Você está na página 1de 6

ESCOLA FAMÍLIA AGRÍCOLA NOSSA SENHORA MARIA ROSA MÍSTICA

Curso de Ensino Fundamental e Ensino Médio Profissional em Agropecuária 3°


ano
Disciplina: Geografia. Monitor: Leandro Ribeiro

Questão agrária no Brasil

Questão agrária abrange problemas que ocorrem no campo brasileiro,


como a concentração de terras e os conflitos, os quais são mais graves nas

áreas de fronteira agrícola.

A questão agrária diz respeito à estrutura fundiária e às relações


produtivas e de trabalho no campo brasileiro. Assim, ela envolve fatores como
a terra, o capital, os meios de produção e a mão de obra. A problemática
agrária brasileira teve início com a distribuição desigual de terras no período
da colonização, e só se agravou com o passar do tempo.

A Revolução Verde e o ingresso maior do capital no espaço agrário


aprofundaram ainda mais as desigualdades e intensificaram os conflitos no
campo, principalmente nas áreas de expansão da fronteira agrícola.

Resumo sobre a questão agrária no Brasil

 A questão agrária abrange problemas no campo


relacionados à estrutura fundiária, ao modo de produção agrícola e às
relações capitalistas e de trabalho que ocorrem no espaço agrário
brasileiro.
 Historicamente a concentração de terras teve início, ainda
no período colonial, com a atribuição de extensos lotes a poucas
pessoas. Com a instituição da propriedade apenas pela compra, novos
problemas surgiram, como a grilagem de terras.
 A modernização agropecuária e a maior introdução do
capital no campo aprofundaram ainda mais as desigualdades no campo
brasileiro, agravando o problema da concentração de terras e
intensificando o processo de êxodo rural.
 Nas áreas de expansão da fronteira agrícola brasileira,
sobretudo na região Norte, observa-se uma escalada dos conflitos e da
violência no campo.
 A reforma agrária se processa lentamente, e é uma das
principais temáticas da questão agrária brasileira.

O que é questão agrária?

A questão agrária pode ser definida como o conjunto de atividades que


se desenvolvem no campo somado à sua estrutura, organização e ao modo
de produção agrícola. A questão agrária envolve, ainda, as relações entre
trabalho e capital e entre a terra e o capital no meio rural, o que leva autores,
como Girardi, a defini-la como “o conjunto de problemas inerentes ao
desenvolvimento do capitalismo no campo”.|1|

Devido à similaridade entre os termos, a questão agrária pode ser


confundida com a questão agrícola, e, embora haja correlação entre ambas,
elas dizem respeito a coisas diferentes.

A questão agrícola se refere à produção agropecuária e às cadeias


produtivas no campo, com ênfase nos gêneros agrícolas que são produzidos,
na quantidade, no local e nos demais aspectos referentes ao processo
produtivo.|2| Todos esses elementos estão também inseridos na questão
agrária, mas esta é mais abrangente, visto que agrega os meios e modos de
produção, a forma de organização do espaço agrícola e as relações sociais que
ocorrem nesse espaço.

Fatores que envolvem a questão agrária no Brasil

A temática da questão agrária é bastante estudada e debatida tanto nos


meios sociais quanto nos meios acadêmicos. Sua análise pode ser feita com
base em diferentes perspectivas, como por meio:

 da geografia;
 da história;
 da sociologia;
 da economia.

Em todas elas, é possível distinguir fatores em comum que consistem


em preocupações centrais para a problemática agrária brasileira.

O primeiro e talvez mais antigo deles são o latifúndio e a concentração


de terras no Brasil, peças-chave no entendimento da questão agrária. Atrelado
a eles está, em uma escala mais ampla, a questão da estrutura
fundiária brasileira e a forma como acontece a distribuição de terras no campo.
Esse aspecto envolve o tamanho das propriedades e a sua quantidade bem
como o número de estabelecimentos que pertencem aos pequenos, médios ou
grandes proprietários de terras.

Dentro desse escopo, a questão agrária se ocupa também de problemas


como a grilagem de terras, os conflitos que acontecem no campo, motivados
pelas disputas territoriais e pelo acesso à terra, a demarcação de terras
indígenas e, tão importante quanto, a reforma agrária, um dos principais
aspectos da questão agrária brasileira na atualidade.

Com o passar do tempo e o advento de novos meios e técnicas de


produção aliado à inserção do capital no campo, surge um novo modo de
produção agropecuária. Desse processo decorre também a transformação no
emprego de mão de obra nas lavouras e, por conseguinte, nas relações de
trabalho no meio rural, sendo possível fazer a distinção entre agricultores
familiares ou camponeses e grandes produtores rurais, sendo boa parte destes
associada ao agronegócio.

Assim, além da terra propriamente dita, outros fatores importantes que


permeiam a questão agrária brasileira são o capital e as relações de trabalho
no campo. Mais recentemente, a exploração dos recursos naturais e as
ameaças ao meio ambiente têm integrado igualmente a problemática agrária
brasileira.

