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Ciência Política

Material teórico
Cidadania e Democracia

Responsável pelo Conteúdo:


Prof. Rodrigo Medina Zagni

Revisão Textual:
Profa. Dra. Patrícia Silvestre Leite Di Iório
Cidadania e Democracia

Nessa unidade, vamos tratar do tema “Cidadania e Democracia”.

Sendo assim, vamos realizar uma viagem ao passado desde a


civilização grega, nos primórdios de suas práticas de
representatividade, das quais herdamos as primeiras reflexões
filosóficas e práticas políticas e sociais que nos permitem
vislumbrar o embrião das idéias de democracia e cidadania.

Passaremos também por marcos modernos que redefiniram os


contornos de ambos os conceitos, dando-lhes novas práticas
sociais e lugares político-institucionais, como no caso da
revolução Francesa de 1789 e sua definição universal de
cidadania, com base nos princípios de liberdade e de igualdade.
Sendo assim, este é um conteúdo fundamental não só porque
nos serve de base informativa para compreender como se
formam e se transformam ambos os conceitos, das elaborações
filosóficas às práticas políticas; mas nos servirá também de
instrumento para compreensão das práticas que nos cercam em
nosso cotidiano, dos complexos jogos políticos de nossas
instituições às mais cotidianas relações sociais.

Atenção

Para um bom aproveitamento do curso, leia o material teórico atentamente antes de realizar
as atividades. É importante também respeitar os prazos estabelecidos no cronograma.
Material Teórico

O Nascimento da Democracia no berço de Atenas

A origem da cidade-Estado de Atenas remonta ao século X a.C., e se deu com a


reunião dos povoados da Ática por iniciativa do Rei Teseu, que aboliu todos os Conselhos
unificando-os e formando a cidade-Estado. A este processo de unificação que deu origem à
Atenas nomeou-se de Sinecismo.

Após a instituição da cidade-Estado estabeleceu-se a realeza na Acrópole, onde a sede


do governo era o palácio do Rei e o monarca governante era denominado “Basileus”, que por
sua vez acumulava as funções de sumo-sacerdote, juiz e chefe militar. O Basileus era auxiliado
por um Conselho de Anciãos, chamado de “Areópago”, e ainda uma Assembleia do Povo. O
poder do Basileus enfraqueceu-se a partir do século VII a.C. e a realeza passou por um
período de deterioração, uma vez que a autoridade do Rei perante o Areópago tornava-se
meramente formal.

Com a ruptura da Realeza, ainda no século VII a.C., houve o surgimento do Regime
Aristocrático, no qual o Basileus passava a ser substituído, nas funções executivas, por um
conselho de nove “arcontes”, denominado “Arcontado”. Os arcontes eram eleitos apenas pela
classe dominante ateniense, ou seja, a aristocracia proprietária de terras e de escravos e servia,
portanto, exclusivamente aos seus interesses. Os mandatos dos arcontes tinham vigência de
dez anos, sendo posteriormente reduzidos a um ano.

Dentro do Arcontado cada arconte tinha uma determinada função:

Arconte Epônimo era o principal arconte e tinha como incumbência todas as


funções administrativas

Arconte Basileus era encarregado das funções religiosas

Arconte Polemarca tratava-se do chefe militar, encarregado dos exércitos

Tesmotetas eram os demais arcontes e se encarregavam da execução da


justiça, a partir das leis
Graves crises sociais se abateram sobre os atenienses, após a tentativa de derrubada da
aristocracia por Cílon, que tentava implantar a Tirania em Atenas, sem sucesso; porém o
movimento revoltoso culminou com o atendimento às exigências de que houvesse leis escritas
na Acrópole. Por sua vez, o código de leis instituído passou a ser manipulado pelos eupátridas
(“bem nascidos”, descendentes da aristocracia agrária) a partir do Areópago.

Como consequência das leis que passavam a reger Atenas, conheceu-se o chamado
“governo dos ricos”, designado como Timocracia ou Plutocracia, no qual a participação
política do cidadão era determinada pela classe social a que pertencia e sua respectiva
fortuna, e não mais às suas origens. Desta forma, chegou-se a uma diferenciada estratificação
social-política que determinava diferentes níveis de participação nas decisões políticas do
governo ateniense, composta pelos:

Pentacosimedinas que deveriam receber da Acrópole a quantia de 500 medinas


(medidas de cereal), ou correspondentes 500 dracmas de renda
anual - em razão de sua renda tinham direito de ocupar funções
públicas no Arcontado e, consequentemente, no Areópago

Cavaleiros renda entre 300 a 550 dracmas - podiam ocupar funções


públicas no exército, em postos militares a cavalo. Estas funções
poderiam ser exercidas apenas pelos comerciantes ricos uma vez
que, em Atenas, armaduras, espadas, escudos, celas e montaria,
ficavam ao encargo do próprio cavaleiro, que devia fabricá-los
ou comprá-los. Participavam ainda do “Bulé”, o “Conselho dos
Quatrocentos”, um órgão legislativo dentro do governo de
Atenas, podendo também ocupar funções de policial e inspetor,
consideradas menores no Estado ateniense;
Zeugitas renda entre 200 a 300 dracmas - podiam exercer funções
públicas somente no “Conselho dos Quatrocentos” e no
“Tribunal dos Heliastas”

Tetas não possuíam um mínimo de rendimento e eram aceitos


somente na “Eclésia”, a “Assembleia do Povo”, não podendo
ocupar ali nenhum cargo público, tendo direito apenas de
exercer o voto.

