Você está na página 1de 28

Diário de Bordo - Educação do Campo, Indígena e Quilombola

Aula 01 - Aspectos Históricos dos Grupos Camponeses, Indígena e Quilombolas (06/03/23)

A disciplina “Educação do campo, indígena e quilombola” tem como principal objetivo apresentar
esta modalidade de ensino indicando os parâmetros presentes na legislação específica para cada um
dos segmentos desta educação que leva em conta as particularidades sociais e étnico-raciais. No
final do século XX, seguindo recomendações da ONU aos estados signatários, o Brasil começou a
implementar políticas públicas que reconhecem as diferenças culturais presentes na nação,
particularizando a forma de ofertar a educação. Desta forma nasceram escolas voltadas à educação
do campo, indígena e quilombola (MARÇAL; LIMA, 2015).

Nem sempre a educação trilhou estes caminhos. Por muitos anos estas populações foram tratadas
como sendo estranhas à nação, pessoas que precisavam ser integradas ou mesmo sofrer uma
evolução para se amoldar aos parâmetros nacionais estabelecidos. Intelectuais brasileiros já
defenderam ideais racistas baseados no Darwinismo Social no início do século XX (CARVALHO et
al., 2013). Nos discursos o índio era apresentado como alguém não predisposto ao trabalho, o
africano como alguém incompatível como a evolução nacional e o caboclo (trabalhador do campo
na época) como alguém rude e pouco civilizado. Desta forma a educação refletia a desigualdade
presente no discurso nacional. Vicente de Paulo Vasconcelos, em 1939 “É claro que os índios, assim
como o negro, terão que desaparecer um dia entre nós, onde não formam ‘quistos raciais’
dissolvidos na massa branca cujo afluxo é continuo e esmagador (...)” (GARFIELD; COLLEGE,
2005, p. 18). Hoje a constituição garante a proteção do Estado para que estes grupos culturais e
étnico-raciais possam continuar mantendo suas línguas, culturas e terras. É na esteira desta
mudança, protagonizada na constituição cidadã, que estas modalidades de educação ganharam
espaço no cenário nacional influenciando documentos como a Lei de Diretrizes e Bases da
Educação (Lei 9.394/1996) e Plano Nacional de Educação – PNE 2014 -2024 (Lei 13.005/2014).

Para darmos início a este trabalho vamos começar visitando a formação histórica destes grupos. O
ponto de tensão em comum entre eles é a questão fundiária visto que as tensões no campo sempre
fizeram parte do histórico destes grupos sociais.

“O monopólio da terra no Brasil tem suas origens ainda no século XVI, com as Capitanias
Hereditárias, que foram doadas pelo Rei Dom João III a nobres de sua confiança. Estas capitanias
dividiram o Brasil em 15 (quinze) extensões de terra que tornaram-se propriedades de fidalgos
portugueses. A estrutura fundiária brasileira de grande propriedade formou-se a partir daí.”
(ROCHA; CABRAL, 2016, p. 76)

Com as grandes extensões de terra era necessária a presença de grande contingente de trabalhadores
capazes de garantir a lucratividade da mesma. Desta forma a opção escravista ocorreu. Inicialmente
atingindo o indígena e seguindo em direção ao negro africano. Da mescla destas formas de
escravidão surge o caboclo, o mulato e o mameluco, os primeiros a se dedicarem á agricultura
familiar em solo brasileiro. O conflito entre os interesses dos grandes latifúndios e dos pequenos
produtores, bem como a busca de desalojar indígenas e negros fugidos, geraram um panorama que
ainda não se encontra superado no âmbito nacional.

Este será o tema desta primeira unidade, a compreensão da formação destes grupos, suas demandas
e a busca pela significação de seus projetos. Também aproveitaremos para compreender como o
preconceito e as teorias raciais foram elementos constitutivos da exclusão social destes grupamentos
sociais e étnico-culturais.
Na segunda rota visitaremos as questões culturais destes grupos. Na terceira, quarta e quinta rotas
visitaremos as questões legais que embasam esta forma educacional. Na última rota faremos um
estudo de caso guiado, seguido pela oportunidade de você exercitar-se construindo um estudo
próprio.

Duas questões centrais:


Os grupos que estamos estudando sofreram dois problemas centrais que se retroalimentam criando
ambiente de exclusão: Preconceito e Questão fundiária.

Diversidade étnica:
Todas as etnias se encontram representadas em nossa nação brasileira. Se somos tão diversos, será
que ainda existe preconceito racial no Brasil?

Definindo termos: raça e etnia são a mesma coisa?


- Raça: a humanidade como um todo.
- Etnia: diferenças fenotípicas.

Teorias eugênicas no Brasil:

- Darwinismo social e a visão de uma raça superior fruto de uma evolução;

- Sílvio Romero (1851-1914): negros como derrotados e decaídos a serem salvos pelo homem
branco;

- Raimundo Nina Rodrigues (1862-1906): compreendia que os traços do indivíduo poderiam revelar
a natureza criminosa;

- Arnaldo Vieira de Carvalho, Oliveira Viana e Renato Kehl foram expoentes da eugenia;

- Cristalizaram-se ideais como o índio não ser afeito ao trabalho, o negro ter tendência ao crime e
contrário à civilização;

- Caboclo sendo a junção de todos estes defeitos (vindo das raças inferiores), sem vontade de
ascender socialmente.

Questão agrária no Brasil:

- Os índios, como primeiros habitantes das terras brasileiras foram sistematicamente escravizados
ou expulsos de suas terras;

- Os negros, trazidos à força da África não tinham direito nem a terra nem a liberdade;

- Até a abolição da escravatura, a terra era livre e a mão de obra presa;

- Com a abolição o negro saiu do ambiente de servidão sem nenhum direito fundiário;

- Conflitos entre índios e brancos pela posse da terra ainda são uma realidade no Brasil, mesmo com
a Constituição tratando do tema;
- Os quilombos permaneceram até a década de 1990 sem a possibilidade de demarcação. Ainda
existe conflito sobre este tema no Brasil;

- Durante a República Velha dois grandes massacres ocorreram tendo como pano de fundo a
questão fundiária camponesa no interior do Brasil: Canudos/BA (1893-1897) e Contestado/PR e SC
(1912-1916);

- Ainda hoje o conflito agrário produz mortes e cria as condições para a existência de focos de
resistência que são os movimentos de reforma agrária como o MST.

Aula 02 - Aspectos Culturais dos Grupos Camponenses, Indígenas e Quilombolas (06/03/23)

“O Estado brasileiro, solidificado no seio do capitalismo, caracterizado como tardio, traz


historicamente um déficit educacional instaurado desde antes da República Velha.” (MARÇAL;
LIMA, 2015, p. 72). Este déficit acaba tendo consequências nefastas para os grupamentos sociais
mais marginalizados da sociedade, impedindo-os de se integrar ao ambiente social que exige um
importante aporte cultural. Desta forma, negros, índios e mesmo os trabalhadores do campo
acabaram sendo relegados a uma posição secundária na sociedade brasileira. É neste contexto que
surgem as políticas públicas de ação afirmativa.

“O objetivo das políticas de ações afirmativas é antecipar o movimento de equalização que dê


condições de assegurar o processo democrático, no intento de afiançar a diversidade e a pluralidade
social.” (MARÇAL & LIMA, 2015, p. 73). Dentro desta visão, as políticas de afirmação cumprem
um papel chave no resgate do ser humano, garantindo a sua reinserção no mundo social da nação.

“Elas constituem medidas especiais e temporárias que, buscando remediar um passado


discriminatório, objetivam acelerar o processo com o alcance da igualdade substantiva por parte de
grupos vulneráveis, como as minorias étnicas e raciais e as mulheres, entre outros grupos.”
(PIOVESAN, 2006, p. 46)

Os grupos aqui tratados recebem, de alguma forma, o amparo legal destas ações afirmativas de
âmbito federal. Nesta rota, serão tratadas as questões culturais que permitem compreender as
peculiaridades de cada um destes grupos. Nesta rota, será usado o conceito de cultura conforme
Malinowski.

Ao se colocarem como atores sociais, dispostos a preservar suas diferenças, estes grupos criam uma
importante especificidade em seu processo educacional por conta de uma relação peculiar com o
saber instituído Konder (2003 e LUCIANO (2004). Estas diferenças são o tema central desta rota.

O que é cultura?

[...] a cultura consiste no conjunto integral dos instrumentos e bens de consumo, nos códigos
constitucionais dos vários grupos da sociedade, nas ideias e artes, nas crenças e costumes humanos.
Quer consideremos uma cultura muito simples ou primitiva, quer uma cultura extremamente
complexa e desenvolvida, confrontamo-nos com um vasto dispositivo, em parte material e em parte
espiritual, que possibilita ao homem fazer face aos problemas concretos e específicos que se lhe
deparam. (PORTO, 2011, p. 95)

Grupos que formam nossa matéria:


- Indígenas: primeiros habitantes do Brasil;
- Camponeses: sustentam suas famílias por meio da terra;
- Quilombas: descendentes dos primeiros escravos negros que se rebelaram;

Cultura e História Indígena:

- Estimativas apontam que no atual território brasileiro habitavam pelo menos 5 milhões de pessoas,
por ocasião da chegada de Pedro Álvares Cabral, no ano de 1500 (LUCIANO, p. 17);

- O nome índios foi dado pela caravana de Cristóvão Colombo ao imaginar que havia chegado à
Índia;

- Foram muito perseguidos, escravizados, considerados inferiores até que na década de 1980
criaram movimentos sociais pan-indígenas;

- Hoje são 200 povos, falantes de aproximadamente 180 línguas. Entre 350 e 715 mil pessoas
(depende da forma de contagem), não ultrapassam 0,5% da população nacional (Pagliaro et all).
Cerca de 36% vivem em áreas urbanas e 64% no mundo rural (IBGE 2009). A terra é vista como
ligada aos antepassados, não pode ser alienada.

