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SOCIOLOGIA, EXTENSÃO E
COMUNICAÇÃO RURAL
AULA 2
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CONVERSA INICIAL
examinada de uma perspectiva social. Por um lado, sabemos que é fundamental perceber os impactos
organização das cidades. Afinal de contas, o modo como a agropecuária foi se consolidando na
modernidade (não apenas no Brasil) é resultante das demandas e formas de organização das cidades
aumento da eficiência do campo. Mas também é importante perceber como a estrutura fundiária (a
ser debatida em outro tópico) é central para a forma como a sociedade rural vem se desenvolvendo
ao longo dos séculos no país. O quadro que se acentua é de uma concentração fundiária e a história
brasileira reúne elementos que nos ajudam a perceber como isso vem ocorrendo com o passar do
tempo e como acentua-se na segunda metade do século XX. Assim, a questão fundiária será um dos
principais pontos que vamos usar como base para abordar as dinâmicas sociais do campo.
1. A questão agrária I
2. A questão agrária e o cenário do neoliberalismo
oligopolista e capitalista, a concentração fundiária no campo e a demanda por reforma agrária são
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elementos que integram o termo conhecido como questão agrária. Ao longo da etapa anterior,
percebemos que existem várias estratégias de marcos temporais para observar o meio rural no Brasil.
Podemos retomar o debate do Brasil colonial ou dos reflexos da política da Lei de Terras de 1850.
Contudo, como o foco neste tópico é nos debruçarmos sobre a questão fundiária, vamos partir de um
cenário agrário nacional após a Segunda Guerra Mundial em um ambiente que denominamos
Primeiro, é importante destacar o papel fundamental das ligas camponesas nas décadas de 1950
e 1960 como aglutinadoras das pautas pela reforma agrária no país. As ligas camponesas surgem em
1945, com o Partido Comunista Brasileiro (PCB), sob liderança do então militante do partido e futuro
deputado federal na década de 1960, o pernambucano Francisco Julião (1915-1999). Uma das
principais representações da luta pela reforma agrária no país em meados do século passado, as ligas
As ligas integram uma primeira etapa de análise sobre a questão agrária no país, que pode ser
identificada na perspectiva indicada por Ramos Filho (2005) no pós-guerra, entre as décadas de 1950
e 1964. Uma segunda fase ou recorte temporal de análise abrange o período da modernização
conservadora do regime militar, entre 1965 e 1982. Por fim, temos um recorte temporal relativo ao
momento do agronegócio e do estado neoliberal, entre 1983 e 2003. Observaremos esse último
período no próximo tópico. Para Ramos Filho (2005, p. 23), a questão agrária, entre 1950 e 1964, terá
como atores centrais no debate relativo à reforma agrária o PCB (principalmente com as ligas
No PCB e, em parte, nas ligas camponesas, a leitura central da questão agrária, influenciada pelo
sociólogo e historiador Caio Prado Júnior, era o "ataque às relações sociais fundiárias e de trabalho no
meio rural brasileiro" (Ramos Filho, 2005, p. 24). Partindo de uma visão marxista e de luta de classes, o
debate, pelas leituras de Caio Prado Júnior e do PCB, centralizava o cenário agrário nacional,
considerado como resultante de uma imposição de condições sub-humanas à maior parte dos
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pelo assalariamento da força de trabalho no campo demandaria uma postura legal trabalhista mais
robusta, com vistas a garantir segurança para os trabalhadores rurais. Com isso, as bandeiras de
defesa do PCB e das ligas giravam tanto em torno do combate ao "feudalismo agrário" brasileiro,
resultante do latifúndio, quanto de uma defesa de garantias de direitos para os trabalhadores rurais
assalariados.
