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DEPARTAMENTO DE LOTARIA

DE MOÇAMBIQUE
PLANO DA EXTRACCAO
DE 3 DE NOVEMBRO DE 1978
EMISSÃO N.' 312
Capital de 2 500 000$00, a emitir em 2 - 000 bilhetes ao preço de 100$00 e
divididos em «Décimos» a 10$00.
5 l'rémi i,ía 100 000 ....... 50 000100 7 Pr énno a 50000300 ...... 350 00000
SPrémios a 20000300 ...0........ 10000500
7 Prémio., a 10000500 ........ 0. 70000500 11 Prémios a 2000300 ............
30003N0
S 2i Prémios a 0 ..... 28 000300
32 Prémios a .0000 ... 6000300
AproX. ao 1. prémio 3a éõ0 600030
2 Aproz. ao 2. prmio a 1 50 3000300 2 Aproa. ao 3. prémio a 1 0 0 2 10000
l1 Prémios a 20000-6 sequlncias
numéricas de 3 últimos algar. 30 0000
2499 Tem. ao 1. pémio a 100 ... 249 90300
Os bilhetes premiados são válidos por um ano a contar da data da extracçílo e
pagam-se sem quaisquer descontos ao portador.
ir'

A convite do Governo Moçambicano visitou oficialmente o nosso país o Vice-


Presidente do Vietname Nguyen Huu Tho, que chefiava uma delegação daquele
país. Nascido da mais inspira dora e prolongada guerra popular con tra o
imperialimo o Vietname, tal como Moçambiaue constrói o socialismo, faz parte
do sangue novo que veio for
talecer e consolidar as fileiras dos paí
ses socialistas.
Pági . ... ... 34
ção agrícola. Os camponeses puderam vender a sua produção, Graças à enorme
mobilização do sector dos transportes. Em Niassa decorre a fase final da É a
Festa de Outubro.
campanha de comercialização da produ- Pág . 30
A movimentaão imperialista na Áfri ca Austral continua concentrada em volta de
Zimbabwe. Robert Mugabe numa entrevista à AIM analisa a situação
intensificar a Luta Armada.
Pág ...... 39
Aproximadamente 15 por cento da população da província de Gaza tem acesso
nas Aldeias Comunais onde vivem aos abastecimentos através da cooperativa de
consumo.
Pág ...... 26
PÁGINA POR PÁGINA
Página por Página
Cartas dos Leitores ......... Semana a Semana Nacional ... Terrenos desocupados
...... Livro do i1 Congresso ......
Psicologia e Educação ......... Emulação: nasce a organização ... Cooperativas de
Consumo em Gaza Festa de Outubro em Niassa ...... Vice-Presidente do Vietname
em Mo-
çambiqu Zimbabwe Entrevista África do Irão ... Portugal
CIA . ...
... 14
... 16
e .............. 34
... .. . . .. ... ... 39
com Robert Mugabe ... 40 Sul ... ... ... ... ... 45
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Noticiário Internacional Tempos Livres ......
... 57
60
1 última Página ...... .......
PODE COMPRAR «TEMPO» NAS SEGUINTES LOCALIDADES
PROVINCIA DE MAPUTO: Naraacha. Mnhiça, Moamba, Incoluane. Xinavane e
Boane; PROVINCIA DE GAZA: Xai-Xai, Chicualacuala. Chibute. Chokwé.
Masssngr, Manjacaz, Caniçado, Mabaidne e, Nhamavila; PROVINCIA DE
INHÀMBANE: Inhambane, Quissico-Zavala, Maxixe, Homoine. Morrumbene,
Mambone, Penda e Mabote; PROVINCIA DE MANICA: Ch;moio, Espungabera
e Manirýa; PROVINCIA DE SOFALA: Beira, Dondo e Marromeu: PROVINCIA
DE TETE: Tete, Songo. Angónia, Mutarara, Zóbué, Moatize e Mgoé;
PROVINCIA DE ZAM8EZIA: Quelimane, Pebane. Gilé, Ile. Maganja da Costa,
Namacçura, Chmnde, Luabo. Alto Molocué, Lugela, Gúrué, Mocuba e Macuse:
PROVINCIA DE NAMPULA: Nampulã. Nacala. Angoche. Lumbo, Murrupula,
Meconta e Mosnuril; PROVÍNCIA DE CABO DELGADO: Pemba. Mocfmboa
da Praia e Montepuez; PROVINCIA DO NIASSA. Lichinga e Marrupa. EM
ANGOLA: Luanda, Lubango. Huambc. Cabinda, Benguela e Lobito. EM
PORTUGAL: Usboa.
CONDIÇOES DE ASSINATURA:
PROVINCIAS DE MAPUTO. GAZA & INHAMBANE; 1 ANO <52
NÜMEROS) 940 00; O MESES <25 N M MOS) 47000; 8 MESES 118
NIMEROS) 885*00. OUTRAS PROVíNCIAS. POR VIA AtREA, 1 ANO (52
NÚMEROS) 2.170~00;o MESES <20 NÚME2IRO6S 5850 8 MESES (I
NoMERS> »S~. O PEDIDO DE ASSINATURA DEVE !E
ACOMPANHADO DA IMPORTÂNCIA RESPECTIVA.
Bi rq. ta
14s es d8c4o: António Matons, j a TOSS.
* avier enne : Foto i~m 8es,
it e, Alberto Muianga, Atrmindo Ar o1 uí i ao:
l asse, ..a Seg&il: Correspondente o ,púri ia),
Crespondentesrinterna onais: Augusta Corr hig ~s l oB6go i
f Arica do Sul), HarrI Eoyte (Esfados Unidos): o'bora õ r c. ercer
'~u~~dY W(.Y>;Agências: AIM, Pre .9na, A41i0: 1 D
"empogrífica; Endereço Po 4mnré
1,078-A e B. CP. 2917; Telefs. 26191/2/3 Maputo, Repúb oçambique.

r.- .....
ATITUDE NEGATIVA COM TROCOS
Uma-das manobras do sabotador capitalista cá em Moçambique foi o roubo
sistemático, assim como a fuga com dinheiro moçambicano para outros pai ses,
principalmente a moeda. É neste âmbito que temos vindo a assistir à falta de
trocos nos estabelecimentos comerciais ou nos transportes colectivos de
passageiros. Não obstante existem elementos que aproieitam esta falta de trocos
no nosso pais, Dizem sempre «não há troco camarada, onde eu arran jo?»-
enquanto na realidade têm trocos.
É o caso de um cobrador da' carreira da ROMON da linha Pemba a Mocímboa da
Praia de nome Januário Piquitangue. No dia 2 de Outubro fui ao cruzamento de
Anase na Aldeia Nan gue esperar a carreira com destino a Mocímboa da Praia a
fim de participar numa reunião distrital que teria lugar no dia 3 de Outubro.
Chegada a carreira naquela estação saiu o referido cobrador, fui o primeiro a pedir
lhe o bilhete o como tivesse uma nota de cinquenta escudos para pagar trinta e
cinco escudos ele disse-me que não tinha trocos. Veio um outro senhor que tirou
trinta e cinco escudos e comprou o seu bilhete. E eu desta vez ten do já a certeza
de que o cobrador tinha troco na sacola supliquei fervorosamente, a resposta foi a
mesma tendo ordenado ao condutor para seguir. E assim fui deixado com outros
elemen tos que também estavam nas mesmas condições. No dia 4 de Outubro fui
de novo à mesma estação esperar a carreira. Acontece que nesse dia calha estar o
mesmo cobrador e como eu tivesse ainda os mesmos cinquenta escudos ele
respondeu da mesma forma enquanto isto três pessoas esta-
vam a pagar as suas passagens com dinheiro trocado, mas o co brador Piquitangue
continuava a dizer-me que não tinha trocos e como tal eu não podia entrar na
carreira. O que foi doloroso é o facto de o cobrador ter conseguido trocar cem
escudos de uma senhora que apareceu na mesma altura também com des tino a
Mocímboa da Praia, só porque aquela senhora era da mesma região e entendiam-
se através da língua Maconde. Como eu falasse língua oficial por ser de outra
província e por não compreender maconde o cobrador não podia trocar os meus
cinquenta escudos e eu não ti nha acesso à carreira.
Face a isto concluo que: O cobrador Piquitangue utilizou nos transportes do povo
o nepotismo. Ele não compreende e desconhece o sentido da Unidade Nacional e
o verdadeiro sentido de servir o povo.
Ele usa o liberalismo aproveitando-se da dificuldade q u e o nosso país enfrenta
na questão de trocos para dizer sempre ,,não há trocos camarada, onde eu vou
arranjar?» enquanto a sacola está cheia de moedas.
Para finalizar queria pedir às estruturas da ROMON que chamassem a atenção
deste cobrador que age mal e de um modo geral consciencializar todos os
trabalhadores desse sector no
sentido de servir bem o povo sem excepções regionais e que concebam que os
transportes na fase presente não pertencem a um patrão ,,X», mas sim cons tituem
um património do Estado.
Narciso F. Cumaio
C. Internato de Diaca
Mocímboa da Praia
MAU EXEMPLO DE LATRINAS
A situação das latrinas do Hospital Rural de Montepuez é bastante alarmante.
Isso não é somente sentido por mim, mas por muitos destasede distrital. Várias
observações foram feitas mas nunca procuraram normalizar a situação, Quando
são ob servados sempre a resposta é: as latrinas estão naquelas condições porque é
um lugar público.
Mas se formos a ver, nunca se fez a limpeza desde que foram construídas.
Lembramos que na República Popular de Moçambique a saúde é um direito de ca
da cidadão e é ainda dever do Estado.
No serviço Nacional de Saúde a acção preventiva e curativa de vem estar
integradas ao nível da base tendo contudo sempre em conta que a prevenção deve
ter sempre - a prioridade sobre a cura. A educação sanitária e o saneamento do
meio têm um pa pel grande no conjunto da acção do Ministério.
No tocante e esta vista geral. encontramos que as latrinas destinadas para os
enfermeiros do Hospital referido são por outro lado difusoras de doenças. Não são
feitas limpezas. Dando uma olhadela ao redor das mesmas. tudo cheio de
excrementos sobrepostos. Pois cada enfermeiro que vem não encontra um bom
lugar para fazer as suas necessidades e sendo somente neste lu gar onde é
escondido, ainda que

sendo um doente não pode deslocar-se a grandes distâncias. põem-se os seus


excrementos sobre outros. Todas as latrinas estão cheias de capim. O cheiro é tão
intoxicante e insuportável. Portanto as doenças multiplicam-se o que não podia
ser nes te momento que estamos.
A saúde deve estar totalmen te no seio das largas massas, estar ao benefício do
povo, pois é uma das vitórias do povo moçambicano unido do Rovuma ao
Maputo.
Agora pergunto como é que os trabalhadores enfermeiros deste hospital,
contribuem na mobilização das massas no sentido do saneamento do meio?
Concluin, do posso dizer que não há orga nização e mobilização no sentido de
construirem latrinas, para a prevenção de doenças porque
se houvesse podiam começar pela própria situação dos seus meios tão irritantes.
Ao ultimar queria apelar às estruturas máximas desse hos pital que tenham a
máxima paciência de organizar a própria si tuação interna, particularmente
qua7ido se trata das próprias latrinas dos doentes. Isto é para permitir a melhor
conservação dos doentes e para que as doen ças não se multipliquem no seio das
largas massas.
Alberto Chionesso Matengure
Centro de F. P. P. Montepuez
Cabo Delgado
BAZAR E HIGIENE
Foi no dia 5/10,178 que senti a necessidade de ir comprar o amendoim no bazar
da vila do D is t r i t o acima mencionado. Quando lá cheguei fiquei muito
admirado ao ver que o mesmo encontrava-s e completamente cheio de sujidade e
as moscas a pousarem nos produtos, ao mesmo tempo muitas pessoas ,ompravam
os mesmos produtos.
Uma coisa muito negativa por que aquelas moscas podem causar-lhes doenças.
Mas o que admirei é que também as próprias pessoas são anti-higiénicas, não
respeitam a sua própria vida, elas não se importam de preocupar em organizar
aquele
bazar. Agora eu tenho umas perguntas: Será que os próprios ven dedores daquele
bazar custa-lhes a organizarem-se m e s m o que não haja estruturas? É do Povo,
Porque combatemos se existem estruturas, não há razão de ven der produtos sem
higiene.
Ao terminar, apelo aos ca maradas ou seja às estruturas daquele bazar para que
tomem medidas sobre este caso, porque assim é uma vergonha para o nosso Povo
Moçambicano.
Antônio Mangane Fr:nque FPLM
Montepuez
LATAS DE SARDINHAS SEM CHAVES
A minha dúvida é esta. será que a nível nacional se vendem as latas de sardinhas
sem chaves?
No dia 23 findo dirigi-me a uma casa comercial desta vila a fim de comprar três
latas de
sardinhas pergunto ao emprega do que me atendeu se não havia chaves das
mesmas latas e este respondeu que não havia e que não era preciso, «que não há
do Rovuma ao Maputo». É verdade?
Como é que conseguiram lazer latas para conservas de sardi. nhas, será que a
fábrica Metal-Box em Maputo e Angoche não consegue fazer chaves das latas de
sardinhas? Pergunto isto por que ao abrir as mesmas latas com a laca feri-me
muito e pensei que esse problema fosse co mum.
Mário Omar Assane Pebane
O QUE É O XICONHOCA?
Lamento bastante esta revista não chegar às terras da provfncia de Malange
(Angola). O que me desperta mais atenção nesta revista é a parte intitulada «cartas
dos leitores» onde determinados leitores moçambicanos desmascaram as
manobras que o inimigo interno tenta travar o processo revolucionário traçado
pela FRELIMO, vanguarda do Povo moçambicano.
TEMPO Ml' 422 -- P;- 3

Nas cartas dos leitores utilizam constantemente a palavra .xiconhoca». Peço aos
responsa-eis dessa revista que me dêem uma explicação no que respeita a palavra
citada.
Ao terminar quero agradecer ,oPovo moçambicano em geral e à população de
Maputo em particular a calorosa. recepção oferecida ao nosso Presidente e
à delegação que o acompanhou aquando da sua visita a Moçambique.
Filipe Uíndua
Malange (Angola)
NR- Na nossa edição anteri
or publicámos mais um desenho de «Xiconhoca, o ini, migo da revolução».
Xiconhoca é tal como se apercebeu pelas «cartas dos leitores» o inim-go interno
da revolução. Xiconhoca é .o moçambicano 'que se alia ao imperialismo.
Xiconhoca é o burguês. Xiconhoca é o infiltrado e sabotador.
Xiconhoca é aquele que é 'capaz de vender a Pátria, mesmo que isso custe a morte
de seus familiares, a
troco de qualquer dólar.
No desenho que publicámos nessa edição é mostrado uma das últimas acções do
Xiconhoca. O Governo acabou de comprar novos autocarros porque o problema
dos transportes v,nha afectando muito fortemente a produção nas fábricas. São
uns autocarros enormes que transportam 200 pessoas, e por isto o povo acolheu
esta medida com enorme alegria chamando-lhes os «papa-bichas» (porque
quando chega a uma paragem a bicha acaba imediatamente). Ora, o «xiconhoca»
em Maputo centrou a sua acção nestes autocarros. É isso que mostra o
«xiconhoca» impresso no órgão oficial do Partido
COSTUREIRA QUE TEM MEDO DA DENÚNCIA
Trata-se de uma senhora residente em Ressano Garcia cuja é possuidora de uma
máquina de costura com a qual tem vindo a fazer roupa para muitos residen tes.
Acontece que no dia 14 de Setembro deste ano dirigi-me para lá com o objectivo
de mandar fazer o meu vestido. Quan. do lá cheguei depois de tirar as medidas
deixei-lhe o pano.
Veio-me a causar uma grande admiração quando à tardinha vim saber que ela
tinha devolvido o pano porque tinha medo que fosse participar à polícia. A pessoa
a quem me mandou a devolver o pano disse que viesse dizer que pela «chita» ou
melhor pelo pano queria levar 350 escudos, visto que eu sendo pobre não teria
dinheiro para levantar o mesmo. Então eu pergunto:
Se em Moçambique existe divisionismo, se não existisse essa senhora não faria
roupa só aos capitalistas. Pergunto eu se e justo assim, será isto servir ao povo. Ao
fim e ao cabo ela não paga nenhuma licença. E por que tem medo de ser
denunciada.
Anifa Daúde Tajú
Ressano Garcia
BILHETE DE IDENTIDADE ESCLARECIMENTO
Na revista «Tempo» n.° 417 de 1 de Outubro do corrente ano, na secção de cartas
dos leitores, foi publicada uma carta subscrita por José Biaque em que estes
serviços são acusados de atraso exagerado na emissão de Bilhetes de Identidade.
TEMPO N., 422- pág. 4
Abrindo imediatamente o inquérito conclui-se que: Na verdade existe nesta
Secçao um expediente relacionado com os lesados provenientes da Delegação do
Registo Civil de Montepuez.
Falando do pedido do Sr. José Biaque, este fez entrega dos documentos em 14 de
Março do corrente ano e a Delegação do Registo Civil de Montepuez apenas se
preocupou em remetê-lo a esta Secção em 24 de Agos to conforme a lista nominal
n.I 98, 78, tendo dado entrada nesta Secção em 5 de Setembro.
Quanto ao pedido do senhor Mustaje Jahate, dado a duplicação do número de
Bilhete de Identidade procedeu-se a devolução da lista nominal n.' 158/77 de
3/9/77, em 17/10/77, sem que aquela Delegação até ao momento se tenha
preocupado em cumprir com o solicitado pela respectiva guia de devolução.
Assim, pode-se verificar .que esta Secção não é responsável de maneira nenhuma
sobre o atraso exagerado de Bilhete de Identidade.
O Chefe da Repartição de Iden"
tif icação
Fátima Susete de Jesus Cassamo Nampula
FALTA
DE TRANSPORTES NA CATEMBE
A Catembe é uma localidade pertencente ao distrito de Matutuíne e está próxima
da capital do país, Maputo. A falta de transportes nesta localidade tem
prejudicado muitos trabalhadores. Como é do nosso conhecimento a empresa
estipulou as seguintes vias: Lázaro a Mogazine. Paragem a Elisa e Matutuíne a
Ponta do Ouro. No momento actual verificamos que há um machimbom

bo a circular para essas partes todas sendo a causa principal a falta de mecânicos.
0 machimbombo carrega passageiros a
mais, alguns pendurados nas ba gageiras e sem travões e vidros; por exemplo, os
machimbombos 53 e 77.
José Augusto - Catembe
NR - Sobre este assunto re,
cebemos também uma carta de João Pião Timbane que foca o problema !dos
horários. Diz ele que no dia 3 de Outubro foi apanhar o machimbombo para
Salamanga convencido de que ele saía às 19 horas da Catembe mas só
saiu às 24 horas.,
De no t a r porém que a Catembe está a ser alvo da atenção das estruturas
nacionais dos transportes. Na, passada semana foi decidida a criação de mais uma
carreira fluvial entre aquela
localidade e a Matola.
TRÂNSITO, ACIDENTES
Quem é o responsável o motorista ou o peão? A maior parte dos acidentes, têm
tido como origem o desrespeito ao Código da Estrada:
Abuso da velocidade, condução ilegal e em estado de embriaguez e muitas outras
agressões à Lei do Código da Estrada.
Não irei prolongar tanto, aqui quero focar uma parte que às vezes,é por falta de
consideração, resulta a perda de vidas e danos materiais.
Os atropelamentos:
Os motoristas por vezes têm sido culpados não considerarem os peões que
atravessam vias públicas protegidas em passadeiras, mas, há um caso a ver além
deste. Existem peões que atravessam vias de grande intensidade de trânsito sem
tomar as devidas precauções, utilizando um estilo liberal, e que estes às vezes que
não são víti.mas de acidentes os motoristas que os safam são alvos a postes de
iluminação, arvores ou
outros veículos, por tentarem esquivá-los os quais são sujeitos a enormes
despesas, a suportar, além de danos humanos que se c au s a m involuntariamente.
«Nestas situações vejamos»: O motorista tentou esquivar o peão, este despistou-se
e foi embater num poste, árvore, porque o peão lhe apareceu de repente sem
verificar se um veículo vinha, causa danos materiais o que significa para nós um
prejuízo.
Mas a verdade eu quero saber quem é o responsável, o peão ou o motorista? ,
Sabemos que os acidentes nem são todos de origem acima indicada, mas de
qualquer conua-atenção em tomar nos dois lados.
A .3rigada de Trânsito Nacional (CPM) tem lançado grande campanha de
prevenção aos acidentes e tem sido bem apoia da pela RM que difunde slio~-/ns,
assim como programas de prevenção de acidentes nas vias, de modo a fazer com
que as massas acompanhem as tragédias combatíveis.
Quero apelar aos órgãos políticos, e às organizações de massas no sentido de
consciencializar as massas de modo a compreender qual é a necessidade do nosso
combate contra os acidentes e que esta tarefa faz uma parte do trabalho político e
que poderia ser' desenvolvido nos nossos locais de trabalho (através de Jornais do
Povo) assim como em reuniões.
Seguidamente quero, agradecer à Rádio Moçambique o apoio que nos oferece
sobre o lançamento da campanha de prevenção dos acidentes com a difusão do
programa da Briga. Trânsito Nacional e que tem um grande valor.
Ultimamente estou ao lado do CPM - Brigada de Trânsito com o trabalho que
desenvolveu durante os últimos oito meses (que continuem).
Estarei ansioso aguardando a crítica popular, e a minha res posta.
José Felizberto Sambane
Elemento das FPLM - Inspecção de, Trânsito Militar Maputo
TEMPO N.° 422- pág. 5

Saímos de Maputo muito cedo numa manhã cinzenta e chuvosa. Embora essas
condições fossem bastante agradáveis para a viagem, fazíamos votos de que,
quando chegássemos a Pomene, o sol aparecesse de novo para que os nossos
curtos dias de férias não resultassem em fracasso. A viagem progredia
rapidamente, interrompida aqui e além nos postos de controlo. Ficámos sempre
agradevelmente surpreendidos com a amabitidade dos agentes da polícia e os
membros das milícias. Para além da pergunta de rotina: «Donde vem e para onde
vai?» pareciam genuinamente interessados em saber como iam as coisas pela
capital «Já há carne e peixe?» E para terminar desejam-nos boa viagem.
No Xai-Xai fizemos uma curta paragem para reparar um pneu furado e depois
seguimos atrás dum velho camião transportando os convivas de um casamento
que cantavam alegremente.
Mais adiante estendese a linda província de Inhambane, cenário de lagoas, mar.
dunas rolando suavemente e coqueirais orgulhosos. Procissão constante de
mulheres carregadas com água, crianças, lenha.
mento ce romene, a esraua Iu: propositadamente negligenciada. As empresas
privadas floresciam, aproveitando-se da magnífica natureza moçamb'cana;
propriedade privada como fonte de riqueza - enquanto outros trabalhavam.
Chegámos finalmente Enquanto nos dão umas afnáveis boas vindas não podemos
deixar de notar a surpresa estampada na face do director. «Recebeu o- nosso
telegrama?» perguntámos., «Não», é a resposta. «Bem, uma vez que jd cá estão
]aremos o melhor que pudermos.» E na verdade fizeram. O nosso telegrama,
enviado do Maputo bastante tempo antes da nossa partida, deveria chegar no
segundo dia da nossa estada,.
O tempo está bom e o lugar é fantástico. É fácil de compreender que assim seja
uma vez que tantos sul-africanos e rodesianos constumavam aqui afluir. Os
quartos estão muito limpose os empregados são muito amáveis. Não podemos
acreditar que seja esta a nossa primeira visita pois já nos tomámos velhos amigos.
A praia está coberta de areia macia, conchas coloridas, lagoas protegidas por
rochas e alcatrão. Há eiormes quantidades dele e o problema é o mesmo de praia
para praia. Tornou-se uma prá-
tica comum receoer, juntamente com a nossa porção de sabão, uma garrafa ee
petróleo para nos limparmos. Alcatrão! Não haverá qualquer lei que dê alguma
protecção contra a poluição nas águas territoriais de Moçambique? Não haverá
uma maneira de impedir os petroleros das companhias internacionais de lançar os
resíduos e sedimentos das suas enormes cisternas tão perto da costa? E o que é
pior não há água em Pomene. A bomba da água está avariada há já algum tempo e
não há peças. No entanto o livro dos visitantes reflecte apenas apreço pela beleza
desta zona da costa moçambicana e pela amabilidade dos empregados e isto nas
mais variadas línguas: Espanhol, Alemão, Português, Russo.
A Ilha Josina Machel (ex-Sta. Carolina) é igualmente acolhedora. Os primeiros
dois dias de chuva e vento mostram toda a extensão dos estragos sofridos já por
este hotel. Infiltrações de água janelas estragadas, portas que faltam, balaustradas
a cair e muita ferrugem.
Todo o conjunto, que costumava ter para cima de 300 hóspedes por dia
decompor-s e-á lentamente se nada se fizer por ele. Falei com os empregados ,que
parecem estar todos muito preocupados com o estado de
TEMPO N. 422- pág. Ó

coisas e ansiosos por manter o local em funcionamento. «Que se passa?»


perguntei. «É falta de dinheiro, de pessoas ou ambas as coisas?» Na verdade nada
disso. A realidade é que não há uma verdadeira estrutura, não há orientações nem
comunicações, não se sabiaa quem dirigir relatórios, propostas, ideias construtivas
ou simplesmente a quem pedir ajuda.
Há muitas tarefas importantes para realizar em Moçambique socialista e o
turismo, de momento, não é uma pri.oricdade. Mas talvez não custe muito
estabelecer novas infra-estruturas; as velhas já não existeni e ainda não se
estabeleceram novas. A iniciativa e a vontade dc povo para melhorar o estado de
coisas é tremendo, mas frequentemente há falta de directivas e de um -nteresse
genuíno a níveis mais altos. Moçambique tem enormes recursos para o
desenvolvimento do turismo.
Já há ligações turísticas estabelecidas entre os países socialistas, e Cuba por
exemplo. Talvez que o alargamento dessas ligações abra novas possibildades.
Mas antes- de se darem tais passos é necessário que existam canais para
comunicação. E até
talvez já existam, apenas um pouco obstruídos.
E o fim das férias chega sem pre depressa demais, Tal como em Pomene, quando
todos os membros do nosso grupo receberam um ramo de flores e até o jeep
estava decorado com buganvilias, sentimo-nos extrema-mente reconhecidos por
todos os cuidados e atenções recebi-
das. E seguem-se os inevitáveis apertos de mão, acenos, punhos erguidos.
Partmos passando pe lo caminho por barcos de pescadores mais a sua abundante
pescaria.
Bom trabalho, Moçambique!
I. S. uma Cooperante Maputo
Todas as cartos dirígidas a esta secção devem çonter o nome do leitor, a sua
provincia e a sua profissão devem conter também a sua morada ou local de
trabalho ou o n." do Bilhete de Identidade. As cantas que não tiverem pelo menos
uqa destas trás últimas indicações não poderão ser publicadas. Se o leitor não
quiser que o nome seja publicado bem assina a morada ou local de trabalho deve
der indicação do como quer assinar a sua carta que nós respeitaremos esse s
aeseíô.
Por razões de espaço pedimos também #'ue todas as cartas sejam curtas. Se o
leitor tiver possibilidades deve também mander-nos uma foto ou um desenho
relacionado com os assúntos que menciona.
Muitos leitores telefonam-nos a perguntar se é necessário pa&gr alguma coisa
pela publicação das suas cartas. Não 4.necessário pagar nada e qualquer leitot
pode escrever tantas vee, quantas quiser desde que respeite as exigências
protocolares que fazemos.
Elas poderão ser entregues directamente na nossa redacção, enviadas pelo correio
ao Director ou é direcção
*R, iv4sta Tempo, Secção de Car~ s.dos Leitores. Av. Ahmed Sekou Touré, C. P.
2917 - MAPUTO».