"A principal marca do mundo indígena é a diversidade de povos, culturas, civilizações, religiões,
economias, enfim, uma multiplicidade de formas de vida coletiva e individual" (LUCIANO, p. 31).

"As crianças desde cedo vão aprendendo a assumir desafios e responsabilidades que lhes permitam
inserir-se na vida social e ao fazem, principalmente, por meio da observação, da experiência
empírica e da auto-reflexão proporcionadas por mitos, histórias, festas, cerimônias e rituais
realidados para tal fim" (LUCIANO, p. 130).

O Homem do Campo:

- Sua origem no Brasil está ligada à estrutura fundiária que valoriza principalmente a grande
propriedade rural (latifúndio). Isso trazia problemas para a sobrevivência dos pequenos produtores;

- Principalmente ligados à reforma agrária;

- A terra é vista como forma de sobrevivência e de independência;

- O tecido social é estabelecido mediante as relações de proximidade e de parentesco;

- Associam-se em grupos para resistirem à pressão das grandes corporações proprietárias das terras
(MST, CEB, Associações);

- Os filhos ajudam na produção, o que exige um calendário diferenciado;

- Normalmente são pessoas descendentes dos caboclos e mamelucos;

- O sentido do nosso movimento não é anterior à nossa interveção: é instaurado por nós, dentro dos
limites que nos são impostos pelo quadro em que nos inserimos (Leandro Konder, 2003, p. 2).

Os Quilombas:
- A terra é vista como espaço de resistência. Desta forma, identidade étnica e territorialidade estão
interligados;

- Mescla de negros (ex. escravos), índios e brancos;

- O quilombo era um espaço de revolta, de questionamentos (REIS, 1996);

- Em sua maioria seguem religiões afro-brasileiras, embora existam quilombos que adotem versões
do cristianismo;

- A estrutura quilombola é bastante simples, sem elementos que busquem identificar distinção
social;

- Os valores e a cultura do grupo são transmitidos por histórias e memórias. Os idosos são os
portadores destas memórias;

- "Os grupos que hoje são considerados remanescentes de comunidades de quilombos se


constituíram a partir de uma grande diversidade de processos, que incluem as fugas com ocupação
de terras livres e geralmente isoladas, mas, também, as heranças, doações, recebimento de terras
como pagamento de serviços prestados ao Estado" (REIS, 1996);

- "A questão territorial, ao remebeter os quilombolas a um passado de luta, os faz reviver memórias
e sentimentos relatados por antepassados e reafirma uma situação de instabilidade e injustiça
comum desde o passado desses sujeitos" (FURTADO et all, p. 110).

Aula 03 - Educação no Campo, Aspectos Legais (13/03/23)

A educação no campo surge como uma modalidade de ensino voltada à peculiaridade do educando,
seja ele menor de idade ou adultos em alfabetização.

Desta forma, a educação do campo não pode ser feita sem levar em conta a especificidade das
pessoas a serem atendidas. Não adianta apenas em conta a questão do conteúdo, é necessário
compreender que existem características próprias do educando que precisam ser contempladas.
Desta forma:

Desta forma, a compreensão dos aspectos legais que amparam esta forma de ensinar precisam ser
conhecidos pelo educador que deseja fazer parte deste projeto de vida. A Constituição brasileira
(BRASIL, 2011) já acenava para o pluralismo de ideias e concepções pedagógicas a serviço da
formação do ser humano para o exercício da cidadania. Outro tema tratado neste documento refere-
se à diversidade cultural e étnica, fortalecendo a necessidade de estabelecimento de uma pedagogia
que leve em conta este critério.

Nesta aula, serão visitados os seguintes documentos que estabelecem os marcos legais da Educação
do Campo: (BRASIL, 2012)

Decreto 7352/2010
LDB 9394/96
Decreto 7352, de 04 de novembro de 2010
Serão apresentados os principais artigos e parágrafos de forma comentada buscando indicar como
deveria ser executada esta modalidade de ensino. Os alunos que desejarem saber mais serão
convidados a ler os documentos ‘Educação do campo: marcos normativos’ (BRASIL, 2012).

Educação no Campo:

O que caracteriza os povos do campo é o jeito peculiar de se relacionarem com a natureza, o


trabalho na terra, a organização das atividades produtivas, mediante mão de obra dos membros da
família, cultura e valores que enfatizam as relações familiares e de vizinhança (...) (PARANÁ,
2006, p. 24).

A educação do campo deve ser vista não apenas como modalidade de ensino, mas, também, como
uma política pública que garanta a população camponesa os mesmos direitos educacionais
garantidos à população urbana, pois se percebe que no decorrer da história essa modalidade
educacional sempre foi deixada em segundo plano, não houve um investimento significativo pelos
representantes governamentais para que tivesse uma educação do campo condizente com a cultura e
identidade do povo camponês. (RODRIGUES; BOMFIM, 2017, p. 1377)

Constituição Federal 1988

- A Constituição definiu no seu artigo 205: "A educação, direito de todos e dever do Estado e da
família, será promovida e incentivada com a colaboração da sociedade, visando ao pleno
desenvolvimento da pessoa, seu preparo para o exercício da cidadania e sua qualificação para o
trabalho".

Entre os princípios do artigo 206 encontram-se:

- Igualdade de condições para o acesso e permanência da escola;

- Liberdade de aprender, ensinar, pesquisar e divulgar o pensamento, a arte e o saber;

- Pluralismo de ideias e de concepções pedagógicas, e coexistência de instituições públicas e


privadas de ensino;

- Gratuidade do ensino público em estabelecimentos oficiais;

Decreto 7352/2010

Populações do campo: agricultores familiares, os extrativistas, os pescadores artesanais, os


ribeirinhos, os assentados e acampados da reforma agrária, os trabalhadores assalariados rurais, os
quilombolas, os caiçaras, os povos da floresta, os caboclos e outros que produzam suas condições
materiais de existência a partir do trabalho no meio rural.
Escola do campo: aquela situada em área rural, conforme definida pela Fundação Instituto
Brasileiro de Geografia e Estatística - IBGE, ou aquela situada em área urbana, desde que atenda
predominantemente a populações do campo (BRASIL, 2012).

LDB 9394/96

Art. 28. Na oferta de educação básica para a população rural, os sistemas de ensino promoverão as
adaptações necessárias à sua adequação às peculiaridades da vida rural e de cada região,
especialmente:
I) Conteúdos curriculares e metodologias apropriadas às reais necessidades e interesses dos alunos
da zona rural;

II) Organização escolar própria, incluindo adequação do calendário escolar às fases do ciclo
agrícola e às condições climáticas;

III) adequação à natureza do trabalho na zona rural.

Parágrafo único. O fechamento de escolas do campo, indígenas e quilombolas será precedido de


manifestação do órgão normativo do respectivo sistema de ensino, que considerará a justificativa
apresentada pela Secretaria de Educação, análise do diagnóstico do impacto da ação e a
manifestação da comunidade escolar (Incluído pela Lei n° 12.960, de 2014) (BRASIL, 2012).

Decreto 7352 de 04 de Novembro de 2010 - Artigo 2:

I - Respeito à diversidade do campo em seus aspectos sociais, culturais, ambientais, políticos,


econômicos, de gênero, geracional e de raça e etnia;

II - Incentivo à formulação, estimulando o desenvolvimento das unidades escolares como espaços


públicos de investigação e articulação de experiências e estudos direcionados para o
desenvolvimento social, economicamente justo e ambientalmente sustentável, em articulação com o
mundo do trabalho;

III - Desenvolvimento de políticas de formação de profissionais da educação para o atendimento da


especificidade das escolas do campo, considerando-se as condições concretas da produção e
reprodução social da vida no campo;

IV - Valorização da identidade da escola do campo por meio de projetos pedagógicos com


conteúdos curriculares e metodologias adequadas às reais necessidades dos alunos do campo, bem
como flexibilidade na organização escolar, incluindo adequação do calendário escolar às fases do
ciclo agrícola e às condições climáticas;

V - Controle social da qualidade da educação escolar, mediante a efetiva participação da


comunidade e dos movimentos sociais do campo (BRASIL, 2012).

Decreto 7352 de 04 de Novembro de 2010:

I - Organização e funcionamento de turmas formadas por alunos de diferentes idades e graus de


conhecimento de uma mesma etapa de ensino, especialmente nos anos iniciais do ensino
fundamental;

II - oferta de educação básica, sobretudo no ensino médio e nas etapas dos anos finais do ensino
fundamental, e de educação superior, de acordo com os princípios da metodologia da pegagogia da
alternância;

III - organização do calendário escolar de acordo com as fases do ciclo produtivo e as condições
climáticas de cada região (BRASIL, 2010).

