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Abstract
The article presents an analysis of the portion of the minimum wage allocated to the
purchase of the basic family basket in the city of Rio de Janeiro between the years 2010
and 2019, in order to verify whether the minimum wage meets its objectives specified in
the constitution, guaranteeing access to food, clothing, housing, transport, etc., to the
workers who receive it. The purchasing power of the minimum wage was used as an
indicator of social well-being. Data come from the Inter-Union Department of Statistics
and Socioeconomic Studies (DIEESE), and a log-linear regression model was constructed
and estimated using generalized least squares (GLS). The results showed a slight
improvement in the purchasing power of Rio citizens, but also showed that more than
half of the minimum wage is spent on food, compromising other primary needs.
Keywords: Minimum wage, Purchasing power, Social welfare.
Classificação JEL: E24; E21.
Área de Submissão: Economia Regional e Urbana.
1. Introdução
O salário-mínimo foi estabelecido em 1936 pela Lei 185, de 14 de janeiro, sendo
definido como a remuneração mínima devida ao trabalhador, independentemente de seu
gênero e de forma a ser capaz de satisfazer suas necessidades básicas de alimentação,
habitação, vestuário, higiene e transporte. A Consolidação das Leis do Trabalho (CLT)
de 1943, por sua vez, definiu em seu artigo 76 o salário-mínimo como um valor mínimo
pago diretamente pelo empregador a todo trabalhador por dia trabalhado, sendo também
preciso que este fosse suficiente para atender as necessidades básicas dos beneficiados.
Já a Constituição Federal de 1946 determinou que o salário-mínimo deveria contemplar
também as necessidades da família dos trabalhadores. Por fim, a Constituição Federal de
1988 definiu que, além do que já havia sido definido anteriormente, o salário-mínimo
deveria ser unificado em todo o território nacional, que o mesmo deveria garantir o poder
aquisitivo dos trabalhadores, sendo então necessário reajuste periódico de seus valores e
que educação, saúde, lazer e previdência social deveriam ser considerados como
necessidades básicas dos trabalhadores que o salário-mínimo deveria ser capaz de cobrir.
A Constituição de 1988 unificou e fixou em lei o salário-mínimo, além de ter
vinculado o mesmo ao piso dos benefícios previdenciários e assistenciais permanentes.
Entre 1994, ano da estabilização da inflação, e após 2000, a valorização do salário-
mínimo permitiu uma melhor recuperação do período inflacionário (IPEA, 2009). De
acordo com Kerstenetzky (2012), com a firmação do Pacto pela Valorização do Salário-
Mínimo em 2007, foi criado um mecanismo de reajuste capaz de incorporar o crescimento
da inflação e do produto ao aumento do salário-mínimo, o que também acabou
impactando as transferências governamentais do período, já que as mesmas (exceto o
Bolsa Família) tinham o mesmo como piso. Ainda segundo a autora, ocorria em paralelo
um movimento de formalização do trabalho e de redução do desemprego e este conjunto
de fatores permitiu um maior poder aquisitivo às camadas menos favorecidas da
sociedade e ampliou consideravelmente o consumo doméstico de massa, que acabou
sendo o principal responsável pelo crescimento do produto e da arrecadação fiscal.
Levando em consideração a importância do estabelecimento do salário mínimo e
de seus reajustes ao poder de compra das pessoas, o presente trabalho tem como objetivo
central analisar a parcela do salário mínimo destinada à compra da cesta básica familiar
na cidade do Rio de Janeiro. Através desta análise, é possível verificar se o salário mínimo
cumpre com seus objetivos no sentido de garantir a alimentação dos trabalhadores que o
recebem. Para tal, serão usados dados do DIEESE (Departamento Intersindical de
Estatística e Estudos Socioeconômicos), que desde 1959 estima o valor necessário do
salário-mínimo para garantir as necessidades básicas dos trabalhadores e de suas famílias.