"QUEREMOS QUADROS
QUE APRENDAM DIARIAMENTE"
* Presidente Samora ao empossar novos membros do governo
Em cerimónia realizada no dia 27 do mês
findo, o Presidente Samora Machel conferiu pos"
se aos membros do Governo nomeados no dia 20 para os cargos de Ministros da
Agricultura, da Indústria e Energia e das Obras Públicas e Habitação e Director cd
Comissão Nacional de Aldeias Comunais, respectivamente Mdrio Machungo,
Júlio Carrilho, João Baptista Cosme e Job
Chambal.
Ao dirigir-se aos novos membros do Governo, após o juramento e a assinatura
dos actos de posse pelos elementos nomeados, o Presidente Samora Machel
afirmou
por parte de alguns responsáveis e recomendou que prestássemos maior atenção
aos problemas da vida do Povo, recomendou que prestássemos maior atenção aos
Consideramos este acto como um desafio e estamos certos de que vamos vencer».
A questão da responsabilidade individual e da direcção colectiva ao nível dos
diversos sectores, bem como a
o Presidente Samora Machel ao usar da palavra na to! mada de posse dos
membros do Governo, no decorrer da cerimônia que contou com a presença de
dirigentes do
Partido e do Governo
a determinado passo que «é preciso que estejam na vanguarda do processo de
dinamização camaradas nossos que saberão na prática colocar a política no posto
de comando.»
«A IV Sessão do Comité
Central analisou e detectou desvios no cumprimento das tarefas, desvios
delibárados TEMPO N.- 422 - pág. 8
problemas económicos» disse o Presidente da, FRE. LIMO depois de recordar
que as nomeações dos novos membros do Governo resultam das importantes
decisões tomadas pela IV Sessão do Comité Central da FRELIMO.
O Presidente Samora Ma. chel explicou que «escolhemos esta via difícil para
resol.
Ao alto da esquerda para a direita: Mário da Graça Machungo e Júlio Zamith
Carrilho; em cima da esquerda para a direita: João Baptista Cosme e Job
Chambal, respectivamente, Ministro da Agricultura, Ministro da Indústria e
Energia, Ministro das Obras Públicas e Habitação e Director da Comissão
Nacional de Aldeias Comunais
vermos na totalidade os problemas do Povo» e sublinhou que vários elementos
foram já detectados e afastados por não se identificarem com os interesses do
Povo, acrescentando:
«Esperamos o vosso apoio e nós daremos o apoio necessário para todos
alcançarmos os objectivos definidos.
permanente dinamização dos quadros, foi outro aspecto analisado pelo Presidente
Samora Machel que a este propósito realçou uma das preocupações do Partido ao
dar tarefas aos seus quadros, afirmando que «queremos quadros que aprendam
diariamente».
e
A11Wýk
lLANA A SEM
41 COOPERANTES CUBANOS REGRESSARAM AO SEU PAIS
Regressaram no passado sábado a Cuba, 41 internacionalistas cubanos que
durante mais de doze meses estive ram a trabalhar em vários sectores de
actividade do nosso Pais em tarefas integradas na Reconstrução Na. cional.
Os referidos cooperantes estiveram integrados em cinco brigadas de trabalho,
distri buídas pelos sectores da Saúde, Educação, Transportes, Comunicações e
Pescas e foram recentemente rendidos nos trabalhos que estavam a desempenhar.
O desempenho das suas tarefas em Moçam bique teve lugar no âmbito dos
acordos de cooperação existentes entre a República Popular de Moçambique e a
República de Cuba, firmados aquando da visita que o Presidente Samora Machel
efectuou àquele país socialista em Junho de 1977.
Um porta-voz da brigada de médicos, em declarações prestadas ao jornal
«Notícias» ao falar da sua experiência em Moçambique disse que «sentimo-nos
como se esti-
véssemos em casa pois o in. ternacionalismo militante cons titui uma tarefa de
todos nós e a nossa permanência em Moçambique foi uma experiência nova
sobretudo ao nível da nossa especialidade na medida em que tivemos que
aprender determinados tipos de doenças que desconhecíamos e isso foi de facto
uma grande experiência para nós.»
Foi também referido que «todas as dificuldades encontradas foram superadas
devido à identidade existente entre nós e os colegas moçambicanos» tendo o
mesmo porta-voz afirmado que «queremos salientar que somos testemunhas dos
avanços obtidos pela revolução moçambi. cana, particularmente da Saúde como
foi o caso da Socialização da Medicina, a criação dos Centros de Saúde, os
programas de generaliza. ção da Medicina Preventiva e de outras tarefas e por isso
sentimo-nos honrados por termos participado no processo revolucionário
moçambicano.»
"COMETAL-MOMETAL" CONCORRE A CONSTRUÇÃO DE BARRAGEM
NA REPÚBLICA MALGAXE
A empresa metalo-mecânica moçambicana «Cometal-Mometal» e a «Sorefame»
vão participar conjuntamente num concurso internacional na Re pública Malgaxe,
para a cons trução da barragem de «La Vohitra» naquele País. Caso
se classifiquem no referido concurso para a construção do empreendimento, cujas
obras terão inicio em 1980, a participação de Moçambique permitirá uma entrada
no País de cerca de 25 mil contos em divisas.
No que diz respeito ao interior do Pais a «Cometal-Mometal» produzirá no
próximo ano a maioria dos com. ponentes de materiais para a manutenção das
comportas da barragem de Massirgir, o que permitirá que o País poupe dez mil
contos em divisas, sendo a montagem des. ses componentes feita con juntamente
com a empresa portuguesa «Sorefame».
Neste momento estão tam. bém em curso os trabalhos de reparação da barragem
de Macarretane, no distrito do Chokwé. Por outro lado, as duas empresas
enviaram à
'Direcção Nacional de Águas uma proposta no sentido de efectuaremr um trabalho
con. junto na construção da barragem dos Pequenos Libombos, estando previsto
para breve a ractificação de um acordo de cooperação entre ambas as empresas. O
referido acordo prevê, entre outros aspectos, o envio de operários moçambicanos
a Portugal, onde em, períodos de seis meses se especializarão na indústria metalo-
mecânica, para posterior organização deste sector em Moçambique.
49
O Presidente da FRELIMO e Presidente da República Popular de Moçambique,
Samora Machel, recebeu no passado dia 27, no Palácio da Presidência, os
embaixadores designados da República do Uganda e do Reino de Espanha, que
fizerai a entrega das suas credenciais. No decorrer da cerimónia, a que esteve
presente o Ministro dos Negócios Estrangeiros, Joaquim Chissano, o Presidente
Samora Machel garantiu aos novos embaixadores o total apoio da República
Popular de Moçambique para o cumprimento do sua missão. As imagens relerem-
se ao momento em que Alphonse Oseku, Embaixador da República do Uganda
(ao alto) e Alvaro de Castila y Bermudez-Caíiete, Embaixador do Reino de
Espanha
(cm c !O) entregaram as suas-credenciais
TEMPO N. 422 pág. 9 :

REAPETRECHAMENTO DAS PEDREIRAS JOVENS ROMENOS


AUMENTARA CAPACIDADE EXTRACTIVA E CHECOS
As pedreiras localizadas na Província de Maputo encontram-se numa fase
avançada de reorganização; com o ob. jectivo de permitir o cumprimanto das
metas de produ ção, estabelecidas em cerca de 20 mil metros cúbicos de pedra por
mêsý Trabalho idêntico decorre nas restantes províncias do País, na sequên cia do
levantamento feito re. centemente, à escala nacional. com vista à aquisição do
equipamento necessário para o correcto funcionamento deste importante sector de
exploração de jazigos de pedra.
Esta informação foi divulgada pelo Jornal «Notícias», que acrescenta ser a
produção actual do sector de 7 a 8 mil metros cúbicos, quanti-
dade bastante reduzida para as necessidades doaís. ts.O aumento da produçáo e da
produtividade, que resuttar& do reapetrechamento do sector, particularmente na
Província do Maputo, exigirá o fabrico, pela empresa «Cometal-Mometal», de
cerca de 100 vagões especiais para o transporte do balastro, estando o seu inicio
previsto para o primeiro trimestre do pró~ ximo ano.
Citando a informação prestada por um porta-voz do Sector Nacional de Pedreiras,
o referido matutino acrescenta que se prevê a abertura de duas novas pedreiras nas
Províncias de Gzzá" e Inhambane. Em relação à Província de Gaza, está assente a
exploração do jazigo to ali-
zado a 100 quilómetros do Chokwé. distrito do Limpopo.
No que se refere ao equipamento necessário para a plena laboração das pedreiras
cuja chegada ao País está prevista para o primeiro se mestre do próximo ano,
salienta-se a aquisição de máquints perfuradoras e compressoras, entre outro
material.
Ainda no próximo ano, a Direcção Nacional da Indústria de Construção 'Civil
DINIC-, estrutura de que depende o Sector de Pedreiras. prevê a realização de
vários cursos de formação por forma a elevar o nível técnico-profissional dos
trabalhadodores deste sector.
e
EM MOÇAMBIQUE
Chegaram no passado dia 27 a Maputo duas delegações juvenis da República
Popular da Ronénia e da República Socialista da Checoslováquia. numa
deslocação que se enquadra no âmbito do reforço e estreitamento do la. ços de
amizade existentes en. tre a juventude moçambicana e a juventude daqueles países
socialistas.
A deslocação das referidas delegações a Moçambique tem também como
objectivo estudar os canais e mecanismos de desenvolvimento *da cooperação a
vários níveis,
ROBERT MUGABE NA ONJ
Robert Mugabe, presidente da ZANU e co-dirigente da Mostrando-se
marcadamente optimista quanto ao proFrente Patriótica, esteve na sede da
Organização, Nacio- gresso da luta armada de libertação nacional - que se nal de
Jornalistas na noite de 28 do mês passado. Duran- alarga a mais de 80 por cento
do território - Mugabe te mais de 4*horas Robert Mugabe historiou o processo
disse não preconizar datas para a queda do regime de
da resistência nacionalista no Zimbabwe desde a for- Smith mas, acrescentou,
«a vitória está à vista»,
mação dos primeiros partidos nacionalistas nos fins da Na foto o presidente da
ZANU encontra-se ladeado por década de 50 até à fase actual da luta armada,
porme- Simon Muzenda, vice-presidente daquela organização
norizando algumas das causas principais das contradições que ao longo do tempo
têm marcado as fileiras do (segundo à esquerda) e por membros do Secretariado
nacionalismo zimbabweano. Narional da ONJ
TEMPO N.o 422- pág. 10

JOAQUIM CHISSANO
VISITA PAISES AMIGOS
O Ministro dos Negócios Estrangeiros da República Popular de Moçambique,
Joaquim Chissano, partiu de Maputo no dia 30 do mês findo, com destino a três
países amigos[ da »Europa, nomeadamente República Democrática Alemã,
Romênia e Jugoslávia.
Nesta deslocação, cujo objectivo é o estreilamunto das relações de amizade e
cooperação existentes entre Moçambique e aqueles países, serão discutidas, entre
outras, questões relacionadas com a actual situação no plano internaco- O
Presnáente da FRELIMO e Presidente da Repúblca nal,. segundo informou o
jornal «(Noticias». Popular 'de Moçambicue, Samora Machel, recebeu no
Nat uoslvinorm tiulaJoauim ssao on N passado dia, 25 o Ministrc da Defesa
da República Unida
Na Jugoslávia, em particular, Joaquim Chissano abordará da Taania, Rachid
Kawawa. A imagem refere-se ao com as autoridades daquele País aspectos
relacionados com encontro
a próxima reunião extraordinária do «Bureau» de-Coordenação do Movimento
dos Países Não'Alinhados, a ter lugar I. no inicio do próximo ano em Maputo.
INCMIO EM ALDEIA COMUNAL PROVOCADO POR ACÇÃO INIMIGA,
Uma escola, uma cooperativa de consumo, um armazém das Lojas do Povo, uma
barraca para reuniões e quatro casas de habitação, na Aldeia Comunal «25 de,
Setembro», em Marromeu, na Província de Sofala, foram destruidas por um
violento incêndio que detiagrou na madrugada do dia 23 do mês findo.
Esta informação foi divulgada pelo «Notícias da Beira» citando um enviado da
Rádio Moçambique, que acrescenta decorrerem as devidas investigações com
vista a de' tecta-se os causadores do incêndio que se enquadra numa tentativa do
inimigo, com vista a desmobilizar os habitantes da referida Aldeia Co munal.
Neste contexto, foram detidos, por suspeita, três elementos que se encontram a
cargo das forças policiais do referido distrito.
Enquanto isto, as estrutu. ras distritais do Partido, Estado e Organizações
Democráticas de Massas, em Marromeu, programaram uma série de reuniões com
os camponeses organizados em aldeias comunais, com vista a sensi bilizá-los
sobre a necessidade da intensificação da vigL lância, para que seja detectada toda
e qualquer acção inimiga no nosso seio.
Estes trabalhos contam com o apoio da brigada provincial dos Conselhos de
Produção, chefiada por José Pontes Torcida, membro do Comité Central da
FRELIMO e secretário provincial desta estrutura organizativa dos trabalhadores,
que se encontrava a trabalhar naquele distri to,
O coronel Hashim Mbita, Secretário Executivo do Comité de Libertação da
Organização da Unidade Africana (OUA), foi recebido na passada sexta-feira
pelo Presidente Samora Mache, a quem fez a entrega de uma mensagem do
SecretárioGeral Administrativo da OUA
DUAS MIL MULHERES EM REUNIÃO
Cerca de duas mil mulheres de Namuno, na Província de Cabo Delgado,
participaram numa reunião da Organização da M u lhe r Moçambicana (OMM),
ao nível da localidade de Reteta.
O encontro tinha como objectivo proceder à distribui. ção de diversos cartões da
OMM, no âmbito da estruturação daquela Organização Democrática de Massas.
Na ocasião, foi também feita urna análise do papel que a mulher deve
desempenhar na
sociedade para o triunfo da Revolução.
O «Notícias da Beira», que di vulgou esta informação, acres centa que os
elementos da estrutura provincial da OMM que no distrito de Namuno orientaram
aquela reunião realizaram idêntico trabalho na localidade de Balama, tendo ainda
visitado a cooperativa de indústria.hoteleira «25 de Setembro», localizada no
antigo Centro de Regressados em Mpire.
TEMPO N. 422 - pág. 11

àWffýSEEEMAN__A A SEMANA
EXPOSIÇÃO COREANA
Uma kxposição de foto- revoluçao do Povo corea
grafias, livros e artigos de ar. dirigida pelo seu Presider tesanato, num total de
1200 Kim II Sung, assim como trabalhos que integram gumas obras de
bordac
350 espé1cies de objectos, feitos pelas mulheres cor
promovid4 pela Embaixada nas».
da República Popular Demo- Sobre es relações de a
crática da Coreia em Mo- zade e cooperação entre çambique em colaboração
RPD da Coreia e Moçam
com o M<inistério da Educa- que, afirmou que na sua 1 ção e Cultura do nosso,
País, litica externa «o Governo foi aberta ao público no pas República Popular
de Moç
sado dia 28, no Museu Na- bique tem expressado o
cional de Arte. total apoio à luta do no
A realização desta exposi- novo pela reunificação
ção enqttadraose no ãmbito Pátria de modo independ
'no te,
aidos ea.
mi.
.a
!bL Do.
da em
seu sso
da en-
Aspecto da exposição inaugurada no passado dia 28, no momentO em que era
visitada pelo Secretário-Geral do Ministério da Educação e Cultura no nosso Pais,
Sílvia Costa, aoompanhado por responsdveis da Embaixada do ReptlblCQ
Popular Democrática da Coreia em Maputo
da troca de experiências no domínio da arte e cultura en tre os poVOs coreano e
moçambicanO, dirigidos pelos respectivOs Partidos de Van.
guarda - o Partido do Tra.
balho da Coreia e a FRELL MO - dC acordo com o que foi afirmodo por Che
Chol Bom, chefe da delegação de expositor#S daquele país so.
cialista, nO decorrer de uma conferênCia de Imprensa con cedida deis dias antes
da
,abertura da exposição.
O mesno elemento afir.
mou que «entre os diversos trabalhos que constituem a exposição salienta-se uma
co lecção.de livros escritos por autores otrangeiroe sobre a
TEMPO N.° 42 -pág. 12
te e pacífico e pela não ingerência», sublinhando que o Povo coreano não cessará
nunca o seu apoio militante e a consolidação das suas relações com o Povo e o
Governo moçambicanos.
No decorrer da exposição, à noite, terá lugar a pro. jecção de filmes focando vá.
rios aspectos da luta do Povo coreano pela construção do socialismo, incluindo
também um documentário sobre a recente visita do Presidente Samora Machel á
República Popular Democrática da Co. reia.
e
EMPRÉSTIMO E DONATIVO
DA DINAMARCA
Tiveram lugar em Maputo conversações entre uma delegação moçambicana e
uma delegação dinamarquesa, para a preparação de acordos, segundo es quais a
Dinamarca concederá a Moçambique um empréstimo de 30 milhões de coroas
(cerca de 159 mil contos), ainda este ano.
Um comunicado da Direcção Nacional de Cooperação Internaçional, citado pela
Agência de Informação de Mo çambique, precisa que os acordos em preparação
prevêem aInda um donativo do Governo da Dinamarca a Moçambique, no valor
de 24 milhões de coroas (cerca de 156 mil contos), a ser entregue em 1979.
Os acordos serão assinados durante a próxima visita a Moçambique do Ministro
Sem Pasta da Dinamarca, Lise
Oestergaard.
PROFESSORES CORRUPTOS
CONDENADOS
EM TRIBUNAL POPULAR
O Tribunal Popular de Ribáuè, considerado piloto a nível nacional, reuniu no dia
24 do mês findo para resolver casos de desvios de fundos e de violação de uma
menor, praticados por pro fessoras daquele distrito.
Após a apresentação dos implicados, o Presidente do Tribunal Distrital de Ribáuè
pôs cada um dos casos à apreciação da Assembleia, constituída na sua grande
maioria por camponeses provenientes das aldeias comunais e de outros centros de
vida de produção organizada.
Com base nas sugestões recebidas e tendo em vista re integrar os implicados na
nova sociedade moçambicana, o Tribunal viria a tomar as seguintes decisões;
Patrício Chivaleque, que desviou 12670 escudos, de.
verá repor a quantia e sub meter-se a reeducação por um período de seis meses,
participando num campo de produção, Agostinho Nibueremue, além de repor os
16 908 escudos e 50 centavos que desviou, passará por oito meses de reeducação,
Daniel Manuel João, que desviou 4 590 escudos, deverá repor a referida quantia e
submeter-se a seis meses de reeducação, trabalhando num cem po de produção,
Henrique Gungunhana, por ter desviado 11 350 escudos terá que repor a quantia
desviada e passará por cinco meses de reeducação, Francisco Chale. que desviou
15100 escudos fará a reposição da referida quantia e cumprirá sete meses p meio
de reeducação, e Feliciano Pedro Nomola, irá repor os 3500 escudos desviados e
passará por seis me es e meio de reeducação:

Quanto a Manuel Dias Alvaro. que violou uma aluna menor da Aldeia Comunal
de Namitonha será submetido a reeducação por 12 mees.
O Tribunal Popular Distrital de Ribáuè deliberou também que todos os implicados
terão que p-gar o imposto de justiça.
O director Provincial de Justiça de Nampula, Luís Sa cramentb, que esteve presen
te ao julgamento, ao referir.
-se à forma como decorreram os trabalhos criticou a fraca participação dos
familiares dos implicados e de alguns trabalhadores da Educação e
da Função Pública presentes o julgamento.
Sobre a parcialidade mani festada por alguns daqueles elementos nas poucas inter
venções feitas, exortou-os a que, de futuro, tratem 'mais profundamente os
problemas do Povo, e falou demorada mente sobre o papel do pro fessor na
República Popular de Moçambique, adiantando que os professores que acabavam
de ser julgados não tinham sabido cumprir as ta. retas que o Povo lhes tinha
confiado na criação do Homem Novo.
Cooperativas de Consumo
em seminario
Terá lugar de 3 a 4'do corrente mês o 1, Seminário Provincial das Cooperativas
de Consumo de Tete, que foi
antecedido por uma reunião de planificação realizada no dia 24 do mês findo, na
sede provincial do Partido.
FUTEBOL ASSIM NAO!
A 2.' jornada da fase final do campeonato nacional de futebol foi marcada poi
mais um desses sururus que em tudo contradizem o tipo de desporto que
queremos, "ouco a pouco, consegui.
O senhor Gil Milcndo, árbitro do jogo Sporting da Beira - Desportivo de Maputo,
teve uma arbitragem bastante infeliz, prejvàicando, na opinião de muitos, a equiva
beirense. E faltavam ainda sete minutos paro terminar o encontro, com o Sporting
a atacar procurando o empate, quando Milando dá por terminado o desafio. No
momento em que deu pelo erro já era thrde demais para fazer recomeçar o jogo: o
rectângulo da Machava tinha sido «invodido» por largas centenas de pessoas que
cercaram o senhor Milando que não foi seriamente aleijado - ou algo pior - porque
os polícias presentes formaram rapidamente um cordão h?/mano à sua volta.
Um sururu dos de antigamente, a cheirar a velho, velhíssimo.
Assim não!
Esta reunião de planificação teve como objectivo tra. çar a estratégia dos
trabalhos do seminário para que se obtenham os melhores resultados e foi
orientada por Israel Fernando Nkuna, mem. bró da Comissão Nacional das
Cooperativas de Consu. mo, e contou com a participação de responsáveis de
diversos sectores de actividade a nível da Província.
No decorrer da reunião fo. ram analisadas as dificuldadeas encontradas no
trabalho de formação e desenvolvimento das cooperativas de consumo,
especialmente a falta de quadros devidamente preparados, tendo Israel Nku na
salientado como uma das 1orefas mais importantes do .m-nário o lançamento
dmais bases para a criação de cooperativas de consumo junto das Aldeias
Comunais, como zonas prioritárias. Garantiu também que irão ser estudados os
problemas de abastecimento dos produtos de primeira necessidade a 7o nas
consideradas prioritãri-" para além da mobilização, ai fabetização e educação def
adultos. o
TEMPO N.' 422-pág. 13

~.~IIIIk~
VÃO SER TRANSFORMADOS
EM PARQUES DE RECREIO
Para que os terrenos vagos estejam limpos, os grupos dinamizadores
estão empenhados no sentido de que as próprias populações os 1i m p e m.
Está porém previsto que mais tarde venham a ser parques de recreio e zonas
verdes construídos pelos moradores, com apoio técnico e material do
Conselho Executivo.
Na cidade do M a p u t o havia terrenos que não pertenciam ao governo colonial
nem ao município. Pertenciam a grandes latifundiários como por exemplo, o
senhor Sommerschield, cujo ter reno tomou o nome do seu proprietário. Esse
senhor vendeu-o mais tarde ao município. Este por seu turno vendeu-o em hasta
pública. Quer na zona habitacional quer na zona comercial, havia muitos outros.
TEMPO N 422 -- pág. 14
Sobre questão dos terrenos vagos tivemos uma conversa com o Presidente da ex-
Câmara Municipa, onde nos inteirámos do plano existente sobre eles que tiram
toda a beleza à cidade do Maputo devido ao estado de abandono, naiguns casos de
sujidade em que se encontraml O Presidente daquele antigo organismo do estado,
Aí berto Massavanhane, disse-nos que em relação à zona residencial havia um
projecto de aproveita mento de todos os terrenos vagos
ali existentes para construção de parques infantis, de recreio. e transformar alguns
em zonas verdes. Para este trabalho o futuro Conselho Executivo da Cidade vai
fornecer pessoal técnico e material. Em parte a construção destes parques vai
resolver o problema de muitas crianças que em vez de - como agora - se meterem
num terreno cheio de lixo irão brincar nos baloiços desses parques.

Na imagem vemos um terreno ao lado do Museu Nacional de Arte. Muitos


terrenos vagos além de terem muita sufidade que dá origem ao aparecimento de
ratos, têm servido como urinóiý públicoS, como a própria imagem testemunha
No que diz respeito aos terrenos vagos localizados na zona comercial, como por
exemplo, o terreno que se encontra em frente ao restaurante «Djambu», não há
nada definido. A única coisa que o Conselho Executivo preconiza é manter os
mesmos terrenos limpos até que aí haja construção.
Ouvimos uma sugestão que nos parece válida. Que, enquanto nesses terrenos
não se construir nada deveriam servir de parqumetros onde os proprietários das
viaturas poderiam estacionar os seus carros quando fossem trabalhar ou, à noite
ao cinema. Nesses parquímetros o estacionamento de uma viatura poderia ser
pago, servindo o dinheiro obtido para permitir que pagasse às pessoas encarregues
de guardarem os automóveis. Por um lado havia de minimizar os roubos e assaltos
dos automóveis. Por outro servia para criar alguns postos de trabalho.
Encontramos na zona urbana da cidade do Maputo inúmeros
terrenos vagos. O que se encontra naqueles lugares, frequentemente, são
imundícies provocalas por vezes pelos moradores que residem ao pé desses
terrenos. Alguns por puro desconhecimento das consequências que podem advir
por um simples gesto de deitar lixo num terreno vago, onde geralmente, as
crianças fazem dele um parque de brincadeiras. Por outro lado, há quem utilize os
mesmos lugares, diariamente, como urinóis.
Nalguns terrenos houve a preo cupação de se pôr um letreiro que proíbe aos
moradores de deitar lixo naqueles locais, que normalmente é respeitado.
Os terrenos vagos que estão ao lado de zonas residenciais são os que mais
constituem o perigo no que diz respeito à saúde pública visto que os moradores
deitam neles lixo místurado com restos de comidas que vão dar origem ao
aparecimento e multiplicação dos ratos que chegam atingir o tamanho de um
gatinho. Vimos
isso num terreno vago que se situa ao lado do prédio residencial s:to perto da
igreja da Munhuana, na avenida Maguiguana. Como são muitos, os ratos já não
con seguem alimentarem-se suficientemente naqueles lugares e recorrem agora às
casas. Sendo estes animais causadores de muitas do enças isso torna-se bastante
perigoso. Além de serem abrigos dos ratos esses terrenos são também ninhos dos
mosquitos que como sabemos são agentes transmissores de uma doença muito
conhecida - o paludismo.
É por isso que as soluções preconizadas e a serem implementadas pelo Conselho
Executivo são de facto correctas e urgentes. É bom que as populações o
compreendam e o apoiem com a sua participação nas jornadas de limpeza e na
construção dos parques infantis.
T
TEMPO l.° 422 p g 15

IM
AI
É já no próx-mo dia 18 que serão lançados comercialmente os primeiros
exemplares d o livro sobre o 3. Congresso. O lançamento será feito em todas as e
a p i t a i s provinciais, mormente, em praças pú blicas.
Uma semana antes, dia 11, data em que termina a campanha nacional de
estruturação do Partido, será entregue ao presidente Samora Machel um exemplar
do livro. Esta semana começam a ser cozidos os primei-
ros 500 exemplares após todo um processo que obedeceu o mais rigorosamente
possivel ao objectivo de fazer deste livro um marco na realização gráfica
moçambicana. Assim foram feitas 85 impressões com mais de 500 mil tiragens.
Paralelamente todas as provas f o r a m minuciosamente revistas e mesmo após 8
revisões foram descobertos alguns erros ortográficos emendados já na fase de
impressão. Realizado nas oficinas tipográficas da Tempo
TEMPO N- 42? - pág- 16
O
LIVRO
VwwNN~ Wý5ý.WI~ - -- .. * ,

gráfica, Minerva e Imprensa Nacional, o livro tem todos os requisitos de uma obra
'de prestígio, desde o papel ,couchet» à capa dura.
Após uma primeira edição de 5 mil exemplares pensa-se iniciar imediatamente a
segunda edição, esta virada para o exterior e desde já se prevê que ambas se
esgotem depressa.
Como dissemos na revista da smana passada, este livro sobre o 3.1 Congresso é
dominado pela fotografia. suscitan do assim uma leitura» a partir da imagem.
Seráí pois bastante interessante aguardar as múltiplas interpretações de conjunto
que sem dúvida surgirão e, com base nisso, partir para um estudo sistematizado
do
papel da imagem na co municação. É pois possível que este livro, para além do
seu interesse de registo histórico, venha a suscitar o aprofundamento desse
capítulo da comun'cação que tanta importância assume num país como o nosso
em que cerca de 90 por cento da população é analfabeta.