Pegagogia da Alternância:
A formação na alternância tem como objetivo possibilitar a educação em tempo integral, envolver
as famílias na educação dos filhos, fortalecer a prática do diálogo entre os diferentes atores que
participam dos processos de formação dos educandos (JESUS, 2010, p. 10).

Decreto 7352 de 04 de Novembro de 2010:

Art. 12. Os objetivos do PRONERA são:

I - oferecer educação formal aos jovens e adultos beneficiários do Plano Nacional de Reforma
Agrária - PNRA, em todos os níveis de ensino;

II - melhorar as condições do acesso à educação do público do PNRA; e

III - Proporcionar melhorias do desenvolvimento dos assentamentos rurais por meio da qualificação
do público do PNRA e dos profissionais que desenvolvem atividades educacionais e técnicas nos
assentamentos. (BRASIL, 2012)

Aula 04 - Educação Indígena (13/03/23)

Nesta rota, estaremos trabalhando as questões ligadas à educação indígena. Conforme define
Luciano (2004):

A educação escolar indígena refere-se à escola apropriada pelos povos indígenas para reforçar seus
projetos socioculturais e abrir caminhos para o acesso a outros conhecimentos universais,
necessários e desejáveis, a fim de contribuírem com a capacidade de responder às novas demandas
geradas, a partir do contato com a sociedade global. (LUCIANO, 2004, p. 129)

Desta forma, a educação indígena ultrapassa os muros da escola e se insere na própria identidade
étnica dos indígenas em seu processo de reafirmação identitária, um espaço de conquista de
cidadania.

A Constituição de 1988 (BRASIL, 2011) assegurou aos índios no Brasil o direito de permanecerem
índios, isto é, de continuarem a ser eles mesmos, com suas línguas, culturas e tradições. O próprio
projeto educacional brasileiro foi chamado a fazer eco a esta visão mediante à inclusão das línguas
maternas indígenas associadas ao ensino do português. Também, compreendeu que a cultura a ser
ensinada deveria contemplar tanto aquela comum à nação quanto às nações indígenas onde está
sendo ensinada.

Neste sentido, a LDB 9394/06 (GRUPIONI, 2002), além de estabelecer funções claras para o
Estado, traz para o âmbito educacional algumas novas responsabilidades:

Recuperar, reafirmar e valorizar a cultura, ciência e língua indígena;


Garantir acesso à informação e conhecimento técnico científico;
Desenvolvimento de currículo apropriado ao grupamento indígena.
O segundo documento a ser analisado nesta rota é o Plano Nacional de Educação LEI No
10.172/01, também conhecido como PNE. Este documento, entre outros temas, estabelece as
funções do Estado no que tange à estrutura necessária para que a Educação indígena. Observe-se
que os principais elementos previstos, até o momento, foram parcialmente atingidos necessitando
ainda de grande investimento estatal.
Outro tema tratado é a formação de professores. Neste ponto, serão retomadas questões ligadas à
especificidade da formação de professores e pesquisadores voltados a atuarem na educação indígena
brasileira. Nele podem ser observados os desafios que se interpõem ao processo formativo.
Infelizmente esta, também, é uma área com pouco investimento. Caso desejássemos preparar para
apenas um dos temas abordados na lei, a capacitação para produção de material didático-científico,
já descobriríamos que não haveria tempo hábil para a formação deste profissional nos anos que
abrangem a formação de um pedagogo. Pior ainda é notar que, em solo brasileiro, poucos são os
cursos de pós-graduação oferecidos com esta temática em mente.

Imagine você usando um livro didático que ensina a letra P ligando-a a um panda. Seria muito mais
fácil para eles gravarem o P com um papagaio.

"As crianças desde cedo vão aprendendo a assumir desafios e responsabilidades que lhes permitam
inserir-se na vida social e o fazem, principalmente, por meio da observação, da experiência empírica
e da auto-reflexão proporcionaas por mitos, histórias, festas, cerimônias e rituais realizados para tal
fim" (LUCIANO, p. 130).

Legislação sobre os Indígenas:

- A Constituição de 1988 (BRASIL, 2011) assegurou aos índios Brasil o direito de permanecerem
índios, isto é, de permanecerem eles mesmos, com suas línguas, culturas e tradições.

- A escola ganha um papel privilegiado ao garantir a autodeterminação destes povos.

- Artigo 2010 - 1. Serão fixados conteúdos mínimos para o ensino fundamental, de maneira a
assegurar formação básica comum e respeito aos valores culturais e artísticos, nacionais e regionais.

- Artigo 2010 - 2. O ensino fundamental regular será ministrado em língua portuguesa, assegurada
às comunidades indígenas, também, a utilização de suas línguas maternas e processos próprios de
aprendizagem.

LDB n° 9394/96:

- Artigo 78 - O Sistema de Ensino da União, com a colaboração das agências federais de fomento à
cultura e de assistência aos índios, desenvolverá programas integrados de ensino e pesqquisas, para
oferta de Educação escolar bilíngue e intercultural dos povos indígenas, com os seguintes objetivos:

I - proporcionar aos índios, suas comunidades e povos, a recuperação de suas memórias históricas; a
reafirmação de suas identidades étnicas; a valorização de suas línguas e ciências;

II - garantir aos índios, suas comunidades e povos, o acesso às informações, conhecimentos técnicos
e científicos da sociedade nacional e demais sociedades indígenas e não-índias (GRUPIONI, 2002).

- Artigo 79 - A União apoiará técnica e financeiramente os sistemas de ensino no provimento da


educação intercultural às comunidades indígenas, desenvolvendo programas integrados de ensino e
pesquisa.

1° - Os programas serão planejados com audiência das comunidades indígenas;


2° - Os programas a que se referem este artigo, incluídos nos Planos Nacionais de Educação, terão
os seguintes objetivos:
- Fortalecer as práticas socioculturais e a língua materna de cada comunidade indígena;

- Manter programas de formação de pessoal especializado, destinado à educação escolar nas


comunidades indígenas;

- Desenvolver curículos e programas específicos, neles incluindo os conteúdos culturais


correspondentes às respectivas comunidades;

- Elaborar e publicar sistematicamente material didático específico e diferenciado (GRUPIONI,


2002).

Plano Nacional de Educação Lei n° 10.172/01:

1. Atribuir aos Estados a responsabilidade legal pela educação indígena, quer diretamente, quer
através de delegação de responsabilidades aos seus Municípios, sob a coordenação geral e com o
apoio financeiro do Ministério da Educação;

3. Universalizar, em dez anos, a oferta às comunidades indígenas de programas educacionais


equivalentes às quatro primeiras séries do ensino fundamental, respeitando seus modos de vida,
suas visões de mundo e as situações sociolinguísticas específicas por elas vivenciadas;

4. Ammpliar, gradativamente, a oferta de ensino de 5° a 8° série à população indígena (...)

6. Criar, dentro de um ano, a categoria oficial de "escola indígena" para que a especificidade do
modelo de educação intercultural e bilíngue seja assegurada.

Formação do Professor Indígena:

- capacitação para elaborar currículos e programas de ensino específicos para escolas indígenas;

- capacitação para produzir material didático-científico;

- capacitação para um ensino bilíngue, o que requer conhecimentos em relação aos princípios de
metodologia de ensino de segundas línguas, seja a língua portuguesa ou a língua indígena;

- capacitação sociolinguística para o entendimento dos procesos históricos de perda linguística,


quando pertinente;

- capacitação linguística específica, já que, normalmente, cabe a esse profissional a tarefa de liderar
o processo de estabelecimento de um sistema ortográfico da língua tradicional de sua comunidade
(GRUPIONI, 2002);

- diferentemente do professor não-índio, o professor índio exerce um papel de liderança importante


em sua comunidade, servindo, frequentemente, como mediador cultural nas relações interétnicas
estabelecidas com a sociedade nacional. Nesse sentido, certas capacitações específicas
(compreensão do Parecer 14/99 do Conselho Nacional de Educação 51 legal, do funcionamento
político-burocrático, etc) têm de ser contempladas em seus cursos de formação.

- capacitação para a condução de pesquisas de cunho linguístico e antropológico, uma vez que esse
profissional, como necessariamente, autor e condutor dos processos de elaboração de materiais
didáticos para as escolas indígenas, deve ser capaz de:
- realizar levantamentos da literatura indígena tradicional e atual;

- realizar levantamentos étnico-científicos;

- lidar com o acervo histórico do respectivo povo indígena;

- realizar levantamento sociogeográfico de sua comunidade.

Aula 05 - Educação Quilombola (17/03/23)

Nesta unidade, trabalharemos as questões legais presentes na educação quilombola.

