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A política agrícola

no Brasil Charles C. Mueller1

Uma visão de longo prazo

Introdução ços em ocasiões de superprodução e forte pres-


são descendente dos preços externos do produto.
Em 1860, há, portanto, 150 anos, o De- Não houve, porém, participações significativas
creto Imperial no 1.067 instituiu a Secretaria dos da Secretaria e das organizações que a sucede-
Negócios da Agricultura, Comércio e Obras Pú- ram na concepção e execução da política cafe-
blicas (para abreviar, Secretaria), a organização eira. As decisões a esse respeito procediam dos
que continha o embrião de entidade que, de- níveis mais altos do governo imperial e, depois,
pois, com denominações diversas, ficou conhe- de governos do período da Primeira República.2
cida como Ministério da Agricultura (MUELLER, Emanavam de organizações – em nível do gover-
1988b). Dois fatos chamam a atenção nesse no central e do governo provincial (estadual) –
evento: o primeiro fato é que, em uma econo- que compunham a área econômica do governo.
mia primário-exportadora, tivesse demorado até Detendo o comando sobre orçamentos públicos,
quase o fim do século 19 para surgir uma organi- a moeda e o crédito, e sobre a política cambial e
zação voltada ao setor dominante da economia comercial, esse segmento dispunha de recursos
brasileira; e o segundo é que, quando isso acon- e estruturas de apoio necessários para atender às
teceu, a Agricultura acabou tendo que dividir demandas da cafeicultura.
espaço com o Comércio e as Obras Públicas. É Em 1906, já no período republicano, a Se-
interessante ressaltar, ademais, que, por ocasião cretaria foi transformada em Ministério da Agri-
da criação da Secretaria, estava começando a cultura, Indústria e Comércio, ainda dividindo
se consolidar no País o surto primário exporta- o espaço com outros setores. O Ministério da
dor do café, mas a prosperidade da cafeicultura Agricultura, formalmente no comando de enti-
dependeu muito pouco da Secretaria e de suas dade que denominamos setor público agrícola,
sucessoras. Como mostrou Delfim Netto (1979), só foi instituído em 1930 e reformado em 1934
a expansão cafeeira no interior de São Paulo, (MUELLER, 1988b); ao mesmo tempo, o cen-
na segunda metade do século 19 e no início do tralismo que prevaleceu após a Revolução de
século 20, beneficiou-se muito de ações do po- 1930 fez declinar a influência dos estados no
der público, como a promoção da imigração e setor público agrícola. Desde então, com várias
os subsídios para investimentos em ferrovias e mudanças de denominação e atribuições, o Mi-
portos. E, a partir de 1906, a cafeicultura contou nistério permaneceu formalmente no comando
com o setor público para a sustentação de pre- do setor público agrícola no País.

1
Professor Emérito do Departamento de Economia da Universidade de Brasília (UnB), Brasília, DF. E-mail: cmueller@unb.br
2
Durante a I República, a política do café envolveu a frequente combinação da atuação do governo de São Paulo com a do governo central.

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Qual o papel de um setor público agríco- Para críticos como Smith, os critérios para
la? De uma forma muito geral, é de se esperar uma reforma da política agrícola no Brasil deve-
que ele atue em duas áreas distintas: ria incorporar aspectos do paradigma da teoria
• Área técnica (normatização da pro- do bem-estar social. Segundo esta, a formula-
dução vegetal e da produção animal; ção de políticas eficientes – em qualquer ramo –
ações de fomento, de pesquisa, de ex- consiste na escolha, dentre alternativas disponí-
tensão e de defesa no campo da agro- veis, daquela que promova o maior incremento
pecuária). de bem-estar social. Os problemas de política
deveriam ser abordados como se fosse possível
• A área de formulação e condução de construir, fria e objetivamente, uma solução de
ações e políticas macrossetoriais para máximo bem-estar social. Eles reconhecem que
a agropecuária e de captação de recur- na vida real um dado problema de política ten-
sos e de gestão de ações de estímulo de a envolver demandas e pressões de grupos
e incentivo de interesse da agropecu- de interesse, mas estas são consideradas espú-
ária. rias, já que levam à implementação de políticas
No Brasil, a participação do setor públi- que aumentam o bem-estar de poucos, e, muitas
co agrícola nesses dois campos variou bastante vezes, a redução do bem-estar de parcelas signi-
desde 1860. Na fase inicial de conformação do ficantes da sociedade. Na visão desses críticos o
setor público agrícola, a sua atuação se restringiu ideal seria que políticas públicas não fossem ne-
apenas a aspectos da área I; o comando da área II cessárias. Estas se justificam apenas porque nem
tendeu a permanecer – se não de direito, pelo sempre os mercados funcionam bem; existem
menos de fato – no âmbito da área econômica externalidades, incertezas e distorções que pre-
do governo, com participação reduzida do setor cisam ser eliminadas ou reduzidas. É para isso
público agrícola (MUELLER, 1984, 1988b). que servem políticas públicas; mas estas devem
ser formuladas com base nos critérios da teoria
Os economistas agrícolas tendem a ver
do bem-estar social.
essa evolução como espúria, o resultado da
falta de cuidado com relação à agricultura e É de Heady (1962) um exemplo expressivo
da consequente insuficiência de recursos para dessa visão. Esse autor – uma autoridade no cam-
aparelhar melhor o setor público agrícola. Um po da política agrícola – constatou que em quase
exemplo está na avaliação da política agrícola todos os países existem grupos poderosos de in-
no Brasil feita por Gordon Smith (SMITH, 1968). teresse que pressionam por medidas que lhes be-
Focalizando as duas décadas após o término neficiem, sem maiores considerações sobre seus
da II Guerra Mundial – um período de intensa impactos negativos. Para ele, entretanto,
expansão urbano-industrial – surpreendeu-se [...] a existência de diferentes valores e objetivos
com a ausência de estratégia de desenvolvi- [...] não impede que se desenvolvam políticas con-
mento agrícola no País; constatou a existência sistentes com a maximização de uma função de
bem-estar social (HEADY, 1962, p. 308-309).
de incipientes políticas de crédito agrícola e
de preços mínimos, ambas capturadas por seg- Para isso, a teoria do bem-estar nos ofere-
mentos influentes da agricultura com grandes ce um critério científico,
distorções alocativas e distributivas. Smith atri- [...] um conjunto de conceitos que permitem su-
buiu esse estado de coisas à falta de preparo gerir e avaliar políticas num contexto societário ou
dos técnicos do setor público agrícola. Isso te- comunitário abrangente (HEADY, 1962, p. 308-
309).
ria privado o setor da capacidade de conceber
políticas agrícolas consistentes, lastreadas em A política agrícola deveria ser conduzida
orientação fornecida pela teoria econômica e com base nesse critério. Se isso não acontece,
por outros ramos da ciência. ela é defeituosa e precisa mudar.