Na Eclésia eram eleitos, por todos os cidadãos atenienses, todos os funcionários do


Estado. Os trabalhos da Assembleia do Povo eram preparados pela Bulé, o Conselho dos
Quatrocentos, que por sua vez era composto por membros escolhidos a partir de um sorteio
anual, sendo cem de cada tribo ateniense.

Como consequência das divergências entre as classes sociais existentes, três tendências
políticas principais impulsionaram a formação de três partidos políticos em Atenas no século
VI a.C.:

Os Pedianos das planícies de compostos pelos eupátridas descendentes da


Pédion aristocracia rural e que reivindicavam a volta da
participação política pela hereditariedade e da
origem do cidadão.

Os Paralianos do litoral compostos por ricos comerciantes e artesãos.

Os Diacrianos das montanhas formado pelos tetas, camponeses e assalariados,


que reivindicavam mudanças na estrutura social
ateniense.

No ano de 561 a.C., o partido dos Diacranos chegou ao poder, na pessoa de Pisístrato,
que estabelece a Tirania como forma de governo na cidade-Estado ateniense. A Tirania era
caracterizada pela concentração extrema de poder nas mãos do governante e dentro do
processo político grego, serviu de transição para o estabelecimento da Democracia em Atenas.
Após a morte de Pisístrato e do assassinato de um
de seus filhos, sendo o outro deportado por um levante
aristocrático apoiado pela cidade-Estado rival, Esparta,
estabeleceu-se em Atenas uma breve oligarquia
restaurada; porém os adeptos dos partidos Diacrianos e
Paralianos uniram-se e, juntos, expulsaram os invasores
espartanos e derrubaram do poder a aristocracia,
estabelecendo em Atenas a Democracia.

Com a queda da Tirania e da Oligarquia


Restaurada, ao invés de Atenas retomar o modelo
aristocrático, reclamado pelos eupátridas, estabeleceu-se
ali uma forte Democracia, instalada no governo de
Clístenes no ano de 506 a.C., o qual empreendeu
extensas reformas em suas instituições. Atenas foi dividida em circunscrições administrativas
denominadas “demos”, totalizando cem, divididas em: Demos Urbanos, Demos do Litoral e
Demos de Interior.

Em seu governo, houve a redução do poder e do prestígio político da nobreza,


estendendo-se as decisões políticas às camadas menos favorecidas de Atenas (agricultores,
pastores, mercadores, artesãos e marinheiros).

As instituições políticas passaram por profundas transformações. O novo governo


ateniense contava com:

Arcontado cujas funções reduziram-se meramente às honoríficas.

Areópago reduzido a um mero tribunal religioso.

Tribunal dos que passou ao estágio de supremo órgão judiciário, sendo composto
Heliastas por cidadãos sorteados.

Bulé antes denominada “Conselho dos Quatrocentos”, nesse novo


momento “O Conselho dos Quinhentos, com uma nova proporção
de cinquenta membros de cada tribo, sorteados e que teriam um
mandato de apenas um ano.

Eclésia Assembleia do povo que votava os projetos elaborados pela Bulé,


tratando-se do mais importante órgão político de Atenas na época,
decidindo sobre os mais diversos aspectos da vida ateniense.
Instituiu-se o cargo de Estratega, que equivalia nas tribos ao chefe militar e criou-se o
conceito do ostracismo, com a finalidade de proteger o sistema democrático de eventuais
tentativas de implantação da tirania, ou seja, se julgado o indivíduo nocivo ao sistema vigente,
depois de condenado pela Eclésia, era banido, tendo suspendido temporariamente seus
direitos civis e políticos. Contudo no que se designou como Democracia Escravista, o escravo
não exercia nenhum direito político.

A Democracia escravista ateniense teve uma de suas maiores crises no século V a.C.,
inicialmente com as Guerras Greco-Pérsicas, as Guerras Médicas; porém com o seu fim e com
o decorrente estabelecimento da “Trégua de Trinta Anos” firmada com a cidade-Estado rival,
Atenas viveu o apogeu da Democracia Escravista.

Dois partidos políticos tinham preponderância na política ateniense da época: o Partido


Agrário ou Aristocrático e o Partido Marítimo, Democrático ou Popular.

Como peculiaridade desta nova


fase democrática em Atenas instituiu-se,
por Péricles, a “mistoforia”, que
correspondia à remuneração
proporcional ao desempenho dos
funcionários públicos, além da
remuneração dos setores bélicos do
governo, só quando então soldados e
marinheiros passaram a receber salários.
Os cargos públicos, nos mais
diferenciados níveis, passaram a ser
ocupados a partir de sorteios, o que
democratizava a escolha dos quadros
funcionais.

O Areópago perdeu suas funções, sendo suas antigas atribuições repassadas aos
tribunais populares, reforçando os poderes da Eclésia que acumulava as funções legislativas,
executivas e a fiscalização do judiciário.

A Democracia Escravista viu seu declínio, na cidade de Atenas, no ano 404 a.C.,
quando após uma sangrenta guerra com sua rival Esparta, apoiada e financiada pelos Persas,
na Guerra do Peloponeso, viu-se obrigada a assinar um tratado que dissolvia a Confederação
de Delos (união de várias cidades-Estado gregas em favor de Atenas, em oposição à Liga do
Peloponeso, onde outras cidades-Estado apoiavam Esparta) e abolia a Democracia.