Os habitantes dessas comunidades valorizam as tradições culturais dos antepassados, religiosas ou


não, recriando-as no presente. Possuem uma história comum e têm normas de pertencimento
explícitas, com consciência de sua identidade. São, também, chamadas de comunidades
remanescentes de quilombos, terras de preto, terras de santo ou santíssimo.(MOURA, 2007, p. 3)

Esta valorização precisa estar demonstrada na práxis pedagógica encontrada na escola quilombola.
Para eles, a principal aprendizagem ocorre no encontro com os mais velhos (OLIVEIRA et al.,
2016). Neste aspecto, Lopes (2007) indica que as experiências mais bem sucedidas na educação
quilombola sempre levaram em conta professores que compreendiam-se como elementos capazes
de assumir o conhecimento já adquirido e transmitindo-o como ‘contadores de histórias’, forma
como os saberes são repassados de geração em geração nestes grupamentos étnicos.

Serão visitados os seguintes documentos nacionais em busca da compreensão dos aspectos legais da
educação quilombola:

Ata do Conselho Nacional de Educação de 2004


LEI Nº 10.639/2003
CONAE 2010
Conselho Nacional de Educação 2011

Esta rota termina com a apresentação dos grandes desafios, ainda existentes nesta modalidade de
educação:

Investimentos governamentais em escolas;


Material didático inclusivo e aplicado à realidade quilombola;
Formação de docentes para atuar diretamente com estes grupos;
Ampliar o debate sobre as peculiaridades destes agrupamentos humanos.

O que caracteriza um Quilombola?

As comunidades negras são redutos habitados por negros e mestiços que se originaram de antigos
quilombos ou se formaram em terras doadas, adquiridas, ocupadas e herdadas pelos cativos.
(FIABANI 2013, p. 346)

Os habitantes dessas comunidades valorizam as tradições culturais dos antepassados, religiosas ou


não, recriando-as no presente. Possuem uma história comum e têm normas de pertencimento
explícitas, com consciência de sua identidade. São também, chamadas de comunidades
remanescentes de quilombos, terras de preto, terras de santo ou santíssimo. (MOURA 2007, p. 3)
O aprendizado no mundo quilombola:

"Quem me ensinou foi minha avó e minha bisavó. Sempre que elas saíam, saíam comigo, saíam
mais elas, elas me 'ensinava'. Saía de lá e elas tornava a me ensinar. Tudo de 'có', de cabeça, não
tinha nada de letra nenhuma" - Maria Pereira, parteira Kalunga. (OLIVEIRA, 2007, p. 17)

O papel dos professores:

Nós, professores, somos, na verdade, contadores de história. Contamos a história da humanidade


para nossos alunos. Nisso nós nos parecemos com os "mais velhos" de uma tribo indígena ou de
outras civilizações antigas, que tinham o conhecimento das coisas da natureza e dos seres vivos, das
coisas sagradas e dos valores que dão sentido à vida e que passavam esse conhecimento aos mais
jovens, sendo por isso muito respeitados. (LOPES, 2007, p. 30)

Conselho Nacional de Educação 2004


(§ = parágrafo)

§ 2°: O Ensino de História e Cultura Afro-Brasileira e Africana tem por objetivo o reconhecimento
e valorização da identidade, história e cultura dos afro-brasileiros, bem como a garantia de
reconhecimento e igualdade de valorização das raízes africanas da nação brasileira, ao lado das
indígenas, europeias e asiátias.

Ensino da História e Cultura Negra Lei n° 10.639/2003:

Art. 26-A. Nos estabelecimentos de ensino fundamental e médio, oficiais e particulares, torna-se
obrigatório o ensino sobre História e Cultura Afro-Brasileira.
§ 1° O conteúdo programático a que se refere o caput deste artigo incluirá o estudo da História da
África e dos Africanos, a luta dos negros no Brasil, a cultura negra brasileira e o negro na formação
da sociedade nacional, resgatando a contribuição do povo negro nas áreas social, econômica e
política pertinentes à História do Brasil.
§ 2° Os conteúdos referentes à História e Cultura Afro-Brasileira serão ministrados no âmbito de
todo currículo escolar, em especial nas áreas de Educação Artística e de Literatura e História
Brasileiras.

CONAE (2010):

a) Garantir a elaboração de uma legislação específica para a educação quilombola, com a


participação do movimento negro quilombola, assegurando o direito à preservação de suas
manifestações culturais e à sustentabilidade de seu território tradicional.

b) Assegurar que a alimentação e a infraestrutura escolar quilombola respeitem a cultura alimentar


do grupo, observando o cuidado com o meio ambiente e a geografia local.

c) Promover a formação específica e diferenciada (inicial e continuada) aos/às profissionais das


escolas quilombolas, propiciando a elaboração de materiais didático-pedagógicos contextualizados
com a identidade étnico-racial do grupo.

d) Garantir a participação de representantes quilombolas na composição dos conselhos referentes à


educação, nos três entes federados.

e) Instituir um programa específico de licenciatura cultural dessas comunidades étnicas.


f) Garantir aos professores/as quilombolas a sua formação em serviço e, quando for o caso,
concomitantemente com a sua própria escolarização.

g) Instituir o Plano Nacional de Educação Quilombola, visando a valorização plena das culturas das
comunidades quilombolas, a afirmação e manutenção de sua diversidade étnica.

h) Assegurar que a atividade docente nas escolas quilombolas seja exercida preferencialmente por
professores(as) oriundos(as) das comunidades quilombolas. (BRASIL, 2011, p. 9)

Conselho Nacional de Educação 2011:

A Educação Escolar Quilombola é desenvolvida em unidades educacionais inscritas em suas terras


e cultura, requerendo pedagogia própria em respeito à especificidade étnico-cultural de cada
comunidade e formação específica de seu quadro docente, observados os princípios constitucionais,
a base nacional comum e os princípios que orientam a Educação Básica Brasileira. Na estruturação
e no funcionamento das escolas quilombolas deve ser reconhecida e valorizada sua diversidade
cultural (BRASIL, 2011, p. 21).

Ao dialogar e incorporar os conhecimentos da realidade local dos quilombolas em diálogo com o


global, o currículo terá como eixo principal: o trbalho, a cultura, a oralidade, a memória, as lutas
pela terra e pelo território e pelo desenvolvimento sustentável dessas comunidades. Significa que a
orientação de todas as disciplinas que deverão dialogar transdisciplinarmente entre si deverá ser a
vivência sócio-histórica dos conhecimentos e aprendizagens construídos no "fazer quilombola"
(BRASIL, 2011, p. 32).

Elementos-chave na Educação Quilombola:

a) memória coletiva;
b) línguas reminiscentes;
c) marcos civilizatórios;
d) práticas culturais;
e) tecnologias e formas de produção do trabalho;
f) acervos e repertórios orais;
g) festejos, usos, tradições e demais elementos que conformam o patrimônio cultural das
comunidades quilombolas de todo país;
h) territorialidade.
(SANTA CATARINA, 2018)

Desafios no Ensino Quilombola:

- Investimentos governamentais em escolas;

- Material didático inclusivo e aplicado à realidade quilombola;

- Formação de docentes para atuar diretamente com estes grupos;

- Ampliar o debate sobre as peculiaridades destes grupamentos humanos.

Aula 06 - Estudo de Caso: Escola Estadual Guarani Karai Kuery Renda (17/03/23)
Nesta unidade, iremos analisar um estudo de caso feito por Russo e Souza (2017). Este estudo de
caso trata dos índios Guarani Mbya que vivem no litoral do Estado, em área de Mata Atlântica. Suas
reservas ficam nos municípios de Angra dos Reis (Aldeia Sapukai), Paraty (Aldeia Itatiim/Itaxi, Rio
Pequeno, Araponga e Arandu Mirim) e Maricá (Aldeia Ka’aguy Hovy Porã e Itapuaçu).

O artigo é a continuação de uma pesquisa iniciada no mestrado. No artigo observa-se o esforço da


aldeia em garantir uma educação de qualidade sem abrir mão da especificidade de seu povo. Isso é
evidenciado pelo fato de que a sala de aula, assim como os professores e o material, sempre foi
conseguido mediante intervenção constante do cacique da aldeia junto à sociedade constituída.
Inicialmente, recebeu apoio da ONG CEDAC – Centro de Ação Comunitária e do Conselho
Indigenista Missionário da Pastoral Indigenista. A primeira aula ocorreu em 1997, com o professor
indígena Algemiro Karai da Silva que organizava encontros com cerca de 10 crianças, “embaixo de
um pé de maracujá”, na aldeia de Sapukai com objetivo de ensinar “a cultura dos brancos”
(RUSSO; SOUZA, 2017, p. 49).

Oficialmente, fundada em 1998. Em 2000 começou a funcionar na modalidade comunitária apoiada


por universidades da região, porém sem apoio nem reconhecimento por parte do Estado do Rio de
Janeiro. Só conseguiu ser reconhecida pela Secretaria de Educação do Estado em 2005. Atualmente,
conta com número mínimo de professores indígenas contratados periodicamente no regime de
contratação temporária. Desta forma, torna-se quase impossível o desenvolvimento de um projeto
pedagógico, por conta da falta de continuidade das ações dos professores. Estes professores, quase
sempre, relatam sentir-se desmotivados e sem uma compreensão clara da cultura indígena. Para
gravar a situação existe escasso apoio pedagógico e recursos materiais para o desenvolvimento da
tarefa docente.

