos conflitos os segundos têm por
objecto a resolução das situações de conflituosidade (Matavel et., al. 2011).

Ao optar-se pela interacção dos dois tipos de sistemas na legislação sobre o acesso, uso e
distribuição dos recursos naturais em Moçambique, pretendia-se harmonizar a prevenção com
a resolução aproveitando com o que de melhor cada um poderia contribuir.

Assim sendo, importa saber qual o grau de confiança que o cidadão tem nas várias
instituições que se sobrepõem ou interagem ao nível comunitário, como indicador da
prevenção dos conflitos, e qual a eficiência das mesmas na resolução dos conflitos.

Para o efeito foram formuladas duas categorias de questões: a quem recorre por tipo de
conflito, o que indica o nível de reconhecimento dos diversos mecanismos de persuasão que
actuam na prevenção dos conflitos;

A quem recorre em função da dimensão do conflito, o que indica a interacção e os papeis


relativos de cada uma das instituições. Com base em levantamentos preliminares e estudos de
caso anteriormente realizados foram identificadas cinco instituições como sendo as mais
representativas ao nível familiar e comunitário:

 A família, como célula base que, por excelência, desempenha o papel de preventora
de conflitos; as autoridades tradicionais, cujas funções reguladora e disciplinadora
desempenham um papel fundamental nas relações intracomunitárias;

 O Tribunal Comunitário, que apesar de há muito ter sido, praticamente, marginalizado


pelo sistema estatutário da justiça, continua em muitas localidades desempenhando
um papel de persuasão ao nível comunitário;

 As autoridades administrativas, que normalmente acumulam as funções de executivo


com as funções judiciárias do Estado e até, por vezes, com as legislativas ao nível
local;

 Outras, onde se incluem as confissões religiosas, as organizações não-governamentais


e demais organizações da sociedade civil.

32
3.4. Participação da Comunidade na Prevenção e Gestão de Conflitos de Terra
Diferentes governos defendem a participação comunitária como uma estratégia para enfrentar
as mais diversas situações. No entanto, a participação comunitária pode-se manifestar de
diferentes formas; porém, neste caso, a pesquisa vai ater-se a participação da comunidade na
Prevenção e Gestão de Conflitos de Terra.

O Diploma Ministerial n.º 158/2011 de, 15 de Junho relativo às regras para a consulta às
comunidades locais no âmbito da titulação do direito de uso e aproveitamento da terra, é
materializador do processo de participação da comunidade nas decisões locais.

O Artigo 1 do Diploma supracitado menciona que a consulta à comunidade local compreende


duas fases: “A primeira consiste numa reunião pública com vista à prestação de informação
à comunidade local sobre o pedido de aquisição do direito de uso e aproveitamento da terra
e a identificação dos limites da parcela”; “A segunda, a ter lugar até trinta dias após a
primeira reunião, tem como objectivo o pronunciamento da comunidade local sobre a
disponibilidade de área para a realização do empreendimento ou plano de exploração”.

Nos termos do Artigo 24 da Lei de Terra, as comunidades locais participam na resolução de


conflitos, adoptando entre outras, práticas costumeiras.

Nobela e Gregório (2009: 18) argumentam que este processo de participação da comunidade
é bastante importante na prevenção de conflitos de terra. Estes autores assumem que este
mecanismo é revestido de vantagens tais como:

 Participação efectiva das comunidades na gestão da terra e dos recursos naturais.;


 Junto com a comunidade são identificados os problemas que os afectam e,
consequentemente, há pouca busca de melhor solução dos problemas identificados;
 Há maior diálogo entre as comunidades e os representantes do Estado a nível local.
 As comunidades participam de forma activa no processo de desenvolvimento e, neste
caso, é preciso que haja observância dos mecanismos normativos e metodológicos
preconizados para uma participação efectiva e integrante que ponham os programas
municipais eficazes em prol do desenvolvimento e satisfação das necessidades da
comunidade;
 A participação facilita o crescimento da consciência crítica, fortalece seu poder de
reivindicação e prepara para adquirir mais poder na sociedade.

33
Nos casos de consulta às comunidades locais no âmbito da titulação do direito de uso e
aproveitamento da terra, participam das reuniões: a) O Administrador do Distrito ou seu
representante; b) O representante dos Serviços de Cadastro; c) Os membros dos Conselhos
Consultivos de Povoação e de Localidade; d) Os membros da comunidade local e os titulares
ou ocupantes dos terrenos limítrofes; e) O requerente ou seu representante (Artigo 2 do
Diploma Ministerial n.º 158/2011 de, 15 de Junho).

Os Conselhos Consultivos de Posto Administrativo e de Distrito pronunciam-se sobre o


pedido de aquisição do direito de uso e aproveitamento da terra, sempre que se tratar de áreas
superiores a 100 hectares, indicando as vantagens e/ou desvantagens para a sua autorização
(Artigo 3 do Diploma Ministerial n.º 158/2011 de, 15 de Junho).

3.5. Regime Jurídico de uso e aproveitamento da Terra


Nos termos dos nºs. 1 e 2 do artigo 109.º da Constituição da República de Moçambique
conjugado com o artigo 3 da Lei n.º19/97, de 1 de Outubro (Lei de Terras), a Terra é
propriedade do Estado e não pode ser vendida ou, por qualquer outra forma, alienada,
hipotecada ou penhorada. O que deve acontecer é apenas a atribuição do Direito de Uso e
Aproveitamento da Terra.

