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EDUCAÇÃO BÁSICA. ÍHUIÇÚES Patu. os Esruoos na Ln¢¿|_¡¡;,¿D Em
Copyriglrr Ú 2017 by Karla Cunha Pad , La M - .
Todos os direitos reservados ua na am de Caim sima" E Dilma cai-'I Mallard Scaldalerri [UI
COLEÇÃO PENSÀR A EDUCMQÃÚ PENS¿R_ 0 |111¿5¡¡_
1. . -.¡_.n._I . .
Corrrife Editorial
Marileide Lopes dos Santos (RMEIPBH - GEPHEJ UFMG)
Cleide Maria Maciel de Melo (GEPHEJUFMGJ i
1
Ilka Miglio de Mesquita (UNIT)
Juliana Cesario Hamdan (UFOP)
l
Luciano Mendes de Faria Filho (UFMG)
Marcus Aurelio Taborda de Oliveira (UFMG)
Marcus Vinicius Corrêa Carvalho (UFF)
Raylane Andreza Dias Navarro Barreto (UNIT)
Rosana Areal de Carvalho (UFUP)
1
Tarcísio Mauro Vaga (UFMG)
Capri
Túlio Oliveira
Revisão
Bruno Di-ltbruzzo
Projeto grrifico e diagramação
Anderson Luiaes
l
M54? Memoria e patrimonio cultural: contribuições para os estudos da localidade na
educação básica I Karla Cunha Padua. Lana Mara Castro Siman e Dilma
Célia Mailard Scaldaferri (organi?.adoras).- Belo Horizonte: Ma:r.a.a Edições. 20117.
I84p.
ISBN: 9?8-85-?I6U-TOU-2
CDD: 3?l]
CDU: 3?
Produção Grúijico-editorial
LIAZZA EDIÇÕES LTDA.
Rua Bragança, lül - Pompeia
30230-410 BELÚ IIURIZÚNTE - MG
'rz1.z+ ss (31) 3-:ai-059:
edmar.1a@'uai.com.br
'mvvv.mazzaedicoes.com.br
i iL-.in-1-hi
.- .|nz.-_:-'._ -. _ .
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Agradecemos ã FAPEMIG e ã CAPESpelo acordo firmado para
financiar o Edital 13/2012 - Pesquisa em Educação Básica;
ao Programa de Pós-Graduação em Educação (PPGE),
da Universidade do Estado de Minas Gerais (UEMG);
ã Pró- Reitoria de Pesquisa e Pós- Graduação da UEMG;
ã Fundação de Apoio e Desenvolvimento da
Educação, Ciência e Tecnologia de MG (FADECIT);
ã professora Lavinia Rosa Rodrigues,
por apoiaram a publicação deste livro.
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Sumário
introdução .......................................................................................13
Karla Cunha Padua, Lana Mara de Castro Siman e Dilma Célia Mallard
Scaldaferri
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,n›REsENTAÇAoz NARRAR A CIDADE;
rNvENTAR A CIDADANIA:
Luciano Mendes de Faria Filho
Existem mil e uma maneiras de viver a cidade e outras tantas de viver em uma
cidade! Existem mil e uma cidades que habitam a cidade em que vivemos! Existem
mil e uma cidades em cada um de nós que experimentamos a cidade onde vivemos!
Os sentidos da cidade são in-números e se multiplicam em nossos sentidos in-ces-
santernente. Por isso, é quase impossível apreender a cidade nas malhas de nossos
sentidos, de nossas narrativas, de nossas análises, de nossas experiências.
Contudo, curiosos e teimosos que somos, insistimos em entender e em com-
preender a cidade de todos e de cada um de nós, pois, ao fim e ao cabo, é a nós
mesmos que buscamos des-cobrir nas cenas da cidade. É disso, a meu ver, que trata,
fundamentalmente, este livro: a busca por encontrar os sentidos da cidade no ema-
ranhado de sentidos que nos habitam e que nos movimentam. A cidade é, a Luna só
vez, o palco e a cena deste livro, neste livro. Os sujeitos, aqui, são mobilizados para
dar vida à cidade.
Mas não se engano o leitor: isso acontece porque a cidade pulsa em cada ex-
periência contada, em cada caso narrado, em cada pessoa convidada a narrar, alem-
brar, a rememorar, a criar, a inventar... a Venda Nova de sua vida. É como se a própria
cidade abrigasse e transmitisse a vida aos sujeitos.
