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Desigualdade de Renda no Ceará atinge nível mais baixo das últimas décadas.

Nº 48 Setembro/2012

Enfoque Econômico é uma publicação do IPECE que tem por objetivo fornecer informações de forma
imediata sobre políticas econômicas, estudos e pesquisas de interesse da população cearense. Por esse
instrumento informativo o IPECE espera contribuir para a disseminação, de forma objetiva, do conhecimento
sobre temas relevantes para o desenvolvimento econômico do Estado do Ceará.

1. Desigualdade de Renda e o Índice de Gini

Após duas décadas (anos 80 e 90) em que os indicadores de desigualdade de renda apontavam a grande
discrepância da distribuição de riquezas no país, a década de 2000 apresentou uma nova trajetória com a
redução das disparidades de rendimentos. No estado do Ceará, que já foi reconhecido como um dos mais
desiguais, a distribuição da renda apresentou uma melhora significativa na última década.

A desigualdade tem um impacto direto sobre o bem-estar social de uma população, uma vez que as sociedades
têm preferência por eqüidade considerando-a como um traço de justiça social. Um nível de desigualdade
muito elevado impõe uma série de custos sociais e econômicos à atividade produtiva e à sociedade. A elevada
concentração da renda reduz o efeito potencial que o crescimento econômico tem sobre a redução da pobreza,
dificultando a apropriação, por parte das pessoas mais pobres, dos benefícios proporcionados por um aumento
da renda média. Considerando estes aspectos, a compreensão da dinâmica da desigualdade provê informações
relevantes para tomada de decisão e formulação de estratégias de políticas públicas mais efetivas.

A mensuração da desigualdade de renda é realizada com o cálculo de alguns indicadores, dos quais se destaca
o Índice de Gini. O valor do índice se limita no intervalo entre 0 (zero) e 1(um), onde 0 (zero) corresponde à
completa igualdade e 1 (um) corresponde à completa desigualdade, ou seja, uma pessoa detém toda a renda.
Isto é, quanto mais os valores do Índice de Gini, se afastarem de 0 (zero) maior será a desigualdade. O Índice
de Gini é construído com base na Curva de Lorenz que mostra como a proporção acumulada da renda varia
em função da proporção acumulada da população, estando os indivíduos ordenados pelos valores crescentes
da renda. A grande vantagem deste tipo de coeficiente é que ele é uma medida de desigualdade calculada por
meio de uma análise de razão tornando-o simples e facilmente interpretado.

Os dados utilizados para o cálculo do Índice de Gini do Ceará e apresentados no presente documento foram
obtidos a partir das últimas edições (2001 a 2011) da Pesquisa por Amostra de Domicílios, a PNAD, realizada
pela Fundação Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE1. O índice foi calculado considerando a
renda domiciliar per capita obtida pela soma dos rendimentos domiciliares de todas as fontes e dividindo esse
valor pelo número de residentes nos domicílios.

2. Desigualdade de Renda no Ceará

Nas últimas duas décadas do século XX a desigualdade de renda no Ceará mensurada pelo índice de Gini
ficou em valores quase sempre maiores que 0,6. Ao longo da década de 80 o índice de Gini mostrou valores
entre 0,59 (em 1981) e atingiu valores entre 0,65 e 0,66 (entre 1988 e 1989). Durante os anos 90, em nenhum
momento o índice ficou abaixo de 0,61.

1
A PNAD é realizada normalmente no mês de setembro, tendo dados e indicadores disponibilizados no ano posterior. Essa pesquisa
não é realizada em anos de Censo Demográfico como é o caso dos anos de 2000 e 2010.
Desigualdade de Renda no Ceará atinge nível mais baixo das últimas décadas.

Nº 48 Setembro/2012

Na década de 2000 o índice de Gini mostra uma redução histórica da desigualdade de rendimentos. No Ceará,
a desigualdade de renda apresentou uma forte queda de 0,61 em 2001 para 0,567 em 2003; e entre 2005 e
2006, quando caiu de 0,58 para 0,548. Desde então vem mantendo uma tendência de queda mais lenta.
Mesmo com a desaceleração na redução na desigualdade de renda nos últimos 5 anos, o Índice de Gini
calculado para o Ceará atingiu, em 2011 o valor de 0,539, o menor da série histórica, não só nos 10 anos
considerados aqui e apresentados no Gráfico 1; mas dentre valores calculados para os últimos 30 anos2.

Gráfico 1. Trajetória do índice de Gini – Ceará (2001-2011)


0.6200

0.6000

0.5800

0.5600

0.5400

0.5200

0.5000
2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011

Fonte: IBGE/PNAD. Cálculo do IPECE.

Uma forma de analisar a redução da desigualdade de renda mensurada pelo Índice de Gini é considerar a
composição da renda domiciliar per capita e a desigualdade na distribuição dos componentes dessa renda.
Aqui, por simplicidade do argumento, consideramos a renda dividida em dois componentes: a renda que é
proveniente diretamente do trabalho (principalmente salários) e a renda que não é provida pela atividade
laboral, como rendimentos de aluguéis, pensões e aposentadorias e transferências de programas sociais.