A Cepal, com base na predominância da leitura do economista Celso Furtado, parte, nesse
período, de uma perspectiva da questão agrária dentro de um plano econômico nacional, sobretudo
percebendo o campo como subsidiador da demanda urbana e industrial crescente no país (Ramos
Filho, 2005, p. 25). Na sequência, temos a leitura católica. Diante das manifestações pontuais de
alguns bispos ou, ainda, de documentações como as cartas pastorais ou as encíclicas, a Igreja se
posicionava por uma doutrina social em contraste “a uma realidade agrária de grave injustiça social e
exclusão social, então denunciados pelo episcopado” (Delgado, 2005, p. 54). Essa postura também se
organização do sindicalismo rural, bem como na adesão às normas do Estatuto da Terra (Lei n. 4.504,
de 30 de novembro de 1964), que regulava “os direitos e obrigações concernentes aos bens imóveis
posteriormente, à Constituição Federal de 1988. Como destaca Ramos Filho (2005, p. 27), para a
proveniente da Lei de Terras de 1850, que trata a terra como se fosse simples mercadoria”. Já o
conservadorismo econômico, quarta leitura destacada sobre o período de 1950 a 1964 sobre a
questão agrária, foi marcado pela liderança do economista Delfim Neto, que futuramente assumiria o
cargo de Ministro da Fazenda do governo militar.
liberação da mão de obra rural para uso no setor industrial, sem que isso afetasse a produção
de alimentos;
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ditadura militar.
Nesse espaço temporal, o debate da reforma agrária é deixado de lado por parte do governo.
Destaca-se ainda que, nesse momento, a clandestinidade instituída pela ditadura ao PCB também
pressionaria para o arrefecimento das atividades das ligas camponesas. Nesse período, a agricultura
no país passa por um processo de modernização técnica com integração à indústria, inclusão de
também o “aprofundamento das relações técnicas da agricultura com a indústria e de ambos com o
setor externo, isto tudo fortemente subvencionado pela política agrícola e comercial do período”
(Ramos Filho, 2005, p. 33). É nesse período que temos um grande desenvolvimento capitalista da
agricultura nacional em conexão com a economia industrial e urbana, bem como com o mercado
externo. Essa modernização, contudo, é considerada conservadora, à medida que rompe totalmente
Como sublinha Ramos Filho (2005, p. 37), o período aprofunda a heterogeneidade da agricultura
desiguais em termos geográficos, sendo mais concentrados nas regiões Sul, Sudeste e parte da região
Centro-Oeste. Assim, da mesma forma que o aperfeiçoamento técnico e tecnológico do setor agrário
avança, as distâncias de classes no meio rural aprofundam-se, privilegiando ainda mais o cenário de
concentração de poder e de terras pelas oligarquias. No próximo tópico, retomamos o debate a partir
do recorte temporal após a redemocratização e o cenário do Estado neoliberal.
Neste tópico, vamos nos aprofundar no cenário agrícola brasileiro após a redemocratização,
abarcando o período entre 1983 e 2003, dentro da globalização e do neoliberalismo. Para tanto,
vamos antes destacar alguns aspectos sobre o estado neoliberal, conceito vinculado a uma corrente
expansível por sua natureza e busca incessantemente sua ampliação. Essa obrigatória expansão,
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contudo, não surge necessariamente da cobiça do capitalista, mas de forças externas do próprio
harmonioso ou equilibrado. Assim, destaca Harvey (2005, 2011), identifica-se a tensão considerando-
se alguns fatores fundamentais para a expansão da acumulação, como mão de obra excedente,
mercadorias. A crise pode resultar à medida que é encontrada uma barreira em cada um desses
pontos. Contudo, elas podem ser originárias da própria dinâmica do capitalismo. É o que Harvey vai
pontuar quando afirma que “as crises são endêmicas ao processo capitalista de acumulação” (Harvey,
2005, p. 43). Após a Segunda Guerra, sobretudo impulsionado por políticas de intervenção do Estado,
como por exemplo medidas como o Acordo de Bretton Woods, o capitalismo passa por um período
de forte expansão, com crescimento de consumo significativo, baixos índices de desemprego etc.
