Você está na página 1de 22

ISSN 2307-3918

Artigo original

PARA ALÉM DA PERTENÇA ÉTNICA E CLUBISTA: futebol e identidade


nacional em Moçambique, 1974-2019
Mauro Manhanguele e Marlino Mubai
Departamento de História, Faculdade de Letras e Ciências Sociais, Universidade Eduardo Mondlane
(UEM), Moçambique

Resumo: O futebol é um desporto muito popular em Moçambique. Por vezes visto como uma actividade recreativa e
profissional, o futebol também desempenha um papel social e político. No entanto, apesar de ser um desporto de
massas, do ponto de vista sociopolítico, o futebol não tem recebido a devida atenção dos pesquisadores das ciências
sociais e humanas. Para contribuir no preenchimento desta lacuna, este artigo estuda a contribuição do futebol na
construção e fortalecimento da nação moçambicana. O artigo defende que, desde a proclamação da independência em
1975, o futebol tem desempenhado um papel importante no projecto de construção de uma nação forte, unida e
moderna. Argumenta ainda que, num contexto de guerras cíclicas e de instrumentalização política da diversidade étno-
linguística e regional, o governo de Moçambique tem apostado na popularidade do futebol para promover a ideia de
pertença a uma nação unida e soberana. Neste sentido, os jogos da Selecção Nacional de Futebol servem para unir os
moçambicanos na defesa da pátria, deixando de lado as diferenças étnicas e clubistas. O Campeonato Nacional de
Futebol no modelo “todos contra todos” que abrange clubes de todas as regiões do país, mas que se mostra
financeiramente insustentável, é apoiado por fundos públicos por se acreditar que contribui para a unidade nacional.
Metodologicamente, é um estudo qualitativo fundamentado no método histórico, procurando compreender os
acontecimentos políticos, sociais e desportivos ao longo do tempo. Neste processo, privilegia-se a análise de
documentos, revisão de literatura, observação não-participante e entrevistas com informantes-chave.
Palavras-chave: Moçambique, futebol, política, nação

BEYOND ETHNIC AND CLUB MEMBERSHIP: soccer and national identity


in Mozambique, 1974-2019
Abstract: Soccer is a very popular sport in Mozambique. Sometimes seen as a recreational and professional activity,
soccer also plays a social and political role. However, despite being a sport of masses, from a socio-political point of
view, soccer has not received due attention by researchers in social sciences and humanities. To fill this gap, this article
studies the contribution of soccer in the construction and strengthening of the Mozambican nation. The article argues
that, since the proclamation of independence in 1975, soccer has played a major role in the project of building a strong,
united and modern nation. The article further avers that, in a context of cyclical wars and political instrumentalization
of ethno-linguistic and regional diversity, the government of Mozambique has relied on the popularity of soccer to
promote the idea of belonging to an united and sovereign nation. In this regard, the matches of the national soccer team
serve to unite Mozambicans in defense of the homeland, leaving aside people’s ethnic and club differences. The
national soccer league in the model of all-against-all, involving clubs from all regions of the country, but which has
proved to be financially unsustainable, is supported by government funds because it is believed that it contributes to
national unity. Methodologically, is qualitative study based on the historical method to understand political, social and
sports events over time. In this process, it uses document analysis, literature review, non-participant observation and
interviews with key informants.
Keywords: Mozambique, soccer, politics, nation
_________________________
Correspondência para: (correspondence to:) manhangueleamauro@gmail.com

Rev. cient. UEM: Sér. ciênc. soc. Vol. 5, No 1, pp 21-42, 2023


21
M Manhanguele e M Mubai

Introdução símbolos e cores nacionais, mesmo os que


não têm apresso pelo futebol são contagiados,
O futebol é uma modalidade desportiva com
e em caso de vitória, os festejos acontecem
destaque central na sociedade moderna.
com muito entusiasmo em todas as províncias
Muitas das vezes visto apenas como uma
de Moçambique. Neste desiderato, os Mídias,
actividade recreativa e profissional, o futebol
particularmente a rádio e televisão
é também uma modalidade que desempenha
desempenham um papel fundamental na
um papel político preponderante. Entretanto,
mobilização e disseminação do projecto
apesar da sua relevância na sociedade
nacional através do futebol. A acção de
moçambicana no período pós-colonial, esta
mobilização sociopolítica é evidente desde o
modalidade desportiva tem ocupado um lugar
acompanhamento da preparação do jogo,
marginal na produção científica das ciências
durante o dia e depois do jogo. A sua
sociais e humanas. Para colmatar esta lacuna,
incidência e excessiva repetição faz com que
este artigo estuda o contributo do futebol na
mesmo os desinteressados tenham algum
construção e fortalecimento da nação
interesse, uma situação que confirma o
moçambicana. O artigo argumenta que desde
argumento do teórico Anderson (2006), que
a proclamação da independência nacional em
compreende que os Mídias têm um papel
1975, o governo de Moçambique liderado
importantíssimo na construção e
pela Frente de Libertação de Moçambique
fortalecimento das nações. Portanto, um jogo
(Frelimo) tem se aproveitado da grande
de futebol da Selecção Nacional permite uma
popularidade do futebol para alimentar o
mobilização e manifestação patriótica que
projecto de unidade nacional, fazendo com
poucas actividades e/ou acontecimentos
que esta modalidade esteja intimamente
nacionais possibilitariam.
relacionada com o projecto de edificação de
um país moderno e homogéneo. Num país Alguns dos sinais que demostram o
caracterizado por uma grande variedade engajamento do poder político, é a realização
étnica, cultural, linguística e divergências do Campeonato Nacional num modelo “todos
políticas, o futebol tem servido de factor contra todos em duas voltas’’, que já se
aglutinador. Isto se reflecte facilmente nos mostrou economicamente insustentável. A
jogos da Selecção Nacional, quando os intervenção directa do executivo na
moçambicanos se unem numa única causa, mobilização e alocação de fundos para
ignorando grandemente as suas diferenças, assegurar a realização da prova e o apoio a
substituindo-as por um sentimento de clubes através de empresas públicas são um
‘moçambicanidade’. Na asserção de indicador do reconhecimento do papel do
Hobsbawn (1990, p. 171), pessoas de futebol na materialização do projecto de
diferentes grupos étnicos se espelham numa construção da nação. A construção da
‘imaginária comunidade de milhões [que] unidade nacional é instrumentalizada para
parece mais real na forma de um time de onze justificar que propostas tecnicamente e
pessoas com nome’. Isto também se economicamente viáveis como a realização
assemelha à ideia de ‘comunidade de um Campeonato Nacional que comece a
imaginada’ de Anderson (2006), uma vez que nível regional e termine com a fase nacional
através do futebol, a comunidade torna-se sejam politicamente vetadas, sob o
real. argumento de que se estaria a dividir o país.
Outro indicador do papel do futebol na
Na ocasião de jogos importantes para a
construção da nação é a presença assídua de
Selecção Nacional, o país manifesta um
dirigentes políticos em todos jogos da
grande sentimento patriótico, as pessoas
Selecção Nacional ou durante o Campeonato
vestem roupas e outras se pintam com os
Rev. cient. UEM: Sér. ciênc. soc. Vol. 5, No 1, pp 21-42, 2023
22
Para além da pertença étnica e clubista: futebol e identidade nacional em Moçambique, 1974-2019

Nacional de Futebol. Em muitos casos, estes O método histórico também foi relevante na
dirigentes proferem discursos que realçam a produção deste artigo, na medida que a
importância desta modalidade na pesquisa abarca um período longo,
(re)construção das identidades nacionais. caracterizado por várias transformações,
continuidades e descontinuidades, tornando
Do ponto de vista metodológico, este artigo
fundamental interpretar estes processos e as
assenta-se no método qualitativo e histórico.
suas implicações ao longo do tempo e espaço.
Neste sentido, o método qualitativo apresenta
Neste contexto, a técnica da heurística
algumas técnicas que se enquadram nesta
permitiu a recolha e selecção das fontes,
pesquisa. A técnica de revisão da literatura
tendo em conta o espaço e o tempo, enquanto
visa buscar o enquadramento teórico da
a hermenêutica possibilitou interpretação a
pesquisa no debate global sobre o tema. Por
crítica das fontes, procurando compreender a
sua vez, a pesquisa e análise documental visa
coerência, validade e veracidade, bem como
trazer subsídios específicos que permitam
respondem a problemática do estudo. É
compreender a ligação do futebol e a
fundamental enquadrar o futebol no contexto
construção da nação em Moçambique. Na
político, social e económico em que esteve
pesquisa documental, as publicações
inserido, pois permitirá compreender o
jornalísticas constituem uma fonte relevante,
evento ao longo do tempo, tendo em conta a
na medida que possibilitam compreender o
conjuntura específica de cada época.
tipo de discurso dominante em relação ao
desporto na construção da nação num O futebol na construção de identidades
contexto em que os Mídias geralmente nacionais: uma visão global
transmitiam os ideais do regime. Como Booth O desporto sempre esteve intrinsecamente
(2006: 93) argumenta, o desporto moderno ligado a sociedade, por isso, a sua relevância
teve um desenvolvimento acompanhado por vai muito além das barreiras desportivas. Na
uma produção massiva de jornais, fazendo concepção de Costa (1991, p. 101), o
com que os jornais constituam uma fonte desporto é um facto social natural com
primária chave na história do desporto. As “funcionamento simbólico e capaz dos mais
publicações jornalísticas também ganham diversos investimentos sociais. Por outro
maior pertinência pelo facto de o arquivo lado, é um fenómeno humano estritamente
documental do governo sobre as políticas do ligado ao mito, a religião e a cultura. Assim,
desporto nos primeiros anos de o universo desportivo é um excelente campo
independência de Moçambique ser de difícil de observação da sociedade, onde podemos
acesso devido a diversos factores, encontrar elementos para estruturar modelos
destacando-se o desconhecimento da ideias de análise social”. O futebol é muito
relevância da conservação de documentação mais que um simples jogo, por isso constitui
com valor histórico e a informalização de um óptimo campo de compreensão da
actos oficiais. As fontes orais também se sociedade. Por sua vez, Pereira (2010)
revestem de grande importância porque assinala que o estádio de futebol é um espaço
captam a sensibilidade humana, também que se percepcionam dinâmicas, interacções
permitem preencher algumas limitações e manifestações emotivas que outro campo e
identificadas nas fontes documentais. Por contexto dificilmente proporcionariam. Esta
fim, a técnica de observação permitiu realidade permite que se analise a sociedade
verificar o nível de popularidade do futebol a partir do futebol, estabelecendo uma relação
em Moçambique, bem como, a manifestação permanente entre a modalidade “rei” e a
de sentimentos de patrióticos, unidade construção da nação.
nacional e moçambicanidade neste campo.
Rev. cient. UEM: Sér. ciênc. soc. Vol. 5, No 1, pp 21-42, 2023
23
M Manhanguele e M Mubai