O CONTRIBUTO DA PSICOLOGIA
NA BATALHA DA EDUCAÇÃO
o mesa-redonda com o professor Joaquim Bairrão
Durante o passado mês de Setembro a convite do Curso de Ciên 2ias da Educação
da UEM esteve em Maputo o Prof. Joaquim Bairrão, doutorado em psicologia,
que vem exercendo desde há vários anos a sua actividade de psicólogo, sobretudo
como especialista de crianças com dificuldades escolares e outras formas de
inadaptação.
O Prof. Joaquim Bairrão realizou, durante cerca de três semanas um Seminário
sobre «Psicologia do Desenvolvimento e sua importância na Educação em
Moçambique». Neste seminário participaram professores e alunos cio Curso de
Ciências da Educação, técnicos do Centro de Orientação Psicopedagógica da
UEM, e agentes de educação e ensino ligados ao Ministério da Educação e ao
Ministério da Saúde.
A revista «TEMPO» promoveu um encontro entre alguns professores e estudantes
do Curso de Ciências da Educação e este psicólogo, dada a ímportância que as
suas conferências revestiram, pois nelas se abordaram alguns dOs problemas
educacionais mais preocupantes na batalha da educação. Transcrevem-se a seguir
as principais questões que nesta mesa-redonda foram apresentadas, bem como a
essência das respostas dadas pelo Prof. Joaquim Bairrão, cuja vinda a
Moçambique foi determinada não só pela sua elevada competência científica
como pelo facto de ser um dos raros psicólogos de língua portuguesa que, dentro
duma perspectiva marxista, articulam de forma verdadeiramente dialéctica a sua
teoria e a sua prática.
Professor Joaquim Bairrão; «Temos que conceber a psicologia como uma czencua
que apela p ara a interdisciplinaridade, atenta a fazer a ponte com
as outras ciências»
1: QUESTAO: Importância da psicologia e papel do psicólogo na interpretação da
realidade e na proposta de formas de intervenção numa sociedade como a
moçambicana.
Prof. JOAQUIM BAIRRÃO: O psicólogo não está numa posição diferente da dos
outros trabalhadores científicos. Segundo a concepção da psicologia em que nos
.nteressa colocar-nos, pretende ver o Homem em situação concreta e duma forma
global e integrada. O contributo da psicologia consiste em recordar que o Homem
foi criança, que essa criança esteve ligada biologicamente e afectivamente à Mãe
e que a sua integra ção harmoniosa no Meio começou muito cedo. Assim, nós
pensamos que quando a criança chega à Escola ou o Adolescente entra no mundo
do Trabalho, são já a consequência duma longa História. Por isso hoje em dia a
psicologia quer ter em conta numa linha evolutiva e concreta
- todos os momentos da vida do Homem, não o considerando cortado da realidade
ou - como acontecia com certas correntes estáticas e idealistas - dividido em
comportamentos analisados isoladamente. A conduta humana define-se através de
estruturas que resultam da permanente interacção entre os aspectos biológicos e
os aspectos sociais. Em linhas gerais -- e como disse Wallon, à luz do marxismo -
a Psicologia pode ajudar a perceber o caminhar do Homem para um Homem
Novo, em que esta «novidade» seja assumida como integrada e articulada; e pode
ajudar a compreender os principais momentos dessa articulação. Creio ser este o
principal contributo que a psicologia pode dar numa sociedade

«0 contributo da psicologia consiste em recordar que o homem foi criança...»


que, como esta, se constrói com dinamismo.
Por outro lado, temos que conceber a psicologia como uma Ciência que apela para
a interdisciplinaridade, atenta a fazer a ponte com as outras ciências. Não é o
psicólogo quem vai fazer a prevenção materno-infantil - mas pode ajudar a
modificar as atitudes daqueles que estão encarregados desta tarefa, ajudando a
explicar aos médicos a importância da parte afectiva, porque não se devem
separar os bebés das mães, e.tc. Esta interdisciplinaridade não significa grandes
custos nem grandes cientistas; pode praticar-se ao nível do centro de saúde
comunitário, onde haja um agente de saúde, um professor, etc.
2.* Q.: A formação em psicologia deve estender-se a todos, ou deverá antes haver
muitos psicólogos especificamente formados?
J. B.: Talvez ambas a s coisas, a curto, médio e longo prazo.
Sem cairmos num «imperialismo da psicologia» ou num excesso de
<psicologismo» - como aconteceu em certa época, nos anos 50, quando se
chamava um psicólogo especialista de dinâmica de grupos para «quebrar» uma
greve - nem tão pouco cair numa negação do psicológico - co-
mo também por vezes tem acontecido. Como homem que pretende - digo
«pretende» porque é muito difícil - ter uma certa visão dialéctica das coisas, direi
que é preciso um pouco mais do que aquela psicologia do «senso comum». Tudo
o que fazemos hoje em dia é já uma Integração de conhecimentos científicos que
se tornaram acessíveis; penso que também neste campo deve haver, nas pessoas
em geral, um certo conhecimento de como «funciona» a realidade psicológica, de
como esta realidade varia, se modi fica. Deve-se lutar por isso a vários níveis: a
nível do ensino, a nível da saúde, a nível de todos aqueles que têm que lidar com
os outros para mod.ficar as suas atitudes. Se se pretendem modificar atitudes, se
se pretende Fazer Mudar, então tem que se conhecer o que é, afectivamente e inte
lectualmente, aquilo que se quer mudar: não podemos correr o risco de estar a
trabalhar pensando num Homem ideal, numa Criança ideal, abstracta. Do mesmo
modo, mas talvez a médio ou longo prazo, criar um curso que prepare psicólogos,
pois penso que eles têm um papel importante a desempenhar numa sociedade
como a vossa.
3.a Q.: A propósito do problema das atitudes, como conciliar a necessidade de
modificação de
atitudes determinada por uma opção socialista, marxista-leninista, com o papel da
família na transmissão dos valores e das ,atitudes junto da criança nos primeiros
anos? Como conciliar esta função da família com a necessidáde de lutar por uma
vida comunitária, onde se privilegie o trabalho colectivo, a cooperação, que
permitirão fazer surgir o Homem Novo?
J.B.: Penso que isso é um problema mais vasto que transcen de a própria
psicologia. Socorrendo-me um pouco do meu Mestre, recordo um texto de Wallon
em que ele, vendo com alegria a construção que em certos países se ia fazendo do
Homem Novo, -dentro duma construção do socialismo, comparava o ensino
capitalista com o ensino da sociedade socia lista; tomando por exemplo a
pedagogia soviética, ele constatava que, com instituições como a dos pioneiros, se
procurava uma real cooperação, no oposto do carácter competitivo da sociedade
capitalista. Então Wallon recordava que para que o indivíduo perca certas formas
de alienação de si em relação aos outros, tinha que se começar logo no jardim
infantil, ou começar logo na família. Teria que se criar uma socialização que,
duma forma nem irracional nem demasiado repressiva, permitisse
TEMPO N. 422 pág. 19

ao indivíduo assumir que não estava só e que tinha que pensar nos outros, que
tinha que construir una comunidade, um grande grupo, de que ele era um
elemento.
Penso que esse é o tipo de preocupações que vocês têm na sociedade que
construiriam e estão lutando por construir. É natural que, a este respeito, os
psicólogos tenham uma modesta palavra a dizer, exactamente quanto à
interiorização desses valores. Para tal tem que haver um certo cuidado em
respeitar uma certa evolução para que o indivíduo chegue até aos outros de forma
au tónoma. Pelo pouco que vi neste país penso que esse cuidado é possível, pois
vi que existem -reservas afectivas bastantes importantes, tanto ao nível dos
dirigentes como das restantes pessoas.
Quero eu dizer com isso que tem que se preparar Afectivamente esse Homem
Novo para que ele venha a dar tudo aos outros. Esta preocupação terá que ser
maior - volto à minha, sou um psicólogo genético! - durante os primeiros tempos
de vida. Aparentemente não se vê a relação que têm os primeiros tempos de vida
com o desenvolvimento duma atitude socializante, de altruismo em relação aos
outros; eu penso que essa relação existe. O indivíduo que recebeu afecto, que foi
bem tratado nos primeiros tempos de vida, consegue interiorizar os valores duma
sociedade que se voltem para os outros, duma sociedade predominantemente
voltada para o interesse da colectividade.
4.o Q.: De acordo com isso, poderemos dizer, no caso das crianças abandonadas,
seria melhor solução a adopção por parte de outra família, do que o internamento
numa instituição tipo infantário?
J.B.: Eu não falaria logo de adopção, porque isso implica problemas jurídicos
complexos. Penso, no entanto, que uma criança que é privada do meio familiar
deve passar o mais rapidamente possível para uma família substituta, uma família
que possa servir como família de substituição, para que os cuidados possam ser
individualizados, haja um certo calor, etc.
TEMPO N.' 422 - pág. 20
Mas o que importa nesse caso é, antes de mais, estudar as causas do abandono. Na
vossa sociedade, não os conheço. Em Portugal, eram muitas vezes problemas de
discriminação sócio-politico-económica, que levavam a que as classes
desfavorecidas e exploradas vivessem em condições terríve:s: ou então eram
certos tabus sexuais ou de repressão religiosa que levavam as mães solteiras a
abandonar os filhos - ou ainda outros problemas. Penso que o problema começa
por aí.
Mas em linhas gerais, daquilo que se conhece sobre a.psicologia do
desenvolvimento e de trabalhos sobre instituiçõesdo tipo que referiu, podemos
dizer quase como regra geral que o melhor é um meio o mais semelhante possível
ao da família; e que provavelmente há que explorar sempre, tanto em meio urbano
como em meio rural, os restos de família - parentes, outra linha familiar -, ou seja,
procurar sempre um Elo. Uma criança sem elo é uma criança perdida, sobretudo
na primeira idade, em que é fundarental o contacto com uma mãe ou uma mulher
que a sustitua. A institucionalização nas primeiras idades traz sempre problemas
muito graves. O meio institucional é sempre um meio artificial. Mais tarde, a
instituição poderá ser útil; mas mesmo em idade escolar é necessário que a
instituição tenha um carácter de lar, seja um espaço geográfico o afectivo
diferente da escola, para as crianças que não têm família
- para que possam ter a sua família, criada entre si ou com os responsáveis desse
lar.
5.' Q.: Esse problema dos cuidados durante a primeira idade tem sido objecto,
aqui em Moçam bique, duma enorme atenção, atra vês de medidas -visando a
protecção materno-infantil, a educação nutricional, a prevenção sanitária em
geral. Teremos mesmo assim que concluir que todos estes esforços serão
insuficientes se não forem acompanhados duma abordagemcorrecta do ponto de
vista afectivo e, digamos, de modo geral, do pQnto de vista psicólogo?
J.B.: O segredo está no «t±ming», nos tempos e doseamento disso tudo. Há certas
alturas em que nós, realmente, não pedimos qua-
se autorização às pessoas para as salvar, não é? Mas noutros momentos, em que
os primeiros perigos estão passados, podemos já abordá-las doutro modo. Penso
que nesse esforço desenvolvido encontramos de novo essa dialéctica que gera o
conhecimento: por um lado há certas tarefas urgentes que deixam as pessoas
pouco disponíveis para esses aspectos individualizantes e estimulantes; e é
evidente que têm que se ter resolvidos problemas da saúde, da habitação, da
alimentação para poder realizar essa construção de um ser afectuoso, aberto ,para
,os outros, normalizado no bom sentido da palavra. Não há saúde mental sem
integridade física. Mas isto não quer dizer que todos os agentes que têm a seu
cargo essas tarefas não devem preocupar-se com isso; eles têm que ter presentes
os cuidados sanitários afectivos támbém - mas para uma pessoa concreta, uma
pessoa com uma individualidade, uma idade, um passado, um presente,
sofrimento. Para vencer a batalha da saúde é preciso ter em conta a saúde mental.
Pode não ser ao mesmo tempo
-mas é num intervalo de tempo muito curto, E, mais uma vez, é a família que
compete o maior esforço nesse sentido.
6.- Q.: Por todas essas razões que referiu, não foi ainda possível abordar
convenientemente em Moçambique o problema da infância deficiente. Qual pensa
que deveriam ser os passos se guintes nessa estratégia que via* a educação das
crianças cujas deficiências - físicas, sensoriais ou mentais -- vão acarretar
inevitavelmente muitas dificuldades de aprendizagem e adaptação?
J. B.: Ontem, quando estive no Museu da Revolução, tive oportundade de ver
alguns gráficos que são, só por si, mu*to significativos
Eu penso que um país que consegue equacionar os seus problemas de uma
maneira tão clara quanto às batalhas que tem que vencer, já está muito avançado
em relação a muitos outros que conhecemos. Há uma batalha da saúde a vencer,
como: há uma batalha da alfabetização e, paralelamente, uma batalha da educação
para o maior número possível.

«0 indivíduo que recebeu alecto.., nos primeiros anos da sua 'vida consegue
interiorizar os valores de uma sociedade predominantemente voltada para o
interesse da colectividade»
No caso da educação, pude ver que a primeira fase da batalha começa a ser ganha.
Agora terá que se pensar como vão ser as estruturas de acompanhamento, de
ajuda àqueles que, por razões várias, não vão poder acompanhar o ritmo dos
outros.
Não é necessário usar os modelos de outros países, vocês têm possibilidade de
encarar isso noutra óptica, não selectiva, não discriminatória.
Penso que a resposta é esboçada pelos vossos próprios ideá rios: se a educação é
para todos. então o indivíduo deficiente, o indivíduo com problemas, terá que ter
também um lugar nesse todo. Isso implica integração e prevenção. Por aquilo que
me foi dado ver, vocês estão já a caminhar para essa concepção integrada; mas,
por outro lado e como já foi sublinhado nesta mesa-redonda, as preocupações
quanto à prevenção permitirão que as futuras gerações tenham menor número de
indivíduos com dificuldades. É com a prevenção, os cuidados de saúde, a
protecção à mulher grávida, os cuidados com o acompanhamento na primeira
idade, etc., que se evitará nas gerações futuras grande número de inadaptados; de
certo tipo de inadaptados.
Para os casos actuais, será um certo tipo de modificações da própria estrutura
escolar. Sabemos que certas crianças não podem acompanhar o passo das outras;
mas podemos constituir para elas meios de ensino adequados, mesmo dentro da
mesma escola, por vezes até dentro do mesmo espaço de aula, é aquilo a que se
chama um ,,espaço diferenciado». De modo que essas crianças em dificuldade
possam partilhar o mais possível com os outros, o que pode acontecer em grande
número de actividades. Nos casos em que infelizmente não. possam acompanhar,
deve haver um certo entendimento. particularizando mas não segregando (não do
tipo da.classe «especial» ou outros meios clássicos muito segregados.)
Por outro lado, a integração é uma meta a atingir, um caminhar para. E em que
provavelmente terá que haver soluções de compromisso, soluções ýparciais.
Prevenção e integração seriam os meus votos - e leio-as já claramente, de resto,
naquilo que me foi dado ver.
7.a Q.: Qual pensa que poderá ser o contributo do Curso de Ciências da Educação
relativamen te aos problemas que aqui se focaram?
J. B.: A impressão com que fiquei dos estudantes e professores deste Curso foi
francamente positiva. Certas coisas causaram-me certa nostalgia do que se passou
em Portugal logo depois do 25 de Abril; participação de estudantes e professores,
reuniões de escola, assembleias, etc., coisas que pouco a pouco se vão perdendo
entre nós e que são informações de que a instituição está viva. Isto de modo geral,
que se refere não só às Ciências da Educação, penso que existe um di.namismo da
parte de todos na construção de um ramo profissional e de conhecimento novo
que é capital na batalha de que falámos, na batalha da educação. Aos estudantes
de Ciências da Educação vai-se-lhes pedir muitas coisas no campo da educação e
penso que lhes cabe um trabalho muito complexo.
Embora não se destinando o Curso exclusivamente à formação em psicologia deu-
lhes, está dando e dará cada vez mais essa compreensão integrada do Homem e a
possibilidade de terem uma actuação em relação a um homem concreto e vivo, a
uma criança viva. Provavelmente não é só a psicologia que dará isso, é também
uma certa descentralização do curso relativamente a si >-rópr'.o, em contacto com
a realidade. Essas boas sementes que já têm podem garantir a criação de um
profissional que tenha a possibilidade de não ficar pelo gabinete, que possa dirigir
a sua acção, a sua prática e reflexão a pessoas que vivem, que sofrem ,e que estão
em mudança, que vivem no campo e na cidade, etc. A sociologia e a psicologia
têm aí uma grande palavra a dizer no Curso de Ciências da Educação mostrando a
realidade e mostrando as pessoas concretas.
Mas além disso pede-se ainda mais às ciências da educação: pede-se-lhes aspectos
do conhecimento da economia, da planificação, etc. Terá que haver um cuidado
porque penso que existe
- uma vigilância constante para que esse conhecimento seja sempre vivo e voltado
para uma realidade concreta, voltado para pessoas «em situação.» E penso que
vocês vão nesse caminho.
o
TEMPO N. 422--pág. 21

Aldeia Comunal 3 de Fevereiro


e Maguiguano:
NASCE
A,
ORGANIZAÇÃO
~Nas Aldeias C_,omunais, 3 de
Fevereiro e Maguiguane, na província
do Maputo, os camponeses empreendem um enorme trabalho de organização. A
cooperativa é o seu
instrumento de unidade, é o passo que dão neste momento.
0 Texto de Bartolomeu Tomé 0 Fotos de saita Ussene
A cerca de 35 Km da capital distrital, do la do esquerdo da estrada nacional n., 1.
tomando como padrão a direcção Sul-Norte, nasceu em 1977 a Aldeia Comunal 3
de Fevereiro É a aí deia piloto do distrito de Manhiça.
A sua área total está est.mada para englobar 1 000 famílias. A coisa começou com
a construção do primeiro bairro. Uma a uma, as iamílias foram chegando. Agora
conta com 520 famílias os quais formam os cerca de 4 000 habitantes da aídeia.
Mais pessoas para virem participar na construção duma vida nova
.... ...... ..

na aldeia é a aspiração de muitos que ali se encontram a viver: «Neste momento -


d i r a mais tarde Francisco Muiambo, responsável da mesma - criámos uma
comissão que está a mobilizar outras pessoas que ainda vivem no vale para que
também possam vir aqui connosco. Nos consideramos que todos aqueles que
vivem no vale também são filhos da aldeia. »
A LUTA DOS CAMPONESES
A cada vitória popular responde sempre o nosso inimigo que através de boatos,
intrigas ou mesmo sabotagem,
tenta de todos os mo, dos desvirtuar os passos com que caminhámos para a
edificação de uma nova sociedade em Moçambique. O mesmo não deixou de
acontecer com a Aldeia Comunal 3 de Fevereiro:
Este ano muitas culturas não puderam ser lançadas à terra na altura própria devido
a certa actuação contrária aos objectivos dos moradores da aldeia, por parte de
alguns elementos pertenc e n t e s aos Grupos Dinamiza dores da área do vale que
circunda este centro de vida colectiva. Foi o próprio responsável da aldeia quem
nos explicou como se manifestaram estas acções:
«A l g u n s elementos dos Grupos Dinamizadores antigos andavam a agitar os
moradores do vale para não dei xarem as pessoas daqui irem fazer machamba no
vale. Eles ,mobi lizavam» as pessoas para dizerem: ,Como vocês são da alde'a
então vão lá viver daquilo que vocês têm lá na vossa aldeia! » Urgia uma forma
para poder resolver esta situação a curto prazo. Neste âmbito, foi criada uma
comissão formada por moradores da aldeia que ficou encarregada de junto dos
camponeses dispersos promover um esclarecimento adequado chamando-lhes à
razão
dos factos porque nada mais eram senão objectos de uma manobra mi miga que
tencionava dividir as populações.
Os terrenos foram divididos por todos e «aqueles que já tinham machamba há
muito tempo ficaram com terrenos um pouco maiores» - segundo disse um dos
membros da Célula do Partido local.
Para além destas ma. chambas individuais, pois os moradores da aldeia podem
ter uma pequena porção de ter reno onde cultivam individualmente, a aldeia
possui quatro cooperativas agrícolas. Durante esta época do ano serão" plantados
o milho e girassol após o que

serão introduzidos o feijão, trigo, tomate e produtos hortícolas. De notar que das
produções anteriores pouco se aproveitou devido às cheias: que recentemen'te
vitimaram aquela zona.
O PROBLEMA DO ABASTECIMENTO
Um outro aspecto, já
ção já se encontra em fase de acabamento uma casa que irá funcioriar como
cooperat.va de consumo. «Todos nós contribuímos para esta cooperativa - disse o
responsável Francisco Muiambo que asseguir acrescentou Agora já vamos dizer à
Comissão Prov i n c i a l das Cooperativus que já temos algum dinhei-
Um dos técnicos da aldçia Maguiguane. Na Universidade Eduardo Mondlane
aprendeu a técnica de construção de casas de alvenaria e de urbanização de
aldeias (divisão e
nivelamento de talhões)
por demais conhecido, constitui a agravante para a normalização da produção dos
campo neses da Aldeia Comunal 3 de Fevereiro. É o problema dos
abastecimentos. Por diversas vezes os camponeses têm que se deslocar para a
Manhiça ou Xinavane a f.m de aí poderem adquirir alguns produtos de primeira
necessidade, apesar da aldeia se encontrar relativamente perto da vila da Palmeira.
O problema é que na Palmeira «só há bolachas» - como diria u m d o s
camponeses quando em d'álogo com a n o s s a reportagem. «Quando nós viemos
aqui perguntar aos camponeses quais são os problemas que mais se fazem sentir, é
só: comida, comida» - comentou um dos respon sáveis presentes. Como medida
para responder a esta situaTEMPO N. 422 -;)áa 24
ro que deve chegar pa ra realizar este nosso plano.»
Para além destas realizações é de destacar a criação de um pomar onde se irá
plantar di. versas.árvores de fruta
tais como laranjeiras, toranjeiras, mangueiras, entre outras, que se encontram nos
viveros da aldeia já num estado satisfatório de desenvolvimento; a construção de
um pavilhão para criação de pequenas espécies que se encontrava de momento
parada por falta de transporte para o respectivo material de construção; e por
último é igualmente de salientar a construção de um curral para gado, em regime
estabular.
Já os últimos raios solares « minguavam » no horizonte e propunhamo-nos
regressar ao ponto de partida quando na estrada encontrámos um grupo de
menores que regressava à
aldeia trazendo g a do. Tão divertida era a sua maneira de dançar ao ritmo da
buzina que o condutor tocava em sinal de despedida, como também não deixava
de reflectir uma firme confiança no futuro que lhes pertence: «Quando é dia de
festa, como um dia 25 de Junho assim, todos gostamos de vir para esta aldeia.
Mon-
tamos luzes de bateria e é festa até amanhecer» dizia um dos responsáveis
administrativos do distrito de Manhiça que na altura nos acompanhava.
ALDEIA COMUNAL MAGUIGUANE
REACTIVAR
O COOPERATIVISMO
De formação recente e situada no distrito de Magude esta aldeia con ta
presentemente com 178 famílias, na maioria das quais trabalhadores da
Açucareira Agrícola Incomáti. «Muitos d e nós viemos para aqui por causa das
cheias
dizia Sara Cachavange, responsável da O.M.M. da aldeia.
Um facto contraditório é que das 178 fafiílias que constituem a aldeia somente 25
pessoas é que formaram uma cooperativa. Os restantes só viram na aldeia um
simples agregado habitacional. A sua única preocupação é continuar na produção
individual meramente de subsístência Urge reactivar a mobili zação destes para
que
Na aldeia Maguiguane, os cooperativistas Possuem também uma criação de-gado
suíno