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Gordon Smith concordaria com essa vi- Conceitos importantes
são. Para ele, a situação no Brasil que então
avaliava tornava-se ainda mais problemática Visando dar mais consistência à discus-
em razão da falta de base técnica do setor pú- são, explicitamos alguns conceitos empregados
blico agrícola. Assim, restava à área econômi- acima e inserimos outros. Já esboçamos crítica
ca do governo – melhor estruturada tecnica- aos limites da teoria convencional da política
mente – comandar o campo II de atuação da pública, mas faltou oferecer abordagem alterna-
política agrícola, acima esboçado. Mas como tiva. Consideramos, para esse fim, a formulação
sua atenção se voltava principalmente para as de políticas agrícolas um processo que combi-
estratégias de desenvolvimento urbano-indus- na duas dimensões básicas: a dimensão de ra-
trial, a política agrícola recebia atenção apenas cionalidade, enfatizada pela teoria econômica, e
ocasional e superficial. Daí os erros e as insufi- a dimensão fundamental de poder, que a teoria
ciências observadas. considera espúria. Esta tem a ver com a atuação
de agentes influentes, interessados em aspectos
É interessante ressaltar, entretanto, que, de decisões de política pública. Assim, políticas
depois da publicação do estudo de Gordon públicas emanam fundamentalmente da inter-
Smith, acima referido, a capacitação técnica do relação entre a coalizão no poder – o governo –
setor público agrícola melhorou significativa- e segmentos sociais influentes com interesse em
mente. Houve uma série de reformas, surgiram determinados problemas de política, geralmente
novas organizações, e o setor passou a contratar organizados em redes de política setoriais.
técnicos de alto nível e a incentivar membros de
A coalizão no poder (o governo) tem,
suas equipes técnicas a cursar pós-graduação
via de regra, dois objetivos fundamentais: o de
em boas universidades. O setor se aparelhou,
concretizar uma determinada visão de boa so-
assim, para atuar tecnicamente nos dois cam-
ciedade, e o de manter ou ampliar seu controle
pos da política agrícola; não houve, entretanto,
sobre o poder. Por sua vez, segmentos sociais
drástica reversão no quadro acima. Ocorreram,
influentes com os quais a coalizão interage
sem dúvida, grandes avanços, particularmente
também têm concepções de boa sociedade –
na área da pesquisa e do desenvolvimento tec-
que podem ou não coincidir com a da coa-
nológico da agricultura, e, a partir do início da lizão – e que se refletem nas suas demandas
década de 1970, instalou-se competência técni- de políticas (MUELLER, 1982). Tanto a coalizão
ca para a orientação das duas políticas quanti- no poder quanto os agentes influentes dispõem
tativas de maior peso: a de crédito e a de preços de recursos econômicos, políticos e sociais.
mínimos. Com a criação do Sistema Nacional A teoria econômica da política pública enfatiza
de Crédito Agrícola (SNCA), o campo de abran- os recursos econômicos e ignora as outras duas
gência da política de crédito aumentou muito; categorias de recursos, fundamentais no proces-
o mesmo aconteceu com a política de preços so de formulação e implementação de políticas:
mínimos após a ampla reforma da Comissão de os recursos políticos e os sociais. Incluem-se en-
Financiamento da Produção (CFP) (COELHO, tre estes: a autoridade, a influência, o status, o
2001; WEDEKIN, 2005). Quando se examina, prestígio, a coerção (ou o poder de suspender a
porém, a real participação do setor público agrí- coerção), a informação, a violência (ou a capa-
cola, particularmente na fixação de parâmetros cidade de suspender a violência), a legitimida-
dessas políticas, verifica-se que ela permaneceu de, a arregimentação e o apoio. Em uma análise
aquém do que se poderia esperar dos avanços de como se formulam e se modificam políticas
do corpo técnico do setor público agrícola. públicas em sociedades dotadas de certa com-
A interferência da área econômica continuou plexidade, esses recursos são parte importante
substancial, e muitas vezes dominou o processo do processo de formação de políticas; logo, não
(MUELLER, 1988b). devem ser ignorados.

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A coalizão no poder usa seus recursos zações desse tipo possam se identificar com a
para tentar atingir seus dois objetivos básicos, e, rede e mesmo participar do seu comando. Elas
com essa finalidade, considera importante po- se valem de organizações do setor público – in-
der contar com recursos controlados por agen- dependentemente de sua área formal – aptas a
tes ou setores influentes. Estes, por sua vez, têm patrocinar o atendimento de suas demandas. Se
interesse em acessar recursos da coalizão no uma organização não tem no seu rótulo a deno-
poder. A formulação de políticas pode, assim, minação agrícola por exemplo, mas atende às
ser considerada o resultado de um processo de demandas de rede de políticas agrícolas melhor
intercâmbio de recursos econômicos, políticos que órgãos com este rótulo, isso não inibe a sua
e sociais entre a coalizão no poder e setores in- incorporação à rede. Existem diferentes catego-
fluentes. Com esse intercâmbio, tanto a coali- rias de redes de políticas; algumas são fluidas e
zão como os setores influentes visam obter van- tendem a se adaptar a mudanças no ambiente
tagens. Estes esperam aumentar seu bem-estar, político. Entretanto, outras quase não mudam –
e a coalizão no poder quer avançar na concreti- são as de redes de políticas duras. Uma carac-
zação de sua visão de boa sociedade, mantendo terística desse tipo de rede é o controle estrito
ou ampliando seu controle sobre o poder. conquistado sobre sua área de políticas e que é
É útil, nesse ponto, considerar a formula- mantido em quase todas as circunstâncias.
ção de políticas públicas como um processo dia- Como indicado acima, às vezes os ciclos
lético (MARSH; SMITH, 2000). Certos segmen- dialéticos são truncados. Isso é frequentemente
tos – geralmente da coalizão no poder – iniciam interpretado como o resultado de falta de vonta-
uma proposta de política, mas setores influentes de política ou de capacidade gerencial do setor
podem ter visões diferentes dessa. Sendo dota- público; mas o que costuma ocorrer é que uma
dos de poder para alterá-la, atuam para melhorar dada rede de políticas (geralmente uma rede
a proposta ou mesmo para repeli-la; e havendo dura) tem a capacidade de impedir que o ciclo
condições para a melhoria, tentam construir uma dialético se complete. Além disso, com relação
nova proposta. Às vezes, surgem impasses que a certas políticas públicas, pode haver o entre-
persistem por um bom tempo. Nesses casos, o choque entre duas redes de políticas poderosas,
ciclo dialético é truncado. mas com visões diferentes, gerando efeito para-
Outro conceito importante é o de rede de po- lisante. A paralisia nem sempre é o resultado de
líticas, entidades com a capacidade de influenciar a choques, pois uma das redes de políticas pode
formulação de políticas (MARSH, 1998). Uma rede sair vencedora do embate; contudo em alguns
de políticas não é uma organização do setor públi- casos as forças em confronto são tais que o des-
co nem um agrupamento temático de agências pú- fecho é o truncamento do ciclo.3
blicas. Essas agências temáticas existem e podem Além disso, a análise da formulação e
ter posição de destaque em uma rede de políticas, implementação de políticas agrícolas no Brasil
mas agentes privados – setores influentes – também em alguns períodos requer que se considerem
participam, e muitas vezes decisivamente. Comu- agentes do setor público que operam como co-
mente estes têm pontos de vista bem definidos em nectores entre organizações do Estado às quais
relação a propostas e às necessidades de políticas, cabe operacionalizar certas políticas e setores
e dispõem de recursos que lhes capacitam a influir influentes interessados em determinadas deci-
na conformação de políticas.
sões. São geralmente membros da tecnoburo-
As redes de políticas geralmente não são cracia com a capacidade de operar na trans-
organizações formais, embora algumas organi- missão das demandas de setores influentes em
3
Dois exemplos recentes: o do entrechoque entre a rede ambientalista e a rede agrícola em torno do controle da liberação de transgênicos, vencido por
esta última (MUELLER, 2009); e o atual choque da rede ambientalista com a rede agrícola em torno de proposta de mudanças ou adaptações do Código
Florestal, ainda não resolvido, mas que tem elevado potencial de truncamento.

