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ESTUDOS DIRIGIDOS:
A QUESTÃO AGRÁRIA NO BRASIL - VOL. 2
JATAÍ/GO
2024
ESTUDO DIRIGIDO 1: A QUESTÃO AGRÁRIA NO BRASIL
2. Qual a principal divergência entre Caio Prado Júnior e Rui Mauro Marini em relação
a este tema?
O autor e Prado Jr. têm algumas divergências importantes ao interpretar o marxismo e
discutir a revolução no Brasil. Uma das principais discordâncias está relacionada à
caracterização democrático-burguesa da revolução. Enquanto o marxismo oficial no Brasil
adota essa visão, Prado Jr. a rejeita, propondo a ideia de um processo revolucionário com
características próprias, não necessariamente enquadrado nessa perspectiva.
Outro ponto de desacordo está na análise das relações de produção no campo
brasileiro. Prado Jr. critica a concepção que vê essas relações como remanescentes feudais,
argumentando que são, na verdade, de natureza escravista e capitalista. Essa perspectiva
difere da visão que propõe a extensão do capitalismo ao campo como solução para os
problemas agrários.
A teoria marxista oficial no Brasil também é alvo de críticas por parte de Prado Jr., que
a considera uma aplicação mecânica das concepções elaboradas pela Terceira Internacional no
período estalinista. Ele questiona a validade dessa teoria e propõe uma abordagem mais
alinhada com as características específicas da sociedade brasileira.
A análise da burguesia brasileira apresenta outra área de desacordo. Prado Jr. é
criticado por limitações em sua abordagem, não considerando adequadamente as diferentes
camadas e setores dessa classe. Essa lacuna, segundo o texto, enfraquece sua análise das lutas
em torno do controle do Estado e do desenvolvimento planificado.
Além disso, o desenvolvimento capitalista brasileiro é um ponto em que as
divergências se tornam evidentes. Prado Jr. não considera a natureza desse desenvolvimento,
que envolve uma integração crescente à economia capitalista internacional. O autor
argumenta que essa omissão invalida as concepções reformistas presentes nas propostas de
Prado Jr.
Essas discordâncias refletem interpretações distintas sobre a natureza do
desenvolvimento brasileiro, as classes sociais envolvidas e as estratégias políticas adequadas
para o contexto nacional, tornando o debate entre o autor e Prado Jr. complexo e
multifacetado.
1. Quais os principais pontos dos debates sobre demarcação de terras indígenas nos dias
atuais?
Ao buscarmos debates recentes sobre a demarcação de terras indígenas, encontramos
uma matéria bem abrangente feita pela BBC News Brasil, em janeiro de 2020, reportando um
protesto feito por 45 etnias em uma aldeia em Mato Grosso contra o governo Bolsonaro. O
encontro foi convocado pelo cacique kayapó Raoni Metuktire, e contou com a participação
das principais organizações indígenas brasileiras, como a Articulação dos Povos Indígenas do
Brasil (Apib), a Coordenação das Organizações Indígenas da Amazônia Brasileira (Coiab) e a
Aty Guasu (Grande Assembleia Guarani Kaiowá). À época, os principais pontos de conflito
apontados foram:
1) Demarcações paralisadas: Hoje, segundo a Funai, já foram concluídos 440
processos de demarcação de terras indígenas no país. Essas áreas correspondem a 12,6% do
território nacional e se concentram na Amazônia. Porém, embora várias etnias de fato contem
com amplas áreas demarcadas, muitas tiveram pequenos territórios demarcados ou ainda
aguardam a regularização de suas terras. É o caso, por exemplo, de grande parte das etnias
que habitam as regiões Sul, Sudeste, Centro-Oeste e Nordeste, onde muitas terras
reivindicadas pelas comunidades são cobiçadas ou ocupadas por não-indígenas, o que travou
muitos processos. O caso dos guarani kaiowá, de Mato Grosso do Sul, é emblemático.
Embora sejam o segundo povo indígena mais numeroso do Brasil, com cerca de 43 mil
integrantes segundo o IBGE, muitos membros da etnia vivem em reservas superpovoadas,
onde sofrem com problemas comuns a bairros de periferia de grandes cidades. Outros vivem
acampados em áreas hoje ocupadas por fazendas e que as comunidades reivindicam como
territórios ancestrais.