Cabe-lhe, por isso, o papel de relevo no âmbito da sua gestão e atribuição do direito de uso e
aproveitamento aos particulares. Como proprietário da terra, o Estado tem a responsabilidade
de proceder à gestão nacional do processo de sua concessão e posse. Em caso de extrema
necessidade e atendendo às questões de justiça social, o Estado também procede à
redistribuição da terra, como forma de permitir a sua utilização equilibrada e racional pelas
várias camadas d sociedade, com realce para as camadas rurais camponesas que mais
necessitam da terra para a sua subsistência.

Tal facto, vem consagrado na constituição da República, nos termos seguintes: “O Estado
determina as condições de uso e aproveitamento da Terra” (nº.1 do artigo 110 da CRM).

Não basta, no entanto, que o Estado determine as condições do uso e aproveitamento da terra.
É necessário que desenvolva as políticas necessárias com vista a uma cabal utilização da terra
e dos demais recursos naturais pelos particulares. Apesar da terra ser propriedade do Estado,
o uso dela é direito de todo povo moçambicano.

34
No que diz respeito à elegibilidade de aquisição do direito de uso e aproveitamento da terra, o
n.º 2 do artigo 111 da Constituição da República de Moçambique estabelece que “O direito
de uso e aproveitamento da terra é conferido às pessoas singulares ou colectivas…”.
Conjugados a este preceito constitucional, os artigos 10, 11 e 12 da Lei de Terras e artigos 9,
10 e 11 do respectivo regulamento, referem-se aos sujeitos elegíveis à aquisição do direito de
uso e aproveitamento da terra em Moçambique.

Aprofundando os dispositivos legais relativos às formas pelas quais os sujeitos são elegíveis à
aquisição do direito de uso e aproveitamento da terra, menciona-se, em primeiro lugar, ao
artigo 11 da Lei de Terras que estabelece: “As pessoas singulares e colectivas estrangeiras
podem ser sujeitos do direito de uso e aproveitamento da terra, desde que tenham projecto de
investimento devidamente aprovado e observem as seguintes condições: a) sendo pessoas
singulares, desde que residam há pelo menos cinco anos na República de Moçambique; b)
sendo pessoas colectivas, desde que estejam constituídas ou registadas na República de
Moçambique”.

No mesmo sentido há que se conjugar o supra citado artigo da Lei de Terras com o artigo 11
do respectivo Regulamento (Decreto nº 66/1998, de 8 de Dezembro) que, na essência, regula
o disposto naquele. Estabelece o artigo 12 da Lei de Terras que, “O direito de uso e
aproveitamento de terra é adquirido por: a) ocupação por pessoas singulares e pelas
comunidades locais, segundo as normas e práticas costumeiras no que não contrariam a
Constituição; b) ocupação por pessoas singulares nacionais que, de boa-fé, estejam a utilizar
a terra há pelo menos dez anos; c) autorização de pedido apresentado por pessoas
singulares ou colectivas na forma estabelecida na presente Lei”.

No mesmo sentido, há que se conjugar o supra citado artigo da Lei de Terras com os artigos 9
e 10, para os casos de aquisição do DUAT por ocupação pelas comunidades e por ocupação
de boa-fé por pessoas singulares nacionais, e com o artigo 11, para o caso de aquisição do
DUAT por autorização de um pedido, todos do Regulamento da Lei de Terras.

3.5.1. Trâmites legais e processuais para a aquisição do direito de uso e aproveitamento


da terra (DUAT)
Alfredo (2009:122) menciona que para a aquisição do direito de uso e aproveitamento da
terra é necessário observar-se o seguinte:

35
1. O requerente deve dirigir-se aos Serviços Provinciais de Geografia e Cadastro
(SPGC) da Província onde se localiza o terreno pretendido onde, após manifestar a
sua pretensão, ser-lhe-á entregue o formulário e seu anexo (documento que contém
toda informação relativa aos documentos obrigatórios para a constituição do processo
e os custos relativos à tramitação e deslocação para a realização do trabalho de
Reconhecimento e Consulta);

2. Após a recepção do formulário pelo requerente, o mesmo deve ser correctamente


preenchido e entregue aos Serviços de Cadastro;

3. Cinco (5) dias após o preenchimento do formulário o requerente deverá efectuar o


pagamento dos custos referentes à deslocação dos técnicos dos Serviços Provinciais
de Geografia e Cadastro para o reconhecimento e consulta às comunidades locais sob
pena de cancelamento do formulário;

4. Feito o pagamento, os Serviços de Cadastro e o requerente ou seu representante


deslocam-se ao terreno para sua identificação prévia e reconhecimento do mesmo. No
terreno, faz-se o esboço de localização da parcela pretendida, preenche-se a parte do
formulário referente à descrição do terreno e marca-se a data da consulta à
Comunidade Local;

5. No processo de consulta às Comunidades Locais, participam os Serviços Provinciais


de Geografia e Cadastro, o Administrador do Distrito ou seu representante, o Director
Distrital da Agricultura e os membros da Comunidade Local. Neste processo, os
Serviços de Cadastro têm a função de conduzir a consulta, cujo o resultado deverá ser
redigido a escrito e assinado por um mínimo de três (3) e um máximo de nove (9)
representantes da Comunidade Local, bem como pelos titulares ou ocupantes dos
terrenos limítrofes. Estes representantes da Comunidade, devem ser escolhidos pelos
membros desta, durante o processo de consulta;

