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I) Resumo:
II) Introdução
Entretanto, é importante ressaltar que esse resultado empírico não invalida o fato de que
ocorreram mudanças significativas na distribuição de renda no Brasil durante esse período.
Nas palavras de SOUZA:
"há mais mudanças no coeficiente de Gini do que nas frações
recebidas pelos mais ricos (...) isso significa que houve redistribuição
na 'base' – em sentido amplo, incluindo os 80–90% mais 'pobres' –,
sem afetar o quinhão dos ricos" (SOUZA, 2016, p. 243).
Com isso, a desigualdade da renda do trabalho se torna uma variável fundamental para
análise da distribuição de renda no Brasil. E é justamente por isso que há uma vasta literatura
empírica que busca estudar os determinantes da desigualdade da renda do trabalho, inclusive
de modo a explicar o fenômeno observado de equalização dos rendimentos entre o início dos
anos 2000 e os anos anteriores à crise econômica da última década. Vale ressaltar que se
sobressaem a busca por fatores microeconométricos para as variações ocorridas nessa
variável: salário mínimo e formalização, como por exemplo em KOMATSU (2017) e
BALTAR (2018); capital humano, como em SILVA et al. (2016); e discriminação de gênero e
raça, como em COTRIM et al. (2020) e SILVEIRA e LEÃO (2020).
Contudo, a súbita ruptura de tendência de equalização salarial a partir do fim de 2014, que
não só interrompeu a trajetória de diminuição da disparidade salarial como também
apresentou rápida reversão dos avanços anteriores, apontam novos desafios aos trabalhos
dedicados a essa temática. Ainda há poucos trabalhos dedicados que tratem sobre a elevação
da desigualdade de rendimentos do trabalho na última década.
FOGUEL e FRANCA (2018) também utilizam dados da PNAD Contínua do IBGE (2012 a
2018) e exploram a sensibilidade da incidência de desemprego e do tempo de busca por
emprego às variações no mercado de trabalho. Os resultados indicam uma heterogeneidade
nas respostas ao desemprego entre diferentes grupos socioeconômicos, com destaque para os
jovens (18 a 29 anos) e as mulheres negras enfrentando os aumentos mais acentuados no
desemprego, mas segundo os autores essa heterogeneidade não se intensifica necessariamente
durante períodos de recessão.
Além desses autores, há também uma tentativa recente de elaboração de uma nova agenda de
pesquisa que busque acrescentar um novo determinante para a explicação da dinâmica da
distribuição de renda no mercado de trabalho brasileiro: a taxa de desemprego. Em
PROENÇA (2023), utiliza-se uma regressão de dados em painel de efeitos fixos dos Censos
Demográficos de 2000 e 2010 que reporta evidências do impacto da taxa de desemprego na
desigualdade salarial. As estimativas realizadas no referido artigo apontam, por um lado, o
efeito não significante da taxa de desemprego nos salários do “topo” da distribuição e, por
outro lado, o efeito significante e negativo da taxa de desemprego nos salários da “base” da
distribuição.
Portanto, o presente artigo buscará dar continuidade no estudo empírico da hipótese de que a
taxa de desemprego impacta na disparidade salarial. Vale ressaltar que o trabalho aqui
apresentado é apenas um primeiro exercício desse novo esforço, sendo necessário diversos
aprimoramentos que serão apontados mais adiante.
A base de dados do trabalho empírico aqui proposto parte da PNAD Contínua do período de
2012 a 2019, período marcado inicialmente pela continuidade da tendência de equalização
dos rendimentos e em seguida pela reversão e aumento da desigualdade nos rendimentos do
trabalho. Vale ressaltar que esse período também é marcado pela elevação e posterior
manutenção em altas taxas de desemprego.
