Você está na página 1de 18

MODELO DE PLANEJAMENTO ESTRATÉGICO PARA AGRICULTURA

FAMILIAR COLETIVA

Renato Luiz Sproesser1; Dario de Oliveira Lima Filho1; Reginaldo de Oliveira


Vilanova1; Patrícia Campeão1
1
Departamento de Economia e Administração, Unidade 10, Av. Senador Filinto Müller,
Vila Ipiranga. –- Caixa Postal 549, CEP 79070-900 - Campo Grande – MS.
E-mail: drls@nin.ufms.br

RESUMO

O modelo de reforma agrária Agricultura Familiar Coletiva que


brasileira tem sido amplamente objetiva viabilizar o empreendimento
discutido e, mesmo com os avanços das famílias, por meio do atendimento
obtidos nestes últimos anos, carece de fatores condicionantes e do
ainda de melhor reflexão conceitual e cumprimento de um conjunto de etapas
principalmente de ferramentas de gestão integrantes do modelo. A importância
para sua consolidação. As dúvidas do trabalho proposto é, então,
levantadas quanto à viabilização sócio- compreendida como uma contribuição
econômica da agricultura familiar para a busca de soluções no que se
podem ser minimizadas ao adotar-se um refere ao desenvolvimento da
modelo de planejamento adequado às agricultura familiar.
atividades desenvolvidas, as quais são
baseadas, quase que em sua totalidade, Palavras-chave: Reforma agrária,
na agricultura familiar. Assim, este desenvolvimento rural,
trabalho apresenta um Modelo de desenvolvimento agrícola.
Planejamento Estratégico para

1. INTRODUÇÃO

1.1 A Reforma Agrária no Brasil

No Brasil, a luta pela reforma


questão agrária1, havendo assim a
agrária é recente, quando comparada
promoção justa da distribuição de terra
aos movimentos sociais que, no início
e o fomento de políticas de apoio à
do século XX, democratizaram e
viabilizaram o acesso à propriedade da
terra e mudaram a face da Europa, o que 1
PAULILLO (2001) enfatiza que é necessário
contribuiu para acelerar os avanços diferenciar conceitualmente a questão agrária da
sociais daquele continente, moldado, questão agrícola. A primeira refere-se à
problemática de como produzir e de que forma
em grande parte, pelo enfrentamento da ocorrerá a produção agrícola. A segunda
procura responder o que, quanto e onde
produzir.
agricultura familiar2 (TEÓFILO & O Brasil, historicamente, optou pelo não
MENDONÇA, 2001). enfrentamento dessa questão. Verifica-se que,
na Primeira República ou República e do crédito rural fortemente subsidiado
Velha (1889-1930), a economia e abundante para grandes produtores.
brasileira era Na década de 70, os governos
agroexportadora, tendo o café como militares implantaram uma política de
principal gerador de divisas. Neste desenvolvimento agrícola para a
período, grandes áreas foram modernização do campo, por meio da
incorporadas ao processo produtivo, o qual o Brasil conheceu uma intensa
número de propriedades e de transformação em sua agricultura até
proprietários aumentou em relação às 1985. Com a industrialização da
décadas anteriores, o que já era um agricultura e da agroindustrialização
avanço para época; entretanto a nacional, o Brasil obteve ganhos
estrutura fundiária manteve-se estática consideráveis de produção e
(PAULILLO, 2001). Esta evolução teve produtividade a partir desta década,
a participação dos imigrantes europeus principalmente nos setores que
e japoneses, que passaram a apresentavam vantagens comparativas
desempenhar papel relevante para a no mercado agrícola mundial. Assim, a
agricultura da época. questão agrária não foi enfatizada, pois
Durante a década de 1930 até o “acreditava-se que o crescimento
fim da Segunda Guerra Mundial, em produtivo da agricultura nacional
1945, não houve avanços significativos resolveria os principais problemas
na questão agrária, que começou a ser econômicos do país” (PAULILLO,
discutida enfaticamente a partir de 2001). Entretanto esse crescimento
1945, pois passou a ser considerada beneficiou apenas grandes proprietários
como uma barreira ao desenvolvimento rurais praticantes da monocultura
do país. No final dos anos 50 e início exportadora e empresas de
dos 60, os debates ampliaram-se com a comercialização agrícola.
participação popular. As chamadas As prioridades adotadas pelo
reformas de base, dentre as quais a Governo Federal, principalmente até
agrária, eram consideradas essenciais meados dos anos 80, não contemplaram
pelo governo para o desenvolvimento a agricultura familiar, mas apenas
econômico e social do país. grandes propriedades baseadas no
Durante o regime militar modelo patronal de produção,
brasileiro (1964-1984), a reforma corroborando para o agravamento das
agrária foi indicada como uma das desigualdades sociais presenciado no
prioridades. Entretanto, em vez de Brasil até hoje.
promover a reforma agrária, esse regime Dessa forma, foram poucos os
incentivou o desenvolvimento agrícola avanços notados na questão agrária, e,
por meio da modernização do latifúndio somente, a partir de meados da década
de 1990, esta questão é inserida, pelo
governo federal, no contexto da busca
2
Quanto à conceituação e especificidades da de alternativas políticas que atenuassem
agricultura familiar, diversos autores podem ser a grande disparidade da realidade
consultados, entre eles VEIGA (1991),
ABRAMOWAY (1992), e WILKINSON
socioeconômica da agricultura brasileira
(1996). (PAULILLO, 2001).
Entre os anos de 1950 e 1980, a
produção agrícola cresceu a uma taxa
extraordinária de 4,5% ao ano, a área
cultivada expandiu-se a 1,5% ao ano,
mas o emprego agrícola cresceu em fazendas demitiram a maioria de seus colonos e
apenas 0,7% ao ano (BINSWANGER trabalhadores, muitos dos quais migraram para
et al; 2001). Nesse período, as grandes favelas urbanas, ou terminaram como
trabalhadores sazonais não-qualificados, sido contemplados nas discussões
em condições informais. Um caminho travadas entre os diversos atores do
de crescimento alternativo, baseado em cenário nacional. Os trabalhadores do
fazendas familiares menores poderia ter campo, por meio de sua própria
trazido oportunidades de emprego rural organização, obtiveram força política e
e autoemprego para muitas dessas articularam-se o suficiente para
pessoas e ter absorvido, de forma conquistar seu espaço nos poderes
proveitosa, uma parcela substancial da constituídos (COMPARATO, 2001).
população em rápido crescimento A partir de 1994, a reforma
(BINSWANGER et al; 2001). agrária tornou-se uma política
TEÓFILO & MENDONÇA
compensatória, ou seja, a implantação
(2001) apontam que a “vitória da de assentamentos rurais era realizada de
posição conservadora liberal levou ao acordo com a territorialização da luta
que se denomina ‘a modernização pela terra e, também, com a
conservadora do campo brasileiro’, regularização das terras de posseiros nas
fonte de agravamento das desigualdades áreas de fronteira da Amazônia.
sociais e de elevados níveis de pobreza Entretanto, mesmo com os
rural e urbana”. avanços implementados, este modelo de
A partir da década de 90, os reforma agrária não possibilita
trabalhadores rurais foram inseridos nas condições de desenvolvimento para a
discussões sobre a questão agrária, uma sociedade formada a partir dos
vez que, até então, estes não tinham assentamentos, uma vez que,
isoladamente, grande parte das famílias
não consegue tornar economicamente
viável o seu empreendimento e cria uma
dependência viciosa das políticas
públicas assistencialistas destinadas a
ampará-las.

