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UNIVERSIDADE DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO

INSTITUTO DE FILOSOFIA E CIÊNCIAS HUMANAS


CURSO DE HISTÓRIA
SEMINÁRIO ESPECIAL EM HISTÓRIA DA AMÉRICA IX
PROFESSOR FRANCISMAR ALEX LOPES
ALUNA TAINÁRA DA SILVA JERONIMO

Trabalho final
Durante todo o curso Seminário Especial em História lX, ministrada pelo Professor
Francismar juntamente com as discussões e leituras dos textos, foi possível averíguar a
constante luta dos povos indígenas pela sua vida, pelo seu espaço de direito e para a
manutenção de suas tradições. Já nos dias atuais, mesmo com a legislação que
reconhece os povos indígenas como pertencentes a esta sociedade, com a criação de
Associações, Ministérios e Ongs voltadas para a garantia de seus direitos, ainda há uma
grande resistência por vários setores da sociedade em reconhecer esses direitos.
O reconhecimento dos direitos dos povos originários na mentalidade capitalista está
vinculado a perda de lucro por parte do grande empresariado brasileiro, por isso a
invisibilidade desse povo é tão conveniente aos interesses dessa pequena parcela da
população.
É de grande importância que o currículo escolar de fato abranja toda as questões da
cultura indígena, não tratando-os como meros aspectos folclóricos da sociedade em sua
data de comemoração nacional. A importância disso é imensurável para o
reconhecimento desses povos, assim no plural, pela população brasileira, essa mudança
pode começar dentro das salas de aula, já na educação básica.
John Monteiro chamou atenção para alguns aspectos da identidade, que permearam
o pensamento brasileiro durante o período a Independência e que reverberam até os dias
de hoje, como por exemplo, quem seria considerado brasileiro no projeto nacional, ou se
as comunidades indígenas seriam contempladas nesse projeto. A resposta não é única,
pois muitas eram as discussões em curso na época, no entanto, uma coisa é certa, a
busca por um ideal de sociedade civilizada excluía os povos originários desse projeto,
mas não apenas ele, os negros também se incluíam nesse grupo de marginalizados.
Durante o século XX vários debates produziram imagens sobre a população
indígena que por vezes incluíam ou excluíam esses povos do projeto de nação. Entre eles
existia o pensamento de caráter antropológico, que rebatia os princípios universalistas do
iluminismo e outro de caráter político, que questionavam a necessidade de valorizar
antecedentes indígenas na nação brasileira, e que ainda há uma base parlamentar que
defende essa teoria.
Em 1826, o Ministério do Império visava organizar o Plano Nacional da Civilização
dos Índios, que demandava respostas das províncias sobre o projeto. Dentro das
discussões havia a ideia de povos selvagens, com “costumes grosseiros”, que cometiam
a antropofagia, e que em um caso, até foram comparados com os indígenas espanhóis
pela câmara municipal de Barbacena em Minas Gerais, em que seus representantes
enalteciam a arte, habilidades e trabalho dos indígenas espanhóis.
Em outros casos, alguns líderes políticos até incitavam o uso da força em vez dos
meios brandos, para lidar com os ameríndios. Tal mentalidade era amplamente
disseminada, pois a imagem que se criava, era que esses povos eram bárbaros,
perigosos e não confiáveis para conviver em sociedade, mesmo que lá, distante em suas
aldeias.
Existiam também os filantropos, fazendeiros que tinham interesse nos ameríndios,
na maior parte das vezes para resgatar mão de obra. Um famoso caso, em São Paulo, foi
o de Barão de Antonina, ele acreditava que o índio era a chave da nação, não se
ancorava no uso da força para dominá-los ou os eliminar, mas acreditava que eles
poderiam ser civilizados pelos brancos, utilizou de diversas estratégias para garantir a sua
aproximação com esses povos, tanto que chegou a ser estimado por eles.
Na verdade, o grande intuito do Barão era estabelecer a civilização dos povos
originários, que também foi uma ideia amplamente compartilhada na sociedade, e
principalmente entre outros fazendeiros. Muitos destes, seguiam por uma via mais
violenta e financiavam chacinas que aniquilou diversas tribos, o pensamento quase
sempre articulava entre a civilização e a eliminação daqueles que eram incômodos e
conflituantes com o projeto de uma nação civilizada.
O IHGB teve uma grande importância para toda essa discussão, pois fomentou
grandes debates sobre a construção da nação, sendo o indígena colocado sob a
dualidade dos que defendia a sua existência e os que queriam os manter distantes ou
