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Bem-Estar Trabalhista,

Felicidade e Pandemia
Sumário Executivo

Marcelo Neri
FGV Social
Sum

https://cps.fgv.br/FelicidadeNaPandemia
NERI, Marcelo C.

“Bem-Estar Trabalhista, Felicidade e Pandemia - Sumário Executivo“ (Marcelo


Neri), Rio de Janeiro, RJ – 2021 - FGV Social – 17 páginas.
https://cps.fgv.br/FelicidadeNaPandemia

1.Desigualdade. 2. Bem-estar Social. 3. Felicidade. 4. Percepção. 5. Dados Globais

As manifestações expressas por integrantes dos quadros da Fundação Getulio Vargas, nas quais
constem a sua identificação como tais, em artigos e entrevistas publicados nos meios de comunicação
em geral, representam exclusivamente as opiniões dos seus autores e não, necessariamente, a
posição institucional da FGV. Portaria FGV Nº19.

2
Bem-Estar Trabalhista, Felicidade e Pandemia

Marcelo Neri1

Resumo
Indicadores objetivos de performance trabalhista como desigualdade, média e bem estar
baseados em renda per capita do trabalho apresentam piora inédita na pandemia. A média das
rendas individuais do trabalho na população de idade incluindo os informais e os sem trabalho.
caiu 10,89% na pandemia, a queda de renda da metade mais pobre foi 20.81% quase duas vezes
maior que a da média.
Indicadores subjetivos como satisfação com a vida apresentaram queda maior na base da
distribuição de renda. A diferença de satisfação com a vida entre os extremos de renda era de 7,9%
em 2019 sobe para 25,5%. Ou seja, há aumento da desigualdade de felicidade na pandemia.
Na comparação do Brasil com a média de 40 outros países observamos perda relativa de
felicidade brasileira como em todos cinco outros indicadores subjetivos de emoções cotidianas
estudados s saber: raiva, preocupação, estresse, tristeza e divertimento. Por exemplo, a
sensação de raiva sobe de 19% em 2019 para 24% em 2020 dos brasileiros, um aumento de 5
pontos de porcentagem. No mundo este avanço foi de 0,8% pontos percentuais. Ou seja, a raiva
aumenta 4,2 pontos percentuais a mais no Brasil durante a pandemia que no resto do mundo.

1
Diretor do FGV Social/CPS. Professor da FGV EPGE, Fundação Getulio Vargas, marcelo.neri@fgv.br

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Roteiro
Indicadores Objetivos (Trabalhistas Brasileiros)
 Desigualdade
 Prosperidade
 Bem-Estar Social
 Por que Piorou?

Indicadores Subjetivos (Comparações Internacionais)


 Felicidade (Média x Distribuição)
 Raiva
 Preocupação
 Stress
 Tristeza
 Divertimento

Conclusões (Sumário)

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Bem-Estar Trabalhista, Felicidade e Pandemia
Posfácio das Pesquisas A Escalada da Desigualdade e Como vai a Vida?
com dados até Março de 2021
Marcelo Neri2

A pesquisa “A Escalada da Desigualdade”, lançada em agosto de 2019, revelou que o Brasil


vivia a alta mais demorada da desigualdade de renda do trabalho nas séries históricas. Foram
17 trimestres consecutivos de alta quando comparados ao mesmo período do ano anterior. Seis
meses depois a pandemia do Covid-19 chega ao pais; - o que houve com a desigualdade e a
prosperidade trabalhistas desde então? E os indicadores subjetivos de felicidade?

O Topo da Desigualdade - Trabalhamos aqui com o conceito de renda efetiva do trabalho


aqui que capta o dinheiro de fato recebido pela população o que mostra mais adequado na
pandemia onde isolamento social e suspensão temporária de contrato de trabalho afetam os
recursos recebidos. Trabalhamos com o conceito familiar per capita que sintetiza o processo
de mudança trabalhista para todos os membros dos domicílios. No gráfico abaixo tiramos uma
média móvel de quatro trimestres consecutivos. A pesquisa anterior já apontava que o aumento
observado no último trimestre era o menor da série de aumento consecutivos demonstrando
tendência a estabilização num patamar muito alto. O índice de Gini de 0,642 em 2020.T1 mais
de três centésimos maior que 0,610 observado em 2015.T1. A literatura considera este
movimento um grande salto de desigualdade. A pandemia adiciona mais três centésimos
levando até 0.674 em 2021T1, nosso recorde nas series histórica.