Não indígenas ministram as aulas do sexto ao nono anos. Desta forma, embora a escola esteja em
ambiente indígena, ela acaba sendo permeada com o pensamento branco do professor. Isso pode ser
facilmente perceptível pelo desejo dos alunos de mais aulas de Matemática e Português. Isso se
soma ao desejo de “aprender alguma profissão”, “ter trabalho de juruá” (branco).

O autor termina seu trabalho percebendo que “(...) a escola indígena Guarani, no Rio de Janeiro,
não tem conseguido nem formar dentro das perspectivas dos próprios indígenas, nem dentro dos
parâmetros da educação básica brasileira.” (RUSSO; SOUZA, 2017, p. 62)

Colégio Estadual Guarani Karai Kuery Renda:

- Localização: Aldeia Guarani Sapukai (Angra dos Reis/RJ).

- Total de alunos: 147 em 2015. Números atualizados não disponíveis na Secretaria de Educação do
Rio de Janeiro.

- 3 Salas de extensão: nas aldeias Karai Oka, Tava Mirim e E Renda.

- Níveis e ensino disponíveis: fundamental (1° ao 9° ano).

- Origem dos professores: Apenas os anos iniciais do Ensino Fundamental são indígenas, os demais
são externos.

- Em Julho de 2016 a Defensoria Pública do Estado do Rio de Janeiro visitou esta tribo. Os dados
demonstraram a exclusão social deste grupo. Foram 325 atendimentos realizados, sendo:
I) 103 emissões de carteiras de identidade;
II) 15 certidões de nascimento;
III) 123 ofícios;
IV) 2 pedidos de reconhecimento de paternidade.

Artigo Analisado:

RUSSO, Kelly; SOUZA, Indiara Valeriano De. Educação escolar indígena: limites e fragilidades na
efetivação de direitos dos Guarani Mbya no Rio de Janeiro. Tellus, v. 17, n. 32, p. 45, 2017.

- Continuação de sua pesquisa de mestrado;

- Inicia seu artigo fazendo um levantamento das ocupações indígenas no estado do Rio de Janeiro;

- Trabalha com os Guarani Mbya que vivem no litoral do Estado, em área de Mata Atlântica;

- Suas reservas ficam nos municípios de Angra dos Reis (Aldeia Sapukai), Paraty (Aldeia
Itatiim/Itaxi, Rio Pequeno, Araponga e Arandu Mirim) e Maricá (Aldeia Ka'aguy Hovy Porã e
Itapuaçu).

- A escola só existe graças ao esforço do próprio grupo Guarani. Recebeu apoio da ONG CEDAC -
Centro de Ação Comunitária e do Conselho Indigenista Missionário da Pastoral Indigenista;

- A primeira iniciativa ocorreu em 1997, com o professor indígena Algemiro Karai da Silva, já
organizava encontros com cerca de 101 crianças, "embaixo de um pé de maracujá", na aldeia de
Sapukai com o objetivo de ensinar "a cultura dos brancos" (RUSSO; SOUZA, 2017, p. 49).

- Oficialmente fundada em 1998. Em 2000 começou a funcionar na modalidade comunitária


apoiada por universidades da região. Reconhecida pelo Estado em 2005;

- Conta com número mínimo de professores indígenas contratados periodicamente, com escasso
apoio pedagógico e recursos materiais para o desenvolvimento da tarefa docente;

- Não indígenas ministram as aulas do sexto ao nono anos.

Resultado da Entrevista:

O autor usou como técnica para sua pesquisa a entrevista. Veja alguns dados relevantes:

- A maioria dos entrevistados gostaria de mais aulas de matemática e português;

- Desejo de "aprender alguma profissão", "ter trabalho de juruá";

- "As crianças precisam ler e escrever no Guarani, e ler e escrever no Português, o professor não
sabe algumas coisas" (RUSSO; SOUZA, 2017, P. 54);

- Reclamação quanto preparo dos professores e pedagogos que vão para a aldeia;

- Os contratos dos brancos que lecionam na escola só duram até dois anos, isso dificulta a
continuidade;

- Falta de recursos (computadores desatualizados, carteiras em péssimo estado, entre outros);


- Todos os professores indígenas estudaram e alguns ainda estudam fora da aldeia, distantes da
comunidade local;

- Falta formação continuada dos professores. Quando conseguem é devido a ONGs que ajudam;

- Falta material didático apropriado para a cultura;

- "Desde que a escola indígena Guarani foi estadualizada, nada - absolutamente nada - foi
modificado, ampliado ou mais bem estruturado; ao contrário, o desgaste dessa relação com a gestão
pública afastou a comunidade do cotidiano da escola, jogando a responsabilidade quase que
unicamente aos seus professores, que terminam vistos como "despreparados" para essa função
dentro de suas comunidades" (RUSSO; SOUZA, 2017, p. 60).

Desse modo, a escola indígena Guarani no Rio de Janeiro não tem conseguido nem formar dentro
das perspectivas dos próprios indígenas, nem dentro dos parâmetros da educação básica brasileira
(RUSSO; SOUZA, 2017, p. 62).

Aula 07 - Ensino de História e Cultura Indígena (17/03/23)

Desde a aprovação da lei 11645/2008 o ensino da história e cultura indígenas deixou de ser um tema
secundário, abordado apenas em caso de interesse do professor. Passa a ser um tema central,
amparado pela lei. É claro que a mera inclusão do tema não trouxe ao mesmo a relevância que
realmente possui. Nesta rota iremos detalhar aspectos presentes na lei, a dificuldade de encontrar
materiais adequados e indicar um caminho viável para a aplica~]ao do tema.

Primeiramente retomemos o que diz a lei 11645/2008 sobre o tema:

“Art. 26-A. Nos estabelecimentos de ensino fundamental e de ensino médio, públicos e privados,
torna-se obrigatório o estudo da história e cultura afro-brasileira e indígena.

1º O conteúdo programático a que se refere este artigo incluirá diversos aspectos da história e da
cultura que caracterizam a formação da população brasileira, a partir desses dois grupos étnicos, tais
como o estudo da história da África e dos africanos, a luta dos negros e dos povos indígenas no
Brasil, a cultura negra e indígena brasileira e o negro e o índio na formação da sociedade nacional,
resgatando as suas contribuições nas áreas social, econômica e política, pertinentes à história do
Brasil. § 2º Os conteúdos referentes à história e cultura afro-brasileira e dos povos indígenas
brasileiros serão ministrados no âmbito de todo o currículo escolar, em especial nas áreas de
educação artística e de literatura e história brasileiras." (REPÚBLICA, 2008)

Embora já estejamos tratando da educação desta etnia há algumas rotas, esta será destinada
exclusivamente à forma como deve ocorrer o ensino de história e cultura indígena nas escolas
brasileiras.

A visão dos povos indígenas, desde o período colonial, é plasmado por uma visão distorcida,
marcadamente preconceituosa.

E o que foi que essas pessoas aprenderam e nossas crianças do século XXI ainda aprendem? O
“índio” como um ser vinculado ao passado, com alguma presença significativa somente na
formação da colônia e na constituição do “povo brasileiro”; o “índio” como um genérico, sem
atentar para a diversidade cultural das mais de 305 etnias presentes em nosso país; o “índio” como
alguém que vive na floresta, isolado e nu, subsistindo apenas da caça e da pesca, e aqueles que
fogem desse padrão “já não sendo índios”; e o “índio” como ser preguiçoso, que ocupa muita terras
e atrapalha o desenvolvimento da nação, entre outros estereótipos. (COLLET; PALATINO;
RUSSO, 2014, 5)

A fim de evitar este tipo de equívoco a lei determina claramente que o ensino deste conteúdo é
obrigatório. Busca também estabelecer quais aspectos deste conteúdo devem ser tomados como
prioritário: história e cultura. Estes dois aspectos foram alvo da primeira e segunda rotas desta
disciplina. Creio que lá várias informações úteis puderam ser levantadas para auxiliar seu processo
docente.

É preciso relembrar que se tratam de vários povos, com culturas e práticas que se diferenciam
profundamente entre si. O traço característico comum é o fato de habitarem o Brasil antes da
chegada dos europeus.

A denominação indígena significa, segundo os dicionários de língua portuguesa, “nativo, pessoa


natural do lugar ou do país em que habita”. Apesar de parecer mais correta do que o termo índios, é
importante destacar que também se trata de uma categoria trazida de fora, isto é, pelo colonizador
ou não indígena. Antes da chegada dos europeus, a população nativa não tinha um nome para
designar-se como coletivo. Cada povo ou etnia tinha sua própria denominação, que a distinguia das
demais. (COLLET; PALATINO; RUSSO, 2014, p. 11)

“Dentro da sala de aula, os professores revelam-se mal informados sobre o assunto, e os livros
didáticos, com poucas exceções, são deficientes no tratamento da diversidade étnica e cultural
existente no Brasil.” (LUIS; GRUPIONI, 1995, p. 424) Para complicar ainda mais o trabalho dos
educadores existem poucos livros didáticos que tratam com profundidade sobre o assunto. Freire
(2016, p. 4) afirma que “A produção de conhecimentos nesta área não condiz com a importância do
tema. As pesquisas são de uma pobreza franciscana. O resultado disso é a deformação da imagem
do índio na escola, nos jornais, na televisão, enfim na sociedade brasileira.”