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níveis de comando no âmbito da coalizão no levaram essas redes de política a envolver go-
poder. Os conectores tendem a assumir impor- vernos de Províncias no atendimento de suas
tância no processo de formulação de políticas demandas. No início do século 20, uma refor-
em sociedades autoritárias. Nestas, os mecanis- ma extinguiu a Secretaria e criou o Ministério da
mos de transmissão de demandas não funcio- Agricultura, Indústria e Comércio que se mante-
nam de forma transparente, e redes de políticas ve até 1930. As mudanças institucionais intro-
com interesse em determinadas ações exercem duzidas pela Primeira República enfraqueceram
pressão, de forma geralmente velada, e envol- o governo central, que acabou assumindo papel
vem conectores com o objetivo de conseguir de menor destaque, pelo menos na condução
decisões de política favoráveis. de políticas de interesse das oligarquias do café.
A rede de políticas do café – então composta de
segmentos da lavoura, do comércio, do finan-
Visão panorâmica ciamento do produto e de organizações do go-
da evolução da política verno de São Paulo capacitou-se para atuar com
grande desenvoltura, inclusive na obtenção de
agrícola nos últimos 150 anos financiamentos externos e na construção exito-
sa de esquemas complexos de sustentação de
preços do café. São Paulo operava então como
De 1860 ao fim da II Guerra Mundial
unidade quase independente; o governo central
Com base em elementos acima esboçados participava de forma apenas subsidiária. E para
é fácil elucidar o aparente paradoxo da inex- essa política o Ministério foi irrelevante.
pressiva atuação da Secretaria dos Negócios da É interessante ressaltar, também, que a
Agricultura, Comércio e Obras Públicas, criada rede do café soube valorizar ações técnicas da
em 1860, em um país eminentemente agrícola. Área I, acima indicadas. Percebendo, porém, as
Para começar, cumpre ter em mente o extremo especificidades agroecológicas da agricultura e
centralismo e a ausência de visão estratégica do o aparelhamento inadequado do setor público
regime imperial, o que explica a reduzida ênfa- agrícola federal, passou a demandar e apoiar
se então dada à agricultura. Vimos, entretanto, iniciativas do governo de São Paulo nessa área.
que o governo forneceu apoio fundamental a Como resultado, foram operacionalizadas orga-
segmentos importantes da economia primário- nizações técnicas e científicas como o Instituto
exportadora, notadamente os do café na região Agronômico de Campinas e o Instituto de Bio-
Sudeste e do açúcar no Nordeste. Esse apoio re- logia, de grande importância para o desenvolvi-
sultou do funcionamento de redes de políticas mento tecnológico, não só da cafeicultura como
específicas nessas duas áreas. O desempenho de outros segmentos da agricultura de São Paulo
da rede de políticas do café é ilustrado com ri- (PASTORE et al., 1976).
queza de detalhes por Delfim Netto (1979); po-
Com a Revolução de 1930, que encerrou
líticas fundamentais para o setor, de incentivo à
a Primeira República, passou-se de situação de
construção de ferrovias, e, com os estertores da
exacerbada autonomia das Províncias para uma
instituição da escravidão, de promoção da imi-
em que o poder voltou a se concentrar no gover-
gração, emanaram de altos níveis da administra-
no central. Em consequência, as redes de polí-
ção imperial, pouco tendo a ver com a atuação
ticas do açúcar e do café viram diminuídas suas
da Secretaria. Algo semelhante ocorreu com as
influências. Com relação à rede do café, como
políticas de apoio à economia açucareira.4
a sustentação dos preços do produto foi con-
A Proclamação em 1889 e a forte descen- siderada fundamental para evitar forte redução
tralização introduzida pela Primeira República na receita de divisas do País, o governo central
4
Ver Delfim Netto (1979) e Mueller (1983) (caps. II e III), para o caso da rede de políticas do café; e Szmrecsanyi (1979), para o caso da rede do açúcar.

