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Nome Completo: André Toshio Sasaki RGM:19971460

Instituição: UNICID Universidade Cidade de S. Paulo Data:30/11/2021


Curso: Ciências Econômicas Polo: Praia Grande
Disciplina: Trabalho de Curso em Ciências Econômicas
Linha de Pesquisa: Teoria Econômica –Pobreza e distribuição de renda

POBREZA E DISTRIBUIÇÃO DE RENDA NO BRASIL: UM RETRATO DE


INSTABILIDADE ECONÔMICA

RESUMO
Os indicadores econômicos começaram a ser analisados desde os primeiros censos realizados
pelo IBGE. A partir de então observa-se que ao longo dos anos houve aumento da desigualdade
econômica no país, levando muitos a pobreza. Assim, verifica-se que a desigualdade de renda
brasileira é extrema, instável. Com o objetivo de análise dessa temática, este estudo apresenta
uma descrição histórica desde o primeiro momento em que se observou sobre a desigualdade e
concentração de renda no país. A pesquisa foi realizada por uma consulta em materiais
bibliográficos, assim ao analisar os momentos descritos pelos analistas econômicos foi possível
concluir sobre a instabilidade econômica do Brasil.

Palavras-chave: Distribuição de renda. Indicadores Econômicos. Pobreza.

1. INTRODUÇÃO
Desde os primórdios das publicações dos Censos Demográficos realizados pelo IBGE
observa-se uma elevação no grau de desigualdade social. Uma simples verificação no histórico
do Índice de Gini apresenta um valor que persiste por muitos anos. As elevadas taxas de
concentração de renda começaram tiveram modificações a partir da segunda metade dos anos
1990 e, principalmente, nos anos 2000. Em relação à pobreza, sua incidência apresentou sinais
de queda em dois períodos específicos, seja pelo aumento da renda e/ou pela diminuição da
desigualdade social. O primeiro período ocorreu na fase do Plano Real, com a estabilização
monetária. A segunda fase de grande queda ocorreu após 2003.

O quadro de desigualdade de renda no Brasil, portanto, não apenas permeia as relações


econômicas e sociais neste país, ou está presente em estatísticas oficiais ou artigos acadêmicos,
como também faz parte da carga de informação sistematizada e recebida frequentemente pelos
brasileiros. Juntamente com os fatos, constata-se que a desigualdade de renda brasileira é
extrema, instável e representa um mal a ser combatido.

Pressupõe-se que seja dispensável argumentar que a distribuição da renda é tema


fundamental da análise socioeconômica de uma sociedade mercantil. O tema ganhou especial
destaque no Brasil quando, durante a ditadura militar, a comparação de dados do Censo
Demográfico de 1970 com o de 1960 mostrou a ocorrência de substancial crescimento da
desigualdade (ANDRADA & BOIANOVSKY, 2020). A desigualdade tem uma elevação
permanente até o fim do milênio, com análises cada vez mais pormenorizadas tornadas possíveis

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pela disponibilidade de dados fornecidos pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
(IBGE), com destaque para a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD), e o
progresso da computação eletrônica, com uso disseminado de micro dados. Os dados da PNAD
apresentam uma tendência decrescente da desigualdade nos primeiros 15 anos do novo milênio,
mas ela voltou a crescer após 2015.

Por meio de uma investigação empírica, este estudo analisa o formato da distribuição de
renda no país e o seu grau de desigualdade correspondente. Portanto, o objetivo principal desta
pesquisa é: apresentar os dados da instabilidade econômica brasileira que retratam a pobreza e
desigualdade no país. O estudo se constitui de um referencial bibliográfico em que são
destacados os autores que investigaram sobre a economia do Brasil de forma constante, assim
sendo possível se chegar em uma conclusão sobre a desigualdade econômica.

Com base nestas motivações, o artigo se divide em três subtópicos de desenvolvimento,


além desta introdução e das considerações finais. No primeiro investiga-se sobre o histórico da
distribuição de renda e pobreza no Brasil, no segundo relata sobre o crescimento econômico e
no terceiro traz uma abordagem sobre os componentes de renda.

2. DISTRIBUIÇÃO DE RENDA E POBREZA NO BRASIL – HISTÓRICO

A distribuição de renda no Brasil começou a ser investigada em 1970, por meio de


análises comparativas entre os Censos Demográficos de 1960 e de 1970. Esses censos
constataram uma elevação nos índices de desigualdade no período, apesar do crescimento da
renda real. Entre os dois períodos o índice de Gini teve aumento de 0,50 para 0,57. Houve duas
visões distintas para explicar esse resultado. De um lado, os adeptos da Teoria do Capital
Humano procuraram mostrar que a piora na distribuição de renda foi consequência do forte ritmo
de crescimento econômico da década de 60. De outro lado, as análises enfatizaram os efeitos
provocados pela política econômica do período (REIS, 2008).