Os camponeses da aldeiv 3 de Fevereiro vão juntar o seu gado e enveredar pela


criaçao de g~ em regime estabular
compreendam q u e a conjugação de forças é sem dúvida a única maneira de
melhorar substancialmente as condições de vida dos camponeses e ao mesmo
tempo a única maneira de acabar com a diferença existente entre o campo e a
cidade.
N ã o obstante este facto os poucos cooperativistas existentes na aldeia não
pararam a s ua determinação. A sua cooperativa agrícola compreende uma área
estimada em cerca de 100 hectares onde se planta milho, tomate, cebola, feijão,
hortícolas e batata-doce.
Para além da produção agrícola os cooperativistas d e d i c a m-se também à
criação de gado suíno e estão a es-
tudar uma forma de poderem formar cooperativas de outras espécies animais.
A falta de água tem sido um dos problemas mais gritante que se faz sentir:
«Tínhamos um viveiro de árvores de fruta que queríamos plantar aqui, mas
morreram todas por causa da fal ta de água» - disse
Tito Lopes, um dos técnicos de construção na aldeia que adiantou ainda - «Mas
neste momento está uma equipa lá perto do rio a traba lhar na escavação de um
poço que irá fornecer água à aldeia.»
Dirigimo-nos ao local onde se está a cavar o referido poço e ali encontrámos um
grupo de mulheres entusiasti-
camente entregues ao crabalho.
A nossa chegada não alterou o movimento até então existente.
De pás nas mãos as mulheres fendiam a terra com decidida força e v i g o r:
'«Esperamos que daqui a uma sema na o poço esteja completamente concluído»
disse uma das mulheres que ali se encontrava.
Mas não é só aquele grupo de trabalhadores que se encontra a proceder às
escavações do poço. Como viria a esclarecer pouco depois um dos responsáveis
que nos acompanhava «o trabalho é feito por turnos. Enquanto um grupo está aqui
a trabalhar no poço outros grupos estão na ma-
chamba ou noutros trabalhos da cooperativa. No outro turno as pessoas que
estavam aqui vão fazer outros trabalhos.»
Quando já abondonávamos o local uma voz de mulher, das que se encontravam
atarefadas no poço, fez alusão à emancipação da mulher em termos de: «quando
chegar a casa espero que o meu marido não me venha com histórias de que ele é
que é bom porque vem do serviço. Vou-lhe dizer que «olha: Eu também venho do
serviço, camarada. Estive muitas horas com pá na mão., Acabou essa coisa de vir
descarregar suas manias em cima das mulheres porque elas não traba lham, só
sabem ficar em casa.» o
TEMPO .' 422 - pág. 25

COOPERATIVAS DE CONSUMO:(
Texto de Narciso Castanheira Fotos de Joaquim Nascimento
Em 1976 a província de Gaza foi assolada por uma das maiores cheias de sempre.
Nessa altura o Partido e o Governo criaram uma comissão q u e pudesse organizar
o apoio necessário aos cerca de 400 mil camponeses assolados pelas cheias.
Desse intenso trabalho organizativo e de mobilização nasceram cerca de 50
aldeias comuna's. Com a Aldeia Comunal nasceu também a resposta ao problema
dos abastecimentos que desde longa data sempre afectou os camponeses no nosso
pais.
Primeiro, d u r a n t e a s cheias o Governo apoiou as populações atingidas
abastecendo-as gratuitamente de géneros de primeira necessidade. A partir de
uma certa altura esse abastecimento gratuito deixou de existir Assim. após um
longo estudo com as populações concluiu-se que só com a formação de
cooperativas de consumo o abastecimento estaria garantido.
A mob:lização dos camponeses foi feita nesse sentido e, em Março de 1977, foi
organizado um curso de responsáveis de cooperativas que teve a duração de 30
dias e que contou com a participação de 86 elementos, vindos de várias aldeias
comunais.
O processo desenvolveu-se com notável rapidez. tendo a 25 de Junho do mesmo
ano sido inauguradas as primeira duas cooperativas de Gaza. no distrito de
Limpopo. Em Julho deste ano, aquela província já contava com 38 cooperativas
de consumo. Isto traduz-se em cerca de 150 mil pessoas, ou seja 15 por cento da
população de Gaza a beneficiar das cooperativas de consumo.
Assim, para além de essas pessoas se poderem abastecer de perto é um método
que ajuda a melhorar o próprio desenvolvimento das aldeias comunais. pois já não
é preciso deslocar-se da aldeia, desperdiçando o precio-o tempo que necessitam
para a realização
Suíras tarefas da produção.
. ág. 26

ABASTECE- SE
O exemplo do funcionamento e organização das cooperativas Marien Ngouabi,
Patrice Lumumba e «25 de Junho», nos distritos de X ai-Xai e Chibuto, da
província de Gaza constituem uma prov a evidente de como as Aldeias Comunais
respondem às preocupações dos campone:;s
Encontrando dificuldades e condicionalismos próprios do campo, as cooperativas
de consumo nas Aldeias Comunais de Gaza começam a ser olhadas como a
melhor solução para o problema dos abastecimentos.
TEMPO N.' 422 --Pág. 27
Encontramos n a s cooperativas de consumo criadas pelos camponeses em
algumas das aldeias comuna.s de base, a melhor, senão a única forma de as
populações se abastecerem.
Foram esses mesmos camponeses que, organizados e vivendo o problema do
abasteci mento, contribuíram com o dinheiro do seu próprio trabalho para
criarem as suas coope rativas de consumo. «Vivemos na mesma casa (aldeia
comunal). Como vamos e onde vamos comprar aquilo que precisamos e que não
conseguimos tirar da machamba? Eu vou responder a essa pergunta que era nossa
preocupação antes de termos a nossa cooperativa de consumo. Vou responder
apontando para esta cooperativa que nós criámos» palavras de Delf ina Mucavele,
um dos sócios da cooperativa Ma rien Ngouabi, da aldeia comunal do mesmo
nome, situada no distrito de Gaza.
Na cooperativa que. aquela mulher apontou
-, uma barraca rebocada de cimento e com cobertura de capim. com balcões e
prateleiras no interior -, encontrámos vários produtos de primeira necessidade.
Entre eles, arroz, sabão, açúcar, etc., apesar de se fazer sentir a escassez de milho,
farinha, de milho e petróleo.
Por detrás do balcão atendendo os camponeses, não estão aqueles caixeiros que n
o tempo colonial, nas can tinas, só lá estavam para em pouco tempo sugar o pouco
dinheiro das pessoas. Aqueles que roubavam na baTEMPO N., 422 -- pág. 28
lança muitos quilos e a p r e ç o s especulativos, não estão lá. A14 estão elementos
a que a própria população confia a distribuição dos produtos q u e comprou com o
seu sacrifício.
,Náo é preciso rou bar porque nós também somos sócios des
mos as populações a abastecerem-se noutras cooperativas de consumo em Gaza.
QUEM USA A COOPERATIVA?
Todas as cooperati vas de consumo foram
criadas através do esforço dos camponeses dessas aldeias comunais, como já
dissemos. Não passa pois de um direito elementar serem esses mesmos
camponeses a fazerem uso delas.
Por isso. quem faz uso das cooperativas de consumo são os sócios que para tal
contribuiram. Há todav.a alguns camponeses nes sas aldeias comunais que na
altura da criação das cooperativas de consumo não contri buiram. Mas isso não
isolou esse camponeses.
-Eles também jize ram uso das cooperativas n a altura em q u e começaram a
funcionar, porque se assim não fos se aonde é que eles se
Membros de< uma cooperativa de consumo numa reunão. Todas as cooperativas
de coa.
sumo foram criadas pelo esforço dos camponeses
ta cooperativa - disse nos animadamente um dos vend'edores enquanto atendia os
que estavam ali a comprar produtos. E depois acrescentou: O que aqui vendemos
chega para todos. Quando há falta racionalizamos e t od o s compreendem porque
aqui tudio é organizado em conjunto.»
Com o mesmo clima de satisfação encontra-
Deifina Mucavele: - «Vou responder apontando para esta
cooperativa que nós criámos,»
iriam abastecer, estando aqui a viver connosc0?» -, disse o responsável da
Cooperativa de Consumo 25 de Junho, da aldeia comunal do mesmo nome, no
distrito de Chibuto.
Respondendo à
pergunta sobre se as ta-s pessoas não chegaram a pagar as contribuições até ao
momento actual, um camponês da mesma aldeia comunal afirmou: «Por sinal eu
sou um daqueles que não consegui-
ram tirar os 150S00 da contribuição i n i c i a l. Mas, incentivado pela fornia
como a coopera tiva nos está a servir e porque os outros compreenderam a minha
situação, fiz os possíi veis para em pouco tem po conseguir pagar. E é assim que
muitos outros também deram o dinheiro da contribuição. »
COMO -FORAM ORGANIZADAS
O processo de organização e criação das cooperativas de consumo nas aldeias
comuna's da província de Gaza. obedeceu mais ou menos em todas elas ao
mesmo esquema. Es te esquema diferenciou-se apenas na quan tia da
contribuição individual na fase inicial. bem como no estabelecimento da quota
men-
sal. Estas quantias variam de 100 a 200 escudos, e de 5 a 20. respectivamente,
porque as condições de vida de cada uma dessas aideias também variam.
Entretanto, c o m o exemplo a forma como foi criada a cooperativa de consumo
da aldeia comunal Patrice Lumumba. Esta cooperativa foi inaugurada em 16 de
Julho de 1977.
No início contou com 430 sócios. «Isto comeOs camponeses sócios das
cooijerativas
dão aos que não tem posses monetárias a possbilidade de comprarem os seus
produtos
çou - esclareceu Jeremias Boca, um dos sócios - pouco depois de aqui nos
instalarmos vindo das zonas alaga' das. Foi numa reunião orientada por um
componente de uma briga da de implementação das aldeias comunais que
discutimos a neces sidade de criarmos aqui uma cooperativa de consumo, porque
vímos as dificuldades de abastecimento. Concor dámos que para isso teríamos de
fazer uma contribuição inicial de 200 escudos. E assim começdmos as primeiras
contribuições. »
Todavia o produto das primeiras contribuições não era suficiente para abrir uma
toperativa d e consumo. A abertura da cooperativa, implicava a construção das
instalações e aquisição de pro
Os mercados, as bancas ficam condicionadas pela organização de cada
cooperativa. Na foto algumas mulheres aguardam a abertura da coo2«)'ativa de
consumo «25 de Junho»
dutos. Contou-se com o apoio do Governo em mercadoria no valor de 200 contos
(este tipo de contribuição fo. da do a cada cooperativa, pelo Governo. aquando do
início da criação das mesmas) bem como algum material de construção e
prateleiras. Saliente-se que em cinco meses quase todas as cooperativas de
consumo de Gaza conseguiram devolver o di nheiro que o Governo emprestou.
Com as instalações e a mercadoria. a população daquele aldeia passou a ter ali a
sua cooperativa de consumo. Já não é preciso andar quilómetros e quilómeà
procura de um quilo de arroz porque se ali não há, muito menos lá na cidade ou na
vila onde para além da confusão, os comerciantes privados exploram e
especulam.
Portanto, conforme opinião da maior paTte ('- rcamponeses dessas
aldeias comunais onde têm as suas cooperativas de consumo, o de senvolvimento
das nossas cooperativas é amelhor forma de podermos resolver o problema do
abastecimen to para estas zonas tão distantes e com dificuIdades de estradas e
transportes».
E assim que lá no campo, organizada, a população deixa de ter que se sujeitar à
explo ração movida pelos can tin ýiros ainda interessados em se aproveitar das
condições que os colonialistas lhes criarar. Esses cantineiros foram expulsos p e 1
a própria elevação da consciência dos campo neses nessas zonas distantes. Por
isso são esses mesmos campone ses que ao destruirem os negócios sujos criaramn
e criam as coope rativas de consumo p.a r a se abastecerem dos produtos que
necessitam.
TEMPO N. 422 - pág. 29

NIASSA
ESCOAMENTO DA PRODUÇÃO: FESTA EM OUTUBRO
O camião «Scania» carregado com sete toneladas de feijão da aldeia de M'zinze
acaba de deixar para trás a picada poeirenta e está rodando seguro no asfalto em
direcção a Lichinga. O céu está negro e ao longe nuvens escuras cortam a
visibilidade. ,
-Que forte queimada não há
para aqueles lados, exclamamos.
- Não, é chuva, diz o condutor de olhos mais experientes.
Na verdade em poucos minutos a estrada torna-se num tapete húmido enquanto
poças de água crescem nas beiras esburacadas.
-E eu não trouxe oleado.
O feijão vai molhar-se, lamenta-se o trabalhador que vai ao volante do «Scania».
Na verdade os sacos de cima
com a mesma carga de feijão. Provavelmente naquele instante um «Mercedes-
Benz» ou um «Bedeford» estariam ou no armazém da agricultura em Lichinga a
fazer a descarga ou na estação dos C=M a tirar milho da bagageira directamente
para o vagão. Quer no armazém, quer nos CFM os camiões tinham que aguardar a
sua vez de descarga.
Dia 21 de Outubro, domingo, cinco horas da manhã. Onze camiões começam a
concentrar-se diante do armazém da agricultura em Lichinga. A maior parte das
viaturas foi requisitada de outras estruturas que não a Direcção Prov'ncial de
Agricultura. O sucesso da campanha dependeu, em grande parte, do apoio em
viaturas dispensado por to,-das as estruturas provinciais que
Ro nosso correspondente do Niass Nelso Kapári
molham-se todos na bagageira. Mas os do fundo salvam-se da chuva inesperada,
violenta e acompanhada de raios e trovões.
Este é um episódio da campanha de escoamento de produção agrícola
desencadeada no Niassa de 1 a 31 de Outubro último.
A FESTA DE OUTUBRO
Aquele camião cScanía» era uma das viaturas postas ao serviço da campanha.
Na mesma altura vinha a segu.-lo um «Ifa» proveniente também de M'zinze
TEMPO N 422 - pág. 30
têm camiões no seu parque automóvel: Educação, CFM, Obras Públicas, Lojas do
Povo. Às seis e trinta, recebidas as instruções, os camiões partem, cada um para o
seu destno. Entretanto, dentro do armazém, os sacos de cem quilos sobem até ao
tecto. São centenas de toneladas de produção agrícola com predominância
espetacular de feijão.
Dia 23. Mataca, distrito de Mavago, zona libertada. O camião «Bedford» da
administração, arcaico mas de pé graças a um paciente trabalho de recuperação,

acabado há menos de duas semanas, parte às seis e trinta em direcção a Lichinga a


mais de duzentos quilómetros para descarregar no armazém a carga de produção
agrícola que leva na bagageira. No dia anterior, cerca das vinte horas da noite,
dois camiões «Mercedes» desafiaram a infernal picada que liga Mavago a
Lichinga carregados de feijão. Ainda na manhã de 23 um pequeno «Jeep»
conduzido pelo responsável distrital da agricultura em Mavago mete-se pela
picada que liga Mataca a Nkalapa, aldeia comunal em plena zona libertada, desta
vez para fazer pagamento aos camponeses da produção que venderam ao Estado.
Mas 'no dia seguinte regressaria à aldeia para reinic4ar a pesagem de mais
produção pois .os camponeses tinham pedido mais sacos.
Em todos os onze distritos do Niassa o ritmo foi mais ou menos este e foi escoado
milho, fe'jão, amendoim, girassol.
A LIÇAO DE CHICONONO
A campanha começou com atraso e foi possível graças à decisão do Governo
Provincial. Desse modo o provérbio «mais vale tarde
do que nunca» ganhou o seu signif'cado exacto. O sucesso que a campanha teve
pôs por terra muita argumentação de certos sectores que atiravam cá para fora
toda uma argumentação tendente a provar que o escoamento da produção no
Niassa é uma tarefa acima das capacidades existentes uma vezque as estradas são
más e, ainda por cima, os camponeses não vendem quando se lhes pede para
vender, e vendem quando já é impossível escoar. A juntar a isto tudo, dizíam, a
inexistência de viaturas suficientes.
A campanha provou que um mínimo de coordenação com os poucos recursos
disponíveis pode salvar a produção agrícola. Assim, para além dos camiões
requisitados todos os outros que não estando directamente ligados a campanha se
deslocassem para um distrito carregados (mercadoria de consumo, mercadoria de
obras. medicamentos, etc.) rece beram instruções para regressa rem com produção
agrícola. Onde os camiões não puderam entrar foi o tractor como sucedeu em
Xilolo, zona libertada de Mavago. O secretário do Partido desta mesma aldeia
prova-nos que o recurso u soluções populares e de tradição na luta armada pode
também socorrer o escoamento da produção uma vez que nos re-
Com 6 preço de venda a 3$20 o quilo os camponeses diminuiram a produção de
milho este ano preferindo o feijão

latou que, por exemplo, a mercadoria para a cooperativa de consumo de Xilolo


muitas vezes chega lá à cabeça dos camponeses porque a estrada é péssima e o
camião só vai até M'sawize a 16 quilómetros.
Mas a argumentação derrotsta que defende a primazia das di ficuldades em vez
das formas de superar essas dificuldades encon tra resposta em Chiconono, grande
povoação de Mavago, onde depois de se ter dito aos camponeses para prepararem
os sacos dis-
tribuídos responderam que só fariam esse trabalho depois de ve. rem o cam*.ão a
chegar. Porquê? Porque nos anos passados ensacaram a produção que não foi
posteriormente escoada tendo, por isso, apodrecido. Isto criou-lhes o espírito de
só acreditar quando os olhos vissem. É uma lição. Como é também lição o facto
de em Nkalapa ter sido comprado milho estragado ao preço do milho bom porque
a culpa da deter-oração do produto não era dos camponeses. Os
sacos e o ensacamento datavam do ano passado. mas não houvera escoamento.
Por isso, a campanha de Outubro para além de tudo mais foi, também, uma
grande vitória política. Restituiu a confiança aos camponeses que para a próxima
campanha certamente aumentarão a produção porque é bom vender muitos sacos,
principalmente o feijão que está a 10$00 o quilo e consequentemente o saco de
cem quilos a mil escudos.
O PROBLEMA DO MILHO
A aldeia de M'zinze a cerca de cento e cinco quilómetros de Lichinga, zona
libertada escondida num vale montanhoso e rodeada de florestas, tiveram a sorte
de vender a sua produção no ano passado. Tinham, nessa altura, muito milho. O
quilo de milho está a 3$20. Com o preço de um saco de noventa quilos ou cem só
se consegue o necessário para uma camisa, quando muito. Por exemplo na
campanha de Outu-
TEMPO N.- 422 :Ag. 32

Reuniram.se todos os camiões disponiveis


bro, o saco de milho era pesado a noventa quilos do que resultou um total de
288$00 por saco. Este baixissímo valor do milho, fez com que os camponeses de
M'zinze apresentassem mais feijão para venda do que milho. Este não pode ser
considerado uma cultura de rendimento e o mais natural é os camponeses
dedicarem-se ao feijão, amendoim, girassol e gergelim relegando o milho para
uma cultura destinada apenas à sua alimentação. Pelo menos é o que se deduz do
comportamento dos camponeses de M'zinze onde as quantidades de milho do ano
passado foram superiores aos do presente, segundo nos informou um funcionário
da agricultura. Em Chimbalabala, distrito de Sanga, zona libertada, venderam-se
cerca de 500 sacos de milho. Esses quinhentos sacos renderam apenas 144 contos.
Se em vez de milho fosse feijão o rendimento seria de quinhentos contos. É
demasiadamente tentador e o actual preço do quilo do milho pode vir a
comprometer a produção futura. Com meio saco de feijão ou
amendoim (também está a 10$00 o quilo) o camponês consegue mais rendimento
do que com um saco de milho.
FESTA NAS ALDEIAS
Acompanhámos a par e passo uma das onze brigadas constituídas para a compra
da produção. Quando chega o camião e a ba lança decimal, gera-se toda uma
movimentação festiva nas aldeias e povoações. A balança vai aos ombros de
quatro pessoas e é co locada num lugar plano próximo dos sacos, regra geral
concentrados junto da casa do secretário do partido ou do responsável da
produção. Depois organizam-se grupos de carregamento.
Todos os olhos concentram-se no fiel da balança decimal e os camponeses logo
compreendem quando é que ela marca o excesso de peso, o peso certo e a
insuficiência do mesmo. Quando o peso é excessivo há sempre alguém que diz ao
dono do saco «diminua, diminua!» (pungule, pungule!). Quando o peso é insu
ficiente acontece o dono não ter mais para vender. Logo surge um amigo ou
parente que lhe oferece a quant:dade que falta. Na verda de a tarefa das brigadas
está mais simplificada quando se trata de comprar produção colectiva. Os sacos
aparecem bem cheios, regra geral a exceder o peso pedido. Mas a pesar
produção colectiva ou individual o ambiente é sempre de festa nestas aldeias
isoladas por montanhas e onde o aparecimento de uma viatura é um grande
acontecimento, Fará a pesagem da produção!
Mais uma vez se levanta a questão da oferta de produtos nas Lojas do Povo. Com
a cam panha de escoamento ficaram nas aldeias centenas de contos (só para o
distrito de Mavag9 havia um milhão e quatrocentos mil escudos destinados à com
pra).
Esse dinheiro para circular tem ie sei movimentado e as lojas seriam o melhor
meio. Mas o dinheiro que ficou nas aldeias ul trapassa de longe a oferta. Como o
campones ainda não conhece o que é guardar dinheiro no banco deduz-se,
logicamente, que há milhares de contos tornados impro dutivos nas aldeias. Nem
serão consumidos nas compras porque a oferta das lojas é fraca, nem servirão para
reforçar a operacionalidade dos bancos.
Ficarão guardados em lugar escondido da habitação.
Ora o dinheiro guardado em cWsiL prosvoca todos aqueles inconvenientes
bastante conhecidos. Basta dizer que no Niassa, há uma terrível falta de trocos
que faz com que as lojas de Lichinga passem papelinhos carimbados ou apenas
assinados com uma frequência exasperante. Mas não faltam quinhentas e escudos
na carteira do velho camponês, na ponta da capulana da velha camponesa.
Milhares de cc-'ítos em moedas andam escodida em casa e, a juntar a essa,
moedas, milhares de contos em notas ram reforçar essa pouíana do méstica que
prejudica a economia nacional.
TEMPO N,1 ý2? -.,'1g. 33

Moçambique-Vietname
RUMO AO SOCIALISMO
Chegada a Maputo, no aeroporto de Mavalane
TEMPO '! 422 r g 34
A visita que o Vice-Presidente do Vietname efectuou à República Popular
de Moçambique, a convite, do Governo moçambicano, culminou com a assinatura
de dois acordos de cooperação, um no domínio cultural, outro no dominio
científico-técnico, na manhã do dia 1 de Novembro.
Com a assinatura destes dois acordos ficam consolidadas, uma vez mais, as
relações de amizade e cooperação que unem os dois povos desde o período da luta
armada de libertação nos dois países.
Encontro com o Presidente Samora Machel
Início das conversações:
Marcelino dos Santos, à direita: «Estamos certos de.que as experiências que
vamos aqui trocar serão uma grande contribuição para o desenvolvimento
recíproco dos dois países.» Nguyen Huu Tho, à esquerda: «A luta de cada um de
nós constitui um encorajamento, um estímulo para a luta de todos os povos do
mundo»
Como diria Nguyen Huu Tho, recordando os tempos da guerra, «apoiando-se um
ao outro os nossos países conquistaram uma vitória gloriosa». Hoje, os mesmos
princípios de ajuda mútua persistem, daí oó recentes acordos.
O Vice-Presidente vietnamita e delegação, horas depois da assinatura dos acordos,
no princípio da tarde, deixaram Moçambique com destino ao Vietname dando por
terminada a visita que teve a duração de três dias.
Eram 15 horas e 15 minutos do dia 3U de Outubro quando Nguyen Huu Tho,
V:ce Presidente da República Socialista do Viemame assomou à porta do avião,
que o trouxe até Maputo. Um sorriso de contentamento aflorou-lhe nos labios
quando, já em terra, foi abra çado por Marcelino dos Santos, Ministro do Plano,
que viera recebê-lo.
Atrás do Vice-Presidente vietna mita mais 44 pessoas completa vam a delegação
daquele país so cialista do continente asiáti-co que durante três dias estaria na
capital do País e que semanas atrás visitou Angola e Etiópia. Enquanto Nguyen
Huu Tho recebia saudações de boas vindas (entoação do hino vietnamita e
moçambicano pela banda das FPLM; revista à Guarda de Hon ra; apertos de
mão a membros do Partido e Governo moçambicanos e a elementos do Corpo
Diplomá tico; apresentação de danças moçambicanas; reconfortante saudação da
população ali presente, etc;) passou-nos pela memória o que sabíamos daquela
diri gente vietnamita, que apesar dos seus 68 anos de idade conserva o corpo
vigoroso de um combaten te veterano.
QUEM É O VICE-PRESIDENTE DO VIETNAME
Nguyen Huu Tho nasceu em Cho Lon, a 10 de Julho de 1910, de uma família de
pequenos funcionários tendo tirado, posterior. mente, a sua licenciatura em
Díreito na França. Na altura da data do nascimento daquele dirigente vietnamita
os colonialistas fran ceses - que em 1884 ocuparam o
TEMPO N.' 422 - jg. 35

O Vice-Presidente da República Socialista do Vietname aos trabalhadores da


Jdbrica «Cajuca», em Maputo: «Queríamos transmitir aos trabalhadores da
«Cajuca» os cumprimentos dos trabalhadores do Víetname.»
Ainda na «Caluca», o Vice-Presidente vietnamita apreciando as diversas
variedades da castanha ali produzida
território do Vietname - iniciaram a pilhagem desenfreada do subsolo, dos
recursos naturais e das terras, explorando respectivamente minas de estanho, de
zin co, de ferro, de prata; de ouro e de carvão e de 500 mil hectares de área
produtiva.
Em 1947 - dois anos após o início da luta armada - correspondendo ao apelo PC -
contra a ocupação francesa, que viria culminar, quinze dias mais tarde com a
libertaçc da parte norte do Vietname proclamando-se assim a República
Democrática do Vietname e em 1954 com a expulsão dos franceses na parte sul,
desocupando-se todo o território vietnamita do colonialismo francês
- Nguyen Tho engaja-se no Movimento Patriót'ico do s Intelectuais de Saigão e
um ano mais tarde na União Nacional do Vietname.
Em 1950 é preso em Saigão ao ser encarcerado pelas autoridades coloniais
francesas por ter participado em manifestações contra o imperialismo nortè-
ameri-
TEMPO 'N 422 --pg. 36

cano, para em Julho do mesmo ano ser submetido a residência vigiada em duas
cidades do Pais. É l.bertado em 1952, continuando assim as suas actividades pela
- libertação da pátria.
No ano de 1969, pela sua dedicação patriótica e revolucionária na luta contra o
colonialismo francês e posteriormente o imperialismo norte-americano é eleito
presidente do Conselho dos Sábios do Governo Revolucionário Provisório da
República do Vietname do Sul. Recqrde-se que logo após a derrota dos franceses
face à luta do povo vietnamita, o imperialismo norte-americano invade o sul do
Vietname obrigando o povo vietnamita, conduzido pelo Partido Comunista, a
pegar novamente em armas e durante 20 anos bater-se contra o novo invasor.
A 2 de Julho de 1976 - um ano depois da vitória do povo vietnamíta contra o
imperialismo norte-americano e após a reunificação dos ««dois Vietnames»
- Nguyen Huu Tho é eleito Vice-Presidente da recém nascida República Socialista
do Vietname e um ano mais tarde torna-se membro do Presidium do Comité
Central da Frente da Pátria do Vietname.
Marcelino dos Santos classificaria aquele cirlgence víetnamLa ao discursar no
banquete de estado que lhe foi oferecido na noite do dia da chegada - de «comba
tente, consequente do Vietname»,
e que a sua visita à República Popular de Moçambique «contribui para o aumento
da solidariedade» entre os dois países. Nguyen Huu L no, na mesma ocasião,
falaria tam bém das relações existentes entre Moçambique e Vietname iniciadas
pelos movimentos dirigentes aa luta armada nos dois países e recordaria a visita
que o Presidente Samora Machel efectuou ao Viethame, no ano de 1971, bem
como uos contactos que se mantiveram após a proclamação das duas Repúblicas.
«O laços qu construimos entre os nossos povos são laços sólidos» - recordaria
Marcelino dos Santos.
O Vice-Presidente do Vietname, mais a delegação que encabeçava
- destacando-se nela personalidades como Dang Thi, Ministro da Presidência no
Estado e membro do 'Comité Central do PC, Vo Dong Giang, Vice-Ministro dos
Ne gócios Estrangeiros, Vu Quoc Vy, Presidente interino do Comité das Relações
Culturais com os países estrangeiros - manteve conversações com o Governo
moçambi-
cano e particularmente com o Presidente Samora Machel, teve um encontro com o
orpo Diplomático, visitou a Cajuca e o Museu da Revolução e homenageou os
heróis moçambicanos tombados na guerra de libertação, depondo uma coroa de
flores na Praça dos Heróis.
VIETNAME RUINAS DA GUERRA AO RUMO SOCIALISTA
A herança da guerra provocada pelo imperialismo fo: pesadíssima para o
Vietname, tanto: a sul como no norte: centenas de cidades, vilas e aldeias
inteiramente destruídas; numerosas fábricas deixadas em ruínas; pontes, ferrovias
e auto-estradas destruidas; 10 m:lhões de hectares de campos de arroz e de outros
produtos e de florestas foram queimados por 100 mil quilos de veneno químico,
transformando assim 400 mil hectares de terra improdutivas para além do
assassinato de milhões de vietnamitas, a 'n*validização de cerca de 1 milhão de
habitantes e a criação de um lumpen com mais de 500 mil pros titutas, e drogados,
para além de
3 m:lnões de desempregados.
Na República Democrática do Vietname - proclamada a 2 de Setembro de 1945,
um mês depois da queda do domínio frances naquela parte norte do território
vietnamita - lançam-se bases para a construção de uma societade socialista ao
mesmo tempo que sustinham a luta na zona sul ao País, contra os franceses e
posteriormente contra os americanos.
AS QUATRO TAREFAS
Assim, 90 por cento das terras que antes da libertação pertenciam aos
colonialistas-latifundiários foram expropriadas e entregues aos camponeses
pobres para em 1958 a 1960 reali:zarem uma das fases do movimento da
reorganização da agricultura seguida da sua colectivização Na altura, e até agora
quatro grandes tarefas foram confiadas ao sector agrário: - satisfazer as
necessidades de todo o país em produtos alimentares; 2 * abastecer a indústria
com matériasprimas e recursos naturais; 3 reforçar a exportação e servir a
TEMPO N.° 422 - P.4. 37
Deposição de flores na Praça dos Heróis Moçambicanos

A assinatura do acordo de intercámbio cultural entre Moçambique e Vietname...


