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Agronegócio

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Malassis, L. Économie agroalimentaire: économie de la consommation et de la pro-
duction agroalimentaire. Paris: Cujas, 1973. V. 1.
Marx, K. O capital. São Paulo: Nova Cultural, 1988. V. 1.
Mior, L. C. Agricultura familiar, agroindústrias e redes de desenvolvimento rural. Chapecó:
Argos, 2005.
Müller, G. O complexo agroindustrial. Rio de Janeiro: FGV, 1981.
______. G. Agricultura e industrialização do campo no Brasil. Revista de Economia
Política, v. 2, n. 2, p. 47-77, abr.-jun. 1982.
Nycha, L.; Soares, A. C. A relação do processo agroindustrializante e a pequena
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Economia Paranaense (Ecopar), 5. Anais... Curitiba, 2007.
Schneider, J. O. Agro-industria y desarrollo económico. 1987. Dissertação (Mestra-
do em Economia) – Facultad de Ciencias Económicas, Universidad de Chile,
Santiago do Chile, 1987.
S chneider , S. Pluriatividade na agricultura familiar. Porto Alegre: Editora da
UFRGS, 2003.
Wesz Junior., V.; Trentin, I. C. L.; Filippi, E. A importância da agroindustrializa-
ção nas estratégias de reprodução das famílias rurais. In: Congresso da Sociedade de
Economia, Administração e Sociologia Rural (Sober), 44. Anais... Fortaleza:
Sober, julho de 2006.

AGRONEGÓCIO
Sergio Pereira Leite
Leonilde Servolo de Medeiros

O termo agronegócio, de uso relati- (tanto de produtos destinados à agri-


vamente recente em nosso país, guar- cultura quanto de processamento da-
da correspondência com a noção de queles com origem no setor), comer-
agribusiness, cunhada pelos professores cial e de serviços. Para os introdutores
norte-americanos John Davis e Ray do termo, tratava-se de criar uma pro-
Goldberg nos anos 1950, no âmbito posta de análise sistêmica que supe-
da área de administração e marketing rasse os limites da abordagem setorial
(Davis e Goldberg, 1957). O termo foi então predominante.
criado para expressar as relações eco- No Brasil, o vocábulo agribusiness
nômicas (mercantis, financeiras e tec- foi traduzido inicialmente pelas expres-
nológicas) entre o setor agropecuário sões agroindústria e complexo agroindustrial,
e aqueles situados na esfera industrial que buscavam ressaltar a novidade do

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processo de modernização e industriali- dustriais” e “agronegócio” não


