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OS PROBLEMAS SOCIAIS NO CAMPO BRASILEIRO

PROFESSOR: JOSÉ RIVANDER SOUSA

O trabalho infantil é um dos grandes problemas no campo

Os problemas no campo brasileiro se arrastam há centenas de anos. A distribuição desigual de terras


desencadeia uma série de conflitos no meio rural. Essa questão teve início durante a década de 1530, com
a criação das capitanias hereditárias e o sistema de sesmarias, no qual a Coroa portuguesa distribuía terrenos
para quem tivesse condições para produzir, desde que fosse pago um sexto da produção para a Coroa.

Com isso, poucas pessoas adquiriram grandes extensões de terra, estabelecendo diversos latifúndios no
país. Algumas famílias concentraram grandes propriedades rurais, e os camponeses passaram a trabalhar
como empregados para os detentores de terra. Contudo, a violência no campo se intensificou com a
independência do Brasil, em 1822, quando a demarcação de imóveis rurais ocorreu através da lei do mais
forte, provocando vários assassinatos.

Outro artifício muito utilizado e que desencadeia uma série de conflitos é a grilagem. Esse método é
destinado à falsificação de documentos de posse da terra, em que os grileiros colocam documentos falsos
em caixas fechadas com grilos até que os papéis fiquem com aparência de envelhecidos. Posteriormente, o
imóvel é vendido por meio desse documento falso, ocasionando a expulsão do proprietário, que
normalmente é um pequeno agricultor.

Além desses fatores que beneficiam os grandes detentores de terra, outro problema é a atual organização
da produção agrícola. A mecanização e a utilização massiva de tecnologia no campo têm forçado os
pequenos produtores a venderem suas propriedades e trabalharem como empregados ou migrarem para as
cidades, visto que muitos deles não conseguem mecanizar sua produção, fato que resulta no baixo
rendimento, o que os coloca em desvantagem no mercado.

Diante desse cenário de concentração fundiária, vários movimentos sociais foram criados com o intuito de
reverter esse quadro. O Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), por exemplo, reivindica
a realização da reforma agrária, ocupando latifúndios como forma de pressionar o governo. No entanto,
essas ocupações nem sempre são solucionadas de forma pacífica, desencadeando conflitos no campo.

Outros problemas no campo são a utilização de mão de obra infantil e a exploração do trabalhador. Apesar
da abolição da escravatura ter ocorrido em 1888, o Brasil ainda registra denúncias de trabalho escravo.
Proprietários de algumas fazendas contratam funcionários, que são obrigados a custear a viagem,
alimentação, estadia, etc. Sendo assim, o trabalhador, antes mesmo de iniciar as atividades, já está
endividado, sendo obrigado a trabalhar para quitar todo o “investimento” do patrão.
Portanto, é necessário que políticas públicas sejam desenvolvidas para solucionar esses problemas, de
forma a reduzir a desigualdade no campo, fiscalizar as condições de trabalho, além de oferecer subsídios
para os pequenos produtores rurais.
Reforma agrária
Um dos objetivos da Reforma Agrária é diminuir a predominância dos latifúndios no Brasil.

A Reforma Agrária visa a alcançar as diversas famílias que precisam de um pedaço de terra para cultivar seu alimento.

Reforma agrária é, basicamente, a redistribuição mais justa da terra.


A concentração fundiária no Brasil é resultado de uma distribuição de terra que aconteceu no passado de
forma desordenada e destinada, muitas vezes, a quem não precisava. Sem contar que os lotes de terra eram
gigantescos. Atualmente, grande parte das terras brasileiras se encontra nas mãos de uma minoria de
famílias, o que promove o surgimento de uma enorme quantidade de trabalhadores desprovidos de terras
para cultivar o seu sustento e de sua família.

A disparidade existente na estrutura fundiária brasileira gera a insatisfação de várias classes da sociedade
(trabalhadores rurais, cientistas políticos, sociólogos, entidades religiosas, entre outros), que apoiam a
implantação da reforma agrária. Esse pensamento está alicerçado em dois pontos determinantes: o
primeiro é o fator social e o segundo, o econômico. O fator social está relacionado ao fato de que há milhares
de famílias que precisam de um pedaço de terra para cultivar seu alimento, o que também, de certa forma,
torna-se o seu emprego. Já o fator econômico refere-se aos objetivos ligados à produção de alimentos para
o abastecimento interno, forçando a diminuição dos seus preços, que recentemente foram inflacionados
diante da crise mundial de alimentos. Incluindo ainda que esses pequenos produtores podem se tornar
exportadores para diversos países do mundo, o que contribuiria para a economia do país.

