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UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO CARLOS

CÂMPUS LAGOA DO SINO


CENTRO DE CIÊNCIAS DA NATUREZA
ENGENHARIA AGRONÔMICA - PERFIL 2

DESENVOLVIMENTO RURAL E AGRICULTURA FAMILIAR


- REFORMA AGRÁRIA -

Gabriela de Almeida Nunes Vieira RA: 804292


Gabrielle Brandão Barbosa Iacovino RA: 804293
Giovanna Fogaça Rozza de Paiva RA: 800227
João Gabriel Ramalho Pinto Cavaleiro RA: 806169
João Vitor Matos Sgarzi Batista RA: 804295
Victória Oliveira Araújo RA: 801785

BURI (SP)
2022
A Reforma Agrária no Brasil

Ao que se diz respeito ao Brasil, pode-se considerar um país majoritariamente


agrário com altas concentrações de terras nas mãos de poucas pessoas. Isso
acontece devido ao desenvolvimento histórico rural brasileiro, marcado por
desigualdades, se tornando, assim, um empecilho para o crescimento do meio rural
e, consequentemente, do território nacional.

Em 1850, o Brasil adotou a política de Lei de Terras, a qual estabeleceu que a


aquisição de terras no país seria possível mediante a compra. Sendo assim, essa lei
dificultou o acesso à terra por negros e imigrantes, havendo, dessa maneira,
desigualdade e concentração de terras em latifúndios. Porém no final da Segunda
Guerra Mundial, a reforma agrária foi um meio utilizado para conseguir acabar com a
fome no Brasil, pois a Europa estava destruída, e isso afetou os brasileiros com um
aumento na pobreza, e assim, a fome se tornou uma pauta a ser erradicada.

Logo mais, na década de 1960, o Brasil passou pela chamada Revolução


Verde, a qual beneficiou os latifúndios ao incentivar o aumento da produtividade
agrícola com o incremento de pacotes tecnológicos no meio rural. Isso teve como
consequências o êxodo rural, o aumento de concentrações de terras e a alta pobreza
no campo. Ao longo da história brasileira, as políticas agrárias passaram por diversas
mudanças, porém em cada governo, esse assunto era tratado como prioridade ou
não.

Ao se referir à reforma agrária e ao Movimento dos Trabalhadores Rurais sem


Terra (MST), vale ressaltar que em 1950 já existia o campesinato e a luta pela terra
nas regiões empobrecidas do Nordeste, que mesmo ganhando força nos anos
seguintes e tendo um decreto promulgado a favor da reforma, não alcançou êxito
devido ao cancelamento pelo presidente João Goulart, no golpe militar de 64. O
regime imposto na época foi fortemente apoiado pela classe latifundiária, reprimindo
os movimentos sociais do campo. No decorrer dos anos, a Confederação Nacional
dos Trabalhadores na Agricultura (CONTAG) obteve uma enorme rede de sindicatos
rurais e inúmeros filiados.
“Os sindicatos também proporcionaram um espaço para a formação da base
social e de lideranças no meio dos trabalhadores rurais e promoveram a discussão de
temas agrários. Não obstante a aliança entre os militares e grandes proprietários de
terra, a CONTAG e muitos dos seus sindicatos encontraram formas engenhosas de
estimular diversas lutas por terra, muitas delas de maneira discreta, em comunidades
espalhadas pelo interior do país. “(Carter Miguel, 2010, p.38)

Em meados de 1980, após a Ditadura Empresarial-Militar, surgia o Movimento


dos Trabalhadores Rurais sem Terra (MST), o qual estabeleceu a ocupação de terras
como estratégia de progressão da reforma agrária. Uma década depois o movimento
já tinha se consolidado e se tornado o maior da América Latina. Entre os anos de
2000 a 2006, dezenas de associações de trabalhadores rurais envolveram-se na
movimentação pela reforma agrária. Encorajaram-se ao ver as ações e táticas
realizadas pelo MST. Até o ano de 2006, em média 1900 assentamentos agrícolas
estavam associados ao MST. (DATALUTA 2009a, 2008b). O MST se tornou uma
considerável influência até mesmo internacionalmente, tendo voz em lugares como o
Fórum Social Mundial e a Via campesina (associação de lavradores em 69 países).
Ao levantar a questão agrária na agenda pública do Brasil, despertou interesse a nível
mundial em relação à redistribuição fundiária. Divergindo opiniões políticas, esse
movimento é encarado como desenvolvimento e justiça pela esquerda, e invasão,
marginalismo e até mesmo terrorismo pelo conservadorismo da direita. E apesar das
duas visões serem distintas, ambas se fundamentam com exagero na revolução do
MST, superestimando sua influência no país.

No Brasil, após a redemocratização surgiram pressões pela reforma agrária,


sendo que essa política passou a constar na Constituição Federal de 88, se tornando
uma possibilidade de igualdade social no campo, como cita Costa, 2014:

“A reforma agrária é uma categoria heterogênea, que abrange vários


significados e múltiplas dinâmicas sociais. Pode representar qualquer
reforma política e social que visa a desapropriação de terras por
trabalhadores camponeses ou pelo Estado com a intenção de atenuar a
desigualdade fundiária. Pode ser compreendida, ainda, dentro de um
sintetismo comum aos movimentos campesinos, como “ceder a terra para
quem nela trabalha”. (COSTA, 2014, pg.5)
Novos projetos surgiram, sendo que para utilização de terras no Brasil o
indivíduo deveria cumprir as funções sociais das terras, isto é, estar em cumprimento
com as legislações ambientais e do trabalho e outras associadas ao meio rural e
social. Caso não cumprisse essas funções, a terra seria inadequada e passaria para
fins de reforma agrária.