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acabou dando ênfase a uma política cafeeira para o mercado interno apresentou bom desem-
extremamente agressiva que envolveu elevadas penho. Isso resultou de substituição de importa-
compras de excedentes do produto e mesmo a ções de alimentos, facilitada pela liberação de
queima de cerca de 70 milhões de sacas de café recursos produtivos antes devotados a lavouras de
ao longo da década de 1930. A obtenção de di- exportação e estimulada por um mercado interno
visas era fundamental para a política de priori- cativo, consequência da forte contração da capa-
zação do pagamento da dívida externa seguida cidade de importar do período. Pouco teve a ver
até 1937, e esse objetivo balizou a política ca- com atuação do setor público agrícola (MUELLER,
feeira. Entretanto, se, com a política, setores in- 1983). Com efeito, a despeito da reforma do início
fluentes da rede do café evitaram a bancarrota, da década de 1930, que desmembrou o segmento
a perda relativa de poder que experimentaram “agricultura” do Ministério de Agricultura, Indús-
após a Revolução levou-os a assumir parte sig- tria e Comércio na conformação de um Ministério
nificativa do seu custo. A sustentação de preços da Agricultura, as medidas exigidas pelas políticas
permaneceu, mas mudou o foco da política e de produto acima esboçadas emanavam da área
reduziu-se o domínio sobre ela da rede do café econômica do governo, com elevada participação
(DELFIM NETTO, 1979; MUELLER, 1983). do Ministério da Fazenda. A impotência a que foi
relegado o setor público agrícola, inclusive, levou
A rede de políticas do açúcar também teve
o primeiro dirigente do novo ministério, Juarez Tá-
que se adaptar às mudanças políticas após a Re-
vora – um dos “tenentes” que participaram do co-
volução de 1930. Porém, tendo em vista a im-
mando da Revolução de 1930 –, a logo se demitir
portância da economia açucareira em partes do
do cargo (MUELLER, 1988b).
Nordeste e a conjuntura de forte queda mundial
de demanda do açúcar causada pela Grande De- Com o golpe que criou a ditadura do Es-
pressão da década de 1930, o governo instituiu tado Novo e, depois, com a II Guerra Mundial
um esquema de suporte e intervenção que cul- (1939–1945), da qual o Brasil chegou a partici-
minou com a criação do Instituto do Açúcar e do par, foram dados os primeiros passos na adoção
Álcool (IAA), organização inteiramente controla- de um modelo de desenvolvimento autárquico
da pela rede do açúcar, controle este que perdu- baseado na industrialização substitutiva de im-
rou por várias décadas (SZMRECSANYI, 1979). portações. Isso alterou a percepção do governo
central dos papéis da agricultura e particularmen-
Na década de 1930, surgiu uma nova rede
te das implicações de crises de abastecimento,
de políticas de produto: a do algodão. O desen-
levando à formação – com a Carteira de Crédito
volvimento de variedades de algodão ajustadas
Agrícola e Industrial do Banco do Brasil – do em-
às condições agroecológicas de São Paulo, a
brião de uma política de crédito agrícola; e com
gradual liberação de terras antes ocupadas com
a criação da Comissão de Financiamento da Pro-
o café a partir de meados da década e o apoio
dução também surgiu o embrião – mais formal
do governo federal – mediante negociações ex-
do que efetivo – de uma política de preços míni-
ternas – viram surgir mercados externos para o
mos (MUELLER, 1984). Esses instrumentos, po-
produto, que se somaram à expansão do mer-
rém, não surgiram por iniciativa do setor público
cado interno propiciado pelo crescimento da
agrícola, e sim de segmentos da área econômica
indústria têxtil. Houve, assim, forte aumento de
do governo e do comando militar, preocupados
produção de algodão e a formação de rede de
com possíveis efeitos deletérios de desempenho
políticas do produto no entorno da União dos
insuficiente da agricultura provocados por restri-
Lavradores de Algodão de São Paulo, que pas-
ções da II Guerra. Quanto às redes de políticas
sou a canalizar as demandas do setor algodoei-
de produtos nesse período, elas continuaram ati-
ro (MUELLER, 1988b).
vas e fora da esfera de atuação do setor público
E os demais segmentos da agricultura? No agrícola. Destaca-se a pressão da rede do café
período de 1930 a 1945, a produção de lavouras para que negociações levassem a melhores pre-

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ços do produto nos Estados Unidos, tabelados a ausência de estratégia de desenvolvi-
como parte de esforço de guerra (ABREU, 1990). mento agrícola minimamente estruturada
acabaria em crises de abastecimento e em
reduções na geração de divisas de expor-
Linhas gerais tações agropecuárias. Resumidamente, a
da evolução da agricultura estratégia adotada apoiou-se principal-
desde o final da II Guerra (1945) mente em políticas quantitativas, nota-
damente a de crédito agrícola subsidiado
É possível estabelecer, em linhas gerais, três – com a instituição em 1965 do Sistema
grandes fases de desempenho da agropecuária no Nacional de Crédito Rural (SNCR) – e a de
período (MUELLER, C.; MUELLER, B., 2006). preços mínimos, reforçada por aparelha-
• De 1945 até o início da década de 1970: mento técnico da CFP; ambas as políticas
fase de expansão horizontal, um prolon- exigiram forte mobilização de recursos
gamento de evolução registrada há mui- públicos (GOLDIN; REZENDE, 1993). Vi-
to no País. Nesse período a coalizão no sando ao longo prazo, entretanto, houve
poder priorizava estratégia de desenvol- a promoção do desenvolvimento tecno-
vimento assentado na industrialização lógico da agricultura, mediante a consti-
por substituição de importações, que tuição do sistema Empresa Brasileira de
produziu acentuada discriminação con- Pesquisa Agropecuária (Embrapa), e cria-
tra a agricultura (BACHA, 1975; BAER, ram-se incentivos ao desenvolvimento do
2002). A despeito disso, o setor agrícola agronegócio. A estratégia modernizante
teve um desempenho razoável, tanto em foi, contudo, acompanhada de postura
termos de geração de divisas como de fortemente intervencionista em mercados
produção para o mercado interno. O que relevantes à agricultura, com emprego
tornou isso possível foi a incorporação de controles de preços, intervenção em
continuada de terras na fronteira agrícola mercados (interno e externo) e na taxa
(MUELLER, 1992) e a formação de ca- de câmbio (DIAS; AMARAL, 2000). A es-
feeiros no norte do Paraná; um dos sub- tratégia de desenvolvimento do governo
produtos desta última foi a expansão da militar objetivava, com esses incentivos e
oferta de alimentos a custos baixos. Fora com esse intervencionismo, assegurar de
de São Paulo, porém, a agropecuária bra- que o desempenho da agricultura contri-
sileira continuou a apresentar indicadores buísse para o atingimento da visão de boa
de produtividade muito reduzidos e sem sociedade do regime militar (a do “Brasil
tendência a mudar (PATRICK, 1975). grande potência”).
• Do final da década de 1960 até meados Com a redemocratização, a estratégia
da década de 1990: fase de moderniza- agrícola permaneceu, em linhas gerais, se-
ção conservadora: um período de acentu- melhante, mas o seu objetivo passou a ser
ada modernização da agropecuária, mas o de evitar que a agricultura viesse a atra-
que não foi precedido por ações efetivas palhar a administração da dívida externa;
para reduzir as disparidades do acesso à preocupavam, também, possíveis aumen-
terra.5 A primazia continuou a ser a do tos de pressões inflacionárias de uma ofer-
desenvolvimento urbano-industrial, mas ta agrícola insuficiente. Essa postura domi-
se tornou óbvio que o modelo de expan- nou a política agrícola e, com ela, vieram
são horizontal estava se esgotando e que acentuadas inconsistências de execução.
5
É interessante ressaltar que logo no início da fase militar aprovou-se o Estatuto da Terra, um instrumento com potencial de gerar mudanças significativas na
distribuição de terras no País. Logo depois, porém, interesses poderosos conseguiram que a até a ideia de uma reforma agrária fosse execrada.