zação da agricultura, que se intensificou são exatamente coincidentes
nos anos 1970. Outros termos também [...]. O uso de “máquinas e in-
foram utilizados para destacar o caráter sumos modernos” está presente
sistêmico e não exclusivamente setorial nas três expressões, mas o di-
da produção agrícola: sistema agroalimen- recionamento para exportação
tar, cadeia agroindustrial, filière etc. (Leite, não tem nas duas primeiras o
1990). Desde os anos 1990, o termo mesmo peso que na última. A
agribusiness começou a ganhar espaço, integração agricultura–indústria
mas, já no início dos anos 2000, a pala- não era o maior destaque que se
vra agronegócio foi se generalizando, tan- dava à “agricultura moderna”
to na linguagem acadêmica quanto na tal como formulada nos anos
jornalística, política e no senso comum, 1970. O gerenciamento de um
para referir-se ao conjunto de atividades negócio que envolve muito mais
que envolvem a produção e a distribui- que uma planta industrial ou um
ção de produtos agropecuários. conjunto de unidades agrícolas
é uma das tônicas da ideia de
“agronegócio”. Mesmo que a
Os caminhos da análise grande propriedade territorial
da modernização da esteja associada às três formas,
agricultura brasileira na segunda, ela é vinculada às
práticas de “integração” que
Analisando as transformações da
envolvem também pequenos
agricultura brasileira, David (1997) cha-
produtores; e na terceira, mes-
ma atenção para o fato de que as inter-
mo que as grandes propriedades
pretações sobre esse processo tenderam
sejam uma marca das atividades
a assumir uma perspectiva dicotômica: os
rurais do “agronegócio”, a refe-
anos 1960 foram marcados pela contra-
rência à propriedade territorial
posição entre as reformas estruturais e as
desaparece das formulações de
políticas de modernização; a década de
seus técnicos e há até quem ten-
1970, pelo embate entre produção para
te, no plano ideal dos projetos,
exportação e produção de alimentos; os
associá-la com perspectivas fa-
anos 1980 envolveram análises que re-
voráveis aos pequenos produto-
forçavam a ideia de industrialização da
res. (2010, p. 160)
agricultura (ou a emergência do comple-
xo agroindustrial) em oposição àquelas Nos anos 1980 e início dos 1990,
que apontavam o caráter anticíclico do autores com diferentes formações dis-
setor. A essas dicotomias, pode-se acres- ciplinares e com referenciais teóricos
centar aquela que, nos anos 1950 e 1960, e ideológicos os mais variados come-
opôs minifúndio e latifúndio e a que, em çaram a substituir a expressão “agri-
anos recentes, vem opondo agronegócio cultura (ou agropecuária) moderna”
e agricultura familiar (Sauer, 2008). De por “agroindústria”, e a figura dos
acordo com Heredia, Palmeira e Leite: “complexos agroindustriais” passou
a ser moeda corrente. A preocupação
As fronteiras entre “agricultura era assinalar a integração agricultura/
moderna”, “complexos agroin- indústria pelas “duas pontas”: insumos

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e produtos, expressão que teria assu- tanto nas reflexões sobre as circuns-
mido a “industrialização da agricultu- tâncias que informam o movimento de
ra” formulada por Kautsky no início expansão das atividades que estariam
do século XX. Como chamam atenção compreendidas nessa definição quanto,
Heredia, Palmeira e Leite, “a ideia do igualmente, para pensarmos a validade
‘agronegócio’ se tornará uma espécie do seu contraponto, isto é, o conjun-
de radicalização dessa visão, em que to de situações sociais e atividades que
o lado ‘agrícola’ perde importância e o não estariam representadas e/ou le-
lado ‘industrial’ é abordado tendo gitimadas pelo emprego desse termo:
como referência não a unidade indus- agricultores familiares, assentados de
trial local, mas o conjunto de atividades projetos de Reforma Agrária, comuni-
do grupo que a controla e suas formas dades tradicionais etc. Em boa medida,
de gerenciamento” (2010, p. 160). a permanência dessas últimas no cená-
Da perspectiva da análise dos eco- rio agrário atual tem sido identificada,
nomistas rurais, é interessante notar, pelos segmentos mais conservadores,
adicionalmente, que a resistência da como “obstáculo”, “atraso” ou, ain-
corrente dominante ao uso de uma da, como portadora de experiências
abordagem intersetorial agricultura– “obsoletas” num meio rural cada vez
indústria até meados dos anos 1980 mais industrializado.
(por considerarem que tal perspectiva A análise dos processos sociais rurais
feria a propriedade do setor agrícola que informam a análise do agronegócio não
em atestar os atributos de concorrência pode estar desvinculada da análise de prá-
pura ou perfeita na análise das funções ticas, mecanismos e instrumentos de po-
econômicas e produtivas) é comple- líticas – setoriais ou não – implementa-
tamente revertida no início da década dos pelo Estado brasileiro. Ainda que tal
posterior, quando se verifica, da pers- forma de intervenção tenha se alterado
pectiva de uma análise econômica do ao longo do tempo (por exemplo, da po-
novo estatuto do setor agropecuário, lítica de crédito rural dos anos 1970 à re-
agora funcionando de forma integra- negociação de dívidas no final dos anos
da, uma adesão aos novos termos e à 1990 e ao longo da década de 2000), ela
sua capacidade explicativa (Heredia, é importante para identificar as diferen-
Palmeira e Leite, 2010). tes políticas públicas que subsidiam a
Assim, é preciso compreender os expansão dessas atividades, aliviando os
processos sociais, econômicos, polí- constrangimentos financeiros, ambien-
ticos e institucionais relacionados à tais, trabalhistas, logísticos etc. (Silva,
emergência do termo agronegócio na vi- 2010), ou mesmo promovem a produção
do conhecimento técnico necessário ao
rada dos anos 1980 para os anos 1990
aumento da sua produtividade física nas
como dimensões que extrapolam o
mais diferentes regiões do país.
mero crescimento agrícola/agroindus-
trial e o simples aumento da produtivi-
dade física dos setores envolvidos na A dinâmica recente
cadeia de produtos e atividades, e que do agronegócio
são comumente associadas ao termo
nos debates e reportagens jornalísticas No que diz respeito ao perfil do
sobre o setor. Isso deve ser observado agronegócio hoje, o que se observa é,