A composição da renda das famílias cearenses não sofreu tantas alterações entre 2001 e 2010. Conforme pode
ser visto no Gráfico 2, os rendimentos do trabalho diminuíram a sua participação em 1% nos 10 anos
considerados, em detrimento do ganho em mesma proporção dos outros rendimentos. Essa elevada
participação dos rendimentos do trabalho é um ponto chave para a compreensão da dinâmica da redução da
desigualdade.

2
Valores do Índice de Gini para as décadas de 80 e 90 podem ser visualizados na página do Instituto de Pesquisa Econômica
Aplicada (IPEA): http://www.ipeadata.gov.br/.
Desigualdade de Renda no Ceará atinge nível mais baixo das últimas décadas.

Nº 48 Setembro/2012

Gráfico 2. Composição da renda domiciliar – Ceará (2001 e 2011)


2001 2011

28% 29%

72% 71%

Rendimentos do trabalho Outros rendimentos

Fonte: IBGE/PNAD. Cálculo do IPECE.

Mas se a composição não mudou muito a ponto de provocar grandes mudanças no Índice de Gini, a
concentração dos rendimentos (medida pela razão de concentração) que compõem a renda avançou
significativamente. No Gráfico 3 é possível observar que a medida de concentração dos rendimentos do
trabalho e de outras fontes diminuiu ao longo da década de 2000.

Gráfico 3. Medida de Concentração dos componentes da renda – Ceará (2001 e 2011)


0.630
0.616

0.610 0.598
0.586
0.590 0.579
0.591 0.593 0.570
0.566 0.563
0.570 0.559 0.561
0.554
0.550 0.563
0.558

0.530
0.528
0.510 0.519
0.506
0.490 0.498 0.501

0.470
0.468
0.450
2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011

Rendimentos do  trabalho Outros Rendimentos

Fonte: IBGE/PNAD. Cálculo do IPECE.

Comparando a concentração dos dois tipos de rendimentos, tem-se que a magnitude da redução da
desigualdade na distribuição dos rendimentos que não são provenientes do trabalho é bastante significativa.
Isso se deve principalmente ao acesso a fontes de renda por parte da população mais pobre, o que garante
méritos aos programas de transferência de renda que se tornaram mais importantes ao longo da década. Esse
efeito, no entanto, é limitado pela composição média da renda domiciliar e pelo alcance dos programas
sociais.
Desigualdade de Renda no Ceará atinge nível mais baixo das últimas décadas.

Nº 48 Setembro/2012

No que diz respeito à queda do Índice de Gini, a avaliação deve considerar conjuntamente os dois fatores
citados anteriormente, participação na renda e redução da desigualdade na distribuição. Sob essa ótica, os
rendimentos do trabalho assumem o papel principal na redução na desigualdade de renda. Isso porque a renda
laboral responde por mais de 70% dos rendimentos das famílias cearenses, o que torna qualquer mudança em
sua distribuição altamente impactante no índice de desigualdade.

Quando observamos a medida de concentração dos rendimentos do trabalho observa-se uma clara evidência
de que este componente se estabilizou nos últimos anos. Esse comportamento é extremamente importante para
a manutenção da tendência de queda no Índice de Gini e é o principal fator para que a redução na
desigualdade de renda tenha sofrido uma desaceleração nos períodos mais recentes.

A tendência de redução da desigualdade de renda depende diretamente da desigualdade de rendimentos do


trabalho que, por sua vez, depende de fatores dentre os quais se destaca a educação. A educação e os retornos
proporcionados pela escolaridade em termos de melhores rendimentos se apresentam atualmente como
principal mecanismo para a redução da desigualdade via mercado de trabalho.

3. Considerações Finais

O Índice de Gini mostra uma redução histórica na desigualdade de renda no Ceará, atingindo os menores
valores nas três últimas décadas. O rápido decaimento da desigualdade na primeira metade da década de 2000,
promovida pela consolidação e a expansão de programas sociais, passou para uma redução mais lenta, mas
não menos consistente. O índice, em sua própria natureza, não possibilita observar grandes variações de um
ano para o outro sem que haja grandes mudanças estruturais na distribuição da riqueza e de dotações das
pessoas, principalmente em termos de educação.

Os limites para a redução na desigualdade dos rendimentos do trabalho são os mesmo para que a desigualdade
de renda possa manter uma tendência declinante em longo prazo no Ceará. Esses limites estão calcados na
redução da desigualdade educacional que hoje constitui um dos principais focos das políticas públicas
realizadas pelo Estado, como a expansão do ensino profissional e os programas de melhoria da qualidade do
ensino.

Governador: CID FERREIRA GOMES


Secretário da SEPLAG: Eduardo Diogo
Diretor-Geral do IPECE: Flávio Ataliba
Diretor da DIEEC: Adriano Sarquis Bezerra de Menezes
Diretor da DISOC: Régis Façanha Dantas
Elaboração: Vitor Hugo Miro (coordenação)
Victor Hugo de Oliveira

SEPLAG: www.seplag.ce.gov.br; IPECE: www.ipece.ce.gov.br


Centro Administrativo Governador Virgílio Távora/Cambeba
Fone: (85) 3101.3496

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