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Doutor em filosofia (Unisinos), professor de filosofia (IFIBE), militante de direitos humanos (CDHPF/MNDH)
e assessor institucional Cresol Central SC/RS. Escrito em 24/07/2019.
1
A raposa ao Pequeno Príncipe: “o essencial é invisível aos olhos” (SAINT-EXUPÉRY, Antoine de. O pequeno
príncipe. 48. ed. Trad. Dom Marcos Barbosa. Rio de Janeiro: Agir, 2009).
2
https://oglobo.globo.com/sociedade/ministro-ataca-fiocruz-diz-que-nao-confia-em-estudo-sobre-drogas-
engavetado-pelo-governo-23696922?. O Globo, em 28/05/2019.
3
https://gauchazh.clicrbs.com.br/colunistas/rosane-de-oliveira/noticia/2019/07/osmar-terra-diz-que-em-materia-
de-fome-brasil-esta-nos-niveis-de-japao-suecia-noruega-e-dinamarca-cjyh7wkic01xz01pby5j917di.html.
Gaúcha ZH, em 24/07/2019.
4
RASPE, Rudolf Erich. As surpreendentes aventuras do Barão de Münchhausen. Trad. Claudio Alves Marcondes.
Ilustr. Rafael Coutinho. São Paulo: Cosac Naify, 2014 [edição eletrônica]. Os números entre colchetes depois do
ano indicam a “página” eletrônica.
no mais reles dos sentidos, aquele que não tem sentido algum. Centrada no “puro mistério”, na
ausência completa de qualquer possibilidade de algum tipo de necessidade de ser evidenciada,
nem objetiva e nem subjetivamente, simplesmente qualquer coisa, qualquer dito, contanto que
dito por quem pode dizer, quem tem poder para tal, pode ser elevada à certeza absoluta,
indiscutível e incontestável, natural, eterna e perene: foi o “barão” que disse.
Não há possibilidade de crítica, porque simplesmente não é necessário debate, nem
mesmo doutrinação – quem faz doutrinação é que sustenta verdades e as usa para “convencer
forçosamente” aos outros. O que faz é dizer e dizer é mais do que “fazer coisas com palavras”
(Austin), dado que não há sequer a necessidade de algum vínculo entre o que se diz (palavras)
com qualquer coisa que seja ou simplesmente com qualquer coisa (mas não em sentido
pragmático), menos ainda com o que se faz. Está-se diante de tanto “nonsense” que, de tão dito
e repetido, vira “bom senso” e está “muito bem distribuído”. Nem Susan Haack, uma das mais
renomadas estudiosas das teorias da verdade, poderia imaginar alguma possibilidade tão
inaudita. Até o “paradoxo do mentiroso” por ela analisado5 ficaria ultrapassado com tanta
criatividade epistemológica, gnosiológica, lógica e ontológica.
Enfim, talvez o Pequeno Príncipe possa nos dar algum alento para seguirmos acreditando
que possamos voltar a enxergar e, quiçá, poder dizer a verdade, sem virar barão, ou ministro...
5
Haack diz que tal paradoxo “[...] vem em diversas variantes; a versão clássica diz respeito à sentença: (S) Esta
sentença é falsa. Suponhamos que S é verdadeira; então o que ela diz é o caso; logo ela é falsa. Suponhamos,
agora, que S é falsa; então o que ela diz não é o caso, logo ela é verdadeira. Assim, S é verdadeira sse S é falsa”
(HAACK, Susan. Filosofia das Lógicas. Trad. Cezar A. Mortari e Luiz H. de Araújo Dutra. São Paulo: UNESP,
2002, p. 185-186).