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A LUTA POR TERRA NO BRASIL E SUA RELAÇÃO COM LUTA PELA EMANCIPAÇÃO
E PELA SOBERANIA NACIONAL

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Eliana Andrade da Silva

RESUMO

Este resumo versa sobre a luta por terra no Brasil e sua relação com a
emancipação e a soberania nacional, considerando o protagonismo do MST
e suas respostas frente a mundialização do capital, de forma que o
Neocolonialismo, o Ajuste Estrutural e a reestruturação produtiva são
expressões dos efeitos da mesma nos paises da periferia capitalista.
Assinalamos, portanto, que a luta do MST por terra é uma luta de caráter anti
–capitalista, anti- imperialista e “anti- globalização” e que o mesmo tem se
colocado como um dos sujeitos que apontam para a construção de uma
sociedade para além do capital.

Palavras-chave: luta por terra- movimentos rurais- emancipação

ABSTRACT

This work tells about the fight for land in Brazil ando to relation with the
emancipation and the national sovereignty, considering the development of
MST and its answers to the worldwide capital, so that the neocoolinialism, the
structural adjust and the productive re- structuration are espressions of the
effects from the some countries osf the capitalist periphery. We ephasize,
thus, the MSt fight for land is a anticapitalist, antiimperial, antiglobal character
and that is has been posicioned itself as one of the responsible that builds one
society over the capital.

Key words: fight for land – rural movements – emancipation

1 INTRODUÇÃO: luta por terra e sua relação com a questão social

Na história política do Brasil a demanda por terra tem se constituído como uma
necessidade social colocada em pauta pelos movimentos sociais rurais que desde os anos
40 reivindicam reforma agrária, formas autônomas de representação politica e direitos
sociais. Assim, a história das Ligas camponesas, do movimento sindical rural e mais
atualmente do Movimento dos Sem Terra são ilustrativas das formas de enfrentamento das
classes subalternas contra a propriedade territorial desde o início do século XX, e da força
que o poder do latifúndio opera no país desde o período colonial e se estendendo até os
dias de hoje, de forma que “se sofre no presente da parte dos vivos e dos mortos, e que o
passado assombra o presente” (MARX apud BEHRINHG,2003:83).
Dessa forma, este quadro remete a Questão Agrária brasileira que se configura
pelo uso irracional de caráter concentrador da propriedade da terra nas mãos de uma
população muito diminuta de grandes proprietários ao mesmo tempo em que é flagrante o

*
Doutoranda em serviço social pela UFPE.

São Luís – MA, 23 a 26 de agosto 2005


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contingente populacional desprovido de terra, trabalho e renda. Conforme Araújo (2001, p.


2) A Questão Agrária,

[...] compreende relações de poder econômico e político-cultural entre diferentes


sujeitos com interesses e perspectivas diferenciados em torno da propriedade da
terra e de seus usos no capitalismo e, sobretudo na particularidade brasileira em
seus diferentes momentos históricos.

Tal questão é um dos resultados da Lei de Terras de 1850, na qual fica


estabelecida a forma de propriedade privada da terra e sua mercantilização.
Constitui-se, portanto, como uma questão de caráter histórico-estrutural que tem
ao longo dos anos originado profundas desigualdades no meio rural e urbano do país, face
ao desenvolvimento do capitalismo no campo, processo no qual o Estado desempenha um
papel decisivo de regulador das relações econômico-sociais.
Particularmente durante o processo de modernização conservadora em curso no
Brasil a partir dos anos 60 durante o regime militar, o Estado atua no sentido de contribuir
para remover os empecilhos à reprodução capitalista na agricultura. Nas análises de
Delgado (1985) a intervenção do Estado durante a modernização é operada de forma ampla
e sistemática de modo que as várias instâncias da máquina estatal são utilizadas para
garantir as condições de reprodução ampliada do capital no campo. Trata-se, pois, de um
Estado capturado pelas elites as quais congregavam setores do empresariado urbano,
grupos internacionais, bancos, burguesia fundiária nacional, formando um grande arco de
aliança em torno do projeto de modernização capitalista em curso.
Nos fins da década de 1970 e início dos anos 80 tendo em vista a crise do
milagre econômico e a explícita fragilização do regime militar, crescem as pressões pelo fim
do regime autoritário. Em um contexto de reivindicação por democracia e direitos sociais os
movimentos sociais rurais reafirmam a bandeira luta pela terra, revigorando o debate sobre
reforma agrária, obtendo um compromisso de incluí-la no pacto político que culmina no
surgimento da “Nova República” como tema de relevo. Malgrado os esforços de inclusão da
reforma agrária na agenda da redemocratização do país, os setores fundiários
representados na União Democrática Ruralista (UDR) conseguem articular forças no sentido
de barrar tal possibilidade, dificultando novamente a viabilidade de realização de uma
reforma agrária no país.
O saldo de tais processos é a fragilização crescente do movimento de
trabalhadores rurais em meados da década de 1980. A isto some-se o fato de que durante
o governo Collor de Mello os movimentos de trabalhadores rurais sofrem um choque e
recuam politicamente tendo em vista o avanço das forças conservadoras ligadas ao poder
fundiário. Mas, é durante o governo Itamar Franco que os movimentos rurais retomam sua
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organização e iniciam em todas as regiões do país as ocupações de terra, revigorando a