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• De meados da década de 1990 até mea- Segue uma análise, em grandes linhas, da
dos da primeira década do novo milênio: essência do processo de formação de políticas
fase de abertura da economia ao exterior agrícolas nessas três fases.
e de abandono da postura intervencionis-
ta. Nessa fase foram feitos ajustes substan-
ciais na política agrícola, com redução Formação de políticas agrícolas
do emprego dos mecanismos quantitati- na fase de expansão horizontal
vos que vinham se mostrando cada vez
mais pesados e ineficientes, e com con- Em sua criteriosa avaliação do início da
sideráveis reduções das intervenções em década de 1970 da evolução da agricultura bra-
mercados relevantes à agricultura (DIAS; sileira e das políticas adotadas após a II Guerra
AMARAL, 2000; REZENDE, 2003). Es- Mundial, William Nicholls (NICHOLLS, 1970)
ses ajustes evoluíram em um processo constatou desempenho bastante satisfatório do se-
gradual, com tentativas e erros; houve tor em um ambiente de virtual ausência de apoio
certa turbulência inicial, mas vários fa- oficial; a única exceção que encontrou foi a de in-
tores fizeram que, na virada do milênio, vestimentos em estradas, viabilizando acentuada
a agropecuária brasileira ingressasse em expansão da fronteira agropecuária. Admirou-se
um período, que durou quase 5 anos, que os estrategistas do desenvolvimento do pe-
de acentuada expansão e forte moder- ríodo não usassem um pouco da criatividade e
nização. Foram importantes para esse empenho que vinham devotando à estratégia de
desempenho as aportes do desenvolvi- industrialização para a construção de um setor
mento tecnológico da agricultura e a con- público agrícola mais atuante e eficaz. Conhe-
solidação de um segmento agroindustrial cendo profundamente a agricultura brasileira,
moderno, de crescente participação nas Nicholls estava convencido do potencial de res-
exportações brasileiras. É interessante que posta do setor a uma estrutura de apoio minima-
esse desempenho da agropecuária tenha mente focada. Como estava, a produção agrope-
ocorrido quase que à revelia do apoio e cuária continuaria a aumentar com a expansão da
de incentivos oficiais, resultado da perda fronteira, mas com baixos níveis de produtividade.
de capacidade de atuação do Estado. No Em parte isso resultava da falta de uma
período, o setor chegou mesmo a substi- rede de políticas agrícolas influente; sem esta
tuir recursos do Tesouro Nacional por re- o setor público agrícola se restringia ao desem-
cursos de outras fontes. Além disso, algu- penho medíocre de poucas tarefas técnicas. Ao
mas reformas fizeram surgir mecanismos final do período ocorreu uma reforma visando
menos pesados e mais eficientes de apoio dar ao setor condições de atuar melhor na pro-
oficial à comercialização. moção de uma oferta adequada de alimentos e
Um acontecimento marcante nessa fase foi em um programa de reforma agrária. Surgiram
a acentuada expansão da fronteira agrícola na os embriões dos atuais Companhia Nacional de
região do Cerrado, com base em uma agricultu- Abastecimento (Conab) e Instituto Nacional de
ra moderna, altamente tecnificada e produtiva. Colonização e Reforma Agrária (Incra)6, mas isso
ocorreu na véspera do golpe militar de 1964.
Em comparação com o processo de abertura da
fronteira em épocas anteriores, houve uma im- A despeito da ausência de estratégia e de
portante queima de etapas (MUELLER; MARTHA uma rede abrangente de políticas agrícolas no
JÚNIOR, 2008). Essa evolução se iniciou ainda período, as redes de políticas de produtos conti-
na fase anterior (REZENDE, 2003), mas se acele- nuaram atuantes. A rede do café conseguiu que
rou marcadamente nesta última. surgisse, no lugar do Departamento Nacional
6
Ver Mueller (1988b, p. 261-2). Na época, ações de reforma agrária estavam no âmbito do Ministério da Agricultura e apresentavam poucos resultados.

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do Café (DNC), fechado após o fim da ditadura e o de tentar obter alguma proteção dos impactos
de Getúlio Vargas, o Instituto Brasileiro do Café negativos sobre o setor de políticas adotadas para
(IBC) (DELFIM NETTO, 1979). Essa organização enfrentar o ambiente macroeconômico turbulen-
recebeu poderes para atuar no suporte de pre- to do período. Os interesses da área econômica
ços do produto. O Instituto, todavia, teve que em relação à agricultura, contudo, nem sempre
equilibrar o atendimento de pleitos da cafeicul- coincidiam com os de organizações importantes
tura com o objetivo central da área do governo do setor público agrícola. A área econômica es-
no comando da estratégia de desenvolvimento, tava focada na modernização urbano-industrial
de dar suporte à receita de divisas do País, ainda e nos desajustes macroeconômicos do período,
fortemente dependente da exportação do café. e dos papéis que atribuía à agricultura eram o
Na verdade, a política cafeeira acabou se su- de assegurar o abastecimento interno de alimen-
bordinando aos desígnios da área econômica tos e insumos agropecuários e o de contribuir na
(BACHA, 1975), e o setor público agrícola pou- geração de divisas para atenuar desequilíbrios
co influía sobre a política para o produto. Algo de setor externo. E isso teria que ser alcançado
semelhante ocorreu com a política do açúcar e – em tese, mas nem sempre na prática – sem dis-
o Instituto do Açúcar e do Álcool (IAA), só que pêndios públicos elevados, já que o descontrole
com subordinação quase total à rede de polí- monetário gerado por elevados déficits públicos
ticas do açúcar do Nordeste (SZMRECSANYI, vinha se agravando. Enquanto a agropecuária ti-
1979). Continuou a atuar a rede de políticas do vesse bom desempenho, a área econômica ten-
algodão com certa influência sobre a política dia a ignorar o setor; mas quando isso não acon-
de preços mínimos e de aquisições do produto tecia, aspectos da política agrícola tornavam-se
(OLIVEIRA; ALBUQUERQUE, 1977). objeto de sua atenção.
A CFP, que executava a política de preços Merece destaque nesse período a políti-
mínimos, estava no organograma do Ministério ca de preços mínimos. O reaparelhamento da
da Agricultura, mas a destinação de recursos para CFP da década de 1970 fez com que, apoiada
a política era controlada pela área econômica; em critérios técnicos, essa organização estivesse
algo semelhante ocorreu com a política de cré- apta a propor parâmetros consistentes e indicar a
dito agrícola, executada pela Carteira de Crédito necessidade de recursos para a política. Movida,
Agrícola e Industrial (Creai) do Banco do Brasil. porém, por objetivos geralmente imediatistas, a
No período, permaneceu apagada a atuação do área econômica, que comandava segmentos im-
setor público agrícola. portantes de decisões relativas à política de pre-
ços mínimos, notadamente o Conselho Monetá-
rio Nacional (CMN), frequentemente contrariava
Formação de políticas agrícolas na as recomendações da CFP (MUELLER, 1988a).
fase de modernização conservadora É evidente que intervenções desse tipo da área
econômica causavam preocupação nos gestores
Observamos no período, de um lado, um da política agrícola, mas eles não detinham o co-
declínio relativo da influência das redes de pro- mando efetivo de instrumentos importantes para
dutos; e, do outro lado, a emergência e o forta- a sua párea de políticas. Rezende (2003) analisa
lecimento de uma rede abrangente de políticas com muita propriedade o estado de aberração a
voltada para a parcela da agricultura em rápida que se chegou na gestão da política de preços
modernização no contexto da operação de com- mínimos, que acabou conduzindo à constitui-
plexos agroindustriais. A rede abrangente tendeu ção de enormes e caríssimos estoques públicos
a se concentrar sobre dois aspectos: o de ações de produtos, parte dos quais se deteriorava ou
para capturar renda para segmentos da agricul- era alvo de desvios. Sua análise permite identifi-
tura, pressionando por condições favoráveis do car, também, a participação da rede de políticas
crédito agrícola e da política de preços mínimos; agrícolas nessa evolução. No final do período

