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UNIDADE CURRICULAR: HISTÓRIA DAS CIVILIZAÇÕES CLÁSSICAS

CÓDIGO: 30147

DOCENTE: José das Candeias Sales/ Marta Covita

A preencher pelo estudante

NOME: Ana Filipa Santos Delgado

N.º DE ESTUDANTE: 2103669

CURSO: Licenciatura em História

DATA DE ENTREGA: 7/11/2022

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TRABALHO / RESOLUÇÃO:

No século V a.C., surgem, em Atenas, práticas políticas que visaram edificar um


regime apelidado de democrático. A identidade de grupo da pólis ateniense como sendo
uma pequena área territorial, com pouca interferência externa e um pressuposto de
igualdade criaram as condições ideais para que o termo democracia, já anteriormente
referido por Heródoto e Tucídides, como o governo do povo, afirmar-se. A palavra
democracia provém de Dêmo e Krat (força e soberania). Este regime político designado
de democrático teve a sua origem na resistência, a um ciclo, na Grécia Antiga, de
oligarquias, tiranias e plutocracias onde o poder beneficiava apenas um pequeno grupo.

Seguindo uma linha temporal pode-se indicar a origem da democracia ateniense


quando Sólon implementou o poder deliberativo e dotou a cidade com um novo conjunto
de leis e reformas institucionais, sociais e económicas que alteraram a constituição
ateniense abrindo assim o caminho para a democracia. Mas este processo teve o seu
começo mais acentuado com “Clístenes que, graças a um conjunto de reformas, fará de
Atenas uma democracia” (Ferreira, 1996, pp.140). Este procedeu a uma revisão, criando
uma constituição com várias alterações que deram origem a um novo Estado. Concebeu
condições para o surgimento de uma democracia com um plano eleitoral, a Isonomia. A
este também se deve a divisão do território em dez regiões que correspondem a outros
tantos dêmos (divisões de terras), aumentando e descentralizando assim o poder a
diversos indivíduos, para uma melhor realização do Estado. Esta distribuição neutraliza
os interesses locais e a influência política dos aristocratas. Aumentou o número de
membros da Bulé (assembleia restrita de cidadãos cuja função era deliberar sobre os
assuntos correntes nas pólis) e aumenta a autoridade da Assembleia, tornando-a suprema.

Um dos aspetos mais salientes das reformas de Clístenes é a extinção do caráter


censitário relativamente à cidadania, ampliando-a, mas restringindo-a quantitativamente.
Conforme, o texto em análise, de Fernand Braudel indica, “a ‘a democracia’ apresenta
falhas. É verdade que os cidadãos têm direito, real ou ilusório, a uma estrita igualdade”
(Braudel, 2001, pp. 268). Deste modo, apesar de indicar que todos os cidadãos são iguais
perante a lei, estima-se que apenas 15% da população tinha esse direito, pois só eram
considerados cidadãos indivíduos do sexo masculino que tivessem atingido a maioridade
e que fossem atenienses puros. Excluídos ficavam as mulheres, os metecos (estrangeiros
que viviam nas pólis, que tinham de pagar uma renda anual e eram obrigados a servir o

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exército ateniense) e os escravos. Clístenes também modificou as instituições existentes
e criou quadros políticos novos. Os arcontes (título dados os membros das assembleias)
passam a ser tirados à sorte e o comando do exército foi entregue aos estrategos que eram
eleitos pelo povo. A democracia ateniense estabelecia-se em três instituições a Eclésia, o
Bulé ou Concelho de Quinhentos e a Helileia.

Concisamente, podemos indicar a Eclésia como o órgão máximo com poderes


ilimitados, considerada o centro do sistema democrático. O Bulé era o único órgão
representativo do conjunto das dêmos e era composto por cinquenta membros - também
chamado Conselho de Quinhentos -, de cada tribo escolhidos à sorte. Assumiam a função
preparar os decretos da Assembleia e, por fim, a Helileia era o tribunal supremo, que tinha
acesso todos os atenienses com mais de trinta anos, que eram sorteados anualmente. A
participação cívica leva os cidadãos a participar na vida da pólis, o que fez da democracia
ateniense um exemplo de participação cívica e de exercício de deveres e direitos de
cidadania. Nos anos seguintes, Atenas prosseguiu para a exploração do mar Egeu
tornando-os seus súbditos e tributários e explorava territórios cada vez mais longe. O
domínio do mar e novas terras permitiram ter acesso a privilégios económicos como
usufruir da cerâmica, tecidos, azeite e trigo. Conforme refere o Braudel, “Atenas beneficia
de muitos privilégios e domina outros” (Braudel, 2001, pp. 268).

Péricles deu seguimento e continuidade às políticas de Clístenes mas limita, ainda


mais, a lei e apenas permite cidadania a todos os que sejam filhos de mãe e pai ateniense,
o que limitou ainda mais o acesso a privilégios. Citando o texto em análise “A democracia
é privilégio deste grupo que domina uma massa de estrangeiros (metecos) e de escravos.”
(Braudel,2001, pp. 268).

Em suma, a democracia ateniense foi uma base muito relevante para o


desenvolvimento da democracia moderna, mas mereceu muitas críticas, tais como o
favorecimento dos menos competentes, a ambição dos seus dirigentes, a crueldade do
tempo dos oligarcas e a escravidão. Embora pioneira e sustentada em valores da isonomia
ou da igualdade perante a lei, da isegonia ou da igualdade no falar e da isocracia,
igualdade no poder, este sistema não é, no entanto, isento de vicissitudes e como tal,
controlar a efetividade da democracia é um desígnio necessário. A limitação de direitos a
um número diminuto de cidadãos tornou a democracia um privilégio restrito a um grupo
conforme nos demostra o texto em análise.

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Bibliografia

BRAUDEL, Fernand, Memórias do Mediterrâneo, Pré-História e Antiguidade. 2001.


Lisboa, Terramar.

FERREIRA, José Ribeiro, Civilizações Clássicas I – Grécia. 1996. Lisboa: Universidade


Aberta;

HATZFELD, Jean, História da Grécia Antiga, Publicações Europa-América, 3ª edição,


1982

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