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Disciplina: Tópicos Especiais em Educação e Movimentos Sociais

Aluna: Ariani de Assis Mero Rodrigues

O movimento social dos indígenas no Brasil está organizado em várias


frentes de ação. No parlamento, no espaço acadêmico, por meio de
organizações não governamentais, cooperativas agroecológicas e entidades
internacionais que também funcionam como disseminadoras globais das
causas e emergências levantadas pelo movimento.

As pautas elencadas pelo movimento contemplam; crise hídrica,


ambiental, luta pela terra e, antes de tudo, a luta é pela demarcação das terras
indígenas, o que garantiria o direito à vida e à sua cultura, sem a ameaça de
invasores e dos grileiros. O movimento social dos indígenas expressa
estratégias de lutas distintas, por vezes há confronto direto com invasores,
resistência a aparatos militares do Estado e, em algumas circunstâncias,
adotam a conformação à designação do governo.

Recentemente, o Supremo Tribunal Federal adiou a votação sobre


promulgação da Lei do Marco Temporal/2009, artifício jurídico criado com vistas
a impossibilitar a garantia de demarcação das terras indígenas, visto que,
somente os povos que “ocupam” a terra num período anterior à constituição de
1988, terá direito a área demarcada.

A Lei do Marco Temporal tem como fato fomentador o caso da


demarcação das Terras Raposa Serra do Sol, em Roraima. Em 2005, o
presidente Luís Inácio Lula da Silva, assinou decreto para que o Ministério da
Justiça homologasse a demarcação das terras indígenas. É uma área que
abriga 194 comunidades com uma população de mais de 19 mil indígenas dos
povos macuxi, Taurepang, Patamona, Ingaricó e Wapichana (STF, 2008).
Conflitos pelo direito ao uso das terras se seguiram após o decreto
garantidor das Terras Raposa Serra do Sol. A partir de argumentos
fundamentados na lógica de mercado, alegava-se que 46% da área de
Roraima são reservas indígenas e, 26% são áreas de conservação. Ou seja, o
território estaria, segundo os defensores dos latifundiários agricultores de arroz,
sem espaço propício para se desenvolver economicamente.

Esse caso das Terras Raposa Serra do Sol ajuda a compreender os


interesses que estão em jogo quando observamos as questões relacionadas a
lei do Marco Temporal. Os impactos que o agronegócio impõe aos territórios
ocupados pelos povos tradicionais revelam-se no desmatamento, morte de
lideranças indígenas, mudanças de ordem da subsistência alimentar e cultural
das comunidades.

A causa indígena tem opositores. Antagonistas que revelam interesses


de classe e setores originados na própria formação de poder político no país.
Latifundiários, grandes agricultores do agronegócio, parlamentares do
congresso nacional (eleitos para representar os interesses do agronegócio
brasileiro), grileiros, garimpeiros ilegais.

Entre seus apoiadores, a luta dos povos originários conta com a


articulação de centros de estudo, associações nacionais que aglutinam as
causas indigenistas, conselhos missionários, entidades internacionais que
fomentam a opinião pública, direcionam recursos e tensionam forças globais
que funcionam como pulsão para a imersão das causas indígenas até o ponto
de tornarem políticas públicas.

A compreensão inicial do que representa um movimento social deu-se


pelas leituras oferecidas até aqui. Em relação aos movimentos dos povos
indígenas no Brasil, pode-se pensar em definições estudadas, como a de
Manuel Castells, quando ele dispõe que “as relações de poder são constitutivas
da sociedade porque os que detêm o poder constroem as instituições segundo
seus valores e interesses.”

As leituras realizadas até o presente momento oportunizaram um


entendimento mais voltado para os aspectos político e civilizatório presentes
nos movimentos sociais. Em Maria Glória Gohn, no texto Movimentos sociais
na Contemporaneidade, tem-se o caráter educativo presente nas ações
coletivas dos movimentos, que gera “aprendizado e mudanças quando há
negociações, diálogos e confrontos.”

Nesse sentido, compreende-se que os conflitos enfrentados pelos povos


originários no Brasil têm caráter histórico. A experiência da colonização, as
questões que envolvem a formação de poder político no Brasil, as leis que
organizaram a posse e compra de terras, a engrenagem capitalista no país que
tem no agronegócio um de seus principais representantes, são indicadores das
barreiras enfrentadas pelos povos tradicionais do Brasil.

REFERÊNCIAS

CASTELLS, Manuel. Redes de indignação e Esperança: Movimentos Sociais


na era da internet. Zahar.

Conselho Indigenista Missionário. Movimento e Organizações Indígenas no


Brasil, 2008. Movimento e organizações indígenas no Brasil | Cimi

FEDERAL, Supremo Tribunal. Raposa Serra do Sol: Entenda o caso, 2008.

GOHN, Maria da Glória. Movimentos Sociais na Contemporaneidade. Revista


Brasileira de Educação, 2011.

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