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Fundamentos de Análise Sociológica

PRECONCEITO RACIAL CONTRA


O INDÍGENA
Fundamentos NO BRASIL:
de Análise Sociológica
Da Independência aos Dias Atuais

• Caio Cesar Pereira Miranda • Dayslon Reis Arrighi • Gabriel Lucas Mariano de Souza •
• Rafael Junio Luna de Freitas • Tariq Musashi Rodrigues Pires Yasuda Kawakami •
Conceitos Iniciais
Identidade
É a definição de si
mesmo e incorpora
elementos de
identificação ligados
aos grupos a que
pertence. É expressa
por meio de práticas
linguísticas, tradições
e comportamentos. É
construída a partir de
interação com o
mundo que nos cerca
(GOMES, 2005);
Raça
Termo
construído a
partir de um
contexto social,
político e
cultural, que
estabelece
diferenças e
classifica grupos
humanos a
partir de suas
características
físicas (GOMES,
2005);
O termo “raça” surge na Europa durante o
período da Reconquista da Península
Ibérica pelos cristãos (entre 718 e 1492).
Supostamente, sua origem está no termo
árabe “ra’s”, que designa o chefe de um clã
ou grupo. No uso cristão, o uso de raça
(como “raza”) servia para indicar a origem e
descendência de alguém.
Em princípio, não servia para designar
separações humanas baseadas em
características fenotípicas, mas sim, para
distinguir questões ligadas à religião: de
um lado os cristãos (brancos) e do outro os
não cristãos (pagãos, muçulmanos, judeus)
– não-brancos, portanto (CARULA, 2016).
Etnia
Refere-se a um grupo de
pessoas que possui certo
tipo de consciência
acerca de suas origens e
interesses em comum,
compartilhando uma
identidade (GOMES,
2005);
Racismo
Aversão, e até ódio,
direcionado a pessoas nas
quais se observa sinais de
pertencimento racial, tais
como cor de pele e tipo de
cabelo, bem como de um
conjunto de ideias de
grupos que acreditam na
existência de hierarquia
entre as raças (GOMES,
2005);
Institucional
Diz respeito a práticas
discriminatórias
promovidas pelo
Poder Público, pelo
Estado ou por outros
organismos (as
instituições) com o
apoio indireto ou
chancela do Estado
(GOMES, 2005);
Estrutural
Possui caráter mais amplo e
transversal se comparado ao
racismo institucional. Neste
caso, a sociedade em si é
racista (Almeida 2020);
Relações Etnico-Raciais
São relações construídas no
processo histórico, social,
político, econômico e cultural,
em contextos nas quais a raça,
em sua dimensão social e
política, é utilizada como forma
de demarcação das diferenças
entre as pessoas (GOMES,
2005);
Individualista
É aquela que se observa
quando indivíduos
cometem atos
discriminatórios contra
outros indivíduos, de
maneira singular e
dirigida. Esses atos
podem se dar desde
comportamentos de
recusa da interação, até
situações de agressão e
violência física (GOMES,
2005);
Discriminação
Racial
Corresponde a efetivação
do preconceito racial e do
racismo, por meio de
tratamento diferenciado
a membros de grupo
racialmente identificados
(Almeida, 2020);
Preconceito
Racial
Opinião e julgamento
prévios, baseados em
estereótipos (em geral
negativos) sobre os
indivíduos que
compõem um grupo
étnico-racial (Almeida,
2020);
Imagens Oitocentistas dos
Indígenas
Bárbaros dos
Sertões
Eram os índios que se
rebelavam, ocupavam terras,
resistiam às novas leis e
foram representados no
discurso político e intelectual
como selvagens ameaçadores
para a raça branca
(ALMEIDA, 2010);
Idealizados do
Passado
São aqueles que foram
idealizados pelos historiadores
pretéritos, que figuraram na
literatura, pintura e música. Um
tipo que, se algum dia existiu, já
se encontrava oportunamente
morto e que não daria
problemas aos “brancos
civilizados”, seja pela sua
passividade, seja pelo seu
perecimento (ALMEIDA, 2010)
Degradados
Eram àqueles que, no imaginário
dos brasileiros comuns, não
“prestavam”, eram vagabundos e
vadios; que embora vivendo em
aldeias, já se encontravam, em
certa medida, integradas a
sociedade dos brancos sendo
muitos deles miscigenados, mas
que, não obstante, ainda
tentavam resistir à lógica
colonial, na medida em que
buscavam preservar suas
tradições e manter seus direitos
coletivos (ALMEIDA, 2010);
O IHGB

Fundado em 1838, esse órgão


tinha como uma das funções
primárias escrever a história do
Brasil.
Breve Contextualização
● O Instituto nasce com o
financiamento da Sociedade
Auxiliadora da Indústria Nacional
(SAIN)
● O Partido Conservador e a ideia de
modernização do país.
● Brasil dividido.
● Os liberais e o tráfico negreiro.
● Primeira Revolução Industrial.
Como Escrever a História do Brasil?
● Carl Friedrich Philipp von
Martius (1794-1868).
● “O sangue portuguez, em um
poderoso rio deverá absorver os
pequenos confluentes das raças
India e Ethiopica”.
● Superioridade Portuguesa.
● O ponto de diferença.
Onde se encaixavam os Indígenas?