1.2. Agricultura Familiar

A agricultura familiar é uma Assim, o país deixou de colher os


forma de produção presente no mundo benefícios decorrentes de tal ação. Estes
todo. No Brasil é o maior segmento em benefícios estariam relacionados ao
número de estabelecimentos agrícolas e sucesso econômico do país, de acordo
tem significativa importância com VEIGA (1991) apud SILVESTRO
econômica em diversas cadeias et. al. (2001).
produtivas. É mais do que necessário, Segundo SILVESTRO et. al.
então, reconhecer a importância (2001), ao reconhecer e estimular esta
econômica e social dos agricultores que forma de produção agrícola, os países
se dedicam a esse tipo de produção para desenvolvidos, além de garantir a
o processo de desenvolvimento regional segurança alimentar, possibilitaram o
e nacional (SILVESTRO, 2001). nascimento entre os agricultores, de
Entretanto, diversas regiões do país não uma classe média forte que contribuiu
incluíram este segmento incluído de decisivamente para criar um mercado
forma definitiva em suas políticas de interno dinâmico capaz de impulsionar
apoio ao desenvolvimento rural. o desenvolvimento destes países.
Deste modo, a agricultura familiar como verificou-se nos países desenvolvidos, e
está diretamente relacionada ao possui a capacidade de organizar socialmente
desenvolvimento do país, já que determinadas regiões, por tratar-se de uma
acarreta o crescimento econômico, alternativa na construção de espaços para o
homem do campo. Segundo BAIARDI (1999), a
Particularmente no caso do setor agricultura familiar no Brasil pode ser
agropecuário, verifica-se a subdividida em cinco categorias:
predominância de estabelecimentos de Tipo A – tecnificado, mercantil,
pequeno porte. Do total de 4,8 milhões “farmerizado”, predominante no
de estabelecimentos agropecuários Cerrado;
existentes no Brasil em 2002, 49,4% Tipo B – integrado verticalmente
possuíam até 10 ha., 39,4% possuíam em cadeias agro-industriais e mais
entre 10 e 100 ha. e apenas 1% recentemente em perímetros irrigados;
possuíam acima de 1000 ha Tipo C – agricultura familiar
(CAMPEÃO, 2004). tipicamente colonial ligada à produção
Os agricultores familiares3 de produtos in natura;
representavam em 2000, 85,2% do total Tipo D – agricultura familiar
de estabelecimentos rurais brasileiros, semi-mercantil (sem relação com a
ocupando 30,5% da área total e sendo imigração européia não ibérica),
responsáveis por 23,6% do Valor Bruto predominante no Nordeste (NE) e no
da Produção total da pecuária de corte, Sudeste (SE);
52,1% da pecuária de leite, 58,5% dos Tipo E – agricultura familiar de
suínos e 39,9% das aves e ovos gênese semelhante ao Tipo D,
produzidos, totalizando 37,9% do Valor caracterizada pela marginalização do
Bruto da Produção Agropecuária processo econômico e pela falta de
Nacional. No entanto, receberam apenas horizontes.
25,3% do financiamento destinado ao Os processos de modernização da
setor agrícola (INCRA, 2000). agricultura acabaram contribuindo para
a grande diversidade da agricultura
familiar brasileira, o que exige uma
classificação das formas possíveis desse
tipo de produção, como a sugerida pelo
Programa Nacional de Fortalecimento
da Agricultura Familiar - PRONAF4
(tabela 1.1).

3
A metodologia utilizada nesse estudo 4
Criado em 1996, através do decreto nº 1.946, o
considerou como familiares os estabelecimentos
PRONAF tem como objetivo promover o
que atendiam, simultaneamente, às seguintes
desenvolvimento sustentável dos agricultores
condições: a direção dos trabalhos do
familiares, aumentando sua capacidade
estabelecimento era exercida pelo
produtiva, gerando empregos e melhorando sua
proprietário/produtor; e o trabalho familiar era
renda.
superior ao trabalho contratado.
TABELA 1.1 Classificação da agricultura familiar segundo o PRONAF.
Assentados da reforma agrária Grupo A
Proprietários, posseiros, Grupo Trabalho familiar é a base da exploração do estabelecimento.
arrendatários, parceiros ou Renda bruta anual de até R$1.500,00.
B
concessionários da reforma
agrária. Grupo Trabalho familiar predominante, com recurso eventual ao
trabalho assalariado. Renda bruta anual familiar entre
Residem na propriedade ou C
R$1.500,00 e R$10.000,00.
em aglomerado urbano ou
rural. Grupo Trabalho familiar predominante, com até 02 empregados
permanentes e recurso eventual ao trabalho de terceiros.
Área de até 04 módulos fiscais D
Renda bruta anual familiar entre R$10.000,00 e R$30.000,00.
Fonte: MDA/SAF - Plano de Safra 2001/2002 apud ROCHA & CERQUEIRA (2004)