... e do acordo no domínio técnico-científico
revolução técnica; 4 - garantir com recursos humanos a indús tria, os outros
ramos económicos, o desenvolvimento cultural e defesa nacional.
Para isso cr-aram-se cooperativas agrícolas e aldeias comunais integradas em
grandes empresas agrícolas onde milhões de camponeses engajaram-se para lutar
por melhores condições de vida. A mobilização e participação dos camponeses
nas novas zonas de produção possibilitou o aumento gradual da produção,
combinado com a introdução de novas técnicas agrárias.
Os sectores industriais e comer ciai-s privados de importância fundamental para
a nova economia vietnamita passaram para as mãos do Estado. Em 1965, mercê
do desenvolvimento positivo, a indústria ligeira do Vietname do Norte produzi.a
artigos para a satisfação das necessidades internas e exportação. No ano de 1971 o
comércio externo vietnamita, que outrora estava reduzido a relações comerciais
com um pequeno número da países, ampliou-se e 31 países passaram a comerciar
com o Vietname do Norte. TEMPO N. 422- pág. 38
No campo do ensino é saliente a erradicação total do analfabetismo 13 anos após
'a proclamação da República Democrática do Vietname do Norte. A quantidade
de alunos sobe de ano para ano tanto nas escolas primárias e secundárias como
nas escolas de cursos médios e superiores, isto devido à abertura de novas e
numerosas instituições de ensino.
No sector da medicina também são significativas as melhorias introduzidas
salientando-se a construção de mais de novecentas instituições de cuidados
sanitários. A maternidade e a infância ficaram sob a responsabilídade do Estado.
OS TRÊS NÍVEIS DA REVOLUÇÃO
«Ontem o grande problma era conquistarmos a independência. Hoje temos um
novo desafio: des truirmos a probreza e o subemprego» - diria Vo Van Xang,
embaixador da República Soc.alista do Vietname na França, numa reunião com
jornalistas em Paris.
De facto .os dois Vietnames.
- que se reunificaram após a derrota dos Estados Unidos em 1975 face à luta do
povo para expulsar o invasor da parte sul do País, para depois proclamar-se a
República Socialista do Vietname, verificam um grau desigual de
desenvolvimento.
Enquanto na parte norte como já apresentámos nas linhas atrás - se foram
lançando as bases para a construção do socialismo simultaneamente com guerra
pela libertação da parte sul, esta estava presa somente às tarefas e objectivos da
guerra. No Congresso do Partido Comunista do Vietname realizado em Hanói em
Dezembro de 1976 foram definidas as linhas gerais do desenvolvimento para a
recém-nascida República Socialista do Vietname:
«Mantendo decididamente a ditadura proletária, activando o direito do povo
trabalhador de apli car o colectivismo, realizar simul taneamente três revoluções:
1 -a revolução das relações
de produção
2-a revolução científica e
técnica
3- a revolução ideológica e
cultural.»
No decurso destas três revoluções o objectivo de estabelecer um «regime
colectivista socialista» o que implica, necessariamente, um ýwanço no «proces .ol
da industrialização» e na criação da base «material e técnica do socialismo» para
levar e economia vietnamita «da pequena produção para a grande produção
socialista».
Os documentos daquele Congresso referem que se deve «dar prioridade ao
desenvolvimento ra cional da indústria pesada na base do desenvolvimento da
agricutura e da indústria ligeira; coordenar a indústria e a agricultura de todo o
país numa estru tura industrial agrícola: coordenar a economia nacional com a
economia local numa estrutura da economia nacional ,unida e, ao mesmo tempo,
construir a economia nacional e desenvolver a economia local».
e
. ...... . ......... ...............

ZIMBABWE >
A solucão externa
No fim dek semana de 28 e 29 de Setembro último reúnem-se em Dar-esSalaam
quatro dos cinco he fes de estado) da Linlýa da Frente.
O Presidente Samora Machel não esteve presente neste encontro. Segundo fontes
tanzanianas esta reunião da Linha da Frente, convocada pela Zâmbia, teve como
principal finalidade o contacto pessoal do Presidente Kenneth Kaunda, com os
outros presidentes para uma explicação de todo o conjunto de acontecimentos e
posições políticas que nas últimas semanas têm mantido a Zâmbia e o seu
governo no centro das atenções.
A FORMULA
«GOVERNO COLONIAL»
No dia 19 do mês passado um acontecimento insólito desafiava a capacidade de
análise e imaginação dos comentaristas da África Austral; um avião rodesiano c o
m e ç o u a sobrevoar Lusaka e entre o seu piloto e o funcionário da torre de
control0 travou-se uma conversa q u e se resume no seguinte: do aeroporto não
deveria levantar voo nenhum avião, nem nenhum deveria aterrar, por que a força
aérea rodesiana estava a chegar para um bombardeamento de zonas adstritas a
zimbabweanos. Decorrwio algum tempo aparecem no ar de Lusaka alguns
bombardeiros rodesianos e o porquê de tudo aquilo seria pouco depois .dado por
Joshua :ikomo ao dizer em conferência de im prensa q u e esses bombardeiros
haviam s e m e a d o a morte num campo da ZAPU a 20 quilómetros da capital
zambiana, tendo os rod e s i a n o s utilizado o mortífero Napalm.
Abri a chefia de um governo de Salisbúria a Nkomo seria a segunda etapa do
verdadeiro plano Anglo-Americano»
No d i a seguinte semelhantes acontecimentos se repetem: a avia ção militar
rodesiana bombardeia dois outros campos da ZAPU, um em Rufusa e o u t r o em
Nkushi, distanciados de Lusaka cerca de 153 quilómetros - s o b r e estes ataques
Nkomo afirmaria que as suas forças abateram 9 aviões.
Na opinião da maiDria dos observadores, o facto mais saliente daqueles dois dias
- que envolveram a m o r t e de centenas de zimbabweanos - o facto que explica a
facilidade com que os rodesianos atingiram os seus objectivos, foi o de nem a
força aérea nem a artilharia anti-aérea zambianas terem intervido, apesar de terem
tido tempo suficiente para o f a z e r e m, particularmente no primeiro dia em q u e
a agressão se deu às portas da capital.
No dia 22 chega a Lusaka um alto funcionário do exército bri. tânico para ali
estudar o «modus operandi,, da ajuda militar que o presidente Kenneth Kaunda
havia pedido ao primeiro-ministro britânico, James Callaghan, na reun, e
ram a 22
de Setembro último na cidade ni. geriana de Kano.
Na madrugada do dia 28 de Outubro chegam a Lusaka, por via aérea, os primeiros
canhões, mísseis e radares dessa ajuda militar acordada por Callaghan. Todo o
material bélico será manejado por soldados e oficiais britânicos. Com esta notícia
começa a ganhar credibilidade toda uma série de especulações que entretanto se
vinham fazendo em torno do quadrilátero Smith-Ingláterra
-Kaunda-Kkomo.
Segundo fontes ligadas ao encontro de Kano, o plano britânnico -que tem o apoio
das forças mais conservadoras da Zâmbia - implica o envio de tro pas britânicas
para a faixa zam biana de Victoria Falls, para além da sua presença em Lusaka. A
razão fundamental para a presença inglesa na zona de Victoria Falls reside no
facto de ali operarem muitos guerrilheiros da ZAP U, a organização da qual
Joshua Nkomo é presidente. Controlar a movimentação desses combatentes
zimbabweanos parece pois ser um dos objectivos a que se propõem os britânicos,
particularmen te após o rebentamento de 25 de Outubro da linha férrea Zâmbia/
Rodésia recentemente aberta pelo governo zambiano. Esse rebentamento que
provocou o descarri lamento de um comboio de fertilizantes para a Zâmbia foi
atr.buído por várias agências ocidentais a um grupo da ZAPU, que estiria
<descontente com a reabertura da fronteira zambiana».,
Por outro lado o Presidente da ZAPU e co-dirigente da Frente Patriótica encontra-
se na dificil situação de ter sobre ele pressões provenientes de dois lados: do im
TEMPO N. 422- pág. 39

perialismo e da burguesia zamWana. De dedos apontados para um novo «acordo


interno» em Salisbúria, ambos desenham a rota que Joshua Nkomo, até aqui, não
aceitou.
Nesta alternativa imperialista de dividir a Frente Patriótica um acordo com
Nkomo e isolamento de Mugabe interessa enfatizar o facto de as últimas
propostas anglo-americanas proporem um papel às actuais forças militares
rodesianas muito mais proeminente do que estabeleciam as propostas anteriores
ao encon. tro de Kano. Paralelamente os in gleses propõem agora que só haja
eleições após declarada a indepen dência.
Um dos obstáculos que se erguem neste plano é a tradicional inimizade entre
Nkomo e Muzorewa, inimizade essa que abrange vários escalões da ZAPU e do
ANC do bispo. Quanto a isso parecem estar os ingleses atentos na sua «solução
externa»; na última reunião da Linha da Frente foi discutido o plano imperialista
que propõe agora uma mudança de ênfase de Muzorewa para SiEntrevisto
thole com quem Nkomo estaria mais «à vontade» para um acordo.
Há também o obstáculo de estas manobras provocarem uma possível ruptura na
ZAPU, isto é, a dissidência de comandantes e guerrilheiros adeptos de uma vitóra
militar sobre o exército rodesiano que estariam dispostos a lado a lado com a
ZANU. prosseguir o combate.
Mas o obstáculo principal é o facto de Joshua Nkomo não poder percorrer o
caminho de uma transição para o Zimbabwe pela mão de Ian Smith. Isso seria o
seu suicíd:o político, o seu descrédito total aos olhos das massas, mesmo aquelas
que na zona de Bulawayo lhe têm dado o seu apoio. É pois por esta razão que hoje
muitos «lêem» no plano an glo-americano uma linha de actuação fundamentada
nos seguintes pontos:
a) afastar Smith, no momento exacto, mas não o seu regime e particularmente as
forças armadas;
b) relegar Muzorewa para o
nível do secundário;
c) abrir a chefia de um governo de Salisbúria a
Nkono;
d) fazer transitar as forças
inglesas de território zambiano para o Zimbabwe e, utilizando as forças militares
rodesianas como «polícia» da transição, sob comando britânico, defender o
retorno ao «governo colonial» preparatório da transição para a «independência».
Parece-nos ser esta pima leitura a fazer das últimas movimentações, em torno da
questão rode siana. Smith -declara-se incapaz de solucionar o problema e os
ingleses ýtomam a si a responsabilidade de o fazerem, pela via militar. A partir
daí começa 'todo um novo processo de intervenção directa do imperialismo. Se
tudo isso se vier a realizar estará contida a revolução no Zimbabwe, terá o
imperialismo ganho a batalha? Cremos que não porque ontem os 80 por cento de
território zimbabweano nas mãos dos guer rilheiros da ZANU poderão ser hoje,
já, 81 por cento.
Carlos Cardoso
com Robert Mugabe
As últimas propostas britânicas para o Zimbabwe, o desenvolvimento da luta
armada nointerio r do Zimbabwe, a definição do inimigo, a ofensiva diplomática
da ZANU e outros temas de interesse actual compõem esta entrevista que Robert
Mugabe, presidente da ZANU e co-dirigente dai Frente Patriótica c o n c e d e u a
Agência de Informação de Moçambique.
P,ýrgunta: A luta de libertação do Zimbabwe chegou agora a um ponto em que o
próprio Smith admitiu que as suas forças armadas não estão a conweguir dar
conta da situação. A sua estratégia, diz ele, é conseguir que Washington e Londres
apoiem o «acor. do interno.» Preocupa-o a ideia de que haja agora a possibilidade
real duma intervenção militar imperialista no seu país?»
TEMPO N.° 422 - páo. '40
Mugabe:.:«Sím. O convite para Smith visitar os .E.U.A., embora tenha vindo dos
Senadores, teve a benção da Administração Carter que Lhe deu o visto. Este facto
causa-nos grande ansiedade.
Arteriormente, tanto os britânicos como os americanos afirmavam que o regime
de Smith tinha de ser afastado do poder. Uma vez tendo concordado quanto às
necessárias medidas traisi-
tór; ,ý que levariam à independência, era necessário ter a certeza de que qualquer
governo estabelecido durante o período de transição excluiria o regime de Smith
como tal. O regime deveria ser disperso, as suas forças desmanteladas e as nossas
forças cons tituiriam a base do novo exército. Estes requisitos tornaram-se agora
aparentemente algo que pertence ao passado e os britânicos e os america-

nos estão a desviar-se no sentido de apoiarem o acordo interno.


Dada a presente situação da nossa guerra. Smith cairá muito brevemente a menos
que alguma coisa se faça para o impedir. A Grã-Bretanha e os E.U.A: temenr a
queda de Smith e por isso está-se a preparar o terreno para uma intervenção real
por parte das forças Ocidentais - e daí as referências a uma força intervencionista
de salvamento. A imprensa britânica tem estado a apresentar esta ideia para
experimentar a reacção internacional.
Correm também boatos de que os britânicos gostariam de utilizar a Zâm. bia
como base para tal operação. Não há nada que corrobore isto mas há a referência
a uma força que irá «salvar o,- brancos» rodesianos.
Somos da opinião de que os ingleses não têm a obrigação moral de vir salvar o
regime que afinal cometeu uma traição para com a Rainha. A Grã-Bretanha está
neste momento a trabalhar contra o povo do Zimbabwe procurando estabelecer
um estado «independente» com um governo que a própria Grã-Bretanha dirigirá,
um governo de fantoches que não chefiaram o povo durante a revolução. Mas nós
estamos certos de que com a intensificação da guerra e a construção duma firme
solidariedade com os Estados da Linha da Frente, a OUA os países socialistas e
outras forças progiessistas, a nossa revolução será mantida e conseguirá qualquer
resis têncía por parte dos poderes imperialistas.»
P: «Seria muito mais simples para o imperialismo realizar uma intervenção militar
se fosse possível instalar em Salíbúria um regime negro fantoche aceitável pelo
menos por alguns estados africanos. Isto poderia por sua vez originar problemas
entre as forças de libertação se não houver uma clara de. finição do inimigo.
Assim, como é que a sua organização define o inimigo?»
Mugabe: «Desde o início que definimos c inimigo como sendo o imperialismo e o
colonialismo que, na nossa particular situação, trabalham através do regime dos
colonos. Hoje em dia o inimigo encontra-se sob grande pressão por parte da luta
de libertação e por isso começa a semear contradições no nosso seio. A Frente
começa a ser'um ponto de preocupação para ele.
Outrora nós reunimo-nos sob a égide d ANC mas bem depressa o inimigo
encontrou agentes entre nós e agora Muzorewa e Sithole estão do lado do inimigo.
Quando um irmão nosso decidetrabalhar contra nós e se torna agente do inimigo,
não se pode distingui-lo do inimigo.
As massas foram instruidas sobre isto. Em Março deste ano, quando Smith
chamou Muzorewa e Sithole para o seu «acordo interno» e os tornou parte do seu
regime, nós lançámos uma campanha para mobilizar as massas, explicando-lhes o
verdadeiro significado do acordo e mostrando-lhes que acrescentar alguns
africanos não modificava o carácter do regime. Ele continuava, a ser uma
expressão do imperialismo e do colonialismo.
Nós recordamo-nos daquilo que os americanos fizeram no Vietnam no fim da
guerra. Constituiram um enorme exército para o regime de Thieu, retirando-se
quando acharam que tinham construido uma força neocolonialista que podia
resistir à revolução Mas o povo conservou-se unido e o regime de Thieu caiu em
1975. Nós acreditamos que algo de semelhante se irá passar no nosso país.
Em vez do inimigo ter pele branca, em breve ele terá pele preta. Neste momento a
sua pele já é metade branca metade preta e nós sabemos que o processo é tentar
investir poder nas mãos de pessoas adeptas do imperialismo. Estão a ser
escolhidos os fanT:MP~ O N o a - níci. 41

metade da ja e neg ra
pele
toches paia um governo neocolonialista. Mas a nossa tarefa é clara; intensificar a
luta armada e mobilizar as massas para resistir a qualquer tenta tiva de manter a,
exploração e a opressão dando o, chicote a um homem preto em vez de a um
homem branco.
As massas estão a ser educadas para que possam distinguir o inimigo e os seus
agentes, das forças que lutam pelo pregresso e pela liberdade». AIM; «Smith
afirmou que está pronto a participar numa conferência de «todas as partes». A
utilização da frase «todás as partes» levanta uma questão interessante: quantos
partidos estão envolvidos no conflito»?
"-IMugabe. «A frase «conferência de todas as partes» é muito infeliz. Foi usada
por David Owen em Dar-es-Salaam no encontro que tivemos em Abril e no qual
foi sugerida pela primeire vez a ideia duma conferência constitucional. Aceitamo-
la embora sentíssemos que ela era um desvio daquilc que tínhamos esperado
fosse o passo seguinte, isto é, discutir a constituição da independência.
Quando os ingleses falam duma con. ferência, de «todas as partes», o que eles têm
em mente é que o acordo interno tem quatro partidos e a Frente Patriótica tem
dois. A nossa opinião é que os grupos «internos» se uniram e formaram um
regime e por isso um partido. Muzorewa, Chirau, Sithole e o
próprio Smith constituem um regime e nós dirigimos a nossa luta contra esse
regime.
Os britânicos olham para este grupo dum ponto de vista múltiplo porque isso
serve os seus interesses. Eles pensam em termos de números quando se trata de
votar num conselho governamental. A sua ideia é que a Frente Patriótica com dois
líderes deveria ligar-s(ý com o grupo «interno» com quatro lideres.
Er, esta a ideia original. Se isso levantasse objecções da nossa parte então eles
queriam pelo menos paridade. Eles não concebem que em qualquer acordo a
Frente Patriótica tenha a maioria.
Orm naquilo que nos diz respeito, as negociações não são entre nós e o grupo
«interno». Nós sabemos que estamos a lutar contra este regime mas recusamo-nos
a reconhecê-lo como um partido para negociações connosco. Nós tomamos a
posição de que, uma vez que a Grã-Bretanha é o poder colonial, as nossas
negociações devem ser estritamente com a Grã-Bretanha e se a Grã-Bretanha
convida o grupo «interno» eles deverão vir como uma extenção da delegação
Britânica.
Nós rejeitamos qualquer opinião que procure estabelecer paridade entre a Frente
Patriótica e o grupo «interno» de modo a constituir um conselho governativo ou
qualquer outro organis-
mo governante durante o período de transição para a independência. Qualquer
acordo deve reconhecer a Frente Patriótica como sendo a expressão autêntiira do
povo do Zimbabwe e por isso deverá ter a maioria em qualquer conselho
governativo.
Nós oferecemos aos britânicos as nossa, propostas no encontro de Dar-es-Salaam
mas eles acharam que a disparidade que nós queríamos era demasiado grande.
Eles queriam paridade. No final houve um compromisso mas mantendo o
princípio de que a Frente Patriótica deveria ter alguma maioria.
Nós não pomos objecções, por isso, a urrm conferência de «todas as partes»
apesar da nomenclatura. Mas não aceitamos que possa haver tal conferência sem
condições prévias. Estas condições no entanto, já foram aceites pelos britânicos,
como por exemplo o afastamento de Ian Smith, o desmantelamento das forças
roddsianas e a sua substituição por uma força baseada na Frente Patriótica.»
P: «A opção B das recentes propostas britânicas indica que os britânicos estão
agora a pensar em termos de não haver eleições antes da independência. Qual a
sua opinião sobre o assunto?
Mugabe: «É bem claro qual a ideia dos ingleses. Anteriormente eles censuravam-
nos e criticavamýnos por não querermos eleições democráticas antes da
independência. Açusavam-nos de procurar estabelecer uma ditadura. Já em 1976
quando fomos a Genebra, era esta a opinião dos britânicos. E nós insistimos no
ponto de que éramos de facto muito democráticos. Nós encarávamos a realização
de eleições antes da independência. Nós afirmamos e reafl-iiamos esta posição.
Agora que os britânicos sabem que nós somos partidários de eleições
democréticas e agora que eles também sabem que as largas massas do. país nos
apoiam, eles estão a reconsiderar se será desejável a realização de eleições antes
da independência.
Eles temem uma vitória das forças progressistas e por isso querem asse-

o Cnmg)
taao ao znzmtgo, sao inimgo
gurar a realização dum acordo segundo c, qual o problema das eleições é evitado
e um grupo governamental, que eles chamam um conselho governativo, é
instalado no poder com uma distribuiçãe de lugares que favoreça as for. ças
reaccionárias. E assim, se a independência for concedida ao país nessa base,
haveria obviamente uma tendência reaccionária que iria contra a senda
revolucionária que nós iniciamos. É isto que os britânicos gostariamn (e ver
tornar-se o custo dos aconteciientos no Zimbabwe».
P: «Em declarações recentes você rejeitou uma participação futura dos EU em
futuras conversações sobre o Zimbabwe. Em retrospectiva considera que foi um
erro ter logo de início permitido que os EU se envolvessem no aasunto?»
Mugabe: «Nós concordámos em aceitar a entrada dos EU nas nossas negociações
com a Grã-Bretanha como seus colaboradores porque a Grã-Bretanha
nos assegurara que ela sozinha não poderia com eficácia lançar o processo de
independência sem a participação dos EU. Eles ansiavam por uma fase em que se
teria de pedir a Smith para se demitir, e se Smith, se recusasse a fazê-lo teria de
ser afastado compulsoriamente. E o argumento britânico era que, se os EU
fizessem parte, po deriam participar na pressão que a Grã-Bretanha iria exercer
para se ver livre de Ian Smith. Foi assim nessa base que nos convenceram a
concordar na participação dos EU.
A nossa opinião era também partilhada pelos Presidentes da Linha da Frente. Mas
agora, depois de os EU teren, provado a sua cumplicidade com o rep;me ilegal
facilitando a visita dos func3onários de regime aos EU, tornou-se-nos bastante
evidente que cometeremos um grave erro ,m concordar na participação dos EU
nas nossas discussões. Eles não têm estatuto legal para participar nas negociações,
que dizem respeito a nós e à Grã-Bretanha. A Grã-Bretanha é o poder colonial e
só ela tem o estatuto próprio para negocia:" as propostas de um acordo
connosco».
P: «Parece que tem havido uma intensjicação significativa da luta armada no
últimos meses, isto é, na estação seca, que não é geralmente considerade a melhor
altura para a guerrilha. Quais são os principais factores que conduziram a essa
evolução?»
Mugabe: «Bem, não é a primeira vez que atingimos um ponto alto durante a 'ý-t
çào seca. Na ultima estação seca, :mu 1977, aú ,' -st-'-,,v os no auge e a nossa
ofensiva coínIt:rou O inimigo estav, sempre na defensiva e nés ficámos
satisfeitos por consolidar as nossas posições durante a estação seca. Assim,
quando chegou a estação das chuvas, estávamos em muito melhor posição para
lançar novos ataques e fazer uma selecção de novos alvos. E fizemo-lo com
grande efeito. Tendo consolidado as Possas posi ções nas árèas rurais ondo s3
encontra a nossa população camponesa, é apenas um passo lógico levar agora a
guerr., ý.s -r7:,ç fP-rtes do inimigo nos
centros urbanos e industriais. E assim, a nossa próxima estratégia encontrar-nos á
em posição muito mais forte.
Nesta estação seca não nos pertur bámoz com a estratégia do inimigo que
consistiu em atacar os Estados da Linha da Frente que nos dão apoio na
retaguarda. Mas isto foi uma espécie de guerra psicológica para tentar impressionr
a opinião pública internacional «mostrando» que as forças rodesiaýnas estão ainda
no controlo, para tzntar disfarçar a posição de desvantagex, que têm dentro do
país.
E deste modo estamos muito satisfeitos por o inimigo, nesta estação seca não ter
tomado a iniciativa como esperara fazer, e por ele estar ainda defendendo a sua
posição e não a realizar quaisquer notáveis ofensivas contra nós Continuamos a
fazer progressos e esperamos que este progresso nos leve eventualmente a uma
posição em que o inimigo se encontre cercado e nós estejamos em posição de o
aniquilar.»
P:«Que progressos têm sido feitos no sentido de conseguir uma unidade mais
forte, especialmente no campo militar dentro da Frente Patriótica?»
Mugabé: «A Frente Patriótica não é uma fusão, é uma aliança, somos uma frenti-
que reconhece a existência de dois movimentos distintos, ZANU e ZAPU.
Contudo, reconhecemos a necessidade de unidade e é por isso que estabelecemos
em Janeiro do ano passado, um comité de coordenação para tentar estabelecer
áreas de acordo e um programa para a criação duma unidade total entre nós.
Deste modo, o princípio de unidade é aceite por nós.
No que respeita o campo militar, nós estabelecemos um programa para unir as
nossas duas forças, primeiramente no que respeita ao treino dos nossos sldados
em conjunto. Há já uma série d,-. códigos sumários para o efeito dos treinos. Há
também uma estrutura do Alto Comando que estabelecemos no ComitO de
Coordenação e que foi acordade pela ZAPU e pela ZANU. Há um códio de
disciplina que estabelecemos mas tudo isto são posições teóricas e
TEMPO N I.' 422-pág. 4?
do

ainda não foram postas em prática»


