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TRABALHO / RESOLUÇÃO:

No século V a.C., surgem, em Atenas, práticas políticas que visaram edificar um


regime apelidado de democrático. A identidade de grupo da pólis ateniense como sendo
uma pequena área territorial, com pouca interferência externa e um pressuposto de
igualdade criaram as condições ideais para que o termo democracia, já anteriormente
referido por Heródoto e Tucídides, como o governo do povo, afirmar-se. A palavra
democracia provém de Dêmo e Krat (força e soberania). Este regime político designado
de democrático teve a sua origem na resistência, a um ciclo, na Grécia Antiga, de
oligarquias, tiranias e plutocracias onde o poder beneficiava apenas um pequeno grupo.

Seguindo uma linha temporal pode-se indicar a origem da democracia ateniense


quando Sólon implementou o poder deliberativo e dotou a cidade com um novo
conjunto de leis e reformas institucionais, sociais e económicas que alteraram a
constituição ateniense abrindo assim o caminho para a democracia. Mas este processo
teve o seu começo mais acentuado com “Clístenes que, graças a um conjunto de
reformas, fará de Atenas uma democracia” (Ferreira, 1996, pp.140). Este procedeu a
uma revisão, criando uma constituição com várias alterações que deram origem a um
novo Estado. Concebeu condições para o surgimento de uma democracia com um plano
eleitoral, a Isonomia. A este também se deve a divisão do território em dez regiões que
correspondem a outros tantos dêmos (divisões de terras), aumentando e
descentralizando assim o poder a diversos indivíduos, para uma melhor realização do
Estado. Esta distribuição neutraliza os interesses locais e a influência política dos
aristocratas. Aumentou o número de membros da Bulé (assembleia restrita de cidadãos
cuja função era deliberar sobre os assuntos correntes nas pólis) e aumenta a autoridade
da Assembleia, tornando-a suprema.

Um dos aspetos mais salientes das reformas de Clístenes é a extinção do caráter


censitário relativamente à cidadania, ampliando-a, mas restringindo-a
quantitativamente. Conforme, o texto em análise, de Fernand Braudel indica, “a ‘a
democracia’ apresenta falhas. É verdade que os cidadãos têm direito, real ou ilusório, a
uma estrita igualdade” (Braudel, 2001, pp. 268). Deste modo, apesar de indicar que
todos os cidadãos são iguais perante a lei, estima-se que apenas 15% da população tinha
esse direito, pois só eram considerados cidadãos indivíduos do sexo masculino que
tivessem atingido a maioridade e que fossem atenienses puros. Excluídos ficavam as

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mulheres, os metecos (estrangeiros que viviam nas pólis, que tinham de pagar uma
renda anual e eram obrigados a servir o exército ateniense) e os escravos. Clístenes
também modificou as instituições existentes e criou quadros políticos novos. Os
arcontes (título dados os membros das assembleias) passam a ser tirados à sorte e o
comando do exército foi entregue aos estrategos que eram eleitos pelo povo. A
democracia ateniense estabelecia-se em três instituições a Eclésia, o Bulé ou Concelho
de Quinhentos e a Helileia.

Concisamente, podemos indicar a Eclésia como o órgão máximo com poderes


ilimitados, considerada o centro do sistema democrático. O Bulé era o único órgão
representativo do conjunto das dêmos e era composto por cinquenta membros - também
chamado Conselho de Quinhentos -, de cada tribo escolhidos à sorte. Assumiam a
função preparar os decretos da Assembleia e, por fim, a Helileia era o tribunal supremo,
que tinha acesso todos os atenienses com mais de trinta anos, que eram sorteados
anualmente. A participação cívica leva os cidadãos a participar na vida da pólis, o que
fez da democracia ateniense um exemplo de participação cívica e de exercício de
deveres e direitos de cidadania. Nos anos seguintes, Atenas prosseguiu para a
exploração do mar Egeu tornando-os seus súbditos e tributários e explorava territórios
cada vez mais longe. O domínio do mar e novas terras permitiram ter acesso a
privilégios económicos como usufruir da cerâmica, tecidos, azeite e trigo. Conforme
refere o Braudel, “Atenas beneficia de muitos privilégios e domina outros” (Braudel,
2001, pp. 268).

Péricles deu seguimento e continuidade às políticas de Clístenes mas limita,


ainda mais, a lei e apenas permite cidadania a todos os que sejam filhos de mãe e pai
ateniense, o que limitou ainda mais o acesso a privilégios. Citando o texto em análise
“A democracia é privilégio deste grupo que domina uma massa de estrangeiros
(metecos) e de escravos.” (Braudel,2001, pp. 268).

Em suma, a democracia ateniense foi uma base muito relevante para o


desenvolvimento da democracia moderna, mas mereceu muitas críticas, tais como o
favorecimento dos menos competentes, a ambição dos seus dirigentes, a crueldade do
tempo dos oligarcas e a escravidão. Embora pioneira e sustentada em valores da
isonomia ou da igualdade perante a lei, da isegonia ou da igualdade no falar e da
isocracia, igualdade no poder, este sistema não é, no entanto, isento de vicissitudes e

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como tal, controlar a efetividade da democracia é um desígnio necessário. A limitação
de direitos a um número diminuto de cidadãos tornou a democracia um privilégio
restrito a um grupo conforme nos demostra o texto em análise.
Bibliografia

BRAUDEL, Fernand, Memórias do Mediterrâneo, Pré-História e Antiguidade. 2001.


Lisboa, Terramar.

FERREIRA, José Ribeiro, Civilizações Clássicas I – Grécia. 1996. Lisboa:


Universidade Aberta;

HATZFELD, Jean, História da Grécia Antiga, Publicações Europa-América, 3ª edição,


1982

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