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Introdução
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23/01/2017 Marxismo, questão agrária e projeto nacional
I
Ao compararmos o período do debate clássico sobre o papel da agricultura
na sociedade brasileira (anos 1960) com o período atual, vemos que os
grandes temas debatidos pela esquerda, na época, agora são praticamente
ignorados. A ideia do desenvolvimento (Iseb – Instituto Superior de Estudos
Brasileiros; Cepal – Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe;
PCB), que os setores de esquerda tinham como estratégia para a chegada
ao socialismo, foi abandonada e essa “nova esquerda” – envergonhada
com o comunismo, ou apenas anticomunista – tem nas questões
micropolíticas as suas principais preocupações.
Muito do que se debate hoje enquanto questão agrária pode ser incluído
exatamente nessa conceituação de socialismo pequeno-burguês. Basta ver
que grande parte das críticas às estruturas agrárias brasileiras culpa a
modernização da agricultura, que transformou a vida do “camponês”
obrigando-o a se inserir no mercado capitalista. O abandono do marxismo
como método de análise acaba por modificar as bandeiras socialistas de
transformação radical da sociedade em meras formas de remediar os males
da sociedade burguesa.
Decorre daí a crítica por muitas vezes equivocada do avanço das forças
produtivas na agricultura, em geral manifestada pela interpretação sobre os
aspectos “perversos” da modernização da agricultura.
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A “demonização” da
modernização da agricultura, que
destrói a forma de vida dos
camponeses, torna-se a parte
central da crítica. Tomando por
base a análise marxista, que
entende a dicotomia entre o
avanço das forças produtivas e
das relações de produção como
ponto central desse processo,
propõe-se uma interpretação
diferente da modernização,
retirando-se dela o seu caráter
“demoníaco”.
A modernização da agricultura
efetuada durante a ditadura
militar brasileira (1964-84),
tornou-se conhecida como
“modernização conservadora”,
ou seja, quando se moderniza a
produção agrícola com a adoção
do “pacote verde”, mas sem
alterar as estruturas agrárias
existentes. Assim, o caráter
conservador dessa modernização
se mostrou presente em alguns
fatores, amplamente citados na
literatura especializada: a manutenção ou ampliação da concentração
fundiária; a manutenção ou aumento da concentração de renda; e o foco
das políticas modernizantes nos setores agroexportadores e nos grandes
produtores. Em decorrência desses fatores uma das consequências
apresentadas foi o aumento da pobreza e o êxodo rural.
campo teria sido compensada pela melhoria geral das condições de vida
nas cidades (barateamento dos alimentos, melhorias de condições de
trabalho etc.). Basta vermos a enorme diminuição do preço dos alimentos
nas cidades, associada ainda à melhoria de sua qualidade (GONÇALVES,
2012).
II
Algumas análises equivocadas sobre a agricultura levaram à criação de
debates sobre novas falsas dicotomias, sendo a principal delas a questão
da produção familiar X agronegócio.
Ainda assim, procura tornar esse sujeito social quase uma “divindade” e
criticar intensamente as interpretações marxistas em relação ao papel dúbio
do camponês na transição ao socialismo, em especial a análise de Lênin. A
resistência do camponês ao capitalismo tornou-se um tema explorado, mas
muitas vezes essa resistência vai ser apresentada como uma resistência
cultural, no âmbito dos costumes e na manutenção do seu modo de vida.
Ao que parece, algo muito deslocado do mundo real e muito fora da análise
marxista que reflete sobre o papel real que ele exerce na luta de classes. O
domínio do idealismo nestas análises, que algumas vezes se apresentam
como marxistas, mostra uma transformação do método de Marx em seu
oposto (ver a crítica feita por GERMER, 2003).
Uma das consequencias desta análise é que tornou-se comum, nos meios
socialistas, a defesa da propriedade privada da terra, desde que seja uma
pequena propriedade. Alguns malabarismos teóricos-conceituais
apresentam uma divisão da agricultura entre agricultores familiares (que
produzem os alimentos que comemos) e o agronegócio que envenena
nossos alimentos, que destrói a natureza, entre outras “maldades”. Ora, é
necessário analisar qual a inserção destes agentes sociais no âmbito da
produção, a dicotomia bem X mal; além de não explicar a realidade ainda
nos confunde para a elaboração de nossas estratégias.
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III
O tema central para o debate sobre a realidade agrária deve ter como marco
central o processo mais amplo do desenvolvimento, tornando mais
relevante a análise da expansão da divisão social do trabalho que atenua as
diferenças e acentua a interdependência entre rural e urbano. Do ponto de
vista prático, esta relação vai se manifestar na questão do abastecimento de
alimentos para as populações urbanas.
Assim, a questão agrária não deve ser vista apenas como um debate sobre
o direito à posse da terra, mas sim em uma dimensão mais ampla que visa à
própria questão do abastecimento alimentar da população. Dominar o
padrão tecnológico, desenvolver as forças produtivas de forma soberana é
fundamental para qualquer projeto nacional que vislumbremos. Debater a
questão agrária hoje só faz sentido se ela estiver inserida em um projeto
nacional, buscando sua relação com a totalidade econômica e social do
país.
Referências bibliográficas
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MARX, Karl. O Capital: crítica da economia política. (Os Economistas – vol. I a V) São Paulo, Nova
Cultural, 1985.
RANGEL, I. “A História da Dualidade Brasileira”. In: Revista de Economia Política, vol. 1, nº 4,
outubro-dezembro/1981, p. 5-34.
SOARES, Paulo de Tarso P. L. Um Estudo Sobre Lênin e as Defesas da Reforma Agrária no Brasil.
Tese de Doutoramento. São Paulo: FEA-U SP, 1992.
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