civilizados o bastante pra serem merecedores de pertencer à sociedade brasileira, o
próprio Barão de Antonina se uniu ao debate levantado no IHGB, junto com Von Martius e
Vanhragem a respeito da degeneração do índio, que havia começado muito antes da
chegada da civilização.
Foi através da carta de Teófilo Otoni a revista do IHGB, que as coisas começaram a
tomar um novo rumo, pois nela ele mencionava o ato de matar aldeias inteiras de
Botocudos nas décadas de 1830 e 1840 em Minas Gerais e Espírito Santo, além da
questão da antropofagia e matanças em larga escala da população indígena. Essa carta
foi uma verdadeira denúncia sobre o constante ataque a população originária e que trazia
além de tudo uma versão dos fatos ainda não retratada.
Toda essa análise das discussões, dá a entender que havia uma preocupação com
o indígena, e de fato teve uma preocupação, não de respeito a vida, ao espaço e a
cultura, mas na maioria dos casos, uma preocupação em dar um lugar, sobretudo um
lugar onde não pudessem ser vistos, ou vistos como de fato eram, a civilização vinha
como um apagamento de sua história.
Toda a história indígena foi repassada através da oralidade, a construção de
vivências também é uma forma de história para eles, sobretudo quando estas vivências
acontecem em determinados locais, o território começa então a ganhar significado, não
representam para eles uma posse, mas em cada local que viveram seus antepassados
contém um pouco da sua própria história, por isso a luta por demarcações sempre foi uma
constante e ainda é.
Com o letramento de alguns povos através das Missões católicas, os mesmos
considerados a elite indígena puderam acessar lugares até então inimagináveis, a
atuação dos indígenas nesses locais propiciou a eles muito mais que a função de
copistas, passando a terem um crescente interesse pela produção de textos, com suas
próprias opiniões, o letramento deles criou um espaço híbrido entre suas tradições e o
acesso as estratégias políticas europeias, na qual por meio da escrita puderam reivindicar
por seus direitos.
Um outro eixo da História, a Eco-história que tem como uma de suas características
o reconhecimento de atores não humanos na história, como espíritos, locais, animais e
plantas é um tanto recente em relação ao que a História Oral indígena já faz a bastante
tempo. Isso demonstra o quanto o conhecimento da cultura indígena foi negligenciado.
A criação do livro “Antes o mundo não existia”, uma produção criada por Toramu
Kehiri e Umusim Parokumu, dois indígenas traz um pouco do que essa discussão tenta
expor. É um livro que em Toramu relata toda a história transmitida por seu pai Umusim
sobre as tradições indígenas. As motivações para a produção do livro foi porque, muitos
indígenas passaram a registrar em fitas magnéticas e em papéis as histórias, além disso,
tinha o anseio de que essa leitura circule pelas escolas do noroeste do Amazonas.
Com isso fica claro, que para além de um protagonismo de falar sobre si, que por
muito tempo os ameríndios não puderam ter, eles acabam por ter um papel pedagógico,
que atravessa seus ameaçados territórios e passam a falar para a sociedade brasileira,
assim como nas petições, que lutavam através da escrita por seus direitos.
Toda essa reflexão mostra o quanto a população ameríndia sofreu por terem seus
direitos o tempo todo sendo negados, vendo o branco falar por eles e por vezes tomando
decisões que acabaram com sociedades inteiras indígenas. Com todas essas lutas ainda
conseguiram resistir e adotar estratégias que garantiram uma maior resistência, que
ampliaram o seu campo de luta.
Toramu dá um grande exemplo de como o governo brasileiro sempre deveria ter
agido, através da educação dos mais jovens, mas também de um ensino plural que
abranja toda história dos povos brasileiras, não os colocando como subalternos de uma
cultura hegemõnica, mas dando uma real visibilidade e protagonismos às diversas
culturas que compõem o Brasil.
Bibliografia
MONTEIRO, John M. Tupis, tapuias e historiadores: estudos de história indígena e
do indigenismo. Tese de Livre-docência, Universidade Estadual de Campinas, 2001.
REIS, Lara Oliveira. “Antes o mundo não existia, a literatura indígena, a luta pela
demarcação e a história oral no Alto Rio Negro da década de 1970 e 1980”. Pesquisa em
andamento O tempo dos ancestrais e o tempo presente: a escrita Desana em ‘Antes o
mundo não existia’, a História, e as lutas políticas Tukano (anos 80-90, séc. XX),

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