luta pela Reforma Agrária.
Já no período do governo Fernando Henrique são adotadas algumas estratégias
de reformulação da política agrária orientadas pelo documento Novo Mundo Rural. A criação
do Banco da Terra (programa de linha de crédito fundiário); o cadastro de assentados pelos
correios; a integração de recursos do Programa de Crédito Especial para Reforma Agrária
(PROCERA) e Programa de Nacional de Agricultura Familiar (PRONAF- que reduz a política
de reforma agrária à agricultura familiar), bem como o processo de descentralização da
reforma agrária constituem os “instrumentos” utilizados por este governo- o que concorre
para desarticular os movimentos que lutam pela reforma agrária, além de integrar as ações
da política agrária à lógica do mercado (MEDEIROS, 2002).
Isto posto, a contra face da não realização da Reforma Agrária pelos sucessivos
governos é o agravamento dos problemas sociais e a rearticulação dos trabalhadores rurais
e seus movimentos em torno da demanda por terra.Tais elementos culminam no
ressurgimento das lutas sociais dos trabalhadores rurais a partir da segunda metade dos
anos 1990, realizando ocupações, saques, marchas recolocando a Reforma Agrária na
ordem do dia. Nesse sentido, a chegada nos anos 90 é marcada por uma questão agrária
não resolvida e candente e por novos sujeitos que valendo-se de estratégias diferenciadas
tem contribuído para reafirmar a existência e agudização da mesma.
Desta feita, a existência e contemporaneidade da Questão Agrária (e das lutas
sociais no campo) residem no fato que este é um problema que acompanha o
desenvolvimento da sociedade brasileira e se arrasta até os dias atuais, resultando “na
ocorrência de conflitos sociais, como fortes indicadores de que as tensões existentes
atualizam e mantém na ordem do dia a necessidade de refletir sobre a complexidade das
relações que se constituem no campo.” (MEDEIROS apud ARAÚJO, 2001, p. 26).
Dessa forma, refletir sobre as relações que se tecem no campo brasileiro
significa elucidar as bases de constituição da propriedade privada da terra e a produção de
um contingente de trabalhadores rurais expropriados. Entender a Questão agrária no País é
de fundamental importância já que esta é “decisiva para a compreensão das formas
assumidas pelo Estado ante a permanente presença os interesses vinculados à propriedade
territorial na composição política do poder, interferindo nas grandes transformações
operadas na vida da nação”.(IAMAMMOTO, 2001, p.110).
O quadro de constituição da questão agrária remete análise dos sujeitos
presentes neste cenário: de um lado temos uma burguesia com fortes raízes agrárias e
vinculada ao poder oligárquico que tem conseguido no jogo de forças capturar o Estado
para viabilizar seu projeto político de base conservadora, de forma que é este projeto que
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fundamenta o horizonte cultural da burguesia brasileira, sendo a mesma marcada por um