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por um lado, sua tendência a controlar para exportação, sem nenhum benefi-
áreas cada vez mais extensas do país e, ciamento no Brasil.
por outro, a concentração de empresas Processos semelhantes podem ser
com controle internacional. Tomando identificados na produção de etanol e
o caso da soja como exemplo, verifica- biodiesel e na indústria florestal.
se que, até 1995, a Cargill destacava-se
como a grande empresa com unidades
de esmagamento no Brasil. Como apon- Agronegócio, trabalho
ta Wesz Junior (2011), após dois anos e terra
de intenso processo de fusões e aquisi-
ções, ADM, Bunge e Dreyfus-Coinbra O que hoje se denomina agronegócio
também passaram a ter controle sobre relaciona-se, como já indicado, com a
a propriedade de unidades de benefi- alta tecnologia agrícola. As tecnologias
ciamento do grão. Assim, em 2004, o diferem bastante segundo o ramo que
número de agroindústrias controladas se toma como referência. Assim, se
pelo Grupo ABCD (que, a partir de a soja e o algodão têm sua produção
2001, passou a contar com a presença marcada, tanto no plantio quanto na
da Amaggi) alcançou trinta plantas in- colheita, pela presença de insumos quí-
dustriais. Esse movimento corresponde, micos, biotecnologias e mecanização, o
no caso da soja, a uma nova regionaliza- mesmo não se dá, por exemplo, com
ção das empresas, que buscam situar-se o café, que exige abundância de mão
de forma mais próxima às regiões pro- de obra na colheita. A própria cana-de-
dutoras, como é o caso do Mato Grosso açúcar, que pode ser cortada mecani-
e do oeste baiano. camente em áreas planas, em áreas de
Esse processo de concentração é relevo irregular exige corte manual.
marcado também pela verticalização: Mesmo culturas que são mecanizadas
os grandes grupos controlam hoje a demandam mão de obra para recolher
produção de insumos, o armazena- os restos deixados pelas máquinas (al-
mento, o beneficiamento e a venda. Sua godão, cana), plantio de mudas (euca-
estratégia é desenhada com base na sua lipto) ou combate a pragas (formiga no
dinâmica de inserção nos mercados in- eucalipto). Assim, embora tenha ha-
ternacionais. Comentando o caso par- vido uma redução de mão de obra no
ticular da soja, Wesz Junior (2011) res- setor agrícola, o emprego do trabalho
salta que, em 2010, as empresas Bunge, assalariado em atividades braçais está
Cargill, ADM, Dreyfus e Amaggi do- longe de desaparecer. Consolidou-se
minavam 50% da capacidade de esma- um mercado de trabalho composto por
gamento da oleaginosa; 65% da pro- trabalhadores permanentes e temporá-
dução nacional de fertilizantes; 80% rios os quais correspondem, embora
do volume de financiamento liberado não exatamente, àqueles com direitos
pelas tradings para o cultivo do grão; trabalhistas assegurados e outros que
85% da soja produzida no país; 95% vivem à margem desses direitos. Boa
das exportações in natura da soja bra- parte deles mora nas periferias das ci-
sileira; e 8,1% das exportações nacio- dades próximas aos polos do agrone-
nais. O autor afirma ainda que, no mí- gócio. Ao mesmo tempo, verifica-se, no
nimo, um terço da soja produzida por interior das unidades produtivas agrí-
esse grupo de empresas segue direto colas, a presença de uma mão de obra