A construção das nações é um processo sociedades modernas, na medida que


complexo, marcado por continuidades e reproduz o nacionalismo e activa estórias
descontinuidades. Desta forma, todos sobre o que somos como membros de um
elementos que podem contribuir país. Todos estes esforços fazem parte do
positivamente neste processo são bem vistos processo da nossa aceitação como membros
e utilizados. Apesar da importância primária de uma determinada comunidade.
do desporto não ser necessariamente a A história demostra que a relação entre o
construção e fortalecimento de nações, com o desporto e política é mais evidente em
seu desenvolvimento e popularidade acabou Estados com governos autoritários, pois os
também adquirindo uma função mesmos podem fazer grandes intervenções
sociopolítica. Segundo Hrstic e Mustapic sociais, políticas e económicas sem
(2015, p. 149), a conexão entre o desporto e preocupar-se com muitas das limitações que
política pode ser traçada desde a antiguidade, a democracia multipartidária impõe. Por isso,
mas se tornou mais evidente com o começo o regime fascista italiano e o nazista alemão
do desporto moderno na segunda metade do foram os primeiros a estabelecerem uma forte
século XIX, quando o desporto passou a fazer conexão entre a nação e o desporto. Também
parte do projecto de construção de é interessante compreender que muitos dos
identidades nacionais. Todavia, foi no estudos sobre o desporto, (re)construção e
período entre as duas grandes guerras que se fortalecimento da nação foram feitos em
apresentaram claramente alguns sinais da países que apresentavam um certo grau de
ligação entre a política e o desporto. A autoritarismo.
Alemanha nazista e a Itália fascista foram os
primeiros a manipularem abertamente o O leste europeu é uma das regiões mais
desporto e a educação física para alimentar a pesquisada neste aspecto. Como Parks (2017,
ideia de identidade nacional, orgulho e p. 2) argumenta, o desporto nesta região tem
superioridade nacional (BUCKEL, 2008, p. sido efectivamente usado pelos regimes para
54; MARTIN, 2018). Um dos exemplos promover a unidade, controle, legitimidade
comumente referido é a realização dos jogos interna e internacional. Interessante notar que
olímpicos de 1936 na Alemanha, em que o mesmo os grupos da oposição também
regime nazista procurou instrumentalizar as utilizam o desporto para desafiar a ordem
olimpíadas para fins políticos. estabelecida, minar o poder central e
promover a sua visão sobre a sociedade e
Os principais teóricos sobre a temática do nação. Isto demostra que o campo desportivo
nacionalismo e nação não prestaram muita é extremamente complexo, na medida que
atenção ao papel do desporto na construção e pode permitir que os de topo da pirâmide
fortalecimento de identidades nacionais, imponham a sua visão, mas também é
apesar do nacionalismo apresentar uma forte possível que através do mesmo mecanismo,
ligação com desporto. Para Bairner (2011, p. os que não concordem, tentem estabelecer
38) o nacionalismo tem sido a maior força do uma ordem contrária. Ainda no leste europeu
desenvolvimento do desporto. Este destaca-se o estudo de Hrstic, Mustapic
posicionamento evidencia que parte da (2015), que a partir da análise de textos sobre
relevância do desporto deve-se a alguns ícones do desporto croata nos livros do
aspectos políticos. Outro autor que a partir de Sistema Nacional de Educação, concluíram
vários estudos de caso procurou compreender que os atletas têm sido usados no processo de
a relação do desporto e o nacionalismo é construção da identidade nacional. Na
Selppel (2017, p. 45), que defende que o concepção dos autores, esta conexão induz
desporto se tornou um símbolo central nas para o que Durkheim chamou de
Rev. cient. UEM: Sér. ciênc. soc. Vol. 5, No 1, pp 21-42, 2023
24
Para além da pertença étnica e clubista: futebol e identidade nacional em Moçambique, 1974-2019

‘efervescência colectiva’. Por outro lado, nação sobre as outras. Assim, o país que
demostra como sucessos de certos indivíduos ganha maior número de medalhas transmite a
no desporto podem ser aproveitados por ideia de ser mais forte e usa isso para
políticos na construção da nação. fortalecer a ideia de unidade nacional e auto-
estima. Quanto ao continente africano, a
Os países socialistas apresentam a utilização
utilização do desporto para construção e
do desporto no processo de edificação de
fortalecimento das nações é acrescida, na
nações, tendo sido evidente durante o período
medida que a maior parte das nações ainda
da União das Repúblicas Socialistas
estão em construção. Muitos dos países ainda
Soviéticas (URSS), na China e em Cuba.
têm que superar as consequências nefastas do
Como Carter (2014, p. 742) mostra, em Cuba,
colonialismo, desde a definição arbitrária das
os líderes revolucionários compreendiam que
fronteiras à instrumentalização da etnicidade,
o desporto era um veículo vital para implantar
factores que continuaram no período pós-
a revolução e os valores socialistas, assim foi
colonial, tendo resultados negativos para o
explicitamente instrumentalizado para ajudar
continente. Neste contexto, o futebol é uma
o desenvolvimento do ‘homem novo’. Este
das poucas actividades com capacidade para
processo é idêntico ao que aconteceu nos
diminuir estas tensões.
países africanos que seguiram a via socialista
no período pós-colonial, sendo que De facto, no discurso político dos líderes
Moçambique foi um dos mais destacados. africanos, a ‘unidade nacional’ é,
provavelmente a expressão mais popular.
Sobre o futebol, Baller (2006, p. 327)
Como Giulianotti (2010, p. 24) demostra, ‘ao
argumenta que se tornou um campo para
nível nacional, alguns Estados africanos têm
actuação de culturas populares, género,
utilizado o esporte para promover formas de
etnicidade, conflitos e reconciliação. Assim,
coesão nacional que, ao menos em parte,
o futebol criou um local de transferência,
podem também ajudar a consolidar o apoio ao
troca e produção de símbolos, apropriação,
monarca, ao político ou ao partido que
transformação e manipulação. Com uma
governa a nação’. Com o mesmo
posição convergente, Bogdanov (2011, p. 49)
posicionamento, Vidacs (2010, p. 48)
argumenta que o futebol continua sendo o
defende que ‘governos pós-coloniais
desporto mais popular do mundo e que todos
utilizaram o esporte tanto para o controle
os países têm utilizado como meio de
social como para a promoção de sentimentos
unidade, promoção e celebração da
nacionais. Na verdade, o nacionalismo é a
identidade nacional. Estes posicionamentos
principal ideologia que os lideres africanos
evidenciam que nenhum país é indiferente a
tentaram impor através do esporte’. Estas
esta função do desporto, a única diferença
posições evidenciam a importância do
está no grau de aproveitamento do desporto
desporto na construção das nações, mas
para a construção da nação.
também demostram que a instrumentalização
No contexto da Guerra Fria, Buckel (2008) pode ser para alcançar fins políticos
observa que para além do seu papel particulares.
importante na formação de identidades
Um dos exemplos notáveis é do nacionalista
nacionais, o desporto também desempenhou
ganês Kwame Nkrumah, que procurou
um papel de destaque no conflicto ideológico
aproveitar-se do futebol para fortalecer o
entre os campos capitalista e comunista. Em
nacionalismo e pan-africanismo. Segundo
competições como olimpíadas, a luta pelo
Darby (2005, p. 887), o primeiro Presidente
maior número de medalhas tem sido
do Gana independente reconhecia a
associada à ideia de superioridade de uma
capacidade do desporto para ajudar a imbuir
Rev. cient. UEM: Sér. ciênc. soc. Vol. 5, No 1, pp 21-42, 2023
25
M Manhanguele e M Mubai

nas populações o senso de nação que Num momento em que o país transitava para
transcendesse as lealdades tribais, por isso democracia multipartidária, Biya procurou se
rapidamente utilizou a Selecção Nacional de apropriar do sucesso e imagem da selecção,
Futebol como um caminho para ajudar a reivindicando que aquelas vitórias e o sucesso
construir a sua ideia de unidade nacional. desportivo também se devia ao seu contributo
e comprometimento pessoal. Desta forma,
Nkrumah politizou o futebol para que
aproveitou-se da situação para gestão
cumprisse uma agenda sociopolítica.
sociopolítica e promoção particular.
Charway e Houlihan (2020), assinalam que o
desporto sempre fez parte da política ganesa, No contexto africano, alguns atletas
sendo instrumentalizado para reforçar a desportivos que se tornaram ícones nacionais
identidade nacional e diminuir as diferenças e mundiais são utilizados para promover
numa sociedade heterogénea, com mais de certas agendas políticas. Em muitos países da
100 línguas e etnias diferentes, assim como África Sub-Sahariana, os heróis do desporto
seitas religiosas. A popularidade do futebol são de vital importância no auxilio e
também é aproveitada para aumentar a promoção da unidade entre as pessoas
aceitação de algumas figuras políticas que (BAINER, 2008, p.46). Por seu turno,
procuram levar os créditos das realizações da Depetris-Chauvin e Durante (2017), fizeram
Selecção Nacional de Futebol em um estudo na África Sub-Sahariana em que
competições internacionais. avaliavam o impacto das vitórias das seleções
nacionais de futebol na unidade nacional,
Nos Camarões, país com mais de 200 grupos
concluíram que os resultados positivos fazem
étnicos, mais de 230 línguas e uma tripla
com que as pessoas se identifiquem menos
herança colonial, fazendo com que a nação
com o seu grupo étnico e mais com o país, o
seja edificada num contexto de grande
que contribui para redução da tensão e
complexidade sociopolítica e económica, o
violência inter-étnica. O futebol é sinónimo
desporto é popular, desempenhando efeitos
de alegria. Por isso, no momento da
sociais práticos. O sucesso no mundial de
celebração das vitórias das selecções
futebol de 1990, forneceu um ensejo para unir
nacionais, as pessoas minimizam as suas
o país e acalmar as divergências históricas
diferenças e unem-se em prol da nação. No
entre a região francófona e anglófona. A
contexto liberiano, Armstrong (2002)
predominância do futebol criou uma
defende que a Seleção Nacional de Futebol
oportunidade para que estivesse ao serviço da
personifica e sustenta a ideia de nação, dado
política. Já em 1992, o Presidente Paul Biya
que este desporto invoca o orgulho nacional e
declarou um feriado nacional em resultado da
o senso da pertença colectiva. O futebol
performance da Seleção Nacional que tinha
acomoda o pluralismo étnico a nível dos
se qualificado para o Mundial de Futebol de
clubes e nacional, levando ao caminho da
1994, realizado os Estados Unidos da
socialização política e pode ser considerado
América (EUA) (Clarke, Ojo, 2016).
como parte da estrutura da construção do
O sucesso desportivo da Selecção Nacional país.
de Futebol de Camarões favoreceu o regime
A dificuldade dos Estados africanos em
a lograr alguns dos seus pressupostos
compreender as questões étnicas colocou
políticos. De acordo com Bea Vidacs (1999),
entraves na construção e fortalecimento das
a performance vitoriosa da Seleção
nações. O desporto é uma das poucas
camaronesa no Mundial de Futebol da Itália
actividades que contorna essa realidade. A
em 1990, foi um evento relevante para
partir da análise da imprensa pós-colonial da
acalmar o clima social e político turbulento.
Nigéria, Scheler e Dubinky (2020)
Rev. cient. UEM: Sér. ciênc. soc. Vol. 5, No 1, pp 21-42, 2023
26
Para além da pertença étnica e clubista: futebol e identidade nacional em Moçambique, 1974-2019