6. Durante o processo de consulta às Comunidades Locais, os Serviços de Cadastro


fazem a actualização do esboço de localização, da memória descritiva (parte do
formulário referente a descrição do terreno) e preenchem o edital (3 exemplares), dos
quais um é afixado no local onde se localiza o terreno, outro na Administração do
Distrito e outro anexa-se ao formulário. No edital é indicada a data da sua afixação e
de devolução;

36
7. Após a consulta, caso a Comunidade tenha sido favorável ao pedido, o requerente
deverá submeter no prazo de quinze (15), dias (sob pena de cancelamento do
formulário), os documentos obrigatórios exigidos por Lei para a constituição do
processo, nomeadamente:

a. Formulário do pedido de terreno devidamente preenchido;

b. Fotocópia do B.I./DIRE/ Estatutos (caso se trate de uma pessoa colectiva ou


Sociedade);

c. Esboço de localização do terreno pretendido;

d. Plano de exploração (nos casos em que a terra se destine ao exercício de actividades


económicas) e/ou projecto de investimento devidamente aprovado pela entidade
competente;

e. Acta de consulta às comunidades locais;

f. Cópia do edital;

g. Guia de depósito;

h. Recibo comprovativo de pagamento da taxa referente ao primeiro ano.

i. A não submissão de um dos documentos referidos no número anterior implica o


cancelamento do formulário pelos Serviços de Cadastro;

j. A falta de devolução do edital após 30 dias de sua afixação, não implica a estagnação
do processo, contudo, o processo segue os seus trâmites legais com a indicação sobre
esse facto;

k. Reunidas todas as condições e formalidades, os Serviços de Cadastro elaboram a


proposta para o despacho da entidade competente (Governador da Província, Ministro
da Agricultura ou Conselho de Ministros). Dependendo dos casos consoante o
projecto e o seu valor.

À luz do artigo 25, do Regulamento de Lei de Terra, no caso de o pedido de DUAT se dirigir
à exploração de actividades económicas, tem lugar a realização de actividade para a
identificação prévia do terreno, envolvendo todas as partes interessadas: o requerente, os
serviços de cadastro, autoridades administrativas locais e as comunidades locais, do qual

37
resultará a incorporação dos resultados no esboço e memória descritiva, que integrarão o
próprio pedido. Para o efeito. Neste caso, também não foi estipulado qualquer prazo legal,
dependendo da flexibilidade e celeridade do órgão que trata do expediente (Alfredo,
2009:123).

Por isso, o pedido de DUAT está condicionado à obtenção do parecer do Administrador de


Distrito, precedido da consulta às comunidades locais, para efeitos de confirmação sobre a
existência na área pretendida de direitos adquiridos por ocupação, sendo, só após a realização
destes actos que se conclui o processo e se remete para apreciação posterior.

38
CAPÍTULO 4: ANALISE E INTERPRETAÇÃO DOS RESULTADOS DA PESQUISA
Neste capítulo, é feita uma breve descrição da localidade de Michafutene, a análise e
interpretação dos resultados da pesquisa, tendo em consideração aquilo que foram os
objectivos traçados, acompanhadas pelas questões de pesquisa e a validação ou não das
hipótese formuladas.

4.1. Breve Descrição da Localidade de Michafutene


4.1.1. Localização

A localidade de Michafutene, situa-se ao sul do Distrito de Marracuene, na província de


Maputo aproximadamente entre as latitudes de 25o 47’7.45” 32o35’9.77” longitude. Esta é
uma localidade que é atravessada pela estrada nacional número 1, e é composta por um total
de nove bairros nomeadamente: Mumemo 1 e 2, Cumbeza, Mali, Mateque, Ricatlha, Guava,
Agostinho Neto e parte de Jafar.

4.2. Causas dos conflitos de terra na Localidade de Michafutene.


Segundo Araújo (1983), os conflitos de terra envolvem na generalidade, as comunidades
locais, os investidores e o Estado. As causas destes conflitos são determinadas por vários
factores que variam de acordo com o contexto e o local onde surge este.

Neste sentido, buscou-se saber através de entrevistas e questionários feitas a comunidade da


localidade de Michafutene quais são as causas dos conflitos de terra existentes nesta
localidade.

No entanto, através dos dados colhidos no terreno, foi possível chegar a conclusão de que as
principais causas dos conflitos de terra nesta localidade são a transmissão ilegal da terra, á
atribuição de DUAT a mais de 1 pessoa e a invasão dos espaços alheios principalmente por
parte das empresas.

Como afirma O14, ao abordar o assunto, defende que os conflitos da terra em Michafutene já
existem desde muito tempo, mas nos últimos anos tem vindo há aumentar cada vez mais, pois
muitas pessoas têm recorrido há esta localidade para obter a terra pelo facto de se encontrar
perto do cidade e possuir vias de acesso o que faz com que muitos comecem a vender os
terrenos, bem como vender há mais de uma pessoa o que tem propiciado o surgimento de
muitos conflitos de terra nesta localidade.

14
Um funcionário dos serviços distritais de planeamento e infra-estrutura do distrito de Marracuene,
entrevistado no dia 19 de Abril de 2017.