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qualificada, composta por operadores últimos anos: por mais que suas terras
de máquinas, mecânicos, agrônomos, possam ser “produtivas”, a necessida-
técnicos agrícolas etc., indicando uma de de manter outras como reserva para
segmentação do mercado de trabalho sua expansão faz de qualquer mudança
ainda muito pouco estudada. nos índices de produtividade agrícola
Finalmente, a expansão do agrone- uma ameaça à lógica de reprodução do
gócio tem levado à reprodução de for- agronegócio (Medeiros, 2010).
mas degradantes de trabalho, em es-
pecial nas áreas em que as matas estão Sentidos políticos
sendo derrubadas, denunciadas por en-
tidades como a Organização Interna-
do agronegócio
cional do Trabalho (OIT) e a Comissão Desde que seu uso se impôs, o ter-
Pastoral da Terra (CPT) como sendo mo agronegócio tem um sentido amplo
condições análogas à escravidão. e também difuso, associado cada vez
Outro aspecto a ser ressaltado é mais ao desempenho econômico e à
que a lógica da expansão do agronegó- simbologia política, e cada vez menos
cio no Brasil está intimamente ligada à às relações sociais que lhe dão carne,
disponibilidade de terras. Assim, para uma vez que opera com processos não
os empresários do setor, além das ter- necessariamente modernos nas dife-
ras em produção, é necessário ter um rentes áreas e regiões por onde avança
estoque disponível para a expansão. a produção monocultora.
Isso tem provocado um constante au- Dessa perspectiva, a generalização
mento dos preços das terras, tanto em do uso do termo agronegócio, mais do
áreas onde o agronegócio já se implan- que uma necessidade conceitual, cor-
tou quanto nas áreas que podem pos- responde a importantes processos so-
sibilitar o crescimento da produção. ciais e políticos que resultaram de um
A permanente necessidade de novas esforço consciente para reposicionar
terras tem sido o motor de intensos o lugar da agropecuária e investir em
debates, em especial na esfera legis- novas formas de produção do reconhe-
lativa, em torno da concretização de cimento de sua importância. Ela indica
medidas que possam regular e colocar também uma nova leitura de um mes-
limites ao uso da terra. Isso se aplica mo processo de mudanças, acentuan-
tanto ao interior das unidades produ- do determinados aspectos, em especial
tivas (matas ciliares, áreas de preserva- sua vinculação com o cotidiano das
ção, por exemplo, e que foram o cen- pessoas comuns.
tro dos debates em torno do Código Os anos 1990 viram nascer institui-
Florestal) quanto fora delas (expansão ções como a Associação Brasileira do
de áreas indígenas, reconhecimento de Agribusiness, hoje Associação Brasi-
terras tradicionalmente ocupadas, deli- leira do Agronegócio (Abag), que teve
mitação de reservas, controle das terras importante papel na generalização do
pelo capital estrangeiro etc.). É nesse uso do termo agribusiness, inicialmente,
quadro de demanda crescente de terras e depois agronegócio. Insistindo na ne-
que também se situa o debate em tor- cessidade de uma abordagem sistêmi-
no da mudança nos índices de produ- ca, agribusiness passou a ser relacionado
tividade da agricultura que marcou os pelas entidades do setor não só com

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a produção agropecuária, mas com pode ser dissociado das instituições