Toda esta desinformação acaba por reforçar o preconceito e as visões míopes sobre estas etnias.
Desta forma não causa estranhamento o fato de que vários brasileiros são contrários à demarcação
de terras indígenas. Freire (2016) indica a existência de cinco ideias equivocadas sobre os
indígenas:

Índio Genérico – “Hoje vivem no Brasil mais de 200 etnias, falando 188 línguas diferentes”.
(FREIRE, 2016, p. 6)
Cultura atrasada – um exemplo é o sofisticado conhecimento dos Kayapo sobre “plantas medicinais,
agricultura, classificação e uso do solo, sistema de reciclagem de nutrientes, métodos de
reflorestamento, pesticidas e fertilizantes naturais, comportamento animal, melhoramento genético
de plantas cultivadas e semi-domesticadas, manejo da pesca e da vida selvagem e astronomia.”
(FREIRE, 2016, 10)
Culturas congeladas – “Na cabeça dessas pessoas, o “índio autêntico” é o índio de papel da carta do
Caminha, não aquele índio de carne e osso que convive conosco, que está hoje no meio de nós.”
(FREIRE, 2016, 13)
Os índios pertencem ao passado – “Os índios, é verdade, estão encravados no nosso passado, mas
integram o Brasil moderno, de hoje, e não é possível a gente imaginar o Brasil no futuro sem a
riqueza das culturas indígenas.” (FREIRE, 2016, 17)
O brasileiro não é índio – “No Brasil todo mundo é índio, exceto quem não é.” (FREIRE, 2016, 21)
O resultado é percebido no ambiente escolar quando, ao tratar do ensino sobre o indígena vê-se uma
visão meramente folclorizada destes povos. Algo que não reflete nenhuma etnia específica nem
mesmo retrata a realidade histórico cultural destes povos. (COLLET; PALATINO; RUSSO, 2014)

Desta forma o educador deve levar em conta, na hora de ensinar sobre as culturas indígenas os
elementos abaixo:

Existem várias etnias que podem ser exploradas pelo professor no momento do ensino;
Cada etnia possui seus costumes, lendas, línguas, história e representações corporais;
Explore os elementos de um destes grupos ao invés de tentar trabalhar todos. Desta forma você
consegue evidenciar suas peculiaridades.

Lei n° 11.645, de 10 de Março de 2008:

"Art. 26-A. Nos estabelecimentos de ensino fundamental e de ensino Médio, públicos e privados,
torna-se obritatório o estudo da história e cultura afro-brasileira e ingígena.

§ 1° O conteúdo programático a que se refere este artigo incluirá diversos aspectos da história e da
cultura que caracterizam a formação da população brasileira, a partir desses dois grupos étnicos, tais
como o estudo da história da África e dos africanos, a luta dos negros e dos povos indígenas no
Brasil, a cultura negra e indígena brasileira e o negro e o índio na formação da sociedade nacional,
resgatando as suas contribuições nas áreas social, econômica e política, pertinentes à história do
Brasil.

§ 2° Os conteúdos referentes à história e cultura afro-brasileira e dos povos indígenas brasileiros


serão ministrados no âmbito de todo o currículo escolar, em especial nas áreas de educação artística
e de literatura e história brasileiras" (MEC, 2008).

Aspectos Históricos do Ensino sobre Indígenas:

E o que foi que essas pessoas aprenderam e nossas crianças do século XXI ainda aprendem? O
"índio" como um ser vinculado ao passado, com alguma presença significativa somente na
formação da colônia e na constituição do "povo brasileiro"; o "índio" como um genérico, sem
atentar para a diversidade cultural dos mais de 305 etnias presentes em nosso país; o "índio como
alguém que vive na floresta, isolado e nu, subsistindo apenas da caça e da pesca, e aqueles que
fogem desse padrão "já não sendo índios"; e o "índio" como ser preguiçoso, que ocupa muitas terras
e atrapalha o desenvolvimento da nação, entre outros estereótipos.
COLLET; PALATINO; RUSSO, 2014, p. 5

- "Dentro da sala de aula, os professores revelam-se mal informados sobre o assunto, e os livros
didáticos, com poucas exceções, são deficientes no tratamento da diversidade étnica e cultural
existente no Brasil". LUIS; GRUPIONI, 1995, p. 424.

- "A produção de conhecimentos nesta área não condiz com a importância do tema. As pesquisas
são de uma pobreza franciscana. O resultado disso é a deformação da imagem do índio na escola,
nos jornais, na televisão, enfim na sociedade brasileira" - FREIRE, 2016, p. 4.

Ensinando sobre o Índio Brasileiro:

- Tais ideias se refletem em atividades como pedir às crianças que se pintem e enfeitem de forma
genérica e folclorizada, o que não representa nenhum povo indígena específico (...).
COLLET; PALATINO; RUSSO, 2014, p. 5.
- Linhas no rosto;
- Pena na cabeça;
- Gritando "como um índio";

Cinco ideias equivocadas sobre o índio brasileiro, segundo FREIRE (2016):

I) Índio genérico: "Hoje vivem no Brasil mais de 200 etnias, falando 188 línguas diferentes" (p. 6).

II) Cultura atrasada: Um exemplo é o sofisticado conhecimento dos Kayapo sobre "plantas
medicinais, agricultura, classificação e uso do solo, sistema de reciclagem de nutrientes, métodos de
reflorestamento, pesticidas e fertilizantes naturais, comportamento animal, melhoramento genético
de plantas cultivadas e semi-domesticadas, manejo da pesca e da vida selvagem e astronomia" (p.
10).

III) Culturas congeladas: "Na cabeça dessas pessoas, o 'índio autêntico' é o índio de papel da carta
do Caminha, não aquele índio de carne e osso que convive conosco, que está hoje no meio de nós"
(p. 13).

IV) Os índios pertencem ao passado: "Os índios, é verdade, estão encravados no nosso passado,
mas integram o Brasil moderno, de hoje, e não é possível a gente imaginar o Brasil no futuro sem a
riqueza das culturas indígenas" (p. 17).

V) O brasileiro não é índio: "No Brasil todo mundo é índio, exceto quem não é" (p. 21).

Questões que precisam ser pontuadas no momento de ensinar sobre os indígenas:

- Existem várias etnias que podem ser exploradas pelo professor no momento do ensino;

- Cada etnia possui seus costumes, lendas, línguas, história e representações corporais;

- Explore os elementos de um destes grupos ao invés de tentar trabalhar todos. Desta forma você
consegue evidenciar suas peculiaridades.

Aula 08 - Ensino de História e Cultura Afro-Brasileira (17/03/23)

O Brasil fez parte um dos movimentos humanos mais marcantes da história, a migração negra
africana. Ao contrário de muitos outros movimentos migratórios, neste caso, observou-se que
vieram obrigados, sequestrados de seus direitos, nos porões de navios negreiros. Mesmo morando
em uma nação com aspectos multiculturais fortemente estruturados é importante observar como se
busca a invisibilidade do negro no cenário nacional.

A aprovação da lei 11645/2008 visa a retirada das culturas afro-brasileiras do obscurantismo. Num
ambiente de mediação educacional busca-se evidenciar as questões que permeiam estes grupos
humanos. Desta forma compreende-se que inicia um processo para o resgate social das pessoas
deste grupo étnico. Junta-se às abordagens educacionais as políticas públicas de inserção dos negros
no ambiente social e político brasileiro. Estas políticas públicas, mais evidentes nas cotas
universitárias para negros, buscam retomar um déficit social e educacional ainda muito fortes em
solo brasileiro. “Por mais que esse processo seja uma realidade, também é fato que ele convive, no
Brasil, com uma prática e um imaginário racistas. Esse racismo ambíguo se faz presente em nossa
estrutura de desigualdade, em nossas ações cotidianas e na produção do conhecimento.” (BRASIL,
2014, p. 12) Outras ações de afirmação vêm sendo tomadas ao longo dos últimos anos,
evidenciando a pessoa negra num ambiente ainda marcado pelo preconceito.

Os africanos não escolheram vir para o Brasil, até o século XIX chegaram aqui como escravos. Para
que um ser humano livre conseguisse ser reduzido à escravidão ocorreu um processo de
desumanização que se iniciava na travessia para o Brasil. A condição de escravo desumaniza a
pessoa que aqui chegou. Ao observarmos a figura de um navio negreiro é fácil observar que as
pessoas ali presentes eram vistas como mera mercadoria. Observe na imagem abaixo a presença de
prateleiras e a forma como os negros eram empilhados dentro do navio, sem nenhuma preocupação
com o conforto dos mesmos.
Ao chegar ao solo brasileiro foram obrigados a abandonarem sua cultura e substituírem pela cristã
lusitana. O resultado disso foi o surgimento do sincretismo, no qual elementos africanos,
portugueses, índios e brasileiros se mesclaram criando a cultura afro-brasileira.