O trabalho de Langoni (1973), em parceria com o então o ministro da Fazenda, professor


Antônio Delfim Netto, foi fundamental para estabelecer um consenso do aumento da
desigualdade entre os anos 60 e 70. Assim, essa polemica consistiu na interpretação do
fenômeno por meio da política governamental ao passe que alguns consideravam que a maior
dispersão das rendas relativas causava reflexão direta em um mercado no ocorrendo assim um
crescimento da demanda por mão-de-obra com maior qualidade sem o correspondente
crescimento da oferta a curto prazo.

De acordo com essas teorias esperava-se uma redução da desigualdade e que assim
houvesse modificações nos fatores explicativos. Nesse momento teve uma ocorrência na
inflação de forma acelerada o que contribuiu ainda mais na desigualdade da distribuição da renda
no Brasil, atingindo um pico em 1989, no último ano do governo Sarney. Segundo os dados da
PNAD (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios) de 1989, naquele ano o índice de Gini do
rendimento das pessoas com trabalho fixo com rendimento positivo atingiu 0,630 (IBGE, 1997,

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p.144). Colocando assim o país como o mais desigual entre os países do mundo com dados
confiáveis sobre a distribuição de renda.

O segundo foi o desequilíbrio no mercado de trabalho decorrente de uma expansão


acelerada da mão de obra qualificada, que teria ampliado os diferenciais de renda entre grupos
de trabalhadores. A educação se constituía, para Langoni, na variável mais importante para
explicar o aumento da concentração de renda na década de 60. A melhoria ou ascensão
educacional da força de trabalho teria contribuído substancialmente para um aumento da
desigualdade de renda entre 1960 e 1970. Langoni explica esse fenômeno pela existência de
um viés tecnológico no crescimento da demanda por trabalho, o que teria beneficiado os
trabalhadores mais qualificados (HOFFMANN, 2007).

Em 1993, depara-se mais uma vez com uma inflação elevada, o índice de Gini positivo
era igual a 0,605 e no ano de 1999 caiu para 0,572. Destaca-se que a diminuição da
desigualdade entre 1993 e 1999 foi abaixo ao considerar uma distribuição do rendimento familiar
per capita. O índice de Gini teve queda de 0,609 em 1993 para 0,600 em 1999.

Bonelli & Ramos (1993) ressalta em sua análise uma associação com pontos negativos
quando se compara o crescimento econômico e desigualdade no Brasil nos anos de 1977 a
1986. Os autores destacam que o crescimento econômico pode ser um fator de combate na
pobreza e desigualdade, podendo ainda aumentar de forma geral a renda geral associando
assim ao crescimento das classes mais pobres.

O período de 2001 a 2003 se caracterizou por perdas na renda com redução de


desigualdade. Essas perdas não foram uniformes, de modo que a camada dos 50% mais pobres
sofreu redução na renda de 0,3%, enquanto os 10% mais ricos sofreram queda de 4,1%. No
período seguinte (2003-2005), o crescimento anual de 4,8% também se distribuiu
diferenciadamente para os segmentos, uma vez que os 50% mais pobres obtiveram crescimento
na renda de 8,4% e os 10% mais ricos obtiveram 3,7%. Sintetizando, a melhoria de 2005 domina
a melhoria dos anos anteriores (RAMOS; MENDONÇA, 2004).

Para demonstrar o otimismo no cenário brasileiro entre 2001 e 2005 em relação ao


histórico distributivo verificado anteriormente, Neri (2006) concluiu que nesse período o principal
componente de ganho do bem-estar se deu pela redução da desigualdade, uma vez que entre
1930 e 1980, apesar do forte crescimento econômico, o nível de desigualdade não apresentou
modificações, do mesmo modo que aconteceu entre 1980 e 2000, caracterizado por um período
de estagnação econômica e desigualdade constante.

2.1 CRESCIMENTO E DISTRIBUIÇÃO DE RENDA

De um modo geral, a maioria dos estudos que envolvem o desenvolvimento econômico


parece apontar para a seguinte constatação: o crescimento econômico continuado possui nítido
efeito favorável na redução da pobreza absoluta, mas incerto e não previsível efeito sobre a

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distribuição da renda. Hipóteses sobre a evolução da distribuição de renda baseadas no U
invertido de Kusnetz não se sustentam empiricamente (FIGUEIREDO, 2008); tampouco parece
haver uma relação positiva entre desigualdade e crescimento.