Evolução do Índice de Gini (Média Móvel de 4 Trimestres)

Dois grandes saltos de desigualdade:


O último na pandemia

Fonte: FGV Social/CPS a partir de microdados da PNADC trimestral/IBGE. OBS: Renda Efetiva Domiciliar Per Capita do Trabalho

2
Diretor do FGV Social/CPS. Professor da FGV EPGE, Fundação Getulio Vargas, marcelo.neri@fgv.br

5
Prosperidade - Complementando agora as informações da média com últimos dados
disponíveis comparados ao mesmo período de referidos anos anteriores. No trimestre de
Janeiro a Marco de 2020 a renda média alcança o maior ponto da série R$ 1122 e em menos
de um ano cai 11,3% e vai para o ponto mais baixo da série histórica de R$ 995, primeira vez
abaixo de um mil reais mensais.

Evolução da Renda Média Per Capita (Média Móvel de 4 Trimestres)

Renda média vai do maior ao menor


nível com a pandemia: Queda de 11,3%

Fonte: FGV Social/CPS a partir de microdados da PNADC trimestral/IBGE. OBS: Renda Efetiva Domiciliar Per Capita do Trabalho

Bem Estar Social - Integramos a evolução da média com a desigualdade como componentes
da medição do bem-estar geral da nação, tal como proposto pelo Nobel de economia Amartya
Sen. O conceito de bem-estar social desconta da média geral de renda as diferenças de renda
entre brasileiros medido pelo índice de Gini. O gráfico bem-estar trabalhista nos permite
mostrar um empate técnico do nível em 2020T1 com o do início da série histórica em 2012 em
torno de R$ 400, ou seja não houve progresso social liquido nesta década. No ano seguinte da
pandemia o bem estar cai 19,4%, que representa o novo piso da série histórica em R$ 324.

Evolução do Bem-Estar Social (Média Móvel de 4 Trimestres)

Bem Estar Social Objetivo que combina Prosperidade e Igualdade


não avançou na década (valor de 2013T1 similar a de 2029T1).
Pandemia gera perda inédita: Queda de 19,4%

Fonte: FGV Social/CPS a partir de microdados da PNADC trimestral/IBGE. OBS: Renda Efetiva Domiciliar Per Capita do Trabalho,
BES = media (1-Gini)

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Um ano depois podemos também datar primeiro trimestre de 2021 (2021.T1) como o pior ponto
da crise social. Há coincidência temporal do ápice de renda média com o mínimo da
desigualdade em 2014.T4. Como resultado desta conjunção de fatores o pico de bem-estar se
situa neste mesmo instante. O bem-estar social apresentado caiu quase continuamente até
2017.T1, depois desta regressão se mantém em patamar similar a este que coincide com o do
início da série em 2012. Portanto, diferentemente da renda per capita média, o bem-estar
permaneceu próximos a estes níveis até a pandemia. Isso quer dizer que, em termos bem-estar
geral da nação, não se podia falar em recuperação, mesmo que tímida até a pandemia. Essa
aparente contradição ocorreu, pois, a recuperação da renda média foi neutralizada pela contínua
alta da desigualdade. A queda de 19,4% do Bem Estar na pandemia por sua vez se dá pelas
perdas nas duas frentes.

Pobres perderam mais - Olhando mais uma vez para o período 2020.T1 a 2021.T1 (sem media
móvel), Aqui usamos rendas individuais do trabalho na população de idade incluindo os sem
trabalho. A média geral de renda caiu 10,89% neste interim enquanto a metade mais pobre.
separando a metade mais pobre a queda de renda deste grupo foi 20.81% queda quase duas
vezes maior que a da média. Esta ° uma medida alternativa de bem estar.

Decomposição de Renda pelos Ingredientes Trabalhistas 2020 T1 a 2021 T1

Taxa de Participação
Renda de Todos Salário-Hora por Taxa de Ocupação na no Mercado de
Trabalhos = Anos de Estudo x Anos de Estudo x Horas Trabalhadas x PEA x Trabalho
10

5
3.53 4.35
3.02 2.29
0

-5 -3.16
-5.09
-10 -8.95
-7.89
-9.81
-10.89 -10.84
-15

-20 Taxa de Variação Trabalhista 2020.T1 a 2021.T1 Total Metade + Pobre


-20.81 Renda individual dos 50% mais pobres tem queda 2 vezes maior = 20,8%.
-25

Fonte: FGV Social/CPS a partir de microdados da PNADC trimestral/IBGE. OBS: Renda Efetiva individual do Trabalho

