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DISPUTA DE TERRAS INDÍGENAS – FOCO MATO GROSSO DO SUL

Eva Patrícia Braga Fernandes


Shirley Vilhalba
E-mail: 011.5642@alunos.unigran.br

Introdução
A verdadeira historia da população indígena e seus antepassados, suas
origens que remontam milhares de anos, quando os europeus aqui chegaram,
talvez sejam de difícil compreensão para alguns que, em pleno século XXI, onde
temos uma economia pujante, ainda exista intrínseco no ser humano preconceitos
que os induzem a imaginarem que sejam superior em algum ponto de vista em
comparação à população que aqui se encontrava há milhares de anos, presença
humana que já habitavam destes pais conforme estudos realizados no estado do
Piauí. Eram possuidores, usufruíam da coisa (terra) de onde retiravam seu
sustento, realizavam culto os seus deuses, e seus ensinamentos eram
transmitidos a cada nova geração, resolviam seus próprios conflitos, eram
homens livres de todo sentimento de exclusão, viviam em clima de paz e sem a
da intervenção do estado, pois este não o existia.
Os conflitos que hoje circundam as terras indígenas no Brasil é assunto
pouco explorado, pois gera grande desconforto em um país que existem grandes
indústrias do agronegócio, porções de terras maiores que muitos países da
Europa, grandes indústrias exportadoras. Entretanto, resistindo as mudanças que
ocorrem desde a chegada do homem branco as terras dos tupiniquins, que
habitavam uma porção do litoral do Brasil, está a população indígena em busca
do seu redescobrimento, de suas origens com a altivez de ser a verdadeira nação
nativa deste país. Em Mato Grosso do sul, especialmente na região da Grande
Dourados, os conflitos marcaram a historia dos indígenas com longos períodos de
violação da constituição federativa brasileira, massacres assolaram a região em
um verdadeiro genocídio.
São terras de posse dos povos indígenas uma porção de terras do governo
federal. Nelas habitam os povos indígenas distribuídas por todo o território
nacional, especialmente na região norte do país. No século XVII, a coroa
Portuguesa emitiu diplomas durante o processo de colonização, visando o
resguardo dos direitos indígenas, entretanto essas terras tem se tornado motivo
de disputa entre o homem “branco” e o índio, geralmente são terras produtivas, de
valor econômico e potencialmente grande geradora de renda. A disputa de terras
indígenas é e sempre foi assunto que gerador de debates acalorados na região
da grande Dourados. Com o crescimento das cidades, a expansão da área
urbana os conflitos sobre a propriedade da terra na região se tornaram cada vez
mais frequente. Este trabalho tem por objetivo levantar a questão da terra e como
convivem os índios residentes na região, e estimular o pensamento crítico
trazendo o tema para o contexto da dignidade da pessoa humana, fazer uma
analise das atuais condições a população indígena e verificar se existem avanços
voltados para solucionar os problemas sobre as diversas disputas de terras
indígenas no país.
Muitos indígenas tem se adaptado a cultura oriunda da colonização,
entretanto existe uma grande parcela que tenta preservar seus antigos hábitos
através da cultura repassada de geração á geração, fato que deve ser garantido
pelo Estado.

Métodos
Esse trabalho foi realizado através de pesquisas bibliográficas, pesquisas
em vários sites que trataram do assunto indígena através reportagens realizadas
na região do município de dourados e suas adjacências. Foram realizados
estudos no contexto histórico, da população indígena conceituando o direito
originário através do Álvaro Régio de 1680 editada pelo Marques de Pombal
reconheceu o direito do indígena sobre a terra, que durante os séculos XIX e XX
foi intitulado de instituto indigenato, a Constituição Federal do Brasil em 1988
consagrou no art. 231.
A disputa de terras indígenas e sua demarcação, uso e propriedade até por
uma questão de cultura do modo de vida indígena é objeto de discussão desde a
colonização do Brasil em terras já ocupadas originalmente pelo índio, hoje essa
população tem se dizimado em face da mudança e alteração dos hábitos de vida
em analise a seus antepassados.

