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O MUNDO GREGO E A DEMOCRACIA

A democracia ateniense é como conhecemos o sistema político que existiu em


Atenas, na Grécia Antiga, a partir do final do século VI a.C. Esse sistema surgiu de
uma reforma política promovida por Clístenes, o legislador da cidade, e foi fruto das
tensões sociais que existiam por conta dos privilégios da aristocracia, os chamados
eupátridas.

Na democracia ateniense, os cidadãos eram iguais perante as leis, considerando-se


como cidadão o homem com mais de 18 anos, nascido em Atenas e filho de pais
atenienses. As duas principais instituições dessa democracia eram a Bulé, o
conselho que formava as leis, e a Eclésia, ou assembleia que tomava as decisões.

Contexto da democracia ateniense

Atenas foi uma das mais conhecidas cidades-estado (pólis) da Grécia Antiga. É
importante lembrarmo-nos de que a Grécia organizava-se em diversas pólis, sendo
cada uma delas autônoma em relação à outra. Essa forma de organização fez com
que, ao longo do tempo, cada cidade grega desenvolvesse uma forma própria de
governo.

O caso de Atenas não foi diferente, e a procura por formas de administrar a


sociedade, à medida que a cidade crescia e sua administração ficava mais
complexa, levou ao surgimento de um sistema inovador na Antiguidade e serviu de
inspiração para o desenvolvimento do nosso modelo político atual. Estamos falando
da democracia ateniense.

A palavra democracia, então, é de origem grega, mas não se sabe quem a cunhou.
Ela foi a junção de demo, palavra que pode ser traduzida genericamente como
“povo”, e krátos, que pode ser traduzida como “poder soberano”. Assim, o
significado de democracia é o “poder soberano do povo”, embora, no contexto de
Atenas, a ideia de povo ou, como veremos, de cidadão, fosse muito limitada.

Democracia ateniense

Foi durante a gestão de Clístenes como legislador em Atenas que uma série de
reformas foi realizada em 514 a.C. As reformas de Clístenes são consideradas
como as responsáveis pelo nascimento da democracia enquanto sistema que
amplia a participação popular dentro da política. No entanto, atenção, o conceito de
cidadania em Atenas difere bastante do modelo democrático atual.

Entre as reformas de Clístenes está o reconhecimento da igualdade de todos os


cidadãos atenienses perante a lei da cidade. A divisão da cidade foi reorganizada, e,
em vez de quatro tribos, passaram a existir 10, organizadas por localidade e não por
renda. A Bulé foi mantida, mas seria formada com 500 membros, sendo 50 de cada
tribo. Era responsabilidade da Bulé, por exemplo, formular leis que seriam votadas
na Eclésia.

A Eclésia (assembleia popular) foi mantida no sistema político de Atenas, e nela


todos os cidadãos tinham direito de participar da tomada de decisões. Todas as
decisões feitas em Atenas passavam pela aprovação dos que participavam da
Eclésia. O local em que os membros da assembleia reuniam-se era a colina de
Pnyx, capaz de reunir até nove mil pessoas.

Na Eclésia, algumas pessoas recebiam o direito de discursar para os presentes, e


todos que discursavam tinham o direito de defender o que quisessem (dentro do
assunto que estivesse sendo debatido). Uma vez realizados os discursos, os
presentes votariam se aprovam ou não determinada medida. O voto era realizado
por meio do levantamento de mão.

Esse sistema visava, então, garantir uma ampliação na participação política e


esteve vigente em Atenas e em toda Ática, a zona na Grécia que ficava no raio de
influência ateniense. A democracia ateniense também se preocupava em criar
formas de proteger-se de pessoas que tentassem usá-la em benefício próprio.

Desse temor nasceu o ostracismo, um mecanismo que determinava a expulsão de


uma pessoa de Atenas e da Ática por um período de 10 anos, caso ela realizasse
ações contra a democracia ateniense ou acumulasse um grande poder político que
colocasse em risco seu funcionamento.

A democracia ateniense, no entanto, tinha suas limitações. Embora fosse algo sem
precedentes na época — um sistema que garantisse voz para pessoas mais
despossuídas —, esse sistema ainda tinha consideráveis limitações, pois o direito
de participar da política ainda ficava recluso a homens maiores de idade, nascidos
de pai e mãe atenienses.

A maioria absoluta de Atenas permanecia, então, fora do processo político da


cidade. Entretanto, como percebemos, a democracia ateniense possibilitou um
enfraquecimento da aristocracia local, permitindo que grupos em ascensão
pudessem participar ativamente da política. Um exemplo significativo disso se deu
pela indicação de que quaisquer homens filhos de pai e mãe atenienses teriam a
cidadania.

Isso prejudicava a aristocracia ateniense, que buscava reforçar seu poder por meio
de alianças com outras cidades, o que gerava herdeiros de pais nascidos em locais
diferentes. No entanto, para ser cidadão em Atenas, era necessário ter pai e mãe
atenienses, o que, portanto, excluía filhos de pais de outras cidades, impedindo os
interesses dos eupátridas.
A pessoa nascida em outra cidade era entendida como estrangeira e não tinha
direitos políticos. Com as reformas de Clístenes, a organização social em Atenas
ficou da seguinte maneira:

● Cidadãos: grupo de pessoas nascidas em Atenas e de pais atenienses.


Tinham direitos políticos e direito à propriedade.
● Metecos: nascidos em outras cidades e considerados estrangeiros por isso.
Eram bem aceitos na sociedade ateniense, mas não tinham direito à
cidadania. Eram obrigados a pagar um imposto anual para Atenas por residir
nela.
● Escravos: geralmente eram prisioneiros de guerra. Não tinham posses, nem
direitos políticos.

Dentro da democracia ateniense, as mulheres nascidas na cidade eram


consideradas cidadãs, mas não tinham direito de participar da política local e eram,
então, outro grupo excluído

Reformas políticas da democracia ateniense

Essas disputas dentro dos meios políticos em Atenas fizeram com que, ao longo
dos séculos VII a.C. e VI a.C., várias reformas acontecessem. Algumas delas
trouxeram medidas bastante rígidas e duras, mas todo o processo de
transformações políticas em Atenas resultou no nascimento da democracia.

O primeiro grande reformador em Atenas foi Drácon, que, no século VII a.C.,
decretou uma lei sobre crimes cometidos em Atenas. No começo do século VI a.C.,
Sólon decretou leis que fizeram grandes transformações na cidade. Por meio das
reformas de Sólon, a escravidão por dívidas foi banida, por exemplo.

Sólon também criou uma organização da cidade, colocando os cidadãos atenienses


em quatro tribos baseadas na renda. Quanto mais rico o grupo, maiores seriam os
seus direitos políticos. Depois de Sólon, também foram estabelecidas instituições
importantes para as discussões dos assuntos políticos da cidade.

Essas instituições foram a Eclésia, assembleia popular, e a Bulé, conselho formado


por 400 pessoas (100 representantes de cada uma das tribos da cidade). Esse
modelo ampliou o acesso à política e enfraqueceu um pouco o poder da aristocracia
ateniense. Essas medidas, no entanto, não resolveram os conflitos de classes em
Atenas, e o restante do século VI a.C. foi marcado pela tensão na cidade.

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