Por que piorou? – Olhando mais uma vez para o período 2020.T1 a 2021.T1 (sem media
móvel, realizamos decomposição das mudanças da renda média individual de todos os
brasileiros, inclusive os desocupados. Como vimos, a renda média geral cai 10,89% neste
interim. Na verdade, o aumento da taxa de desemprego explica 3.16 pontos de porcentagem

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da queda de renda. Isto é se tudo mais ficasse parado, como salário, jornada de trabalho, taxa
de participação no mercado de trabalho etc a queda de renda coincidiria com estes -3.16 pontos
de porcentagem. Em particular, a queda da taxa de participação de 5,09 pontos de porcentagem
sugere desencorajamento daquele que estava dentro ou fora do mercado de trabalho a participar
ativamente buscando emprego ou trabalhando. Ou seja, mais de 80% da queda de renda
trabalhista media foi por perda de ocupação e não tanto efeito do desemprego Os três elementos
ligados ao rendimento médio do trabalho quase se compensam gerando perda combinada
inferior a 3 pontos de porcentagem no período

Na metade mais pobre observamos importância similar do efeito desocupação explicando mais
de 80% da queda de renda de 20,89% deste grupo. O efeito desemprego domina com 8.95
pontos de porcentagem e a redução da participação no mercado de trabalho contribui com 7,89
pontos de porcentagem. Em suma, a perda de ocupação (desemprego e participação trabalhista)
foi o principal responsável pela queda de poder de compra médio dos brasileiros.

Perda de ocupação explica 80% da perda de 10,8% da média e de 20,9% dos 50%-.

Felicidade foi embora - Indo a medidas subjetivas de bem estar, resultado de respostas diretas
das pessoas sobre a sua vida. Começamos com medida geral de felicidade dada por uma nota
de avaliação de satisfação com a vida numa escala 0 a 10. Pegando os dados da pesquisa Como
Vai a Vida? lançada pela FGV Social observamos na pandemia queda sobre queda pois a nota
de felicidade tupiniquim já tinha tido a terceira maior piora entre 130 países nos quatro anos
anteriores de 2014 a 2018. Depois recupera 0,3 pontos em 2019 e tem uma queda de 0,4 pontos
em 2020, chegando a 6,1 em 2020 o menor ponto da série histórica desde 2006.

Nota Média de Satisfação com a Vida Presente (Escala 0 a 10)


7,2
7,1
7,0
6,8
6,6 6,6
6,5
6,4
6,2
6,1
6,0
2006

2007

2008

2009

2010

2011

2012

2013

2014

2015

2016

2017

2018

2019

2020

Fonte: FGV Social a partir do Gallup World Poll.

A felicidade geral da nação que vinha caindo desde 2013 tem queda de 0,4 pontos na
pandemia, chegando a 6,1 em 2020 o menor ponto da série histórica de 15 anos.
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Paralelo de Bem Estar – Até que ponto as flutuações observadas no binômio desigualdade e
prosperidade sintetizadas na medida de bem estar social se reflete na felicidade aferida
diretamente pelas pessoas. Nossas pesquisas mostram que bem estar objetivo e subjetivo
caminham de mãos dadas. Há uma correlação de 0,72 entre felicidade e bem estar trabalhista.

Satisfação com a Vida (Felicidade) e Bem-Estar Trabalhista (2012=100)