argumentam que os jornalistas e adeptos em 1995, em que a conquista do título foi


articularam a identificação nacional e o vista pelas figuras políticas como
orgulho em torno do futebol, invocando uma oportunidade para forjar a unidade nacional,
nação nigeriana imaginada que não era possibilitando a instrumentalização destes
reproduzida nas secções e páginas que não grandes eventos desportivos. A realização do
eram desportivas. Deste modo, o futebol Campeonato Mundial de Futebol em 2010
forneceu significados que ajudavam a superar também tinha como um dos principais
algumas divisões na sociedade nigeriana. objectivos, aumentar a coesão interna do país.
Ainda que, do ponto de vista desportivo
A África do Sul é outro país onde o desporto
tivesse sido uma desilusão, este evento
tem desempenhado um papel preponderante
possibilitou consequências positivas no
na construção do país no período pós-
âmbito social e político (NDLOVU-
Apartheid. Neste país, a elite política assumiu
GATSHENI, 2011; CATSAM, 2010). O
abertamente a importância do desporto na
mesmo sucede-se em Zimbabwe, onde os
edificação de uma nação com muitas
jogos da Seleção Nacional de Futebol
diferenças. Neste sentido, destacam-se vários
também ajudam a promover a estabilidade e
discursos de Nelson Mandela, histórico
unidade nacional. Zenenga (2012) recorre ao
combatente da luta contra o Apartheid e
famoso jogo de futebol entre Zimbabwe e
primeiro Presidente democraticamente eleito
Brasil realizado em 2010, na cidade de
no período pós-Apartheid. Fuller citado por
Harare, argumentando que num momento de
Ogunnubi (2019, p. 2) refere um discurso de
tensão política e crise socioeconómica, a
Mandela, em que o então presidente sul-
disputa futebolística não juntou apenas
africano assinala que o desporto tem força
espectadores de todos credos, raças e sexos,
para mudar o mundo, inspirar e unir as
mas também os principais oponentes
pessoas de uma forma que poucas actividades
políticos. Numa rara demostração de unidade,
conseguem, assim sendo, o desporto pode
o então Presidente Robert Mugabe e Morgan
criar esperança onde apenas havia desespero.
Tsvangirai assistiram o jogo a partir da
Este discurso demostra parcialmente a ideia
mesma tribuna.
que elite política sul-africana tinha sobre o
desporto, especialmente como poderia se Apesar dos exemplos apresentados, o
aproveitar dos seus efeitos positivos na desporto ainda é uma temática pouco
construção de uma nação predominantemente pesquisada em África, particularmente em
marcada por identidades fragmentadas e Moçambique. Entre os poucos estudiosos
ressentidas pelas atrocidades de um recente deste tema, destaque vai para Domingos
passado, marcado pela segregação racial, (2012), que analisa o período colonial,
étnica, sociopolítica e económica. procurando compreender de que forma os
africanos encararam a imposição do futebol
A realização de grandes eventos desportivos
como um instrumento civilizador. Na sua
também tem impacto positivo a nível social e
concepção, os africanos não desempenharam
político. Aproveitando-se da sua pujança
um papel passivo, na medida que também se
económica, a África de Sul organizou eventos
apropriaram do futebol, exprimindo e
de dimensão continental e mundial com o
reforçando a sua maneira de estar naquele
intuito de fortalecer o seu projecto de nação.
universo. Em relação ao período pós-
Cornellissen e Maennig (2010, p. 109)
colonial, Muthisse, Gaspar e Machava (2015,
argumentam que a associação entre o sucesso
p. 24) argumentam que “a evolução do
desportivo, orgulho e unidade nacional no
desporto em Moçambique independente
pós-Apartheid começou com a realização e
confunde-se, de certa forma, com a própria
conquista do Campeonato Mundial de Rugby
Rev. cient. UEM: Sér. ciênc. soc. Vol. 5, No 1, pp 21-42, 2023
27
M Manhanguele e M Mubai

história política e económica do país”. Este defendia a excepcionalidade do carácter


posicionamento demostra que não é possível miscigenador do assimilacionismo português
compreender o desporto moçambicano sem (DOMINGOS, 2009).
ter em conta o contexto em que esteve Com o fim da colonização portuguesa em
inserido, pois todas mudanças sociopolíticas 1975, após uma década de luta de libertação
e económicas tiveram impacto directo na armada, a Frelimo tomou as rédeas de
evolução da actividade. Na mesma senda, Moçambique, tendo como objectivo principal
Graziano, Pessula e Tembe (2008) a edificação da nação moçambicana.
apresentam uma abordagem relevante dos Consciente de que o processo de edificação
vários momentos do desporto em das nações é extremamente complexo devido
Moçambique. às divergências de opiniões, sentimentos,
Em suma, esta secção mostra várias identidades e ideologias, a Frelimo procurou
realidades que têm como denominador formas de desenvolver um discurso político
comum a importância do futebol na que galvanizasse o povo em prol da nação.
construção e fortalecimento das identidades Para atingir os seus objectivos, a Frelimo
nacionais. A partir desta base teórica, o artigo optou em construir uma nação de cariz
procura compreender como é que a elite marxista-leninista, na qual todas as formas de
política moçambicana tem aproveitado a divisionismo, capitalismo e todos os males
popularidade do futebol para edificar a nação impostos pelo sistema colonial fossem
moçambicana. Nota-se que a utilização do erradicados. Nas palavras do Presidente
futebol para gestão social e política é um Machel (1978: 11):
fenómeno mundial, por isso é relevante Quando pegamos em armas para
compreender a especificidade de derrubar a ordem antiga sentimos,
Moçambique. obscuramente, (sic) a necessidade de
criar uma nova sociedade, forte, sã,
O futebol e o fortalecimento de identidades prospera, em que os homens, livres de
nacionais: o caso de Moçambique, 1974- toda a exploração, colaborariam para o
1990 progresso comum. […] A luta pela
criação de novas estruturas fracassaria
A introdução do futebol em Moçambique se sem a criação de uma nova mentalidade.
sucedeu no período colonial, rapidamente […] A eliminação do individualismo,
tornou-se uma actividade com grande desenvolver uma moral sã e
revolucionaria […] exige a destruição
popularidade entre os colonizadores e os
das ideias e gostos corruptos herdados
colonizados, mesmo tendo desenvolvido num […] é necessário que a ciência vença a
contexto de segregação. A utilização do superstição. Unir todos os
futebol para servir fins sociais e políticos é moçambicanos, para além das tradições
anterior a independência de Moçambique, e línguas diversas, requer que a nossa
consciência morra a tribo para que
pois o governo colonial português
nasça a Nação.
“desenvolveu uma narrativa imperial
propagandística que explorou o êxito de No período pós-colonial, o futebol continuou
alguns atletas africanos na metrópole” a ter grande popularidade, poucas actividades
(DOMINGOS, 2012, p. 91). Assim, a reuniam tantas pessoas como o futebol. O
integração de futebolistas como Mário regime tinha esta noção, por isso procurou
Coluna, Vicente Lucas, Hilário Rosário da instrumentaliza-lo para alcançar os seus fins
Conceição e Eusébio da Silva Ferreira, entre sociopolíticos. As maiores enchentes do
outros, serviu para sustentar a ideologia luso- Estádio da Machava sucederam-se nos
tropical, criada por Gilberto Freyre, que primeiros anos de independência, em que

Rev. cient. UEM: Sér. ciênc. soc. Vol. 5, No 1, pp 21-42, 2023


28
Para além da pertença étnica e clubista: futebol e identidade nacional em Moçambique, 1974-2019

jogos entre equipas nacionais eram assistidos estruturas desportivas nas estruturas políticas
por cerca de 45 000 adeptos (MUTHISSE, de base. […] Na prática desportiva, a política
GASPAR, MACHAVA, 2015), em ambiente seja colocada acima da técnica” 3. A
de alegria e confraternização, possibilitando a configuração da nova estrutura futebolística
manifestação de sentimentos nacionalistas teve que estar alinhada a estes princípios.
que o regime aproveitou para materializar e Estes excertos mostram que a implementação
fortalecer a sua ideia de nação. Nesta senda, de um desporto alargado aos moçambicanos,
o jornalista desportivo Renato Caldeira caracterizado por um forte cunho político foi
compreende que o entusiamo que se vivia no a tónica dominante no discurso e medidas
pós-independência, notava-se também no adoptadas. Durante a realização dos
desporto, o Estádio da Machava ficava primeiros jogos escolares em 1978 foram
completamente abarrotado, os dirigentes proferidos discursos que assinalavam que
políticos enchiam os camarotes 1. O futebol aquele evento criava ‘’[…] as condições para
movimentava massas de forma contagiante,
o reforço da nossa unidade nacional, tornando
num momento em que as pessoas estavam o povo mais apto a desempenhar as tarefas do
bastante optimistas em relação a edificação
partido e do governo, principalmente na
de um Moçambique unido, desenvolvido e
defesa intransigente da pátria contra as
socialmente justo. agressões contínuas do imperialismo
Alguns posicionamentos politicamente (CASTANHEIRA, 1978, p. 61). O mesmo
radicais também se verificaram no futebol, sucede em alguns discursos de Marcelino dos
pois esta actividade foi moldada para servir Santos, líder histórico da Frelimo que
os interesses da construção de Moçambique, defendia que se fizesse “viver a avidez do
sendo relevante a conjugação entre o futebol socialismo no desporto” (CALDEIRA,
e a ideologia política Frelimo. Assim, a ZANDAMELA, 1984), bem como a
análise do futebol em Moçambique deve ter necessidade de “que os princípios da Frelimo
em conta o contexto sociopolítico e entrem no desporto” 4.
económico em que esteve inserido. A ideia de A narrativa de um desporto marxista-leninista
que o desporto deveria servir a revolução é é constante no discurso político e tinha grande
repetida diversas vezes. A Frelimo destaque na imprensa. O partido-estado
compreendia que na sua “[…] linha política e pretendia construir uma nação socialista, por
humana […] adivinhava, a seu tempo, todo isso o desporto deveria ter uma função
um novo desporto do povo para o povo. Todo relevante nesse processo. Numa das edições
um desporto de verdade e grandeza, onde o
do Jornal Noticias defende-se que um:
Homem será dignificado, não sendo mais
instrumento da grande orquestra alienatória Desporto das massas [era] importante
meta a atingir na actual conjuntura
que tem sido o desporto” 2. sociopolítica. O desporto será […]
No primeiro seminário do desporto da exercício físico e mental, um dos
província de Maputo, concluiu-se que as factores determinantes da unidade na
sociedade moderna. […] E, por isso,
funções do desporto deveriam “modificar a porque pretendemos que em
sociedade, modificando os indivíduos pela Moçambique floresça realmente uma
eliminação dos vícios incutidos no tipo de sociedade nova, torna-se imprescindível
sociedade anterior e preparando-o física, conduzir o desporto aos mais recônditos
intelectual e moralmente para o novo tipo de lugares, fazendo dessa juventude que
agora se integra nas tarefas prioritárias
sociedade que se quer formar, isenta de da construção da sociedade, de uma
separatismo, vedetismos, elitismos e alargado juventude desportiva exemplar, onde o
a todo o povo através do enquadramento das
Rev. cient. UEM: Sér. ciênc. soc. Vol. 5, No 1, pp 21-42, 2023
29
M Manhanguele e M Mubai