Resultados e discussão
O tema disputa de terras indígenas tornou- se assunto gerador de
enfrentamentos, situação que muitas vezes dá margem à violência,
consequências da ignorância e do preconceito. Aos olhos do capitalismo, as
terras indígenas são subaproveitadas, pois existe muita riqueza, no solo e nos
rios a serem explorados. Os estudos de identificação, delimitação, demarcação e
regularização cabem a FUNAI promovendo políticas para o desenvolvimento
sustentável, no Estado do Mato grosso do Sul, conforme os dados da própria
FUNAI existem vinte e nove registros de terras indígenas regularizadas, divididas
em diversas etnias entre elas terena, guarani kaiwová, guarani, guató entre outras
A comissão interamericana dos direitos humanos (CIDH), após o encerramento
de visita ao país ocorrida em novembro de 2018 destaca relatos de violações aos
direitos humanos, narrativas colhidas nas visitas em aldeias no PA, nas cidades
de Santarém e Altamira e MS no município Dourados, em seu relatório, a
comissão interamericana dos direitos humanos recomenda ao estado a execução
e a conclusão dos processos de demarcação.
O conflito ainda está longe de acabar, pois segundo os dados presentados
pela FUNAI existem da mesma forma hoje quinze registros de áreas em fase de
estudo no nosso estado. As atenções estão voltadas para o conflito de
demarcação de terras indígenas no mato grosso do sul, pois na luta pelo direito
originário a população indígena tem sofrido com o genocídio de grande parte da
comunidade, com o limite pequeno em metros quadrados nas aldeias
concentrando uma população cada vez maior por metros quadrados, o uso
excessivo do solo limitado em áreas demarcadas que o torna cada vez menos
produtivo faz com que a população indígena procure outras fontes de renda,
trabalhando em diversas funções, ficando cada vez mais longe de suas culturas,
como a caça, a pesca e a agricultura, contudo podemos também salientar suas
tradições e manifestações.
Segundo Heck e Prezia, (p. 45)

para os povos indígenas não existe a propriedade particular e


individualista da terra, a posse e propriedade é da coletividade, tudo que
é produzido pela terra é compartilhado entre as famílias, mesmo quando
uma única família dispôs de tempo e mão de obra para geração da
produção, os produtos oriundos da caça e da pesca também são
compartilhados da mesma maneira, não prezam pelo acumulo de bens e
desta maneira ninguém passará por maiores dificuldades, como
existentes na sociedade atual.

Isso nos remete ao texto constitucional, seus princípios fundamentais em


seu art. 1° inc. III, a dignidade da pessoa humana, e o que não dizer do art. 3° inc.
III – erradicar a pobreza e a marginalização e reduzir as desigualdades sociais
seriam tão simples se prestássemos atenção em gestos simples, de sociedades
“não diplomadas” ou não reconhecidas por algum grande feito cientifico que a
compaixão mutua, a preservação da espécie de forma solidária e fraternal é o
maior feito do homem, para o homem.
Em termos numéricos, os quase setenta mil índios de MS vivem em um
território de 613 mil hectares, ocupando cerca de 1,7% da área do
estado, que é de 35,7 milhões de hectares. Quase 14% do território de
Mato Grosso é de terras indígenas, o que não impediu o estado de bater
recordes de produção nos últimos anos, sem mencionar que parte de
seu território integra a Amazônia Legal, implicando em regras ambientais
muitos mais restritivas de utilização que as do nosso estado (THIAGO
DOS SANTA LUZ, PROCURADOR DA REPÚBLICA – PONTA PORÃ,
FONTE: TEKOHA – MPF/MS 2010).