Em relação ao corte temporal escolhido para executar a presente análise,
correspondem aos anos de 2010 a 2019. Esse período foi escolhido pelo fato de abarcar
eventos importantes que influenciam a economia brasileira como um todo e, desta forma,
desencadeiam possíveis efeitos nas variáveis de interesse em questão. Eventos como a
crise política que inicia em meados de 2015, com o segundo mandato da presidenta Dilma
Rousseff, e que se perpetua ao longo de todo o corte observado. Reforma trabalhista
implementada em 2017, que possui efeitos adversos no nível de emprego e,
consequentemente, no nível salário dos indivíduos. Como o último ano do intervalo
temporal corresponde ao ano de 2019, os dados estão livres dos efeitos devastadores da
crise sanitária de 2020 da COVID. Inclusive, será possível, posteriormente, uma
comparação entre o pré e pós pandemia.
2. Revisão da Literatura
O presente capítulo tem como objetivo apresentar, de forma clara e objetiva, os
principais autores e conceitos que servem como base para fundamentar o presente artigo.
Sendo assim, esse está dividido em seção única, descrevendo um breve histórico sobre as
transformações sociais brasileiras mais pertinentes.
3. Metodologia
O presente capítulo trata a metodologia adotada neste trabalho. Para viabilizar
uma pesquisa, se faz necessário detalhar todos os testes aplicados à essa, com a finalidade
de demonstrar a fluidez no processo de escolha dos métodos para abordar o problema
proposto. Esse capítulo foi dividido em duas partes, a primeira descreve os dados
utilizados nessa pesquisa. A segunda corresponde a construção e apresentação do modelo
econométrico utilizado nas análises.
3.1 Descrição dos dados
Os dados utilizados no presente trabalho são elaborados pelo Departamento
Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos – DIEESE. Neste, são
consideradas famílias com dois adultos e duas crianças. A estimativa é feita através do
acompanhamento de uma cesta básica alimentar em dezesseis capitais, nas quais é
estimado o gasto total com os demais itens, sendo a base o estrato de menor renda familiar
do ICV/SP (Índice de Custo de Vida das pessoas que habitam a cidade de São Paulo).
Dado que o estabelecimento do salário-mínimo pela Lei 185 de 1936 não era
uniforme entre os estados brasileiros, a cesta básica nacional foi elaborada para atender
as necessidades básicas do trabalhador individual como uma consequência da análise do
salário mínimo. Além disso, foram feitos estudos para que fosse estabelecido o salário-
mínimo de cada região. As quantidades dos itens da cesta básica variam entre as regiões
brasileiras, formando três blocos: Região 1 (Sudeste, Distrito Federal e Goiás), Região 2
(Norte e Nordeste) e Região 3 (Sul, Mato Grosso e Mato grosso do Sul). A composição
está apresentada na Tabela 1.
Tabela 1: Composição da Cesta Básica Alimentar Dividida por Regiões do Brasil
Embora o salário mínimo não seja uniforme entre as regiões, no presente estudo,
o rendimento considerado consiste no salário mínimo nacional, aquele instituído pelo o
Governo Federal. Os dados referentes à cesta básica alimentar são retirados da pesquisa
mensal feita pelo DIEESE, para a cidade do Rio de Janeiro, em que essas informações se
encontram no site do mencionado órgão.
3.2 Modelo econométrico
O modelo construído nesta seção tem como objetivo analisar o poder de compra
do salário mínimo em relação à cesta básica alimentar, no corte temporal que compreende
os anos de 2010 – 2019. Para isso, o modelo possui como variável dependente o salário
mínimo nacional, praticado em todo o território brasileiro, o comprometimento da cesta
básica carioca no salário mínimo e um componente de tendência. A parcela que é
comprometida do salário mínimo pela a cesta básica alimentar é obtida a partir da equação
1, em que o valor da cesta básica para um dado mês, é dividido pelo salário mínimo
vigente.
𝑉𝐶𝐵𝑖𝑗
𝐶𝑃𝑆𝑖𝑗 = (1)
𝑆𝑀𝑁𝑖𝑗
Em que,
CPS = comprometimento do salário mínimo pela cesta básica
VCB = valor da cesta básica familiar
SMN = salário mínimo nacional
i= Mês de referência, i =1, 2, 3,...., 12
j = Ano de referência, j = 1, 2, 3, ..., 19
Tomando como base a equação 1, é possível observar que a variável CPS é
inversamente relacionada com o salário mínimo e diretamente relacionada com o valor
da cesta básica. Isto significa que, aumentos no salário mínimo, ceteris paribus, diminui
o valor desta variável. Desse modo, é possível especificar o modelo na equação 2.