● Como os aborígenes
eram retratados?
O Posicionamento do IHGB
● Pensamento moderado.
● Projeto Civilizador.
● Defesa da catequização.
● Revista Trimensal de Historia e
Geographia.
● Os imigrantes.
Varhagen e as Políticas Indigenistas
● Francisco Adolfo de Varhagen
(1816-1878).
● Defesa da catequização e do uso do
indígena como mão de obra.
● Pautas defendidas.
● Os Capuchinos de 1843.
Discussões de um
processo
discriminatório
Constituinte de 1923
“A epigraphe está muito clara: a emenda que eu fiz foi
só para abreviar: o que é indio, que não está ligado
comnosco; os filhos de estrangeiros, estes, não
tratamos delles. A constituição não é feita para elles, é
para os membros da sociedade brasileira: dos outros
não tratamos: não entram na nossa sociedade: a
constituição não é para elles, e portanto não têm lugar
os argumentos que se têm feito, porque elles não
entram na nossa sociedade (Vergueiro, 1923).”
Constituinte de 1923
“Nós não podemos deixar de fazer esta differença ou
divisão de brasileiros, e cidadãos brasileiros. Segundo
a qualidade de nossa população, os filhos dos negros,
crioulos captivos, são nascidos no territorio do Brasil,
mas todavia não são cidadãos brasileiros.

Devemos fazer esta differença: brasileiro é o que


nasce no Brasil, e cidadão brasileiro é aquelle que
tem direitos civicos. Os indios que vivem nos bosques
são brasileiros, e contudo não são cidadãos ,
emquanto não abração a nossa civilisação. Convém
por consequencia fazer esta differença por ser
heterogenea a nossa população (França, 1923)”.
Constituinte de 1923
“Levanto-me para responder ao iliustre preopinante, que trouxe por os
indios e os crioulos captivos. Eu cuido que não tratamos aqui senão dos que
fazem a sociedade brasileira, fallamos aqui dos subditos do imperio do
Brasil, unicos que gozão dos commodos de nossa sociedade, e soffrem seus
incommodos, que têm direitos e obrigações no pacto social, na constituição
do estado.

Os indios porém estão fóra do gremio da nossa sociedade, não são subditos
do imperio, não o reconhecem, nem por consequencia suas autoridades
desde a primeira até a ultima, vivem em guerra aberta comnosco: não
podem de fórma alguma ter direitos, porque não têm, nem reconhecem
deveres ainda os mais simplices (fallo dos não domesticados), logo: como
consideral-os cidadãos brazileiros? (...) Não é minha opinião que sejão
desprezados, que não ponhamos os necessarios meios de os chamar á
civilisação: o facto de nascerem comnosco no mesmo territorio; a moral
universal, tudo nos indica este dever. Legislemos para elles; porém neste
sentido: ponhamos um capitulo proprio e especial para isso em a nossa
constituição; sigamos o exemplo dos venesuelenses (Montezuma, 1923).”
Constituinte de 1923
“ Todos os homens livres, diz, habitantes do Brasil, nelle
nascidos, são cidadãos brasileiros. Agora pergunto eu, um
Tapuia é habitante do Brasil? é. Um Tapuia é nascido no Braisil?
é. Um Tapuia é livre? é. logo é cidadão brasileiro? Não, posto que
aliás se possa chamar brasiliero pois os indios no seu estado
selvagem não são, nem se podem considerar como parte da
grande familia brasileira; e são todavia livres, nascidos no Brasil,
e nelle habitantes. Nós é verdade, que temos lei que lhes
outorgue os direitos de cidadão, logo que elles abração os nossos
costumes e civilisação, antes disso porém estão fora da nossa
sociedade. Se a população do territorio do nosso paiz fôra toda
homogenea não havia que reparar no caso; mas sendo ella como
é heterogenea, mister é não confundir as differentes condições
de homens por uma inexacta enunciação. Cumpre advertir; e
corrigir a expressão. (França. 1923).”
Referências
ALMEIDA, Silvio Luiz de. Racismo estrutural. São Paulo:
Sueli Carneiro; Editora Jandaíra, 2020

ALMEIDA, Maria Regina Celeste de. Os índios na história do


Brasil. FGV, 2010.

CARULA, Karoline. Darwinismo, raça e gênero: projetos


modernizadores da nação em conferências e cursos
públicos. Campinas: Editora da Unicamp, 2016.