Dessa maneira, no início dos anos de 1990, observa-se um crescente número


de ocupações de terra, e em 1996, há um gigantesco aumento desses números, pois,
em cumprimento com a Constituição de 88, os grandes proprietários não deixariam
que o governo implementasse a reforma agrária nas terras desapropriadas. Esse
aumento nas ocupações permaneceu até 99, e nessa época, o Movimento dos
Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) já lutava para que a reforma agrária prevista
pela Constituição fosse rigorosamente implementada.

Fonte: Dados baseados no Dataluta (2017).

No gráfico 01 apresentado pode-se observar que os anos de 95 a 99


apresentaram altos números de ocupações de terras, pois durante o mandato de
Fernando Henrique Cardoso, houve muito estímulo para a política de reforma agrária,
sendo assim, os grandes produtores apossaram das terras para não perder para o
governo. Porém, houve uma queda nos números no início dos anos 2000,
aumentando novamente a partir de 2003 com o início do governo de Luíz Inácio Lula
da Silva, sendo que esses números se mantiveram acima da média até o ano de
2009. O grande acréscimo de ocupações deve-se ao fato de o governo Lula ser uma
promessa para a reforma agrária. Nos anos de 2011 a 2016, no governo da Dilma, foi
um período decaído para a reforma agrária, com o MST perdendo forças, havendo
redução nas ocupações por razão da falta de estímulo às desapropriações.

Reforma agrária e o agronegócio

Quando se fala do termo agronegócio e de tudo que ele representa hoje na


nossa sociedade, é interessante trazer que tal palavra é recente dentro do nosso
vocabulário, e foi adotada como uma tentativa de comercializar o cenário
agroindustrial, que na época vinha de fortes crises. Ainda, segundo Alentejano, 2020:

“A palavra agronegócio é recente na língua portuguesa, não existia


até os anos 1990. Trata-se de uma tradução da palavra inglesa agribusiness.
A própria Associação Brasileira do Agronegócio –ABAG –era denominada
Associação Brasileira do Agribusiness até os anos 2000.” (Alentejano, 2020,
pg.3)

Do ponto de vista de vários estudos agrários contemporâneos, o termo


agronegócio utilizado para definir os modelos de produção agropecuários que se
diferem do campesinato, criam um muro entre a agricultura familiar e o agronegócio,
apresentando várias problemáticas e, segundo De Carlí, 2021, os problemas variam
de:

“Pautar as políticas agropecuárias a partir de uma lógica urbana;


enquadrar a maior parte dos médios produtores rurais, e alguns pequenos
produtores, como inimigos; classificar como hegemônica as pequenas e
médias empresas rurais; criticar toda e qualquer produção de escala, ainda
que seja dentro da lógica do cooperativismo e do campesinato; igualar na
mesma escala política uma multinacional e uma pequena empresa rural; não
se ater às especificidades de cada produção regional; não se ater às
especificidades de cada tipo de produto, entre outros.” (De Carlí, 2021, pg.3)

Além disso, ao analisar o conceito de agronegócio da perspectiva envoltória da


reforma agrária no cenário atual, nota-se um poder do latifúndio que hegemoniza o
agronegócio, bloqueando as ações da reforma agrária, bem como excluindo e
marginalizando movimentos sociais e povos do campo (Alentejano, 2020).

Tais atitudes reconfiguram o cenário dessa luta, a dividindo em dois lados: No


primeiro, observa-se a resistência de camponeses, indígenas e quilombolas tentando
reconquistar terras que em outro momento foram suas, mas hoje são partes de
latifúndios. Já no segundo os movimentos sociais do campo entram em pauta,
reivindicando um modelo agrário mais sustentável ambientalmente, menos violento
socialmente e que faça bom uso de conceitos agroecológicos. (Alentejano, 2020).

Considerações finais

A reforma agrária no Brasil era e continua sendo um sistema extremamente


necessário para o desenvolvimento do país, o qual deve ser efetivado no território
nacional de forma favorável e suscetível. Levando em consideração que o Brasil
possui aproximadamente 850 milhões de hectares de terras com solos férteis para
produção agrícola, somente um décimo desse valor é aproveitado com agricultura de
grãos, havendo, assim, um contra senso e um uso desregulado das terras, as quais
poderiam estar sendo usadas para produções agrícolas por pessoas interessadas e
sustentáveis, como a agricultura familiar.

Na história brasileira, diversos movimentos foram criados para tentar combater


a concentração de terras nas mãos de poucos indivíduos. A Constituição de 1988
previa a função social da terra e, de acordo com isso, as áreas férteis deveriam ser
destinadas ao plantio e ao pastoreio, servindo como fonte de subsistência a
produtores rurais.

Dessa forma, analisando-se de forma geral a política da reforma agrária, uma


vantagem a se considerar é o direito de superfície concedido à pessoa ou família
assentada nesta área, isto é, direito real sobre o lote alheio podendo eles, a exemplo,
financiar a produção e dar a plantação como garantia, sendo que isso pode possibilitar
uma “rotação” de terras entre os assentados, beneficiando outras famílias. Outra
vantagem a ser considerada é a igualdade de distribuição de latifúndios por
latifundiários, facilitando, assim, o acesso de famílias necessitadas às terras que
estão abandonadas, tornando-as produtivas.
Bibliografia

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