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estava claro que a política de preços mínimos empresas e autarquias governamentais com fun-
precisava ser reformada, mas isso só veio a ções de apoio à agropecuária), isso não garantia
ocorrer na fase seguinte. o atendimento de suas demandas de políticas.
Nessas ocasiões, os conectores acabavam sendo
Quanto à política de crédito agrícola,
mobilizados para a transmissão à área econômi-
esta era considerada fundamental para a rede
ca de demandas da agropecuária. Isso aconteceu
abrangente de políticas agrícolas. Entretanto,
durante o regime militar; a natureza autoritária
como na década de 1980 a atuação do SNCR
da coalizão no poder de então não permitia com
se constituiu em fator de crescente descontrole
que essa transmissão ocorresse mediante meca-
da política monetária, a área econômica passou
nismos comuns em sociedades democráticas.
– especialmente em épocas de aceleração in-
É interessante observar, porém, que a magnitude
flacionária – a limitar a destinação de recursos
da crise externa e o descontrole inflacionário fi-
para o crédito rural; mas, em outras ocasiões,
zeram com que, mesmo após 1984, persistissem,
ameaças de desabastecimento levavam a área em parte pelo menos, mecanismos criados no
econômica a aceder às pressões da rede abran- período autoritário.
gente, ampliando a disponibilidade de recursos
para o crédito rural (DA MATA, 1982; GOLDIN; Com relação ao setor público agrícola fe-
REZENDE, 1993). Foram gradualmente sen- deral, a postura modernizante dessa fase envol-
do desativados, entretanto, mecanismos gera- veu reformas no Ministério da Agricultura e em
dores de subsídios do crédito agrícola oficial. organizações do setor por ele controlado, e a
E, ao final do período, estava clara a necessi- criação de novas organizações. A mais importan-
dade de reforma da política; começava a preo- te dessas iniciativas foi, sem dúvida, a construção
cupar, também, o crescente endividamento do do sistema Empresa Brasileira de Pesquisa Agro-
setor; no período de forte aceleração inflacio- pecuária (Embrapa) de pesquisas agropecuárias,
nária essa dívida acabava se diluindo, mas isso que recebeu recursos adequados para deslan-
cessou de ocorrer após o Plano Real. A elevada char. Houve, também, a mencionada reforma da
inadimplência originou, em 1995, a primeira CFP, e o Banco do Brasil, a principal organiza-
grande renegociação recente da dívida da agro- ção na concessão de crédito rural, assumiu papel
pecuária (PARENTE et al., 1996). de destaque na arquitetura da rede abrangente
de políticas agrícolas, embora fosse formalmen-
Ressaltamos, aqui, o papel de conectores te parte da área econômica (MUELLER, 2009).
na formação de políticas agrícolas na segunda Muitos estados seguiram caminhos semelhantes.
fase. Na década de 1970 e no início da de 1980, Como vimos, porém, essas reformas e mudanças
em pleno período autoritário, a formulação de não capacitaram o setor público agrícola a assu-
políticas agrícolas no Brasil envolveu a atuação mir o comando desimpedido do processo de for-
de conectores, principalmente da área econômi- mulação e implementação de políticas agrícolas.
ca do governo, que controlava instrumentos im-
portantes para a execução de políticas agrícolas.
Vimos que a destinação de recursos e mesmo a Políticas agrícolas no período
fixação de parâmetros da política de crédito agrí- iniciado em 1994: fase de abertura
cola e de preços mínimos ocorriam no âmbito da da economia ao exterior e de
área econômica, o que levou a rede abrangente reversão do intervencionismo da
de políticas agrícolas a se voltar cada vez mais estratégia agrícola anterior
para esta. Aumentou, assim, a importância dos
conectores; por mais que grupos influentes inte- A reversão na natureza intervencionista da
ressados em aspectos da política agrícola con- política agrícola começou no início da década
tassem com o interesse e a colaboração do setor de 1990 com a abertura externa da economia,
público agrícola (o Ministério da Agricultura e e se acentuou com a estabilização obtida pelo

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Plano Real. A abertura significou que a agrope- dicionais – a de preços mínimos e a de crédito
cuária brasileira, inserida em complexos agroin- agrícola – passaram por substanciais alterações.
dustriais, viu aumentar suas possibilidades de O assunto é intricado e será abordado por alto.
exportação, mas tinha também que enfrentar a As mudanças na política de garantia de preços
concorrência de produtos importados. O risco mínimos da década de 1990 objetivaram as-
de quebras de safras internas sobre o abasteci- segurar algum suporte a vários segmentos da
mento não exigia mais, entretanto, a manuten- agropecuária e reduzir o acúmulo de grandes
ção de elevados estoques públicos de produtos; estoques pelo governo. Isso foi alcançado com
além disso, a estabilização deixou nítidos os al- os programas Prêmio de Escoamento de Produ-
tos custos de políticas como as de crédito e de to e Contratos de Opções de Venda de Produtos
preços mínimos do período anterior. Isso resul- Agrícolas. Esses programas envolvem subsídios,
tou na concepção de políticas mais afinadas ao mas as necessidades e dispêndios vêm sendo
estágio de franca modernização do setor. inferiores aos envolvidos na compra de pro-
dutos pela Conab e na constituição de grandes
A despeito da influência da rede abran- estoques como no passado (DEL BEL FILHO;
gente, emergiram políticas que, embora menos BACHA, 2005). A rede abrangente de políticas
intervencionistas, transferiam menos recursos a agrícolas parece ter se adaptado bem ao novo
parcelas influentes do setor. Apesar disso, hou- modelo.
ve considerável expansão da produção e da
produtividade dos segmentos modernizantes No que diz respeito à política de crédito,
da agropecuária; houve, também, forte expan- esta sofreu substanciais alterações e é sobre ela
são das exportações desses segmentos e das que vem se concentrando as pressões da rede
agroindústrias em que estavam inseridos. Foram abrangente. Sem dúvida, essa é a maior área-
fundamentais os frutos do funcionamento do problema da política agrícola. A política de
sistema de pesquisa e disseminação de tecnolo- crédito agrícola, que antes se valia de acesso
gias agropecuárias, comandado pela Embrapa, a abundantes recursos públicos, começou a ser
e contribuiu decisivamente a solução em 1995 alterada em 19867 com o fim, decretado pelo
do engessamento criado pela elevada inadim- Plano Cruzado, da Conta Movimento, usada
plência da agricultura, mediante remanejamen- pelo Banco Central para suprir de recursos fi-
to de longo prazo de dívidas. Abriu-se, assim, nanceiros ao Banco do Brasil, para operações
espaço para o surto de investimentos e para a de fomento – inclusive para o crédito agrícola.
expansão da produção agropecuária. Como ar- Depois, a Constituição de 1988 determinou que
gumentam (DIAS; AMARAL, 2000), a redução recursos para o SNCR fossem estabelecidos pelo
Congresso Nacional no Orçamento da União;
de favores e subsídios foi mais que compensada
assim, para um determinado ano, a dotação para
pela eliminação de intervenções distorcivas so-
o programa oficial de crédito agrícola passou a
bre mercados relevantes à agropecuária do pe-
ter que ser incluída no orçamento para aque-
ríodo anterior.
le ano, votado no ano anterior. Isso enrijeceu
Continuaram na terceira fase medidas consideravelmente o programa, que acabou se
para reduzir o número ou o tamanho de organi- voltando majoritariamente para programas de
zações do setor público agrícola, iniciadas após apoio à pequena agricultura, como o Programa
a aprovação da Constituição de 1988; o papel Nacional de Fortalecimento da Agricultura Fa-
decisivo da Embrapa não foi posto em dúvida, miliar (Pronaf). Assim, em boa medida, o Tesou-
mas essa organização vem tendo que lutar para ro Nacional deixou de ser fonte importante de
obter financiamento minimamente adequado. recursos para o crédito agrícola. Entretanto, aca-
Já as duas linhas de políticas quantitativas tra- baram sendo encontradas fontes alternativas de
7
A evolução, nas duas últimas décadas, da política de crédito agrícola foi bastante complexa. Nosso esboço dessa evolução baseia-se principalmente em
Rezende (2003) e Rezende e Kreter (2006; 2007; 2008).