O livro É uma luta contínua contra o esquecimento e, por isso, incessantemen-
te busca e articula as lembranças e os lugares que fazem de Venda Nova um lugar
memorável. Mas a memória é falha, é incompleta, é invenção, é vastidão... sentida e
expressa nos sentidos, nos gestos, nas palavras, nos rostos, nas ruas, nas casas, nas
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árvores. 11 05 Q uintais Tal como o poeta Manoel de Barros, almejando as coisas miú-_
das nas quais- resplandece a gran d eza e dá co fp o e alma ao ser humano, as autorasj
pesquisadoras/moradoraslcidadãs narram aqui múltiplas Vendas Novas que encnn.
tram (ou constroemi) pelo caminho.
O livro evoca, continuamente, os deslocamentos. Aliás, deslocamento é parte
inerente da proposta: deslocamento do olhar para o paladar e para o ouvido; de uma
rua para outra; de um quintal para outro; de uma natureza para outra; de uma cul.
tura p ara outra; de uma geração para outra... No entanto, ao contrário do que pode
parecer, o fundamental não está num polo ou noutro. Lembrando Guimarães Rosa, a
beleza da coisa está justamente no entre-lugar, na travessia, na paisagem, nos cami-
nhos e nas caminhadas... Chegar é uma das possibilidades da aventura!
O livro é também linguagem. Não apenas nem fundamentalmente, na obvie-
dade do texto, da lingua, das linhas e dos parágrafos. É também evocação da lin-
guagem como fundamento do nosso estar no mundo: estamos num mundo que é
linguagem, estamos no mundo como linguagem e falamos sobre as linguagens do
mundo. A contínua referência, direta ou indireta, à figura do narrador em W. Ben-
jamim que povoa o livro nos força a pensar sobre a importância da linguagem na
criação do mundo e também dos próprios sujeitos. Os sujeitos que povoam o livro,
que habitam as Vendas Novas aqui narrados, não preeitistem à própria narração: eles
e elas vão se inventando, vão sendo inventados, ã medida que tomam a palavra, que
se tornam palavra.
São inúmeras as pessoas que habitam o livro. Crianças e adultos, professoras e
alunos, pesquisadoras e passantes, são... São Leonildes, Geraldos, Miros, Pedros Pin-
tos, são... Todos desfilam com suas alegorias e seus adereços. Todos fabricam cidades
e sonhos. E fabricam também as suas cidades dos sonhos. De seus lugares - escolas,
quintais, ruas, igrejas, casas, parques... - vão projetando uma cidade dentro da cida-
de. Não é por acaso que outra evocação contínua é Ítalo Calvino e suas cidades invisi-
veis. São cidades que habitam outras cidades, que habitam as cidades dos sonhos dos
sujeitos que este livro flagra em movimento.
Mas as Vendas Novas narradas e inventadas representam e, portanto, atuali-
zam os pesadelos de nossas cidades. Seja porque a cidade mudou e as lembranças de
outrora perseguem fantasmagoricamente os narradores, seja porque a cidade-que-aí
-está demonstra cabalmente as nossas maiores e piores desigualdades e dificuldades.
Entre as i ' ' - . _ . .
sado dnumefas qualidades (10 11"~'1'0. ele possibilita aos narradores - pesqui-
ras e mora o res/as _. perceber a impossibilidade
- - -- de se restaurar o passado, e que
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Este texto tratará da historia de uma determinada rua: a Rua Padre Pedro
Pinto, de Venda Nova, Belo Horizonte, Minas Gerais, assim denominada a partir de
1954. Uma rua que, como muitas outras, contém a História de formação de uma
localidade, de uma região e, por vezes, de um território muito maior. Uma rua como
outras ruas que foram caminho por onde transitavam africanos, tanto escravizados
Como alforriados, mestiços, brancos europeus, portadores de tradições e de cultu-
HS muito diferentes - atores participantes ativos da dinâmica social e economica
do território das Minas. Uma rua que foi do comércio agropecuário e dos ofícios
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Esso É H 1'“il PÍÍPCÍPEIÍ CIE um povoado que alcançou, no final do século XIX,
aproximadamente 1.818 habitantes livres e 372 escravos, exportando mantimentos
para Sabará. Coflgollhfls e Santa Luzia, e importando, em pequena escala, gêneros de
secos e molhados (MARTINS, 1869, p. 157-58).
A Rua Padre Pedro Pinto, antes chamada Nossa Senhora de Venda Nova, ou
ainda Santo Antônio de Venda Nova, representa o núcleo de formação inicial de Ven-
da Nova. Por isso, falaremos dela.
Essa rua, por ser o núcleo mais antigo de um sitio urbano, É também, como
tantas outras, o assentamento que contém o traçado original da urbe, como ressalta
Sandra Iathay Pesavento (2007), ao abordar os caminhos recentes da historia urba-
na. A autora também coloca em evidência as múltiplas temporalídades presentes no
espaço urbanístico e as diversas camadas de sentido que lhe são atribuídas por seus
habitantes, transformando o espaço urbano em territórios, ou seja, em extensões de
superficie apropriadas pelo social.