2) Mineração em terras indígenas: A Constituição prevê a possibilidade de mineração
em terras indígenas, mas desde que a atividade seja regulamentada por lei. Como nenhuma lei
sobre o tema foi aprovada, a prática é hoje ilegal. Apesar disso, em algumas terras indígenas,
garimpeiros atuam há décadas, geralmente com o aval de algumas lideranças locais. Indígenas
críticos à regularização da mineração temem os impactos ambientais e sociais da atividade em
suas terras. Em garimpos de ouro, por exemplo, é comum o uso de mercúrio, substância que
contamina rios e peixes e pode provocar danos neurológicos em humanos. Há ainda o receio
de que o ingresso de forasteiros para trabalhar nas minas traga doenças e estimule a
prostituição de mulheres indígenas.
3) Expansão do agronegócio: Nos últimos anos, algumas comunidades passaram a
arrendar suas terras para produtores de grãos. As iniciativas são contestadas judicialmente,
pois a Constituição estabelece o "usufruto exclusivo" dos indígenas sobre as riquezas do solo,
rios e lagos de seus territórios. Em Mato Grosso, indígenas da etnia paresi passaram eles
próprios a cultivar soja, milho e feijão com máquinas modernas em 18 mil hectares (o
equivalente a 18 mil campos de futebol) de seu território. Mas os críticos apontam para os
riscos associados à produção agropecuária em larga escala, como a contaminação por
agrotóxicos e a perda da biodiversidade. Há ainda o temor de que as atividades econômicas
vultosas impactem os modos de vida das comunidades, provocando o abandono de tradições e
estimulando o individualismo.
4) Cultura e integração: A Constituição de 1988 reconheceu a organização social, os
costumes, as línguas, as crenças e as tradições dos indígenas, rompendo com a perspectiva
integracionista adotada pelo Estado brasileiro até então.
5) Órgãos indigenistas: Quando assumiu, Bolsonaro transferiu a Fundação Nacional
do Índio (Funai) do Ministério da Justiça para o Ministério da Agricultura e retirou do órgão a
atribuição de demarcar terras indígenas. As mudanças agradaram à bancada ruralista, que
exerce forte influência sobre o Ministério da Agricultura e historicamente vê a Funai com
desconfiança. Mas os indígenas protestaram e conseguiram fazer com que o Congresso
revertesse as decisões do presidente (Fellet, 2020). O presidente Lula cumpriu com o
prometido em campanha eleitoral e criou o Ministério dos Povos Indígenas (MPI), nomeando
a indígena Sônia Guajajara para sua coordenação. De igual modo, conferiu a Joenia
Wapichana, advogada e ex-deputada federal por Roraima, a responsabilidade de presidir a
Fundação Nacional dos Povos Indígenas (Funai). Porém a estrutura ministerial, montada tão
somente a partir dos discursos, acabou fragilizada pela falta de recursos orçamentários e pela
ausência de um plano de ação. O ministério indígena foi atropelado e deslegitimado, por
dentro e por fora do governo, retirando do MPI a sua principal atribuição: a de analisar os
procedimentos de demarcações das terras e declará-los como válidos ou não através de
portarias específicas (Liebgott e Cima, 2023).
SILVA, Raimundo Pires e LORENZO, Helena Carvalho de. Questão agrária: uma discussão
necessária. Rev. NERA Presidente Prudente v. 23, n. 55, pp. 21-37 Set.-Dez./2020 ISSN:
1806-6755. Disponível em:
<https://revista.fct.unesp.br/index.php/nera/article/download/6540/5798/29483>. Acesso em:
24 Jan. 2024.
SOARES, Leonardo Barros; COSTA, Catarina Chaves; FONSECA, Marina de Barros; et. al.
A política de demarcação de terras indígenas no Brasil: aspectos históricos e normativos.
Disponível em: <https://bibanpocs.emnuvens.com.br/revista/article/view/7/529#info>.
Acesso em: 15 Fev. 2024.
STEDILLE, João Pedro. A questão agrária no Brasil: o debate da esquerda. 2. ed. São
Paulo: Expressão Popular, 2012.
STEDILLE, João Pedro. A questão agrária no Brasil: debate sobre a situação e perspectivas
da reforma agrária na década de 2000. 1. ed. São Paulo: Expressão Popular, 2013.