Durante o processo de existência desta cultura em solo brasileiro é evidente o processo de exclusão
social e de silenciamento das demandas sociais. Isso favorece um racismo étnico que perdura na
história brasileira. “É importante ressaltar que no Brasil o racismo teve suas raízes na escravidão – a
qual durou mais de três séculos –, sendo um dos últimos países do mundo a abolir essa
prática.”(BENTO; SILVA, 2014, p. 3) Uma mera observação da realidade que cerca a sociedade já
permite uma noção do resultado nefasto deste processo.

Principais vítimas da violência urbana, alvos prediletos dos homicidas e dos excessos policiais, os
jovens negros lideram o ranking dos que vivem em famílias consideradas pobres e dos que recebem
os salários mais baixos do mercado. Eles encabeçam, também, a lista dos desempregados, dos
analfabetos, dos que abandonam a escola antes de tempo e dos que têm maior defasagem escolar.
(BENTO; BEGHIN, 2005, p. 194)

O ensino da cultura e história visa resgatar aspectos relevantes desta cultura, buscando reduzir o
preconceito e indicar caminhos para a inclusão social destes indivíduos. Leia abaixo a lei
11645/2008, com grifos no que tange a questão afro-brasileira:

“Art. 26-A. Nos estabelecimentos de ensino fundamental e de ensino médio, públicos e privados,
torna-se obrigatório o estudo da história e cultura afro-brasileira e indígena.

1º O conteúdo programático a que se refere este artigo incluirá diversos aspectos da história e da
cultura que caracterizam a formação da população brasileira, a partir desses dois grupos étnicos, tais
como o estudo da história da África e dos africanos, a luta dos negros e dos povos indígenas no
Brasil, a cultura negra e indígena brasileira e o negro e o índio na formação da sociedade nacional,
resgatando as suas contribuições nas áreas social, econômica e política, pertinentes à história do
Brasil. § 2º Os conteúdos referentes à história e cultura afro-brasileira e dos povos indígenas
brasileiros serão ministrados no âmbito de todo o currículo escolar, em especial nas áreas de
educação artística e de literatura e história brasileiras."(REPÚBLICA, 2008)
O principal problema é que a produção de material didático não responde à carência de informações
sobre este povo. Mesmo o negro brasileiro se vê muitas vezes mutilado de sua cultura na tentativa
de ser aceito no contexto social nacional.

Por conseguinte, a obrigatoriedade da inclusão no currículo escolar da História da África e da


Cultura Afro-Brasileira deu visibilidade e importância a uma história que não é apenas do negro,
mas da própria constituição desta nação, visto que o estudo da História da África na educação
brasileira tem sido de fundamental importância escolar tanto para a formação e a superação do
racismo quanto para a formação de cidadãos. (XAVIER; LEONARDO; AQUINO, 2003, p. 492)

Neste capítulo analisamos a aplicação do livro História e cultura africana e afro-brasileira na


educação infantil (BRASIL, 2014). O objetivo é indicar possíveis abordagens do ensino deste tema.
O livro foi pensado sobre dois projetos estruturadores: o Griô e a Capoeira. Toda a construção dos
projetos são propostos levando em conta a realidade dos alunos a quem serão aplicados. Segue-se
uma sequência importante (BRASIL, 2014):

O ponto de partida para a definição de um projeto é a escolha de um tema ou de um problema


motivador, em diálogo com as crianças;
Considerar as crianças, mesmo as bem pequenas, como protagonistas desse processo e como
corresponsáveis pela sua realização;

Prosseguir com o desenvolvimento das estratégias de busca de informações, apoiando-se nas mais
variadas práticas sociais de uso da linguagem;

Ao professor cabe a interdisciplinaridade na qual busca o saber, cultura e história afro-brasileira


sobre o tema.

As crianças devem ao final demonstrar de múltiplas formas como este projeto mudou sua visão
sobre o tema abordado.

Lei n° 11.645, de 10 de Março de 2008:

"Art. 26-A. Nos estabelecimentos de ensino fundamental e de ensino Médio, públicos e privados,
torna-se obritatório o estudo da história e cultura afro-brasileira e ingígena.

§ 1° O conteúdo programático a que se refere este artigo incluirá diversos aspectos da história e da
cultura que caracterizam a formação da população brasileira, a partir desses dois grupos étnicos, tais
como o estudo da história da África e dos africanos, a luta dos negros e dos povos indígenas no
Brasil, a cultura negra e indígena brasileira e o negro e o índio na formação da sociedade nacional,
resgatando as suas contribuições nas áreas social, econômica e política, pertinentes à história do
Brasil.

§ 2° Os conteúdos referentes à história e cultura afro-brasileira e dos povos indígenas brasileiros


serão ministrados no âmbito de todo o currículo escolar, em especial nas áreas de educação artística
e de literatura e história brasileiras" (NR)

Conselho Nacional de Educação 2004


(§ = parágrafo)

§ 2°: O Ensino de História e Cultura Afro-Brasileira e Africana tem por objetivo o reconhecimento
e valorização da identidade, história e cultura dos afro-brasileiros, bem como a garantia de
reconhecimento e igualdade de valorização das raízes africanas da nação brasileira, ao lado das
indígenas, europeias e asiátias.

Uma Nação Multicultural:

- Mesmo morando em uma nação com aspectos multiculturais fortemente estruturados é importante
observar como se busca a invisibilidade do negro no cenário nacional;

- "Por mais que esse processo seja uma realidade, também é fato que ele convive, no Brasil, com
uma prática e um imaginário racistas. Esse racismo ambíguo se faz presente em nossa estrutura de
desigualdade, em nossas ações cotidianas e na produção do conhecimento" (BRASIL, 2014, p. 12).

Ensinando sobre cultura negra no Brasil:

- Os africanos não escolheram vir para o Brasil, até o século XIX chegaram aqui como escravos;

- A condição de escravo desumaniza a pessoa que aqui chegou;

- O filme Amistad trata de como era o tráfego negreiro para as Américas;


- Como eram obrigados a assimilar a cultura cristã portuguesa acabaram por misturar com sua
própria cultura gerando o sincretismo;

- Isso criou uma cultura mista que carrega elementos fortemente africanos com tonalidades
indígenas e européias.

Ensinando sobre cultura negra no Brasil:

Por ser um tema tão sensível vários materiais vêm sendo desenvolvidos visando ações práticas no
ensino desta cultura.

Para este capítulo usaremos o livro: História e Cultura Africana e Afro-brasileira na educação
infantil, de produção do MEC e da UNESCO.

Passos para a aplicação em ambiente escolar (tecendo projetos, cruzando histórias):

- O ponto de partida para a definição de um projeto é a escolha de um tema ou de um problema


motivador, em diálogo com as crianças;

- Considerar as crianças, mesmo as bem pequenas, como protagonistas desse processo e como
corresponsáveis pela sua realização;

- Prosseguir com o desenvolvimento das estratégias de busca de informações, apoiando-se nas mais
variadas práticas sociais de uso da linguagem;

- Ao professor cabe a interdisciplinaridade na qual busca o saber, cultura e história afro-brasileira


sobre o tema;

- As crianças devem ao final demonstrar de múltiplas formas como este projeto mudou sua visão
sobre o tema abordado:
I) Mãos na massa;
II) O que se desenvolve no projeto;
III) O que se aprende;
IV) O que as crianças já sabem;
V) Atividade;
VI) Quitanda.

- Dois projetos sugeridos:


I) Griô;
II) Capoeira.

Estudo de Caso da disciplina Educação do Campo, Indígena e Quilombola


04/04/23 – Curso Sociologia
Juraci Roberto S. Mendes RA 22201026
Ensinando sobre cultura negra no Brasil - Estudo de caso (Ref rota 8)
 Fazendo uso do livro base desta rota vá até a página 52;
 Leia: Atividade 2: Contação de histórias africanas (etapas 1 – 3)
 Analise se esta atividade atende os requisitos da lei 11645/2008.
 Observe para qual faixa etária esta atividade foi desenvolvida.
 Imagine aplicar a uma classe cuja maioria dos alunos estão com 5 anos.
 Redija uma análise sobre a aplicabilidade deste projeto para a faixa etária selecionada no
contexto de sua cidade.
Resposta:
Sim, a atividade proposta no livro "História e cultura Africana e Afro-brasileira na Educação
Infantil" atende aos requisitos da lei 11645/2008, ao propor a contação de histórias com temática da
cultura africana.
De acordo com o livro, esta atividade é direcionada a crianças de faixa etária 0 a 3 anos, visando
estimular a formação da linguagem e dimensão lúdica das mesmas. Livros de histórias sugeridos
pela atividade são: "Contos do baobá", por Maté e "Boneca de pano", por Adriana Botelho de
Vasconcelos, Neusa Dias e Tomé Bernardo.
Esta é uma atividade relativamente fácil de se adaptar para crianças com 5 anos de idade. O
ambiente físico para acomodação das crianças durante a contação das histórias pode ser adaptado na
sala de aula, em formação de círculo, fazendo uso de almofadas e colchões, ou no pátio da escola,
embaixo de uma árvore ou no gramado.
Aos 5 anos, hoje, crianças são mais facilmente direcionadas com o uso de mídias dinâmicas,
portanto pode-se substituir a leitura de um livro por um desenho animado de curta duração, desde
que o professor possa suprir a demanda por interação de outras formas. Histórias em áudio contadas
pelos familiares ou músicas, como sugerido pelo capítulo norteador desta atividade, também são
sugeridas.
As pinturas de rosto podem ser substituída pela confecção de máscaras de animais pelas crianças,
com moldes diversos providenciados pela escola. As crianças ficarão responsáveis pela
customização com cores e outros materiais. Ao final, de acordo com o tema escolhido, pode-se
apresentar uma rápida interpretação da história pelos alunos ou uma imitação do animal com o uso
da máscara.

