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O pensar

antropológico
sobre o Brasil
Mércio Pereira Gomes
O autor:
Mércio Pereira Gomes é antropólogo e professor da Universidade
Federal Fluminense desde 1997. Tem diversos textos publicados,
sendo referência nos estudos sobre povos indígenas. Foi presidente da
Fundação Nacional do índio (FUNAI) entre 2003 e 2007. Participou
ativamente da elaboração da Declaração Universal dos Direitos dos
Povos Indígenas, promulgada pela ONU em 2007.
• Inexistência de uma escola antropológica brasileira: “Não se pode
afirmar que existe [...] uma Antropologia brasileira como uma
tradição de pensamento, com escolas ou correntes que se reportam a
princípios ou teorias fundadores, com objetos claramente delineados,
com metodologia, ou, simplesmente, com estilo próprio” (GOMES,
2019, p. 180).
• Temos antropólogos que se pautam por orientações teóricas de
diversas matizes e procedências;
• Linhas de pesquisas voltadas para problemáticas brasileiras.
• Outros que tratam de temas acadêmicos próprios de escolas antropológicas
de outros países.
• Mudanças de rumos comuns: alteração de uma tradição para outra, às vezes
por força de influências das instituições de pesquisa ou por fatores políticos-
intelectuais exógenos.
• Mas sempre tivemos instituições e personalidades de grande peso na
formulação de orientações gerais de pesquisa e de tendências temáticas e
teóricas.
• Predominância de certos centros universitários e de pesquisa.
• Facilidade de acesso aos órgão nacionais e internacionais de fomento à
pesquisa.
• Pesquisas folclóricas por amadores, sem se guiar pelas modelos e carreiras
da antropologia universitária.
• Importância da Associação Brasileira de Antropologia (1953): pensar a
identidade profissional e a atuação dos antropólogos.
• “Se considerarmos que a Antropologia brasileira se constitui como uma
reflexão sobre o Brasil, entendido aqui como uma nação em formação, com
entidades dinâmicas étnicas, sociais e culturais tanto em si mesmos como em
processo de miscigenação e sínteses, podemos retroceder seu surgimento aos
primórdios da colonização portuguesa” (GOMES, 2019, p. 180).
• Cronistas, viajantes e religiosos, responsáveis pelas primeiras descrições do
experimento cultural que se dava no território que viria a ser o Brasil.
• Frei Vicente de Salvador (1564-1635).
• Padre Antônio Vieira (1609-1690): reivindicou a
organização de um modelo de colonização com um
segmento livre (índios catequizados x africanos
escravizados) e para estabelecer uma política
portuguesa moderna, que tolerasse e aproveitasse a
presença judaica e seus recursos financeiros.
• Cartas régias, alvará e leis portuguesas que
tentavam regulamentar a política social, econômica
e étnica da colônia.
• Controlar os colonos rebeldes e ousados.
• Alguns colonos pensavam a especificidade e o futuro do Brasil.
• José Bonifácio de Andrada e Silva (1763-1838) e seu projeto fracassado.
• Literatura romântica sobre indígenas: os verdadeiros brasileiros ou ancestrais da
nova nação, sem os quais não teria se formado um povo e uma cultura.
• Contrate com a historiografia de Francisco Adolpho Varnhagen: o Brasil devia ser
uma extensão de Portugal; índios e negros só atrapalhavam o processo de
estabelecimento da civilização luso-europeia nos trópicos.
• “Precursores são pessoas que projetam ideias aparentemente insólitas, ainda
não bem elaboradas, nem sedimentadas para serem aceitas e acatadas. O
grande debate da década de 1850 sobre o índio e seu papel na formação da
nação brasileira (já que a palavra cultura não era usada em nenhuma
acepção antropológica) produziu ideias e sentimentos que ainda hoje
persistem entre nós” (GOMES, 2019, p. 182-183).
• Persistências de ideias dicotômicas sobre os indígenas: índio selvagem
versus o índio amante da natureza, do indomável versus o preguiçoso, do
índio empecilho a civilização versus o índio raiz do Brasil.
• Silêncio sobre os negros: “Ninguém o via, a não ser como mão de obra
escrava. Precisou um alemão, Karl Von Martius, que viajara por grande
parte do Brasil como naturalista, nos anos que precederam à
Independência, para, anos depois, em 1841, caracterizar o Brasil como um
grande rio cujos afluentes formadores eram o branco, o negro e índio”
(GOMES, 2019, p. 183)
• Na segunda metade do século XIX, o Darwinismo social ganharia força.
• Falsa equiparação entre Raças e Espécies; Raça e Cultura.
• Positivismo.
• Na transição do Império para República, uma mistura de darwinismo social,
positivismo e determinismo biológico e geográfico gerou a primeira
sistematização do pensamento antropológico brasileiro.
• Predominou entre 1880 e 1930: “[...] o Brasil viveu seu período de
autoestima mais baixa de toda a sua história. Como um país com tantos
negros e tantos mestiços poderia ter futuro?” (GOMES, 2019, p. 184).
• Início do século XX: questão indígena evoluiu para uma percepção de os índios
são livres para defender seus territórios; Serviço de Proteção do índio (1910) e
FUNAI (1967).
• Pesquisas etnográficas e históricas de Curt Nimuendaju; pioneiro da pesquisa de
campo.
• Capistrano de Abreu: foco no papel do mameluco, especialmente no sertão; foco
no “povo brasileiro”.
• Nina Rodrigues: ao mesmo tempo em que estudou as diferentes etnias africanas
que aportaram na Bahia, adotou um olhar depreciativo sobre a contribuição da
população negra para a sociedade brasileira.
• Silvio Romero: valorização da literatura brasileira dentro do seu contexto social
e antropológico.
• Manoel Bonfim: males do Brasil não seriam reflexo da miscigenação, mas sim
de sua condição colonial.
• Euclides da Cunha: olhar para o homem sertanejo não deixou de beber no
racismo científico.
• Modernismo: “[...] autorreconhecimento da cultura brasileira, que se baseava em
estudos e pesquisas sobre os costumes do povo, no seu passado, no seu presente
e nas suas realizações concretas” (GOMES, 2019, p. 187).
• Gilberto Freyre – “Casa-grande e senzala” (1933).
• Influência de Franz Boas.
• Desbaratou o Darwinismo Social; elogio da mestiçagem.
• Valorização da contribuição de cada grupo racial-cultural que formou a cultura
brasileira.
• Problemas da obra: falsa idealização de uma “Democracia racial”.
• Sérgio Buarque de Holanda – Raízes do Brasil (1936).
• O “homem cordial”; personalismo condena à “democracia brasileira” a ser “um
grande mal entendido”
• Fundação das universidades, nos anos 1930.
• Museu Nacional abrigou pesquisadores importantes.
• Bastide, Lévi-Strauss, Radcliffe-Brown.
• Artur Ramos (1903-1949).
• Eduardo Galvão (1921-1976).
• Florestan Fernandes (1920-1995).
• Darcy Ribeiro (1922-1997).
• Década de 1970: instalação de um sistema universitário e de pós-graduação.
• Cursos de Ciências Sociais.
• Congressos da ABA.
• Questões teóricas e conjunturais levaram ao enfraquecimento de
interpretações mais amplas sobre o Brasil nas últimas décadas.
• Tendências: observação participante e particularismo histórico; marxismo
antropológico; estruturalismo; pós-modernismo.
• Persistência da etnografia.
REFERÊNCIA:

GOMES, Mércio Pereira. Antropologia. 2ª ed. São Paulo: Editora Contexto,


2019, p. 179-203.

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