pressionando para uma desaceleração produtiva, criando um quadro de queda dos lucros,
considerando que nesse cenário foi o declínio das taxas de juros de todas as “economias capitalistas
avançadas o principal responsável pela projeção da economia mundial de um longo boom num longo
declínio entre 1965 e 1973” (Brenner, 2003, p. 59). É nesse cenário de crise que o neoliberalismo se
consolida como proposta de perpetuação do poder das classes dominantes. Como destacam Duménil
estrutural da década de 1970. Ele expressa a estratégia das classes capitalistas aliadas aos
tensionando ainda mais a concentração de recursos por uma parcela minoritária e acentuando as
distâncias sociais. Como aponta Harvey (2005) e reforçam Duménil e Lévy (2014), a crise que resultou
no neoliberalismo não foi a primeira estrutural na história do capitalismo. As crises são resultantes do
modo de perpetuação do poder no capitalismo, sendo o neoliberalismo, portanto, apenas a mais
recente ordem produzida pelo capitalismo para garantia do poder das classes dominantes, mediante
estratégias de maior acentuação na concentração das riquezas e do poder, retirando a intervenção do
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Estado na garantia de direitos mínimos dos cidadãos, removendo todos os limites de poder de renda
das classes populares. Outro aspecto é a expansão para além das esferas nacionais, dando nova
amplitude à dominação do neoliberalismo, a partir da globalização, com práticas de livre comércio e
É o que Harvey (2011) destacará ao indicar o neoliberalismo como um projeto político da classe
capitalista em resposta à crise e ao sentimento de ameaça política e econômica dessa classe ao seu
Estado – reforçadas por ações no polo ideológico e político – foi uma medida de controle da classe
dominante diante do desespero de perda de poder. “É a partir de lá que emergiu o projeto político
questão agrária, ao passo que após a repressão da ditadura militar aos movimentos pela reforma
agrária, a década de 1980 marca a revitalização desses movimentos e a retomada do debate acerca
da questão agrária e da inclusão no campo. Com essa retomada, temos também a constituição de
novos movimentos sociais que surgem com a demanda da reforma agrária como bandeira mais
evidente. É o caso da Comissão Pastoral da Terra, da CNBB, e do Movimento dos Trabalhadores Rurais
Sem Terra (MST), dentre outros. Além disso, a temática também ganha espaço no cenário político,
sobretudo com a promulgação de nova Constituição, de 1988, em que foi debatida a política agrária e
fundiária.
Da mesma forma como o ambiente do debate social fica mais evidente e fortalecido, o quadro
econômico pesou para o outro lado, o de prejudicar o desenvolvimento da questão agrária,
sobretudo com o fim de um grande ciclo de crescimento econômico no início da década de 1980
(Ramos Filho, 2005, p. 38). É o plano econômico que será norteador para a definição do papel do
agronegócio no quadro nacional. Isso pelo fato de que, em meio às aberturas do mercado
internacional e uma economia globalizada, o setor agrícola passa a ser essencial para suprir o
Filho (2005, p. 40), a forma como a economia vai se apropriar do setor agrícola como uma solução do
endividamento externo “reforça a estratégia de concentração e especulação fundiária no mercado de
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terras. O maior sinal disto é a liberalidade com que propicia a apropriação da renda fundiária pelos
grandes proprietários”.
capitalista. Como destaca Matos (2011, p. 6), o Estado privilegiou à época políticas públicas e
investimentos amplos com foco em energia, transporte e indústrias para estabelecer uma
às mesmas ações de modernização, pois “elevar o padrão de vida das populações que viviam no meio
rural iria dar a elas maiores possibilidades de consumo”. Porém, reforça Matos (2011), os rumos foram
agrícola e não em elementos de contexto ou de questões sociais. Isso viria com a Revolução Verde,
que foi o processo de encabeçamento estatal da modernização rural no país com uma política de
orientada por quatro pilares (Almeida, 1997). O primeiro é relativo à concepção de crescimento com
base em um desenvolvimento econômico e político. O segundo pilar está vinculado ao fim de uma
autonomia do setor agrário com a abertura técnica e o consequente aumento da heteronomia no
meio rural.
O terceiro pilar é resultante justamente dessa abertura técnica, que pressionou para o aumento
da especialização na área rural e o fim da polivalência, ou seja, o fim de uma produção completa por
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perfil do agricultor, que passa de uma postura de atuação orgânica e comunitária para uma postura
individualista, de competição, “questionando a concepção orgânica de vida social da mentalidade
Para fins de conceituação, modernização aqui é entendida não com base em um processo
evolutivo inclusivo, mas da perspectiva destacada por Graziano da Silva (1996), como um termo que
a partir das importações de tratores e fertilizantes num esforço de aumentar a produtividade”. Dito
isso, a modernização, segundo Graziano da Silva (1996), pode ser organizada no pós-guerra em três
fases.