Prova eletrônica de Educação do Campo, Indígena e Quilombola (12/04/23)

1) Observe o texto abaixo e responda o que se pede:


O que caracteriza os povos do campo é o jeito peculiar de se relacionarem com a natureza, o
trabalho na terra, a organização das atividades produtivas, mediante mão-de-obra dos membros da
família, cultura e valores que enfatizam as relações familiares e de vizinhança, que valorizam as
festas comunitárias e de celebração da colheita, o vínculo com uma rotina de trabalho que nem
sempre segue o relógio mecânico. (PARANÁ, 2006)
De posse desta informação e dos seus estudos na disciplina analise as afirmações abaixo:
I. Não é permitido ao governo dissolver nenhuma escola rural, mesmo que a região tenha sido
urbanizada e não haja demanda por ela.
II. O fechamento de uma escola do campo só ocorrerá mediante manifestação de órgão normativo e
da comunidade escolar.
III. A educação do campo precisa ter um calendário adequado às fases agrícolas e condições
climáticas.
IV. Os ribeirinhos e caiçaras estão entre as populações do campo conforme decreto 7352/2010.
Estão corretas as afirmativas:

[errada]b) II e IV

2) A Constituição de 1988 (BRASIL, 2011), assegurou aos índios no Brasil o direito de


permanecerem índios, isto é, de permanecerem eles mesmos, com suas línguas, culturas e tradições.
Desta forma é correto afirmar que:

b) A escola indígena precisa incluir a língua, cultura, tradições e especificidades dos grupamentos
indígenas sem privá-los do saber sistematizado.

3) A responsabilidade da educação indígena é:

c) Dos estados e municípios

4) O professor índio possui um papel bastante importante na tribo indígena. Ele:

b) Atua, frequentemente, como mediador cultural nas relações interétnicas estabelecidas com a
sociedade nacional.

5) O uso da língua indígena é um diferencial da educação do campo. Sobre este tema é correto
afirmar que:

d) O ensino deve ser bilingue, incluindo o português e a língua da etnia.

6) Analise as frases abaixo que se referem ao objetivo da educação indígena.


I. proporcionar aos índios, suas comunidades e povos, a recuperação de suas memórias
históricas; a reafirmação de suas identidades étnicas; a valorização de suas línguas e ciências;
II. garantir aos índios, suas comunidades e povos, o acesso às informações, conhecimentos
técnicos e científicos da sociedade nacional e demais sociedades indígenas e não-índias.
III. desenvolver currículos e programas específicos, neles incluindo os conteúdos culturais
correspondentes às respectivas comunidades;
IV. elaborar e publicar sistematicamente material didático específico e diferenciado

Estão corretas as afirmativas:

c) Todas estão corretas

7) “O objetivo das políticas de ações afirmativas é antecipar o movimento de equalização que dê


condições de assegurar o processo democrático, no intento de afiançar a diversidade e a pluralidade
social.” (MARÇAL & LIMA, 2015, p. 73).
Baseado no texto acima, e nos seus estudos da matéria, como as políticas de ações afirmativas
buscam garantir o direito e a identidade de grupos socialmente marginalizados.

a) Buscam remediar as consequências diretas de um passado discriminatório e criar condições de


inserção social dos grupos que sofrem discriminação.

8) É declarada como Escola do Campo aquela que:


[errada] a) Localizam-se em estados exclusivamente agrícolas, sem nenhum indício de urbanização.

9) A lei 11.645/2008, quando se refere aos descendentes de africanos, trata sobre o estudo da
história e cultura deste povo. Ela visa desta forma:

c) Resgatar as suas contribuições nas áreas social, econômica e política, pertinentes à história do
Brasil.

10) A leitura do capítulo base para esta rota indica a existência de uma cultura material e uma
imaterial (SILVA; COSTA, 2018). A cultura foi apresentada como possuindo um caráter material e
um imaterial, conforme o capítulo norteador desta aula. Por cultura material entendemos:

[errada] b) São os elementos perceptíveis de uma cultura tais como esculturas, construções e
literatura.

---

resultado 21/30
erradas: 1, 8, 10

---

tentativa 02:

01) A leitura do capítulo base para esta rota indica a existência de uma cultura material e uma
imaterial (SILVA; COSTA, 2018). A cultura foi apresentada como possuindo um caráter material e
um imaterial, conforme o capítulo norteador desta aula. Por cultura material entendemos:

b) Tem caráter móvel e corresponde às produções humanas que se associam a matérias primas e
tecnologias.

02) “O objetivo das políticas de ações afirmativas é antecipar o movimento de equalização que dê
condições de assegurar o processo democrático, no intento de afiançar a diversidade e a pluralidade
social.” (MARÇAL & LIMA, 2015, p. 73).
Baseado no texto acima, e nos seus estudos da matéria, como as políticas de ações afirmativas
buscam garantir o direito e a identidade de grupos socialmente marginalizados.

a) Buscam remediar as consequências diretas de um passado discriminatório e criar condições de


inserção social dos grupos que sofrem discriminação.

03) Observe o texto abaixo e responda o que se pede:


O que caracteriza os povos do campo é o jeito peculiar de se relacionarem com a natureza, o
trabalho na terra, a organização das atividades produtivas, mediante mão-de-obra dos membros da
família, cultura e valores que enfatizam as relações familiares e de vizinhança, que valorizam as
festas comunitárias e de celebração da colheita, o vínculo com uma rotina de trabalho que nem
sempre segue o relógio mecânico. (PARANÁ, 2006)
De posse desta informação e dos seus estudos na disciplina analise as afirmações abaixo:
I. Não é permitido ao governo dissolver nenhuma escola rural, mesmo que a região tenha
sido urbanizada e não haja demanda por ela.
II. O fechamento de uma escola do campo só ocorrerá mediante manifestação de órgão
normativo e da comunidade escolar.
III. A educação do campo precisa ter um calendário adequado às fases agrícolas e condições
climáticas.
IV. Os ribeirinhos e caiçaras estão entre as populações do campo conforme decreto 7352/2010.
Estão corretas as afirmativas:

a) II, III e IV

04) Existe um elemento comum aos grupos estudados, a terra. Ao contrário de um mero espaço
geográfico, ele acaba por traduzir outros sentimentos e sociabilidades. No caso específico do
indígena esta terra possui um aspecto bastante sensível que os faz lutar pela sua posse:

b) Os liga com os antepassados, sua história, imaginário e cultura.

05) O professor índio possui um papel bastante importante na tribo indígena. Ele:

c) Atua, frequentemente, como mediador cultural nas relações interétnicas estabelecidas com a
sociedade nacional.

06) “A situação da educação básica na zona rural pode ser analisada a partir da taxa de distorção
idade-série, que indica o rumo do nível de desempenho escolar e da capacidade do sistema
educacional manter a frequência do aluno em sala deaula.” (BOF, 2006, p. 21). Sobre esta realidade
é correto afirmar que:

b) Se a falta de sincronia idade-série é algo a ser superado no espaço urbano, no rural ele se torna
ainda mais grave.

07) A Constituição de 1988 (BRASIL, 2011), assegurou aos índios no Brasil o direito de
permanecerem índios, isto é, de permanecerem eles mesmos, com suas línguas, culturas e tradições.
Desta forma é correto afirmar que:

c) A escola indígena precisa incluir a língua, cultura, tradições e especificidades dos grupamentos
indígenas sem privá-los do saber sistematizado.

08) Leia a afirmação abaixo:


“A educação do campo deve ser vista não apenas como modalidade de ensino, mas também como
uma política pública que garanta a população camponesa os mesmos direitos educacionais
garantidos à população urbana (...)” (RODRIGUES; BOMFIM 2018, P. 1377)
Sobre esta afirmação é correto afirmar que:

b) A educação do campo pressupõe conteúdos curriculares e metodologias apropriadas às reais


necessidades e interesses dos alunos da zona rural, organização escolar própria, incluindo
adequação do calendário escolar às fases do ciclo agrícola e às condições climáticas e adequação à
natureza do trabalho na zona rural.

09) Conforme Malinowski “a cultura consiste no conjunto integral dos instrumentos e bens de
consumo, nos códigos constitucionais dos vários grupos da sociedade, nas ideias e artes, nas crenças
e costumes humanos.” (PORTO, 2011, p. 95)
Observe os elementos abaixo procurando identificar quais deles fazem parte deste conjunto:
I. Religião
II. Arte
III. Oceano
IV. Computador
V. Automóvel
Assinale a única alternativa que indica os elementos que fazem parte do conjunto constitutivo da
cultura de um povo:

e) I, II, IV e V

10) A responsabilidade da educação indígena é:

b) Dos estados e municípios

---

pontuação 30/30
congratulations!

Você também pode gostar