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Moçambique está entre os países cobiçados pelo seu potencial agrícola. A corrida à terra por
parte de investidores estrangeiros tem levado a conflitos entre estes e as comunidades rurais
que normalmente saem a perder. O interesse e a procura por terra arável tem vindo a
aumentar, dada a instabilidade do preço de comodidades, as crescentes pressões sobre o
Homem e meio ambiente e a crescente preocupação com questões de segurança alimentar.
Este interesse e procura irá com certeza aumentar ainda mais, em particular no mundo em
desenvolvimento (Deininger, et al, 2010).
Nos últimos 10 anos, em Moçambique, tem-se denunciado vários casos de conflito de terras
entre investidores privados, produtores e camponeses. Estes casos parecem ser ignorados
pelas entidades governamentais pois não estão a ser tomadas quaisquer medidas para reverter
estas situações e evitar casos futuros (Silva, 2013).
A maioria dos grandes projectos, pertencem a investidores estrangeiros e actuam nos sectores
de agro-negócios, turismo e mineração. Os investimentos analisados têm vindo a criar cada
vez mais conflitos e a agravar a situação de pobreza, carência e vulnerabilidade das
comunidades rurais. Os investidores dos países nórdicos apesar de nos seus países de origem
cumprirem com os mais elevados padrões de respeito pelos direitos humanos e por todos os
1
O Centro Terra Viva – Estudos e Advocacia Ambiental (CTV) Criado oficialmente em Novembro de 2002, é
uma instituição não governamental moçambicana, de investigação e intervenção ambiental, que congrega
profissionais de diferentes áreas fundamentais para a gestão do ambiente e dos recursos naturais, com destaque
para o Direito Ambiental, Conservação e Gestão Ambiental, Informação e Educação Ambiental, Economia
Rural e Sociologia Ambiental. Disponível online: http://www.ctv.org.mz/qshistoria.php. Consultado em
16/03/2017.
1
processos de participação pública em qualquer empreendimento que apresente potenciais
impactos sociais e ambientais, em Moçambique o seu comportamento e padrões a seguir são
completamente distintos. As suas práticas alimentam um sistema corrupto, beneficiando-se
das falhas existentes na implementação das leis em vigor no País e agravando deste modo as
condições de vida já precárias da maioria das comunidades rurais (Matável, 2011).
Muitos dos conflitos actualmente existentes entre as comunidades e as empresas são resultado
do incumprimento das promessas feitas no processo de consulta pública, da invasão de terras
comunitárias e do reassentamento em condições e locais impróprios.
Deste modo, pretende-se trazer uma abordagem institucional e social para perceber o Papel
das Comunidades Locais na Gestão de Conflitos de terra: Caso da Localidade de Michafutene
no Distrito de Marracuene (2013 a 2016).
E quanto ao período de estudo (2012 a 2016), é pelo simples facto da proximidade temporal
com o período da realização do estudo constituindo uma mais-valia na busca de evidências
sobre o fenómeno de conflitos de terra.
2
In Jornal Noticia. Conflito de Terra em Marracuene: População ignora embargo das obras. Publicado em 24
de Agosto de 2016. Disponível online em: www.Jornalnoticia.co.mz/índex.php/capital/57366- Conflito-de-
Terra-em-Marracuene: População ignora embargo das obras. Consultado em 18 de Dezembro de 2016.
2
1.2. CONTEXTUALIZAÇÃO
É assim que a Lei de Terras determina que as comunidades locais adquirem o direito de uso e
aproveitamento da terra (DUAT) por ocupação. O significado jurídico da aquisição do DUAT
por ocupação é que a atribuição deste direito às comunidades locais é feita directamente por
lei e não por via de intermediação de nenhum acto administrativo a praticar pela
Administração Pública.
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1.3. JUSTIFICATIVA
A terra é um recurso imprescindível para qualquer ser humano. Entretanto, a sua posse
levanta questões e conflitos que, pela sua natureza, têm sido objecto de análise por
académicos, políticos, governantes, e sociedade civil em geral.
Pela sua importância, a terra constitui um dos principais, senão mesmo o principal recurso
para a sobrevivência de vários países e populações que dependem dela para realizar a
produção para o seu sustento e desenvolvimento económico. Para a sua Administração,
acesso, posse, uso e controlo é imprescindível que se tenha um sistema jurídico devidamente
estruturado e que tenha em consideração uma distribuição e gestão racional deste importante
recurso natural.
E sob ponto de vista âmbito académico e especial a nível do Instituto Superior de Relações
Internacionais, esta pesquisa denota-se relevante na medida em que contribui para o
3
Lei n.º 19/97, de 1 de Outubro (Lei de Terras).
4
enriquecimento das pesquisas que envolvem o entendimento desta problemática social que é
a gestão de conflitos de terra em Moçambique. Não obstante, constituir um contributo na
medida em que serve de inspiração e contributo para todo pesquisador que se interessar
aprofundar sobre o tema em destaque.
1.4. PROBLEMATIZAÇÃO
Moçambique é um país que de forma frequente tem sido assolado por fenómeno de conflito
de terra, nos estados actuais do terceiro mundo a maior parte dos paises africanos e da
america latina o problema do uso e aproveitamento da terra e da gestão de recursos naturais
tem sido causas de grandes conflitos entre o Estado, as Entidades Privadas e a população
(Loforte,1996).
Segundo Myers (1993) no caso de Moçambique, a explicação para este fenómeno tem sido
atribuída ao processo de expropriação de terras verificado nos últimos anos. Em Gaza, por
exemplo, muitas famílias são arrancadas as suas terras e atribuidas a outrem sejam privado ou
singulares tidas como burguesia emergentes. Também a expansão de grandes empresas que
procuram terras para prática de turismo provocam conflitos.
Por isso, o estudo da resolução de conflitos e sua gestão em Moçambique é, sem dúvida,
significativo, pois permitiria encontrar plataformas de entendimento capazes de assegurar e
harmonizar os interesses dos diferentes intervenientes, uma vez que a lei da terra (Lei
nº19/97, de 1 de Outubro), o único dispositivo legal existente, que preconiza a participação
das comunidades na gestão da terra, factor que, embora conhecido, é ignorado pelas
instituições do estado, (Loforte, 1996).
Esta lei, ao estabelecer e regular o acesso e uso da terra, e funcionar como instrumento
orientador da ocupação de espaços, para além de definir as formas que devem ser usadas para
a sua aquisição, apresenta algumas contradições que contribuem, na nossa maneira de ver,
para a eclosão de conflitos. Olhando para o exposto surge a seguinte questão: Qual é o papel
das comunidades locais na gestão e prevenção do iminente fenómeno de conflitos de
terra?
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1.5. OBJECTIVOS
1.6. HIPÓTESES
Com a introdução de novos mecanismos tais como: parcelamento de terrenos e
delimitação de terras comunitária mesmo que sejam primitivos estes métodos, podem
ajudar a prevenir os conflitos de terra.
A transmissão ilegal da Terra e atribuição do DUAT a mais de 1 pessoa são as causas
que tem feito com que surjam os conflitos de terra na localidade de Michafutene.
Existe um maior envolvimento das comunidades locais o que contribui positivamente
na Prevenção e gestão de conflitos de terra na Localidade de Michafutene.
4
Demo, P. (1985), Introdução a metodologia da ciência, 2ª Edição, Atlas: São Paulo.
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1.8.1. Caracterização da Pesquisa
a) Quanto aos Objectivos: A pesquisa será exploratória e explicativa.
Segundo Gil (2007) a pesquisa exploratória tem como objectivo proporcionar maior
familiaridade com o problema, com vistas a torná-lo mais explícito ou a construir hipóteses.
A grande maioria dessas pesquisas envolve: (a) levantamento bibliográfico; (b) entrevistas
com pessoas que tiveram experiências práticas com o problema pesquisado; e (c) análise de
exemplos que estimulem a compreensão.
A pesquisa qualitativa não se preocupa com representatividade numérica, mas, sim, com o
aprofundamento da compreensão de um grupo social, de uma organização, etc. Os
pesquisadores que adoptam a abordagem qualitativa opõem-se ao pressuposto que defende
um modelo único de pesquisa para todas as ciências, já que as ciências sociais têm sua
especificidade, o que pressupõe uma metodologia própria. Assim, os pesquisadores
qualitativos recusam o modelo positivista aplicado ao estudo da vida social, uma vez que o
pesquisador não pode fazer julgamentos nem permitir que seus preconceitos e crenças
contaminem a pesquisa (Goldenberg, 1997, p. 34).
