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AS LUTAS POR TERRA E TERRITÓRIO NO BRASIL E A QUESTÃO

AMBIENTAL

(essales.geo@uesc.br,)

(lvfernandes.geo@uesc.br,)

(jscardozo.geo@uesc.br,)

Palavras-Chave: Terra; Território; Indígenas; Quilombolas; Trabalhadores sem terra.

INTRODUÇÃO

A disputa por terra e território no Brasil não é uma questão atual e tão pouco resolvida,
justamente por esse e outros motivos que optamos por trabalhar esse tema, “As lutas por terra e
território no Brasil e a questão ambiental.” Nesse contexto é necessário relembrarmos de
acontecimentos deploráveis que aconteceram no Brasil no período da colonização, onde não havia
noção de respeito e muito menos de solidariedade com os povos de outras etnias, somente existia a
violência, que por sua vez se caracterizava como fator referência desse período. As lutas que
aconteciam nesse período eram principalmente dos povos indígenas/tradicionais contra os
colonizadores e as dos negros contra os senhores de engenho. É necessário salientar também que
em meio a essas disputas ocorriam lutas por questões ambientais, principalmente em relação aos
indígenas que tinha uma forte ligação com a natureza. Ademais, o presente trabalhou buscou
enfatizar como ocorrem essas disputas por terra e território, com destaque para três públicos alvos
que são, os povos indígenas, quilombolas e trabalhadores sem terra, como se configura a realidade
para cada um desses grupos no que diz respeito ao território. Desse modo, o trabalho resulta de
levantamentos bibliográficos em sites, revistas e artigos científicos sobre o tema delimitado.

DESENVOLVIMENTO

Tendo como base, FOUCAULT,2008, o território se caracteriza como “espaços onde


ocorrem relações de poder” , logo o MST, que se configura como tal, vai ter seu poder em certos
aspectos, é mais do que uma simples manifestação imaginária. Dessa forma, alguns fatores
ajudam a explicar suas reais fontes de poder, como por exemplo, o movimento possui uma grande
quantidade de membros e uma habilidade para mobilizar uma quantidade relevante de
pessoas.
Ainda o MST conta com o apoio de uma rede de fortes aliados na sociedade civil e na
sociedade política brasileira. Além disso, o movimento tornou-se apoiante em trabalhar com
simpatizantes dentro do Estado brasileiro, incluindo aquele existentes no INCRA, além disso as
lutas do MST são conduzidas por mais que apenas interesses materiais, exemplos disso são as
histórias, culturas e tradições que são passadas de geração por geração nesses territórios.
No que diz respeito à relação do movimento sem terra e o meio ambiente, MST, busca
combater o agronegócio, que utiliza agrotóxicos, transgênicos e monoculturas, causando danos à
biodiversidade, à saúde humana e à soberania alimentar, como é de conhecimento de todos.
Outro ponto apresentado pelo movimento é a defesa da agroecologia, que é uma forma de
produção baseada nos princípios da sustentabilidade, da diversidade, da cooperação e da
participação social, onde busca além de contribuir para a conservação da biodiversidade a
agregação de valor para todas as pessoas envolvidas no movimento.
Além disso, outro fator necessário é que o movimento denuncia a violência e a grilagem de
terras, que expulsam os camponeses e agricultores de suas áreas e provocam o desmatamento, a
desertificação e a poluição dos recursos hídricos.
Visto a relação do movimento sem terra com as lutas territoriais e o meio ambiente, quando
se trata do território indígena a garantia dos direitos territoriais no Brasil também é fundamental
para que os povos originários possam manter sua identidade, cultura e forma de viver. Esses direitos
envolvem a permanência nas terras, o uso exclusivo de seus recursos, a demarcação e defesa das
áreas, a consulta prévia sobre ações que os impactem, a participação nas políticas públicas e a
preservação de sua identidade cultural. Porém, esses direitos sofrem ameaças como invasões, atraso
na demarcação, enfraquecimento de órgãos de proteção e imposições arbitrárias. As disputas pela
terra no Brasil têm origens históricas, gerando violência, desapropriação e perda de territórios
indígenas.
O modelo de desenvolvimento predatório continua, refletindo-se em invasões por setores do
agronegócio, mineradoras e outros, afetando negativamente a biodiversidade e o clima. A luta pela
demarcação é essencial, não só pelos direitos indígenas, mas por questões de justiça social,
ambiental e histórica. Essas disputas impactam profundamente a vida dos povos indígenas,
especialmente na Bahia. A perda de terras tradicionais compromete sua identidade e forma de viver.
Violações de direitos humanos, exposição à violência e marginalização social contribuem
para condições precárias de vida, afetando saúde, segurança e soberania. A resistência histórica dos
setores econômicos e políticos locais agrava a situação na Bahia, com poucas terras indígenas
demarcadas. O caso dos Tupinambá de Olivença exemplifica esses conflitos, destacando a luta pelo
reconhecimento de suas terras tradicionais. O desrespeito a seus direitos resulta em ataques,
violência e insegurança. A omissão da Funai intensifica o cenário, revelando a urgência na
demarcação e proteção das terras indígenas.
Dados do IBGE e da Funai confirmam a gravidade da situação, ressaltando a necessidade de
ações efetivas para garantir os direitos territoriais indígenas, Segundo a Funai, existem 32 terras
indígenas na Bahia, sendo que apenas 12 estão regularizadas, 10 em estudo, 6 declaradas e 4
identificadas. A resistência e luta dos povos indígenas são cruciais para preservar suas culturas,
identidades e territórios, essenciais não apenas para sua sobrevivência, mas para a biodiversidade e
o equilíbrio.
Outro grupo que está diretamente afetado com conflitos por terra e território são os
Quilombos, os quais mergem como uma forma de ressignificar e reconstruir o que havia no antigo
lar, a África, assim, o Quilombo caracteriza-se como uma forma de re-existência. O estado-nação
brasileiro incluiu na constituição o reconhecimento das terras onde Quilombolas residiam, essas
terras eram os territórios Quilombolas, os quais viviam da agricultura coletiva e possuíam
lideranças que pensavam no bem coletivo. Tendo o reconhecimento pela lei era de se esperar que o
direito à terra fosse garantido pelo estado, no entanto, as comunidades remanescentes conflitos por
terra, os principais atores nessa luta são fazendeiros, grileiros, o agronegócio e a especulação
imobiliária.
As leis consideram apenas a terra, deixando de lado a questão territorial, que é de suma
importância pois garante a sobrevivência dos Quilombolas para além dos fatores biológicos, ou
seja, a sobrevivência da cultura e da identidade. Vemos a expansão das fronteiras acumulativas,
como frente, avançando em direção aos territórios Quilombolas, e esse avanço é uma disputa, pois
para que ele aconteça derrama-se sangue quilombola, contaminam rios, desmatam terras e expulsam
por meio de grilagem. Para além disso, o estado oferece incentivos fiscais para esse avanço, o que
representa uma degradação considerável da natureza e nos recursos que garantem a reprodução do
ser quilombola.
Como resultado, temos o etnocídio, que diz respeito a morte da identidade, cultura e formas
de ser e estar no espaço de povos de uma determinada etnia. Atualmente, o que vem sendo feito
como estratégia desses atores do conflito é o assassinato das lideranças, visto que são elas que
articulam os Quilombos para os movimentos e organizações de resistencia e re-existencia para a
manutenção e permanencia dos Quilombolas nos territoórios.
Eles são fundamentais a questão ambiental, vivendo numa relação de cuidado com a
natureza sob a agricultura e pecuária de subsistência, sem ofender o solo e a mata para realizar as
atividades, assim o solo é fértil e os recursos nesses territórios não foram explorados. considerando
a escassez desses recursos em boa parte já explorada no país, o avanço de fronteiras pelos agentes
de interesse tem se intensificado, o estado tem sido negligente no cumprimento das leis e na
segurança dos territórios quilombolas, além do baixo investimento para titulação e reconhecimento
das terras quilombolas, o que é uma grande abertura de caminhos para os agentes capitalistas, a
alienação territorial e o etnocídio.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A partir desse trabalho se vê a necessidade de uma visão profunda e multifacetada das lutas
enfrentadas pelos Quilombolas, o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) e os
povos indígenas em defesa de seus territórios. Pois, como o que foi abordado, a trajetória dos
Quilombolas, desde o período colonial até os desafios atuais, reflete uma busca contínua por
identidade e cultura em meio às adversidades, o reconhecimento legal das terras Quilombolas é um
avanço, mas os conflitos persistem, revelando lacunas na proteção dessas comunidades, já o MST
emerge como um movimento de (re)existência, não apenas pela conquista de terras, mas pela
construção de um modo de vida mais humano e participativo.