110
105
100
<-Correlação 0,72->
95
90
85
Felicidade Bem-Estar
80
2012

2013

2014

2015

2016

2017

2018

2019

2020
Fonte: FGV Social a partir do Gallup World Poll e da PNADC.

Há um paralelo entre a medidas objetivas e subjetivas de Bem Estar

Desigualdade de Felicidade - Fazendo a analise desta perda de felicidade entre 2019 e 2020
ao longo da distribuição de renda brasileira conforme gráficos a seguir. A diferença de nota de
felicidade é mostrada na última coluna da tabela abaixo. Notamos que toda a queda da felicidade
geral se dá nos 40% mais pobres (-0,8%) e no grupo do meio (-0.2) situados entre 40% a 60%. Já os
grupos mais abastados situados entre 60% a 80% e nos 20% mais ricos tem manutenção e ligeira alta,
respectivamente da satisfação com a vida. Ou seja, há marcado aumento da desigualdade de felicidade
na pandemia. Este dado é consistente com a evolução de desigualdade trabalhista. O resultado é que a
nota média de felicidade dos 40% mais pobres fica em outro patamar (5,5) em relação aos grupos de
renda mais alta, todos acima de 6, chegando a 6.9 nos 20% mais ricos. A diferença entre os extremos
era de 7,9% em 2019 sobe para 25,5% na pandemia.
6.2
Nota de Satisfaçao com a Vida Presente por Quintil de Renda Nivel e Mudança na Pandemia
6.0
Antes da Pandemia Durante a Pandemia Perda na Pandemia
5.8
40% + Pobres 6.3 5.5 -0.8
5.6
40% a 60% 6.4 6.2 -0.2
5.4
60% a 80% 6.5 6.5 0.0
5.2
20% + Ricos 6.8 6.9 0.1
5.0
Fonte: FGV Social a partir do Gallup World Poll.

9
Nota de Felicidade ao longo da Distribuição de Renda (Escala 0 a 10)
Antes (2019) e Durante (2020) a Pandemia

7,0 6,8 6,9


6,8
6,6 6,5 6,5
6,4
6,4 6,3
6,2
6,2
6,0
5,8
5,6 5,5
5,4
5,2
5,0
40% + Pobres 40% a 60% 60% a 80% 20% + Ricos
Antes da Pandemia Durante a Pandemia

Fonte: FGV Social a partir do Gallup World Poll.


Há marcado aumento da desigualdade de felicidade. Distancia de satisfação com a vida entre
extremos de renda sobe de 7,9% para 25.5%.

Mudança de Nota de Felicidade na Pandemia ao longo da Distribuição de Renda (em pontos)

0,2 0,1
0,0
0,0

-0,2
-0,2
-0,4

-0,6

-0,8
-0,8
-1,0
40% + Pobres 40% a 60% 60% a 80% 20% + Ricos

Fonte: FGV Social a partir do Gallup World Poll.


Toda a queda da felicidade geral se dá nos 40% mais pobres (-0,8) e no grupo do meio (-0.2)
Ou seja, há marcado aumento da desigualdade de felicidade na pandemia.

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Comparações Internacionais na Pandemia - A pandemia do Covid-19 talvez seja o maior
choque global já observado pois afeta de maneira marcada o dia a dia das pessoas ao redor do
globo terrestre. Usamos como quase experimento a comparação do Brasil com 40 outros países
pesquisados que cobrem da Áustria, passando pela China chegando a Zimbawe.

Tratamento e Controle – O Gallup desde de 2005 cobre a população de 15 anos ou mais de


idade de mais de 130 países com o mesmo questionário. Fruto da pandemia houve restrição de
cobertura e atraso na feitura dos dados do Gallup World Poll em 2020 chegando a 51 países. O
primeiro passo foi separar as entrevistas realizadas antes dos efeitos da pandemia se tornarem,
generalizados. Tiramos da amostra 10 países cuja entrevista terminou antes de 4 de maio de
2020 (May 4th, 2020)3. A lista de 40 países tiveram sua amostra iniciada antes de 8 de Julho de
2020 (July, 8th 2020).

Lista de Países usados no grupo de Controle e respectivas Datas das Pesquisas:


1. Albania Sep 7 – Oct 6, 2020 21. Japan Aug 7 – Oct 8, 2020
2. Austria Aug 24 – Sep 19, 2020 22. Mauritius Jul 24 – Aug 27, 2020
3. Bahrain Aug 6 – Aug 23, 2020 23. Moldova Oct 7 – Nov 16, 2020
4. Belgium Aug 19 – Sept 19, 2020 24. Morocco Oct 8 – Nov 10, 2020
5. Bolivia Sep 25 – Oct 28, 2020 25. Poland Sep 25 – Oct 24, 2020
6. Canada Aug 3 – Sep 21, 2020 26. Russia Aug 19 – Oct 2, 2020
7. China Sep 8 – Oct 28, 2020 27. Saudi Arabia Aug 9 – Aug 27, 2020
8. Colombia Aug 21 – Oct 27, 2020 28. Serbia Sep 18 – Oct 25, 2020
9. Croatia Sep 22 – Nov 2, 2020 29. Slovakia Sep 9 – Oct 9, 2020
10. Cyprus Jul 20 – Sep 27, 2020 30. South Korea Aug 25 – Oct 7, 2020
11. Denmark Sep 14 – Oct 10, 2020 31. Spain Aug 24– Sep 17, 2020
12. Dominican Republic Sep 24 – Oct 23, 2020 32. Switzerland Sep 7 – Oct 9, 2020
13. Ecuador Aug 26 – Oct 23, 2020 33. Taiwan Jul 9 – Jul 31, 2020
14. Egypt Oct 24 – Nov 12, 2020 34. Tunisia Sep 19 – Oct 7, 2020
15. France Sep 7 – Oct 2, 2020 35. Turkey Oct 3 – Oct 23, 2020
16. Germany Aug 24 – Sep 19, 2020 36. Ukraine Sep 20 – Oct 19, 2020
17. Iceland Aug 31 – Oct 12, 2020 37. United Emirates Aug 9 – Sep 7, 2020
18. Iran Aug 5 – Aug 12, 2020 38. United Kingdom Aug 17 – Sep 12, 2020
19. Ireland Aug 17 – Sep 12, 2020 39. Zambia Oct 4 – Oct 28, 2020
20. Italy Aug 24 – Sep 16, 2020 40. Zimbabwe Sep 21 – Oct 24, 2020