A pesquisa é Aplicada. Segundo Menezes e Silva (2005:20) este tipo de pesquisa objectiva
gerar conhecimentos para aplicação prática dirigidos à solução de problemas específicos.
Envolve verdades e interesses locais. Assim, a pesquisa conceberá conhecimentos inerentes
ao tema para o entendimento do papel das comunidades locais na gestão e prevenção de
conflitos de terra na localidade de Michafutene no Distrito de Marracuene.
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1.8.2. Métodos de Pesquisa
a) Quanto ao Método de Procedimento
Um estudo de caso pode ser caracterizado como um estudo de uma entidade bem definida
como um programa, uma instituição, um sistema educativo, uma pessoa, ou uma unidade
social. Visa conhecer em profundidade o como e o porquê de uma determinada situação que
se supõe ser única em muitos aspectos, procurando descobrir o que há nela de mais essencial
e característico.
O pesquisador não pretende intervir sobre o objecto a ser estudado, mas revelá-lo tal como
ele o percebe. O estudo de caso pode decorrer de acordo com uma perspectiva interpretativa,
que procura compreender como é o mundo do ponto de vista dos participantes, ou uma
perspectiva pragmática, que visa simplesmente apresentar uma perspectiva global, tanto
quanto possível completa e coerente, do objecto de estudo do ponto de vista do investigador
(Fonseca, 2002:33).
b) Método de Abordagem
Este método para K. Poper (1977)5 citado por (Ibid), traduz a ideia de que para a explicação
de um problema devem se formular hipóteses, deduzem-se consequências que devem ser
testadas ou falseadas. Segundo Carvalho (2009:87), o método hipotético-dedutivo parte de
percepção de lacunas acerca do qual são formuladas hipóteses que devem ser testadas ou
5
Poper, K. (1977) A Lógica das Ciências Sociais. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro: UnB. Brasil.
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verificadas. A aplicação deste método vai orienta o pesquisador no caminho
para alcançar a “verdade” através da testagem das hipóteses no campo.
a) Pesquisa Bibliográfica
Neste caso, vai fazer-se a revisão dos dados publicados e não publicados, em diversas formas,
tais como livros, dissertações, relatórios apresentados em vários fóruns, artigos de revistas,
quase todos relacionados com o tema em estudo constituiu a principal técnica para o
desenvolvimento do tema.
b) Pesquisa Documental
A pesquisa documental trilha os mesmos caminhos da pesquisa bibliográfica, não sendo fácil
por vezes distingui-las. A pesquisa bibliográfica utiliza fontes constituídas por material já
elaborado, constituído basicamente por livros e artigos científicos localizados em bibliotecas.
A pesquisa documental recorre a fontes mais diversificadas e dispersas, sem tratamento
analítico, tais como: tabelas estatísticas, jornais, revistas, relatórios, documentos oficiais,
cartas, filmes, fotografias, pinturas, tapeçarias, relatórios de empresas, vídeos de programas
de televisão, etc. (Fonseca, 2002:32)
c) Entrevista
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Por outro lado, para facultar a recolha de dados sobre o assunto em causa, vai pautar-se pela
elaboração da Entrevista semi-estruturada, neste caso, o entrevistador prepara uma lista
padronizada de perguntas, mas acrescenta, em cada entrevista que conduzir, perguntas
adicionais que porventura permitam maior alcance dos objectivos, de acordo com os
comentários e as respostas do entrevistado, dando maior liberdade e flexibilidade para o
entrevistador, que poderá buscar maior esclarecimento junto ao entrevistado ou sondar suas
respostas (May, 2004).
Dencker (2000) destaca que a entrevista permite maior flexibilidade na elaboração das
questões e consegue maior sinceridade por parte do respondente.
d) Questionário
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Amostra é um segmento da população em estudo, recolhida com os objectivos de se
estimarem certas características da população em estudo (idem).
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CAPITULO 2: DEBATE TEÓRICO-CONCEPTUAL
Neste capítulo, faz-se alusão às teorias usadas para a leitura do tema em análise e apresenta-
se o debate conceptual sobre os conceitos relevantes para o entendimento do tema.
Segundo Carvalho e Vieira (2003), a partir da década de 1950 acrescentaram-se aos estudos
empíricos realizados no campo das organizações, sob os enfoques estrutural e
comportamental, as contribuições da perspectiva institucional. Contudo, Scott (19877, citado
por Fonseca, 2003) afirma que a origem da abordagem institucional remonta a conceitos
formulados no final do século XIX, sob o impulso de debates empreendidos na Alemanha
acerca do método científico.
i. Percursor
Sobre o percursor da Teoria Institucionalista, vários autores como: Scott (1987) e Fachin e
Mendonça (2003), consideram Philip Selznick (1957), como o principal precursor da
abordagem institucional por ter introduzido as bases desta teoria e interpretado as
organizações como uma “expressão estrutural da acção racional” que, ao longo do tempo, são
sujeitas às pressões do ambiente social e se transformam em sistemas orgânicos passando
por um processo de institucionalização através do qual “os valores substituem os factores
técnicos na determinação das tarefas organizativas”.
Com as ideias de Philip Selznick, a concepção tradicional, baseada nos modelos racionais,
começou, assim, a ser desafiada. Ao rejeitar a concepção racionalista e tratar como variáveis
6
Berger, p. L.; Luckmann, (1967). T. The social construction of reality. New York: Doubleday.
7
Scott, W. R. (1987). Institutions and organizations. Thousand Oaks, California: Sage.
12
independentes as instituições, Philip Selznick, passou a vislumbrar a Organização como
expressão de valores sociais, destacando sua relação com o ambiente.
Neste sentido, a teoria institucional preconiza que as organizações podem tentar mudar, mas,
passado algum tempo, o efeito do intercâmbio de conhecimento em busca de legitimidade no
ambiente institucional levará à redução do grau da diversidade, (Aligleri e Souza, 2010).
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teoria enfatiza-se a natureza das organizações como sendo sistemas. Maximiano (2004:357)
acrescenta que esses sistemas são constituídos por “elementos interdependentes que se
organizam em três partes: entradas, processos, saídas”. Essa interdependência é reforçada por
Hampton (1983: 23) ao afirmar que em uma “ em organização, as pessoas, as tarefas e a
administração são interdependentes, tais os nervos, a digestão e a circulação o são no corpo
humano.” A palavra-chave nesta teoria é a interdependência.
i. Precursores
A teoria de sistema surgiu entre os anos de 1950 e 1968, através dos trabalhos do biólogo
alemão Ludwig Von Bertalanffy. A teoria geral de sistemas não buscava solucionar
problemas práticos, mas produzir teorias e formulações conceituais para aplicações na
realidade empírica, (Chiavenato, 2003). A teoria dos sistemas começou a ser aplicada na
administração principalmente em função das necessidades de uma síntese e uma maior
integração das teorias anteriores (Cientificas e Relações Humanas, Estruturalista e
Comportamental oriundas das Ciências Socias) e da intensificação do uso da cibernética e da
tecnologia de informação nas empresas, (Stoner e Freeman, 1999).
• Existência de uma nítida tendência para a integração nas várias ciências naturais e socias;
• Essa teoria de sistema pode ser uma maneira mais abrangente de estudar os campos não
físicos do conhecimento cientifico, especialmente as ciências socias;
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A teoria de sistemas parte do princípio que assim como os organismos, as organizações estão
abertas ao ambiente no qual estão inseridas e precisam manter uma relação adequada com
este caso queiram sobreviver (Bertalanffy, 1975). Chiavenato (2002) enfatiza que as
organizações para sobreviverem devem ajustar-se constantemente às condições do meio, e
para isso, elas são adaptivas. A sua adaptabilidade é um contínuo processo de aprendizagem e
de auto-organização.
Optamos pela teoria de sistema por entender que esta melhor auxilia na explicação dos
problemas a que a pesquisa se propõe proceder. Será através da análise do ambiente que será
possível perceber quais as causas dos conflitos de terra na Localidade de Michafutene.