A fase inicial é a que destaca o próprio conceito de modernização, ou seja, é relativa à base
encabeça um processo de integração de capitais. Com isso e com os CAIS, o setor começa a ganhar
credibilidade e participação no mercado externo e a ampliar o atendimento das demandas internas.
para o setor agrícola. O segundo é a agricultura moderna, com a inclusão de tecnologia no campo. E,
por fim, o terceiro é a constituição de uma agroindústria processadora. Destaca-se que esses três
elementos surgem por meio de fortes incentivos do Estado, com fundos de financiamento para
determinadas culturas, para compra de maquinários e insumos. Dessa forma, para Graziano da Silva
(1996) o ponto-chave da virada para a modernização foi a mudança de foco da produção individual
do produtor para um cenário de produção integrada com a indústria.
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necessidade de reprodução e ampliação. É preciso novos mercados e novos consumidores para que a
Com isso, é preciso gerar divisas para os países e estabelecer um livre comércio que não se restrinja
aos limites nacionais. Em parte, podemos perceber a globalização como uma resposta a essa
dinâmica do capital, que é como percebemos no debate indicado por Harvey (2005, 2011), ao propor
que a geografia e os limites espaciais são resultantes dessas expansões e estratégias de reprodução
do poder das classes dominantes. Nisso, vemos um desenvolvimento econômico desigual que tende
Unidos.
Podemos também perceber a globalização com base em um mundo que se amplia à medida que
instrumentos de comunicação como meios de extensão do homem, que é uma das abordagens do
teórico Marshall McLuhan, já na década de 1960, e que ganha espaço nas academias de forma mais
intensa nas décadas de 1970 e 1980. Dentre os conceitos pensados por McLuhan (1964) está o de
aldeia global, cuja leitura do impacto da tecnologia é o encurtamento das distâncias e a promoção de
uma conectividade maior entre os indivíduos para além dos limites do espaço. Essa reconfiguração do
planeta pela tecnologia romperia barreiras culturais, fronteiras e limites nacionais, promovendo uma
aldeia em escala planetária. Nesse aspecto, não é distante pensar que a tecnologia pressionaria por
um mundo globalizado.
Contudo, uma perspectiva da globalização menos focada nas dinâmicas de classes, ou ainda
menos determinista do ponto de vista tecnológico, é o desenhado com base na visão de Giddens
(2005), que sintetiza o fundamentado em um avanço social e tecnológico que pressiona por um ajuste
significa que as questões local e internacional vinculam-se de forma mais corriqueira. Assim, reforça
Giddens (1991, p. 78), a globalização tem a ver com esse processo de alongamento dos contatos
sociais ou encurtamento das distâncias espaciais. Dessa forma, a “globalização pode assim ser
definida como a intensificação das relações sociais em escala mundial, que ligam localidades distantes
de tal maneira que acontecimentos locais são modelados por eventos ocorrendo a muitas milhas de
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reconfigurar com essa mudança global. O mundo da agricultura não seria diferente. Mesmo que não
partindo de um determinismo econômico, é importante reforçar que o mercado global também foi
uma resposta à crise de crescimento econômico da década de 1970 em âmbito mundial, fortalecida
pela crise energética, sobretudo pelo aumento de preço do petróleo pela Organização dos Países
Exportadores de Petróleo (Opep). Como destaca Sales França (2004), nesse cenário, os principais
chamadas vantagens comparativas, mas das vantagens competitivas” (Sales França, 2004, p. 16).
A abertura de mercados não apenas estabelece um fluxo de capitais ou ainda nas fronteiras, mas
produção de commodities agrícolas. Considerando o Brasil, é nesse contexto que temos um papel
importante desempenhado pelas redes agroindustriais, ou seja, pelos CAIS, que promovem a
consolidação de uma agroindústria. Como destaca Elias (2006), a globalização no país é identificada
por uma territorialização ou localização do capital, pela oligopolização e por um modelo não apenas
técnico, mas social de produção, que se processa de “forma socialmente excludente e espacialmente
seletiva, acentuando as históricas desigualdades sociais e territoriais do país, além de criar muitas
novas desigualdades, paralelamente à difusão do agronegócio, ocorre uma nova divisão territorial e
social do trabalho agropecuário”. Santos (2000) denomina essa etapa agricultura científica,
caracterizada pelos avanços tecnológicos após a década de 1980, que ampliaram a acumulação do
capital no campo.