3
Isto corresponde a lista de 10 paises e respectivas datas da pesquisa, a seguir: United States Mar 16 – May 8,
2020; Sweden Mar 30 – Apr 29, 2020; Slovenia Mar 13 – Apr 18, 2020; Portugal Mar 20 – Apr 16, 2020; Norway
Mar 24 – May 4, 2020; New Zealand Feb 17 – Mar 23, 2020; Netherlands Mar 11 – May 15, 2020; Malta Mar 8
– Apr 24, 2020; Finland Mar 26 – May 13, 2020; Australia Feb 04 – Mar 22, 2020

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No caso brasileiro que figura como grupo de tratamento em nosso quase experimento a
primeira entrevista foi feita entre 27 de Agosto e 25 de Outubro de 2019 e a pergunta final foi
feita entre 10 de Setembro e 11 de Novembro de 2020.

A partir do processamento do Gallup World Poll observamos que a nota de satisfação da vida
presente do brasileiro, numa escala de 0 a 10, caiu de 6,5 em 2019 para 6,1 em 2020. No resto
do mundo a nota tinha ficado parada durante a pandemia em torno de 6,0. Ou seja, há marcada
involução de felicidade no Brasil que não aconteceu.

Nota Média de Satisfaçao com a Vida Nível e Mudança na Pandemia Brasil e o Mundo
2019 2020 Dif =2020-2019
Brasil 6.50 6.10 -0.40
Mundo 40 paises 6.02 6.04 0.02
Dif em Dif -0.42

Felicidade média tem queda forte no Brasil mas fica estável nos demais países do mundo.

Emoções cotidianas – Em contraste com a satisfação com a vida presente há medidas mais
pontuais de bem estar que pergunta emoções sentidas em quantidades relevantes na véspera da
pesquisa. O ambiente de incerteza da pandemia nos leva a filosofia de nos preocuparmos um
dia depois do outro, tornando particularmente útil esta evidencia. Nos referimos por exemplo
ao sentimento de raiva, preocupação, estresse (stress),tristeza e divertimento. Por exemplo a
raiva sobe de 19% em 2019 para 24% em 2020 dos brasileiros com 15 anos ou mais, Uma
mudança de 5 pontos de porcentagem. No mundo este avanço foi de 0,8% pontos percentuais.
Ou seja, aumenta 4,2 pontos percentuais a mais no Brasil durante a pandemia que no resto do
mundo. Similarmente: preocupação sobe 3,6 pontos percentuais a mais no Brasil; estresse sobe
2,9 pontos percentuais a mais no Brasil; tristeza sobe 2.2 pontos percentuais a mais no Brasil.
E finalmente divertimento que e uma emoção positiva cai 6,8 pontos percentuais a mais no
Brasil. Em suma, todos indicadores subjetivos cotidianos de bem estar considerados pioraram
mais no Brasil na pandemia que a média dos 40 demais países.

Experimentou Raiva Ontem


2019 2020 Dif =2020-2019
Brasil 19% 24% 5%
Mundo 40 paises 19.2% 20.0% 0.8%
Dif in Dif 4.2%

12
Experimentou Preocupaçao Ontem
2019 2020 Dif =2020-2019
Brasil 56% 62% 6%
Mundo 40 paises 38.5% 40.9% 2.4%
Dif in Dif 3.6%

Experimentou Estresse Ontem


2019 2020 Dif =2020-2019
Brasil 43% 47% 4%
Mundo 40 paises 39.0% 40.1% 1.1%
Dif in Dif 2.9%

Experimentou Tristeza Ontem


2019 2020 Dif =2020-2019
Brasil 26% 31% 5%
Mundo 40 paises 23.0% 25.8% 2.8%
Dif in Dif 2.2%

Se Divertiu Ontem
2019 2020 Dif =2020-2019
Brasil 72% 66% -6%
Mundo 40 paises 69.2% 70.0% 0.8%
Dif in Dif -6.8%

Todos indicadores subjetivos cotidianos de bem estar pioraram mais no Brasil na pandemia
que nos demais países.

