O documento discute o impacto do cultivo de cana-de-açúcar para produção de etanol no Brasil. O cultivo levou à expansão de latifúndios e à desterritorialização de povos indígenas, forçando-os a abandonar seus modos de vida tradicionais. Apesar de prometer menores impactos ambientais, a produção de etanol tem ameaçado direitos humanos e culturais de indígenas.
Descrição original:
Trata-se de uma análise de um documentário chamado "A sombra de um delírio"
O documento discute o impacto do cultivo de cana-de-açúcar para produção de etanol no Brasil. O cultivo levou à expansão de latifúndios e à desterritorialização de povos indígenas, forçando-os a abandonar seus modos de vida tradicionais. Apesar de prometer menores impactos ambientais, a produção de etanol tem ameaçado direitos humanos e culturais de indígenas.
O documento discute o impacto do cultivo de cana-de-açúcar para produção de etanol no Brasil. O cultivo levou à expansão de latifúndios e à desterritorialização de povos indígenas, forçando-os a abandonar seus modos de vida tradicionais. Apesar de prometer menores impactos ambientais, a produção de etanol tem ameaçado direitos humanos e culturais de indígenas.
Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho”
Faculdade de Filosofia e Ciências
Curso de Relações Internacionais Disciplina Introdução à Geografia Prof. Dr. Noemia Ramos Vieira Discente: Paloma de Oliveira dos Santos
A sombra de um delírio verde
Nos últimos anos, devido as tendências de conscientização com o meio ambiente em
escala global por conta das mudanças climáticas, os investidores brasileiros viu no negócio de biocombustíveis uma nova oportunidade de crescimento econômico. Com terras férteis de recursos naturais, os estudiosos apontaram para a cana-de-açúcar como matéria-prima chave para o desenvolvimento de uma nova tecnologia rentável para o país, pois, a partir dela pode-se constituir o gás Etanol. O Brasil firmou um acordo internacional com os Estados Unidos, sob a liderança de Lula e Bush, para a criação de um eixo de investimento em agrocombustíveis, esse acordo entre os dois países foi amplamente divulgado pela mídia, difundindo o discurso de que a nova tecnologia traria impactos menores para a natureza, afirmação que após a implementação se mostrará duvidosa. O investimento na produção do gás Etanol fez com que houvesse uma forte reorganização do espaço nos campos de plantio, o que antes era ocupado por hectares de plantações de diversos alimentos (que também visava a demanda de mercado) passou a ser tomado pela cana-de-açúcar. Os latifundiários, intencionados a maximizar os seus lucros e expandir a produção, avançam além de suas fronteiras cobertos pelo manto cego do capital até as terras indígenas, onde passam a fomentar ações ilícitas sob a lente dos direitos humanos, como o assassinato dos povos nativos, a tomada de seus territórios e a destruição de individualidade enquanto grupo social. O fenômeno dos ataques aos povos indígenas não é uma consequência do plantio de cana atual, mas é algo que se perpetua desde a colonização da América pelos europeus, há pelo menos 500 anos esta população está sendo renegada, explorada e por fim, proletarizada, sendo inseridos em um modo de produção até então desconhecido por eles. Atualmente, este fenômeno de inserção ao trabalho aos moldes capitalista acontecem a partir da desterritorialização desses povos. Quando os indígenas têm o seu território tomado através da força pelos latifundiários, ele não está apenas tirando deles um lugar para viver, mais sim toda uma tradição que só faz sentido no local em questão. Perdido o seu território e, por tanto o seu modo de vida, essas pessoas são obrigadas a se inserirem ao nas condições de trabalho dos centros urbanos, onde muitas vezes acabam como cortadores da cana, a mesma que avançou sobre suas terras. As reivindicações dessa população e daqueles que os defendem é de que eles possam possuir uma parte de seu território original para a manutenção de seu modo de vida e cultura. O território não é apenas o espaço físico que um determinado povo habita, escreve Haesbaert, mas sim a junção de um meio em que proporcione as condições básicas de existência com a junção de uma série de simbologias e histórias vividas por aqueles que habitam. Como citado por um indígena no documentário, eles querem manter uma relação de produção com a terra, plantando os seus próprios alimentos para garantir a sobrevivência, e não apenas depender das ajudas fornecidas pelo Estado. Os seres humanos viveram ao longo de toda história da humanidade criando o seu território e, em um momento posterior, se desterritorializando, reterritorializando e por fim, criando um novo território, algo reconhecido pelo próprio Haesbaert, e possivelmente aconteceu com diversos grupos indígenas ao longo da história, mas, o que ocorre atualmente é que essas forças externas são forças do capital, onde a ética e a preservação de costumes não se adequá a lógica capitalista. A proletarização dos povos é algo recorrente e aconteceu tanto nos países centrais quanto nas periferias, porém, a questão indígena é algo que foi renegado ao longo de toda a sua história, as raízes do Brasil são negadas e aprisionadas dentro do romantismo dos livros históricos de níveis primários, enquanto mascaram a realidade marcada por sangue e negligência.