39
Na mesma linha de pensamento N15, defende que existem duas causas principais dos conflitos
de terra nomeadamente, a transmissão ilegal de terra e há atribuição de DUAT a mais de 1
pessoa.

Já L16, quando questionado acerca das causas dos conflitos terra nesta localidade afirma que
estes devem-se a transmissão ilegal de terras e a invasão dos espaços alheios por parte das
empresas.

Por seu turno X17, refere que varias são as causas dos conflitos de terra neste distrito dentre os
quais destaca-se a manipulação dos dirigentes, transmissão ilegal dos terrenos, atribuição do
DUAT a mas de 1 pessoa, execução clandestina das obras e o facto de não respeitar-se os
limites estabelecidos nos espaços de cada um, fazendo com que algumas pessoas e empresas
invadam os espaços dos outros.

Portanto, analisando as opiniões dos nossos entrevistados, percebe-se que apesar destes
invocarem vários motivos que tem feito com que surjam os conflitos de terra na localidade de
Michafutene, estes são unanimes nas suas afirmações em referir que a transmissão ilegal da
terra, a atribuição de DUAT a mais de 1 pessoa e invasão dos espaços alheios tem sido as
causas mais frequentes que fazem com que haja estes conflitos nesta localidade. Está posição
pode ser sustentada observando o gráfico a seguir:

Gráfico 1: Causas dos Conflitos de Terra na Localidade de Michafutene


15
Uma moradora da localidade de Michafutene, entrevistada no dia 14 de Abril de 2017.
16
Uma moradora da localidade de Michafutene, entrevistada no dia 18 de Abril de 2017.
17
Uma funcionária do serviço distrital de planeamento e infra-estruturas, do distrito de Marracuene entrevistada
no dia 19 de Abril de 2017.

40
Fonte: Dados da pesquisa

De acordo com os dados obtidos na Localidade de Michafutene, pode-se constatar que de um


total de 60 pessoas, onde 28 foram entrevistados e 42 foram inqueridos que corresponde a
100%, 10 equivalente a 17% afirmaram que as causas dos conflitos são a invasão dos espaços
alheios, 15 correspondente a 25% afirmaram que deve-se a atribuição de DUAT a mais de 1
pessoa e 35 equivalente a 58% afirmaram que a transmissão ilegal da terra é a causa dos
conflitos de terra.

No entanto, de um modo geral, percebe-se que a transmissão ilegal da terra, a atribuição de


DUAT a mais de 1 pessoa e a invasão dos espaços alheios são as causas dos conflitos terra na
localidade de Michafutene, e apesar de se saber as causas e se reconhecer há existência destes
ainda há muitas dificuldades para se resolver estes casos e evitar-se estes conflitos, bem como
ainda continua a se registar o aumento de casos de conflitos de terra nesta localidade o que
tem gerado muita preocupação por parte das autoridades locais.

4.3. Mecanismos de acção usados pela comunidade na prevenção e gestão de conflitos


de terra na Localidade de Michafutene.
De acordo com Beck (2009), os conflitos estão presentes em toda parte da nossa vida, e a
qualquer momento pode acontecer, quer seja pessoal como profissional. No entanto, além de

41
saber as causas é necessário prevenir esses conflitos e quando estes aparecem é necessário
saber gerir estes.
Assim, como em qualquer conflito que existe, os conflitos de terra também precisam ser
prevenidos e geridos tanto pela comunidade, bem como pela sociedade no seu todo. Neste
sentido, buscou-se perceber através das entrevistas e questionários feitos a comunidade local
acerca dos mecanismos de acção usados pela comunidade da localidade de Michafutene para
prevenir e gerir os conflitos de terra.

De acordo com os dados obtidos no terreno, constatou-se que as reuniões comunitárias


configuram como sendo um dos primeiros e principal mecanismo usado para prevenir e gerir
os conflitos pela comunidade. Todavia, existem outros mecanismos considerados essenciais
que é o caso da atribuição de DUAT e o parcelamento dos terrenos como podemos observar
no gráfico seguinte.

Gráfico 2: Mecanismos de Acção usados pela Comunidade na Prevenção e Gestão de


Conflitos de Terra na Localidade de Michafutene.

Fonte: Dados da Pesquisa

De acordo com os dados obtidos na Localidade de Michafutene, foi possível perceber que de
um total de 60 pessoas, que correspondem a 100%, dos quais 28 foram entrevistados e 42
foram inqueridos, 40 equivalente a 67% afirmaram que o mecanismo de acção usado são as
Reuniões Comunitárias, 6 correspondentes a 10% afirmaram que é a atribuição de DUAT’s, 5

42
equivalente a 8% afirmaram que e através do parcelamento dos terrenos e 9 correspondente a
15% afirmaram que não existe nenhum mecanismo de acção.

Portanto, a partir destes dados entende-se que na localidade de Michafutene as reuniões


comunitárias, o parcelamento dos terrenos e á atribuição de DUAT’s tem sido os mecanismos
de acção usados pela comunidade para poder prevenir e gerir os conflitos de terra.

Como afirma Y18, para a prevenção e gestão dos conflitos terra na localidade de Michafutene,
tem se privilegiado as reuniões comunitárias para se sensibilizar a comunidade há não vender
os terrenos, bem como dar a conhecer a lei de terras para que estas possa se proteger e
legalizar os seus espaços.