Através da análise do processamento será possível perceber quais os moldes de actuação do
as comunidades locais com vista a gestão e prevenção de casos de conflitos de terra
existentes a nível desta região.
Ambiente
Retroacção
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Para Fortin (1999:39), conceptualizar refere-se, então, a “um processo, a uma forma ordenada
de formular ideias, de as documentar em torno de um assunto preciso, com vista a chegar a
uma concepção clara e organizada do objecto em estudo”.
De acordo com o Artigo 1 da Lei nº 19/97 de, 1 de Outubro que aprova a Lei de Terra, define
a Comunidade Local como o agrupamento de famílias e indivíduos, vivendo numa
circunscrição territorial de nível de localidade ou inferior, que visa a salvaguarda de
interesses comuns através da protecção das áreas habitacionais, áreas agrícolas, sejam
cultivadas ou em pousio, florestas, sítios de importância cultural, pastagens, fontes de água e
áreas de expansão.
Marquis e Battilana (2009:286), consideram “um nível de análise local que corresponde à
população, às organizações e aos mercados localizados em um território geográfico e
compartilham, como resultado desta localização comum, elementos locais da cultura, das
normas, de identidade e de leis.” Assim sendo, pode-se considerar a comunidade geográfica
local como um campo ou esfera institucional que exibe características cognitivas, normativas
e regulativas”.
No entanto, para efeito do presente trabalho adopta-se o conceito legal de comunidade local,
pois considera-se adequado para o entendimento do tema, dada a sua objectividade e clareza.
Além de, realçar as características locais das comunidades tais como: estrutura de mercado,
tipos de políticas públicas, sistemas relacionais e redes de relacionamento, história, tradição e
até mesmo distância geográfica dos grandes centros, mantêm uma significativa influência nas
organizações.
16
2.2.2. Gestão
O termo gestão (do inglês management) pode ser definido como “o conjunto de ações,
métodos e processos de direção, organização, assimilação de recursos, controle,
planejamento, ativação e animação de uma empresa ou unidade de trabalho” (Hermel,
1990:75). Ele não está ligado somente à direção de uma empresa, mas a todos aqueles que
participam do processo de produção da empresa. Entretanto, o grau de implicação e a
natureza da participação podem variar de caso para caso. Os diferentes tipos de participação
são: a participação nos meios; participação nos processos, e a participação nos resultados.
Para chegar a esses tipos de classificação este autor propõe quatro factores a serem 3
analisados com relação à participação: sua natureza (financeira, ativa, etc...); seu nível (forte
ou fraca, etc...); os atores (conjunto de pessoas, corpo diretivo, etc...), e a mediação
(participação direta, indireta, por meio de sindicatos, representantes, etc...)
8
PCNunes – Consultores de Gestão, Lda. Conceito de Gestão (ou Administração). Artigo Cientifico. Disponível
online em http://knoow.net/cienceconempr/gestao/gestao/. Publicado em 21/01/2017. Consultado a 16/03/2017.
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O primeiro grande dicionário a ser publicado com adaptação integral ao Acordo Ortográfico e a qualidade da
obra de António Houaiss Moderno.
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2.2.3. Conflito
Conforme argumenta Ivala (2000:225), o conflito é o processo de procurar obter recompensas
pela eliminação ou enfraquecimento dos competidores. Consiste na luta de populações ou
grupos diferentes por objetivos que são de difícil conciliação. Trata-se de uma “situação”,
seja social, cultural, económica ou política que emerge quando actores encaram interesses
mutuamente incompatíveis. Resulta de processos e dinâmicas diferentes que determinam sua
natureza, tipo, evolução ou escala.
Pode ser fruto de uma disputa quanto a relações de poder, valores culturais, riquezas ou
recursos naturais ou ambientais. Até mesmo a luta quotidiana por parte de indivíduos ou de
grupos e a interação entre eles com o objetivo de satisfazer uma necessidade específica pode,
às vezes, representar uma fonte de tensão e conflito. Estas situações podem ser potenciais
diferendos entre as partes, potencial de conflito entre as partes, conflito latente entre as
partes, conflito patente entre as partes e conflito que descambou em violência entre as partes.
O termo conflito faz lembrar a ideia de litígio, disputa ou querela.
Por outro lado, William (1937) define o conflito como uma luta de valores (distribuitivos ou
nao distribuitivo), na qual os objectivos imediatos dos oponentes consiste em neutralizar,
lecionar ou iliminar seus rivais.
18
Chauveau e Mathieu (199810 citados Uacitissa Mandamule, 2016) consideram que um
conflito de terra pode ser iminente ou declarado. O conflito de terra é iminente quando
envolve violência simbólica e é declarado quando a carga de violência simbólica ou física
ultrapassa o considerado tolerável nas relações da vida social quotidiana, ou seja, quando
passa da simples ameaça, presente nos momentos de interacção e negociação quotidiana, à
acção. Assim, pode-se considerar um conflito de terra a disputa, simbólica ou física, pelo
acesso e controlo deste recurso, que opõe diferentes interessados e utilizadores.
Por sua vez, Moreira (1997: 296) considera conflito de terra como fruto do choque de
interesses entre capital e trabalho representado, de um lado, pela necessidade de subordinação
da produção à lei do lucro e do outro, pelo direito de permanecer na terra, de viver na terra e
garantir a sobrevivência da unidade familiar de produção
Para efeito do presente trabalho adoptamos a abordagem teórica dos autores Chauveau e
Mathieu (1998), pois neste conceito verifica-se a abrangência do contexto que envolve o
conflito de terra, estes autores dividem o cenário de exclusão em duas vertentes: Conflito
iminente ou declarado. Assim, importa neste trabalho trazer atona o entendimento do conflito
de terra iminente na medida em o Estado faz uso do poder legal que lhe é atribuido para
gestão da terra.
2.2.5. Participação
Participação em sociologia, é um termo que designa o envolvimento de indivíduos ou grupos
que são afetados de alguma maneira por alguma proposta ou resolução que está sujeita a um
processo de decisão, ou que estão interessados na mesma (Enserink, 2006).
Para Cáceres et al (2007:49), Participação é um processo que envolve pessoas tal como
grupos populacionais, organizações, associações, activa e significativamente na execução de
uma actividade específica .
Por outro lado, Babcock et al, (2008) citado por Nguenha (2009:15) participação não significa
apenas a simples acção da aplicação mecânica da técnica participativa ou do método
participativo que inclui um processo contínuo de diálogo, acção, análise e troca.
10
Chaveau, J.-P. & Mathieu, P. (1998). “Dynamiques et enjeux des conflits fonciers”. In LAVIGNE-
DELVILLE, P. (eds.) (1998) Quelles politiques foncières pour l'Afrique rurale ? Réconcilier pratiques,
légitimité et légalité, Paris: Karthala. pp: 243-258.
19
A ideia de participação encontra reforço no quadro legal, através da Lei nº 19/2007 de, 18 de
Julho11, que estabelece no seu artigo 22 nº 1 e 2 que: “A Todos os cidadãos, comunidades
locais, e pessoas colectivas, publicas e privadas, tem direito de colaborar nas acções de
ordenamento do território, participando na elaboração, execução, alteração e revisão dos
instrumentos de ordenamento territorial; As comunidades locais, em articulação com os
órgãos locais do Estado, participam na elaboração dos instrumentos de ordenamento
territorial, nos termos da legislação aplicável. Direito da participação compreende o pedido
de esclarecimento, a formulação de sugestões e a intervenção pública”.
Para efeito do presente trabalho, consideramos o conceito legal de Participação, pelo facto da
Lei considerar este um princípio enquadrado nos Direito e Garantias dos Cidadãos. Assim, a
participação é o direito público.
2.2.5. Expropriação
O Artigo 20 da Lei nº 19/2007 de, 18 de Julho, estabelece que “(...), quando prevejam a
implantação de projectos ou de empreendimento públicos em terrenos urbanos ou rurais, que
sejam objecto de concessão de uso e aproveitamento de privados ou de uso tradicional por
comunidades locais delimitada ou não, procedem a identificação da área para efeitos de
expropriação por interesse, necessidade ou utilidade pública, que é precedida da respectiva
declaração, devidamente fundamentada, nos termos da Lei.