Estas observações, algo consensuais e, digamos, tradicionalmente reconhecidas, levam


à conclusão de que políticas de distribuição de renda – cujos mecanismos de determinação estão
longe de ser unanimemente reconhecidos – devem sem implementadas de forma a ampliar o
efeito positivo do crescimento econômico sobre a redução da pobreza. Com efeito, uma mudança
nos níveis de pobreza pode ser separada em dois componentes: um componente de
crescimento, traduzindo o efeito da mudança na renda média, enquanto a distribuição
permanece constante, e um componente de redistribuição quando a mudança na pobreza
decorre da mudança na distribuição, enquanto a renda média permanece constante (SILVEIRA,
2008).

Quando, num artigo influente publicado pelo Banco Mundial, Dollar (2000) argumentou
que o “crescimento é bom para os pobres”, ele assumiu como verdadeira uma relação direta
entre os ganhos dos extratos médios e os dos mais pobres. Centrado num período longo de
tempo – 20 anos –, considerou uma distribuição homogênea ao longo do período. Esta conclusão
é muito difícil de ser sustentada empírica ou teoricamente. Comparando, por exemplo, as
experiências brasileira e indiana nos anos 80, Datt e Ravallion (1992) encontraram que, no caso
do Brasil, o índice de pobreza teria caído cerca de 5%, se o crescimento tivesse sido distribuído
de forma neutra. Em contraste, os efeitos distributivos contribuíram para a redução da pobreza
na Índia, ainda que o crescimento tivesse tido uma importância maior.

Recentemente, Sainz e Fuente (2001) da CEPAL mostraram que nas últimas duas
décadas o crescimento na América Latina, além baixo, foi fortemente desigual. Durante os anos
80 e 90, as famílias pobres tiveram um crescimento de renda real menor do que a média.
Observaram que, se nos anos 80 o colapso no crescimento da renda afetou fortemente os
pobres, nos anos 90, na presença de um baixo crescimento como o que se deu em muitos países,
a renda dos mais pobres não recuperou o que havia perdido. Concluíram os autores que houve,
na América Latina, uma assimetria entre crise e crescimento: concentração de renda, no primeiro
caso; e rigidez, no segundo.

No Brasil recente, por diversos e distintos argumentos, parece haver não apenas uma
relativização do crescimento econômico como estratégia de redução da pobreza, mas também
um crescente ceticismo sobre a sua importância. Entre outros aspectos, está a nossa experiência
dos anos de alto crescimento entre 1950 e 1980, anos marcados por elevada e crescente
desigualdade, ou seja, pobreza e exclusão social persistentes (NERI, 2006).

Vale observar que a constatação da elevada e continuada concentração da renda nos


anos de alto crescimento no Brasil não pode ser automaticamente interpretada como uma
evidência de que o alto crescimento não conduz a uma melhor distribuição de renda, mas, sim e

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apenas, que ele não é suficiente para tanto. Se considerarmos que na sociedade brasileira, bem
como na maioria dos países populosos em desenvolvimento, há um elevado excedente de mão-
de-obra não qualificada, ocupada em uma miríade infinita de atividades sub-remuneradas, uma
redução relativa deste contingente – que constitui a base da estratificação ocupacional –, através
de deslocamentos para o setor formal da economia, possui efeitos distributivos positivos sobre a
renda do trabalho. Este fato, ao lado do crescimento da renda média decorrente do crescimento
da renda per capita da economia, tem impactos importantes sobre a redução da pobreza absoluta
(FIGUEIREDO, 2008).

Dada a “oferta ilimitada de mão-de-obra”, o limite à redução dos salários e à distribuição


das rendas do trabalho é fortemente determinado pelo salário mínimo institucional e pelas
políticas de transferências sociais e sua evolução. Tal evolução, governada pelo custo de
produção dos bens e serviços básicos e por fatores institucionais, pode, evidentemente,
compensar os efeitos positivos do crescimento econômico, viabilizando que os diferenciais por
qualificação e escolarização sejam ampliados, aumentando a polarização no mercado de
trabalho (NERI, 2006).