espírito revolucionário esteja sempre importância da toponímia na construção e


presente 5. fortalecimento de identidades, o governo
Nesta asserção, a importância sociopolítica mandou alterar quase a totalidade dos nomes
do desporto é muito mais relevante que os colonialistas das organizações desportivas.
aspectos técnicos e desportivos, ou seja, a Assim, o Sporting de Lourenço Marques
linha entre o futebol e a política é ténue. A tornou-se o Clube de Desportos da
politização do desporto é mais evidente em Maxaquene e o Benfica de Lourenço
sociedades com governos extremamente Marques passou a designar-se Clube de
reguladores como Moçambique no período a Desportos da Costa do Sol. Clubes como o
seguir a independência. A imposição de Gazense, Inhambansense, Mahafil Issilamo,
construção de um país socialista teve as suas Zambeziano mudaram de nome por se
contradições, o que paulatinamente considerarem regionalistas, étnicos e
possibilitou a impopularidade do projecto. religiosos, o que poderia colocar em causa o
Estas exigências e contradições também se projecto de construção de uma nação
manifestaram nas políticas sobre o futebol, homogénea, sem nenhum tipo de
pois como os detentores do Poder político divisionismo.
defendiam, o futebol não poderia ser uma A preferência por um desporto amador,
actividade que estivesse a parte do processo integração dos clubes nas entidades estatais,
“revolucionário”. condicionamento e interdição de
Para atingir os objectivos traçados, o governo transferência de atletas, bem como o combate
da Frelimo entregou a gestão do desporto aberto a certas modalidades desportivas por
federado a Direcção Nacional de Educação representarem o ‘capitalismo-colonial’ devia-
Física e Desportos. Este organismo se ao facto da Frelimo compreender que a
assinalava a necessidade da criação de um estrutura desportiva colonial não se
desporto totalmente integrado no processo enquadrava à nova conjuntura e ao tipo de
revolucionário, que contribuísse para o nação que se pretendia construir. Estas
avanço e consideração da revolução. Neste mudanças podem ser enquadradas na ideia do
sentido, procurava moralizar a estrutura Presidente Samora de escangalhar o aparelho
desportiva do período colonial para que se administrativo e comportamentos coloniais 7.
ajustasse aos novos propósitos 6. Isto levou a Logo a seguir à independência, a Selecção
uma revolução nas estruturas desportivas, Nacional de Futebol participou de jogos
destacando-se a instrumentalização do internacionais, sendo o ponto mais alto a
desporto para fins políticos, preferência por participação na Copa Africana das Nações
um desporto amador, integração dos clubes a (CAN), realizada no Egipto, no ano de 1986,
entidades estatais, condicionamento e marcando assim a estreia nacional em
interdição de transferência de atletas, competições internacionais. A qualificação
alteração de designações e símbolos de foi marcada por dois grandes jogos contra o
associações e clubes de cariz colonial, Malawi e Líbia que foram decididos com a
religiosa e étnica, bem como o combate marcação de grandes penalidades, com o
aberto a certas modalidades desportivas por Estádio da Machava abarrotado, o futebol
se considerar que representavam o cumpria a sua missão de unir os
‘capitalismo-colonial’. moçambicanos em prol da nação.
Estas mudanças faziam parte da nova ideia de Os jogos possibilitaram uma grande
nação, em que o desporto deveria se manifestação de moçambicanidade e
enquadrar. Por exemplo, a mudança dos patriotismo, pois o seu impacto extravasou as
nomes dos clubes foi imposta. Ciente da
Rev. cient. UEM: Sér. ciênc. soc. Vol. 5, No 1, pp 21-42, 2023
30
Para além da pertença étnica e clubista: futebol e identidade nacional em Moçambique, 1974-2019

barreiras desportivas. Num período em que os uma profunda reformulação, mas assente na
moçambicanos se encontravam pessimistas questão da unidade nacional que não foi
devido a grave crise político-militar e colocada em causa. Estas transformações
socioeconómica que caracterizava o país tiveram efeito directo na forma como o
(MUBAI, 2015), o futebol era das poucas futebol passou a ser usado para servir
actividades que garantia alegrias para as interesses sociopolíticos em Moçambique.
pessoas e mantinha viva a chama da unidade A década de 1990 foi marcada por vários
nacional. João Carlos da Conceição, na altura acontecimentos, desde a mudança
responsável máximo da Direcção Nacional de constitucional (1990), a assinatura dos
Educação Física e Desportos, recorda que Acordos Gerais de Paz (1992) e a realização
houve muito entusiasmo devido a das primeiras eleições multipartidárias
qualificação de Moçambique ao CAN de (1994). A nível futebolístico, o país teve duas
1986, ainda acrescenta que “[…] em todos os participações no CAN de 1996 na África do
países, a qualificação para um mundial, para Sul e 1998 na Burquina Fasso. Do ponto de
um continental que é o caso do CAN trazem vista desportivo, os resultados nestas
a população uma autoestima muito grande, participações foram negativos, com a
ficam todos eufóricos, já que se chegou ao selecção a conquistar apenas um ponto na
ponto de passagem, […] aquilo traz uma edição de 1996 e a não pontuar em 1998.
autoconfiança extraordinária […] 8. Entretanto, a nível social e político teve
O contexto socioeconómico e político-militar efeitos positivos, se verificando enchentes no
da década de 1980 obrigou a formulação e Estádio da Machava, lotado por diversas
implementação de reformas estruturais, desta pessoas com diferentes convicções sociais e
forma, a idealização do projecto de políticas, mas vestidas de cores e símbolos
Moçambique mudou, mas o futebol nacionais.
continuou a auxiliar a construção da nação. O Estes acontecimentos sucederam-se num
futebol prosseguiu sendo uma modalidade contexto em que as feridas da guerra civil
relevante na edificação de Moçambique, ainda estavam abertas e existiam grandes
possibilitando a coesão sociopolítica de divergências entre os agentes políticos, que
forma tão particular e eficiente. No período em muitos casos recorriam a
da democracia multipartidária, a utilização do instrumentalização da etnicidade, colocando
futebol como uma modalidade importante no em causa o princípio fundamental da unidade
apoio a unidade nacional agudizou, nacional. As duas primeiras eleições ocorrem
demostrando ainda mais a sua relevância. num ambiente crispado e com os resultados
O futebol e fortalecimento da nação mais equilibrados entre as maiores forças
moçambicana, 1990-2019 políticas do país 9. De certa forma, as alegrias
do futebol atenuavam estas divergências,
O período a seguir a independência foi
configurando-se como um dos poucos
marcado pela tentativa de construir uma
campos em que se estabeleciam consensos.
nação socialista, todavia, depois de cerca de
10 anos existiram factores político-militar e Para além dos jogos da Selecção Nacional de
socioeconómico que impeliram a Frelimo a Futebol, o Campeonato Nacional de
mudar a sua perspectiva. Deste modo, em Futebol 10 também continuava sendo uma
1987, o país adoptou o Programa de prova de grande popularidade. Antes de 1990,
Reabilitação Económica e em 1990 abraçou- os jogos do Campeonato Nacional atraiam
se o multipartidarismo. Estes acontecimentos muitos adeptos aos estádios, dando uma
fizeram com que o projecto de nação sofresse imagem de que Moçambique era um país de
Rev. cient. UEM: Sér. ciênc. soc. Vol. 5, No 1, pp 21-42, 2023
31
M Manhanguele e M Mubai