Já Z19, quando questionados sobre os mecanismos de acção usados pela comunidade este
defende que as autoridades locais tem mantido contacto com a s estruturas administrativas do
Distrito que fazem parte de modo que este possa atribuir DUAT’s aos residentes desta
localidade de modo a evitar futuros conflitos, bem como quando se regista algum caso de
conflito de terra muitas vezes estes tem optado por realizar uma reunião com a comunidade e
as partes envolvidas para se chegar há um consenso. E como forma de prevenir estes
conflitos, a comunidade tem optado por parcelar os terrenos pessoalmente em vez de esperar
as estruturas administrativas.

W20, por seu turno, defende que na localidade de Michafutene, como forma de se prevenir dos
possíveis conflitos de terra, tem-se atribuído os DUAT’s aos residentes desta localidade, e
quando se tem um conflito, como forma de melhor gerir este a comunidade tem optado por
fazer reuniões comunitárias, bem como começar a parcelar os terrenos por si próprios de
modo a evitar estes conflitos no futuro.

Contudo, S21 quando abordado acerca do assunto este defende que não existe nenhum
mecanismo tanto de prevenção, bem como de gestão dos conflitos pois muitas vezes as
pessoas responsáveis no caso as estruturas dos bairros e da localidade são partes interessadas
ou favorecem uma parte em troca de algum valor.

18
Uma moradora da localidade de Michafutene, entrevistada no dia 114 de Abril de 2017.
19
Um membro da estrutura administrativa local, entrevistado no dia 18 de Abril de 2017.
20
Um membro da estrutura administrativa local, entrevistado no dia 19 de Abril de 2017.
21
Uma moradora da localidade de Michafutene, entrevistada no dia 20 de Abril de 2017.

43
Esta ideia é também secundada por P 22, que afirma que não existe nenhum mecanismo pois
as estruturas administrativas do bairro, bem como da localidade estão envolvidos na
transmissão ilegal da terra, bem como são muitas vezes corrompidos pelas pessoas que vem
comprar os espaços o que faz com que estes conflitos apareçam e aumentem cada vez mais.

Assim, de acordo com que foi estabelecido no gráfico e das opiniões dadas, percebe-se que
apesar de existirem estes mecanismos de acção usados pela comunidade da localidade de
Michafutene, ainda existem grandes desafios para que se considerem estes mecanismos
eficazes, pois persiste a desconfiança por parte da comunidade para com as estruturas
administrativas desta localidade, percebe-se ainda que a corrupção por parte dos que querem
adquirir os espaços tem feito com que os conflitos aumentem nesta localidade e que as
estruturas administrativas percam a capacidade de resolver estes conflitos.

Contudo, apesar destes aspectos todos, verifica-se que um dos mecanismos que tem sido
considerado pela comunidade como sendo um dos que pode ajudar a prevenir os conflitos de
terra é o parcelamento dos terrenos e atribuição de DUAT’s e que as reuniões comunitárias
são muitas vezes usadas apenas para resolver alguns casos que surgiram.

4.4. Grau de envolvimento das comunidades locais na prevenção e gestão de conflitos


de terra na Localidade de Michafutene.
De acordo com a alínea b) do número 1 do artigo 24 da lei da terra, nas zonas rurais, as
comunidades participam na resolução de conflitos utilizando, entre outras, as normas e
práticas costumeiras. Neste sentido, entende-se que havendo um conflito de terra a
comunidade tem o direito de participar tanto na resolução, bem como na prevenção dos
mesmos.

Assim, indo de acordo com este preceito estabelecido pela lei da terra buscou-se perceber na
comunidade da localidade de Michafutene se esta participa na prevenção e gestão de conflitos
de terra e qual é o grau do envolvimento desta comunidade na gestão destes conflitos.

Portanto, analisando os dados obtidos na localidade de Michafutene, foi possível constatar


que a comunidade desta localidade participa sim na prevenção e gestão dos conflitos de terra
como podemos observar no gráfico a seguir.

22
Um membro do tribunal comunitário da localidade de Michafutene, entrevistado no dia 18 de Abril de 2017.

44
Gráfico 3: Participação da Comunidade na Prevenção e Gestão dos Conflitos de Terra na
Localidade de Michafutene.

Fonte: Dados da Pesquisa


Portanto, diante da amostra obtida na localidade de Michafutene, pode-se constatar que de
um total de 60 pessoas dos quais, 28 foram entrevistados e 42 foram inqueridos, que
correspondem a 100%, 55 equivalente a 92% afirmaram que a comunidade da localidade de
Michafutene participa sim na prevenção e gestão dos conflitos de terra nesta localidade,
enquanto 5 correspondente a 8% afirmaram que esta comunidade não participa.

Neste sentido, entende-se de um modo geral que a comunidade da localidade de Michafutene


participa sim, na prevenção e gestão dos conflitos de terra. Contudo, não basta só participar é
necessário, buscar-se perceber sobre o grau de envolvimento desta mesma comunidade na
prevenção e gestão destes conflitos.

Portanto, tendo em conta este propósito, procurou-se perceber através de entrevistas e


questionários feitos a comunidade local de Michafutene se o grau de envolvimento destas na
prevenção e gestão de conflitos de terra é satisfatório ou não.