Segundo ROCHA & Segundo ROCHA &


CERQUEIRA (2004), tradicionalmente CERQUEIRA (2004), a agricultura
a política agrícola brasileira sempre teve patronal é, reconhecidamente, um fator
como foco as grandes e médias de expulsão da mão-de-obra no campo;
propriedades capitalistas. O resultado em contrapartida, os estabelecimentos
foi uma crescente marginalização dos familiares são os principais
pequenos agricultores familiares, responsáveis pela geração de postos de
reproduzindo um padrão de trabalho no meio rural brasileiro,
desenvolvimento rural bastante respondendo por 76,9% do pessoal
excludente e desigual. ocupado. Tradicionalmente policultora,
O processo de modernização da a produção familiar está mais próxima
agricultura brasileira gerou o da sustentabilidade ecológica, buscando
agravamento da chamada “questão a diversificação de culturas e o
agrária”. Os problemas sociais no aproveitamento, ao máximo, dos
campo não só permaneceram, mas recursos da propriedade.
também aumentaram, refletindo-se no O fortalecimento das empresas
aprofundamento das desigualdades agropecuárias de pequeno porte surge,
sociais e no aumento da pobreza nas também, como uma alternativa à
áreas rurais, com reflexos nos grandes inclusão social e à diminuição das
centros urbanos (CAMPEÃO, 2004). disparidades sócio-econômicas entre
O acirramento das questões territórios. De fato, regiões com maior
sociais no país, o aumento dos conflitos número de estabelecimentos ligados à
no campo, as reivindicações dos agricultura familiar, apresentam valores
movimentos sociais são alguns fatores de produção inferiores ao de regiões
que colocaram no centro do debate rural com estabelecimentos de maior porte,
a necessidade de repensar a política além de usufruírem de menores índices
agrícola e reconhecer a importância dos de financiamento. A tabela 1.2 ilustra
produtores familiares, tanto em termos esses valores.
socioeconômicos quanto ambientais
(CAMPEÃO, 2004.).
TABELA 1.2 - Participação das regiões no número de estabelecimentos, área, valor
bruto da produção e financiamento total destinado aos agricultores
familiares (em %).
Região Estabelecimentos Área VBP Financiamento
Nordeste 49,7 31,6 16,7 14,3
Centro-Oeste 3,9 12,7 6,2 10,0
Norte 9,2 20,3 7,5 5,4
Sudeste 15,3 17,4 22,3 15,3
Sul 21,9 18,0 47,3 55,0
Brasil 100,0 100,0 100,0 100,0
Fonte: ROCHA & CERQUEIRA (2004)

O fortalecimento da agricultura benefício. As dificuldades de acesso à


familiar vem sendo alvo de ações informação, principalmente em relação
institucionais em diversos âmbitos, ao conhecimento de mercado, a falta de
como a iniciativa do Ministério da infra-estrutura de armazenagem ou
Ciência & Tecnologia (MCT)/Conselho estocagem, de técnicas de
Nacional de Pesquisa(CNPq) em acondicionamento e de conservação de
contribuir na busca de alternativas matérias-primas, e a falta de
tecnológicas adaptadas às escalas e às sensibilização das empresas ao conceito
possibilidades da produção de pequeno de qualidade face às exigências dos
porte. Essa ação envolve o consumidores, são alguns dos principais
desenvolvimento de conhecimento obstáculos encontrados pelas pequenas
capaz de viabilizar processos de gestão, e médias empresas (MENDONÇA et
de organização da produção, de al., 1997).
adequação do aparato normativo Por conseguinte, formas
(ambiente institucional), de promoção alternativas de organização de sistemas
da diferenciação de produtos, visando a produtivos têm sido buscadas com o
criação de oportunidades de inserção objetivo de promover maior inserção
competitiva dos produtores rurais de social e um desenvolvimento
economia familiar (MCT/CNPq, 2001). econômico duradouro, reduzindo as
De fato, pequenas e médias dependências de fatores externos.
empresas agropecuárias e Entretanto, os resultados obtidos
agroindustriais encontram diferentes na agricultura familiar brasileira
obstáculos para competir num campo demonstram, ainda, a necessidade de
concorrencial cada vez mais acirrado e modelo de gestão que a torne sócio e
diante de um mercado consumidor mais economicamente viável e que garanta a
exigente na aquisição de produtos com competitividade da economia local.
qualidade e com uma boa relação custo-