Após a derrota na Guerra do Peloponeso Esparta impôs à Atenas o Governo dos Trinta
Tiranos, que tinha por líder o espartano Crítias; porém em apenas um ano, a Democracia era
novamente implantada em Atenas por Trasíbulo.
No século IV a.C., a civilização grega foi incorporada ao projeto expansionista
macedônio de Alexandre Magno, “O Grande”, pondo fim à Democracia grega e a um dos
mais importantes capítulos da História das civilizações clássicas.

Muito do modo de vida grego, em especial com relação à sua organização política,
pode ser percebido nas práticas contemporâneas, apesar de suas re-elaborações, pois é deste
modelo que advimos, e nosso pensamento, modelos de reflexão filosófica, o uso que damos à
razão, a concepção de lógica, modelos e instituições políticas, são heranças diretas daquela
civilização, que nos deixaram um rico legado em toda a sua organização política, cujo
desenvolvimento pudemos aqui contemplar muito rapidamente.

Cidadania e Democracia para Platão

“Como são interessantes os povos! Sempre a serem medicados, e mesmo


assim a verem aumentadas e complicadas as suas desordens; imaginando
poderem curar-se com panacéias que qualquer pessoa aconselha e, em vez de
melhorar, pioram sempre... Não são engraçados em sua fúria legislativa, a
acreditar que com reformas porão termo à desonestidade e maroteira do
gênero humano – e ignorando que na realidade estão a cortar as cabeças
sempre renascentes da hidra?” Platão - “A República” (p. 425)

O objetivo final da sua filosofia política de Platão, pensador grego que


viveu na Atenas do séc. IV a.C., era o domínio e a manipulação do material
humano, que seriam emanados de três fontes principais:

desejo constituído pela apetite, impulso e instinto, cuja sede seriam os rins e
sua energia sexual

emoção constituída pelo entusiasmo, ambição e coragem, tendo como sede o


coração, o fluxo e a força do sangue, tratando-se da ressonância
orgânica da experiência e do desejo

conhecimento constituído pelo pensamento, inteligência e razão, com seu lugar na


cabeça, sendo os olhos do desejo e a sede da alma, podendo tornar-
se seu condutor.
Haveria, para Platão, portanto, três qualidades
de alma: alma apetitiva, alma empreendedora e alma
racional. Sendo assim, não sendo possível ao mesmo
indivíduo ser portador de mais de um tipo de alma, teria
aptidão para determinada ordem de coisas apenas, e
não para outras. Haveria aqueles que obedeceriam
apenas os seus desejos, outros aos seus sentimentos,
outros à razão.

Sendo assim, apenas alguns poucos estariam


aptos a governar, e outros a obedecer.

Platão distinguiu-se dos homens de seu tempo


exatamente por ser um antidemocrata. Para ele, as
multidões não poderiam decidir sobre os destinos de um
Estado, senão aqueles que estivessem de fato aptos ao
governo ou que fossem portadores da alma ideal para
tanto.

“... O Estado popular encontra a ruína naquilo mesmo que julga seu
verdadeiro bem, quando seu desejo dêsse bem é insaciável”.

O Conceito de Cidadania para Aristóteles

Aristóteles, discípulo de Platão e com o qual travou as mais densas e significativas


discussões filosóficas, defendia que o cidadão deveria ser nascido na cidade e filho de pai e
mãe nascidos na mesma cidade. Além disso, não poderia ser escravo; e não poderia exercer
trabalhos manuais, pois tal atividade embrutecia o homem tornando-o incapaz de ser
esclarecido.

O mais importante tratado que escreveu sobre a política carrega o mesmo nome, “A
Política”, e é resultado de uma pesquisa feita pelo Liceu – ambiente de ensino que
implementou na corte de Felipe III da Macedônia, durante o período em que ocupou o ofício
de preceptor de Alexandre, herdeiro do trono macedônia, e que se tornaria Alexandre - o
Grande, responsável pela difusão da cultura e dos valores gregos pelo Ocidente. Nesse
esforço, levantou 158 constituições de cidades-estado diferentes na Grécia, podendo, a partir
daí empreender estudos comparados, buscando uma melhor constituição.
Na obra, encontramos um sentido bem definido de Política: como a ciência da
felicidade humana (maneira de como se vive, costume e instituições).

O objetivo da política, para Aristóteles, era a


felicidade, entendida como a guarda do bem comum
(contrário aos interesses individuais ou particularistas),
exatamente a virtude do bom cidadão.

No livro III da Política, empreendeu o estudo dos


diferentes governos que pôde observar na Grécia, a partir de
sua natureza e características, examinando boas constituições
e o que chamou de constituições corrompidas. Para ele, não
bastava discutir diferentes formas de governo; o essencial
seria relacioná-las a diferentes cidadãos e virtudes.

É de Aristóteles a afirmação de que o Homem seria


um “animal político”. Isto é, o Homem seria um animal
destinado a viver em sociedade, ou seja, a interagir com seus
iguais por meio de laços de amizade. Ocorre que entre os homens haveria uma distinção
primordial: haveria cidadãos e indivíduos.