4. Resultados e discussões
Nesta seção são apresentados os resultados da análise exploratória dos dados e da
estimação da equação de regressão. É importante ressaltar que a equação do modelo
estimado se encontra no capítulo 3.
4.1 Análise exploratória dos dados
Com a finalidade de observar o comportamento das variáveis salário mínimo e
comprometimento, foram elaborados os gráficos 1 e 2. Em 1, a variável CPS se encontra
no eixo x e o tempo representado pela variável t no eixo y. Neste, cada linha representa
os anos que são compostos pelos meses descritos em t, ou seja, a linha temporal consiste
em todo o período considerado. Desse modo, observa-se, de modo geral, uma tendência
de crescimento da variável CPS. No final da série, observando os dois últimos anos, neste
caso 2018 e 2019, o percentual comprometido ultrapassa os 50% do valor do rendimento
em questão. Diante disso, considerando ao longo dos anos observados para a cidade do
Rio de Janeiro, os cariocas que receberam um salário mínimo, dispenderam mais da
metade deste rendimento para se alimentar. Lembrando que além da alimentação, um
indivíduo ainda necessita dispender com vestuário, habitação e transporte, direitos
garantidos pela Constituinte de 1988, que, claramente com o cenário descrito, fica
impossível conseguir suprir tais necessidades e ter acesso a esses direitos previsto pela
Carta Magna.
Sendo assim, para uma possível melhora desta situação, considerando apenas
essas duas variáveis, políticas de valorização do salário mínimo nacional seriam eficazes
apenas na condição ceteris paribus, em que os aumentos praticados neste rendimento não
fossem refletidos nos aumentos nas cadeias de produção e, logicamente, no preço final
dos produtos. Como economicamente este movimento é irreal, o governo brasileiro, além
de políticas de valorização salarial para vabilizar a possibilidade de um acréscimo do
poder aquisitivo dos indívuos descritos nesta análise, necessita praticar políticas que
possam combater à inflação, no mínimo nos produtos que compõem a cesta básica
alimentar. E, desse modo, praticar uma combinação entre essas duas abordagens. Em
2020, segundo o IBGE, cerca de 32% dos domicílios na capital do estado do Rio de
Janeiro, têm rendimentos nominal mensal per capito de até ½ salário mínimo.
4.2 Resultados do modelo de regressão
De acordo com o exposto no capítulo 3, a estimação da reta de regressão descrita
na equação 2 foi estimada por meio dos mínimos quadrados generalizados (MQG) com
uma defasagem AR(1). Os resultados estão dispostos na tabela 3.
5. Considerações Finais
No presente estudo foi possível analisar o poder de compra das familias que
possuem seus domicílios na cidade do Rio de Janeiro, e que recebem até 1 salário
mínimo. Este poder de compra foi analisado nos moldes dos dispendêncios em relação
à cesta básica alimentar. Para analisar este problema, foi construído um modelo de
regressão do tipo log-linear e estimado por meio de MQG.
Como resultado da estimação por MQG, foram encontradas estimativas que
podem ser consideradas como taxa de comprometimento mensal do salário mínimo
pela cesta básica alimentar carioca que, neste caso, para o corte tenporal considerado,
é igual a -0,37%. De modo similar foi encontrada a taxa de crescimento mensal de SMN
que corresponde ao percentual de 0,59. Essas taxas evidenciam uma ligeira melhora no
poder aquistivo do cidadão carioca, pelo fato da variável CPS crescer mensalmente
menos que o rendimento mínimo nacional. Porém, observando o salário mínimo como
uma política de promoção do bem-estar social, este se encontra bastante comprometido,
visto que, no presente estudo, observou-se que mais da metade deste é dispendido em
alimentação, deixando as demais necessidades primárias como habitação, transporte,
saúde e vestuário, praticamente impossíveis de serem sanadas.
Outro importante resultado consiste no bom ajuste do modelo de regressão log –
linear para analisar o problema proposto, demostrandos resultados e estimativas
bastante aceitáveis.
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