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recursos para o crédito agrícola: recursos das exi- xo agroindustrial do qual são parte. Juntamente
gibilidades sobre depósitos dos bancos; do Fun- com organizações do setor público agrícola, com
do de Amparo ao Trabalhador (FAT) repassados órgãos de representação setorial – por exemplo
via Banco Nacional de Desenvolvimento Econô- a Confederação Nacional da Agricultura (CNA)
mico e Social (BNDES); dos Fundos Constitucio- – e com organizações menos formais, mas im-
nais do Nordeste, do Norte e do Centro-Oeste; portantes – por exemplo a Bancada Ruralista no
da caderneta de poupança de bancos oficiais; de Congresso –, constituem hoje a rede de políticas
empréstimos internacionais. O resultado disso foi agrícolas abrangente. Ou seja, a rede abrangente
uma rápida expansão da tomada de empréstimos opera paralelamente a várias redes de políticas
de longo prazo, muitas vezes com juros altamen- temáticas ou subsetoriais (MUELLER, 2009). Essa
te subsidiados, especialmente para a aquisição estrutura, que vem se gestando desde o início da
de máquinas e equipamentos. década de 1990, é bastante sofisticada atualmente.
Com relação ao crédito agrícola, a rede A operação da rede abrangente de políticas
abrangente de políticas agrícolas alcançou dois agrícolas pode ser ilustrada com eventos recen-
trunfos importantes: primeiro, uma considerável tes. Recordando, com a assunção de Lula à Presi-
flexibilidade de atuação, permitindo que fosse dência em 2003 não houve ruptura na trajetória
contornado o enrijecimento imposto por nor- da agropecuária da terceira fase. Contrariando
mas restritivas; e segundo, a elevada capacidade expectativas de medidas radicais para o setor,
da rede de obter resultados com suas pressões, Lula colocou Roberto Rodrigues no Ministério da
não só para a ampliação do crédito nas fases de Agricultura – personalidade fortemente identifi-
prosperidade do agronegócio, como conseguin- cada com o agronegócio. Embora tenha atuado
do renegociações da dívida em momentos de como defensor intransigente dos interesses da
crise de inadimplência do setor agropecuário. agropecuária moderna e do agronegócio, uma
importante contribuição de Rodrigues também
foi a de colaborar para o fortalecimento das redes
Agentes privados e de políticas subsetoriais, mediante a constituição
redes de políticas agrícolas de uma série de Câmaras Setoriais, coordenadas
pelo Ministério da Agricultura; cada uma dessas
Na terceira fase, a expansão, a moderniza- Câmaras trata dos interesses de uma rede subse-
ção e diversificação da agricultura e a consolida- torial específica (MUELLER, 2009), mas também
ção de complexos agroindustriais geraram forte dá suporte à rede abrangente de políticas agríco-
aumento no número e no escopo de associações las. E esta voltou a ser intensamente mobilizada
representativas de segmentos do setor. Como mais para o fim da gestão de Rodrigues.
se sabe, estão envolvidas em um determinado
complexo agroindustrial diversas organizações É interessante observar, nesse sentido, que,
produtivas, das quais as ligadas diretamente à durante boa parte dessa gestão (que se encerrou
produção agropecuária são apenas uma parte. em 2006), a rede abrangente de políticas agríco-
Operam, também, empresas fornecedoras de in- las não foi fortemente acionada. Na verdade, o
sumos e serviços à agropecuária, empresas que surto de prosperidade do agronegócio de 1999
realizam transformação dos produtos desta, e as a 2004 chegou a gerar certa complacência. Não
que participam em diferentes etapas do trans- foi necessário um maior envolvimento do setor
porte e da comercialização de produtos. E quase público agrícola na compra de excedentes, e o
todos os componentes de um determinado com- financiamento da acentuada expansão da produ-
plexo agroindustrial são membros de associações ção agropecuária vinha exigindo relativamente
específicas, participando, assim, de redes de po- poucos recursos do Tesouro Nacional; além dos
líticas que atuam demandando políticas de seu mecanismos acima esboçados, expandiu-se o fi-
interesse específico, ou do interesse do comple- nanciamento disponibilizado por fornecedores