2. JUSTIFICATIVA

Tais aspectos levam a crer que o como uma resposta ao modelo vigente,
atual modelo de desenvolvimento e sua que ameaça a conservação e a
conseqüente base técnica devem sofrer reprodução dos recursos naturais e
modificações. Assim, a proposta de um apresenta uma situação de
modelo de planejamento para a insustentabilidade política e social,
agricultura familiar coletiva, surgiria decorrente da desigualdade na
distribuição da riqueza e da qualidade para a agricultura familiar deve elevar as
de vida (HUEBRA, 2002). oportunidades sociais, a viabilidade e
Para ser sustentável, o modelo competitividade da economia local. CAMPEÃO
& SPROESSER (2000), ao assentamentos são resultados da
abordarem os conceitos e definições de reforma agrária, que normalmente está
desenvolvimento regional e associada a interesses distintos entre
competitividade, atentam que os estudos grupos sociais diversos.
atuais sobre desenvolvimento regional MEDEIROS (1999) questiona
têm suas ações direcionadas para a “quanto à possibilidade de viabilização
formação de áreas compostas por redes sócio-econômica dessas unidades de
de empresas, as quais estão focalizadas produção agrícola, tendo em vista as
em um determinado setor produtivo. dificuldades atuais vividas por
Estas aglomerações são denominadas pequenos e médios proprietários rurais,
clusters, distritos industriais e decorrentes do estágio atual e das
agropolos, no caso de setores tendências em curso no agronegócio em
agroindustriais. escala internacional, no qual aparecem
O papel do governo é na ordem do dia: especialização na
fundamental para a sustentabilidade do produção, redução nas margens de lucro
modelo, uma vez que o governo o que requer necessariamente aumento
influencia os determinantes do sistema, de escala, segmentação de mercados,
ou seja, crédito agrícola, infra-estrutura, qualidade, padrão sanitário,
entre outros, e pode ser influenciado, no rastreabilidade, sistemas de integração
que se refere às políticas com barreiras à entrada, tolerância
governamentais. Assim, e tecnológica mínima, etc.”
considerando-se a competitividade A consolidação de um modelo de
dinâmica da economia brasileira, “o gestão para a agricultura familiar
estabelecimento de políticas públicas e coletiva permitirá que os atores sociais
privadas passa a ser uma tarefa mais inseridos nessa discussão possam
complexa e abrangente” (CAMPEÃO & potencializar os recursos naturais de que
SPROESSER, 2000). dispõem, e garantirá a melhoria de vida
A agricultura familiar coletiva das comunidades formadas pelos
representa uma maneira de organização assentados.
social e de ocupação do espaço Os primeiros projetos com o
geográfico pelo homem do campo, mas objetivo de ajudar na gestão deste tipo
ainda carece de um modelo de gestão de empreendimento foram elaborados
adequado às atividades desenvolvidas. pelo Instituto Nacional de Colonização
A questão colocada é a busca da e Reforma Agrária (INCRA).
competitividade nessas propriedades, Inicialmente, esses projetos não
que não têm os mesmos benefícios das contemplavam a participação ativa das
grandes propriedades baseadas na famílias, que eram informados após a
agricultura patronal, normalmente conclusão do mesmo. Atualmente, os
associados à produção em escala e projetos são elaborados com mais
maior possibilidade de obtenção de detalhes e realizados
crédito e meios de comercialização da predominantemente in loco, por meio
produção. Acima de tudo, os de técnicas em que a participação das
famílias é mais efetiva, o que os torna
mais envolvidos com o projeto
(INCRA, 2002).
O Plano de Desenvolvimento do
Assentamento (PDA), discorre,
basicamente, sobre a estrutura
organizacional do assentamento, receber, sistemas produtivos, tipificação dos
serviços de apoio e beneficiamento da produtos, ocupação de mão-de-obra e relação de
produção, créditos recebidos e a trabalho, renda, comercialização e
abastecimento, políticas públicas, infra- para o aperfeiçoamento dos modelos
estrutura, serviços sociais básicos atuais. A metodologia que será
(educação, saúde, saneamento e apresentada a seguir é importante
transporte). porque reúne os elementos necessários
Não obstante, essas ferramentas para elaborar um modelo conceitual de
são insuficientes para se elaborar um desenvolvimento da agricultura familiar
modelo de planificação para agricultura coletiva que pode ser aplicado, e para
familiar coletiva, pois não abordam mostrar resultados em um período
itens importantes tais como: estudo de relativamente curto de tempo. O
mercado, avaliação técnico-econômica, momento atual é o mais adequado para
sistema de gestão, gestão ambiental, a implantação do modelo,
entre outros. principalmente pela postura do governo
Desse modo, os trabalhos
Federal em incentivar este tipo de
realizados anteriormente contribuíram
atividade.
Justifica-se, pois, a importância
do estudo proposto, compreendida
como uma contribuição para a busca de
soluções no que se refere à gestão da
agricultura familiar coletiva, bem como
para a questão social vigente no campo.

3. OBJETIVOS

3.1 Objetivo Geral

 Apresentar e discutir um Modelo de competitivo de produção, organizado e


Planejamento Estratégico para estruturado com base nos valores tidos
Agricultura Familiar Coletiva, como essenciais para a agricultura
enfocando a criação de um sistema mais familiar coletiva.

3.2 Objetivos Específicos

 identificar os fatores críticos de planejamento compatível com a


sucesso para a competitividade dos realidade dos assentados;
assentamentos analisados;  realizar uma compilação das
 criar referências técnicas, variáveis apontados na teoria que
econômicas, sociais e agroecológicas impactam o desenvolvimento
que permitam elaborar um modelo de sustentável dos assentamentos.

4. MÉTODO

O método utilizado foi a pesquisa Reforma Agrária (INCRA),


bibliográfica de textos mais recentes Universidades, entre outros.
sobre o assunto e a análise de dados A amostragem adotada nesta
secundários disponíveis nos órgãos pesquisa foi não probabilística e
públicos – dos governos estaduais, do intencional. De acordo com SELLTIZ et
Instituto Nacional de Colonização e al. (1974), “a suposição básica da
amostra intencional é de que, com um adequada, podem ser escolhidos os casos a
bom julgamento e uma estratégia serem incluídos e, assim, chegar a amostras que
sejam satisfatórias para as necessidades Dessa forma, foram, então,
da pesquisa”. selecionados inicialmente quatro
estudos realizados em assentamentos,
apresentados a seguir.

5. ESTUDOS DE CASOS EM ASSENTAMENTOS RURAIS

 Assentamentos rurais em áreas de cerrado – o caso do projeto Penha –


Tocantins (TO)

Este estudo foi desenvolvido por Constatou-se que após mais de


José Pereira da Silva durante o período uma década a situação sócio-econômica
de 1996 a 1997, quando esteve como dos assentados não tinha melhorado
pesquisador visitante no CNPq na significativamente, devido,
Universidade do Tocantins – UNITINS, basicamente, ao enfoque teórico
período em que acompanhou os apresentado no Projeto, distante da
trabalhos de pesquisa e extensão no realidade dos assentados, bem como às
assentamento. condições do solo – predominantemente
O estudo procurou analisar o pobre, lixiviados e arenosos que
projeto do assentamento Penha, representam 90% da superfície e
localizado no município de Peixe (TO), sujeitos a alagamento parcial em 40%
implantado em área desapropriada pelo do total – e a malogradas tentativas de
INCRA em 1986. Cerca de 500 comercialização dos produtos por meio
famílias, possuindo entre 60 e 600 de associações, predominando a
hectares de terras, vivem da atividade intermediação de compradores e
agropecuária em solos com caminhoneiros que ditam os preços e o
características de cerrado e adotam prazo de pagamento dos produtos.
tecnologia tradicional.