11
Aprova a Lei do Ordenamento do Território.
20
CAPÍTULO 3: GESTÃO DE CONFLITOS DE TERRA EM MOÇAMBIQUE
O Presente capítulo é estritamente reservado a revisão da literatura em torno do tema em
alusão. Faz-se a revisão da literatura sobre os conflitos de um modo geral, conflitos de terra
em Moçambique, instrumentos que regem e regulam o sistema de direito de uso e
aproveitamento de Terra – DUAT, e por fim aborda-se os mecanismos de participação da
comunidade na gestão de conflitos de terra. O desenvolvimento deste capítulo é composto por
subtítulos.
Ainda o mesmo autor acentua que “a partir de divergências de percepção e ideias, as pessoas
se colocam em posições antagónicas, caracterizando uma situação conflitiva”, (Ibid.).
Por seu turno Neto (2005), refere que para compreender-se a gênese de um conflito, faz-se
necessário não só compreender o comportamento das pessoas envolvidas, como também
dissecá-los. Para tal, é imperioso entender que o comportamento nada mais é do que o
resultado do somatório de vários factores, dentre eles podemos citar: os medos que uma
pessoa possui, as emoções vivenciadas, suas experiências adquiridas no transcorrer de sua
existência, suas crenças, as preocupações que a afligem; sua auto-estima etc.
21
concorrência ou competição e são inúmeros os exemplos que podemos apresentar: disputas
por heranças, concorrência no trabalho, conflitos em divórcios, entre outros, (Neto, 2005).
22
acabam por prejudicar o bom funcionamento da organização e influenciar negativamente
a natureza dos relacionamentos existentes entre pessoas e grupos;
Os conflitos podem provocar stress, desgaste emocional, sentimentos de dor,
antagonismo, hostilidade e insatisfação no trabalho.
Por seu turno Cunha et al., (2007:536), defende que, são consequências positivas e negativas
dos conflitos os seguintes:
Positivos Negativos
É um antídoto contra o pensamento grupal Induz cada adversário a fazer atribuições hostis
ao outro.
Permite que os méritos das diferentes ideias, Aumenta os níveis de tensão e stress, podendo
propostas e argumentos sejam testados. suscitar problemas de saúde (física e
psicológica).
23
descortinar os argumentos que a suportem).
Facilita a inovação, a mudança e a adaptação. Desvia as energias das tarefas mais importantes
(os objetivos da organização e a satisfação
individual subordinam-se às lutas entre os
contentores).
Cada contentor incrementa a sua identidade Toma a organização numa “arena política
completa”.
(individual, grupal e organizacional).
Desafia o status quo. Torna o clima Gera um clima caracterizado pela orientação de
organizacional mais entusiasmante. soma-zero.
Se for construtivo, pode gerar maior aceitação Aumenta os níveis de absentismo e turnover.
dos acordos e decisões.
24
Fonte: Cunha et al., (2007:536).
No entanto, segundo Rahim (198512), citado por Dimas et al (2005:10), podemos encontrar os
seguintes estilos de gestão de conflitos nomeadamente: Integração, Acomodação, Domínio,
Evitamento e Compromisso.
1. Estilo “Integração” tem como finalidade encontrar uma solução benéfica para ambas
as partes, através da partilha de informação. Para isso é fundamental que se sigam
duas fases: a fase da confrontação onde as partes exploram as diferentes formas de
percecionar o problema, falam abertamente sobre as divergências e procuram as
causas dos conflitos; e a fase da resolução do problema onde as partes procuram
soluções adequadas aos interesses envolvidos;
2. Estilo “Acomodação” tem como finalidade a satisfação dos objectivos de uma parte.
Consiste na tentativa de satisfazer os interesses do outro, negligenciando os próprios,
a parte que adopta este estilo sai sacrificada e prejudicada;
3. Estilo “Dominar” tem como finalidade a estratégia de ganhar-perder, em que os
objectivos de uma parte são considerados prioritários perante os da outra parte, sendo
extremamente difícil chegar-se a uma solução mútua;
4. Estilo “Evitamento” tem como finalidade a fuga ou negação do conflito, um meio de
adiamento da resolução do conflito ou até um meio de fuga perante uma situação
ameaçadora;
5. Estilo “Compromisso” tem como finalidade procurar uma solução aceitável para
ambas as partes, sendo que cada uma das partes abdica de algo. Representa a tentativa
de satisfazer, moderada, mas incompletamente, os interesses de ambas as partes. Daí
pode resultar uma busca parcial de um objectivo.
Evidencia-se, através de vários estudos, que o estilo mais utilizado é a Integração e o menos
utilizado é o Evitamento. O estilo integração é visto como a melhor forma de gerir o conflito
construtivamente, estimula a criatividade e beneficia as partes envolvidas. No entanto,
existem autores que contrariam esta versão e designam que o melhor estilo a adoptar numas
12
RAHIM, M. A. (1985). A Strategy for Managing Conflict in Complex Organizations. Human Relations.
25
situações pode não ser nas outras, desta forma deve-se analisar as condições para as quais
cada estilo é apropriado.
Chiavenato (199913), citado por Beck, (2009) refere os seguintes estilos de gestão de
conflitos:
1. Estilo de evitação ou evitar: significa supressão e fuga, consiste em fugir ou ignorar
o conflito. Neste estilo procura-se evitar as situações de conflito, procurando outra
saída ou deixando as coisas como estão para que, com o tempo, o conflito seja
esquecido. As consequências deste estilo podem ser negativas, pois as razões do
conflito permanecem as mesmas podendo voltar no futuro e mais forte. O indivíduo
ignora ou negligencia os interesses de ambas as partes.
2. Estilo de acomodação: significa cedência e apaziguamento, acalma o conflito,
atenua a situação. Consiste em resolver os pontos menores de discordância e, por
conseguinte, deixam os problemas maiores para frente. Funciona quando as pessoas
sabem o que não está certo ou que a harmonia é essencial.
3. Estilo competitivo: utiliza a autoridade que reflecte forte assertividade para impor o
seu próprio interesse. É a atitude de confronto e de dominação. Uma das partes ganha
à custa da outra, o que gera grandes possibilidades de futuros conflitos da mesma
natureza e ainda mais fortes. Reflecte a tentativa de satisfazer os próprios interesses à
custa dos interesses do outro, ou seja, o indivíduo tenta alcançar os seus objectivos
sacrificando os do adversário, ou tenta convencer a outra parte de que o seu
julgamento é correto (Rego, 1998).
4. Estilo de compromisso: consiste em ganhar e perder, discute e ataca, deita a pessoa
abaixo e culpabiliza. Quando cada parte aceita ganhos e perdas na solução e os
componentes têm iguais poderes e ambos os lados querem reduzir as diferenças ou
quando as pessoas precisam chegar a uma solução temporária. Nenhuma parte fica
satisfeita e os antecedentes para futuros conflitos ficam mantidos. Tenta satisfazer
moderadamente os interesses de ambas as partes.
5. Estilo de colaboração: significa assertividade, enfrentar o conflito e tentar resolvê-lo.
Ambas as partes ganham, enquanto utiliza a negociação e o consenso para reduzir
diferenças. Tende a dissolver as diferenças entre os envolvidos, onde os assuntos são
discutidos e ouvidos dando atenção ao necessário para benefício mútuo. É o meio
13
CHIAVENATO, I. (1999). Gestão de Pessoas: o novo papel dos recursos humanos nas organizações.
Editora Campus: Rio de Janeiro.
26
mais eficaz de resolução de conflito, mas também é o que exige o mais alto grau de
profissionalismo dos envolvidos.
Dos estilos apresentados e outros que se possam citar, há a salientar que não existe um bom
estilo e um mau estilo de gestão de conflitos, mas deve-se usar o estilo mais apropriado
perante cada situação de conflito (Cavalcanti, 2006).
Para Fraga (1993:69), ser capaz de constatar a existência do conflito é apenas parte do
problema. Tem de saber também a que ponto o conflito é grave e ser capaz de o gerir
devidamente.