Cidadãos seriam homens políticos que guardariam os interesses comuns da cidade; já


os não-cidadãos, seriam apenas indivíduos. Isto é, nem todos os homens estariam aptos a
guardar pelo bem comum, de todos; haveria aqueles que em nome de seus interesses
privados atentariam contra o bem comum. Seriam duas qualidades distintas de homens:
cidadãos e indivíduos.

Se os homens seriam, em essência, diferentes, no que consiste o princípio da igualdade


para Aristóteles? É importante responder a essa questão para que cheguemos ao princípio de
justiça, que define cidadania. A igualdade é o princípio fundamental da justiça; bem como,
para Aristóteles, sendo os homens desiguais, a igualdade só poderia ser praticada entre os
iguais, o que é o mesmo que a desigualdade. Ocorre que essa desigualdade natural não seria
injusta, para Aristóteles, se a lei privilegiasse o exercício da igualdade entre iguais (cidadãos
com cidadãos; indivíduos com indivíduos).

As diferenças entre os homens preconizaria o mérito; ou seja, cidadãos teriam méritos


que indivíduos não possuiriam. A diferença primordial em termos políticos: o cidadão
se preocupa com o bem comum; o não-cidadão se preocupa apenas com o bem de
si mesmo ou dos grupos a quem representa.

“Quando diversos tocadores de flauta possuem mérito igual, não é aos mais
nobres que as melhores flautas devem ser dadas, pois eles não as farão soar
melhor; ao mais hábil é que deve ser dado o melhor instrumento” (p. 97).
Sistematizando o conceito de cidadania e, por conseguinte, o de não-cidadania em
Aristóteles:

Cidadão:

1. domiciliado (não estrangeiro);

2. livre (não servo);

3. homem (não mulher);

4. não-criança (jovem/adulto);

5. não-idoso (jovem/adulto);

6. de funções sociais maiores (não artesãos, mercenários ou comerciantes)

Não devem ser cidadãos:

• servos (trabalham para um senhor);

• artesãos e mercenários (trabalham para o público)

Ocorre que, para Aristóteles, nem todo o cidadão seria portador pleno de virtudes e
méritos em relação ao objetivo maior da política: o bem comum. Haveria, portanto, cidadãos
de modo imperfeito e cidadãos de tipo ideal.

Haveria não somente esses dois tipos, mas diversas espécies/tipos de cidadãos:

O cidadão modelo é aquele que pode ser juiz e magistrado (definição de tipo ideal,
exequível apenas na democracia), filho de pai e mãe cidadãos e que desfruta do direito de
chegar às magistraturas, sendo assim, participa do governo, detendo certo poder.

“... é o que possui participação legal na autoridade deliberativa e na


autoridade judiciária” (p. 77)

A condição de cidadão pode ser, também, justa ou injusta. Nesse sentindo, pode haver
aqueles que gozam do estatuto de cidadão sem ser, de fato, alguém portador de mérito
adequado para isso. É o caso do cidadão injusto, ou falso.

O justo é o homem de bem, virtuoso, que por sua vez pode ou não ser um bom
cidadão. Isso porque, para Aristóteles, o bom cidadão deteria percepção de pertencimento a
um grupo de interesses comuns. Ou seja, o Homem de bem pode ser um bom cidadão, mas
não necessariamente.
Ocorre que, o tipo ideal de cidadão seria portador de virtuosidade e prudência,
exatamente os méritos do bom magistrado. A virtude do cidadão com experiência seria saber
mandar e obedecer, e disso derivaria a autoridade política: “para ordenar bem, é necessário já
ter obedecido”.

A virtude do homem de bem seria mandar; enquanto a virtude do cidadão de bem


seria mandar e obedecer, diferenciada pela educação. A virtude de quem manda é a
prudência. A virtude de quem obedece é a capacidade de julgamento sadio e correto. O
cidadão ideal é aquele que detém, portanto, as duas, para mandar e obedecer.

Já a cidadania se definiria, por Aristóteles, como o direito de ser cidadão, por deter as
qualidades requeridas por determinada sociedade para tanto. Ocorre que, como dissemos,
nem sempre as qualidades requeridas por lei são de fato as ideais, podendo ser o indivíduo
cidadão segundo a lei; mas não segundo as qualidades de tipo ideal (é o caso do cidadão
injusto).

O termo cidadania, da qual deriva o termo cidadão, tem origem comum no termo
cidade. Segundo Aristóteles, a cidade seria uma porção de cidadãos capaz de ser suficiente a
si própria, ou seja necessário a sua existência, afastando-se da condição de miséria.

A finalidade da cidade, como uma sociedade política, seria uma existência feliz e
independente. A cidade, como sociedade política, seria equivalente ao âmbito de ações
honestas e virtuosas, não só da vida comum, mas da vida comum partilhada como valor,
tendo o cidadão ideal como defensor desse bem comum.

Dentre as virtudes de que seriam portadores os cidadãos, a virtude política seria


primordial, ou seja, por meio dessas virtudes, independente da condição social do cidadão,
teria maior importância para o Estado.

Permanências e Rasuras frente aos Modelos de Democracia e


Cidadania

Desde as primeiras práticas de organização democrática gregas, com a criação de


sistemas consultivos e participativos, garantidos por instituições e leis que davam meios de os
cidadãos terem participação política em sua sociedade, interagindo com os rumos do Estado e
de sua sociedade, até o moderno conceito de democracia representativa, na forma dos
partidos políticos que apontam candidatos para concorrerem a eleições, há uma longa e
complexa história de avanços e retrocessos.