futebol, onde as pessoas encontram no Chissano, considerou que a proeza


desporto “Rei”, motivos de alegria, representava um grande impacto no orgulho
confraternização e união. Os líderes políticos nacional, num momento sociopolítico e
sempre tiveram a noção desta relevância, não económico extremamente delicado para os
é por acaso que praticamente todos lideres moçambicanos. Acrescentou que, mais uma
geralmente se apresentassem como grandes vez, o futebol mostrou-se relevante para
seguidores do futebol, tal sucede-se pelo facto gestão do país 12. Chissano também procurou
de procurar-se aproveitar esta actividade para aproveitar-se da popularidade do futebol para
questões de gestão política e social. Tomando angariar votos para o seu sucessor Armando
como exemplo Muammar Gaddafi, Billebault Guebuza. Na altura, o então Presidente da
(2020) refere que o presidente líbio odiava o República compreendia que o desporto teria
futebol, por considerar um desporto estupido, continuidade com Guebuza. Num encontro
acompanhado por pessoas que fracassaram com desportistas, Chissano referiu que
em executar as suas actividades. Contudo, ao “confiamos na Frelimo e no seu candidato, e
mesmo tempo, compreendia que poderia posso garantir-vos que conheço Guebuza
extrair vantagens políticas do futebol, por como desportista, vi-o a jogar futebol e era
isso procurou instrumentaliza-lo. algo de invejável, por isso com a Frelimo na
No caso de Moçambique, ao longo da voz de comando e Guebuza a dirigir os
liderança do Presidente Joaquim Alberto destinos do país, o nosso desporto só sairá a
Chissano (1986-2004), encontram-se poucos ganhar com isso […]” 13. Durante os
discursos do Presidente relacionados com o mandatos de Guebuza confirmou-se a
desporto na construção da nação. O permanente recorrência ao futebol para
Presidente Chissano tinha a particularidade auxiliar o projecto de auto-estima, orgulho
de apresentar um posicionamento mais nacional e fortalecimento da unidade
contido sobre as diversas questões nacional.
sociopolíticas e económicas do país, Neste caso, nota-se o aproveitamento do
característica que marcou a sua forma de futebol com o objectivo de manter a liderança
governação. Ainda assim, encontram-se dos destinos do país. Isto demostra que os
alguns discursos sobre este tema, em 1991, lideres políticos compreendem a relevância
Chissano dirigindo-se a delegação do desporto na implementação de variados
moçambicana que participou nos jogos Pan- projectos em Moçambique. Sobre esta
africanos, sublinhou que os desportistas matéria, Giulianotii (2010) observa que para
tinham sido embaixadores de Moçambique. além de se promover formas de unidade
Rematou que “[a nível internacional] tivemos nacional através do futebol, também procura-
uma representação digna de realce, a começar se consolidar meios de atingir objectivos
por Lurdes Mutola, passando por Laura políticos particulares. De todas as formas, em
Nhavene e pelo Desportivo de Maputo em 2015, Chissano foi distinguido como homem
futebol, […] vocês agiram no Cairo como do desporto pelo Ministério da Juventude e
autênticos embaixadores do nosso país, pois Desporto e a Federação Moçambicana de
muita gente pensa que em Moçambique só Futebol pelo apoio que prestou ao
existe guerra e pessoas a fugirem […], vocês desenvolvimento desta actividade em
conseguiram provar o contrário, por isso Moçambique 14.
mesmo congratulo-me com isso” 11.
Nos mandatos do Presidente Armando Emílio
Quando em 1991, o Desportivo de Maputo Guebuza (2005-2014), o futebol passou a ter
chegou as meias-finais duma das maiores grande destaque no seu projecto político.
competições de clubes a nível africano, Durante a sua governação, procurou
Rev. cient. UEM: Sér. ciênc. soc. Vol. 5, No 1, pp 21-42, 2023
32
Para além da pertença étnica e clubista: futebol e identidade nacional em Moçambique, 1974-2019

instrumentalizar o futebol para alcançar os auto-estima e paz” (MATUSSE, MALIQUE,


seus objectivos políticos, particularmente no ISSUFO, 2015), os discursos nele patentes
fortalecimento da nação moçambicana. Se colocam o desporto para além das fronteiras
tivéssemos que destacar as palavras mais desportivas 16.
repetidas nos discursos de Guebuza, Um dos pilares da governação do terceiro
seguramente destacaríamos a “unidade Chefe de Estado de Moçambique foi a
nacional e auto-estima”. O futebol pode ter e edificação de grandes infra-estruturas que
teve efeitos positivos tanto numa, como também serviam para aumentar a
noutra. No discurso da sua segunda popularidade das estratégias governativas.
investidura como Presidente da República, No caso do desporto destaca-se a construção
Guebuza destacou a relevância da auto- do Complexo Desportivo de Zimpeto, que
estima e unidade nacional, deixando claro que contém o primeiro Estádio Nacional de
a sua governação girou em torno destes dois Futebol edificado no período pós-colonial.
pressupostos: Na ocasião da inauguração, Guebuza
A auto-estima do moçambicano, o seu considerou “o desporto como uma actividade
orgulho pela sua história, cultura e preponderante para a elevação do espírito de
feitos cristalizou-se. […] o
moçambicano aumentou a sua auto-
unidade nacional […] [afirmando] que a
confiança e gerou mais energias que inauguração da infra-estrutura, a maior
despoletaram as suas natas, mas erguida desde sempre, deixa os
adormecidas capacidades de moçambicanos com espírito do dever
realização. A Unidade Nacional cumprido 17.
consolidou-se ao longo deste
quinquénio e mais compatriotas nossos O ano de 2011 foi marcado por alguns
sentiram-se encorajados a inserir-se acontecimentos desportivos com grande
política, social e economicamente em
significado social para Moçambique,
qualquer espaço do nosso solo pátrio.
Com a Unidade Nacional, cresceu o destacando-se a realização dos X Jogos
sentido de Pátria, o amor pelos nossos Africanos. Guebuza afirmou naquela altura
símbolos e valores da que “o nosso maior desafio é usar os Jogos
moçambicanidade. […] a “Unidade Africanos como jogos de reafirmação da
Nacional é o sangue que corre em todas
moçambicanidade, da auto-estima e da
as artérias da nossa sociedade, levando
o oxigénio da esperança e da nossa heroicidade desta pátria de heróis” 18. Este
insofismável vontade de vencer posicionamento foi reafirmado no discurso
obstáculos. A Unidade Nacional é, que o então Presidente de Moçambique fez
sobretudo, o sangue que transporta as para delegação nacional para os Jogos
imunidades necessárias para que, como
Africanos, onde referiu que Moçambique
um Povo, como uma Nação, não
desfaleçamos perante esses eram aqueles atletas, assinalando que:
obstáculos” 15. Nós confiamos em vós. Vocês farão
O futebol é uma actividade que pode ser bem vibrar os corações dos mais de 21
enquadrada neste projecto, por isso procurou- milhões de moçambicanos que durante
se criar condições para que esta modalidade este período estarão com os olhos
virados para o vosso desempenho. […]
unisse os moçambicanos. Armando Guebuza têm aqui uma oportunidade para
foi um presidente com vários discursos sobre fazerem história e para através dos
o desporto, nos quais sempre destacava a sua vossos resultados, ficarem associados
importância para unidade nacional e elevação as honras e glória que estes jogos vão
da auto-estima dos moçambicanos. Como se registrar. […] este acontecimento
também se abre para a confraternização
pode verificar no livro “Armando Guebuza: entre os participantes e, sobre o prisma
Com acento tónico na Unidade Nacional,
Rev. cient. UEM: Sér. ciênc. soc. Vol. 5, No 1, pp 21-42, 2023
33
M Manhanguele e M Mubai

de moçambicanidade, tem o condão de foram os momentos em que o futebol mais


contribuir para a consolidação da uniu e deu alegrias aos Moçambicanos. O
unidade nacional e do sentido de pátria
entre todos e em cada um dos atletas e
Estado da Machava voltou a apresentar
técnicos moçambicanos 19. enchentes que não se viam há bastante tempo,
pessoas vinham de todas as partes do país e
Os representantes políticos sempre pernoitavam nos arredores do Estádio. Nos
procuraram vincar os argumentos dias dos jogos, os que não conseguiam obter
relacionados com a unidade nacional, estes bilhetes, ficavam na parte exterior do Estádio,
são tão repetidos que se torna complicado alguns subiam em árvores e outros em postes
ficar indiferente, percebia-se que a mensagem de corrente elétrica, colocando em risco a sua
tinha algum impacto na sociedade que integridade física. As pessoas vestiam as
seguramente estava num período de certo cores e símbolos nacionais, os meios de
optimismo sociopolítico e económico. Na comunicação faziam uma grande cobertura
abertura do dos X Jogos Desportivos que ajudava a despertar o interesse até dos
Escolares de 2011, realizados em Maputo, o mais desinteressados. Estava provado que
então Chefe de Estado fez um discurso poucas actividades conseguia mobilizar
emotivo sobre aquela competição e seu tamanha manifestação de moçambicanidade e
impacto no país, sob lema “inspirados em patriotismo.
Samora Moisés Machel, façamos do desporto
um instrumento de consolidação da unidade Numa mensagem de encorajamento de
nacional.” O Presidente da República Guebuza para a Selecção Nacional de Futebol
assinalou: também conhecida por Mambas durante a
qualificação para o CAN e Mundial 2010, o
O Presidente Samora Moisés Machel
era um homem de desporto. Foi ele que, Presidente referiu que “[…] queremos
a 7 de janeiro de 1978, precisamente desejar-vos os maiores sucessos.
aqui neste Estádio da Machava lançou Formulamos votos para que nos tragam de
a primeira edição dos Jogos volta um resultado que mantenha e faça
Desportivos Escolares. Para ele o crescer o nosso orgulho de sermos filhos e
desporto tinha uma grande contribuição
a dar na promoção da unidade donos desta pátria de heróis” 20. A mensagem
nacional, da moçambicanidade e do presidencial destaca a relevância social e
sentido patriótico. Ele também política de uma possível vitória nacional. O
encarava o desporto como um elemento Presidente Guebuza sempre compreendeu
preponderante na construção de que o futebol permitia uma mobilização que
relações sociais mais saudáveis e
humanas entre os moçambicanos e no poucas actividades conseguiam, nem mesmo
reforço do espírito de solidariedade e a popularizada Marcha da Chama da Unidade
como um mecanismo de levar Nacional ou outros vários festivais realizados
Moçambique para o mundo e o mundo a nível nacional.
para a nossa pátria amada.
A participação de Moçambique no CAN-
Desportivamente, o período da governação de 2010 foi, uma vez mais, desportivamente
Guebuza foi marcado por um negativa, pois a Selecção não passou da
desenvolvimento futebolístico notável, tendo primeira fase, tendo empatado com o Benin e
a Seleção Nacional conseguido se apurar para averbado duas derrotas contra a Nigéria e o
o CAN de 2010, realizado em Angola. Este Egipto, que foi campeão dessa edição.
acontecimento sucedeu-se depois de cerca de Todavia, sob ponto de vista sociopolítico foi
12 anos sem que a Selecção se qualificasse positivo, particularmente na unidade e auto-
para aquela prova. Durante a qualificação, os estima, palavras extremamente repetidas pelo
jogos contra o Quénia, a Nigéria e a Tunísia executivo moçambicano. Durante a prova, os
Rev. cient. UEM: Sér. ciênc. soc. Vol. 5, No 1, pp 21-42, 2023
34
Para além da pertença étnica e clubista: futebol e identidade nacional em Moçambique, 1974-2019