GOMES, Nilma Lino. Alguns termos e conceitos presentes


no debate sobre relações raciais no Brasil: uma breve
discussão. Educação anti-racista: caminhos abertos pela Lei
Federal, v. 10639, n. 03, p. 39-62, 2005. Disponível em:
https://www.geledes.org.br/wp-content/uploads/2017/03/
Alguns-termos-e-conceitos-presentes-no-debate-sobre-Rel
a%C3%A7%C3%B5es-Raciais-no-Brasil-uma-breve-discuss
%C3%A3o.pdf. Acessado em 19/06/2023
?
Quem é o Indígena
Brasileiro?
- Diversidade cultural
- Diversidade individual
- Violência do homem branco
- Conexão com seu povo
Decolonialismo
O pensamento decolonial é uma escola
de pensamento que tem como objetivo
criticar a suposta universalidade
atribuída ao conhecimento ocidental e o
predomínio da cultura ocidental. As
perspectivas decoloniais veem essa
hegemonia como sendo a base do
imperialismo ocidental.
Colonialismo
Educacional
“o fascismo epistemológico existe sob a
forma de epistemicídio, cuja versão
mais violenta foi a conversão forçada e
a supressão dos conhecimentos não
ocidentais levadas a cabo pelo
colonialismo europeu e que continuam
hoje sob formas nem sempre subtis”.
Santos (2008, p. 28)
Por que colonialismo na educação ?
“[...]o currículo que deve se ocupar já está definido: é o conhecimento útil e objetivo. Isso
fica nítido nas diferentes formas de avaliação realizadas em distintos países, incluindo o
Brasil, que privilegiam os conhecimentos da língua nacional e da matemática, vistos como
conhecimentos úteis, em detrimento de outros conhecimentos.” (José Licínio Backes, A
construção de pedagogias decoloniais nos currículos das escolas indígenas)

“Por meio de uma retórica sofisticada, almeja justificar a riqueza de poucos em função do
mérito e da competência, ao mesmo tempo que pretende explicar a miséria e a
desigualdade em termos de fracasso individual e incompetência.” (BAUMAN, 2001)
Paulo Freire

Educação Bancária

Educação Libertadora
“[...]cada vez mais surgem comunidades
estéticas. Estas, diferentemente das
comunidades éticas, não postulam vínculos
coletivos, não têm compromissos com o outro
nem supõem um laço de união permanente. As
comunidades estéticas são a expressão da
sociedade líquida, onde os sujeitos são vistos
como indivíduos que só podem contar com as
suas forças individuais para fazerem suas
conquistas; sendo assim, tanto o sucesso quanto
o fracasso são de exclusiva responsabilidade do
indivíduo” (José Licínio Backes, A construção de
pedagogias decoloniais nos currículos das
escolas indígenas)
Fundamentos
teóricos de
Emile Durkheim
Fato Social: O preconceito
contra Indígenas no Brasil e o
provável choque entre Tipos de
Solidariedade divergentes.
FATO SOCIAL
● 1 - EXTERIOR AO INDIVÍDUO
● 2 - COERCITIVO
● 3 - GERAL (Abrange um conjunto de pessoas que irão considerá-lo legítimo.)
SOLIDARIEDADE
MECÂNICA VERSUS ORGÂNICA
SOLIDARIEDADE MECÂNICA: SOLIDARIEDADE ORGÂNICA:

Baixo volume populacional ● ● Elevado volume populacional


Pequena divisão do trabalho ● ● Grande divisão de trabalho
Pouco dinamismo ● ● Intenso dinamismo
Baixa densidade de contatos ● ● Alta densidade de contatos

Homogeneidade de ideias e valores ● ● Heterogeneidade de ideias


Coletivismo ● ● Individualismo moral
Religião mítica ● ● Racionalidade
Suicídio altruísta ● ● Suicídio egoísta
Razões pelas quais já sofreu
preconceito:
Classe social: 30%
PESQUISAS E
Local onde mora: 28%
Religião: 26% ESTATÍSTICAS
Sexo: 24%
Cor ou raça: 22% BRASILEIRAS:
Orientação sexual: 9%

Declarou já ter sofrido preconceito Pesquisa Datafolha de 2019.


por cor ou raça: Feita com 2.077 pessoas com
Branco: 11%
Pardo: 18% 16 anos ou mais em 130
Preto: 55% municípios brasileiros.
Amarelo: 9%
Indígena: 30%
Em abril de 2022, a Hutukara
Associação Yanomami revelou em
seu relatório Yanomami sob ataque:
garimpo ilegal na Terra Indígena
Yanomami e propostas para
305 casos de invasão e violência combatê-lo que a destruição
em 226 terras indígenas provocada pelo garimpo no
em 22 estados. território aumentou 46% de 2020
para 2021, passando de 1.038
hectares para 3.272 hectares.
https://www.cenpec.org.br/noticias/yanomami-educacao
Contribuições Teóricas:

Frantz Fanon,
Eduardo Viveiros de Castro
e Darcy Ribeiro
Movimentos de Combate ao Preconceito

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