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Conclusão

Pouco mais de um ano depois a pandemia do Covid-19 chegar ao país, o que houve com a
desigualdade e a prosperidade trabalhistas desde então? E os indicadores subjetivos de Bem
Estar como felicidade e emoções cotidianas? Como o Brasil se compara com o resto do mundo?

O Topo da Desigualdade -. A pandemia adiciona mais três centésimos ao índice de Gini


trabalhista levando até 0.674 em 2021T1, nosso recorde nas series histórica. A literatura
considera este movimento um grande salto de desigualdade

Prosperidade - No trimestre de Janeiro a Março de 2020 a renda média alcança o maior ponto
da série R$ 1122 e em menos de um ano cai 11,3% e vai para o ponto mais baixo da série
histórica de R$ 995, primeira vez abaixo de um mil reais mensais. Queda de 11,3%

Bem Estar Social - Integramos a evolução da média com a desigualdade como componentes
da medição do bem-estar geral da nação. O bem-estar trabalhista estava em empate técnico do
nível em 2020T1 com o do início da série histórica em 2012, ou seja não houve progresso social
liquido nesta década. No ano seguinte da pandemia o bem estar cai 19,4%, o novo piso da
série.

Pobres perderam mais - A media das rendas individuais do trabalho na população de idade
incluindo os sem trabalho. caiu 10,89% na pandemia, a queda de renda da metade mais
pobre foi 20.81% queda quase duas vezes maior que a da média.

Felicidade foi embora - Indo a medidas subjetivas de bem estar, resultado de respostas diretas
das pessoas sobre a sua vida. Começamos com medida geral de felicidade dada por uma nota
de avaliação de satisfação com a vida numa escala 0 a 10. O Brasil tem uma queda de 0,4
pontos em 2020, chegando a 6,1 o menor ponto da série histórica desde 2006.

+ Desigualdade de Felicidade – A queda da felicidade se dá nos 40% mais pobres (-0,8%) e no


grupo do meio (-0.2) situados entre 40% a 60% da renda. Já os grupos mais abastados mantiveram a
satisfação com a vida. Ou seja, há aumento da desigualdade de felicidade na pandemia. A diferença
de satisfação com a vida entre os extremos de renda era de 7,9% em 2019 sobe para 25,5%.

Comparações Internacionais - A pandemia do Covid-19 afeta de maneira marcada o dia a dia


das pessoas ao redor do globo terrestre. Usamos como quase experimento a comparação do
Brasil com 40 outros países pesquisados que cobrem da Áustria, passando pela China chegando
a Zimbawe. A nota média de satisfação da vida presente do brasileiro, caiu de 6,5 em 2019
para 6,1 em 2020. No resto do mundo a nota tinha ficado parada durante a pandemia em
torno de 6,0. Ou seja, há marcada perda relativa de felicidade no Brasil durante a pandemia.

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Emoções cotidianas – Há também medidas pontuais de bem estar que pergunta emoções
sentidas em quantidades relevantes na véspera da pesquisa. Nos referimos ao sentimento de
raiva, preocupação, estresse, tristeza e divertimento. A sensação de raiva sobe de 19% em
2019 para 24% em 2020 dos brasileiros, uma mudança de 5 pontos de porcentagem. No
mundo este avanço foi de 0,8% pontos percentuais. Ou seja, a raiva aumenta 4,2 pontos
percentuais a mais no Brasil durante a pandemia que no resto do mundo. Similarmente:
preocupação, stress e tristeza sobem, respectivamente 3,6, 2,9 e 2,2 pontos percentuais a mais
no Brasil do que no resto do mundo. Todos indicadores subjetivos de bem estar
considerados pioraram mais no Brasil na pandemia que a média dos 40 demais países.

Em geral, indicadores objetivos e subjetivos mostram na pandemia piora das desigualdades


dentro do Brasil e uma perda maior gerada para o país do que para o conjunto de 40
nações.

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Bibliografia

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