moçambicanos acompanhavam os jogos a sempre para se auto-superar no seu


partir dos Mídias e vários locais foram empenho e desempenho. Saudamos
ainda o espírito competitivo e de
preparados para que as pessoas assistissem as trabalho em equipa que está por detrás
partidas em grupos, configurando momentos dos resultados que elevam o nome de
de confraternização com grande impacto Moçambique no futebol africano e de
social e político. que todos nos orgulhamos. Fomos todos
testemunhas das qualidades dos nossos
Neste período, o Campeonato Nacional de “Mambas”, sobretudo durante a fase de
Futebol também continuou a desempenhar a apuramento, através da sua prestação
sua função social e política, apesar de ser uma auspiciosa; da galhardia com que os
nossos jogadores lutaram, jogo a jogo;
prova onerosa para as contas públicas e o seu
e do sentido de Pátria e de missão em
nível de popularidade apresentar um certo que se inspiraram e com os quais
decréscimo. No imaginário do governo, esta brindaram a Nação Moçambicana
prova é um digno representante da unidade através da sua qualificação 22.
nacional. Por isso, o então presidente da Liga Moçambique se qualificou para o CAN-
Moçambicana de Futebol (LMF) Alberto Interno numa altura em que celebrava a
Simango Júnior realçou que: semana nacional do desporto. Discursando
“A dado momento sentimos que o meio naquele evento, o Ministro da Juventude e
do futebol serviu como um veículo de Desporto, Fernando Sumbana vincou que se
manifestação de unidade nacional, para
tratava de “uma oportunidade para os
além de sustento de muitas famílias que
nele se encontram envolvidos. As desportistas nacionais fizessem uma reflexão
equipas quando se encontram a jogar séria e objectiva sobre o contributo que
em qualquer ponto do país manifestam prestam no processo de desenvolvimento do
a auto-estima e orgulho da nossa desporto no país, para que seja realmente um
própria moçambicanidade. As pessoas
verdadeiro veículo para a promoção de uma
quando jogam sem olhar para as
regiões ou zonas a que pertencem sociedade onde o mesmo […] é
fazem-no para um Moçambique unido. verdadeiramente um instrumento de
Isso é um grande orgulho para nós 21. promoção da unidade nacional e da cultura de
Esta ideia também é referida diversas vezes paz”. Sobre a qualificação, Sumbana referiu
por Guebuza. Quando a Seleção se qualificou que a mesma tinha o sublime mérito de unir
para o CAN-Interno, prova que participam os moçambicanos à sua volta e elevar ainda
jogadores que militam em campeonatos mais a sua auto-estima 23.
africanos internos. Em suas palavras, O mandato de Guebuza teve muitos
Guebuza disse: acontecimentos futebolísticos que permitiram
A presença da nossa Selecção Nacional o seu aproveitamento para a gestão social e
de Futebol, os “Mambas”, é, política. Este contexto foi facilitado pelo
indubitavelmente, reflexo da crescimento económico notável e boas
competitividade que caracteriza o perspectivas económicas devido a descoberta
Campeonato Nacional, o Moçambola,
uma das maiores montras do nosso
e início de exploração de alguns recursos
futebol, esteio da nossa unidade e minerais 24. A estratégia de governação de
moçambicanidade. Pelo mérito da priorizar a construção de grandes
conquista da sua própria participação infraestruturas (ARMAS, 2014), a
no CAN-Interno, saudamos os atletas, emergência de uma classe média nos
treinadores, pessoal médico e dirigentes
federativos que corporizam os
parâmetros moçambicanos, um clima
“Mambas” e o maravilhoso Povo político-militar estável até ao ressurgimento
Moçambicano que acreditou e deu força das confrontações militares em 2013 entre as
a esta equipa de todos nós para lutar
Rev. cient. UEM: Sér. ciênc. soc. Vol. 5, No 1, pp 21-42, 2023
35
M Manhanguele e M Mubai

forças governamentais e da Resistência nenhuma competição internacional. Mesmo


Nacional de Moçambique (Renamo) tinham assim, o Presidente Nyusi também seguiu a
um impacto positivo na sociedade mesma direcção dos seus antecessores,
moçambicana. Estes pontos aliados a apoiando abertamente o futebol e procurando
incidência de discursos sobre a unidade beneficiar-se dos seus significados sociais e
nacional e auto-estima permitiram que os políticos. Nyusi tem acompanhado de forma
bons resultados futebolísticos fossem interessada as preparações e os jogos da
descaradamente instrumentalizados. Por isso, Seleção Nacional de Futebol. Antes de um
até ao último momento da sua governação, importante jogo de qualificação ao CAN-
quando Guebuza foi homenageado pelos Interno, contra o Madagáscar em julho de
desportistas pelos feitos, ele demostrou o seu 2017, o Presidente foi assistir a última sessão
orgulho e classificou os atletas como de treinos da Selecção Nacional para dar
“promotores da unidade nacional, da auto- força aos jogadores e corpo técnico. Nyusi
estima e da cultura de trabalho” 25. referiu que “gostaria de convidar a todos
moçambicanos disponíveis para estarem com
Depois de dois mandatos do Presidente
a equipa neste domingo. Quando é jogo da
Guebuza, em 2015 começou um novo ciclo
Selecção não há distinção de religião, não há
de governação liderado pelo Presidente Filipe
pessoa de outra província, de outra raça, nem
Jacinto Nyusi. O início da sua governação
há pessoa de outro partido político, é toda
coincidiu com um contexto socioeconómico e
gente junta. Essa é a maneira que
político-militar adverso. Em diversas
encontramos para nos reencontramos” 26.
ocasiões, o Presidente assinalou essa
conjuntura para justificar as dificuldades para As declarações de Nyusi têm um profundo
implementar o seu projecto político. A nível significado social e político, demostrando que
económico, o país perdeu financiamento o futebol é muito mais que um simples jogo.
directo ao Orçamento Geral do Estado devido Nyusi, tendo a noção das diversas diferenças
ao escândalo das dívidas ocultas ou dívidas políticas, sociais, religiosas, étnicas e até
não declaradas, enquanto politicamente e raciais, coloca o futebol como um dos poucos
militarmente houve uma tensão pós-eleitoral elementos com a capacidade de forjar a ideia
que fez ressurgir os ataques militares da de irmandade e unidade nacional, por isso
Renamo, particularmente no centro do país. compreende que o futebol é uma forma
No mesmo período, em algumas regiões do (política e social) que encontramos para
norte, principalmente em Cabo Delegado, se reencontrarmo-nos.
verificaram ataques terroristas atribuídos a
Por outro lado, dada as dificuldades
um grupo islâmico localmente chamado de
económicas, o Campeonato Nacional de
Al-Shabaab (WEIMER, CARRILHO, 2017;
Futebol tornou-se cada vez mais
WEIMER, 2020). Toda esta conjuntura teve
insustentável, fazendo com que os gestores
efeitos negativos no processo da construção
desportistas começassem a estudar
da nação e auto-estima dos moçambicanos,
paradigmas alternativos. O modelo utlizado
afectando todas as áreas, inclusive o futebol.
desde a viragem do século é o “todos contra
Neste contexto, a governação compreendeu todos em duas voltas”, porque na opinião dos
que o futebol seria um instrumento dirigentes políticos representa
importante para diminuir estas tensões e verdadeiramente a unidade nacional,
manter o mesmo imaginário de nação para contudo, a crise económica fez com que a
Moçambique. A nível da Selecção Nacional prova se tornasse cada vez mais insustentável,
de Futebol, os resultados foram francamente pois verificava-se pouca disponibilidade
maus, não tendo conseguido qualificar para financeira dos patrocinadores privados,
Rev. cient. UEM: Sér. ciênc. soc. Vol. 5, No 1, pp 21-42, 2023
36
Para além da pertença étnica e clubista: futebol e identidade nacional em Moçambique, 1974-2019

obrigando um esforço suplementar do interromper as aspirações do povo,


governo para manter o Moçambola naqueles vamos fazer esforço para ajudar para
que este Moçambola possa chegar ao
moldes. A insistência num modelo fim. Vamos tentar mobilizar os apoios e
economicamente inviável acabou recursos e nesta nossa prontidão
propiciando a interrupção do Campeonato também queremos aconselhar os que
Nacional de Futebol em Abril de 2018, pois dirigem o desporto, o apoio da
segundo o Presidente da LMF, "as Linhas Federação Moçambicana de Futebol
para poder, nas próximas etapas, serem
Aéreas de Moçambique (LAM) manifestaram rigorosos naquilo que dizem e encontrar
indisponibilidade para continuar a transportar melhor figurino que não interrompa a
as delegações sem o correspondente aspirações e os planos dos clubes ou
pagamento imediato e, por isso, teremos de mesmo da população, que está
interromper o campeonato” 27 formatada para assistir, participar no
desporto de uma ou da outra forma
As incertezas sobre a continuação do [sic]” 28.
Moçambola levantaram um grande debate Este posicionamento demostra a grande
com opiniões divergentes. A nível do Poder importância que o futebol tem no projecto de
político, a substituição do modelo “todos unidade nacional dos governantes de
contra todos” estava fora de questão, pois Moçambique, que em alguns casos, até
poderia “enfraquecer a unidade nacional”. A coloca em causa a sustentabilidade de
imprensa também continuou com essa empresas públicas para servir esse objectivo.
propaganda que visava fazer acreditar as Naquele caso, as LAM encontravam-se num
pessoas, particularmente desportistas que um período de restruturação económica, pois a
modelo regional seria um retrocesso na Companhia aérea nacional se encontrava em
qualidade da competição e na sua função de falência técnica. Mesmo assim, teve que
unir os moçambicanos. Num dos artigos de continuar a transportar as comitivas
opinião, intitulado “o futebol da divisão desportivas sem que a LMF fizesse o
nacional”, o jornalista desportivo Mavota pagamento correspondente. O jornalista
(2019) criticou a possibilidade de um Adérito Caldeira (2019) referiu que o
campeonato regional, argumentando que o Presidente Nyusi teve que redireccionar as
futebol bateu muito fundo, pois se o sul tiver verbas do Ministério da Terra e
o seu campeonato e outras regiões o seu Desenvolvimento Rural para pagar as contas
Moçambola seria gravíssimo, um cenário que da LMF de modo a evitar que o Moçambola
esquartejaria a festa do futebol nacional, fosse interrompido.
tirando a unidade nacional dos
moçambicanos, bem como a competitividade Este esforço permitiu que Campeonato
da prova. Neste contexto, o Presidente da Nacional de Futebol de 2018 continuasse nos
República teve que intervir directamente para moldes inicialmente propostos. No fim da
que o campeonato pudesse continuar nos época houve outro grande debate sobre o
moldes previamente estabelecidos. Num modelo de campeonato a ser propostos, tendo
comício popular, Nyusi defendeu que: em conta que o principal objectivo era tornar
a prova sustentável. Neste sentido, os
“Moçambola já não é uma actividade de
uma pessoa ou de um grupo de pessoas,
responsáveis da LMF compreendiam que o
de uma liga ou de uma direcção. modelo regional era o mais adequando para a
Moçambola é uma actividade do povo época de 2019, contudo, o governo
moçambicano, pertence ao povo. Quero moçambicano não concordava com um
tentar fazer que haja uma solução com modelo que pudesse “dividir” o país.
os desportistas de Moçambique, que por
ser do povo e como não queremos O Presidente Nyusi começou a mobilizar os
Rev. cient. UEM: Sér. ciênc. soc. Vol. 5, No 1, pp 21-42, 2023
37
M Manhanguele e M Mubai