Na tentativa de solucionar os fatores citados acima, a Nova Constituição Federal de 1988 trouxe consigo
um artigo que determina a aplicação da reforma agrária em propriedades rurais que se encontram na
categoria de improdutivas. No entanto, o artigo deixou falhas por não expressar especificamente o que
caracteriza uma propriedade improdutiva. O desprovimento de informações específicas quanto a esse tipo
de propriedade gerou a ascensão dos problemas relacionados à luta pela terra, surgindo, inclusive,
confrontos armados que deixaram mortos e feridos, como o massacre do Eldorado dos Carajás (Pará).

A imprecisão de informações leva os sem-terra a interpretarem “ao pé da letra” o artigo da Constituição


Federal, portanto, quando esse grupo visualiza uma propriedade improdutiva, eles se veem no direito de
invadi-la. Do outro lado da questão, estão os proprietários dessas terras que sempre negam essa condição,
afirmando que elas são produtivas e que a invasão não passa de um ato ilegal e criminoso. Nesse caso, o
proprietário aciona o poder público, exigindo uma atitude.

A incidência de conflitos envolvendo trabalhadores sem-terra tornou-se mais difundida após o surgimento
do maior movimento de luta pela posse da terra no Brasil, o MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais
Sem Terra). Trabalhadores integrados a esse movimento promovem protestos e invasões em diferentes
pontos do Brasil. Algumas atitudes ofensivas por parte do grupo fazem com que o movimento não ganhe a
opinião pública nacional, que seria um ponto positivo para a consolidação da aplicação da reforma agrária
no Brasil. A realidade é que essa questão está longe de ter uma solução, diante da complexidade que a
envolve, principalmente quando se trata de um país capitalista como o nosso.

Manifestação do Movimento dos Trabalhadores Sem Terra, MST ¹

EXERCÍCIOS SOBRE PROBLEMAS SOCIAIS NO CAMPO


QUESTÃO 1
Analise a charge a seguir:

Tirinha sobre as “enxadas paradas” e as “inchadas paradas”


BARALDI, M. Disponível em: http://www.marciobaraldi.com.br. Acesso em: 29 maio de 2015.

A posição crítica assumida pela charge de Márcio Baraldi aponta um problema social no campo e o seu
efeito sobre as cidades, que se expressa pela relação entre:
a) ausência de produtividade e falta de empregos
b) oportunidades no campo e explosão demográfica
c) concentração de terras e êxodo rural
d) ampliação de latifúndios e industrialização
e) ausência de tecnologia no campo e urbanização
QUESTÃO 2
“Índios, posseiros, quilombolas, pescadores, agricultores, ribeirinhos, sem-terra, lideranças religiosas.
Somente nos últimos 30 anos, mais de 1.700 deles foram vítimas de assassinatos em conflitos de terra
ocorridos nos 26 Estados do Brasil. Os dados estão inclusos nos levantamentos divulgados anualmente pela
Comissão Pastoral da Terra (CPT), órgão pertencente à Conferência Nacional dos Bispos que desde 1985
registra números sobre o tema no País.

Do total de 1.270 casos de homicídio registrados nas últimas três décadas – alguns casos incluem mais de
um assassinato –, apenas 108 foram julgados, menos de 10% deles, e somente 28 mandantes dos crimes e
86 executores acabaram condenados por seus crimes. Um total de apenas 114 pessoas punidas em um
período em que ocorreram, por baixo, 1.714 assassinatos”.
SHALOM, D. Menos de 10% dos 1.700 assassinatos em conflitos de terra vão a julgamento. Último Segundo, 04 mar. 2015.
Disponível em: http://ultimosegundo.ig.com.br. Acesso em: 29 maio 2015.

Duas ações públicas de elevada abrangência que, se totalmente implementadas, gerariam a expectativa de
superar ou reduzir o problema relatado na reportagem são:
a) recuperação de terras devolutas e anistia a grileiros
b) reforma agrária e demarcação de terras
c) repressão legislativa e expansão da urbanização
d) delimitação da fronteira agrícola e concessão de benefícios rurais
e) regularização de posses e financiamento de propriedades

QUESTÃO 3
MST ocupa fazenda próxima a Brasília
Um grupo de integrantes do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem-terra (MST) está acampado desde
a manhã desse domingo na Fazenda Três Pinheiro localizada no km 8 da DF-110, em Planaltina, no Distrito
Federal (DF). Antes, o grupo ocupava outra propriedade na mesma região, mas teve que sair após uma
decisão judicial. A área fica a cerca de 40 quilômetros de Brasília.
LOURENÇO, L. Agência Brasil, 04 ago. 2014. Disponível em: http://agenciabrasil.ebc.com.br. Acesso em: 29
maio de 2015 (com adaptações).