forte conservantismo sócio, cultural e político, onde o mandonismo, o patriarcalismo, o
favoritismo e o coronelismo são expressões concretas. A junção destes elementos têm
dificultado a realização de uma revolução nacional e democrática no Brasil (BEHRING,
2003; IAMAMMOTO, 2001) o que em nossa concepção tem sido um empecilho a realização
da reforma agrária já que esta remete ao centro do interesses e necessidades das
burguesia agrária: o poder e a propriedade fundiária – motor das lutas e disputas de classe
no campo.
Fazendo frente contra a burguesia e o latifúndio temos do lado oposto o
movimento social rural que no curso de sua história tem lutado contra a coerção, a
exploração, a dominação, a cooptação, a criminalização e também contra os desafios
internos da fragmentação politica e da forte tendência isolacionista próprias da sociabilidade
camponesa. Tais elementos tem contribuído para imprimir inúmeras fragilidades ao
movimento social rural de forma que o golpe militar foi um determinante político
importantíssimo para minar as bases de um movimento rural autônomo e de força, tendo
em vista a criminalização e abortamento das ligas camponesas, o aprofundamento dos
processos proletarização rural e tentativas de cooptação dos movimentos por parte do
Estado1, contribuindo para um descrédito dos trabalhadores rurais em relação ao sindicato.
Outro elemento de destaque é o pacto silencioso que alguns setores da mídia
tem por vezes, realizado com o poder fundiário. Ou seja, apesar de ter contribuído
sobremaneira para dar visibilidade a questão agrária no país a partir de meados dos anos
90, ao analisarmos mais atentamente a forma como as lutas no campo são veiculadas
pelos meios de comunicação percebemos que os princípios de imparcialidade e
neutralidade não são reais. Isto porque na maioria das vezes a grande imprensa tem
contribuído para construir uma visão negativa em torno das mobilizações, das estratégias e
táticas dos movimentos sociais rurais, fortalecendo a obtenção do consenso em torno da
propriedade da terra como uma realidade dada e inquestionável, criminalizando os
movimentos na tentativa de coloca-los na ilegalidade ou seja, como “os fora da Lei”. Aliado a
estes fatores acrescente-se o descrédito dos trabalhadores rurais e seus movimentos nas
recorrentes promessas governamentais de realização de uma reforma agrária que não se
concretiza (tal como nos anos 80), motivando uma resposta que tem se expressando na
pressão social.

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Processo que gerou uma heterogeneidade de categorias ocupacionais que não necessariamente se
identificavam com o sindicato rural como espaço de representação política. E ainda a sazonalidade das
atividades que resultava em um êxodo continuo, diminuindo em quantidade o numero de sindicalizados e
conseqüentemente a possibilidade de pressão política. Ver Medeiros (2002); Iamamoto (2001) Novaes, R.
Estado, nordeste e sindicalismo: O PAPP em questão. RJ: Cedi,1994.
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O campo torna-se assim, um verdadeiro barril de pólvora que ciclicamente


explode inserindo os acontecimentos ligados a luta por terra no rol das notícias policiais, e
neste processo o Estado tem respondido de forma emergencial, seja mediando conflitos
seja atuando na resolução dos problemas de forma tardia e tangencial sem enfrentar a
questão nuclear: a propriedade territorial e sua ligação com poder econômico e político.
A resultante de tais processos é a complexidade do quadro agrário brasileiro no
qual se articulam o avanço da luta por terra, o aumento dos confrontos e a morte de
trabalhadores, lideranças e apoiadores dos movimentos rurais realizados por fazendeiros,
tal como ocorreu em Corumbiara e Eldorado dos Carajás nos anos 90 e os episódio
recentes ocorridos no interior do Pará (morte da irmã Dorothy Stang2) os quais demonstram
a violência dos conflitos fundiários o que “expressa a dramaticidade que alcançou a Questão
Social no campo” (ARAÚJO,1999, p.184, grifo nosso), evidenciando a truculência do poder
fundiário brasileiro e sua resposta a demanda por direitos (humanos, políticos e
econômicos) que se encontra imbricada na luta por terra.
Nesse sentido, a não realização da Reforma Agrária tem agravado a Questão
social no país tendo em vista a existência de um lado, de movimentos sociais dos
trabalhadores rurais sem terra e de outro, uma burguesia fundiária, os altos índices de
concentração fundiária3,o aumento da pobreza no campo e a recorrência de conflitos por
terra que exprimem como as desigualdades são geradas na área rural do País, revelando
também como a Questão Social se apresenta nesse setor. Isto porque a adoção da
modernização excludente em detrimento de uma Reforma Agrária massiva fez aumentar a
concentração fundiária, expropriou um significativo contingente de trabalhadores rurais,
aumentou o êxodo rural e gerou também problemas no meio urbano (desemprego, violência
dentre outros). Consideramos, portanto, que a malha de relações sobre a qual discorremos
realça o caráter classista da luta por terra no Brasil nos últimos 30 anos.
Ressaltamos que ao analisarmos a dinâmica que envolve a Questão Agrária no
Brasil e os sujeitos em relação significa reportarmo-nos à compreensão das configurações
assumidas pela Questão Social no País. Esta articulação é necessária na medida em que
compreendemos a Questão Agrária como expressão da Questão Social4. Nesse sentido, a
Questão Social conforme Potyara Pereira (2001, p. 51), sinaliza uma “relação dialética entre
estrutura e ação, na qual os sujeitos estrategicamente situados assumiram papéis políticos