27
Os conflitos de terras envolvem, na generalidade, as comunidades locais, os investidores
(pessoas singulares e colectivas) e o Estado. Entretanto, os conflitos não acontecem só nas
zonas rurais mas também nas zonas urbanas.
Os conflitos de terras surgem, devido a interesses que os particulares têm em relação ao seu
uso e aproveitamento da terra. O conceito de interesse é, pois, entendido de várias maneiras
dependendo da situação ou do contexto em que o mesmo se deve aplicar, (Ibid).
Segundo Matável et al., (2011), os conflitos da terra são originados também muitas vezes por
falta de respeito dos limites estabelecidos nas suas concessões, invadindo áreas comunitárias,
originando conflitos entre as comunidades e a empresa.
Factor Geográfico
Em regra as zonas urbanas das grandes cidades capitais de Moçambique têm uma densidade
populacional bastante elevada quando comparada com a maioria dos distritos do país. Daí
que a pressão exercida sobre os recursos naturais seja de facto muito intensa, estando assim
na origem de alguns conflitos sobre a posse de terra.
Factor Político
A guerra civil de 16 anos obrigou a que muitas famílias procurassem abrigo perto das regiões
urbanizadas e próximas das principais vias de acesso. Com o fim da guerra em 1992, parte
dessas famílias preferiram continuar a viver no local em que se instalaram, procurando
encontrar terras para cultivo nas proximidades do local, o que fez surgir no seio dos
camponeses um certo descontentamento, pois estes não estavam interessados em
compartilhar com estranhos, nas terras legadas pelos seus antepassados. Este processo de
deslocação dos camponeses de uma região para outra fez surgir um outro problema que
ocorre principalmente no momento de regresso e reassentamento da população deslocada, o
que também provocou a eclosão dos conflitos de terra.
Factor económico
28
Muitas vezes a grande procura de terra por agentes económicos de varias origens e com
objectivos de realizar os seus investimentos constitui também factor de conflitos de terra,
pois, a falta de um cadastro organizado de terras disponíveis, obriga a que sempre a sua
procura se faça em condições tais que conflituam com as terras dos camponeses ou de outros
agentes económicos que já possuem o DUAT sobre as referidas terras. A tendência
conflituosa dos investimentos deriva muitas vezes do facto de as terras serem férteis e
estarem rodeadas de infra-estruturas que permitem que em boas condições de desenvolva a
agro-pecuária.
Factor jurídico
Relativamente a este ponto, destaca-se o facto de grande parte dos conflitos de terra terem
ocorrido na vigência da Lei n.ᴼ 6/79, de 3 de Julho e do respectivo Regulamento da Lei de
Terras, aprovado pelo Decreto n.ᴼ 16/87, de 15 de Julho. Entretanto, alguns aspectos da lei
n.ᴼ 6/79 propiciaram o surgimento dos conflitos de terra face a uma lacuna e distorção na
interpretação da referida lei e o seu regulamento.
O n.ᴼ 1 do artigo 8 da lei n.ᴼ 6/79 estabelecia que “o direito de uso e aproveitamento da terra
é titulado por uma licença, emitida por órgão estatal competente”. Este princípio constituía
uma excepção nos termos do n.ᴼ 2 quando o uso e aproveitamento da terra prosseguisse fins
de economia familiar.
Decorre no entanto destes preceitos que a ocupação, como forma de aquisição do direito de
uso e aproveitamento de terra, comportava ambiguidades no seu tratamento, logo,
susceptíveis de criar conflitos de direitos sobre a terra. Acresce-se a este aspecto o disposto
no artigo 36 do Regulamento da Lei de Terras que determinava que “o título de direito de uso
e aproveitamento da terra faz prova plena em juízo e fora dele dos factos que nele estejam
inscritos”.
29
Lei de Terras e do referido Regulamento comprovativo do direito de uso e aproveitamento de
determinada porção de terra”. Com base neste comando legal, constituía sem dúvida, o que
mais realça o valor jurídico do título do direito de uso e aproveitamento de terra, conferindo a
legalidade do seu titular e colocando-o numa posição juridicamente segura, face a todos
aqueles, embora estejam a ocupar a terra, não possuíssem título, encontrando-se no entanto,
nessa maioria, em situação vulnerável, os camponeses
Factor Institucional
Por outro lado, existem algumas irregularidades denunciadas pelos camponeses, como por
exemplo, procedimentos pouco claros em matéria de atribuição de terrenos, o que leva
nalguns casos a classificarem-se de corrupção
Por este artigo entende-se que os conflitos de terra podem ser dirigidos por via formal,
através dos Tribunais Judiciais, e por via informal através de outras instâncias não judiciais
de resolução de conflitos.
30
No plano extrajudicial, onde são resolvidos a maior dos conflitos, podem-se recorrer as
seguintes instâncias:
Aos tribunais comunitários, criados pela Lei nº 4/92, de 6 de Maio, são parte integrante
do direito e da justiça oficiais, mas, por outro lado, a lei refere que eles operam fora da
organização judiciária. Estes localizam-se nas comunidades, os juízes comunitários
fazem parte da comunidade e julgam com base nos usos e costumes, tendo em conta a
diversidade étnica e cultural da sociedade.
As associações não-governamentais (Liga dos Direitos Humanos, Centro de Práticas
Jurídicas, Associação das Mulheres de Carreira Jurídica, Associações de Médicos
Tradicionais e, outras), entidades religiosas, as autoridades tradicionais (régulos,
curandeiros, chefes religiosos e outros), a polícia, os órgãos administrativos locais,
funcionam como instâncias de resolução de litígios.
Estas instâncias não judiciais tem recorrido a conciliação e a mediação, com vista a encontrar
uma solução por mútuo acordo de qualquer litígio, métodos estes que foram objecto da Lei nº
11/99, de 8 de Julho (Lei da Arbitragem, Conciliação e Mediação).
Aos tribunais Administrativos quando o conflito ocorre entre Estado e particular, ou por
outra, se tem origem numa decisão das entidades competentes para autorização dos
pedidos, revogação da autorização provisória ou extinção do direito, o tribunal
competente é o Tribunal Administrativo, o qual já se pronunciou sobre vários conflitos
relacionados com a terra.
Aos Tribunais comuns que têm igualmente apreciado e julgado um grande número de
casos relativos a conflitos entre particulares sobre direitos à terra. São a seguir
apresentados alguns casos, com o objectivo de analisar as diferentes abordagens
adoptadas, os argumentos legais e as soluções escolhidas.
31
3.3. Papeis das Instituições na Prevenção e Gestão de Conflitos
Entre várias diferenças entre os sistemas de direitos costumeiros fundamentados na oralidade
e os sistemas de direito estatutário codificados há uma que tem um significado fundamental.
Enquanto os primeiros têm por objectivo a prevenção dos conflitos os segundos têm por
objecto a resolução das situações de conflituosidade (Matavel et., al. 2011).
Ao optar-se pela interacção dos dois tipos de sistemas na legislação sobre o acesso, uso e
distribuição dos recursos naturais em Moçambique, pretendia-se harmonizar a prevenção com
a resolução aproveitando com o que de melhor cada um poderia contribuir.
Assim sendo, importa saber qual o grau de confiança que o cidadão tem nas várias
instituições que se sobrepõem ou interagem ao nível comunitário, como indicador da
prevenção dos conflitos, e qual a eficiência das mesmas na resolução dos conflitos.
Para o efeito foram formuladas duas categorias de questões: a quem recorre por tipo de
conflito, o que indica o nível de reconhecimento dos diversos mecanismos de persuasão que
actuam na prevenção dos conflitos;
A família, como célula base que, por excelência, desempenha o papel de preventora
de conflitos; as autoridades tradicionais, cujas funções reguladora e disciplinadora
desempenham um papel fundamental nas relações intracomunitárias;
32
3.4. Participação da Comunidade na Prevenção e Gestão de Conflitos de Terra
Diferentes governos defendem a participação comunitária como uma estratégia para enfrentar
as mais diversas situações. No entanto, a participação comunitária pode-se manifestar de
diferentes formas; porém, neste caso, a pesquisa vai ater-se a participação da comunidade na
Prevenção e Gestão de Conflitos de Terra.
O Diploma Ministerial n.º 158/2011 de, 15 de Junho relativo às regras para a consulta às
comunidades locais no âmbito da titulação do direito de uso e aproveitamento da terra, é
materializador do processo de participação da comunidade nas decisões locais.