No entanto, segue irresoluta a questão da cidadania no Brasil. Milton Santos afirmou


tacitamente que NUNCA HOUVE CIDADANIA NO BRASIL, dada a apropriação dos
interesses públicos pelo privado, atentando contra as virtudes que, segundo Aristóteles,
permitiriam designar a cidadania justa.

A Revolução Francesa

A Revolução Francesa concluiu um ciclo de revoluções burguesas, do séc. XVI ao


XVIII, que incorporou também as revoluções inglesa (de 1640 a 1689), americana (1776) e
holandesa (1798).

De todas as revoluções burguesas, a francesa foi tratada pela historiografia como a


mais importante e significativa de seu tempo, pois mudou a face política do mundo, sendo um
marco considerado superior em relação às demais revoluções democráticas uma vez que a
França era, culturalmente, o país mais influente e, politicamente, o mais importante do
período.

A língua francesa passou a ser o idioma diplomático de comunicação internacional e os


hábitos franceses começaram a ser reproduzidos culturalmente pelas aristocracias de diversos
países.

A projeção histórica da Revolução Francesa se deu, de início, pelo modelo filosófico


por ela representado: a Filosofia Iluminista. No âmbito político, concentrava o ideal dos
Estados Modernos Nacionais, de caráter constitucional. O princípio em questão é que o poder
não mais deveria emanar da monarquia ou da Igreja, mas da nação. Sendo assim, o poder
não mais emanaria do rei; mas da nação.

NAÇÃO = POVO+TERRITÓRIO
A declaração dos direitos do Homem e do cidadão, de 1789, que estabelecia a
igualdade entre os homens, proclamava princípios de natureza universal, ou seja, não só para
a França, mas para todo o mundo.

A projeção da Revolução Francesa era, portanto, universal. Com início em 1789, a


revolução projeta uma França que, em 1815, se empenha em expandi-la por toda a Europa.
Em suma, a Revolução Francesa mudou a face do mundo.

O próprio sentido do termo “revolução” acabou sendo também alterado. Inicialmente


utilizado no campo astrofísico para se referir ao movimento dos astros, ou a quase falta de
movimento, referindo-se também a um “salto para outra dimensão”, passava a designar um
movimento de inversão social.

A própria revolução pretendia para si o caráter de o mais importante evento histórico


jamais registrado. Pretendia-se mais importante até que o nascimento de Jesus Cristo, uma
vez que impôs um novo calendário que substituía o calendário cristão. O ano de 1789, o ano
da revolução, passava a ser o ano 1 da nova era mundial. Mudaram os nomes dos meses, que
passavam a se referir a fenômenos metereológicos: Brumário, Floral, Germinal, Brarial,
Termidor etc.

Mudaram as certezas políticas. Wolfgang Von Goethe escreveu, após ter testemunhado
uma batalha entre as tropas revolucionárias e o exército prussiano, que uma nova era
começava, pois tropas maltrapilhas de revolucionários acabavam de derrotar o maior e mais
poderoso exército do mundo.

Tem início como um movimento de caráter reformista. Durante o processo é que os


atores envolvidos tomaram consciência de seu caráter revolucionário.

Os Atores Envolvidos

A configuração social da França, às vésperas da revolução, obedecia a uma


estratificação dada pelo sangue; ou seja, a condição do indivíduo naquela sociedade era
determinada pelo nascimento. Nascendo em família nobre, estava garantida sua condição de
nobreza; em caso contrário, tratava-se de plebeu.

Incluindo, além dessas duas classes, os religiosos, temos a seguinte organização social:
1º Estado 2º Estado 3º Estado

Nobreza Clero Camponeses e comerciantes (estes divididos


entre baixa e média burguesia)

Os Fatores

Dentre os fatores que desencadearam a revolução está o conflito entre as novas formas
de produção, ou seja, o pré-capitalismo baseado no trabalho assalariado, em conflito com o
feudalismo (ausência de trabalho assalariado, pautado em laços de servidão) e as formações
sociais do Antigo Regime (as monarquias absolutistas, nas quais o rei governava com poderes
quase ilimitados).

Apesar de ter uma imensa importância política, economicamente a França era


predominantemente agrária e comercial. A potência econômica, no período, era a Inglaterra.
O conflito pela hegemonia política e econômica na Europa se dava então entre França e
Inglaterra.

Causas:
Conflito entre as forças produtivas mercantis e o Antigo Regime feudal;
A disputa no sistema internacional entre Inglaterra e França.

Exatamente em função deste conflito, a França apoiou a independência das colônias


americanas contra a Inglaterra, com armas, dinheiro e tropas deslocadas cruzando o Oceano
Atlântico, o que muito rapidamente levou ao endividamento do Estado francês, pelos gastos
despendidos na campanha militar contra a Inglaterra, pela independência dos EUA. A dívida
acabou recaindo sobre os cidadãos franceses na forma de impostos.