P: «Falando agora da frente diplomãtica: Qual foi o objectivo da sua recentc visita
a Angola?
Mugabe: «No que diz respeito a Angola, há muito tempo que sentimos que as
nossas relações com Angola precisavam de ser cultivadas e desejávamo. trazer o
MPLA para perto d.. nós. Falámos com o Presidente Neto e com membros do
Comité Político e informámo-los completamente sobre a situação militar e
política no nosso pais e sobre as actuais manobras Anglo-Arericanas. E
naturalmente pedimos auxílio. Eu creio que a visita nos foi muito útil.»
P: «Também foi ao Vietnam, à Coreia c. Cuba, à China...»
Mugabe: «Sim, nós queremos construir uma solidariedade de países socialistas
em torno da nossa luta. E sublinhámos que deveria haver uma crescente ajuda
material, agora que estendemos as nossas operações sobre 80% do país e agora
que nos preparamos para atacar alvos mais difíceis. Explicámos que era
absolutamente necessário que não só a quantidade como também a qualidade de
armas deveria aumentar.
A minha visita a Cuba foi a primeira que um líder da ZANU fez àquele pais e
achámos que o Presidente Castro foi muito receptivo, preparado para ser
informado tanto quanto possível acerca dos acontecimentos no nosso país. Cuba
nomeou alguém para estabelecer contacto connosco.
Dum modo geral, estamos satisfeitos po- nos estarmos a aproximar dos países
socialistas tanto quanto possível. A medida que os nossos esforços continuarem
esperamos encontrar o apoio de todos os países socialistas, a União Soviética e a
China incluídas nest» solidariedade».
P: «E sobre a sua visita à Etiópia e Paquistão?»
Mugabe: «Em Addis-Abeba estabelecerno. boas relações com o governo
reTEMPO N. 422 pág. 44
volucionário. Deram-nos algumas bolsas dr estudo, estão a treinar os nossos
quadros na aviação civil e espjramos que este tipo de cooperação continuí.
Passei pelo Paquistão em trânsito e encontrei-me com o ministro dos negócios
estrangeiros. Falámos-lhe das nossas necessidades e desde então man. daram-nos
500 toneladas de arroz e peçab de vestuário as quais muito agradecemos.»
P: «Disse recentemente que a decisão dtc Zâmbia em abrir as fronteiras com a
Rodésia era «embaraçosa.» Em que sentido empregou essa palavra?»
«0 afastamento de Smith eo desmantelamento das forças rodesiánas são condições
que a Gr4-Bretanha dizia ter
aceite»
Mugabe: «É embaraçosa em dois aspectos Em primeiro lugar, temos feito uma
guerra com o apoio da Zâmbia para atingirmos objectivos espcci. ficos. Na nossa
estratégia definimos a destruição do inimigo no campo militar e também no
campo económico. Agora com a abertura da fronteira, o inimigo vai adquirir
benefícios económicos que lhe permitirão reforçar a sua posição económica e,
subsequentemente, reforçar a sua capacidade militar. Quando o inimigo ganha no
do.
mínio económico ganha também no domínio militar.
Est,' é um dos aspectos em que a decisão zambiana vai contra os nossos
objectivos.
E-: segundo lugar, toda a gente sabe que as linhas férreas têm sido alvo das nossas
acções. A mercadoria zambiana vai agora pelas duas linhas férreas para a Africa
do Sul. O que a decisão da Zâmbia espera de nós, sem o terem dito
explicitamente, é que nós dclaremos uma espécie de cessar-fogo ao longo dessas
linhas o que, logicamente, pcýrmitiria ao inimigo mais campo de manobra.
Portanto, é esta a situação que nos leva a classificar essa decisão zambiana de
embaraçosa. Espero que os zambianos reconsiderem a sua posiçào e apelamos
para que o façam.»
P: «Uns dias antes de os zambianos abrirem a fronteira o exército rodesiano fez
uma série de ataques, em territóriu zambiano. Na sua opinião qual é o significado
desses ataques?»
Mugabe: «Estes ataques servem para enfDtizar um ponto: o inimigo é sempre
inimigo até ser derrotado. Nunca pode transformar-se num amigo. Quais quer que
sejam os ataques e manobras utilizadas pelo inimigo para criar a impressão de que
se está a transformar em amigo ele deve ser sempre encarado como inimigo.
Temos estado a lançar uma guerra contra esse inimigo e os nossos irmãos que nos
têm apoiado devem estar sempre alerta para que quaisquer negociações com o
inimigo não nos venham a pôr numa posição desvantajosa.
Era de esperar que, após a abertura da fronteira, Smith não atacaria a Zâmbia,
pelo menos imediatamente. Ma, isso não aconteceu. Smith continua a ser um
«gangster» extremamente brutal.
Pela nossa parte não nos deteremos pelo facto de a Zâmbia ter aberto a fronteira
com a Rodésia. Continuaremos a lançar a guerra com todo o vigor e com a mesma
consistência com que o fizemos no passado.»

-Compromisso,
militarização e guerrilha
«Só podemos esperar que o senhor Bothu consiga ainda surpreender-nos ao
compreender que uma política rejeitada pela maioria da população não pode
funcionar - e que os guerrilheiros normalmente ganham as suas guer r-as.» A
lógica deste aviso aberto é do capitalismo «iluminado» da RSA, veiculadu no
editorial de 12 do mês passado do «Rand Daily Mail.» Os meios políticos de que
dispõe a oposição parlamentar reformista são "no entanto ainda muito débeis
mesmo que o seu peso económico lhe permita alguma capacidade de manobra.
Cortada de antigos territórios «tampões» como Angolq e Moçambique pela
derrota do colonialismo português; sem apoio de uma classe média que o
«apartheid» impossibilitou; aterrorizada pelo ascenso e generalização da oposição
ao regime e pelo incremento da luta de libertação em zonas estratégicas como a
Rodésia e o Sudoeste Africano - a miroria «boer» impõe a lógica do terrorismo
militarista como expressão mais alta da sua política.
Nomeado coordenador supremo dessa «fórmula do desespero» P.W. Botha é já
considerado escassos trinta dias após a sua designação, «o homem com mais
poder» nos 48 anos de domínio «Afrikaner» da RSA. Presentemente reúne as
pastas da chefia do Governo, da Defesa e da Segurança Nacional. Preside ainda
ao «Conselho de Segurança do Estado» e ao «Departamento de Segurança
Nacional» (DONS), nova designação para a tenebrosa CIA sul-africana, a BOSS.
O FIM DO COMPROMISSO
O afastamento temporário de Vorster'e a predominância aberta dos mili*tares na
cena política são motivados pela necessidade de restabelecer a «lei e a ordem.»
abaladas perigosamente desde os eventos de Junho de 1976 no Soweto.
São o dobre de finados para as teses do _«compromisso» e concentração.
O programa que Botha se propõe cumprir e assente no qual alcança a chefia do
racismo oficializado contém as alternativas retrógradas: bantustanização e acções
militares para reprimir as pressões internas e externas.
A planeada destruição dos «bairros .da lata» de Crossroads, nos arredores do
Cabo, onde vivem cerca de 20 mil pessoas, dão uma imagem da redobrada
paranoia racista e militarista do regime. Desprezando os protestos internacionais
Pretória propõe-se arrasar aquela área com os seus «bulidozers» até ao fim deste
ano. Motivo alegado; serve de refúgio a inúmeros deseipregados e «foras da lei»
que não possuem o famigerado «passe» que os autoriza a circular nas zonas
urbanas. Em meados de Setembro, numa série de grandes e ostensivos raides que
envolveram 600 polícias e dezenas de carro blindados, a resistência dos habitantes
de Crossroads foi brutalmente reprimida numa operação que causou a morte de
pelo menos três pessoas, entre as quais um recém.nascido, para alér de inúmeros
feridos. Apesar de atingir proporções inimagináveis a sanha policial do regime
enfrenta uma massa de explorados que vai cada dia ganhando mais consciência de
classe e organizando mais perfeitamente as suas acções de contestação à ordem
social vigente..A juventude manifesta-se nas ruas, os operários politizam as suas
reivindicações de caráctei económico, o movimento de libertaçãb desencadeia
sucessivos actos de guerriha no campo e nas cidades. No Soweto e nas cidades
dormitório espalhadas pelo país os símbolos da opressão fascista são atacados e
incendiados: escolas, esquadras da polícia, bares estatais, /empresas capitalistas.
Os engodos pacifistas e demagógicos dos fantoches negros comprados pelo
governo para lançar a confusão e. a desmobilização no seio do povo são rejeitados
e desmascarados abertamente.
Mei milhão de pessoas é a população prisional sul-africana no ano seguinte a
Junho de 1976. Nos últimos três anos, 337 detidos so assassinados pela policia na
prisão dos quais 127 durante 1977. O orçamento militar aumentou 200 por cento
em quatro
anos passando de 1900 milhões de dólares em 1974 para 2 620 milhões no ano em
curso. Ele alimenta um formidável aparato bélico destinado a esmagar qualquer
tentativa de' rebelião do «inimigo» ou seja, qualquer aspiração dos explorados.
Em 18 anos, dois milhões de negros sul-africanos foram removidos à força. e
colocados em autênticos campos de concentração divididos por grupos étnicos
sob a vigilância cerrada das armas fascistas. Rusgas quotidianas tentam assegurar
o afluxo controlado de trabalhadores negros às áreas urbanas.
AS IMPOSIÇõES DOS GENERAIS
Prtsidindo a esta estratégia terrorista ac nível da sua implementação técnica esteve
nos últimos anos precisamente o então apenas Ministro da Defesa P.W. Botha.
Em 1930, juntamente com Vorster bebeu na fonte originária da «pureza da raça»
militando em organizações pró-nazis. Hoje ele é membro proeminente do
«Broederbond» a sociedade secreta destinada a preservar os fundamentos
políticos e iõ5eológicos da nação «Afrikaner.» Pelh sua voz, os generais impõem
sucessivamente a invasão de Angola, os assassinatos em massa do Soweto, a
extinção de 18 organizações políticas em Outubro de 1977, o massacre de
Cassinga em 4 de Maio. Por outro lado chefia a Comissão encarregada de elaborar
um plano constitucional. Estk destina-se a reforçar o domínio da minoria branca
sobre os mistos e os indianos, remetendo os- negros para o p4pel de «muralha
humana» em reservetóriõs 'de mã o.de-obra barata de-

nominados «países independentes» (bartustões) e que correspondem a,15 por


cento do território.
Prevê ainda a construjção de oito «cidades-estado» junto aos bantustões para
resolver o «problema» dos negros urbanos.
Fragmentando o pais o regime espera poder fragmentar o ardor nacionalista do
Povo sul-africano. Ao separá-lo territorialmente ao longo de linhas de divisão
étnica ou racial pretende precisamente minar a possibilidade da tomada de
consciência de classe que se processa nas zonas urbanas. Os bantustões servirão
também para exportar o desemprego que grassa em proporções consideradas
alarmntes. Colocados em círculos concêntricos as diversas etnias negras, os
mistos e os indianos são mais facilmente controláveis.
Por outro lado, esses territórios ser. virão ainda no pensar dos «boers», como
«aviso prévio» e alarme e suster os primeiros embates «inimigos.» Os trinta por
cento da população flutuante desses bantustões (que passarão a ser considerados
estrangeiros na sua própria pátria:) serão controlados sob linhas de divisão étnica,
nas «cidades-estado».
Mistos e Indianos, ainda dentro deste esquema de pensamento, servirão como um
«tampão social» às «arremetidas dos negros». Para isso prevêem-se algumas
concessões mínimas feitas a estes grupos raciais.
A incorporação de sul-africanos de todas as raças nas forças militares que Bo&1r.
vem desde sempre advogando ser4 agora posta em prática. Duplo obectívo;
absorver parte do desemprege e reforçar a acção divisionista no seio dos
explorados mercê da acção ideológica inerente ao aparelho militar racista.
A nível externo os militares planeiam levar a cabo uma política assente na
agressão e na chantagem militares. O apoio ao regime 'de Smith será redobrado
(«Mirages» e tropas sul-african: encontram-se neste momento a lutar ao lado do
exército rodesiano) ecomo cimentadas as alianças com o '-- smo e ditaduras
militares da A.À Latina.
S ENTO DOS «VERLIGTE»
, possibilidade de imposição
e .. - que nomeadamente no TE5v P N 422 pag. 46
¿ àso do petróleo poderiam causar sérios embaraços - Pretória confia no facto de
que o Ocidente necessita do comercio-de minerais estratégicos com a RSA, facto
que pode ser ponto de aplicação para um «entendimento» a que o imperialismo se
terá de se submeter» por falta de alternativas. Ao nível do gabinete racista, Botha
começou já a criar condições para que o programa a que se propõe seja
implementado com a mínima oposição possível no seio do Partido Nacionalista.
Ferdie Hartzenburg, vice-ministro das «Relações Plurais» que se opunha à
consolidação dos bantustões apresentou já a sua «demissão voluntária». O mesmo
aconteceu com um outro oponente de Botha, Ousbaa Malan, pertencente à ala
«verligte» («liberal») do Partido Nacional. Para os seus lugares entraram
respectivamente Kobie Coetse, que encabeçou o apoio ao actual Primeiro-
Ministro aquando da luta pelo poder registada após a demissão de Vorster e o
latifundiário Sarel Hay ward, outro partidário de Botha.
Pars a pasta das Obras Públicas e Turismo foi designado Louis Le Grange
«verkrampte» «conservador» do Transvaal.
Botha entretanto dedicar-se.á pessoalmente aos negócios Estrangeiros Tudo leva a
crer que prepara o afastamento do actual titular daquela pasta Plk Botha, com
quem o actual chefe do «apartheid» teve já diversas querelas em questões como as
de Angola, Cassinga e Crossroads. Englobado na ala «liberal» do PN, Pik
desaconselhou aquelas intervenções e medidas baseando-se no crescente
isolamento internacional que as mesmas provocariam. A ausência de reacções de
vulto por parte de Washington ou do Ocidente «valorizou» a posição de Botha aos
olhos da minoria dominante. Para Janeiro próximo prevê-se nova remodelação
ministerial;, esperando se que racistas considerados demasia'do «libdrais» sejam
saneados de pos tos chave.
As zonas fronteiriças do território, entretanto são desde logo consideradas como
destinadas à militarização a curto prazo. No bantustão de Venda, que
deverá.segundo os planos previstos alcançar a «independência em 79 e que é
corstituído por dois pedaços de terra a nordeste do Transvaal, a Sul da Rodésia e
com a Reserva de caça de Kru-
ger separando-os de Moçambique a Este os militares anexaram um corredor na
margem sul do Limpopo «para fins de defesa».
No interior do pais, entretanto o desemprego atinge rapidamente as proporções de
crise. A discriminação racial actua como um colete de forças relativamente ao
desenvolvimento da indústria na medida em que reserva apenas a brancos os
cargos mais qualificados. Os capitais estrangeiros são investidos em indústrias
com grande sofisticação de tecnologia a fim de se reproduzirem mais
rapidamente, diminuindo os postos de emprego potenciais. Economistas prevêem
que nos pro ximos 25 anos será necessário criar 1 500 postos de trabalho por dia
para impedir que o desemprego e a «agitação social» que o mesmo origilhá
alcancem proporções catastróficas. As multinacionais com ramificações na RSA
são. aconselhadas aliás a planearem a defesa das suas fábricas em caso de
insurreição, conselho seguido já pela General Motors, entre outras.
No seio do Partido Nacionalista, as dissidências agravam-se, embora a ala
«liberal» esteja com poucos meios de actuação rompido o compromisso que a
ligava através de Vorster aos «duros» maioritários. Fundamentalmente ela tem
ecoado - embora timidamente os senões da burguesia reformista. Mostram-se
duvidosos quanto à viabilidade económica dos bantustões - 20 milhões de pessoas
em 15 por certo do território desprovidos de quaisquer infm-estruturas
económicas. Temem também que a tranformação do pais num enorme quartel
traga em resultado o desencadear de uma guerra de guerrilha generalizada. No
Congresso do Transvaal do PN tanto uma como outra ala referiram as crescentes-
infiltrações de guerrilheiros nas fronteiras, prircipalmente do Norte.
O RASTILHO DA REVOLTA
Correspondendo a um apelo feito pelo ANC em Dezembro do ano passado, por
ocasião do 16. aniversário do «Um. khonto We Sizhe», («A nossa tarefa em 1978
e a de armarmo-nos. Fazer com que o Povo lute de armas na mão»), os combates
e acções populares de sabotagem atingiram um nível jamais alcancado até à data.
As fileiras do ANC reforçaram-se com a inclusão de muito «sangue novo» vindo
directamente

do palco de luta do Soweto e das «townships». Em contacto com a influente


«Blaek People's Convention» o ANC consegue uma plataforma de acção
conjunta.
E no ano de 1978, o rastilho da revolta está já muito perto da fogueira da guerra
popular generalizada. Num cômputo de algumas das acções mais significativas e
medidas relacionadas com a guerrilha ocorridas nos primeiros 10 meses deste ano
temos:
JANEIRO - Informador da polícia secreta sul-africana «BOSS» abatido a tiro nos
arredores da cidade de Durban. FEVEREIRO -- Comando guerrilheiro
do braço armado do ANC, o «Unkhonto We Sizwe («Lança da Nação») embosca
uma patrulha militar sul-á f r i ca n a provocando dois mortos. A acção tem lugar
na faixa fronteiriça da RSA junto à Suazilândia. O incidente é escondido pelo
regime de Pretória até Abril. Em 19 é descoberta e desarmada uma bomba de 2,5
quilos colocada num dos edifícios «Bosman», no centro de Joanes burgo.
Distribuição massiva de panfletos do ANC em diversas cidades «dormitórios»
através do pais apelando para a preparação para a luta armada. A policia descobre
arsenais clandestinos de armas e munições em alguns pontos do
território.
M A R Ç O - Em Port Elizabeth engenho explosivo deflagra no quartel general da
«Bantu Affairs Aministration» (Administração dos Assuntos Bantu) Instrumento
de repressão e alienação da população negra ligado ao Governo racista. Trata-sé
do vigéssimo atentado bom bista reconhecido oficialmente desde a explosão
ocorrida no «Carlton Centre» em Joanesburgo em 24 de Novembro de 1977. A B
R I L -0 O Brigadeiro C. F. Ziestsman, chefe da «BOSS» revela que as forças
paramilitares do regime «comba-
teram várias vezes com guerrilheiros do b a ni d o ANC no Transvaal oriental»
desde Junho de 1977. Entretanto dois «bufos» daquela polícia política são mortos
a tiro no Soweto.
No dia 17 Abel Mthenhu,
que há dez anos vinha colaborando com os racistas como «Testemunha do Esta
do» nos julgamentos de militantes do ANC dado ser desertor desta organização.
Na zona de Meadowlands uma rajada ceifa a vida do traidor Lyoyd Ndaba,
colaborador da polícia e dirigente do partido de extrema direita do bantustão de
Kwazulo «Shaka Spear». J U N H O - Mais dois polícias sul-af ricanos abatidos a
tiro no Soweto. Bhekhitemba Mayeza, membro da «Boss» é encontrado sem vida
no interior de um automóvel; no dia 25 o Sargento Orphèu Chapi, considerado «o
policia mais temido do Soweto» pelos seus requintes -de brutalidade é liquidado
por uma rajada de metralhadora quando se encontrava no exterior da sua
residência naquela «cidade
dormitório».
J U I H0- Presos 100 membros do
ANC sob a acusação de terem levado a cabo ataques contra as esquadras de
Jabulani, Deveyton e Germison.
A G O S T O - Destacamento do «Unkhonto We Zizwe» liquida 10 soldados sul-
africanos em Rustenburg, a 110 quilómetros oeste de Pretória.
Fontes oficiais consideram que se trata do «mais sério incidente registado dentro
do território». O combate durou cerca de quatro horas e nele participaram pelo
lado dos racistas uma unidade das forças de defesa e reforços da auto-intitulada
Guarda Nacional do Bantustão de Bophuthatsuana. No dia 17 o Ministro da
Justiça e das Prisões Kuger afirma no Congres.
so do Partido Nacional rea.
lizado no Natal que o regime está ao corrente de que «organizações banidas estão
a actuar na clandestinidade e que milhares de negros sul-africanos estão a
receber treino m i l i t a r no estrangeiro.»
Uma deflagração ocorrida na fábrica estatal de explosivos a 28 e que provoca
danos materiais avultados origina a abertura de um inquérito pelo Governo. Em
Ndumo, no Natal as forças r e p ressivas sul-africanas descobrem um esconderijo
de armas com 4 espingardas automáticas, 2 metralhadoras, 6 quilos de TNT e
vários cunhetes de munições.
SETEMBRO - O décimo quinto aten.
tado bombista ocorrido no Soweto durante o ano de 1978 (segundo os números
oficiais) fere gravemente o capitalista negro Isaac Ga.
nede. O ataque foi perpetrado com uma bomba caseira.
OUTUBRO - A «Agricultural Union»
da África do Sul, organização de latifundiários e farmelros «boers» apresenta um
plano para que o Go'verno subsidie a compra de sistemas de rádio e colocação de
vedações de segurança nas herdades fron teiriças. Na região de Thabazimbi só há
150 proprietários de terras que residem permanentemente nas 450, herdades da
zona. O Ministro da Agricultura Hendrik Schoeman afirma perante o 88.,
Congresso daquela organização da burguesia agrária que wo Á,'rica do Sul não
se pode dar ao luxo de ter terras
fronteiriças desocupa.o
de elementos afectos à <h s
se dominant. O G
promete estWdar
mente a s
der es r>L\Ul-1
T~0,O N.' 422-- oáa. 47

latifundiários que exigem incentivos materiais tais co mo facilidades de crédito e


assistência governamental na organização da «defesa civil.» Estatísticas
industriais revelam entretanto que durante o ano de 1978 e até à data se registaram
dez greves Ce proporções consideráveis, com especial realce para a ocorrida nas
minas de ouro em Abril. Entre Fouresburg e Ladybrand a «Defesa Civil» dos
racistas prepara esconderijos de armas e alimentos como prevenção para os
ataques de guerrilha. En tretanto o ANC anuncia a breve deslocação de uma
delegação sua ao Vietname. NOVEMBRO - Sete ministérios do
Governo de Pretória, entre os quais os da Defesa e Segurança Nacional estudam
«o problema das herdades fronteiriças, consideradas vitais para a segurança do
pais.»
A POLARIZAÇÃO
Apesar de tudo incapaz para deter o alastramento da resistência e luta populares o
Poder «boer» é crescentemen te isolado a nível internacional. O imperialismo,
cujos investimentos totalizam presentemente 10 biliões d_ dJlares no pais, e tendo
a rota estratégica do Cabo em grande apreço continua a r: ctuar com o retrógrado
regime do «apartheid.»
Ao mesmo tempo emite alguns timidos protestos e recomendações diplomáticas
para consumo da opinião pública internacional mais crédula. Entretanto
movimenta os seus peões internos, consolidando a sua segunda alternativa. Fsta
ramifica-se no capital índustr-ial sul-africano extremamente
-p.«ndente das multinacionais e do ca1 estrangeiro. A nível político ga-expressão
em partidos brancos e
r reformistas. Estes entretanto
ram muitas dificuldades de moçu, e manobra face à polarização social que a
repressão fascista 1EMPO N.' 422 -- o-o. 49
provoca, mas mostran-se esperançados na reconversão do «apartheid» graças à
pressão do desenvolvimento do capitalismo.
A nível .político o seu ideal é a democracia burguesa alargada à classe média
negra e de cor que essa expansão capitalista faria surgir. A «guinada» para a
direita que o consulado de Botha representa relativamente ao «compromisso» e
tentativa de conquista de confiança dos cidadãos de língua inglesa de Vorster foi
um rude golpe, nas suas aspirações. Mas a instabilidade começa a apoderar-se das
classes dominantes. Os civis acorrem em massa aos armeiros buscando armas de
defesa pessoal. A tensão social explode em numerosos incidentes resolvidos a tiro
ou a murro. A polícia entretanto mostra-se preocupada com o crescente número
de armas de fogo que são roubadas. A insegurança manifesta-se ainda numa
média mensal de um milhão de randes em divisas que saem ilegalmente do pais,
cálculos provisórios que prevêem tendência para aumentar. A fuga dos farmeiros
<" latifundiários para as áreas «bran cas» acentua-se. Presentemente apenas 25
por cento das herdades são habitad s permanentemente por brancos. O absentismo
e a luta operária intensificam-se principalmente nas minas de ouro, centro nervoso
económico do pais. O Soweto mantém-se como viveiro quotidiano de novos
militantes da causa revolucionária. Após Junho de 1976 cerca de quatro mil
pessoas sairam do território para receberem treino militar, dos quais 75 por cento
nas fileira> do braço armado do ANC. A frequência das escolas secundárias do
Soweto é três vezes menor do que a de antes daquela data: de 34 650 para 14 379.
Segundo as estimativas oficiais do regime duranteo ano em curso registou-se uma
média de um incidente bombista em cada cinco dias e meio, contra" 30 acções
armadas no ano anterior,
O TORNO DA GUERRILHA
Iniciados recentemente no exército do poder absoluto, os «falcões» do Partido
Nacional fazem reavivar as teses da «grande nação afrikaner.» Na sua obcessão
dispõem-se a ir até às últimas consequências. As armas ató-
micas, que a RSA estará em condições de fabricar em 1984 seriam se necessário o
último recurso.
A nível ideológico é lançada grande campanha no senýtido de «unir os bran cos»
contra o «comunismo internacional e a incompreensão do Ocidente»
O Ministro da Educação Nacional Piet Koornhof prevê «um futuro maravilhoso
enquanto Deus quiser..; porque somos descendentes da raça alemã.» O
«Broederbond» anuncia as suas intenções de sair do segredo a que se remetera
desde há 54 anos, no traçar da linha ideológica do P.N. O objectivo é recriar o
espírito de corpo do «orgulhosamente sós» nas hostes dos privilegiados. A
Televisão é utilizada massivamente para difundir esta Ideologia.
. Entalada entre os tornos 'da guerra de guerrilha em preparação a nível intern> e
as pressões internas e internacionais da burguesia e do capital «esciarecidõ», a
linha Botha tenta criar condições propícias para um futuro entendimento mais
aceitável com o imperialismo. Este seria já negociado por Vorster, que com a sua
imagem «dialogante» e «moderada» intacta graças ao «sacrifício» de Botha,
assumirá os poderes executivos máximos na qualidade de Presidente da República
logo que o projecto Constitucional comece a ser levado à prática.
Tal é também a análise do ANC, contida num depoimento do seu Conselho
Executivo emitido em Lusaka a propósito das nomeações de Botha para Primeiro-
Ministro e de Vorster para o de Presidente da República (cargo actualmente
meramente simbólico.) A tendência para o reforço de todas as frentes de luta,
notada amplamente desde os levantamentos do Soweto con tinuará por certo a
manifestar-se e a crescer, na razão directa do aumento da repressão racista e
fascisa. Uma vez mais, será esse o factor determinante para as «nuances» que o
processo sulýatricano porventura vier a conhecer. -
Miguéis Lopes Júnior