No entanto, da análise feita acerca das opiniões dos entrevistados e inqueridos, percebeu-se
que o grau de envolvimento é insatisfatório, pois existem muitas barreiras por parte das

45
estruturas administrativas. Está posição é defendida também pela maioria dos entrevistados e
inqueridos como podemos observar no gráfico a seguir:

Gráfico 4: Grau de envolvimento da comunidade na prevenção e gestão dos conflitos de terra


na localidade de Michafutene.

Fonte: Dados da Pesquisa


Diante da amostra obtida na localidade de Michafutene, pode-se constatar que de um total de
60 pessoas correspondente a 100%, dos quais 42 foram inqueridos e 28 foram entrevistados,
5 equivalente a 8% afirmaram que o grau de envolvimento da comunidade na prevenção e
gestão dos conflitos de terra na localidade de Michafutene é satisfatório, 7 correspondente a
12% afirmaram que é Deficiente enquanto, 48 equivalentes a 80% afirmaram que é
insatisfatório.

Neste sentido, percebe-se a partir destes dados, que o grau de envolvimento da comunidade
na prevenção e gestão dos conflitos de terra na localidade de Michafutene, é tido como sendo
insatisfatório, por existirem muitas barreiras por parte das estruturas administrativas
conforme destaca-se nas opiniões dos entrevistados abaixo citados.

De acordo com Q23, o grau de envolvimento da comunidade neste processo de prevenção e


gestão de conflitos de terra é insatisfatório, pois existem muitas resistências por parte das

23
Um morador da localidade de Michafutene, entrevistado no dia 20 de Abril de 2017.

46
estruturas administrativas no sentido de deixarem a comunidade participarem nestes
processos, ou seja não há abertura necessária, tudo é feito de forma secreta.

Por seu turno V24, advoga que a comunidade é envolvida sim neste processo. Todavia, o grau
de envolvimento é que deixa a desejar mesmo, porque a comunidade é muitas vezes deixada
de lado quando se trata principalmente da resolução dos conflitos de terra, muitas vezes não
somos consultados e nem sabemos quando haverá alguma audiência para se decidir um certo
caso que as vezes envolve nativos e pessoas que vem de fora.

Na mesma linha de pensamento, R25, defende que o grau de envolvimento é insatisfatório,


pois a comunidade não participa no processo de gestão de terras pelas barreiras impostas
pelas estruturas administrativas, pois na maior parte das vezes esses conflitos surgem por
culpa deles, eles muitas vezes é que estão envolvidos nestes processos dai que sempre
favorecem a si mesmos.

Já T26, advoga que não se pode falar de satisfação ou insatisfação quando se trata de
envolvimento da comunidade. Na opinião deste entrevistado, aqui assumir sim que ainda
existem algumas dificuldades para que a comunidade possa participar deste processo de
gestão deste tipo de conflitos tanto por parte das estruturas administrativas locais, bem como
por parte da comunidade que precisam de ser ultrapassados.

Por seu turno U27, refere que a partir do momento que a comunidade é convocada para
debater os assuntos que afectam a comunidade, incluído os vários tipos de conflitos existentes
a nível local, dentre os quais se destaca os conflitos de terra, existe sim um grau satisfatório
de envolvimento desta comunidade e isso tem acontecido sim na localidade de Michafutene.

No entanto, M28, afirma que é impossível falar de alguma satisfação no que concerne ao grau
de envolvimento da comunidade da localidade de Michafutene na gestão dos conflitos de
terra, pois muitos conflitos de terra, tem surgido por que alguém que faz parte da estrutura
administrativa levou uma parte da terra pertencente a algum nativo e vendeu, e quando o
assunto vem átona fazem de tudo para resolver o caso entre os lideres, deixando de lado a
comunidade, ademais existe muita corrupção quando se trata destes casos e muitas vezes as
24
um membro do tribunal comunitário da localidade de Michafutene, entrevistado no dia 19 de Abril de 2017.
25
Um morador da localidade de Michafutene, entrevistado no dia 20 de Abril de 2017.
26
Um membro da estrutura administrativa local, entrevistado no dia 19 de Abril de 2017.
27
Um funcionário do serviço distrital do planeamento e infra-estrutura do distrito de Marracuene, entrevistado
no dia 20 de Abril de 2017.
28
Uma moradora da localidade de Michafutene, entrevistada no dia 19 de Abril de 2017.

47
estruturas administrativas são as primeiras a se envolver nesse esquema e para que a
comunidade não saiba dos seus desvios, estes acabam impondo barreiras no que concerne ao
seu envolvimento na gestão destes conflitos.

Portanto, partindo destas opiniões e dos resultados obtidos através do gráfico, podemos
constatar que na localidade de Michafutene, o grau de envolvimento da comunidade na
gestão dos conflitos de terra ainda esta além do desejável, ou seja, é insatisfatório. E esta
situação é muitas vezes ocasionada pelas barreiras impostas pelas estruturas administrativas,
bem como pela corrupção e falta de transparência existente na aquisição dos espaços.

4.5. Verificação das Hipóteses


Nesta secção, faz-se a verificação das hipóteses levantadas, de modo a poder se entender
quais foram validadas e quais foram invalidadas tendo em consideração os resultados através
dos dados obtidos no terreno.