A atuação do MST no Brasil pauta-se na luta pela terra e na promoção da reforma agrária, inserindo-se no
contexto de disputas e contestação:
a) ao agronegócio
b) aos pequenos produtores
c) à agricultura orgânica
d) à limitação da mecanização
e) ao trabalho escravo rural

QUESTÃO 4

Mapa da distribuição da população brasileira atualmente


Mapa dos principais conflitos ocorridos em áreas indígenas

Os mapas representam distintos padrões de distribuição de processos socioespaciais. Nesse sentido, a menor
incidência de disputas territoriais envolvendo povos indígenas se explica pela
a) fertilização natural dos solos.
b) expansão da fronteira agrícola.
c) intensificação da migração de retorno.
d) homologação de reservas extrativistas.
e) concentração histórica da urbanização.

QUESTÃO 5
Sobre o conceito de reforma agrária, é correto afirmar que:
a) a reforma agrária é o processo de redistribuição das propriedades produtivas de um determinado país ou
região.
b) a reforma agrária é o processo de redistribuição das propriedades rurais improdutivas para camponeses
que não possuem terras.
c) é uma política de incentivo à produção agrária vinculada ao Ministério do Desenvolvimento Agrário.
d) a reforma agrária é o processo de redistribuição das propriedades rurais improdutivas que só atende que
tem condições para produzir na terra.
e) a reforma agrária é o processo de doação de terras para o Governo, que produzirá alimentos para os mais
carentes. Muitos fazendeiros realizam essa prática em troca de isenção de impostos.

QUESTÃO 6
No Brasil, a reforma agrária nunca foi plenamente realizada. Um dos principais fatores que impedem a sua
realização no país é:
a) A falta de interesse dos camponeses em adquirir propriedades, já que o Brasil possui diversas
propriedades disponíveis para a redistribuição de terras.
b) O baixo preço pago pelo Governo pelas propriedades desapropriadas desincentiva os fazendeiros a
entregarem suas terras para a redistribuição promovida pela reforma agrária.
c) A grande corrupção dos movimentos que lutam em prol da reforma agrária, o que acaba resultando na
não redistribuição das terras conquistadas.
d) O custo de manutenção dos assentados, pois, mais do que apenas desapropriar e redistribuir terras, a
reforma agrária tem que dar condições para o camponês produzir nas terras adquiridas.
e) O pequeno número de terras improdutivas no país faz com que não seja possível realizar nenhuma
redistribuição, já que, segundo a constituição de 1988, somente as terras improdutivas podem ser
redistribuídas.
QUESTÃO 7
Acerca do Movimento dos Sem-Terra (MST) e da Reforma Agrária no Brasil, é CORRETO afirmar que:
a) o MST não recebe o apoio da Igreja e da Pastoral da Terra por invadir e destruir laboratórios de pesquisa
de empresas reflorestadoras e áreas produtivas.
b) organismos de países capitalistas avançados se opõem ao financiamento das marchas do MST em função
dos interesses ligados ao Fundo Monetário Internacional.
c) a imprensa e a mídia brasileira em geral não divulgam as invasões, confrontos e mortes ligados à luta
pela terra, temendo alarmar o público.
d) a Constituição de 1988 estabeleceu ser obrigação do governo realizar a reforma agrária e, diante da
inoperância governamental, o MST articulou ações de ocupação de terras.

QUESTÃO 8
A Constituição Federal de 1988 legitimou a realização da reforma agrária no Brasil. Porém, essa
determinação gerou muitos conflitos em virtude da:
a) falha no artigo da Constituição ao não determinar o que é considerado propriedade improdutiva, dando
margem para diversas interpretações, tanto a favor da reforma agrária quanto contra.
b) falha na execução da lei, uma vez que muitas propriedades produtivas são redistribuídas para os
camponeses.
c) falha na execução da lei, já que muitas propriedades improdutivas são redistribuídas para grandes
latifundiários em vez de serem repassadas para trabalhadores sem-terra.
d) falha no artigo da Constituição, que determina que todas as propriedades agrárias estão sujeitas a serem
redistribuídas de acordo com a vontade do poder público.
e) falha na execução da lei, que não prevê indenizações para os proprietários das terras desapropriadas,
causando, assim, muitos conflitos.

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