A estrutura político-social francesa privilegiava nobres e religiosos que não pagavam


impostos. Desta forma, a crise econômica acabou recaindo sobre os camponeses que
constituíam 80% da população, junto de artesãos e comerciantes. A crise era o preço da
vitória norte-americana em sua revolução burguesa.
Nesse contexto, podemos enumerar as causas imediatas da revolução da seguinte
forma:

A aliança entre cidade e campo representou, no


contexto revolucionário, o levante de camponeses e
A aliança entre a burguesia e o
sua aliança com uma classe com poder político nas
campesinato (Jacqueries).
cidades: a burguesia (pequenos e médios
comerciantes).

Conflito entre um Estado Absolutista,


É fruto dos textos de filosofia política iluminista. Este
que existia de fato; e o projeto de
tipo de Estado já existia, em essência, na Holanda e
Estado Moderno constitucional, que
na Inglaterra, que já haviam realizado revoluções
ia sendo idealizado antes e durante o
burguesas, mas era reformulado na França.
processo revolucionário

O Antigo Regime queria repassar a conta da crise


econômica inicialmente à nobreza e à Igreja, que por
sua vez se negaram a pagar pelo prejuízo. O impasse
Crise econômica sem saída política. instaurou uma crise política desencadeada pela
revolta inicialmente da nobreza, fazendo recair a
cobrança de impostos sobre camponeses e
comerciantes.

O rei francês, Luis XVI, tentava aprovar, inicialmente, uma proposta para que os
nobres arcassem com os gastos militares, na “Assembleia dos Notáveis”, que a rejeitou.

Deu-se a primeira fase da revolução, de 1787 a 1789, e que consiste na revolta da


aristocracia com o rei, em torno do pagamento pelo endividamento do Estado.

Produziu-se um clima de descontentamento, revolta e intensa agitação social, com a


burguesia mercantil engajada no debate, burguesia que fez neste período o grande
aprendizado que lhe permitiria liderar a revolução.

O rei foi aconselhado a convocar os Estados-Gerais, onde se reuniriam representações


de todas as classes na França, ou seja, os três estados. Assim sendo: aristocracia (nobreza),
clero, e o Terceiro Estado (não-aristocráticos: camponeses e a burguesia basicamente); se
reuniriam para decidir os rumos da crise vivida pela França.

Para que fossem escolhidos os representantes da burguesia foram organizadas eleições,


o que permitiu um grau de organização imensa ao Terceiro Estado (outro ponto fundamental
para a concretização da revolução). Em maio de 1789, os nobres tinham 270 deputados e o
Terceiro Estado 571, representando 95% da população francesa.
Reuniram-se em maio de 1789 e, por meio de uma série de manobras de grupos
radicais, o Terceiro Estado declarou que os Estados Gerais não constituíam um fórum legítimo
de representação.

A primeira revolução francesa era portanto política. Por contemplar a maior parte da
população francesa, o Terceiro Estado diz ser ele próprio os Estados Gerais, excluindo-se
portanto a nobreza e os clérigos, à exceção dos que aderiram ao Terceiro Estado.

Os Estados Gerais foram então dissolvidos e o Terceiro Estado foi proclamado como a
Assembleia Geral Constituinte, tendo como missão a elaboração de uma constituição para
regular o poder do rei (até então ilimitado), com base na Declaração dos Direitos do Homem
e dos Cidadãos.

Em seguida, a Assembleia Nacional Constituinte avançou contra os direitos feudais de


recolher impostos; contudo, os senhores feudais acabaram sendo indenizados pelo próprio
governo francês.

Foi neste mesmo ano, em 1789, que se produziram os elementos que configuraram a
Revolução Francesa: o campesinato se tornou uma milícia a serviço da burguesia e, seguindo
suas próprias orientações, precisavam se armar. Buscaram armas no dia 14 de julho de 1789,
na prisão política que funcionava como arsenal do Antigo Regime: a Bastilha.

A prisão foi cercada e a guarda que ali estava se rendeu (tendo parte dela inclusive se
juntado aos revoltosos), permitindo a entrada dos revolucionários que no processo libertam os
presos políticos.

Com as armas e com a adesão de vários soldados das tropas regulares francesas,
constitui-se uma Guarda Nacional engajada à causa revolucionária, que se opôs ao exército
regular do regime. A guarda era composta por elementos da burguesia, uma vez que tanto o
fardamento quanto as armas eram comprados pelos próprios soldados, à exceção do caso da
Bastilha e similares, nos quais as armas foram tomadas do exército regular.

Mas a vitória da revolução foi de fato garantida pelos sans-cullottes: as massas de


desempregados, operários, lojistas e populações pobres em geral que participaram das
revoltas populares.

Houve saques em Paris devido à fome e à alta dos preços dos alimentos, em
decorrência da prática do liberalismo econômico. O pão estava inacessível à população pobre
devido à má colheita de trigo. A força revolucionária dos sans cullottes passou a exigir o
pagamento de impostos populares por parte dos proprietários.

Esta fase se estende de 1789 a 1791 e é caracterizada por revoltas populares e pela
instauração de uma monarquia constitucional. Ou seja, uma constituição passava a se impor
sobre o poder político do rei, limitando-o. A forma econômica da revolução é o liberalismo,
que se defrontava com o violento cotidiano das relações de produção.
Em 1791, o mesmo rei que havia assinado a constituição resolveu se aliar à nobreza
que havia deixado a França (mais de 300 mil nobres) e, em abril, tenta fugir. Foi capturado
com a rainha em Vallem. Sua captura instaurou um dilema: monarquia constitucionalista ou
república?