Neste sentido, a primeira hipótese estabelecia que: com a introdução de novos mecanismos
tais como: parcelamento de terrenos e delimitação de terras comunitária mesmo que sejam
primitivos estes métodos, podem ajudar a prevenir os conflitos de terra. De acordo com os
dados obtidos no terreno, valida-se esta hipótese na medida em que verificou-se que um dos
mecanismos usados pela comunidade da localidade de Michafutene para prevenir os conflitos
é o parcelamento dos terrenos.

A segunda Hipótese, determinava que: a transmissão ilegal da Terra e atribuição do DUAT a


mais de 1 pessoa são as causas que tem feito com que surjam os conflitos de terra na
localidade de Michafutene. Contudo, esta hipótese foi validada, na medida em que os
resultados obtidos no terreno nos confirmaram que estas têm sido uma das principais causas
dos conflitos de terra que tem assolado a localidade de Michafutene.

A terceira e última hipótese, enunciava que: Existe um maior envolvimento das comunidades
locais o que contribui positivamente na Prevenção e gestão de conflitos de terra na
Localidade de Michafutene. Todavia, esta hipótese foi invalidada, na medida em que
constatou-se que o grau de envolvimento da comunidade é insatisfatório, o que demonstra de
forma clara que este é menor, bem como pelo facto de ter-se constatado que os casos de
conflitos de terra nesta localidade tem tendência há aumentar

48
CONCLUSÃO
Em Moçambique, os conflitos de terra tem sido cada vez mas frequentes no seio da
comunidade, neste sentido com vista a fazer face a esta realidade várias acções tem sido
levadas a cabo, tanto pelo governo a nível central, bem como pelos órgãos locais do Estado,
organizações não-governamentais e outros organismos sociais com vista a fazer face a esta
problemática e envolver a comunidade local tanto na prevenção bem como na gestão destes
conflitos. Neste sentido, este trabalho tinha como objectivo analisar o papel das comunidades
locais na gestão e prevenção de conflitos de terra na localidade de Michafutene durante o
período de 2012 a 2016.

No entanto, da análise feita e dos resultados obtidos através dos dados deste estudo, bem
como da revisão da literatura acerca do tema, foi possível concluir que na localidade de
Michafutene os conflitos de terra têm sido originados na sua maioria devido a factores como
transmissão ilegal da terra, dupla atribuição de DUAT’s e invasão dos espaços alheios por
parte de algumas pessoas e empresas. Por outro lado, conclui-se que a comunidade desta
localidade como forma de prevenir-se destes conflitos tem optado por fazer o parcelamento
da terra por si próprio, formar parcerias com as autoridades administrativas da localidade e
distritais de modo que se possa atribuir os DUAT’s aos nativos, bem como os que já possuem
espaço como forma de legalizar estes. E, para a resolução destes conflitos a comunidade tem
optado por fazer reuniões comunitárias, onde debate-se estes casos de conflitos de terra e
outros que possam existir e dai achar-se uma solução. Todavia, quando não se consegue ter
uma solução a este nível estes levam os casos para os tribunais comunitários ou mesmo para
os tribunais judiciais.

Ainda neste estudo, foi possível concluir que, na localidade de Michafutene existe uma
participação da comunidade na prevenção e gestão dos conflitos de terra. Todavia, o grau de
envolvimento desta comunidade neste processo ainda esta longe de satisfazer aquilo que são
as expectativas desta comunidade, o que faz com que muitos residentes desta localidade
classifique o seu grau de envolvimento como sendo insatisfatório, pois estes depara-se com
muitas barreiras por parte das estruturas administrativas locais para poderem participar na
gestão destes conflitos.

De um modo geral, este estudo conclui que, as comunidades locais não têm tido nenhum
papel na prevenção e gestão de conflitos de terra na localidade de Michafutene, isto pelo
facto de estes não serem envolvidos efectivamente na gestão destes conflitos. Este não

49
envolvimento, da comunidade tem feito com que os conflitos de terra ganhem cada vez mas
espaços, pois apenas um grupo limitado de pessoas, muitas vezes composto por líderes locais,
e as estruturas administrativas locais é que tomam a dianteira do assunto, bem como, por
várias vezes estes estão envolvidos no mesmo conflito, o que faz com que não se permita que
a comunidade participe e nem tenha algum papel neste processo.

RECOMENDAÇÕES
No entanto, de acordo com os problemas encontrados no terreno, e para a sua colmatação
recomenda-se:

 Uma maior sensibilização da comunidade local de modo evitar participar nos


esquemas da venda de terra;
 Maior responsabilização criminal, isto é, agravar as sanções impostas para quem
vender a terra;
 Maior transparência por parte das estruturas administrativas no que concerne a gestão
dos processos de conflitos de terra;
 Envolvimento da comunidade não só na prevenção dos conflitos, como também na
gestão e resolução destes conflitos;
 Maior envolvimento da comunidade e das estruturas administrativas, no parcelamento
e delimitação dos terrenos ocupados, bem como não ocupados de modo a evitar
futuros conflitos;
 Maior celeridade e transparência na atribuição de DUAT’s.
 Fazer-se reuniões comunitárias, e consultas públicas antes da atribuição do DUAT e
da resolução de alguns conflitos de terra de modo a ouvir as opiniões dos
entrevistados.
 Maior divulgação dos resultados obtidos durante a resolução de algum conflito no
seio da comunidade.

50
REFERENCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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II. Fontes Primárias


L - Moradora da Localidade de Michafutene, entrevistada no dia 18 de Abril de 2017.
M - Moradora da Localidade de Michafutene, entrevistada no dia 19 de Abril de 2017.

