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A lei 11.

645/08
Direitos humanos, direitos
indígenas e pedagogia da diferença
Para além do
antropocentrismo
• Pressupostos:
• Cada indivíduo “é um ser mutante que transita entre diferentes
estados de existência material e espiritual”
• Cada indivíduo é “totalmente dependente da natureza, da
relação com os seus pares da natureza”

• Um novo conceito: cosmopolítica:


• A perspectiva indígena de que “não se pode pensar em direitos
humanos, sem pensar nos direitos de tosos os seres e coisas da
natureza”
• Um conceito que expressa “a centralidade do cosmo ou da
natureza na vida planetária e não do homem (antropocentrismo)
como é na cosmovisão das sociedades mdernas”
Direitos humanos X direitos
indígenas: aproximações e
distanciamentos
Inserção na agenda mundial: “a luta histórica por direitos humanos no
mundo pós-colonial e pós-contato indígena contribuiu para a luta dos
direitos específicos dos povos indígenas”

Reconhecimento da especificidade: “o processo de reconhecimento dos


direitos humanos dos povos indígenas no cenário internacional
representou o próprio reconhecimento da humanidade e da cidadania
indígena”

A ideia de “homem universal”: os direitos humanos “tendem sempre a


universalizar e homogeneizar todos os direitos, enquanto os direitos
indígenas primam pelas especificidades e particularidades de direitos”
• O princípio da diferença para garantir cidadanias
diferenciadas: o Estado deve garantir aos povos as
“diferenças de línguas, de formas de propriedade, de
organização política, de sistema de representação, de
A relações de parentesco, de sistemas educativos, de
cosmovisões e modos de vida”
complexidade • Uma reversão no sentido das políticas públicas: mais que
uma necessidade, um desejo e um direito, em busca da
na superação de séculos de exclusão, isolamento e negação

implantação • A tradição indigenista: modelo SPI/FUNAI pautado na


política tutelar exclusivista e segregacionista e o modelo

dos direitos pós-Constituição de 1988 que teoricamente aponta para


o fim das práticas assimilacionistas, mas se encanta com
a ideia de inclusão
indígenas • Superação de uma visão dominante: “as culturas dos
povos indígenas não são subculturas da cultura
dominante. São outras culturas, autônomas, diferentes e
equivalentes”
Um programa de mudanças
• A defesa de uma pedagogia da diferença: “É necessário,
pois, instaurar e praticar a pedagogia da diversidade, da
diferença, do dipálogo simétrico, interativo e
principalmente a pedagogia do reconhecimento, do
respeito e da empatia”
• A instauração da autonomia etnopolítica: “coexistência e
convivência solidária, colaborativa e pacífica de sociedades
e Estados pluriétnicos e plurinacionais” (superação da
tutela e da ideia de Estado eco/etnocida)
Qual significado da lei 11.645/08?
Uma abordagem institucional
• Altera o artigo 26º da LDB: determinava que o ensino de história deveria, genericamente,
considerar “as contribuições das diferentes culturas e etnias para a formação do povo brasileiro,
especialmente das matrizes indígenas, africanas e européias”
• Modifica a Lei 10.639/03: define, além da obrigatoriedade do ensino de história e cultura afro-
brasileira, o ensino de história e cultura indígena nas escolas de nível básico do Brasil
• Institui mudanças no currículo oficial da rede de ensino: apresenta diretrizes temáticas
relevantes: “diversos aspectos da história e da cultura”, “a luta dos povos indígenas no Brasil”, “a
cultura indígena brasileira”, “o índio na formação da sociedade nacional”, “suas contribuições nas
áreas social, econômica e política.
• Transversalidade: “serão ministrados no âmbito de todo o currículo escolar”, especialmente nas
disciplinas de “educação artística, literatura brasileira e história do Brasil”
• A lei 11.645/08 como conquista dos povos indígenas: “6. que a verdadeira
história deste país seja reconhecida e ensinada nas escolas, levando em
conta os milhares de anos de existência das populações indígenas nesta
terra” (Coroa Vermelha, 21 de abril de 2000).

Abordagem • A lei 11.645/08 como estratégia do movimento indígena: a escola como


espaço de disputa hegemônica , que pode tanto solapar as tradições
indígenas como podem promover seu fortalecimento

política e
• Reafirma a tradição de subordinação das políticas educativas às políticas
educacionais: responsabilização do professor e crença na materialização
das normas prescritas na prática pedagógica

pedagógica
• Ponto de partida para a construção da escola intercultural: “a diversidade
cultural é a riqueza da humanidade. Para cumprir sua tarefa humanista, a
escola precisa mostrar aos alunos que existem outras culturas além da sua.
Por isso, a escola tem que ser local, como ponto de partida, mas tem que
ser internacional e intercultural, como ponto de chegada” (GADOTTI,
2002).
• Uma possibilidade de ruptura com perspectiva historiográfica
metódica, evolucionista e preconceituosa sobre os índios
• Varnhagen (História Geral do Brasil - 1854): “de tais povos
na infância não há história: há apenas etnologia”
• Caio Prado Jr (Formação do Brasil Contemporâneo – 1934):
“A população indígena, em contato com os brancos, vai
sendo progressivamente eliminada e repetindo mais uma
vez um fato que sempre ocorreu em todos os lugares e em

Abordagem todos os tempos em que se verificou a presença, uma ao


lado da outra, de raças de níveis culturais muito
apartadas: a inferior e dominada desaparece”

historiográfica • Um instrumento para revisão do papel do índio na formação da


sociedade brasileira: “recuperar o papel histórico de atores nativos na
formação das sociedades e culturas do continente, revertendo o quadro
hoje prevalecente, marcado pelo omissão ou, na melhor das hipóteses,
por uma visão simpática aos índios mas que os enquadra como vítimas
de poderosos processos externos à sua realidade” (MONTEIRO, 1995).
Considerações finais

• O sentido da lei: entre um grande


avanço e um grande desafio

• A lei como ponto de partida:


regulamentação, mudanças curriculares
e práticas pedagógicas

• O futuro com a lei: novas perspectivas

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