outros assuntos correlatos, entre eles, que o disseminaram, como a Abag,
a segurança alimentar e a produção ou que falam em nome dele, como é
de objetos de uso cotidiano (a roupa o caso das entidades patronais rurais –
que se veste, por exemplo). Buscando em especial, a Confederação Nacional
firmar a nova categoria, procurou-se da Agricultura (CNA) e a Sociedade
mostrar que ela não é o mesmo que Rural Brasileira (SRB), das associa-
agroindústria, que representa apenas uma ções por produtos e multiprodutos,
parte do agribusiness. Segundo a Abag tais como a Associação Brasileira das
(Associação Brasileira do Agronegó- Indústrias de Óleos Vegetais (Abiove),
cio, 1993), fazem parte do agribusiness a Associação Brasileira dos Criado-
não só produtores, processadores e dis- res de Zebu (ABCZ), a Organização
tribuidores (elementos contidos na ca- das Cooperativas Brasileiras (OCB), a
tegoria agroindústria), mas também as Associação Brasileira dos Produtores de
empresas de suprimentos de insumos e Soja (Abrasoja), a Associação Brasileira
fatores de produção, os agentes finan- dos Produtores de Algodão (Abrapa),
ceiros, os centros de pesquisa e expe- a União Brasileira de Avicultura
rimentação e as entidades de fomento (UBA) etc. (Bruno, 2010; ver também
e assistência técnica. Ele é composto Organizações da Classe Dominante
ainda por entidades de coordenação, no Campo).
como “governos, contratos comerciais, Essa busca pela construção de uma
mercados futuros, sindicatos, asso- imagem perante a opinião pública,
ciações e outros, que regulamentam a reveladora de posições no debate po-
interação e a integração dos diferentes lítico, também se expressa na disputa
segmentos do sistema” (ibid., p. 61). pelo tamanho que o agronegócio tem
Houve, assim, um debate conceitual na economia brasileira, o que geral-
que se relacionava tanto com a precisão mente leva a infindáveis controvérsias
da imagem quanto com a sua redefini- metodológicas sobre como medir o
ção: tratava-se de produzir a percepção peso desse segmento (Nunes e Contini,
do setor como dinâmico, moderno, 2001). Por trás dessa guerra metodo-
produtor de divisas para o país, susten- lógica e de números, esconde-se uma
táculo do desenvolvimento. Com isso, disputa pelo acesso aos recursos públi-
esperava-se romper com a imagem do cos, tão mais legitimado quanto maior
estritamente agrícola e da propriedade for o peso que se atribui ao agronegócio.
latifundiária, e com os estigmas a ela Assim, como aponta José Graziano
relacionados – atraso tecnológico, im- da Silva (2010), a dimensão simbólica
produtividade, exploração do trabalho. construída pelo setor faz que se acre-
Cabe ressaltar que essa percepção dite num tamanho e numa dimensão
já se faz presente no início da Nova muito maiores do que o segmento efe-
República, quando é estruturada a tivamente representa, quer em termos
Frente Ampla da Agricultura Brasileira econômicos, na mensuração do produ-
(Faab), criada em 1986 e considerada to, quer em termos políticos, quando
pelo ex-ministro da Agricultura Ro- tomada sua expressão no Congresso
berto Rodrigues (2003-2006) como a Nacional, por meio da chamada Ban-
semente da organização do agribusiness cada Ruralista (ver Organizações da
no Brasil. Hoje, o termo agronegócio não Classe Dominante no Campo).

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No entanto, essa construção de o agronegócio. Esse deslocamento
imagem como esforço político en- traz consigo novas vertentes: à críti-
contra outras apropriações possíveis. ca à concentração fundiária soma-se a
Assim, à medida que o termo agro- denúncia do próprio cerne do agrone-
negócio se impõe como símbolo da gócio, sua matriz tecnológica. Assim,
modernidade, passa a ser identificado, surgem críticas ao uso de sementes
pelas forças sociais em disputa, como transgênicas, ao uso abusivo de agro-
o novo inimigo a ser combatido. Já no tóxicos, à monocultura. Ao modelo
início do ano 2000, verifica-se, por do agronegócio passa a ser contrapos-
exemplo, entre os militantes do Movi- to o modelo agroecológico, pautado
mento dos Trabalhadores Rurais Sem na valorização da agricultura campo-
Terra (MST) e da Via Campesina um nesa e nos princípios da policultura,
deslocamento de seus opositores: cada dos cuidados ambientais e do controle
vez menos o adversário aparece como dos agricultores sobre a produção de
sendo o latifúndio e cada vez mais é suas sementes.

Para saber mais


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