Na monarquia constitucionalista continuaria a figura de um rei, que teria que obedecer


a uma lei maior: a constituição, elaborada por representantes eleitos pelo povo. Na república
não haveria rei, o soberano seria eleito pelo povo para cumprir apenas um determinado
mandato, enquanto o rei cumpriria seu mandato de forma vitalícia.

Foram eleitos novos deputados, dentre os mais importantes: Danton, Marat e


Robespierre, para a Assembleia Nacional, o poder legislativo francês. Nessa nova
representação, discutiu-se se deveria ser declarada guerra para apoiar territórios, que se
diziam franceses.

A Assembleia passou a ser constituída por girondinos, a alta burguesia (Partido da


Planície) e jacobinos, a baixa e média burguesia (Partido da Montanha); este à esquerda da
assembleia, aquele à direta (origem da designação para partidos políticos).

Em abril de 1792, foi deflagrada a guerra contra o império Austro-Húngaro, vencida


pela França.

De 1792 a 1794, o governo francês passou a ter hegemonia da esquerda jacobina


chefiada por Robespierre. Teve início, então, o terceiro e mais radical período da revolução: a
República Jacobina.

O rei foi julgado e decapitado, a monarquia abolida, e declarado o sufrágio universal (o


direito do povo de ir às urnas para escolher seus representantes). A revolução, nessa fase, teve
um profundo caráter anti-religioso, suprimindo a Igreja e enforcando padres.

Diante da crise militar, se propôs um novo tipo de exército baseado na eliminação da


distinção entre civis e militares. Todos os cidadãos passavam a ser soldados da revolução e os
bens daqueles mais abastados passam a poder ser confiscados em benefício da nação.

Tratava-se de um novo exército e os elementos que o iluminam são: guerra de


movimentos (mobilidade tática das tropas) e a implantação do terror à contra-revolução
(julgamentos e execuções sumárias de contra-revolucionários).

Do terror, adveio o invento do médico francês Guillotine, que desenvolveu um método


de execução com base em um mecanismo de acionamento de uma lâmina para decapitação,
que permitia executar um número maior de pessoas com menor dispêndio de energia e mais
rapidamente: a guilhotina.

O governo jacobino, em apenas dois anos, criou e armou não só um novo exército,
mas um novo tipo de guerra. De fato, sob os jacobinos, o sufrágio nunca foi utilizado e o
controle de preços não funcionou; mas as promessas empurravam o povo francês para a
guerra, derrotando a contra-revolução monárquica e exércitos estrangeiros.
Criou-se o Comitê para a Salvação Pública e o país passou a ser governado por uma
ditadura de 12 pessoas que se apoiavam na mobilização dos proto-proletários de Paris.

A vitória da revolução passava a ser total no âmbito externo; mas internamente o


controle de preços não dava resultados e o Comitê de Salvação Pública passou a ser alvo de
críticas tanto da direita quanto da esquerda.

Em agosto, a Convenção prendeu Robespierre, o julgou e executou, mesmo tendo ele


conduzido as maiores vitórias militares francesas. No mês Termidor, começava a contra-
revolução na França. Do exército popular de coalizão francesa, organizado no período,
ascendeu Napoleão Bonaparte.

Entre 1795 e 1799 todas as conquistas territoriais da revolução são organizadas em


Estado Nacional, as alas radicais são eliminadas e a França passa a estender seus domínios
sobre territórios circunvizinhos.

Entre 1795 e 1799 têm-se a etapa do Diretório, na


qual, supostamente, as instituições democráticas teriam se
consolidado na França. Na prática, pode ser o período
interpretado como uma ditadura baseada em uma
instituição democrática.

Uma nova guerra tem origem com a imposição do


bloqueio continental por parte da Inglaterra, que isolava a
França economicamente por meio do bloqueio ao
comércio marítimo.

Com a promessa de salvar a nação do caos


econômico e social, assumiu o poder um consulado com
três membros, um deles Napoleão Bonaparte, que por
meio de golpes e manobras se autonomeou primeiro cônsul
e depois se fez coroar imperador francês, em Roma.

Encarnava a nova sociedade de princípios burgueses, onde um comum, não nobre,


descendente de camponeses, poderia se tornar imperador. Entre 1814 e 1815, governou com
sua família (principalmente irmãos) a Europa Napoleônica.

Foi derrotado definitivamente, em 1815, na Batalha de Waterloo, após os 16 anos


mais revolucionários de toda a Europa.

Em 1815, após a derrota napoleônica, foi convocado o Conselho de Viena, onde todas
as nações europeias, lideradas pela Inglaterra, criaram a Santa Aliança, com a finalidade de
devolver ao mundo os contornos políticos anteriores à expansão do império francês, incluindo
o restabelecimento das antigas casas dinásticas e do Antigo Regime.
Contudo, apesar de o mapa europeu ter retornado aos seus antigos contornos, a
burguesia já havia conquistado seu papel dentro das novas estruturas de poder. Não era mais
possível restabelecer o Antigo Regime, pois em termos políticos e sociais quase a Europa
inteira havia sido revolucionada e se organizava, politicamente, em torno de monarquias
constitucionais ou repúblicas.