Portanto, a rua sobre a qual trataremos - antes caminho da "Carretaii "Estrada
do Carretão” - foi se alargando. Nesta rota, constituiu-se um povoado que cresceu
e chegou ao final do século XIX como Rua Direita, recebendo moradores do arraial
Curral Del Rey, que é demolido para abrigar a nova capital de Minas Gerais. Desse
modo, a Rua da Direita sofre impacto significalivo na sua vida cotidiana, ao mesmo
tempo em que Venda Nova passa a ser considerada pelos novos moradores do antigo
povoado Curral Del Rey como um lugar distante, rústico, atrasado, em oposição it
nova cidade e capital do Estado que se constrói sob a égide dos signos da modernida-
de e do progresso, atendendo à imagem de um país republicano.
Na ficção literária, vamos encontrar Venda Nova apresentada como um lu-
gar distante da modernidade e das oportunidades que a nova capital enseja. Em
A Capital de Avelino Fóscolo, primeiro romance ambientado em Belo Horizonte,
0 escritor oferece descrições com elementos interessantes para se visualizar como
a localidade era percebida em fins do século XIX e inicio do XX. Venda Nova está
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Ri-'feféncífls Cuniuíís UNRC* 2000)- E559 C°1'1C€ÍÍ0.que compreende "objetos, práticas
e lugares HPYÚPUH 05 Pfilfl Cultura na construção de sentidos de identidade [ ]" co-
loca em evtdënfllfl 05 bfirls culturais, incluindo. neles, as paisagens naturais que serão
- _- .|.-:q_?"_¡."I_-I-:'I|._
também
_ consideradas como patrimõnio
_ c Lt Itu ral e que nao
- serao
.. obrigatoriamente
sbjeto de_ _ tombamento. mas de rnventári 0. com o intuito de promover o sentimento
ds P='f“°'P“1` ° de P°“°“°" 3 um sfflpfl. de Pflfisuir um lugar zprúrasas autorai-
mente. Assim define o documento:
l---l fffèfëfifíflf São Edificações e são paisagens naturais. São também as ar-
tes . o S oflctos.
' ' as formas de ei-.pressao
- - e os modos de fazer. São as festas e os
lugares a que a memoria e a vida social atribuem sentido diferenciado: são
as consideradas mais belas, são as mais lembradas, as mais queridas. São
fatos, atividades e objetos que mobilizam a gente mais próxima e que rea-
proxima os que estão longe, para que se reviva o sentimento de participar
e de pertencer a um grupo, de possuir um lugar. Em suma, rfƒerêrrcias são
objetos, práticas e lugares apropriados pela cultura na construção de sen-
tidos de identidade, são o que se chama de raiz de uma cultura. (IPHAN,
2000.p.29)
LUGARES DE MEMORIA
'Tradução |¡¬,›;¢_ ,at 5[n¡¢5¢ desse conceito foi retirada do artigo escrito por Alexandre Bibeau e Pascale
P-hrcottez Visiter des lieus e y Íabriquer as mérnoire: le tourisme dans Ia trasmission dela mèmoirc collective.
f1ümero¢;p,¡¡¡¡ da Rfluc dc |~ ,sQ1p, “_ 3, septembre 201 I. Montréal. Canadá (Les crrcurts patnmomaux).
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pnorosra METODOLÓGICA
Algumas problematizações se faze m necessárias antes de se Pwcfidfir à sp¡e_
sentafião de uma PFÚPUSP1 mfitfldológica Patfimünial wltada Para a Educaçaü das
sentidos, das sensibilidades.
í
Fonte: Rua Padre Pedro Pinto - Venda Nova. Fonte: Jornal: O 'l'El*viPO - 1¬liU6i2Ui3. Disponivel em: <
http:Hsvvnv.otempo.com.brlcidadesiobras-do-brt-e-vias-estreitas-atrapalham-deslocamentos-1.d63?99>.
.acesso em: I fev. 2011?.
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A história faz-se com documentos escritos, sem dúvida. Quando eles exis-
tem. Mas ela pode fazer-se, ela deve fazer-se sem documentos escritos, se
os não houver. Com tudo o que o engenho do historiador pode permitir-
lhe utilizar para fabricar o seu mel, à falta de flores habituais. Portanto,
com palavras. Com signos. Corn paisagens e telhas. Com formas de cultivo
e ervas daninhas. Com eclipses da lua e cangas de bois. Com exames de
pedras por gedlogos e analises de espadas de metal por químicos. Numa
palavra, com tudo aquilo que pertence ao homem, depende do homem,
serve o homem, exprime o homem, significa a presença, a atividade, os
gostos e as maneiras de ser do homem [...]. (FEBVRE, 1985, p. 249)
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rerpretá-Ia num movimento de quem sobre ela reflete, de quem duvida do que ve, du
que ouve dizer e, nesse trânsito, se disponha a ouvir outras vozes, a parar em oun-05
pontos, a olhar sob outros ângulos até então pouco conhecidos e/ou percebidos.