N - Moradora da Localidade de Michafutene, entrevistada no dia 14 de Abril de 2017.


O - Funcionário do Serviço Distrital de Planeamento e Infra-Estrutura do Distrito de
Marracuene, entrevistado no dia 19 de Abril de 2017.

54
P - Membro do Tribunal Comunitário da Localidade de Michafutene, entrevistado no dia 18
de Abril de 2017.

Q - Morador da Localidade de Michafutene, entrevistado no dia 20 de Abril de 2017

R - Morador da Localidade de Michafutene, entrevistado no dia 20 de Abril de 2017.


S - Moradora da Localidade de Michafutene, entrevistada no dia 20 de Abril de 2017.
T - Membro da Estrutura Administrativa Local, entrevistado no dia 19 de Abril de 2017.
U -Funcionário do Serviço Distrital do Planeamento e Infra-Estrutura do Distrito de
Marracuene, entrevistado no dia 20 de Abril de 2017.
V -Membro do Tribunal Comunitário da Localidade de Michafutene, entrevistado no dia 19
de Abril de 2017.
W - Membro da Estrutura Administrativa Local, entrevistado no dia 19 de Abril de 2017.
X - Funcionária do Serviço Distrital de Planeamento e Infra-Estruturas, do Distrito de
Marracuene entrevistada no dia 19 de Abril de 2017.
Y - Moradora da Localidade de Michafutene, entrevistada no dia 14 de Abril de 2017.

Z - Membro da Estrutura Administrativa Local, entrevistado no dia 18 de Abril de 2017.

55
Índice

CAPÍTULO 1: INTRODUÇÃO................................................................................................3

1.1. DELIMITAÇÃO TEMPORAL E ESPACIAL...............................................................4

1.2. CONTEXTUALIZAÇÃO...............................................................................................4

1.3. JUSTIFICATIVA............................................................................................................6

1.4. PROBLEMATIZAÇÃO..................................................................................................7

1.5. OBJECTIVOS.................................................................................................................8

1.5.1. Objectivo Geral.........................................................................................................8

1.5.2. Objectivos específicos..............................................................................................8

1.6. HIPÓTESES....................................................................................................................8

1.7. QUESTÕES DE PESQUISA..........................................................................................8

1.8. METODOLOGIA DE TRABALHO..............................................................................8

1.8.1. Caracterização da Pesquisa.......................................................................................9

1.8.2. Métodos de Pesquisa...............................................................................................10

1.8.3. Técnica de Colecta de Dados..................................................................................11

1.8.4. Processo de Amostragem........................................................................................12

1.9. ESTRUTURA DO TRABALHO..................................................................................13

CAPITULO 2: DEBATE TEÓRICO-CONCEPTUAL...........................................................14

2.1. DEBATE TEÓRICO.....................................................................................................14

2.1.1. Teoria Institucionalista...........................................................................................14

2.1.2. Teoria de Sistema....................................................................................................15

2.2. DEBATE CONCEPTUAL............................................................................................17

56
2.2.1. Comunidade local...................................................................................................18

2.2.2. Gestão.....................................................................................................................19

2.2.3. Conflito...................................................................................................................20

2.2.4. Conflito de Terra.....................................................................................................20

2.2.5. Participação.............................................................................................................21

2.2.5. Expropriação...........................................................................................................22

CAPÍTULO 3: GESTÃO DE CONFLITOS DE TERRA EM MOÇAMBIQUE....................23

3.1. Origem dos conflitos.....................................................................................................23

3.1.1. Efeitos Positivos e Negativos dos Conflitos...........................................................24

3.1.2. Estilos de Gestão ou Administração dos Conflitos.................................................27

3.1.3. Importância da Gestão dos Conflitos......................................................................29

3.2. Conflitos de Terra..........................................................................................................29

3.2.1. Causas de Conflitos de Terra..................................................................................30

3.2.2. Meios de Resolução dos Conflitos de Terra...........................................................32

3.3. Papeis das Instituições na Prevenção e Gestão de Conflitos.........................................34

3.4. Participação da Comunidade na Prevenção e Gestão de Conflitos de Terra.................35

3.5. Regime Jurídico de uso e aproveitamento da Terra......................................................36

3.5.1. Trâmites legais e processuais para a aquisição do direito de uso e aproveitamento da


terra (DUAT)........................................................................................................................37

CAPÍTULO 4: ANALISE E INTERPRETAÇÃO DOS RESULTADOS DA PESQUISA....41

4.1. Breve Descrição da Localidade de Michafutene.......................................................41

4.1.1. Localização........................................................................................................41

4.2. Causas dos conflitos de terra na Localidade de Michafutene....................................41

57
4.3. Mecanismos de acção usados pela comunidade na prevenção e gestão de conflitos
de terra na Localidade de Michafutene................................................................................43

4.4. Grau de envolvimento das comunidades locais na prevenção e gestão de conflitos de


terra na Localidade de Michafutene.....................................................................................46

4.5. Verificação das Hipóteses.........................................................................................50

CONCLUSÃO.........................................................................................................................51

RECOMENDAÇÕES..............................................................................................................52

REFERENCIAS BIBLIOGRÁFICAS.....................................................................................53

I. Fontes secundarias............................................................................................................53

II. Fontes Primárias..............................................................................................................56

58

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