fundos pessoalmente. Como reconheceu o social, […] introduzi um tema aqui a família
Presidente da LMF, a intervenção do Chefe Heineken, agora na mesa, e também aos
de Estado foi crucial e fundamental para a gestores, que todo o povo moçambicano
viabilização do Moçambola 2019 no modelo clama por um campeonato nacional onde as
clássico “todos contra todos”. Para Ananias 16 equipas, ou 14, jogam umas contra as
Couana, Nyusi foi fundamental na outras, que tal ser o patrono, a Heineken
aproximação entre a LMF e diversos viabilizando este projecto” (Caldeira, 2019).
parceiros públicos e privados. Quanto ao No mesmo artigo de opinião, Caldeira (2019)
transporte aéreo que se afigurava como o crítica o facto da marginalização de outras
principal entrave, referiu que o Chefe de modalidades que custam menos e dão mais
Estado garantiu a movimentação das equipas alegrias, bem como a falta de políticas sociais
por esta via 29, ou seja, mesmo sem a LMF relevantes que as pessoas tanto clamam.
dispor de dinheiro para pagar as deslocações Noutro artigo, Caldeira (2019) utiliza os
das equipas, as LAM assegurariam as dados de resultados desportivos referidos no
movimentações, um acto de má gestão que discurso de Estado da Nação de Filipe Nyusi
apenas pode se explicar pela importância que em 2019 para defender que o Presidente
os governantes dão a esta prova no processo admitiu que embora tenha investido bilhões
da unidade nacional. de meticais no futebol, os resultados
Tendo em conta a configuração geográfica e desportivos vieram de modalidades não
extensão territorial de Moçambique, um consideradas prioritárias. O investimento no
modelo de Moçambola regional seria o mais futebol mesmo não apresentado resultados
ajustado. Caldeira (2016: 63) compreende desportivos positivos demostra que é uma
que o “Moçambola, ao contrário do que actividade central na estratégia de unidade
recomendam os manuais de desenvolvimento nacional dos diferentes governos de
global, é um símbolo de macrocefalia, sob Moçambique. O futebol não pode ser
todos ângulos que se queira analisar”, analisado de forma estritamente desportiva,
destacando que “mais de 80% são suportados apenas como actividade de lazer e bem-estar,
por empresas publicas, que vivem dos pois é abertamente utilizado para a gestão
impostos dos cidadãos”. Esta situação apenas social e política.
se justifica pela percepção do Poder político
Considerações finais
de que o Campeonato Nacional de Futebol no
modelo “todos contras todos” representa a A relevância e popularidade do futebol no
unidade nacional. A construção e mundo moderno é indiscutível, por isso, a sua
fortalecimento das unidades nacionais função extravasa as barreiras desportivas,
continua sendo uma temática controversa e posicionando-se como uma factor
encarada com certa desconfiança pelos extremamente importante na construção e
políticos africanos, por isso em muitos casos fortalecimento das identidades nacionais. A
têm este posicionamento excessivamente partir do estudo de caso de Moçambique, este
conservador e regulador quando tratam de artigo procurou mostrar que desde a
assuntos relacionados com a etnicidade, proclamação da independência nacional em
diferenças sociais, económicas, políticas, 1975, o governo de Moçambique liderado
linguísticas e as assimetrias regionais. pela Frelimo tem se aproveitado da grande
popularidade do futebol para alimentar o
Num dos actos públicos, durante a projecto de unidade nacional, fazendo com
inauguração da fabrica de cerveja da que esta modalidade esteja intimamente
Heineken em Marracuene, o Presidente Nyusi relacionada com o projecto de edificação de
referiu que “no que tange a responsabilidade
Rev. cient. UEM: Sér. ciênc. soc. Vol. 5, No 1, pp 21-42, 2023
38
Para além da pertença étnica e clubista: futebol e identidade nacional em Moçambique, 1974-2019

um país moderno e homogéneo. Numa ARMAS, E. Infraestruturas e investimento


sociedade caracterizada por uma grande público. In: ROSS, D. (ed.) Moçambique em
variedade étnica, cultural, linguística e ascensão: construir um novo dia.
divergências políticas, o futebol tem servido Washington, DC.: Fundo Monetário
de factor aglutinador. Internacional, 2014. p. 41-55.
Todos os governos moçambicanos ARMSTRONG, G. Talking Up the Game:
procuraram se socorrer da actividade Football and the Reconstruction of Liberia,
desportiva para actos de gestão social, West Africa. Identities: Global Studies in
política e promoção particular. Os discursos e Culture and Power, v. 9, n. 4, p. 471-494,
medidas políticas implementadas pelos 2002.
sucessivos governos de Moçambique na área BAIRNER, A. Sports Development, Nations
desportiva demostram que o futebol and Nationalism. In: HOULIHAN, B.,
representa muito mais que uma simples GREEN, M. (eds.). Routledge Handbook of
modalidade desportiva, desempenhando uma Sports Development. New York: Taylor &
posição preponderante no campo da Francis e-Library, 2011. p. 31-41.
construção e fortalecimento da nação. A
forma como esta modalidade desportiva BAIRNER, A. Sport, Nationalism and
impacta no senso de união e auto-estima dos Globalization: Relevance, Impact,
moçambicanos em diversos momentos Consequences. Hitotsubashi Journal of
históricos, prova a sua resiliência e vitalidade. Arts and Sciences, n. 49, p. 43-53, 2008.
Em muitos contextos em que a expectativa BALLER, S. Editorial: The Other Game: The
dos moçambicanos em relação ao projecto de Politics of Football in Africa. Afrika
nação mostrava-se pessimista, o futebol Spectrum, v. 41, n. 3, p. 325-330, 2006.
continuava sendo uma das poucas actividades
que mantinha acesa a chama da unidade BILLEBAUT, A. Libya: When Muammar
nacional. Gaddafi played political football. The Africa
Report. 25 sept., 2020. Disponível em:
A Seleção Nacional de Futebol e o https://www.theafricareport.com. Acesso em:
Campeonato Nacional de Futebol acabam 15 novembro, 2020.
configurando elementos ímpares na coesão
nacional. Nesta modalidade, se verificam BOGDANOV, D. Influence of National
muitas manifestações de patriotismo, unidade Sport Team Identity on National Identity.
e orgulho nacional. Este artigo também 2011. 264p. Thesis (PhD in Sport
reforça o argumento de que o futebol em Management) – Postgraduate in Sport
Moçambique é muito mais que um simples Management, Florida State University, 2011.
jogo, visto que ocupa um lugar de destaque BOOTH, D. Sites of Truth or Metaphors of
no campo da edificação e consolidação da Power? Refiguring the Archive. Sport in
nação. Assim, a experiência de Moçambique History, v. 26, n. 1, p. 91-109, jul., 2006.
se enquadra numa realidade global em que se
verifica a utilização do futebol para fins BUCKEL, B. Nationalism, Mass, Politics
políticos e sociais. and Sport: Cold War Case Studies at
Seven Degrees. 2008. 128p. Dissertation
Referências (Master of Arts in Security Studies) –
ANDERSON, B. Imagined communities: Postgraduate in Security Studies, Naval
reflections on the origins and spread of Postgraduate School, 2008.
nationalism. London: Verso, 2006. CARTER, T. Game Changer: The Role of
Sport in Revolution. International Journal
Rev. cient. UEM: Sér. ciênc. soc. Vol. 5, No 1, pp 21-42, 2023
39
M Manhanguele e M Mubai

of the History of Sport, v. 31, n. 7, p. 735- COSTA, A. Desporto e análise social.


746, apr., 2014. Revista da Faculdade de Letras da
Universidade do Porto, n. 2, p. 101-109,
CALDEIRA, A. Nyusi admite que embora
1992.
tenha investido no futebol, resultados
vieram das modalidades não prioritárias. 2 DARBY, P. Africa and the ‘World’ Cup:
de ago. 2019. Disponível em: FIFA Politics, Eurocentrism and Resistance.
www.verdade.co.mz. Acesso em: 4 maio, International Journal of the History of
2020. Sport, v. 22, n. 5, p. 883-905, aug., 2005.
CALDEIRA, A. Nyusi aposta na política da DEPETRIS-CHAUVIN, E., DURANTE, R.
cerveja e futebol para novo mandato. 14 de One Team, One Nation: Football, Ethnic
mar. 2019. Disponível em: Identity and Conflict in Africa. Afro
www.verdade.co.mz. Acesso em: 4 maio, Barometer, n. 1, p. 1-43, dec., 2017
2020. DOMINGOS, N. As políticas desportivas do
CALDEIRA, R., ZANDAMELA, A. Estado Colonial em Moçambique. Lusotopie
Façamos viver o socialismo no desporto: XVI, n. 2, p. 83-104, 2009.
Marcelino dos Santos na abertura oficial dos DOMINGOS, N. Futebol e colonialismo:
trabalhos da II Reunião Nacional. Notícias, corpo e cultura popular em Moçambique.
Maputo, 12 de jan. 1984. Lisboa: Imprensa de Ciência Sociais, 2012.
CALDEIRA, R. Na área do rigor. Maputo: GIULIANOTII, R. O estudo do esporte no
O Matolense, 2016. continente africano. In: MELO, V.,
CASTANHEIRA, N. Primeiro festival BITTENCOURT, M., NASCIMENTO, A.
nacional de jogos escolares: o povo (Orgs.). Mais do que um jogo: o esporte e o
participou, o povo assistiu. Tempo, Maputo, continente africano. Rio de Janeiro, 2010. p.
15 de Jan. 1978. Desporto, p. 59-64. 13-36.
CATSAM, D. The Death of Doubt? Sport, GRAZIANO, A., PESSULA, P., TEMBE, V.
Race, and Nationalism in the New South O passado, o presente e as perpectivas para
Africa. Georgetown Journal of o desenvolvimento do desporto em
International Affairs, v. 11, n. 2, p. 7-13, Moçambique. Maputo: CIEDIMA, 2008.
2010. HOBSBAWN, E. Nações e nacionalismos
CHARWAY, D., HOULIHAN, B. Country desde 1780. São Paulo: Câmara Brasileira de
Profile of Ghana: Sport, Politics and Nation- Livros, 1990.
Building. International Journal of Sport HRSTC, I., MUSTAPIC, M. Sport and
Policy and Politics, p. 1-16, 2020. politics in Croatia: Athletes as National Icons
CLARKE, J., OJO, J. Sport policy in in History Textbooks. Other Modernities,
Cameroon. International Journal of Sport n.14, p. 148-165, nov., 2015.
Policy and Politics, p. 1-12, 2016. MACHEL, Samora Moisés. Educar o
CORNELISSEN, S., MAENNIG, W. On the Homem para vencer a guerra, criar uma
Political Economy of ‘Fell-Good’ Effects at sociedade nova e desenvolver a pátria:
Sport Mega-Events: Experiences from FIFA mensagem à 2ª Conferência do
Germany 2006 and Prospects for South Departamento de Educação e Cultura.
Africa 2010. Alternation, v. 17, n. 2, p. 96- Maputo: Colin Darch, Centro de Estudos
120, 2010. Africanos, 1978.