Essa reestruturação da agropecuária, na perspectiva de Santos (2000), está alinhada aos demais
interdependência dos setores econômicos. Uma outra característica destacada por Santos (2000) e
por Elias (2006) refere-se à atuação da agricultura em uma economia cada vez mais regulada pelo
mercado e pelas dinâmicas de oferta e demanda urbana e industrial. Ora, isso significa maior
preocupação não com cultura produtiva, mas em atendimento a uma lógica de demanda e oferta.
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mercados cada vez mais longínquos e competitivos. Fato semelhante ocorre em relação aos preços,
internacionais e nacionais, comandados pelas principais bolsas de mercadorias do mundo, sobre os
quais não há controle local. Da mesma forma, aumentam as distâncias entre os produtores e os
centros de decisão e de pesquisa. (Elias, 2006)
Em meio à busca por um mercado global, com maiores distâncias de amplitude, as empresas
agrícolas também reforçam os padrões alimentares resultantes das dinâmicas de ampliação dos
centros urbanos, como os fast food, ingressando em um mercado vinculado à concepção de linha de
montagem, com intensificação de beneficiamento industrial dos produtos agrícolas antes de alcançar
Como vimos, a evolução ou o ajuste da agropecuária no Brasil ao longo dos séculos vem cada
vez mais reforçando um quadro de centralização das terras em latifúndios (ou em oligopólios de
foram orientadas por uma lógica que não privilegiou a preservação ambiental, os espaços dos povos
originários ou, ainda, investimento ou respeito ao espaço da agricultura familiar. Como destaca Elias
(2006), essa expansão “promoveu um crescimento econômico cada vez mais desigual, gerador de
desequilíbrios, exclusão e pobreza, e acentuou as históricas desigualdades socioeconômicas e
territoriais brasileiras”.
Retomando os conceitos de Santos (2000), podemos perceber essa territorialização com base em
exemplo, como foco da maior parte dos investimentos, consolidam-se na região concentrada. Aqui,
como destaca Elias (2006), é o espaço que se adapta de forma mais progressiva e eficiente ao
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Temos aqui uma região com maior avanço em termos de mecanização e uso de técnicas modernas de
Até a década de 1980, esse seria o quadro de concentração. Contudo, com a globalização e com
os novos ajustes territoriais da agropecuária, outros espaços que não foram foco de investimento no
pós-guerra começam a reunir atenções e a aprimorar sua participação no setor do agro. É o caso da
Região Centro-Oeste (que hoje assume liderança em alguns tipos de produção e cultura), da Região
agrícola, e da Região Nordeste, que se, ao longo do século XX passou como um subsetor arcaico da
Para Elias (2006), algumas áreas do semiárido, sobretudo vales úmidos, e os cerrados nordestinos,
reúnem atenção do agronegócio, passando a ser um espaço cuja produção é de maior atração para
ingresso na linha produtiva de um mercado globalizado, fazendo com que a região ocupe novo
ganhando maior espaço e atuação dos grandes conglomerados empresariais do agro, que assumem
parcela significativa não apenas do mercado, mas do processo produtivo (produção, beneficiamento,
comercialização etc.). Outro ponto é a percepção da classificação não por área regionalizada, mas por
posturas de produção agrária, uma delas conservadora, com aposta ainda nos ciclos produtivos
naturais, e outra modernizadora, com postura focada em produtividade e amplo uso de tecnologia
mecânica, digital e biológica.
FINALIZANDO
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na agricultura familiar.
REFERÊNCIAS
DELGADO, G. A questão agrária no Brasil: 1950 a 2003. In: JACCOUD, L. Questão social e
2006.
GRAZIANO DA SILVA, J. Do complexo rural aos complexos agroindustriais. In: ______. A nova
dinâmica da agricultura brasileira. Campinas: Unicamp/IE, 1996.
HARVEY, D. A produção capitalista do espaço. Tradução de Carlos Szlak. São Paulo: Annablume,
2005.
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Cultrix, 1964.
RAMOS FILHO, L. O. Questão agrária no Brasil: perspectiva histórica e configuração atual. São
[1]Disponível em:
<https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l4504.htm#:~:text=LEI%20N%C2%BA%204.504%2C%20DE
%2030%20DE%20NOVEMBRO%20DE%201964.&text=Disp%C3%B5e%20sobre%20o%20Estatuto%20
da%20Terra%2C%20e%20d%C3%A1%20outras%20provid%C3%AAncias.&text=Art.,e%20promo%C3%
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