 Os assentamentos rurais e seu impacto nas economias locais: o caso do


município de Abelardo Luz – Santa Catarina (SC)

O estudo desenvolvido por pela comissão internacional para a paz e


REYDON et. al (1998) é uma tentativa alimentação, coordenada por M.S.
inicial de complementar os trabalhos Swaminathan. Neste trabalho apresenta-
existentes sobre a viabilidade se um “mix” de estratégias visando
econômica dos assentamentos, incrementar o emprego e a produção de
mostrando justamente a interface alimentos na Índia, utilizando a
dinâmica que estes estabelecem com os agricultura como motor de crescimento
agentes econômicos externos, por meio da aceleração da produção
configurando multiplicadores de comercial para o mercado interno, da
emprego e renda. agroindústria e das exportações.
O autor adota como parâmetro em
seu trabalho uma pesquisa elaborada
 Os Impactos Regionais da Reforma Agrária: Um Estudo Sobre Áreas
Selecionadas

O estudo buscou captar os subjetivos), bem como entre as


processos de mudança provocados pelos condições sócio-econômicas existentes
assentamentos de reforma agrária no no assentamento e aquelas verificadas
ambiente no qual se inserem, uma vez no seu entorno.
que, um crescente número de pesquisas A pesquisa foi realizada nas
e estudos sobre assentamentos rurais no regiões do país com elevada
Brasil estavam voltados basicamente concentração de projetos de
para o diagnóstico das suas condições assentamento e alta densidade de
internas, origens e trajetórias dos famílias assentadas por unidade
assentados e análise das políticas territorial, pressupondo que este
direcionadas ao setor (HEREDIA et al, procedimento traria maior possibilidade
2001). de apreensão dos processos de mudança
Procurou-se, ao longo do estudo, em curso. Estas regiões passaram a ser
desenvolver uma análise voltada à denominadas manchas; o critério para a
mensuração e qualificação desses definição dos seus limites foi a
efeitos e mudanças (internas aos existência de um conjunto de
assentamentos ou externas a eles), municípios vizinhos com concentração
buscando construir indicadores e relativamente elevada de assentamentos,
relações que refletissem o significado tanto em número de projetos, quanto em
dessas experiências a partir, número de famílias e em área ocupada,
basicamente, da comparação entre as e com uma dinâmica histórica,
situações atual e anterior dos assentados econômica, social e organizativa
(tanto em termos objetivos como comum.

 AGROPOLO: uma proposta de modelo conceitual baseada na caracterização


de suas dimensões fundamentais.

A pesquisa foi realizada pelos O estudo investigou as dimensões


professores do Departamento de que permitem a proposição de um
Economia e Administração da modelo de desenvolvimento de
Universidade Federal de Mato Grosso agropolos no Estado de Mato Grosso do
do Sul (UFMS) no Assentamento Sul, enfocando a criação de um sistema
Itamarati – maior assentamento da mais competitivo de produção,
história da reforma agrária do Brasil. organizado e estruturado com base nos
As dúvidas levantadas quanto à valores tidos como essenciais para os
viabilização sócio-econômica desta assentados.
unidade de produção poderiam, segundo Para tanto, foi utilizada a
os pesquisadores, ser eliminadas ao metodologia Rapid Rural Appraisal
adotar-se um modelo de agropolo, por (RRA), que é particularmente útil na
meio de políticas regionais de análise de problemas complexos,
desenvolvimento baseadas no especialmente aqueles em que o “fator
agronegócio. pessoa” é preponderante.
6. APRESENTAÇÃO DO MODELO DE
PLANEJAMENTO ESTRATÉGICO PARA AGRICULTURA
FAMILIAR COLETIVA

O Modelo de Planejamento econômica local e regional, ale da


Estratégico para Agricultura Familiar avaliação técnico-econômica, do
Coletiva engloba elementos de suma sistema de gestão, da gestão ambiental,
importância para o diagnóstico das entre outros. Porém, antes da descrição
necessidades do assentamento, tais do modelo, serão apresentados os
como: estudo de mercado, condicionantes da aplicação do mesmo.
caracterização da infra-estrutura sócio-

6.1 Condicionantes do Modelo

Para a implantação do Modelo são econômicos, mercadológicos, sócio-


necessários alguns pré-requisitos que culturais, ambientais, tecnológicos e
condicionam sua implantação e organizacionais.
constituem-se em fatores macro-

6.1.1 Fatores Macroeconômicos

O conjunto de políticas dependência de determinados


macroeconômicas (fiscal, cambial, instrumentos de intervenção maior que
monetária, salarial) e seus instrumentos as grandes propriedades. Por exemplo, o
de intervenção (taxa de juros, taxa de crédito público subsidiado que, de
câmbio, volume de crédito, incentivo à acordo com uma meta de política fiscal
exportação, tarifas e impostos) que implique superávit primário
impactam o processo de elevado, pode eliminar ou reduzir o
desenvolvimento setorial - a atividade crédito subsidiado aos assentados.
agrícola de um modo geral, e da Portanto o governo utiliza-se
agricultura familiar em especial desses instrumentos de intervenção para
(HADDAD, 1998). equilibrar o setor primário, ou seja, para
Os impactos afetam os custos conceder crédito suficiente à agricultura
operacionais, custos de estocagem, familiar, incentivar a exportação de
custo de transporte, acesso ao insumo, grandes produtores, regular o
investimentos, escolha de tecnologia, abastecimento interno, enfim, criar
oferta de energia, receitas operacionais, condições de competitividade para a
quotas de exportação, entre outras agricultura familiar e para o grande
(HADDAD, 1998). Não obstante a produtor rural, concomitantemente.
agricultura familiar tem uma

6.1.2 Fatores Mercadológicos

O assentamento, enquanto área individual, mas com a área


organização, deve posicionar-se para, de coletiva, a qual se supõe produzir
um lado ouvir o mercado, e de outro, excedentes destinados à
questionar a capacidade de atender a comercialização. Para isso, é necessário
esse mercado. O esforço para tal conhecer o mercado, tornar esse produto
atendimento está relacionado não com a competitivo em termos de qualidade e
custo, definir a área de comercialização Assim sendo, não é suficiente saber
– cidade, micro-região ou estado. produzir; é preciso saber o que produzir, quando
produzir e para quem produzir. E isso É por meio do estudo de mercado
somente será possível se houver um que se conhece a demanda e o processo
estudo que aponte as necessidades do de comercialização vigentes num
mercado consumidor em relação ao determinado segmento. Esse estudo irá
produto que se julga poder produzir e nortear o sucesso ou fracasso,
comercializar. identificar as oportunidades que o
mercado oferece, quem são os
competidores, qual o nível de
competitividade, o que procuram e
como são feitas as parcerias, e auxiliará
fortemente na tomada de decisão.