A PNAD Contínua é uma pesquisa amostral com representatividade nacional e é calculada
pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística). A PNAD Contínua passou a ser
coletada a partir do primeiro trimestre de 2012, interrompendo a coleta da PNAD em 2015, e
é construída como um painel rotativo, em que os domicílios são visitados a cada três meses
por cinco trimestres consecutivos.
Vale ressaltar que a PNAD Contínua fornece dados trimestrais para todo o período de
interesse, o que significa uma vantagem em relação ao Censo Demográfico e também a POF.
Contudo, diversas pesquisas apontam que a PNAD Contínua superestima a renda dos mais
pobres em comparação com a POF. Isso é mais grave do que a subestimação dos mais ricos
como apontado anteriormente, afinal, a dificuldade é justamente captar renda dos mais ricos
que advém de outras fontes que não sejam os rendimentos do trabalho. Já em relação a outras
bases de dados de mercado de trabalho, a PNAD Contínua possui a vantagem de também
considerar rendimentos advindos do trabalho informal.
A PNAD Contínua capta a renda habitual (vencimentos médios, como salários e benefícios
regulares) e a renda efetiva do trabalho (adicionais eventuais e descontos). O rendimento
habitual tem como referência o próprio mês da entrevista, enquanto a renda efetiva, diz
respeito ao mês anterior (IBGE, 2017). Ou seja, a renda habitual possui menores impactos
quanto a efeitos de sazonalidade. Por isso, a variável dependente empregada na amostra foi a
variável rendimento habitual de todos os trabalhos.
𝑃𝑜𝑝𝑢𝑙𝑎çã𝑜 𝐷𝑒𝑠𝑜𝑐𝑢𝑝𝑎𝑑𝑎
𝑇𝑎𝑥𝑎 𝑑𝑒 𝐷𝑒𝑠𝑜𝑐𝑢𝑝𝑎çã𝑜 = 𝑃𝑜𝑝𝑢𝑙𝑎çã𝑜 𝑒𝑚 𝐼𝑑𝑎𝑑𝑒 𝑑𝑒 𝑇𝑟𝑎𝑏𝑎𝑙ℎ𝑎𝑟
× 100
Ou seja, é o quociente da População Desocupada (aqueles que estão na força de trabalho mas
que não estão trabalhando, apesar de estarem procurando) dividido pela População em Idade
de Trabalhar, ou População Economicamente Ativa (tem 14 ou mais anos de idade).
Logo, o modelo de série temporal aqui proposto pode ser representado pela seguinte equação:
𝑟𝑒𝑛𝑑𝑖𝑚𝑒𝑛𝑡𝑜𝑄𝑢𝑎𝑛𝑡𝑖𝑙 𝑖𝑡
= β 0
+ β 1
𝑇𝑎𝑥𝑎𝐷𝑒𝑠𝑜𝑐𝑢𝑝𝑎𝑐𝑎𝑜 𝑡
+ ε 𝑖𝑡
IV) Resultados
A) Fatos Estilizados
No Gráfico 2 é bastante nítida a inflexão e queda do rendimento médio com o início da crise
econômica e política, com o início de recuperação a partir de 2017. Isso significa que a série
de rendimento possui três momentos distintos na tendência: elevação, queda e em seguida
novo crescimento. É importante pontuar novamente que o gráfico representa somente o
rendimento de pessoas ocupadas, ou seja, há queda de rendimento médio mesmo entre
aqueles que permaneceram com fontes de renda advindas do trabalho.
B) Estimação
V) Conclusão
Portanto, propõe-se aqui uma sofisticação do exercício empírico a partir do uso da taxa de
desocupação desagregada por unidades de federação, permitindo expandir a base de dados e
possivelmente superando o problema aqui apontado.
SABOIA, J.; HALLAK NETO, J.; SIMÕES, A.; DICK, P. Mercado de trabalho, salário
mínimo e distribuição de renda no Brasil no passado recente. Revista de Economia
Contemporânea, v. 25, n. 2, e212521, p. 1-30, 2021