Contudo, a violência contra líderes e a impunidade evidenciam a fragilidade do cenário


político e social no qual o movimento opera, e ao abordar as terras indígenas, se destaca a
complexidade das disputas históricas e atuais. A falta de demarcação e a presença de setores
econômicos que ameaçam não apenas os direitos territoriais, mas a própria existência e identidade
desses povos.
Em síntese, se faz necessário a urgência de ações efetivas e políticas que garantam não
apenas a titularidade legal, mas a segurança e preservação dos territórios Quilombolas, do MST e
dos povos indígenas. A justiça territorial não é apenas uma questão legal, mas uma necessidade
vital para a coexistência harmoniosa, a diversidade cultural e a sustentabilidade ambiental no Brasil.
REFERÊNCIAS
‌ ALDAR, R. S.. O MST e a formação dos sem terra: o movimento social como princípio
C
educativo. Estudos Avançados, v. 15, n. 43, p. 207–224, set. 2001.
CARTER, M. O movimento dos trabalhadores rurais sem-terra (MST) e a democracia no
Brasil. Agrária (São Paulo. Online), [S. l.], n. 4, p. 124-164, 2006. DOI: 10.11606/issn.1808-
1150.v0i4p124-164. Disponível em: https://www.revistas.usp.br/agraria/article/view/102. Acesso
em: 2 dez. 2023.
FOUCAULT, M. Segurança, território, população: curso dado no Collège de France (1977-
1978). São Paulo: Martins Fontes, 2008.
FUNAI. Terras indígenas na Bahia. Brasília, c2019. Disponível em:
http://www.funai.gov.br/index.php/shape. Acesso em: 4 dez. 2023.
ROLIM DE MOURA, A. et al. A LUTA PELA TERRA NO BRASIL: UM BREVE HISTÓRICO
(SOBRE UMA LONGA HISTÓRIA). 1. [s.l: s.n.]. Disponível em:
<https://docs.fct.unesp.br/docentes/geo/bernardo/BIBLIOGRAFIA%20DISCIPLINAS
%20GRADUACAO/GEOGRAFIA%20RURAL%202016/GRUPO%20M1/ENG_2006_010.pdf>.
Acesso em: 3 dez. 2023
.

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