6.1.3 Fatores Sócio-culturais

Os fatores sócio-culturais estão determinadas pela sociedade e geradas a


relacionados ao nível de escolaridade partir do Modelo implantado.
dos assentados, suas origens – do Portanto a implantação do Modelo
campo ou da cidade – história de vida, a exige a condução de um estudo junto
maneira de encarar o mundo e o papel aos assentados, o qual aborde as
que nele desempenha, bem como, variáveis relevantes que permita um
valores, crenças coletivas, e expressões conhecimento profundo dos assentados
artísticas. Assim, é importante observar e respectivas famílias, sob o ponto de
que a estrutura produtiva e as relações vista sócio-cultural.
de produção no campo serão

6.1.4 Fatores Ambientais

A utilização intensiva da terra para o assentamento. Por conseguinte a


pelo homem, sem uma preocupação utilização da água – captação,
quanto à adubação correta, recuperação tratamento, esgotamento – além dos
do solo e rotação do cultivo, acarretou o agrotóxicos usados na lavoura os quais,
atual estágio de degradação, além da com a chuva, correm para os rios, deve
destruição da mata ciliar e do ser motivo de um controle rigoroso
assoreamento dos rios. Tal utilização pelos órgãos ambientais. Atualmente, o
deve ser uma preocupação constante fator ambiental tem ganhado muita
dos assentados, uma vez que dispõem importância nas organizações,
de um pequeno pedaço de terra para sua caracterizado por uma legislação
produção. ambiental cada vez mais rigorosa e pela
Outro recurso indispensável, e adoção do conceito de responsabilidade
que por isso deve ser tratado com a social, o que não poderia ser diferente,
mesma responsabilidade, é a água. A posto que o homem está causando
disponibilidade deste recurso na danos quase que irreparáveis ao meio-
superfície ou no subsolo é essencial ambiente.

6.1.5 Fatores Tecnológicos

A tecnologia envolve a soma de respeito de como fazer as coisas, tais


todos os conhecimentos acumulados a como: inovações tecnológicas, novas
técnicas e aplicações, desenvolvimento equipamentos, biotecnologia,
e aperfeiçoamento de máquinas e ferramentas gerenciais, entre outras. Sem
dúvida, a tecnologia é o fator de maior Entretanto, essa tecnologia está
relevância para as empresas mais presente nas empresas
agropecuárias que buscam altos índices agropecuárias, ou seja, nas grandes
de produtividade e utilizam-se desse propriedades rurais altamente
fator para bater seus recordes de tecnificadas. Segundo NEVES (2000),
produção a cada ano. “isto não significa, contudo, que a
Os fatores tecnológicos pequena produção não possa ser
determinam a competitividade no competitiva. Em primeiro lugar, podem-
campo, uma vez que estão associadas à se selecionar, para propriedades de
preservação, renovação, escala e menor porte, atividades mais
melhoria das vantagens competitivas compatíveis à pequena escala, tais
dinâmicas. Dessa forma, a capacidade como: frutas, olerícolas e atividades de
tecnológica, ou seja, a vantagem turismo rural. Buscam-se a
competitiva obtida através do uso de diversificação das fontes de renda e a
tecnologia, está relacionada a vantagens produção de parte da subsistência. Em
de custos que são reflexos da segundo lugar, há de se promover um
produtividade dos fatores de produção, processo de cooperação estratégica
capital humano, dentre outras variáveis. entre pequenas propriedades, de forma a
se reduzirem custos ligados às
atividades de marketing, finanças e
controle da produção”.

6.1.6 Fatores Organizacionais

As organizações estão inseridas organizar-se, controle e tomada de


em um ambiente dinâmico, ou seja, elas decisão. Entretanto a organização, por si
mudam e evoluem com seus ambientes. só, não pode garantir o sucesso do
Compõe o ambiente organizacional do assentamento; há a necessidade
assentamento, os clientes, fornecedores, conjunta de todos os fatores. Cabe à
concorrentes, instituições públicas e organização a gestão desses fatores
privadas, o próprio assentado, além de para permitir a sobrevivência do
todos os outros fatores condicionantes assentamento. Por exemplo, arranjos
acima apontados. organizacionais que salientam o
Enquanto, o assentamento, deve coletivo são mais indicados para
ter ferramentas que permitam um pequenas propriedades e, portanto, para
planejamento, organização, como ato de assentados.

6.2 Descrição do Modelo

Diante da abrangência e parciais e corrigir possíveis desvios e/ou


diversificação dos estudos necessários, erros no projeto.
dividiu-se o Modelo em módulos para Assim, os módulos foram
que se possa otimizar a distribuição dos divididos em "Valores Fundamentais do
recursos existentes (principalmente, os Desenvolvimento Coletivo
recursos humanos e financeiros), Sustentável", "Estudo de Mercado",
melhor gerir e controlar o andamento "Caracterização da Infra-estrutura
das tarefas realizadas e gerar resultados Sócio-econômica Local",
"Caracterização da Infra-estrutura “Plano de Produção Agrícola”, “Plano de
Sócio-econômica Regional" e Produção Não-Agrícola”, “Projetos
"Macroestratégias" que inclui os
módulos “Infra-estrutura Social”,
Estruturais de Produção”, - Simulação” e “Sistema de Gestão”. A
“Gestão Ambiental”, organização do Modelo é apresentada
“Avaliação Técnico- econômica na figura 1.