Desse modo, a criação de emprego agregado associada ao crescimento econômico


seria baixa em relação ao passado, e seria intensiva em qualificações, favorecendo os
segmentos mais ricos da força de trabalho. É importante observar em relação a este último
aspecto que não apenas os dados sobre mudanças nas elasticidades do emprego não são
suficientemente convincentes, como também captam movimentos muito parciais do processo de
crescimento. Com efeito, no ciclo econômico, apenas a persistência do crescimento econômico
é favorecedora de uma maior igualdade entre os salários. Na recessão, quando o desemprego
aumenta, os salários dos trabalhadores não qualificados sofrem, porque são os menos
protegidos (HOFFMANN, 2007).

Consequentemente, a desigualdade aumenta. Quando a recuperação se inicia, os


primeiros a serem contratados são os trabalhadores melhor remunerados, e a desigualdade
aumenta novamente. Apenas quando a capacidade produtiva é usada plenamente, e o emprego
adicional ocorre, não principalmente nos novos investimentos, mas na expansão dos bens de
consumo e nos serviços, é que se poderia esperar um decréscimo da desigualdade na estrutura
dos salários. Ainda assim, considerando apenas os salários industriais, a sua evolução nas
últimas décadas não parece refutar, mas, ao contrário, parece confirmar a existência de uma
forte correlação negativa entre desigualdade e crescimento econômico (NERI, 2006).

A permanência no emprego, por seu turno, afirmou-se nos anos 90, possivelmente como
um fator essencial de diferenciação dos salários no setor organizado da economia. A questão
central, portanto, para os trabalhadores de mais baixa qualificação – a imensa maioria dos
ocupados no Brasil contemporâneo – é a persistência do crescimento econômico. Inversamente,
são a sua volatilidade e a sua instabilidade – decorrentes de forças macroeconômicas como as
que se afirmaram entre nós nas duas últimas décadas – que geram, nos termos sugeridos por

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Pedro Sainz, a assimetria do crescimento, ampliando a heterogeneidade estrutural.
Consideremos este processo em perspectiva histórica (HOFFMANN, 2007).

A introdução de redes de proteção e políticas de renda especialmente dirigidas à pobreza


– como as que caracterizaram a política social dos últimos anos – não pode contornar a
necessidade de um modelo de desenvolvimento em que a sustentação da taxa de crescimento
e de elevação continuada do salário mínimo real esteja claramente priorizada. É evidente que,
com a extraordinária expansão do setor informal, os esquemas de transferência social, centrados
no emprego, tornam-se crescentemente insuficientes e os programas universais (como, por
exemplo, a renda de cidadania), ou voltados diretamente aos pobres (Bolsa-escola), ou a
extensão da cobertura social ao setor informal (como a que ocorreu com a aposentadoria rural)
tornam-se centrais (ALMEIDA, 2019).

Mas, qualquer que seja o sistema, a sua viabilidade como política efetiva é fortemente
dependente da expansão da renda per capita, da redução das transferências financeiras e do
aumento da base tributária do governo. Com efeito, há um conflito insanável entre a expansão
dos benefícios sociais, necessária à redução das desigualdades, e a estagnação do produto per
capita, tal como a que se firmou na economia brasileira dos anos 90. Os desníveis primários da
renda no país são muito elevados para serem substancialmente reduzidos por medidas
centradas exclusivamente nas transferências de um estagnado orçamento social. Por outro lado,
sem uma segura expansão econômica, os esforços educacionais se frustram e criam uma
inevitável “desvalorização educacional”. Uma macroeconomia voltada ao crescimento
econômico é condição básica para uma política de renda voltada à redução das desigualdades
(ALMEIDA, 2019).

A questão central é a sustentação prolongada do crescimento econômico, de forma que


os efeitos positivos sobre a pobreza e a distribuição de renda possam se consolidar. No entanto,
como já se observou, para que o crescimento não amplie as desigualdades, é necessário não
apenas estabilidade de preços, mas também que os preços relativos não sejam enviesados
contra o consumo popular, em particular o preço dos alimentos e as tarifas de serviços públicos
e transporte. Ou seja, é necessário fazer da redução da heterogeneidade estrutural, e
consequentemente dos desníveis de renda, o eixo da política de desenvolvimento (HOFFMANN,
2007).

Uma retomada do crescimento sustentado e dirigido prioritariamente à infraestrutura,


saúde, educação, habitação, acompanhada de elevação gradual, mas segura, do salário mínimo
real e de medidas voltadas à pobreza (preferencialmente em renda e universais) constitui todo
um programa de desenvolvimento econômico, no qual a demanda por justiça distributiva não fica
restrita a uma equação de trocas de um contido orçamento social do governo (HOFFMANN,
2007).