Nobela e Gregório (2009: 18) argumentam que este processo de participação da comunidade
é bastante importante na prevenção de conflitos de terra. Estes autores assumem que este
mecanismo é revestido de vantagens tais como:
33
Nos casos de consulta às comunidades locais no âmbito da titulação do direito de uso e
aproveitamento da terra, participam das reuniões: a) O Administrador do Distrito ou seu
representante; b) O representante dos Serviços de Cadastro; c) Os membros dos Conselhos
Consultivos de Povoação e de Localidade; d) Os membros da comunidade local e os titulares
ou ocupantes dos terrenos limítrofes; e) O requerente ou seu representante (Artigo 2 do
Diploma Ministerial n.º 158/2011 de, 15 de Junho).
Cabe-lhe, por isso, o papel de relevo no âmbito da sua gestão e atribuição do direito de uso e
aproveitamento aos particulares. Como proprietário da terra, o Estado tem a responsabilidade
de proceder à gestão nacional do processo de sua concessão e posse. Em caso de extrema
necessidade e atendendo às questões de justiça social, o Estado também procede à
redistribuição da terra, como forma de permitir a sua utilização equilibrada e racional pelas
várias camadas d sociedade, com realce para as camadas rurais camponesas que mais
necessitam da terra para a sua subsistência.
Tal facto, vem consagrado na constituição da República, nos termos seguintes: “O Estado
determina as condições de uso e aproveitamento da Terra” (nº.1 do artigo 110 da CRM).
Não basta, no entanto, que o Estado determine as condições do uso e aproveitamento da terra.
É necessário que desenvolva as políticas necessárias com vista a uma cabal utilização da terra
e dos demais recursos naturais pelos particulares. Apesar da terra ser propriedade do Estado,
o uso dela é direito de todo povo moçambicano.
34
No que diz respeito à elegibilidade de aquisição do direito de uso e aproveitamento da terra, o
n.º 2 do artigo 111 da Constituição da República de Moçambique estabelece que “O direito
de uso e aproveitamento da terra é conferido às pessoas singulares ou colectivas…”.
Conjugados a este preceito constitucional, os artigos 10, 11 e 12 da Lei de Terras e artigos 9,
10 e 11 do respectivo regulamento, referem-se aos sujeitos elegíveis à aquisição do direito de
uso e aproveitamento da terra em Moçambique.
Aprofundando os dispositivos legais relativos às formas pelas quais os sujeitos são elegíveis à
aquisição do direito de uso e aproveitamento da terra, menciona-se, em primeiro lugar, ao
artigo 11 da Lei de Terras que estabelece: “As pessoas singulares e colectivas estrangeiras
podem ser sujeitos do direito de uso e aproveitamento da terra, desde que tenham projecto de
investimento devidamente aprovado e observem as seguintes condições: a) sendo pessoas
singulares, desde que residam há pelo menos cinco anos na República de Moçambique; b)
sendo pessoas colectivas, desde que estejam constituídas ou registadas na República de
Moçambique”.
No mesmo sentido há que se conjugar o supra citado artigo da Lei de Terras com o artigo 11
do respectivo Regulamento (Decreto nº 66/1998, de 8 de Dezembro) que, na essência, regula
o disposto naquele. Estabelece o artigo 12 da Lei de Terras que, “O direito de uso e
aproveitamento de terra é adquirido por: a) ocupação por pessoas singulares e pelas
comunidades locais, segundo as normas e práticas costumeiras no que não contrariam a
Constituição; b) ocupação por pessoas singulares nacionais que, de boa-fé, estejam a utilizar
a terra há pelo menos dez anos; c) autorização de pedido apresentado por pessoas
singulares ou colectivas na forma estabelecida na presente Lei”.
No mesmo sentido, há que se conjugar o supra citado artigo da Lei de Terras com os artigos 9
e 10, para os casos de aquisição do DUAT por ocupação pelas comunidades e por ocupação
de boa-fé por pessoas singulares nacionais, e com o artigo 11, para o caso de aquisição do
DUAT por autorização de um pedido, todos do Regulamento da Lei de Terras.
35
1. O requerente deve dirigir-se aos Serviços Provinciais de Geografia e Cadastro
(SPGC) da Província onde se localiza o terreno pretendido onde, após manifestar a
sua pretensão, ser-lhe-á entregue o formulário e seu anexo (documento que contém
toda informação relativa aos documentos obrigatórios para a constituição do processo
e os custos relativos à tramitação e deslocação para a realização do trabalho de
Reconhecimento e Consulta);
36
7. Após a consulta, caso a Comunidade tenha sido favorável ao pedido, o requerente
deverá submeter no prazo de quinze (15), dias (sob pena de cancelamento do
formulário), os documentos obrigatórios exigidos por Lei para a constituição do
processo, nomeadamente:
f. Cópia do edital;
g. Guia de depósito;
j. A falta de devolução do edital após 30 dias de sua afixação, não implica a estagnação
do processo, contudo, o processo segue os seus trâmites legais com a indicação sobre
esse facto;
À luz do artigo 25, do Regulamento de Lei de Terra, no caso de o pedido de DUAT se dirigir
à exploração de actividades económicas, tem lugar a realização de actividade para a
identificação prévia do terreno, envolvendo todas as partes interessadas: o requerente, os
serviços de cadastro, autoridades administrativas locais e as comunidades locais, do qual
37
resultará a incorporação dos resultados no esboço e memória descritiva, que integrarão o
próprio pedido. Para o efeito. Neste caso, também não foi estipulado qualquer prazo legal,
dependendo da flexibilidade e celeridade do órgão que trata do expediente (Alfredo,
2009:123).
38
CAPÍTULO 4: ANALISE E INTERPRETAÇÃO DOS RESULTADOS DA PESQUISA
Neste capítulo, é feita uma breve descrição da localidade de Michafutene, a análise e
interpretação dos resultados da pesquisa, tendo em consideração aquilo que foram os
objectivos traçados, acompanhadas pelas questões de pesquisa e a validação ou não das
hipótese formuladas.
No entanto, através dos dados colhidos no terreno, foi possível chegar a conclusão de que as
principais causas dos conflitos de terra nesta localidade são a transmissão ilegal da terra, á
atribuição de DUAT a mais de 1 pessoa e a invasão dos espaços alheios principalmente por
parte das empresas.
Como afirma O14, ao abordar o assunto, defende que os conflitos da terra em Michafutene já
existem desde muito tempo, mas nos últimos anos tem vindo há aumentar cada vez mais, pois
muitas pessoas têm recorrido há esta localidade para obter a terra pelo facto de se encontrar
perto do cidade e possuir vias de acesso o que faz com que muitos comecem a vender os
terrenos, bem como vender há mais de uma pessoa o que tem propiciado o surgimento de
muitos conflitos de terra nesta localidade.
14
Um funcionário dos serviços distritais de planeamento e infra-estrutura do distrito de Marracuene,
entrevistado no dia 19 de Abril de 2017.
39
Na mesma linha de pensamento N15, defende que existem duas causas principais dos conflitos
de terra nomeadamente, a transmissão ilegal de terra e há atribuição de DUAT a mais de 1
pessoa.
Já L16, quando questionado acerca das causas dos conflitos terra nesta localidade afirma que
estes devem-se a transmissão ilegal de terras e a invasão dos espaços alheios por parte das
empresas.
Por seu turno X17, refere que varias são as causas dos conflitos de terra neste distrito dentre os
quais destaca-se a manipulação dos dirigentes, transmissão ilegal dos terrenos, atribuição do
DUAT a mas de 1 pessoa, execução clandestina das obras e o facto de não respeitar-se os
limites estabelecidos nos espaços de cada um, fazendo com que algumas pessoas e empresas
invadam os espaços dos outros.
Portanto, analisando as opiniões dos nossos entrevistados, percebe-se que apesar destes
invocarem vários motivos que tem feito com que surjam os conflitos de terra na localidade de
Michafutene, estes são unanimes nas suas afirmações em referir que a transmissão ilegal da
terra, a atribuição de DUAT a mais de 1 pessoa e invasão dos espaços alheios tem sido as
causas mais frequentes que fazem com que haja estes conflitos nesta localidade. Está posição
pode ser sustentada observando o gráfico a seguir:
40
Fonte: Dados da pesquisa
41
saber as causas é necessário prevenir esses conflitos e quando estes aparecem é necessário
saber gerir estes.