Diferenças entre distintas formas de Organização Política dos Estados


Antes e depois da Revolução Francesa

Antigo Regima Constitucionalista República

Monarquia Absolutista (pós-revolução) (pós-revolução)

(pré-revolução)

REI LEIS LEIS


REP. DO REP. DO
CLERO LEIS POVO REI POVO
SOBERANO
(eleito)
NOBREZA NOBREZA

POVO camponeses; POVO camponeses; POVO camponeses;


burgueses burgueses burgueses

Percebe-se, no quadro acima, que na Monarquia Absolutista o poder emana do rei,


que cria as leis, mas que não deve obedecê-las, sendo seu poder ilimitado. Já na Monarquia
Constitucionalista, há um conjunto de leis (a Constituição), que limita os poderes do rei e que
é criada pelos representantes do povo, sendo assim, o poder emanaria do povo. Na República
verifica-se o mesmo, contudo o próprio soberano é escolhido pelo povo para cumprir um
mandato limitado no tempo, enquanto nas monarquias, comumente, os reis não são
escolhidos, transmitindo-se o poder de forma hereditária.
“A social democracia”

O termo social-democracia apareceu na França logo após a chamada “Insurreição de


Junho”, no contexto revolucionário de 1848, quando Luis Bonaparte (sobrinho de Napoleão
I) sucedeu pela via revolucionária ao Rei Luis Filipe I, dando fim à “monarquia burguesa” que
tanto descontentava aos franceses. Foi um dos maiores acontecimentos da história das guerras
civis europeias, quando a república burguesa, aliada ao proletariado organizado como um
verdadeiro exército, triunfou sobre os monarquistas, pondo fim ao reinado francês.

Ocorre que mesmo tendo as “jornadas de junho” obtido sucesso graças à participação
crucial de operários armados, após o estabelecimento da república todas as demais classes
sociais francesas se voltaram contra o proletariado, instituindo o “Partido da Ordem” sob o
signo da “propriedade, família, religião e da ordem”, a “Sagrada Falange da Ordem
Francesa”, apontando operários “anarquistas, socialistas e comunistas” como inimigos da
sociedade francesa.

Uma vez estabelecida a república, Luis Bonaparte atentou contra as próprias


instituições democráticas que defendeu em seu projeto revolucionário por meio de um golpe
de Estado, quando dissuadiu o povo a levantar-se contra a Assembleia Nacional, dissolvendo-
a com seus exércitos no dia 29 de janeiro de 1849.

A revolução demonstrava graves contradições. Mais uma vez a renda era concentrada
desigualmente nas mãos da alta aristocracia coligada em oligopólios, em detrimento da baixa
burguesia que cada vez mais perdia poder aquisitivo. Neste contexto, a social-democracia
resultou da colisão de pequenos burgueses e operários impelidos contra a grande burguesia
coligada, formando o Partido Social-Democrata.

O que levou a pequena burguesia francesa a se aliar com operários foram os eventos
decorrentes das “jornadas de junho” de 1848, quando julgaram não terem sido devidamente
recompensados e ainda terem seus interesses frustrados tanto pela burguesia coligada como
pelos monarquistas que deixavam o antigo regime e tentavam nesse novo momento ganhar
posições dentro da nova estrutura política.

Corroborou com a crise política francesa um sentimento de insatisfação geral da maior


parte das camadas sociais em relação à “Revolução de Fevereiro”, em que Luis Bonaparte,
então governante, restabeleceu as concessões que haviam sido dadas. O descontentamento
das classes menos favorecidas e principalmente da pequena burguesia fez engrossar a massa
crítica proletária.

Os dirigentes sociais, no segundo período da Assembleia Constituinte, agregaram-se


aos sociais-democratas, resultando na elaboração de programas, comitês eleitorais e
candidaturas comuns. O aspecto revolucionário das reivindicações do proletariado dava lugar
gradativamente à via democrática, destacando-se seus aspectos socialistas. Na prática, acabou
funcionando como um movimento cumulativo à “montanha socialista” já existente,
agregando-se aos socialistas alguns representantes da classe operária e outros socialistas
sectários, como elementos novos do partido.

A social-democracia tinha como objetivo estabelecer a harmonia entre dois extremos: o


capital e o trabalho assalariado, exigindo, para isso, instituições democrático-republicanas que
possibilitassem a coexistência harmoniosa de dois opostos – burguesia e proletariado.

O desafio estava posto para a contemporaneidade: consolidar cidadania com a divisão


do trabalho social, na garantia por dignidade na forma de direitos básicos; e democracia e
democracia plena, com a evidente apropriação privada dos interesses públicos, na forma tanto
dos oligopólios econômicos quanto da corrupção política.
Material Complementar

Luzes e sombras da democracia ateniense

http://www.revistafarn.inf.br/revistafarn/index.php/revistafarn/article/viewFile/68/78
Referências

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Hucitec, 1995.

____Política. Trad. Mário da Gama Cury. 3. ed. Brasilia: Editora da Universidadede


Brasília, 1997.

ARRUDA, José Jobson de Andrade. História antiga e medieval. 3. ed. São Paulo: Ática,
1979.

BOWDER, Diana. Quem é quem na Grécia Antiga. São Paulo: Art. Editora, 1982.

FINLEY, Moses I. Democracia antiga e moderna. Trad. Waldéa Barcellos e Sandra


Bedran.Rio de Janeiro: Graal, 1988.

GIORDANI, Mário Curtis. História da Grécia: antigüidade clássica I. 6. ed.Petrópolis:


Vozes, 1998.
Anotações

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