IRAO
Quem são
os oponentes do Xá?
Tem alguma coisa de verdade que - tal como ele afirma - o Xd do Irão
estd defendendo o .progresso» e a .modernizaçãon contra um «movimento
religioso feudal» e retrógado? E qual o papel desempenhado pela esquerda
Iraniana no levantamento de massas que ameaça o seu Governo ditatorial?
O aspecto antiautoritário da religião tem de facto s:'do um factor na maior parte
dos movimentos de massas da história do Irão. Até fins do século XIX, o carácter
social destes movimentos foi sobretudo o de esperar por um messias que liberte o
povo da sua opressão. Com a rebelião do Tabaco em 1890 e a Revolução
Const.tucional de 1906 é que os protestos começaram no entanto a reflectir um
sentimento anticolonial. Estes dois levantamentos marcariam. a primeira luta da
burgue-
sia nacional nascente do Irão para ganhar poder político. Numa sociedade em que
as reu niÕes de massas são raras, os rituais religiosos, especialmente os que
envolvem ajuntamentos públicos, tornaram-se nos melhores meios para
comunicação conjunta. A rápida urbanização das décadas recentes começou a
alterar muitas dessas trad:çóes sociais entre os iranianos, porque tem consciência
disso o povo tem lutado para manter o direito a assembleias religiosas" Embora
o Xá tenha tentado destruir lentamente esta prática, ela tornou-se
particularmente importante a partir do ano passado, quando pessoas descontentes
se reúnem nas mesquitas para ouvir d:scursos políticos em vez de religiosos.
O brutal e omnipresente aparelho de segurança, juntamente com a falta de
quaisquer organizações legais da classe trabalhadora, fizeram com a mesquita
restasse como o único centro permit'do
TEMPO N.° 422- pág. 49

IRÃO
para a comunidade se encontrar em relativa segurança.
OPOSIÇÃO RELIGIOSA
A actual oposição religiosa ao Xá Mohammed Reza Pahlavi nos centros urbanos
é,Á economicamente financiada- e politicamente apo.ada pelo «sector mercantil»
da população e o restante-da burguesia nacional. Mas o carácter anti-regime do
movimento aparentemente religioso t0rna-o na prime'ra força política' em
posição de mobilizar grandes quantidades de pessoas especialmente dentro da
classe trabalhadora.
Este é o aspecto positivo e progressista do movimento. Não há dúvida que alguns
doslideres religiosos são reaccionários e estão a mobilizar os sectores
ideologicamente mais atrasados das populações. Estas forças são fortemente
anticomunistas e defendem -deias feudais relativas ao papel da mulher bem como
outras questões sociais.
As forças religiosas mais direitistas também emitem slogans pedindo o
estabelecimento dum governo Islâmico, que reflectisse estes interesses. Mas é de
pôr em d ú v i d a que estes elementos que representam a aristocracia rural
deslocada - pudessem comandar a força necessária para o estabelecer.
DUAS FACÇÕES
Há duas facções principaís dentro das actuais forças religiosas da oposição, e
ambas exprimiram oposição à exigência da esquerda.
A primeira é chefiada pelo «Ayatollah» (o cardeal) Khomeini, um proeminente
líder Shi'ita que durante os últimos 16 anos se tem oposto aberta e constantemente
à ditadura do Xá Ele fo- exilado em 1963 mas os seus seguidores representam
ainda o sector mais militante dentro da oposição religiosa.
O outro grupo, mais moderado, é liderado pelo «ayatollah» Sha. riet Madari, com
quem o Xá pensara originalmente negociar um compromisso. Mas a* imposição
em 6 de Setembro da lei. marcial TEMPO N.° 422---pág. 50
em 12 cidades iranias e a mais recente violência brutal das forças de repressão do
regime do Xá constituiram um. problema para Shariet Madari, que. sempre
vacilou entre o Xá e o povo. O seu
-pelo no sentido de que o povo permanecesse dentro de suas casas e não tomasse
parte nas demonstrações de 7 de Setembro protestando contra a lei marcial
- nas quais cerca de 500 pessoas foram mortas - e a sua negação, mais tarde, de
qualquer ligação com aquelas demonstrações, custou-lhe grande número de ade.
ptos. Um dos particípantes nas demonstrações - reflectindo a opinião popular -
disse de Khomeini «ele agora é o único em que confiamos. Mesmo o ayatollah
Shariet Madari não pode já ser considerado como nosso representante.»
A OMPI, originalmente uma organ:zação Islâmica radical, dividiu-se em,1974 em
duas facções
- uma religiosa e outra que se diz Marxista. Ambos os sectores reivindicam
participação nos levantamentos de massas e a facção religiosa em particular, tem
vindo a solicitar activamente o apoio do povo.
A influência do OGFPI pode reconhecer-se nas tácticas de rua empregues durante
as batalhas com a polícia. Por exemplo -queimar borracha como meio de
neutralizar os :efeitos do gás lacr4mogéneo, foi um Método introduzido por este
movimeuto: Assim, homens, mulheres e cr-anças jun. taram e lançaram sapatos
para uma fogueira quando a polícia lançou gás lacrimogéneo contra uma multidão
nas manifestações mais recentes. Quando a polícia
INFLUENCIA
REVOLUCIONARIA
A militãncia e carácter organizado das demonstrações deve ser grandemente
atribuída ao trabalho de organizações clandestinas. sobretudo à «Organização dos
Guerrilheiros Fedayee do Povo Iraniano» ,OGFPI) e à Organização do
Mojahadeen do Povo do Irão» (OMPI).
A OGFPI é um movimento Mar xista-Leninista que iniciou uma luta de
resistência armada contra o regime do Xá em Fevereiro de 1971. Foi essa acção
que inspirou à militância do actual movimento de Massas. O OGFPI tem
desempenhado um importante papel na organização das demons trações e na
realização de propaganda armada contra o regime.
fez o mesmo dentro duma mesquita - um ataque que resultou na sufocação dum
bébé de 6 mesQs - as pessoas lançaram fogo às suas motocicletas num esforço
para contra-atacar o gás com os pneus a arder.
FRENTE NACIONAL
Além das organizações clandestinas que têm por fim derrubar
revolucionariamente o Xá. há outros grupos políticos tais como a Frente Nacional,
uma organização burguesa liberal. A Frente foi autorizada a disseminar
abertamente as suas opiniões durante a curta «Primavera de Teerão» em meados
de Agosto. Mas o «abrandamento» sucumbiu perante a lei marcial declarada
menos de um mês mais tarde. A
Manifestant's atacam policia com pedras em Qum
Frente Nacional 6 composta por quatro partidos, pela Associação dos Mercadores
do Bazar e Artífices, e muitas personalidac4,. individuais. O seu programa
politico baseia-se no reforço da Cons tituição do Irão, eleições livres, liberdade de
expressão e assembleia, liberdade dos presos políticos e o fim da tortura.
Há outros pequenos grupos políticos de oposição que começaram a surgir com o
advento da ps eu do liberalização do Xá. Mas estão na sua maior parte reu nidos
em torno de personalidades políticas individuais e até agora nenhum conseguiu
grande influência.
O Tudehr o Partido Comunista tradicional há muito. oue foi de-
mais bem organizado em princi pios dos anos 50 até que em 1953 um golpe
apoiado pela CIA derrubou o governo nacionalista progressista de Mosaddegh.
Muitos membros do Tudeh foram mortos ou postos na prisão, na onda de
repressão que se lhe seguiu. A maior parte dos líderes do partido, contudo, ou se-
exilaram ou fizeram as pazes com o regime do Xá.
Desde então o partido Tudeh perdeu a sua base de apoio das massas. Durante as
recentes insurreições, os líderes exi.lados do partido manifestaram-se de novo
apresentando o desenvolvimento dum plano com 9 alíneas para a formação dum
«governo de coligação». O plano baseia-se na sua colaboração com a burguesia
na-
cional iraniana e um sector « liberal» do regime do Xá.
A oposição maciça ao Xá foi desencadeada pela proposta do regime para a
destruição dos bair ros da lata; perto de Teerão. As pequenas e espontâneas
demonstrações a que os :rianos se referem como «os levantamentos dos limites
exteriores da cidade> foram as primeiras acções do género por parte do mais opr-
mido sector da classe trabalhadora. Atingindo o número de 750 mil pessoas este
sector consiste principalmente de camponeses recentemente emigrados e que
foram incapazes de se integrarem na vida urbana. Isto devido ao elevado custo das
casas e aos exorbitantes preços do produtos de consumo. São na maior parte
trabalhadores não especializados, mal pagos e vivendo em condições muito
precárias.
Quando o governo mandou bulldozers e tropas para destruir esses bairros, os
residentes protestaram. Várias pessoas foram mortas e o Xá teve eventualmente
que recupr.
Em Novembro de 1977, estudantes da'Universidade de Teerão batalharam com a
polícia quando esta os atacou a pretexto de uma sessão de declamação de poes a.
Seguiram-se demonstrações na rua em que pelo menos dois estudantes foram
mortos e dezenas feridos. Um mês mais tarde, em Qom, a «cidade santa» 100
milhas a Sul de Teerão, milhares de «Shi'itas» manifestaram-se contra os ataques
públicos do regime contra Khomeini. Morreram pelo menos 50 pessoas. Após o
tradicional período Islâmico de jejum de 40 dias, teve lugar um levantamento bem
planeado e organizado em Tabriz, a segunda cidade do Irão. Os manifestantes
destruiram a maior parte dos bancos, edifícios governamentais e esquadras da
policia.
Desde então, a oposição e as demonstrações tem-se espalhado, afectando quase
todas as cidades do país. Os manifestantes têm feito exigências cada vez mais
militantes, aumentando progressivamente a sua crítica ao regime.
«CONCESSõES»
REACCIONARIAS
A hesitação do Xá entre as con cessões à burguesia liberal e aos líderes religiosos
e a brutal repressão das massas, é um sintoma do que o seu governo é cada vez
mais instável. Com as suas observações sobre o perigo das «conspirações
comunistas» e os «mov'mentos fanáticos», ele está a fazer um esforço
desesperado para virar a classe média hesitante contra a classe trabalhadora e para
isolar as forças mais militantes dentro da oposição religiosa.
As suas actuais concessões foram claramente calculadas para encorajar tais
divisões. Entre elas a sua decisão de despedir os membros femininos do seu
gabinete, fechar os casinos e impor mais restrições religiosas ao povo que são
sempre apresentadas como sendo uma resposta aos pedidos do povo. Mas
«cedendo» à sua oposição mais retrógrada, o Xá está a tentar alienar as críticas ao
seu regime, cada vez mais isolado, e a tentar transfer-las para os «fanáticos
religiosos». Este subterfúgio é também dirigido h opinião internacional .onde
espera ser considerado como um «modernizador» cercado.
Pelo desenrolar das suas atitudes os objectivos do Xá parecem agora ser: 1.,
permitir a reentrada na cena política da pequena e média burguesia para
consolidar o seu regime e manter o controlo; 2) fazer concessões retrógradas e
atribuir as culpas da sua «necessidade» à classe trabalhadora, e por este meio
ganhar as boas graças da classe média e dos intelectuais; 3." dar aos liberais
burgueses uma relativa liberdade de movimentos; permitir-lhes que formem
partidos de oposição que absorvam um certo grau de descontentamento popular e
isolem a esquerda. revolucionária.
A recente insurreição parece ter, no entanto, marcado início duma longa luta pela
libertação naquela nação- estrategicamente situada e produtora de petróleo.
N
TEMPO N.° 422--pág. 51

PORTUGAL
Transição para quê?
Quatro anos após o golpe de Estado de 25 de Abril de .1974 e 2 anos
após a entrada em vigor de uma Constituição que aponta como objectivo
do povo português a construção do Socialismo, como está Portugal?
Rendas de casa a preços altíssimos jazem crescer os bairros de lata à volta das
cidades
Esta pergunta e as respostas que fomos encontrar põe concretamente o problema
da possibil.dade ou não de uma transição do capitalismo para o socialismo
através ,dos mecanismos do parlamentarismo e do pluripartidarismo.
Vejamos então como está Portugal.
O prime-ro choque começa no momento de pagar o táxi que nos TEMPO N.° 422
pág. 52
leva do aeroporto ao local onde ficámos alojados. O preço pedido deve
corresponder a mais do dobro do que se praticava há cerca de três anos.
Esta subida vertiginosa dos pre ços é notória em todos os sectores. Na zona da
Grande Lisboa (cidade de Lisboa e arredores onde mora gente que vai trabalhar a
Lisboa) não se encontram casas, por mais pequenas que se-
jam, por menos de sete ou oitc contos de renda. Por uma casa dE quatro divisões
dentro da cidadE pede-se com o maior à vontadE rendas de 12, 13, 14 ou 15
contos Estas rendas, já de si elevadíssi mas, são ainda muitas veze acrescentadas
pela imposição dE um pagamento por fora que podE chegar até à centena de
contos, E sem a qual o senhorio não alugE a casa.
No sector da alimentação a s" tuação é idêntica. Os preços so bem de dia para dia.
O quilo dE carne de primeira, por exemplo paga-se já a mais de trezentos es
cudos.
Nos transportes públicos a su bida é igualmente espectacular. Um bilhete de
metropolitano, que não há muitos anos custava 1 $50 paga-se hoje por 7$50 e nos
ma chimbombos a subida é paralela.
Com os cinemas a levarem 45 a 50 escudos e com livros perfeitamente vulgares a
subirem aos duzentos e trezentos'escudos, os divert'mentos e a cultura come çam a
sair demasiado caros para o povo trabalhador português.
Como. não podia deixar de ser esta subida acentuada nos preços de produtos e
serv:ços indispensáveis afecta profundamente u tipo de vida da população. O
trabalhador que, nos últimos anos do fascismo e na primeira fase do pós 25 de
Abril tinha conquistado, através de duras lutas melhores condições de vida, vê as
suas conquistas desaparecerem pela porta do aumento constante dos preços, mal e
tardiamente compensado por alguns aumentos salariais.

Paralelamnente a está~ situaçãc grave assiste-se à crise política permanente. No


espaço de qua tro anos sucedem-se seis gover nos provisórios e acaba de sei
derrubado o terceiro constitucional.
Desde urina tendência marca. damente de esquerda durante os governos dirigios
pelo general Vasco Gonçalves até ao programa tecnocrata de rápida recuperaçãc
capitalista proposto por Nobre da Costa, sucedem-se as receitas para curar um mal
que, no entanto, se agrava de dia para dia Estas receitas não surgem por aèaso.
São o resultado do evoluii do equilibrio de forças no seio da sociedade
portuguesa. Nem é por acaso que se assiste à situação paradoxal de ouvir o secretá
rio geral do Partido Socialista, Partido maioritariamente votado em todas as
eleições realizadas desde o 25 de Abril, e na altura exercendo as funções de
Primeiro Ministro, declarar recentemente que não existem em Portugal condições
para a passagem ao Socialismo e é necessário aguardar me lhor oportunidade.
0 equilíbrio de forças em Portugal foi substancialmente alterado após o 25 de
Abril. Ao longo destes quatro anos a luta de classes agudizou-se, chegando em
vários momentos até ao ponto de desencadear golpesde força. Foi o que sucedeu,
nomeadamente, com os golpes de 28 de Setembro de 1975 e 11 de Março de
1976. Foi o que sucedeu iguajmente, embora com características diferentes, com o
golpe de 25.de Novembro de 1976 que ai, terou radicalmente o evoluir do
processo português.
Enquanto nos dois primeiros casos os golpes eram claramente conduzidos pelas
forças reaccionárias e foram por isso rapidamente travados conduz'ndo a uma
maior radicalização de posições das forças populares, no 25 de Novembro
assistiu-se a um golpe preparado e realizado por oficiais do exército que tinham
feito o 25 de Abril, maS não fo-
ram capazes de acompanhar a
marcha do processo reVolucion- - rio, devido à sua origem de classe », e tipo de'
educação' recebida r Assustados com a, prbgressivE
- radicalização do processo, com E
contestação da sociedade cap:ta
-lista que viam por todo o lado,
a começar nos seus quartéis, o, militares do 25 de Novembrc
- aliam-se ao Partido Socialista e 1 conseguem desta forma o-que os
dois anteriores golpes não tinham conseguido: travar o processo e abrir as portas à
recuperação ca p Pitalista.
A partir desse momento torna-se progressivamente mais aguda a contradição,
básica da ~actual Constitu.ção portuguesa. Esta pro põe como objéctivo a
construção
- do Socialismo, mas indica como , meios para atingir esse objectivo
o parlamentarismo e o plúalismo
partidário.
Esta Constituição, elaborada
durante o período dos governos provisórios dirigidos pelo ýgeneral Vasco
Gonçalves, em que as massas populares, avançavam no sentido da tomada do
podex, com o apo.o dos militares do Copcon, comando operacional dirigido por
Otelo Saraiva de Carvalho, não poderia nunca ser posta em prática por aqueles
que atrav,és de um golpe desviaram o processo português da via que seguia. Os
oficiais do exército ansiosos peloregresso à «ordem» nas ruas e «disciplina» nos
quartéis não podiam ser os homens que destruiriam o aparelho de Estado burguês
para construir um Estado Popular. Adeptos do poder da hierarquia baseada na
brutalidade da repressão eram incapazes de imaginar um exército revolucionário
em que a disciplina é assumida porque compreendida e aceite. Preparados durante
dezenas de anos para protegerem as riquezas da burguesia, não podiam assistir
calmamente ao avan ço das massas populares queocupavam as terras que os donos
não cultivavam, ocupavam as fábricas onde os donos faziam sabotagem
económica ou tinham
abandonado, ocupavàm as casas
que estavam vazias porque os do nos pediam por elas preços iiiipossíveis de pagar
pelos. trabalhadores que viviam em barracas miseráveis.
Tal como o parlamento, o exército tradicional é uma arma da burguesia. E a
burguesia usou essa arma para impedir que- o poder lhe fugisse definitivamente
das mãos.
Outra força importante no gol- pe de 25 de Novembro foi: o Partido Socialista.
Este partido, que agrupa no seu seio elementos pra vindos de várias classes e
camadas sociais, possui um programa de conteúdo claramente progressista. No
entanto, o jogo de forças no seu interior conduziu os seus dirigentes para
posições cada vez mais próximas da direita. Lançando uma campanha
anticomunista de grandes dimensões o Partido Socialista preparou politicamente o
25 de N 0Qv e m b r o. A sua implicação no golpe foi, no entanto, mais fundo
como se comprovou pela distribuição de armas que foi feita aos seus militantes na
noite de 24 para 25 de Novembro.
A nova situação resultante do
golpe foi apoiada entusiasticamente por toda a direita. A burguesia vê na palavra
«democracia», constantemente na boca dos autores do golpe, a porta por :onde
pode canalizar a chamada democracia burguesa, forma de dominação de classe já
implantada na maioria dos países da Europa ocidental.
Num próximo artigo falaremos da forma como tem sído posto em prática este
sistema e da crise política permanente que dele tem resultado.
Machado da Graça
WTMPO N.' 422 -r- pág 53

ESTADOS UNIDOS
*
CIA fins, orgânica. mtodos
A ideia original que presidiu à cração da CIA em 1947, tinha em vista atribuir a
esse organismo responsabilidades apenas no campo da coordenação de
informações relativas a países estrangeiros. Concretamente: recolha, avaliação e
subsequente produção de análises (finished intelligence) para uso das entidades
governamentais.
Esta era uma finalidade que se pode considerar legítima. Todos os Estados, por
mais incipientemente organzados que sejam, por mais pacífica que seja a sua
política externa, têm necessidade de se manterem informados sobre as reais
intenções e capacidades daqueles outros países que podem ter influência negativa
(ameaçar) a sua soberania e estabilidade. Em qualquer lado, no aparelho do
Estado, haverá um, ou diversos órgãos, cujas funções correspondem às
origiariamente atribuídas à CIA.
Mas bem depressa a CIA cornxçou a desvirtuar as suas finalidades legítimas e a
aventurar-se pelo campo ilegítimo da intervenção directa nos assuntos internos
das outras nações.
Em nome da defesa do «mundo livre» ameaçado pela alegada t.rania comunista, o
imperialismo
americano deitou a moral cristã e ocidental pela borda fora e todos os meios
passaram a servir. Na cruzadaanti-marxistà, os fins justificam os me'os. A
transformação da CIA num instrumento executor da política da dominação
capitalista é, então, consequência lógica da filosofia (maquiavélica) do próprio
sistema; em segundo lugar, resulta da dinãmica gerada pelo funcionamento da
enorme e poderosa máquina em que a CIA se converteu.
«Estou ficando preocupado pela maneira como a CIA se desviou da sua
finalkdade original», co-
Stansfield Turner, di rector da CIA
menta com cândida hipocrisia em 1963, H. Truman que era o presidente dos EUA
na altura da criação da Agência Central de Informações - CIA.
Na realidade, a lógica da expioração fmperlalista em todas as épocas (e não só na
fase actual do imperialismo monopolista) exige a presença de governos dóceis
(moderados, como se usa agora dizer) à frente das nações dominadas ou a
dominar. Governos esses que terão de ser instalados no poder, ou aí mantidos, a
todo o custo e sem olhar a meios. Trata-se de uma condição essencl para a
sobrevivência do sistema capitalista nesta fase última da sua existência histórica.
A CA , passou a ocupar-se do trabalho sujo (ilegítimo) indispensável para levar ao
poder e nele manter, os governos dos seus próprios povos e lacaios do im
perialismo. Se não tosse a CIA, a outra qlquer ,agência teriam que ser atribuidas
idênticas tarefas.
Parece assim que as revelações sobre a CIA ultimamente v!ndas a lume através de
livros escândalos de antigos agentes, e relatórios sensacionais do congresso
americano, mais não' pretendem que ilibar o sistema dos «desvios
TFMPO N 422 pág. 54

éticos», os quais seriam da responsabilidade exclusiva da Agência. Ou seja. trocar


causa com efeito.
O ex-agente Victor Marchétti, no Seu livro «A CIA e o Culto da Informação», vê-
se obrigado a concluir:, « ... mais que uma organização de informação e contra-
Informação... a (CIA) ...é um instrumento de subversão, manipulação e violência
destinado a intervir secretamente nos assuntos internos dos outros países».
A ORGANIZAÇÃO
A orgânica interna da Agência reflecte a prioridade conferida às actividades
secretas relativas a países estrangeiro§.
Dois terços do efectivo total dos 16 500 funcionários e da verba anual de 750
milhões de dólares (em 1973), são destinados às operações clandestinas e
respectivo apoio. Isto é, 11 000 pessoas e cerca de 25 milhões de contos em
moeda moçambicana.
Em contrapartida, apenas 200/ dos funcionários da CIA gastando menos de 10%
do orçamento anual trabalham no sector legítimo do processamento de
informações e análise do seu signifi cado.
Dos 4 Directorados principais em que está dividida a CIA, três deles - Operações
(espionagem e contra-espionagem); Ciência e Tecnologia; Serviços Técnicos e
Administrativos - trabalham a
favor das missões clandestinas. Um único Directorado, (com 3 500 empregados,
mesmo assim) trabalha em "nformações/intelligence.
Porém só o directorado de operações conta com 6 000 funcionários, entre agentes
e pessoal auxiliar, numa proporção de 2 para 1. Metade deles está estacionado no
estrangeiro a coberto de funções oficiais, diplomáticas e outras.
Embora estes números pareçam impressionantes e seja efectivamente a CIA a
organização secreta mais temível, é preciso não esquecer que várias outras
dezenas de milhar de pessoas nos EUA se dedicam a tarefas de informação.
Centralizados no Pentägono, os militaristas de Exército, Marinha e Força Aérea
coordenam uma gigantesca rede de informações que se espalha por todo o mundo
dispondo de meios e verbas astronómicas.
A National Security Agency NSA - que juntamente com a Força Aérea se
encarrega de espionagem aero-especial através de satélites, d-spõe de um
orçamento quase duplo do da CIA.
E ainda existem «pequenos bureaus», com cerca de 400' funcionários cada, em
média, no State Departament (Negócios Estrangeiros), na Comissão da Energia
Atómica, no FBI, no Ministério das Finanças.
Numa estimativa grosseira, a, comunidade de informações americana (intelligence
community) utiliza 150 000 pessoas e tem um orçamento de 6 biliões de dólares
por ano (200 milhões de contos!).
ESTADO DENTRO DE UM ESTADO
Relatório Rockeeliler sobre as actividades da CIA no Chile e Vietname. Em cima:
Salvador Allende nos últimos momentos da sua vida do golpe de Pinochet. Em
baixo: fuga desesperada de Saigão leita da embaixada
americana- no dia da vitória do povo vietnamita
Compreende-se como o funcionamento desta enorme máquina gerou uma
dinâmica poderosa, com efeitos centrífugos afectando a sociedade americana-na
sua generalidade e acabando por dominar importantes sectores governativos; ou
seja, tornandose um estado ,dentro do Estado.
n certo que os-vários Serviços e agências da informação lutam
TEMPO N.. 422- pág. 55