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A distribuição desigual e insuficiente na média nacional da oferta de bens/insumos
públicos no Brasil contemporâneo constitui uma restrição a uma maior difusão dos padrões de
consumo e, consequentemente, à elevação sustentada dos salários reais. Nos últimos anos, a
ênfase na modernização produtiva no Brasil tem se baseado numa avaliação de “custo Brasil”,
na qual as dimensões sociais surgem como uma segunda preocupação. É importante frisar que
historicamente o custo Brasil acomodou-se à existência de baixos salários (NERI, 2006).

A história da industrialização do país centrou-se na produção doméstica de bens/ setores


com elevado efeito de encadeamento à jusante e à montante. A provisão de infraestrutura física
e serviços sociais foi essencial a esta dinâmica, mas deixou à margem regiões e populações e
não privilegiou a cadeia produtiva de bens e serviços essenciais ao consumo popular
(FIGUEIREDO, 2008).

Para que a desigualdade ocasionada pela distribuição de renda seja diminuída não se
pode levar em consideração apenas a política econômica, considerando que as alterações na
legislação também podem ser um fator determinante, as análises devem ser feitas de acordo
com os diversos efeitos de forma direta ou indireta, como por exemplo com uma alteração do
salário mínimo (ALMEIDA, 2019).

2.3 COMPONENTES DAS MUDANÇAS DISTRIBUTIVAS

Considerando até o de 2014, observa-se que o crescimento da renda domiciliar estava


relacionada a renda advinda da renda do trabalho, sendo também o motivo das tendências nos
anos seguintes, porém em oposição ao aumento e sim no desemprego afetando os mais pobres
que perderem seus empregos. Porém, ressalta-se que outras fontes de renda cumpriram um
papel fundamental neste momento (BARBOSA, 2019).

Em geral, quando a família possui uma aposentadoria ou pensão de pelo menos um de


seus membros é possível substituir de forma direta ou pelo menos em uma parte o papel do
mercado de trabalho na renda familiar. Porém, é importante lembrar que existem dois grupos em
relação a divisão dos grupos previdenciários: aqueles atrelados que recebem um salário mínimo,
no qual se enquadram as pessoas por idade ou por alguma doença; ou aqueles superiores ao
salário mínimo, que são resultados do tempo de contribuição. Porém, esse segundo grupo são
a minoria, causando ainda uma maior desigualdade. A aprovação da Lei nº13.183, de novembro
de 2015 finalizando com a obrigatoriedade da aplicação do Fator Previdenciário pode ter sido
fator facilitador para muitos processos de aposentadoria em que há tempo de contribuição.
Assim, os especialistas destacam que tal medida poderia aumentar ainda mais a desigualdade
(HOFFMANN, 2020b).

Um dos fatores que mais assustam é que ao analisar os programas sociais como BPC,
Bolsa Família entre outros e derivadas de direitos do trabalho como o seguro desemprego/defeso
não tiveram relevância na evolução da renda domiciliar per capita e para com as tendências da
desigualdade. O que esperava-se em tempo de crise que esses programas atuassem de forma

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reguladora nos problemas de pobreza. Porém, foi visto uma situação totalmente contrária como
no Bolsa Família, que teve diminuição no contingente de beneficiários como no valor pago. O
Seguro Desemprego não conseguiu alcançar resultados positivos em relação a perda da renda
gerando assim ainda mais problemas (HOFFMANN, 2020b).

3. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Este estudo em que apresente as análises referentes à estrutura da pobreza é o de que


o Brasil, no limiar do século XXI, foi importante para indicar que o Brasil não é um país pobre,
mas sim um país extremamente injusto e desigual, com muitos pobres. A desigualdade encontra-
se na origem da pobreza e combatê-la torna-se um imperativo, desde o início das análises em
1970. É um desafio clássico de todo o processo histórico, porém que se agravou e agora é índice
de urgência no Brasil contemporâneo.

Destaca-se a necessidade de um processo de melhoria na distribuição de renda


domiciliar per capita, sendo constatadas nas pesquisas domiciliares desde o princípio. Os
retrocessos trouxeram os indicadores de volta para níveis iguais ou piores aos observados no
começo da década, com perdas e ganhos distribuídos de modo muito desigual.

No entanto, para erradicar a pobreza no Brasil é necessário definir uma estratégia que
confira prioridade à redução da desigualdade, assim são necessários constantes estudos e uma
política pública completamente diferente do que se apresenta na atualidade.

REFERÊNCIAS

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