Histórico da questão agrária no Brasil

Os problemas no campo e a concentração fundiária no


Brasil tiveram início ainda no período da colonização. À época, as terras
brasileiras eram de propriedade da Coroa portuguesa, e a sua partilha se deu
inicialmente por meio das capitanias hereditárias, que eram doadas a pessoas
de confiança da Coroa. Essas propriedades serviam tanto para fins produtivos
quanto para o estabelecimento português no Brasil, garantindo, assim, domínio
sobre o novo território.

Com as capitanias surgiu o sistema de sesmarias, que funcionava


também por doação e deveria ser uma propriedade produtiva. Esse sistema de
atribuição ficou em vigor entre os séculos XVI e XIX, tendo fim em 1822. No
intervalo de tempo que vai até 1850, não havia um instrumento que legislasse
sobre a propriedade de terras no país, e as chamadas terras devolutas, isto é,
aquelas terras que foram abandonadas pelos seus antigos donos (sesmeiros,
no caso) e não pertenciam à Coroa, podiam ser livremente ocupadas.

Esse quadro se alterou em 1850, quando foi promulgada a Lei de


Terras. A partir dela, a única forma de se adquirir propriedades rurais era por
meio da compra. O novo instrumento ampliou o processo de concentração de
terras que estava em curso no país, pois limitou o escopo daqueles que
poderiam adquiri-las. Além disso, grandes proprietários lançaram mão de
táticas como a grilagem, que nada mais é do que a falsificação de documentos,
para aumentarem as suas áreas.

As pessoas que não tinham como adquirir a terra acabavam se tornando


assalariados nas propriedades rurais, o que inclui grande parcela dos
imigrantes europeus que chegavam ao país no período, os quais vinham
atraídos pela (muitas vezes falsa) esperança de terem seus próprios lotes. A
Lei de Terras representou um marco na questão agrária brasileira por limitar a
aquisição de terras a um determinado grupo social e acentuar, dessa forma,
as desigualdades no campo.

Um século mais tarde, na segunda metade do século XX, a


modernização produtiva no campo que chamamos de Revolução Verde,
mediada por políticas governamentais, causou profundas mudanças na
estrutura produtiva do país.

A adoção do modelo produtivo do agronegócio, intensivo em capitais e


baseado na monocultura e nas grandes propriedades de terra, bem como o
avanço da fronteira agrícola para as regiões central e norte do
Brasil aumentaram o número de trabalhadores rurais desempregados,
intensificaram o processo de concentração de terras e suscitaram diversos
conflitos violentos no campo. O quadro que se observa atualmente no país é
derivado desse processo.

Questão agrária no Brasil atual

A questão agrária brasileira possui alguns atores principais, são eles:

 Estado;
 mercado;
 latifundiários;
 agroindústrias;
 camponeses;
 pequenos e médios proprietários de terra;
 comunidades tradicionais (como os indígenas e
quilombolas);
 movimentos sociais e outras entidades.

O problema central que permeia o espaço agrário brasileiro é, ainda hoje,


a concentração fundiária. Dados do Instituto Nacional de Colonização e
Reforma Agrária (Incra) para o ano de 2018 mostram que, das 6.574.830 de
propriedades rurais registradas no país, 1,47% possui mais de mil hectares. Em
área, esse valor equivale a 57,69% de todos os mais de 775 milhões de
hectares ocupados por propriedades no Brasil, demonstrando, assim, que há
uma extensa área concentrada em poucos estabelecimentos rurais.

Grande parte dos latifúndios se encontra em áreas de fronteira agrícola,


para onde houve a expansão de monocultivos como o da soja, que hoje é a
principal commodity agrícola brasileira. Tratamos aqui especialmente
da região Norte do país, para onde essa fronteira se desloca atualmente.
Lavoura de soja nas proximidades do Parque do Xingu, na região Norte
do Brasil.

Muito da mão de obra e dos pequenos e médios produtores dessas


áreas acabou por se deslocar para os centros urbanos em função da
modernização produtiva, que extinguiu postos de trabalho, da competitividade
imposta e até mesmo por conta da grilagem de terras, ameaças e outros
motivos que provocam a sua expulsão do campo. Diante disso, temos que
os principais conflitos e focos de violência no campo atualmente se
concentram nas áreas de expansão da fronteira agrícola e mineral, atingindo
pequenos produtores, posseiros e comunidades tradicionais.

A reforma agrária se encontra no cerne da questão agrária brasileira,


visando à desapropriação de latifúndios improdutivos e redistribuição dessas
terras. O Incra é o responsável pela sua execução, criando assentamentos para
a alocação das famílias que não possuem terras próprias nem condições para
a sua aquisição. Dados do instituto para 2017 mostram que o Brasil tem
972.289 famílias alocadas em 9374 assentamentos, totalizando 87.978.041,18
hectares de terras.

A problemática ambiental, a exploração em ritmo acelerado dos


recursos naturais e a abertura de novas áreas produtivas por meio de práticas
como a da queimada, por exemplo, têm ganhado também cada vez mais
importância e urgência no debate da questão agrária brasileira.

Você também pode gostar