Ano XIX – Edição Especial de Aniversário do Mapa – 150 anos 20


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de insumos, pela compra antecipada por parte cuária comercial, e ambas são redes de políticas
de tradings, e via instrumentos como a Cédula de duras, redes que lutam intransigentemente para
Produto Rural (CPR) (REZENDE; KRETER, 2007, exercer controle sobre suas áreas de políticas.
2008). Os lucros do setor eram elevados e não São a rede de políticas agrárias e a rede de po-
pareciam existir problemas com a rolagem do pe- líticas para o meio ambiente. Não é nosso ob-
sado endividamento da agropecuária; era como jetivo aqui esmiuçar a operação dessas redes,
se o risco de inadimplência tivesse desaparecido. e sim observar que, na formulação de políticas
Em 2005, porém, houve um rude despertar; nesse que afetam o setor rural, não dá para ignorar as
ano se fizeram sentir os impactos da combinação suas atuações e demandas.8
de estiagem e surtos de infestações de pragas e
A formação da rede de políticas agrárias
fungos, com preços externos de commodities em
começou com a constituição de um setor públi-
queda, de efeitos amplificados por crescente valo-
co agrário, viabilizado na década de 1980, após
rização do real. A agropecuária comercial entrou o fim do governo militar. Organizações com
em crise, e o fantasma da inadimplência voltou atribuição de tratar de assuntos agrários funcio-
a assolar, não só o setor, como os componentes navam inicialmente no âmbito do Ministério da
do agronegócio que o vinham financiando. E, sob Agricultura, mas no governo Sarney elas foram
o comando do ministro Rodrigues, a rede abran- dele destacadas para constituir o Ministério da
gente de políticas agrícolas passou a exercer for- Reforma Agrária. O setor público agrário conti-
te pressão para a aprovação de pacotes de ajuda nuou a passar por mudanças e a receber novas
voltados ao alívio de nova crise de inadimplên- atribuições, culminando no atual Ministério do
cia. No final da era Palocci, houve forte queda Desenvolvimento Agrário (MAD). Apesar da retó-
de braços entre o setor público agrícola e a área rica reformista logo após o fim do regime militar,
econômica do governo; a saída do ministro da Fa- o setor permaneceu quase inerte até 1995, quan-
zenda e o envolvimento direto do presidente Lula do ações de redistribuição de terras começaram
permitiram que se contornasse o problema, e um a ganhar impulso; simultaneamente movimentos
dos resultados foi a safra recorde de 2006–2007. de sem terra passaram a intensificar suas ações
Todavia, como ressaltam Rezende e Kreter (2007), e a mobilizar o setor público agrário para atingir
as medidas adotadas meramente jogaram para o seus objetivos de política. Atualmente a rede de
futuro o problema do enorme endividamento da políticas agrárias conta com o envolvimento, por
agropecuária. Além disso, não houve retomada um lado, do MAD e do Incra (o braço executivo
mais expressiva do financiamento não bancário do ministério), e de organizações semelhantes
da agropecuária comercial, gerada pela crise, o em estados; e, por outro lado, de organizações
que aumentou a pressão da rede abrangente de de sem terras e seus aliado (como a Pastoral da
políticas agrícolas por maior participação do setor Terra) e de diversas organizações não governa-
público no financiamento do setor. mentais atuando na área agrária. Ao longo das
administrações de Fernando Henrique Cardoso
e de Lula, essa rede de políticas endureceu, e ela
E choques entre redes de políticas? vem atuando de forma agressiva na luta por mais
A discussão acima pode dar impressão de terras e por mais recursos para ações de apoio
que, no meio rural, redes de políticas agrícolas a assentamentos. Como resultado houve aumen-
atuam sem oposição, mas isso longe está de ser tos substanciais em dotações orçamentárias para
verdade. Existem duas outras redes de política essa área de políticas.
cuja atuação vem afetando o funcionamento, A rede de políticas ambientais, por sua vez,
bem como o potencial de expansão da agrope- começou a tomar corpo a partir da década de

8
O esboço que se segue das duas redes baseia-se em Mueller (2009, p. 141-144).

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1980, e logo no início conseguiu avanços com equivocadas. Um exemplo está no aprofundado
provisões de defesa do meio ambiente na Cons- estudo das recentes políticas agrícolas e agrárias
tituição de 1988; herdou o Código Florestal, mas de Chaddad et al. (2006). Nesse estudo, os auto-
também conseguiu a aprovação de uma lei de cri- res identificaram uma expressiva redução, des-
mes ambientais. O setor público ambiental surgiu de 1985, nos recursos orçamentários em termos
com a criação do Ministério do Meio Ambiente reais destinados a ambas essas áreas de políti-
(MMA) com suas organizações executivas – o Ins- cas, mas com um forte declínio dos recursos fe-
tituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos derais para políticas agrícolas, e com aumentos
Naturais Renováveis (Ibama) e o Instituto Chico expressivos nos recursos destinados a políticas
Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICM- agrárias. Baseados em considerações de racio-
Bio) – e envolve organizações semelhantes em ní- nalidade, os autores propõem que essas duas
vel de estado. O setor vem exercendo o comando áreas de políticas sejam reunidas em um único
da rede de políticas ambientais; também partici- setor público rural. E, partindo da intuição de
pam dela várias organizações não governamentais, que a taxa social de retorno de políticas agríco-
las tradicionais (como a pesquisa, a extensão,
algumas de considerável influência. Em conjunto
a defesa animal e vegetal) é muito maior que a
estabeleceram rede dura de políticas ambientais,
de ações (muitas consideradas virtuais desper-
que vem se tornando notável por conseguir obs-
dícios de recursos) na área de políticas agrá-
truir ou retardar até projetos e empreendimentos
rias, propõem a união do setor público agrícola
prioritários para a atual coalizão no poder.
com o setor público agrário em nível federal,
A existência de embates entre a rede compondo uma única área de políticas para o
abrangente de políticas agropecuárias e essas meio rural. Além disso, sugerem que o critério
duas redes de política é evidente. Existem, inclu- de alocação dos recursos federais, para as duas
sive, dois casos notórios em que entrechoques de áreas, seja o da taxa marginal social de retorno
redes geraram situações de virtual impasse: o do de cada ação de política. Assim, políticas com
embate entre a rede abrangente e a rede agrária taxas de retorno mais altas deveriam receber
em torno das mudanças de índices de produti- mais recursos, e às políticas com retorno mar-
vidade para desapropriações da reforma agrária; ginal social reduzido deveria caber menos re-
e o do choque entre a rede abrangente e a rede cursos. Haveria, assim, uma redistribuição de
de políticas ambientais em torno da questão das recursos apoiada em critério de eficiência e a
reservas legais e de reforma do Código Florestal. sociedade sairia ganhando.
Este é um exemplo típico de recomendação
apoiada exclusivamente na dimensão de racionali-
À guisa de conclusão dade, mas com parcas chances de ser adotada atu-
almente no Brasil. Se isso fosse tentado, a rede dura
O início deste trabalho assinalou a visão de políticas agrárias se mobilizaria decisivamente
equivocada, frequentemente encontrada em para impedir a sua implementação. Se a coalizão
avaliações sobre a evolução da agropecuária no poder – a atual ou a que assumirá após as elei-
brasileira e sobre políticas para o setor, apoiadas ções de 2010 – tentasse adotar essa recomendação,
exclusivamente na dimensão de racionalidade. não só fracassaria como provavelmente pagaria
Ignorando a dimensão de poder, consideram elevado custo político pela tentativa.
implícita ou explicitamente que cabe aos eco-
nomistas focalizar apenas a primeira dessas di-
mensões, deixando à ciência política ou a outros Referências
ramos da ciência a análise de aspectos da di-
ABREU, M. de P. Crise, crescimento e modernização auto-
mensão de poder. O problema é que essas duas
ritária: 1930-1945. In: ABREU, M. de P. (Org.) A ordem do
dimensões não são passíveis de separação, e for- progresso: cem anos de política econômica republicana,
çar a mão nesse sentido pode levar a conclusões 1889-1989. Rio de Janeiro: Campus, 1990.

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23 Ano XIX – Edição Especial de Aniversário do Mapa – 150 anos


Jul. 2010

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