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“Terra, sangue e impunidade” Revista Istoé de 23 de fevereiro de 2005
3
No Brasil 1% dos proprietários detém 50% das terras enquanto 4 milhões de trabalhadores não possuem terra.
(Petras & Veltmeyer, 2001). O Brasil de Cardoso: a privatização do país. Petrópolis: Vozes, 2001.
4
Há na academia um polêmico debate a cerca da compreensão da Questão Social. Autores como Alba Pinho
(2001), Robert Castel (1998) dentre outros assinalam a existência de uma Nova Questão Social enquanto que
um outro grupo de intelectuais no qual se inserem Iamammoto (2001; 1998), Neto (2001) e Potyara (2001)
realizam uma crítica à esta concepção e assinalam a existência de uma Questão Social que encontra suas
raízes nas contradições oriundas da ordem burguesa.
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fundamentais na transformação das necessidades sociais em questões- com vistas a


incorpora-las na agenda pública e nas arenas decisórias”.
Esta assertiva expressa por Potyara se materializa nas formas pelas quais a
terra está distribuída no nosso país, resultando no confronto de interesses entre classes
acerca de sua utilização. Dessa forma, a luta pela terra sinaliza o descontentamento dos
trabalhadores rurais e a denúncia do monopólio no uso da terra- processo este permeado
por distintos interesses, pondo frente a frente os proprietários e os trabalhadores sem terra,
momento no qual esses reivindicam o reconhecimento público do direito à terra e
conseqüentemente ao trabalho, confrontando com a propriedade privada da terra-
pressuposto do modo de ser da ordem burguesa madura.

2 A LUTA POR TERRA NO BRASIL E OS DESAFIOS DA MUNDIALIZAÇÃO

A análise destes processos permite-nos afirmar que a luta por terra representa
uma luta pela conquista e defesa de direitos sociais e expressa a necessidade de
afirmação da sociabilidade do trabalho em detrimento da sociabilidade do capital. Nesse
sentido, a luta dos trabalhadores rurais, e particularmente no caso do MST, é nitidamente
uma luta de caráter anti –capitalista, anti- imperialista e “anti- globalização”. Dentro desta
perspectiva este movimento tem se colocado conforme Antunes (2001, p. 249) como
sujeito “capaz de participar na construção de uma sociedade para além do capital”.
No âmbito do Brasil o MST tem sido um dos poucos sujeitos políticos que têm
colocado em sua agenda de debates questões como a crítica ao caráter desigual da
Mundialização do capital (CHESNAIS; 2001). Isto porque esse fenômeno tem se revelado
extremamente danoso para emancipação e a soberania dos Estados nacionais, sobretudo
daqueles localizados na periferia do capital. É consenso entre os intelectuais críticos da
mundialização do capital (François Chesnais, Elaine Berinhg, Ruy Braga dentre outros) os
efeitos deletérios de tal processo para países como o Brasil, de forma que tem recomposto
o fenômeno do Neocolonialismo onde “os ajustes estruturais das economias dependentes
e a reestruturação produtiva correspondem a duas faces da mesma moeda” (BRAGA, 2000,
p. 56). Desta feita, a soberania dos países tem se tornado cada vez mais fragilizada, tendo
em vista que “ nos dias atuais, não existe, na América Latina, qualquer ministro de Estado
que possa tomar uma decisão macroeconômica importante, sem o consentimento da
tecnoburocracia mundial do FMI” (BRAGA, 2000, p. 56).
Os países em desenvolvimento têm pago um ônus muito alto pela inserção nos
processos de mundialização capitalista em curso, sendo obrigados a implementar uma
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cartilha na qual a desregulamentação dos direitos sociais, os ajustes fiscais, a privatização,