Rev. cient. UEM: Sér. ciênc. soc. Vol. 5, No 1, pp 21-42, 2023


40
Para além da pertença étnica e clubista: futebol e identidade nacional em Moçambique, 1974-2019

MATUSSE, R., MALIQUE, J., ISSUFO, J Desporto federado: regulamento geral.


(eds.). Armando Guebuza: com acento [S.l.: s.n], 1979.
tónico na Unidade Nacional, Auto-estima e SCHLER, L., DUBINKSY, I. Green Eagle
Paz. Maputo: Presidência da República, Nation: The Politicization of Sports
2015. Journalism in the Post-Independence
MARTIN, S. Football, Fascism and Fandom Nigerian Press. African Studies Review, v.
in Moderny Italy. Revista Crítica de 0, n. 0, p. 1-23, 2020.
Ciências Sociais, n. 116, p. 111-134, 2018. SEIPPEL, O. Sports and Nationalism in a
MAVOTA, A. O futebol da divisão Globalized World. International Journal of
nacional. 25 de mar. 2019. Disponível em: Sociology, v. 47, n. 1, p. 43-61, 2017.
www.jornalvisaomoz.com. Acesso em: 4 OGUNNUBI, O. Soft Power and Currency of
Maio, 2020. Sport: (Re)imagining South Africa’s Rising
MUBAI, M. Making War on Village and Hegemony in Africa. Global Society, p. 1-
Forest: Southern Mozambique During the 21, 2019.
Sixteen-year Conflict, 1976-1992. 2015. WEIMER, B., CARRILHO, J. A economia
233f. These (PhD in History) – Postgraduate
política da descentralização em
in History, University of Iowa, 2015. Moçambique: dinâmicas, efeitos, desafios.
MUTHISSE, L., GASPAR, N., MACHAVA, Maputo: IESE, 2017.
A. Contribuição para o estudo da história WEIMER, B. Vampiros, Jihadistas e
do desporto de Moçambique, 1975-2015.
violência estrutural em Moçambique:
Maputo: Ministério da Juventude e Desporto,
reflexões sobre manifestações violentas de
2015.
descontentamento local e suas implicações
NDLOVU-GATSHENI, S. The World Cup, para a construção da paz. Maputo: IESE,
Vuvuzelas, Flag-Waving Patriots and the 2020.
Burden of Building South Africa. Third VIDACS, B. Football in Cameroon: A
World Quarterly, v. 32, n. 2, p. 279-293, Vehicle for the Expansion and Contraction of
2011. Identity. Culture, Sport, Society, v. 2, n. 3,
PARKS, J. Promoting Authority Through p. 100-117, 1999.
Sport by States and Societies of Eastern VIDACS, B. O esporte e os estudos africanos.
Europe. Handbuch der Sportgeschichte In MELO, V., BITTENCOURT, M.,
Osteuropas, p. 1-20, 2017. NASCIMENTO, A. (Orgs.). Mais do que
PEREIRA, P. Públicos e identidades um jogo: o esporte e o continente africano.
culturais no futebol: o Sporting Clube de Rio de Janeiro, 2010. p. 37-70.
Espinho. 2010. 176f. Dissertação (Mestrado ZENENGA, P. Visualizing Politics in
em Sociologia) – Curso de Pós-Graduação African Sport: Political and Cultural
em Sociologia, Universidade do Porto, 2010. Constructions in Zimbabwean Soccer.
República Popular de Moçambique. Soccer & Society, v. 13, n. 2, p. 250-263,
Ministério da Educação e Cultura. Direcção 2012.
Nacional de Educação Física e Desportos.

Rev. cient. UEM: Sér. ciênc. soc. Vol. 5, No 1, pp 21-42, 2023


41
M Manhanguele e M Mubai

Notas

1 fraternidade e a solidariedade entre os jovens; Jogos Desportivos


Renato Caldeira (comunicação pessoal, 26 de outubro, 2021).
Escolares: Promovendo o convívio entre Moçambicanos para
2
“A educação física e o desporto no programa da Frelimo”. Tempo, consolidar a Unidade Nacional; Jogos Desportivos Escolares:
Maputo, 6 de out. 1974. Desporto, p. 29. Evento onde a consciência de Nação se cristaliza; Vitórias
3
“O desporto juvenil no I Seminário do Desporto da Província de Desportivas: Factores de consolidação da Unidade Nacional, da
Maputo”. Tempo, Maputo, 06 de abr. 1975. Desporto, p. 45. auto-estima e da cultura de Paz (MATUSSE, MALIQUE, ISSUFO,
4
“Princípios da Frelimo devem entrar no Desporto: Marcelino dos 2015).
Santos na recepção de encerramento do II Encontro Nacional, na 17
“Chefe de Estado moçambicano destaca desporto como factor de
Beira”. Notícias, Maputo, 16 de jan., 1984.
unidade”. Portal Angop, 24 de abr. 2011. Disponível em:
5
“Implantar um sistema de educação física em que a prática vá ao www.portalangop.co.ao. Acesso em: 4 maio, 2020.
encontro do povo”. Notícias, Maputo, 27 de jan. 1976. Desporto, p. 18
“Andemos mais depressa rumo aos Jogos Africanos”. Notícias,
7.
Maputo, 26 de abr. 2011.
6
República Popular de Moçambique. Ministério da Educação e 19
“Moçambique serão vocês: Presidente desafia atletas a fazerem
Cultura. Direcção Nacional de Educação Física e Desportos.
história”. Notícias, Maputo, 3 de nov. 2011.
Desporto federado: regulamento geral. [S.l.: s.n], 1979, p. 3.
20
Guebuza encoraja ‘’Mambas’’. Verdade, Maputo, 4 de fev. 2010.
7
“Escangalhar as estruturas de Estado coloniais”. Tempo, Maputo,
Disponível em: www.verdade.co.mz. Acesso em: 4 maio, 2020.
17 de fev. 1980; “É preciso descalçar a bota e limpar o Matope:
escangalhar as estruturas e métodos do Estado colonial-capitalista – 21
“Moçambola veiculo da unidade nacional”. 27 de jan. 2011.
discurso do presidente Samora Machel no encerramento da sessão Disponível em: https://cedid.blogs.sapo.mz. Acesso em: 11
alargada do Conselho de Ministros”. Notícias, Maputo, 8 de fev. novembro, 2020.
1980.
22
“Pr encoraja a selecção nacional de futebol”. 9 jan. 2014.
8
João Carlos da Conceição (comunicação pessoal, 2 de dezembro de Disponível em: www.jornalnoticias.com.mz. Acesso em: 2 maio,
2021). 2020.
9
Ver: “Resultados eleitorais”. Disponível em: 23
“Desporto é um instrumento de unidade nacional e da paz,
https://www.iese.ac.mz. Acesso em: 11 setembro, 2021. segundo Sumbana”. Notícias, Maputo, 17 de set. 2013. Disponível
em: www.jornalnoticias.com.mz. Acesso em: 4 maio, 2020.
Em 2005 também passou a designar-se Moçambola (MUTHISSE,
10

GASPAR, MACHAVA, 2015). 24


Moçambique, INE. Quadros do produto interno bruto de
Moçambique, 2007-2017. Disponível em: www.ine.gov.mz.
11
“No Cairo, vocês agiram como embaixadores: Presidente
Acesso em: 15 outubro, 2021.
Chissano ao dirigir-se ontem a delegação moçambicana dos jogos
pan-africanos”. Domingo, Maputo, 6 de out. 1991. 25
“Presidente Guebuza na sua homenagem: desportistas promotores
da unidade nacional”. Notícias, Maputo, 27 out. 2014. Disponível
12
“No Cairo, vocês agiram como embaixadores: Presidente
em: www.jornalnoticias.com.mz. Acesso em: 4 maio, 2020.
Chissano ao dirigir-se ontem a delegação moçambicana dos jogos
pan-africanos”. Maputo, Domingo, 6 de out. 1991. 26
“Presidente da República dá força aos Mambas”. Domingo,
Maputo, 23 de jul. 2017.
13
“Os êxitos do nosso desporto terão continuidade com Guebuza:
Presidente Chissano falando ontem aos desportistas da capital”. 27
“Liga Moçambicana interrompe campeonato por falta de verba
Notícias, Maputo, 28 de nov. 2004. para voos das equipas: 'Moçambola' vai estar parado depois da sexta
jornada por tempo indeterminado”. 13 de abr. 2018. Disponível em:
14
“Inaugurada “casa de futebol”. Notícias, 19 de maio, 2015.
https://desporto.sapo.pt. Acesso em: 15 novembro, 2020.
Disponível em: https://www.jornalnoticias.co.mz. Acesso em: 15
novembro, 2020. 28
“O Presidente da República, Filipe Nyusi, garante que o
Campeonato Nacional de Futebol, o Moçambola 2018, não vai sofrer
15
GUEBUZA, A. E. Discurso de S.Exa o Presidente da República
interrupção”. Rádio Moçambique, 30 de abr. 2018. Disponível em:
por ocasião da sua investidura no dia 14 de janeiro de 2010.
https://www.rm.co.mz. Acesso em: 10 novembro, 2020.
Disponível em: https://www.portaldogoverno.gov.mz. Acesso em:
10 novembro, 2020. 29
“Intervenção do Chefe de Estado viabiliza Moçambola”. 14 abr.
2019. Disponível em: www.ligamocambique.org.mz. Acesso em: 5
16
Alguns discursos de Armando Guebuza sobre os Jogos escolares:
maio, 2020
Jogos Escolares: Cimentando a Unidade Nacional, Cultura de Paz,

Rev. cient. UEM: Sér. ciênc. soc. Vol. 5, No 1, pp 21-42, 2023


42

Você também pode gostar