Assim, como em qualquer conflito que existe, os conflitos de terra também precisam ser
prevenidos e geridos tanto pela comunidade, bem como pela sociedade no seu todo. Neste
sentido, buscou-se perceber através das entrevistas e questionários feitos a comunidade local
acerca dos mecanismos de acção usados pela comunidade da localidade de Michafutene para
prevenir e gerir os conflitos de terra.
De acordo com os dados obtidos na Localidade de Michafutene, foi possível perceber que de
um total de 60 pessoas, que correspondem a 100%, dos quais 28 foram entrevistados e 42
foram inqueridos, 40 equivalente a 67% afirmaram que o mecanismo de acção usado são as
Reuniões Comunitárias, 6 correspondentes a 10% afirmaram que é a atribuição de DUAT’s, 5
42
equivalente a 8% afirmaram que e através do parcelamento dos terrenos e 9 correspondente a
15% afirmaram que não existe nenhum mecanismo de acção.
Como afirma Y18, para a prevenção e gestão dos conflitos terra na localidade de Michafutene,
tem se privilegiado as reuniões comunitárias para se sensibilizar a comunidade há não vender
os terrenos, bem como dar a conhecer a lei de terras para que estas possa se proteger e
legalizar os seus espaços.
Já Z19, quando questionados sobre os mecanismos de acção usados pela comunidade este
defende que as autoridades locais tem mantido contacto com a s estruturas administrativas do
Distrito que fazem parte de modo que este possa atribuir DUAT’s aos residentes desta
localidade de modo a evitar futuros conflitos, bem como quando se regista algum caso de
conflito de terra muitas vezes estes tem optado por realizar uma reunião com a comunidade e
as partes envolvidas para se chegar há um consenso. E como forma de prevenir estes
conflitos, a comunidade tem optado por parcelar os terrenos pessoalmente em vez de esperar
as estruturas administrativas.
W20, por seu turno, defende que na localidade de Michafutene, como forma de se prevenir dos
possíveis conflitos de terra, tem-se atribuído os DUAT’s aos residentes desta localidade, e
quando se tem um conflito, como forma de melhor gerir este a comunidade tem optado por
fazer reuniões comunitárias, bem como começar a parcelar os terrenos por si próprios de
modo a evitar estes conflitos no futuro.
Contudo, S21 quando abordado acerca do assunto este defende que não existe nenhum
mecanismo tanto de prevenção, bem como de gestão dos conflitos pois muitas vezes as
pessoas responsáveis no caso as estruturas dos bairros e da localidade são partes interessadas
ou favorecem uma parte em troca de algum valor.
18
Uma moradora da localidade de Michafutene, entrevistada no dia 114 de Abril de 2017.
19
Um membro da estrutura administrativa local, entrevistado no dia 18 de Abril de 2017.
20
Um membro da estrutura administrativa local, entrevistado no dia 19 de Abril de 2017.
21
Uma moradora da localidade de Michafutene, entrevistada no dia 20 de Abril de 2017.
43
Esta ideia é também secundada por P 22, que afirma que não existe nenhum mecanismo pois
as estruturas administrativas do bairro, bem como da localidade estão envolvidos na
transmissão ilegal da terra, bem como são muitas vezes corrompidos pelas pessoas que vem
comprar os espaços o que faz com que estes conflitos apareçam e aumentem cada vez mais.
Assim, de acordo com que foi estabelecido no gráfico e das opiniões dadas, percebe-se que
apesar de existirem estes mecanismos de acção usados pela comunidade da localidade de
Michafutene, ainda existem grandes desafios para que se considerem estes mecanismos
eficazes, pois persiste a desconfiança por parte da comunidade para com as estruturas
administrativas desta localidade, percebe-se ainda que a corrupção por parte dos que querem
adquirir os espaços tem feito com que os conflitos aumentem nesta localidade e que as
estruturas administrativas percam a capacidade de resolver estes conflitos.
Contudo, apesar destes aspectos todos, verifica-se que um dos mecanismos que tem sido
considerado pela comunidade como sendo um dos que pode ajudar a prevenir os conflitos de
terra é o parcelamento dos terrenos e atribuição de DUAT’s e que as reuniões comunitárias
são muitas vezes usadas apenas para resolver alguns casos que surgiram.
Assim, indo de acordo com este preceito estabelecido pela lei da terra buscou-se perceber na
comunidade da localidade de Michafutene se esta participa na prevenção e gestão de conflitos
de terra e qual é o grau do envolvimento desta comunidade na gestão destes conflitos.
22
Um membro do tribunal comunitário da localidade de Michafutene, entrevistado no dia 18 de Abril de 2017.
44
Gráfico 3: Participação da Comunidade na Prevenção e Gestão dos Conflitos de Terra na
Localidade de Michafutene.
No entanto, da análise feita acerca das opiniões dos entrevistados e inqueridos, percebeu-se
que o grau de envolvimento é insatisfatório, pois existem muitas barreiras por parte das
45
estruturas administrativas. Está posição é defendida também pela maioria dos entrevistados e
inqueridos como podemos observar no gráfico a seguir:
Neste sentido, percebe-se a partir destes dados, que o grau de envolvimento da comunidade
na prevenção e gestão dos conflitos de terra na localidade de Michafutene, é tido como sendo
insatisfatório, por existirem muitas barreiras por parte das estruturas administrativas
conforme destaca-se nas opiniões dos entrevistados abaixo citados.
23
Um morador da localidade de Michafutene, entrevistado no dia 20 de Abril de 2017.
46
estruturas administrativas no sentido de deixarem a comunidade participarem nestes
processos, ou seja não há abertura necessária, tudo é feito de forma secreta.
Por seu turno V24, advoga que a comunidade é envolvida sim neste processo. Todavia, o grau
de envolvimento é que deixa a desejar mesmo, porque a comunidade é muitas vezes deixada
de lado quando se trata principalmente da resolução dos conflitos de terra, muitas vezes não
somos consultados e nem sabemos quando haverá alguma audiência para se decidir um certo
caso que as vezes envolve nativos e pessoas que vem de fora.
Já T26, advoga que não se pode falar de satisfação ou insatisfação quando se trata de
envolvimento da comunidade. Na opinião deste entrevistado, aqui assumir sim que ainda
existem algumas dificuldades para que a comunidade possa participar deste processo de
gestão deste tipo de conflitos tanto por parte das estruturas administrativas locais, bem como
por parte da comunidade que precisam de ser ultrapassados.
Por seu turno U27, refere que a partir do momento que a comunidade é convocada para
debater os assuntos que afectam a comunidade, incluído os vários tipos de conflitos existentes
a nível local, dentre os quais se destaca os conflitos de terra, existe sim um grau satisfatório
de envolvimento desta comunidade e isso tem acontecido sim na localidade de Michafutene.
No entanto, M28, afirma que é impossível falar de alguma satisfação no que concerne ao grau
de envolvimento da comunidade da localidade de Michafutene na gestão dos conflitos de
terra, pois muitos conflitos de terra, tem surgido por que alguém que faz parte da estrutura
administrativa levou uma parte da terra pertencente a algum nativo e vendeu, e quando o
assunto vem átona fazem de tudo para resolver o caso entre os lideres, deixando de lado a
comunidade, ademais existe muita corrupção quando se trata destes casos e muitas vezes as
24
um membro do tribunal comunitário da localidade de Michafutene, entrevistado no dia 19 de Abril de 2017.
25
Um morador da localidade de Michafutene, entrevistado no dia 20 de Abril de 2017.
26
Um membro da estrutura administrativa local, entrevistado no dia 19 de Abril de 2017.
27
Um funcionário do serviço distrital do planeamento e infra-estrutura do distrito de Marracuene, entrevistado
no dia 20 de Abril de 2017.
28
Uma moradora da localidade de Michafutene, entrevistada no dia 19 de Abril de 2017.