VALORES FUNDAMENTAIS DO DESENVOLVIMENTO COLETIVO SUSTENTÁVEL

ESTUDO DE MERCADO

MACROESTRATÉGIAS
CARACTERIZAÇÃO DA INFRA-ESTRUTURA SÓCIO- ECONÔMICA REGIONAL CARACTERIZAÇÃO DA INFRA-ESTRUTURA SÓCIO- ECONÔMICA LOCAL

INFRA- PLANO DE PLANO DE PROJETOS GESTÃO AVALIAÇÃO SISTEMA


ESTRUTURA PRODUÇÃO
PROD PRODUÇÃO
PROD ESTRUTU- AMBIEN- TECNICO- DE GESTÃO
SOCIAL AGRÍCOLA NÃO- RANTES DE TAL ECONÔMICA
AGRÍCOLA PRODUÇÃO

Figura 1 - Estrutura do Modelo de Planejamento estratégico da Agricultura Familiar


Coletiva.

O módulo "Valores Fundamentais de produtos preferenciais para a


do Desenvolvimento Coletivo pesquisa, mas não se limitando somente
Sustentável" trabalha a questão de à lista. Deve ser obtido através de
valores de grupo, visão de analise de dados secundários e
futuro/aspirações e objetivos dos primários, derivados dos principais
assentados por meio das lideranças de centros de comercialização em nível
cada movimento social. Esta etapa é local, regional e nacional.
fundamental para o desenvolvimento de Já o módulo “Caracterização da
um planejamento estratégico que, além Infra-Estrutura Sócio-econômica
de participativo, deve ser desenvolvido Regional” procura conhecer as
com as lideranças dos movimentos e características sociais, econômicas e de
respaldado pelos assentados. infra-estrutura dos municípios vizinhos
O módulo “Estudos de Mercado” do assentamento visando a melhor
propõe-se a identificar oportunidades inseri-lo na região e verificar
mercadológicas para produtos agrícolas potencialidades, oportunidades e
e agroindustriais, os quais devem ser ameaças, baseadas nas condições
previamente selecionados por existentes na micro-região ao redor do
especialistas que componham uma lista assentamento. Estas informações serão
levantadas a partir da análise de dados revela a realidade dos assentados, na qual
secundários (IBGE, Prefeituras, freqüentemente são identificados problemas
Governos Estaduais, e outros). financeiros devido a não existência de gestão no
O módulo “Caracterização Sócio- seu negócio, níveis de escolaridade e saúde
econômica Local” busca conhecer precários, entre outros. As características sócio-
características sócio-econômicas de econômicas devem ser obtidas nas entrevistas
cada um dos movimentos sociais junto aos assentados.
inseridos no assentamento. Este módulo O módulo “Infra-estrutura Social” busca
identificar os elementos mínimos para a sustentabilidade ambiental que será
sobrevivência de pessoas que vivem em obtida por meio da educação ambiental
sociedade, tais como, habitação, água e o que é fundamental para a exploração
esgotamento sanitário, energia elétrica, do turismo.
educação, saúde, sistema viário, No módulo “Projetos
segurança publica, lazer, cultura e Estruturantes de Produção” procede-se à
esporte. Resultará na elaboração de análise e elaboração de projetos
projetos desenvolvidos de forma estratégicos de produção adequados
participativa. para o desenvolvimento do
O “Plano de Produção” é o Assentamento, tendo como resultado a
módulo que tem como objetivo levantar criação de uma carteira de projetos
as opções estratégicas de produção do estruturantes dos sistemas produtivos
assentamento, e auxiliar na definição coletivos. Este módulo refere-se,
dos produtos, qual a tecnologia de basicamente, à elaboração de projetos
produção a ser utilizada, o manejo e de agregação de valor ao sistema
correção do solo, a tecnologia de produtivo, por exemplo, a irrigação
produção e mudas, os insumos coletiva e agroindustrialização. Devem
necessários, a rotação de culturas, e o ser elaborados com base nos estudos de
manejo dessas culturas. É elaborado a mercado, valores e caracterização da
partir de pesquisas exploratórias infra-estrutura sócio-econômica
qualitativa (entrevistas, workshops) e regional, de forma participativa.
quantitativa (questionários). O módulo “Gestão Ambiental”,
O “Plano de Produção Não- coloca em evidência as questões que
Agrícola” trabalha as potencialidades devem ser tratada para a melhoria da
dos assentados em relação ao turismo, qualidade de vida dessas famílias. Deve
principalmente o eco-turismo, que é um ser elaborado a partir de reuniões dos
recurso não aproveitado ou pouco assentados com o grupo de gestores
explorado. Este tipo de produção tem ambientais de formação
ganhado espaço progressivo e positivo multidisciplinar, com base nos
na receitas das propriedades rurais, princípios da Biodiversidade, Educação
segundo o INCRA. Não obstante, a Ambiental, Legislação e Licenciamento
Ambiental, Recursos Florestais e
Hídricos.
O módulo “Avaliação Técnico-
econômica” objetiva mensurar a renda
dos assentados para cada opção de
produção indicada no projeto
estruturante. Deve ser desenvolvido
com o uso de simulações e diversos
tipos de análises financeiras.
Por fim, o módulo “Sistema de
Gestão” deve definir a forma ou modelo
pelo qual se dará a organização
administrativa do Assentamento, a
hierarquização, a forma jurídica, as
formas de participação dos órgãos
públicos, dentre outras questões
relevantes. Deve contar com intensa
participação dos assentados para sua secundários, sobretudo, pesquisa
elaboração, estudos de casos e dados bibliográfica.
7. CONCLUSÃO

O modelo apresentado evidencia produção e da inserção deste no


alguns elementos essenciais à mercado.
sustentabilidade da agricultura familiar A infra-estrutura necessária, tanto
coletiva, sem negligenciar as questões ao sistema produtivo, como a uma
sócio-culturais. O modelo é claramente condição de vida de melhor qualidade
orientado para o mercado, entendendo- para as famílias, também é considerada.
se que a compreensão deste é fator Além disso, a implantação da
fundamental para a viabilidade da agricultura familiar coletiva e
agricultura familiar coletiva, bem como assentamentos depende do atendimento
dos assentamentos no Brasil. de outros condicionantes – fatores
Os fatores sócio-culturais, tanto macroeconômicos, ambientais,
da região de implantação do tecnológicos e organizacionais, os quais
empreendimento, como dos agricultores são devidamente considerados
familiares e assentados, contribuem pelo
também para a definição do plano de modelo.

8. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

ABRAMOVAY, R. Paradigmas do CAMPEÃO, P. Sistemas Locais de


capitalismo agrário em questão. Produção Agroindustrial: um
Unicamp/HUCITEC: Campinas, 1992. modelo para a competitividade.
[Estudos Rurais, 12]. 2004. (Doutorado em Engenharia
BAIARDI, A. Formas de Agricultura de Produção). Universidade
Familiar, à luz dos Imperativos Federal de São Carlos. São Carlos.
de Desenvolvimento Sustentável CAMPEÃO, P.; SPROESSER, R. L.
e Inserção no Mercado Competitividade e
Internacional. In: XXXVII desenvolvimento regional:
Congresso Brasileiro de Economia Conceitos e definições. Desafio.
e Sociologia Rural. Foz do Iguaçu, Revista de Economia e
1999. Administração, Campo Grande,
BINSWANGER, H. P.; DEININGER, MS, n.2, p.62-70, jul./dez. 2000.
K.; FEDER, G. Poder, distorções, COMPARATO, Bruno Konder. A ação
revolta e reforma nas relações de política do MST. São Paulo
terras agrícolas. In: TEÓFILO, E. Perspec., out./dez. 2001, vol.15,
(Org.) et all. A economia da no.4, p.105-118.
reforma agrária: evidências HADDAD, P. R. A competitividade do
internacionais. Brasília: Núcleo de agronegócio: estudo de cluster. In:
Estudos Agrários e CALDAS, R. de A. (Ed.).
Desenvolvimento Rural: Conselho Agronegócio brasileiro: Ciência,
Nacional de Desenvolvimento tecnologia e competitividade.
Rural Sustentável: Ministério do Brasília, CNPq, 1998.
Desenvolvimento Agrário. 2001.
HEREDIA, Beatriz; MEDEIROS, CPDA/UFRRJ-
Leonilde; PALMEIRA, Moacir; Nuap/PPGAS/UFRJ (mimeo), 479pp.
LEITE, Sérgio; CINTRÃO, HUEBRA, M. G. Desenvolvimento Local
Rosângela (Coords.) (2001). Os Sustentável. Campo Grande: UFMS, 2002. 12f.
impactos regionais da reforma Apostila do mini- curso “Cadeia Produtiva:
agrária: um estudo sobre áreas Instrumento de Desenvolvimento Local”.
selecionadas. Rio de Janeiro: INCRA/SEPROD/IDATERRA.
Assentamento Itamarati: uma MENDONÇA, Lucia Enout et alli.
proposta de gestão participativa, Actions du SEBRAE auprés des
ecológica, social e econômica. petites entreprises
Campo Grande, 2002. (Plano agroalimentaires. In Lopez,
indicativo). Elisabeth; Muchnik, José. Petites
MATTAR. F. N. Pesquisa de entreprises et grands enjeux: le
Marketing. São Paulo: Atlas, developpement agroalimentaire
1999. v.1. local. Paris: L’Harmattan, 1997
MCT/CNPq. Iniciativa em C&T para NEVES, M. F. Alimentos: novos
o fortalecimento da inserção tempos e conceitos na gestão de
econômica da agricultura negócios. São Paulo: Pioneira,
familiar. Novos conhecimentos e 2000.
novas capacidades para inserção PAULILLO, L. F. Sobre o
econômica da agricultura familiar. desenvolvimento da agricultura
MCT/CNPq, 2001 brasileira: concepções clássicas e
MEDEIROS, J. X. Inserção de políticas recentes. In: BATALHA, M. O.
públicas no processo de (Coord). Gestão agroindustrial.
desenvolvimento regional e do São Paulo: Atlas, 2001. v.1
agronegócio. In: ASSOCIAÇÃO REYDON, B. e PLATA, L. (1998)
BRASILEIRA DAS “Políticas de Mercados de Tierras
INSTITUIÇÕES DE PESQUISA em Brasil” In: perspectivas sobre
TECNOLÓGICA (ABIPT). mercados de tierras rurales em
Agropolo: uma proposta América Lativa. Informe técnico,
metodológica. Brasília: ABIPTI, Washongton: Banco
SEBRAE, CNPq, IEL, Interamericano de Desarrollo.
EMBRAPA, 1999. SELLTIZ, C. et al.. Métodos de
pesquisa nas relações sociais. São
Paulo:EPU, 1974.
SILVESTRO, M. L.; NADAL, R. de;
MELLO, M. A. de; DORIGON, C.
Agricultura familiar e
desenvolvimento sustentável: o
caso do oeste catarinense.
Disponível na internet em
http://gipaf.cnptia.embrapa.br/itens
/publ/sober2000/sober2000.html
[acesso em 22 dez. 2002, às
17h14min].
ROCHA, A.G.P., CERQUEIRA, P.S.
Agricultura Familiar e Políticas
Públicas: o Caso do Pronaf. 27o.
Encontro da ANPAD, Atibaia,
Anais...São Paulo: ANPAD, 2004.
CD.
TEÓFILO, E.; MENDONÇA, E. C. A Estudos Agrários e
economia da reforma agrária: Desenvolvimento Rural: Conselho
Evidências internacionais (notas Nacional de Desenvolvimento Rural
introdutórias). In: TEÓFILO, Sustentável: Ministério do
Edson (org.) et al. A economia da Desenvolvimento Agrário. 2001.
reforma agrária: evidências
internacionais. Brasília: Núcleo de
VEIGA, J. E. da. O
desenvolvimento agrícola:
uma visão histórica. São
Paulo: USP/HUCITEC,
1991.
[Estudos Rurais, 11]
WILKINSON, J. Agroindústria
e perspectivas para a
produção familiar no
Brasil. Políticas Agrícolas,
México, v. 2, n. 1,
p.101-135, 1996.

Você também pode gostar