as reformas estruturais e políticas são itens obrigatórios (BRAGA, 2000). No que tange as
políticas agrárias e agrícolas, a partir de 95 estas foram (em nome da munidalialização)
cada vez mais desmanteladas, seja nas condições de assentamento, nas políticas de
crédito, de juros etc. Este quadro tem sido extremamente difícil para os movimentos rurais
reivindicando ações mais sistemáticas por parte do Estado, tendo em vista um quadro de
miséria no campo que demanda algumas décadas para ser alterado e superado.
Ora, se a luta por reforma agrária no país é uma luta anticapitalista esta tem
colocado em pauta o desafio de uma articulação internacional dos trabalhadores, no sentido
de extrapolar as fronteiras de luta contra o domínio do capital. Nesse sentido, a via
Campesina (articulação internacional dos camponeses) tem sido uma estratégia forjada
pelos movimentos rurais de todo mundo para tornar a luta contra a propriedade da terra
uma luta mais orgânica e mais visível, rompendo com o corporativismo e integrando à
agenda política além da reforma agrária itens como combate a ALCA, aos transgênicos etc.
Atualmente as lutas camponesas e indígenas tem obtido uma significativa
relevância no mundo se estendendo para além das fronteiras nacionais (a exemplo de
zapatistas e MST) constituindo uma organização que visa fazer frente a barbárie social que
se instaura no campo e na cidade, face a capilaridade e a força destrutiva que a ordem
burguesa alcança na contemporaneidade, capitaneada pela pelos EUA em aliança com
FMI, Banco Mundial e os países centrais- todos com alto poder de influenciar diretamente a
vida dos paises da periferia capitalista. Assim, as lutas sociais no país, e particularmente as
lutas no campo, se defrontam com a questão de uma nova ordem social antipopular e
antidemocrática de forma que as possibilidades de emancipação humana tem sido
cotidianamente confrontadas já que a mundialização capitalista tem significado a
fragilização da perspectiva de um patamar civilizatório alternativo, dada a difusão da idéia
do capitalismo como projeto único e vitorioso na história da humanidade. Por esses
motivos nesta ordem, que nas palavras de Mezários é metabólica e destrutiva (2000), a
reforma agrária (que pode contribuir para recuperar um patamar civilizatório de direito e
democratização da propriedade territorial se coloca também como passo importante para
fortalecer a soberania nacional),encontra sérios limites para ser realizada, pois remete a
alteração de relações calcadas na concentração e privatização da propriedade, processo
que supõe de início a exclusão de milhares de famílias sem terra e trabalho, condenando-
as a submissão e à barbárie.
Diante do exposto, nas palavras de Chesnais (2001) a mundialização impõe para
os movimentos sociais desafios que precisam ser respondidos. E as lutas sociais tem sido
uma das respostas possíveis.Assim, no rol das lutas brasileiras nos últimos anos o MST
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tem respondido em nome das frações de classe urbanas e rurais à ofensiva do capital
(que nesse momento é expresso claramente pela mundialização do capital), seja através da
crítica teórica radical aos fetiches que ordem burguês produz, seja na prática política
cotidiana através das táticas e estratégias na direção da resistência politica- passos
fundamentais rumo ao resgate da soberania e conquista da emancipação humana.

REFERÊNCIAS

ANTUNES, R. Os sentidos do trabalho: ensaio sobre afirmação e negação do trabalho. 4.


ed. São Paulo: Boitempo, 1999.

ARAÚJO, Severina Garcia de. Assentamentos rurais trajetórias dos trabalhadores


assentados e cultura política: assentamento Fazenda Zabelê. 2001, 243 f. Tese (Curso de
Pós- graduação em Desenvolvimento, Agricultura e sociedade) - Universidade Federal Rural
do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 2001.
BEHRING, E. R. Brasil em contra-reforma: desestruturação do Estado e perda de direitos.
São Paulo: Cortez, 2003.

BRAGA, Ruy.Globalização ou neocolonialismo: o FMI e a armadilha do ajuste. In: Revista


Outubro, São Paulo, Instituto de estudos socialistas,: Xamã; n. 4, 2000.

CINTRA, M. C. A trajetória dos trabalhadores rurais sem terra (MST) em Sergipe.


Recife. Dissertação (Mestrado em Serviço Social/UFPE). 1999.

IAMAMMOTO. M. V. Trabalho e Indivíduo Social: um estudo sobre a condição operária na


agroindústria canavieira paulista. São Paulo: Cortez, 2001.

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