47
estruturas administrativas são as primeiras a se envolver nesse esquema e para que a
comunidade não saiba dos seus desvios, estes acabam impondo barreiras no que concerne ao
seu envolvimento na gestão destes conflitos.
Portanto, partindo destas opiniões e dos resultados obtidos através do gráfico, podemos
constatar que na localidade de Michafutene, o grau de envolvimento da comunidade na
gestão dos conflitos de terra ainda esta além do desejável, ou seja, é insatisfatório. E esta
situação é muitas vezes ocasionada pelas barreiras impostas pelas estruturas administrativas,
bem como pela corrupção e falta de transparência existente na aquisição dos espaços.
Neste sentido, a primeira hipótese estabelecia que: com a introdução de novos mecanismos
tais como: parcelamento de terrenos e delimitação de terras comunitária mesmo que sejam
primitivos estes métodos, podem ajudar a prevenir os conflitos de terra. De acordo com os
dados obtidos no terreno, valida-se esta hipótese na medida em que verificou-se que um dos
mecanismos usados pela comunidade da localidade de Michafutene para prevenir os conflitos
é o parcelamento dos terrenos.
A terceira e última hipótese, enunciava que: Existe um maior envolvimento das comunidades
locais o que contribui positivamente na Prevenção e gestão de conflitos de terra na
Localidade de Michafutene. Todavia, esta hipótese foi invalidada, na medida em que
constatou-se que o grau de envolvimento da comunidade é insatisfatório, o que demonstra de
forma clara que este é menor, bem como pelo facto de ter-se constatado que os casos de
conflitos de terra nesta localidade tem tendência há aumentar
48
CONCLUSÃO
Em Moçambique, os conflitos de terra tem sido cada vez mas frequentes no seio da
comunidade, neste sentido com vista a fazer face a esta realidade várias acções tem sido
levadas a cabo, tanto pelo governo a nível central, bem como pelos órgãos locais do Estado,
organizações não-governamentais e outros organismos sociais com vista a fazer face a esta
problemática e envolver a comunidade local tanto na prevenção bem como na gestão destes
conflitos. Neste sentido, este trabalho tinha como objectivo analisar o papel das comunidades
locais na gestão e prevenção de conflitos de terra na localidade de Michafutene durante o
período de 2012 a 2016.
No entanto, da análise feita e dos resultados obtidos através dos dados deste estudo, bem
como da revisão da literatura acerca do tema, foi possível concluir que na localidade de
Michafutene os conflitos de terra têm sido originados na sua maioria devido a factores como
transmissão ilegal da terra, dupla atribuição de DUAT’s e invasão dos espaços alheios por
parte de algumas pessoas e empresas. Por outro lado, conclui-se que a comunidade desta
localidade como forma de prevenir-se destes conflitos tem optado por fazer o parcelamento
da terra por si próprio, formar parcerias com as autoridades administrativas da localidade e
distritais de modo que se possa atribuir os DUAT’s aos nativos, bem como os que já possuem
espaço como forma de legalizar estes. E, para a resolução destes conflitos a comunidade tem
optado por fazer reuniões comunitárias, onde debate-se estes casos de conflitos de terra e
outros que possam existir e dai achar-se uma solução. Todavia, quando não se consegue ter
uma solução a este nível estes levam os casos para os tribunais comunitários ou mesmo para
os tribunais judiciais.
Ainda neste estudo, foi possível concluir que, na localidade de Michafutene existe uma
participação da comunidade na prevenção e gestão dos conflitos de terra. Todavia, o grau de
envolvimento desta comunidade neste processo ainda esta longe de satisfazer aquilo que são
as expectativas desta comunidade, o que faz com que muitos residentes desta localidade
classifique o seu grau de envolvimento como sendo insatisfatório, pois estes depara-se com
muitas barreiras por parte das estruturas administrativas locais para poderem participar na
gestão destes conflitos.
De um modo geral, este estudo conclui que, as comunidades locais não têm tido nenhum
papel na prevenção e gestão de conflitos de terra na localidade de Michafutene, isto pelo
facto de estes não serem envolvidos efectivamente na gestão destes conflitos. Este não
49
envolvimento, da comunidade tem feito com que os conflitos de terra ganhem cada vez mas
espaços, pois apenas um grupo limitado de pessoas, muitas vezes composto por líderes locais,
e as estruturas administrativas locais é que tomam a dianteira do assunto, bem como, por
várias vezes estes estão envolvidos no mesmo conflito, o que faz com que não se permita que
a comunidade participe e nem tenha algum papel neste processo.
RECOMENDAÇÕES
No entanto, de acordo com os problemas encontrados no terreno, e para a sua colmatação
recomenda-se:
50
REFERENCIAS BIBLIOGRÁFICAS
I. Fontes secundarias
a) Livros e Documentos
1. Alfredo, Benjamim (2009). Alguns aspectos do Regime Jurídico da Posse e do
Direito de Uso e Aproveitamento da Terra e os Conflitos emergentes em
Moçambique. Submetido de acordo com os requisitos para o grau de Doutor Em
Direito (Lld). Universidade de África de Sul ( UNISA ).
2. Beck, G. (2009). Conflito nas Organizações. Centro Universitário Feevale. Novo
Hamburgo.
3. Caetano, A. e Vala, J (2002), Gestão de Recursos Humanos, contextos, Processos e
Técnicos, 4˚ edição, Edições RH, Lda, Lisboa.
51
13. Chiavenato, I. (2003), Introdução a Teoria Geral da Administração 7 edição Editora
Campus, Rio de Janeiro.
20. FAO, (2010) Monitoria da Boa Governação na Gestão Ambiental e dos Recursos
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21. Ferreira, A. (1996). Novo dicionário da língua portuguesa. Nova Fronteira: Rio de
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26. Matavel et., al (2011). Os Senhores da Terra - Análise Preliminar do Fenómeno de
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28. Muniz & Faria (2007) Teoria de Administração e noções básicas, 5ª Edição, Atlas,
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31. Negrão ,José (1996) Participação das Comunidades na Gestão dos Recursos
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39. Simon, Herbert A., (2004). Comportamento Administrativo: Estudo dos Processos
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40. Stoner, James A; Freeman, R. E., (1995). Administração. Tradução: Alves Calado,
5ª ed., Rio de Janeiro - RJ: Prentice-Hall do Brasil
b) Publicações Oficias
Boletim da República (2009). Resolução nº 17/2009, de 8 de julho. Lei que regula os
serviços Províncias de Agricultura. I Série Número 20. Imprensa Nacional de Moçambique:
Maputo.
Boletim da República (1997). Lei nº 19/97 de 1 de Outubro, que aprova a Lei de Terra.
Imprensa Nacional de Moçambique: Maputo.
c) Páginas da Internet
Baleira, Sérgio. (2010), Estudo sobre conflito de interesses na gestão e exploração da
terra em Moçambique (Os casos dos Distritos de Massinga, Zavala, Macomia e Mecufi),
Maputo. Disponível em: www.oram.co.mz/pdf/Confito%20de%20Interesses%20na
%20Administracao%20da%20T_.pdf. Consultado a 10 de Abril de 2017.
54
P - Membro do Tribunal Comunitário da Localidade de Michafutene, entrevistado no dia 18
de Abril de 2017.
55
Índice
CAPÍTULO 1: INTRODUÇÃO................................................................................................3
1.2. CONTEXTUALIZAÇÃO...............................................................................................4
1.3. JUSTIFICATIVA............................................................................................................6
1.4. PROBLEMATIZAÇÃO..................................................................................................7
1.5. OBJECTIVOS.................................................................................................................8
1.6. HIPÓTESES....................................................................................................................8
56
2.2.1. Comunidade local...................................................................................................18
2.2.2. Gestão.....................................................................................................................19
2.2.3. Conflito...................................................................................................................20
2.2.5. Participação.............................................................................................................21
2.2.5. Expropriação...........................................................................................................22
4.1.1. Localização........................................................................................................41
57
4.3. Mecanismos de acção usados pela comunidade na prevenção e gestão de conflitos
de terra na Localidade de Michafutene................................................................................43
CONCLUSÃO.........................................................................................................................51
RECOMENDAÇÕES..............................................................................................................52
REFERENCIAS BIBLIOGRÁFICAS.....................................................................................53
I. Fontes secundarias............................................................................................................53
58