A realidade hoje é a tentativa de sobrevivência em subempregos, análogos


a escravidão, quando muitas vezes estão em situação de miséria, engolidos pela
ganancia e expansão das áreas agrícolas, De acordo com os relatórios da CIMI
2010 nos anos de 2003 a 2010 no Estado de Mato Grosso do Sul ocorreram
duzentos e cinquenta assassinatos de indígenas. No restante do país, no mesmo
período, foram duzentos e dois assassinatos, às tentativas de somam cento e
noventa. Isso deixa evidente o clima de guerra e de barbárie onde as vítimas não
são poupadas, nem mesmo as crianças. Com efeito, as taxas de mortalidade
infantil também são alarmantes se comparados com os índices aceitáveis, pois
ainda padecem de desnutrição infantil em pleno século XXI, em uma região de
paz, localizado em terras produtivas, onde as maquinas do agronegócio, do
desenvolvimento, do capitalismo ultrapassam os limites de respeito à dignidade e
a vida. Todo este cenário de dificuldades internas sofridas pelos indígenas
trouxeram consequências no comportamento da comunidade, onde a depressão
que é considerada a doença do século e o fruto colhido é, em especial, o
consumo de bebidas alcoólicas e drogas e o inventário são os grandes índices de
suicídios e outros conflitos igualmente destrutivos do indivíduo, da família e da
comunidade indígena. Na busca de uma melhor qualidade de vida e por maior
proteção contra esses males tão poderosos e destrutivos, voltamos a assistir o
êxodo de algumas famílias que, sem outra opção, migram para a cidade onde se
deparam com a discriminação e miséria.
Conclusão
O estudo desenvolvido nos revela que a relação na sociedade regional
entre indígenas e a comunidade é muito complexa, reflexo da falta de
engajamento com a comunidade indígena, fruto também do despreparo em
trabalhar ações publicas voltadas para a comunidade indígena que há mais de
quinhentos anos tem uma historia de luta e resistência voltada para a preservação
dos costumes, dos seus conhecimentos, e comportamentos que são fatores
peculiares de cada etnia. É fato que o direito originário e congênito, garantido
através da lei 06 de junho de 1755, lei 601 de 1.850, decreto 1318 de 30/
01/1854, lei n° 6001/73, das Constituições de 1934, 1937,1946, e emenda de
1969 e art. 231, da CF/88, não foi o bastante para cessar acalorados debates e
que deve permanecer por mais algum tempo, visto que há muito ainda a restituir á
um povo tão sofrido, hoje marginalizado, sem escolha para estar no centro de
tudo que era seu, ficaram as historias de sofrimento, resistência e luta em varias
etnias Brasil afora.
A morosidade e a falta de interesse público na questão indígena remontam
décadas. O fato é que muito foi prometido, germinando fio de esperança em um
povo tão carente de todo tipo de necessidade. Quando essas promessas são
frustradas, esquecidas, abandonas, assistem-se com absoluta impotência o
aniquilamento dessa cultura mãe do Brasil.
Pouca evolução foi experimentada, o que autoriza concluir que sociedade e
Estado menosprezam conscientemente os direitos desses povos, sendo
insensíveis a um futuro trágico e certo. De fato, o problema é perceptível
facilmente, o descumprimento de preceitos constitucionais é a marca que se
destaca; com isso, da inércia, do descaso, do escárnio, triunfa a desesperança, o
final do túnel.
Quando muito, em uma nítida opção pelo menor esforço, nós sociedade
vemos esses direitos mitigados e a solução que encontramos é transformá-los em
temas banais, grosseiros: quantos há que se contentam com essa macabra
metamorfose: povo indígena é coisa do passado remoto, quando muito são
miseráveis, preocupados “apenas” com o pão nosso de cada dia. À criança
indígena está reservado um papel: de pedintes cotidianos que batem às nossas
portas. Dar o “pão velho”, o biscoito mofado (também por nossa própria hipocrisia)
tem sido a solução mágica que oferecemos comodamente em nossas tardes.
Tratar o direito como esmola, como sinônimo de piedade, é sintoma de
sociedade que não respeita sua própria cultura; a civilidade passa longe dela.
Dar a esmola, para muitos, aplaca todos os remorsos e os faz de
benfeitores desses meninos, sempre com o mesmo (medíocre) argumento: o mais
importante é dar o que comer (aqui a intolerável confusão entre direito e piedade).
O passado e futuro fundem-se duradouramente. O que é direito constitucional
desse povo, agora se transforma em matéria prima barata: farinha e sal. Nesse
palco a janela do passado se fecha, esses brasileiros são invisíveis aos nossos
olhos, o futuro...o futuro só começa amanhã e sobre o amanhã pensaremos
amanhã, ninguém haverá de reparar. Séculos se passam nesse horrendo
formato, nessa sombra, nessa névoa povoada por verdadeiros fantasmas. Esses
fantasmas têm uma característica: não assombram, não assustam nossas noites,
sequer nos tiram o sono eis que insensíveis ao nosso senso ético, à nossa
consciência histórica.
Se não há mais rios, matas, caça ou pesca, indígena não passa de uma
forma de expressão. Hoje somos todos “pessoas brancas”, da cidade, com
direitos idênticos. A parte da Constituição que estampa esses direitos é
desconhecida da imensa maioria do povo brasileiro, portando por que expurgá-la
no texto magno? Uma Emenda Constitucional, revogando o art. 231, poderia ser
facilmente aprovada naquele final de sessão da Câmara ou do Senado.

Referências

BARBOSA, M. A. Direito antropológico e terras indígenas no Brasil/Marco


Antônio Barbosa – São Paulo: Pleide: FABESP, 2001, 130p.

CONSELHO INDIGENISTA MISSIONÁRIO – CIMI Regional Mato Grosso do Sul


Organismo vinculado à Conferencia Nacional dos Bispos do Brasil – CNBB-
DADOS: 2003–2010. Coordenação e organização Egon D. Heck Flávio V.
Machado

Disponível em: <http://www.canalrural.uol.com.br/agronegocio/demarcacao-de-


terras-indigenas-na-agricultura-e-meramente-administrativa-diz-ministra>

Disponível em: <http://www.funai.gov.br/index.php/índios-no-brasil/terras-


indígenas> Acesso em 10/08/2019

Disponível em: <http://www.mapadeconflitos.ensp.fiocruz.br/?conflito=ms-o-


martirio-de-um-grande-povo-identidade-afirmacao-e-reconhecimento-dos-direitos-
e-terras-dos-guarani-kaiowa>

HECK, Egon. Povos indígenas: terra e vida/EgonHeck e Benedito


Prezia:coordenação Wanderlei Loconte – São Paulo: Atual 1999 – ( espaço e
debate)

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