ESTADOS UNIDOS
cada um por seu lado por. uma maior fatia de poder (e do orçamento); que há
duplicações-e fantásticos desperdícios, aliás características do sistema capitalista;
que as decisões dos mais altos responsáveis, incluindo o presidente dos EUA,
apenas utilizam uma rýdícua parcela de todo esse esforço e despesa.
É porém, exactamente, neste contexto que a CIA ganha ascendentes. As soluções
expeditas que fazem parte do seu arsenal clandestino (covert actioni) encontram
muito mais rápida aceitação junto da direcção imperialista, que as análises
elaboradas segundo uma perspectiva a longo prazo. Além disso correspondem à
filosofia de conq4i.sta a rapina do sistema.
Nestas circunstâncias, pode afirmar-se que a CIA exerce uma influência
determinante sobre a condução da política imperialista, não somente nos EUA,
mas também em todos-os restantes países do bloco Nato.
A CIA orgulha-se de recrutar para as suas fileiras os cérebros: mais promissores
das grandes escolas da burguesia americana, tais como, Harvard, Princeton, MIT,
etc.; seguindo neste aspecto a tradição do Intelligence Service britânico que
também ia recrutar os seus funcionários entre a elite intelectual proveniente de
Oxford e Cambridge.
A CIA constitui portanto e efectivamente, uma central da inteligência. Iiteligência
burguesa, necessariamente: cínica, voraz e amoral; mas que, por isso mesmo, não
deve ser menosprezada. Os métodos de actuação da CIA pretendem ser
científicos. São, pelo menos experimentais: à custa dos povos que procuram
libertar-se da opressão e escolher uma via independente de progresso. A partir das
várias experiências de desestabilização levadas a cabo pela CIA através do
mundo, os intelectuais da «Companhia» (designação para os íntimos) elaboraram
um corpo de doutrina que, hoje em dia serve de manual prático.
TEMPO N.' 422 pág. 56
Philip Agee, ex-agente da CIA. Ao lado o livro em que Agee denuncia a
actividade da CIA
Um dos mais conhecidos teóricos da CIA é Richad Bissel, que foi chefe do
directorado das operações clandestinas até ao fracassado desembarque
anticastrista em Playa Girón, no ano de 1961.
Vejamos alguma coisa do que dizia em 1968, o autor da «filosofia'Bissel» a uma
selecta assistência do Conselho das Relações Exteriores dos EUA. Bissel
distingue dois ramos de actividade dentro das Operações Clandestinas (Covert
Operations), apenas para efeitos teó icos pois na prática deverão estar reunidas na
mesma pessoa ou órgão:
a) Recolha de Informações
(intelligence collection) a t r a v é s da espionagem clássica; mas, cada vez mais,
util':zando os modernos meios electrónicos (escuta e captação de comunicaçoes)
e aeroespaciais satélites de espionagem);
b) Acções Clandestinas (Covert Actions) propriamente ditas, com as quais se
procura influenciar directamente a política interna de outros países. O mesmo
que intervenção.
Explica mais ad4ante que nos países subdesenvolvidos - incluindo nessa
classificação os paíse!s da Africa Negra - há excelentes oportunidades para a
recolha de informações, em virtude dos respectivos governos serem pouco
estruturados; de não haver uma consciência muito desenvolvida em questões de
segurança; e ainda por existir uma grande difusão de poder entre os diversos
escalões.
0 objectivo primordial quanto a esses países é o de manter Washington
oportunamente informa do s.obre as alterações que tenInam lugar na correlação de
forças interna. O método de actuação normal é o " «penetração», que R. B;ssel
define da seguinte maneira: trata-se muito mais de estabelecer uma relação
amigável, ou mesmo ntima, com os possíveis aliados do que comprar pessoas com
dinheiro. Poder-se-á, uma vez por outra, oferecer presentes ou facilitar uma ajuda
mo^ netária: mas esta não é a regra.
A intervenção clandestna acentua novamente Bissel - pretende operar sobre a
correlação interna -de forças, tendo em vista objectivos tácticos, imediatos. A
essência dessa intervenção é a identificação de aliados; os quais por intêrmédio de
uma assistência clandestina (fornecida pela CIA, é bem de ver) podem tonar-se
mais eficazes, mais poderosos, ou até mais sensatos. O sublinhado acima é nosso.
O «filósofo» Bissel afirma a sua cínica confiança na capacidade da CIA de vir a
aperfeiçoar os seus métodos, particularmente no domínio do planeamento e
coordenação de acções distintas desencadeadas em diferentes sectores.
A CIA representa uma ameaça permanente contra a liberdade dos povos. Os seus
métodos que atrás se resumem -- são exý tremamente perigosos em si próprios; e
ainda mais, na medida em que se verifica uma resistência psicológica em admitir
que a CIA pode estar também, fisicamente entre nós. Para a grande maioria das
pessoas a CIA é um mal remoto, como uma daquelas doenças contagiosas que só
os outros é que apanham.
Ass'm se cai no facilitismo e a vigilância diminui em relação aos perigos de
contágio e infecção. Infecção «ciática» transportada por agentes estranhos que
circulam à vontade; e também por aliados que a CIA sabe ídentificar entre os
pequenos-burgueses de frágil opção revoluc Dnária
A Sitóe

leilciáne imt.mciemaI
Zimbabwe
A Africa do Sul reagiu vio lentamente às observações feitas por David Owen,
quan do este afirmou que existem «provas bastante alarmantes» de que os sul-
africanos desenvolvem actividades mi. litares na Rodésia a uma es cala ainda
não revelada. O ministro dos Estrangeiros Britânico acusou a África do Sul dos
seguintes actos; pi-, lotos rodesianos estão a ser treinados na Africa do Sul; sul-
africanos estão empregados, q u e r privada quer não-oficialmente, para pro. teger
certas instalações vitais na Rodésia, a Africa do Sul é o principal ponto de apoio
logístico do regime ile gal da Rodésia. Ambos os regimes racistas colaboram
intimamente em «assuntos de segurança» dentro de cujo ãmbito aviões sul-afri.
canos realizam voos de reconhecimento e outras activi. dades do género. Há uma
íntima e constante cooperação entre as patrulhas fronteiriças.
África do Sul
Calcula-se que 17 mil dos 30 mil alunos de Soweto que boicotaram as escolas
no ano passado não regressa. ram. Desses, do acordo com o regime sul-africano 4
mil devem encontrar-se nos países vizinhos estudando ou recebendo treino militar
com grupos de guerrilha».
Cinco das mais importantes companhias de aço japonesas assinaram um
contrato conjunto para a compra de 420 mil toneladas de ferro das Minas
Associadas de Manganésio da Africa do Sul. O embarque da mercadoria terá
inicio a partir de Outubro. A Corporação do Aço Nipónica declarou que o grupo
já fizera contratos no sentido de adquirir cerca de 6,8 milhões de toneladas a
outros dois fornecedores sul-africanos; A r n o 1 d Wilhelm & Co. e Isoor.
e
A, Africa do Sul parece estar a dispender cerca de 145 milhões de rands por mês
em importações de petróleo e material de defesa. Há tam bém uma saída de cerca
de 140 milhões de rands em pa gamentos de «invisíveis», isto é. pagamento de
dividendos e juros, transportes, se. guros, turismo e outros. Isso significa que o
custo mensal do petróleo defesa e invisíveis é quase tanto como os actuais lucros
recordes provenientes da venda de ouro.
A British Aetospace revelou que a Africa do Sul com prou mais de 13 milhões de
rands de aviões e máquinas aéreas à Grã-Bretanha no ano passado. O negócio
incluiu aviões novos, sobressa. lentes, máquinas de turbina e pistão e simuladores,
segundo uma declaração oficial publicada na -Feira Aérea de Farnborouhg.
e
As Forças Permanentes serão aumentadas bem como a duração do serviço nas
Forças dos Cidadãos e dos Comandos revelaram o Ministro da Defesa P. Botha
P. W. Botha
e o Comandante Chefe do Exército General Viljoen. Declarou o primeiro que a
Africa do Sul seria obrigada a reforçar o número das suas Forças Permanentes.
O segundo afirmou que as obrigações das tarefas ope. racionais estavam a
aumentar e que os jovens que se encontravam a prestar serviço nas Forças de
Cidadãos e nos -Comandos deviam esperar que a duração do serviço fosse
brevemente aumentada. «A população do país é suficiente para o defender mas hu
ainda muita gente que poderia fazer parte dos comandos teremos que treinar
tantos líderes quantos forem possíveis dentro dos homens disponíveis e também f
a z e r sacrifícios p a r a ganhar experiência operacional para assegurarmos de que
estamos bem preparados para o que há-de vir.»
Angola
O Presidente a n g o I a n o Agostinho Neto anunciou a libertação eminente de
centenas de presos.
Num -Importante discurso proferido em Cabinda em 15 de Setembro, o Presidente
Neto descreveu três categorias principais de presos que serão libertados; centenas
de pessoas que colaboraram com os movimentos da oposição FNLA (Frente
Nacio. nal de Libertação de Angola) e FLEC (Frente de Libertação do Enclave de
Cabinda); angolanos envolvidos na Revolta Oriental de 1974 (Revolta Activa)
dentro do MPLA; e outros que apoiarem os líderes da tentativa de golpe de
Maio de 1977. em Luanda.
Neto sublinhou que a libertação de antigos oponentes políticos faz parte do actual
esforço no sentido de conseguir um maior grau de unidade interna e uma paz
genuína com estados vizinhos tais como o Zaire. Aqueles que forem libertadós
poderão sair livremen te e «contribuir, como certamente eles próprios dese-
iam, para a reconstrução do país».
Falando de problemas de segurança :ainda existentes. o líder angolano reiterou a
sua condenação frequente da Africa do Sul pelo seu apoio a actividades anti-
MPLA por parte dos bandoleiros da UNITA. Angola tem continuado a acusar a
Africa do Sul de incursões através da fronteira Namíbia/Angola durante o mês de
Setembro. O tema principal do discur so dó líder do MPLA, con. tudo, foi a
necessidade para os angolanos, de passarem de u m a fase anticolonial para um
novo período de intensa reconstrução nacional. Reconhecendo faltas de alimentos,
habitação, escolas, medicamentos e tran porte, Neto disse que todas as
comunidades deveriam tentar analisar e trabalhar para résolver estes problemas a
nível local.
Agostinho Neto
Setembro, de facto, tem sido um mês particularmente activo para várias
organizações angolanas envolvidas no esforço de desenvolvimento nacional. Um
seminário organizativo do partido governamental, MPLA. reuniu-se durante a
primeira semana do mês; a Organização Nacional da Juventude está a preparar-se
para um encontro geral; e a Organização da Mulher Angolana completou a suw
assembleia nacional no dia 24 de Setembro, estabelecendo planos para o futuro
depois de analisar os últimos três anos de actividades.
TEMPO N. "'-g 57
IetieiIrie imtwmaciemal
Além disso, a UNTA, a organização nacional dos sin dicatos, tem estado a fazer
os trabalhos preparatórios para uma convenção que abarque todo o pais. Nela se
planeia reconstituir os primeiros sindicatos post.independência e reorganizar os
comités de trabalhadores que foram suspensos após a tentativa de golpe de
1977.
e
Os noye ministros dos Es. trangeiros da Comunidade Europeia decidiram
protestar contra as «frequentes vio lações» do espaço aéreo angolano por' parte da
África do Sul, em consequência duma afirmação de Angola segundo a qual
bombardeiros sul-africanos teriam sobrevoado Angola por duas vezes durante o
mês de Setembro.
O porta-voz disse que os ministros, reagindo a um pedido do Governo Angolano,
tinham entregue ,um mandato ao seu Presidente, o ministro dos Estrangeiros
Alemão, Hans Dietrich Gens cher. para pedir ao Governo sul-africano que se
abstenha no futuro de violar o espaço aéreo angolano.
O Embaixador Angolano na Bélgica, Luís José de Aí. meida, recebeu instruções
do seu Governo no sentido de apelar para o apoio dos ministros do EEC.
É a primeira iniciativa conjunta deste teor por parte dos nove governos em
relação à Africa do Sul.
Zaire
A Bélgica ela França concordaram em ajudar a reor. ganizar as forças armadas do
Zaire segundo revelou o ministro dos Negócios Estrangeiros da Bélgica, Henri
Simonet. Simonet anunciou os planos depois dum encon tro em Nova Yorque
com o ministro dos Estrangeiros do Zaire, Umba Di Luterte. TEMPO N, 422
ápg. 58
Lesotho
O Primeiro Ministro do Lesotho, Chefe Lebua Jonathan disse que se realizarão
conversações de alto-nível entre os líderes dos países que fornecem
trabalhadores emigrantes à Africa do Sul com o fim de se rever todo o sistema.
Num comício público em Leribe declarou que
quando se chegasse a um acordo com o Departamento de Minas sul-africano, os
salários e habitações dos mi. neiros poderiam ser melhorados. Os países
envolvidos são a Botswana, o Lesotho, a Swazilãndia, a Zãmbia, o Malawi e
Moçambique.
Guiné-Bissau
Atribuindo um terço do seu orçamento à educação, a Guiné-Bissau conseguiu
colocar mais de 11 por cento da sua população em cerca de 600 escolas primárias
e secundárias. Os 100 mil estudan tes actualmente inscritos constituem mais do
dobro do número inscrito em 1974, o ano anterior à independência.
Cursos especiais de forma. ção permitiram a cerca de 3 mil guineenses tornarem-
se professores embora muitos tenham apenas habilitações rudimentares. Ao nível
de escolas secundárias cerca de três quartos dos professores são ainda es
trangeiros, sobretudo portugueses. No entanto, por vol. ta de 1981 será iniciada a
construção duma nova escola de professores para que professores secundários
possam ser formados em Bíssau.
Quênia
O Quénia obteve do Bapco
Mundial, no mês de Maio último, um empréstimo de 25 milhões de dólares
destinado ao desenvolvimento urbano. Dois outros empréstimos foram
concedidos no mesmo período ao Quénia pelo AID. Num montante glo bal de 48
milhões de dólares estes dois empréstimos destinam-se à educação e ao
desenvolvimento urbano. Por outro lado, a Bélgica concedeu ao Quénia um
empréstimo de 12 milhões de shilings.
Marrocos
Para fazer face à sua crise de divisas Marrocos obteve, em princípios do mês de
Agosto, 3 empréstimos; um crédito de 300 milhões de dólares concedido por um
consórcio de 47 bancos internacionais, um empréstimo de 50 milhões de dólares
por um grupo de bancos japoneses e um empréstimo de 70 milhões de dólares
entregue em DTS pelo Fundo Monetário Internacional. Em Junho último, a banca
mundial tinha concedido a Marrocos um empréstimo de 65 milhões de dólares
para rea. lizações agrícolas e que o Fundo Monetário Árabe prometeu conceder-
lhe um empréstimo, a curto prazo cujo montante ainda se ignora.
Por outro lado, para a exploração dos chistos betumosos Marrocos acaba de fazer
apelo à companhia pe. trolifera americana Ocidental Petrolium Corporation.
Tunísia
De manhã cedo, no dia 10 de Outubro o Tribunal Especial de Segurança de
Estado da Tunísia anunciou o primeiro dos seus veredictos na actual série de
julgamentos dos sindicatos.
O procurador da República tinha pedido sentença de morte para todos os 30
lideres sindicalistas em julgamehto, mas as sentenças mais severas pronunciadas
foram 16 penas de prisão que vão de seis meses a dez anos.
Habib Achour, antigo secretário Geral da Federação Tunisina de Sindicatos
(UGTT) foi um dos dois que recebeu sentença de dez anos de trabalhos forçados.
O tribunal aceitou a acusação de que Achour e os seus mais próximos associados
tinham conspirado para derrubar o governo.
O governo tinha acusado os 30 líderes sindicalistas de incitarem à violência,
assassinato e saque nas perturbações de Janeiro passado que rodearam a greve
geral. A UGTT afirmou que apelara para uma greve pacífica que se tornara
violenta apenas porque os demonstrantes foram provocados pela tropa e pela
polícia.
Achour, que como chefe da federação sindical estivera também no comité central
do «Partido Socialista Destouriano» que se encontra no poder, foi sempre uma
figura pública altamente
-espeitada. Ele e os seus coleg s dos sindicatos têm tido simpatia popular durante
o julgamento,
O Tribunal de Segurança do Estado, que só se reuniu para dois outros casos na
sua existência de dez anos, é acusado pelos opositores do governo de ser uma
instituição essencialmente política. O julgamento mais re-

ves faltas de bens básicos tais como pão, açúcar, fruta, legumes e óleo comestível.
As bichas junto as estações de gasolina locais têm por vezes dois quilómetros de
comprimento para se conseguir a ração standard de dois galões - quandý isso é
possível.
A agravar a situação os
Em consequência do esta. belecimento dum Conselho Económico Américo-
Sudanês em 1976, o Governo de Numeiry t e m procurado convencer mais firmas
americanas a investir no Sudão, apelando em particular para os grupos ligados à
explo ração agrícola tais como a «Tenneco» com ofertas de concessões de
terras na Bacia do Nilo.
Uma série de crises econrómicas, tem exercido sobre
ro do Sudão e grandes inundações ao longo das limitadas estradas do pais,
ultrapassaram todas as ten. tativas de auxilo.
-A falta de transporte adequado entre Port Sudãc no Mar Vermclho e a capital,
Cartnm, es(e;dei , tre à c te governante m:ii. tar do país - de acordo com
observadores locais
- tornam-se visíveis sinais de que o Governo de Numeiry poderá ter que enfrentar
um golpe de estado, a menos que se consiga em breve uma certa estabilidade».
Faltas crónicas de combustível na capital obrigaram muitos negociantes a fechar a
porta e acarretaram gra-
principais geradores eléctricos da cidade avariaram re. centemente e começou um
racionamento por fases em que se distribuía energia às diferentes zonas durante 2
ou 3 horas por dia. Ao mesmo tempo o sistema de abas tecimento de água a
Cartum falhou deixando as casas e as lojas a seco durante dias seguidos.
E deste modo a tensão foi crescendo na capital à me: dida que foram chegando
notícias de factos muito mais sérios vindas de áreas rurais atingidas pela miséria.
Foram noticiadas duas demonstrações na cidade vizinha de Omdurman e as
alusões sobre a insatisfação rei nante entre os oficiais superiores do exército são
cada vez mais insistentes.
0 Governo militar e neoco1oý;,aí do Sudão que se diz estar Já, à beira da
bancarria, rpi,,giu intensificando o pedidos de auxílio internacional, e pedindo
«paciên cia» à população descontente.
Egipto
O Egipto obteve do Fundo Monetário Arabe um empréstimo de 17,5 milhões de
dólares destinado à consolidação da sua balança de pagamentos.
Gabão
A França está a planear a construção de mais duas bases aéreas gigantescas em
Africa, com grandes guarnições francesas, de acordo com notícias da Paris Press.
Fontes franco-gabonesas disseram que o aeroporto de Franceville estaria
operacional por volta de 1979 e estaria disponível para ser utilizado por aviões da
Africa do Sul. Técnicos especializa dos sul-africanos foram chamados a trabalhar
nos planos para essa base de Franceville.
A França também já concluiu os planos para construir uma base aérea e uma base
de lançamento de mísseis experimental no Império Centro Africano, que o
Presidente Valery Giscard d'Estaing visitou recentemente como hóspede do
Imperador Bokassa.
Misséis «Crotale» 1abric a d o s conjuntamente pela África do Sul e
França
A base de mísseis surge no resultado de um acordo realizado no mês passado
entre a França, o Zaire, o Gabão e o Império Centro Af ricano quando da visita de
Giscard d'Estaing ao Império Centro-Africano.
A base, que inclui uma rampa de lançamento de mísseis e um aeroporto; ficará
situada em Bouar no nordeste do Império. A Alemanha Ocidental já construiu
uma idêntica no Zaire oriental.
TEMPO N.° 4 2-- pág." 59,
-am

tempos livres
PALAVRAS CRUZADAS
HORIZONTAIS- 1 - fruto dê romãzeira (lua; Moca. 2 - Administração do tarque
Imobiliário do Estado (sigla); Dobra (invertido). 3 -Lí quido doce que as abelhas
formam do suco das flores; Aguardente de melaço; Tanto (invertido). 4 -
Símbolo químico do alumínio; Alisar; Escarnece. 5 - Soldado. 6 - Existe; Puxas;
Grito de dor, 7 Prefixo que designa ombro; Grande quantidade; Pede. 8 - Liga de
ferro com car bono (invertido); Unidade de medida agrária. 9 - Língua que se
falou outrora no no'rte de França; poca. 10 -Ofereça; Meta; Eu. 11 Prefixo que
designa vinho; Curso de água natural; Unidade prática de resistência eléctrica.
VERTICAIS - 1 - Grande ramo cortado de,árvore; Composição poética. 2- Marca
de auto móvel; Aio;.Símbolo químico do néon (invertido). 3 - Cem vezes dez;
Que não tem nada por dentro. 4 - Duas vogais; Sorris; Agência de Informação de
Moçambique (sigla). 5 - Atormentar; Csa. 6. - O que faz parte de uma orquestra
ou conjunto (plural); Dirigir-se (invertido). 7 -Abater; Repetição. ,'- Estuda;
Chefe etíope; Argola 9 - Amarro; Anel (invertido). tO - Desaparecer- Tempo
(invertido);
simbolo químico do hélio (invertido). 11 Nome científico de anémona do mar;
Termo.
(Colaboração de Mohamed Aril Satar
- Maputo)
CURIOSIDADES
- Entre as aves, uma das que tem vida mais longa é o cisne,
que, chega a atingir 300 anos.
-0 canto da cigarra pode ser ouvido a grande distância e o
macho ouve perfeitamente um chamamento a mais de um quilómetro e meio de
distância, em virtude da característica dos seus ouvidos.,
(Colaboração de Na/tal Bila - Maputo)
TEMPO N' 422- pág. 60
123
6 7 8 91011
m

GRIFOGRAMA
A - Considerável.........
B -Referente ã rosa .........
C - Saudação entre os turcos D - Amuleto (Brasileiro)..... E-Escolhe . .............
F - Espalha ..............
G - Comando de uma falange H - Surge .................
1 - Repetição.............
J - Região. ..............
L -Encontra .............
M-EIA ... ...
m 531 i w m 1 5 1 l
1, 48, 12, 6, 51, 15, 29, 46 36, 5, 23, 62, 16, 2, 33 3, 9, 50, 14, 4, 22, 57, 43, 53,
74, 35 41, 25, 66, 21, 39, 69, 27,81, 78, 24, 42, 75 38, 70, 82, 63, 56 60, 44, 61,
80, 71, 64 68, 7,45, 76, 31, 19,28, 13, 73, 54, 49, 58 52, 34, 18, 77, 59, 11, 26 55,
37, 10
72, 65, 8, 30 32, 79, 17, 20 40, 67, 47
7; 10 11 12
2 2 23 2 26 62 3
36I 37 3 39 o 4647 48 41 s 51 5
60991 61 62 63 64
6 a-61/ ] 7 70 14 80
A resolução deste passatempo é semelhante à das pala- os números indicados à
frente *da referida palavra. Uma vez envras cruzadas. Consiste em encontrar um
sinónimo para cada contrado o sinónimo, escreva cada uma das letras nos
quapalavra dada e que contenha, respectivamente, tantas letras drados a que
correspondem os números indicados. Ao completar quantos os números indicados
à frente de cada uma dessas pala- o quadro, o leitor encontra a solução, que é uma
quadra. vras. Exemplo: Para a primeira palavra. «CONSIDERÁVEL», deverá
enconttar um Sinónimo com oito letras, pois tantos são (Colaboração de Prakash e
Uday Nampula)
* "~~~~~~ . . . . . .. ...... ... ....... . .............. .
.................:::! : i

t e mpos livres
HIERÕGLIFOS COMPRIMIDOS

LUZ MONARCA AQUELES
8 letras
3=
NOTA MUSICAL OLHO
7 letras
NO7CIVA OFERECI BATRAtUIO
7 letras
EXISTE SUJIDAD .5 letras
(Colaboração de Ismael Taibo Mohamed Maputo)
ANEDOTAS
QUE EXAGERO
Mulher - Imagina que esta noite sonhei
que as feras de cuja pele mandei
fazer o meu casaco me tinham'devorado!
Marido -Que exagero, meu .amor! Os coelhos não comem gente!
(Colaboração de Ali La Tótóó Maputo)
NA AULA
Professor: Humberto, se tiveres 2000 e deres 12$00 ao Josias, 6$00 ao
Alberto e 2$00 ao Francisco, com
o que ficas?
Aluno: Fico com cara de parvo!
(Colaboração de Luis Alberto Machiana - Maputo)
NO EXAME DE FISICA
ENTRE SOGRA E GENRO
A futura sogra para o futuro genro:
-Tem a certeza de que a minha filha será feliz consigo?
-Claro que tenho.
-Não tem vícios? Não fuma, não bebe,
não jóga?
- Nada disso.
-Não tem, então, nenhum defeito?
-Apenas um: sou extraordinariamenie mentiroso!
Sabe dizer-me por que faz a água tanto barulho ao cair no lume?
-Não recordo bem... mas serão os micróbios a gritar!
NO MANICÓMIO
O visitante vê um maluco agarrado a um gancho do tecto e pergunta
a outro internado:
-0 que faz ele ali pendurado?
-Ele diz que é luz...
-Não será melhor ajudá-lo a descer?
-Não! Depois ficamos às escuras!
(Colaboração de Isaac Eugénio Chuma - Maputo)
TEMPÕO'N'
l

ADIVINHAS
O que é. que é
'Que só trabalha Quando tem rabo?
O que é que diz a água da banheira para uma mulher gorda?
(Colaboração de Vitória Maputo).
Qual é a coisa, qual é ela Quem afaz, vende-a Quem a compra não utiliza Quem
utiliza não vi?
Qual é a coisa, qual é ela Que sem cabeça não vive Mas que, se nãò tivesse
cabeça não morreria?
O que é, queé . Que todos os dias nasce E todos os dias morre?
(Colaboração de Domingos Jose Dias - Pebane)
SOLUÇÕES DO NÚMERO ANTERIOR
PALAVRAS CRUZADAS
1 2 3 4 5 6 7 8 910111213 p e> UT4 I C IA I G I J o o
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QUANTOS QUADRADOS ENCONTRA? - 1 = A. B, C, D; 2 - A, G, E, l; 3 - G,
8, 1, F; 4 - 1, F, H. C; 5 - E, 1, 0, t'; 6 J. M. Q, O; 7 -J 1, R, 1; 8 - 1, M, 1, N; 9 - R,
1, Q, P; 10- i, N, P, O, 11
-S ,U, T, V;12 -S. K, Z, l;13 K, U, 1I:Z, 14 -- Z, i1,1, W; 15 I, X, W, V.
DESCUBRA AS FRASES - 1 - Viva o 1978 ano da estruturação do Partido 2
Estruturar o Partido é consolidar a Democracia Popular; 3 - Apoiemos.a
Campanha Nacional de Alfabetização; 4 Os Povos da Namíbia, Zimbabwe, África
do Sul serão independentes; 5 - Viva as Forças Populares de Moçambique braço
armado do Povo; 6 - Viva o Camarada Presidente Samora voóisés Machel,
Presidente da FRELIMO Presidente da República Popular de Moçambique.
JOGO DE PALAVRAS - Chimoio; Tambara; Sossundenga; Mossorize; Manica;
Barué. ADIVINHAS 1 - Ibo = Boi; II - Faca, colher e garfo; III - A água do rio;
IV
- É o gato; V - O fumo.
-IC.ln l .l dt I I " - '6ýe RI

Come r c a l z ar, escoar a produção agricota, iga-r,*


o trabalho do camponês ao do operário

A PRIMEIRA CONIRIBUIÇÃO DO INiO PARA O .ANO INIERMACIONAI


DA CRIANÇA A APARECER EN BREVE
O CONTINU
Um livro, uma mensagem dos nossos continuadores
"Todos juntos, construamos uma Pátria Livre, uma Pátria prósper uma Pátria de
que temos orgulho."
Samora Machel aos continuadores Colectânea de poemas
de continuadores recolhidos
rem algumas escolas ýCão de Moçambique
uma edição do INLD

O QUE SIGNIFICA...
O LIVRO
"0 SENTIDO
DAS PALAVRAS"
ESTAS E OUTRAS INTERROGAÇOES. A VENDA EM TODO PAIS AO
PREÇO DE ESC.: 20$00
DÁ RESPOSTA
DISTRIBUIÇÃO: INSTITUTO NACIONAL DO LIVRO E DO DISCO

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