Esse movimento de afastamento e de aproximação produflirifl Bolão o estes-
nharnento. exigência para escapar de uma tensão presente no cotidiano urbano das
cidades na modernidade atrial: a de viver irnerso num ambiente saturado pelo ex-
cesso de exploração dos sentidos - sons, cheiros, imagens, texturofi dí'‹'E1'5HS - e. ao
mesmo tempo, de se encontrar numa situação de emb otamento dos sentidos, provo-
cado por essa saturação. Esse mesmo mundo saturado pela exploração dos sentidosé
também, como analisam Andrea Moreno e Verona Campos Segantini, em “Conhecer
a História pelos cinco sentidos: na cidade com Alfredo Camarate e Machado de Assis”
(2012, p. 54), a cidade acabou por produzir em nós “um tipo de percepção educada
por fragmentos desconexos, os quais sugerem uma visada rápida, um voo do olhar,
com elementos aleatórios num rápido e incompleto percurso” Segundo ainda as au.-
toras, Machado de Assis, no final do século XIX, já apontava que “molda-se um novo
estado sensorial, vivenciado nas ruas que solicita, do passante. ao mesmo tempo,
o dispêndio de uma atenção muito grande e a distração na sequência” (MORENO:
SEGANTINI, 2012, p. 54).
Em perspectiva de análise semelhante, Lynch (1977) já havia dito que, nas
grandes metrópoles, o horizonte do observador se encontra, contraditoriamente,
ampliado e contraído. Seu olhar pode tanto captar, por lampejos, a multiplicidade
de sinais e signos quanto pode, contraditoriamente, nada observar, dada a pressa
da suposta homogeneidade rotineira que vive. O autor acrescenta que a “forma
fisica de uma cidade tem um impacto sensorial que condiciona profundamente a
vida de seus habitantes, e esse fato É frequentemente ignorado na tarefa da cons-
trução urbana” (LYNCH, 1977, p. 208).
Uma das possibilidades que se coloca para concretizar essa necessidade
do estranhamento e reeducar os sentidos é o de se tornar um caminhante, oil
seja, deixar de ser um passante. Silva Filho (2003) propõe uma distinção entffi'
o caminhame e o passante. O primeiro é aquele que perambula pela cidade sem
pressa, sem percursos predefinidos e obrigações rígidas. Compromissado com 3
observação, "ele consegue, num aprendizado sutil e diligente, mobilizar fragmfifl'
tos materiais de outros tempos, converte-los na matéria-prima das memórias
dos espaços e das culturas urbanas” (SILVA FILHO, 2003, p. 19). já o passaflíf
se encontra marcado pela imposição do relógio e do deslocamento eficiente. DB'
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i UMA TRILHA INTERPRETATIVA NA PERSPECTIVA DA EDUCAÇÃO DOS
'I
SENTIDOS E DAS SENSIBILIDADES
Êí; Uma trilha pode se mostrar como porta de entrada para estudos mais profun-
dos por parte de estudantes e professores, tanto em suas salas de aula quanto indivi-
dualmente, como modo de participação ativa na localidade.
Diferentemente do que podem oferecer os livros e as mídias diversm, uma
trilha interpretativa pode oferecer um contato sensível e humanizado com o.conhe-
cimento. conferindo a essa experiência um potencial renovador das 1'ElflÇ9f-'5 das
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crianças, dos jovens e dos adultos com o conhecimento. E isso se dá desde o mma
que diferentes transeuntes imprimem ao seu andar, aos seus gestos, às suas palmas'
comandados pelo relógio, às práticas que escapam ao circuito de produção, de vanda
e de consumo das mercadorias.
Em nossa trilha, alem da própria Rua Padre Pedro Pinto, identificamos outro;
pontos de referência ou lugares de memória de moradores de Venda Nova, como 3
Igreja da Matriz de Santo António, o Cine Teatro São Pedro, o Cruzeiro, o Casar-âg
(hoje Centro da Memória Regional de Venda Nova), a Igreja Metodista, o Casarão
Azul (Casa de Memórias de Venda Nova) e a Praça Amintas de Barros. Nesse senti-
do, este texto dialoga com o software interativo Trilhos de Memórias de Venda Nova,
no qual se encontram assinalados sobre o mapa de Venda Nova pontos de referên-
cia para habitantes dessa localidade, identificados por meio de fontes já formadas
(entrevistas, fotografias, artigos de jornais, anotações dispersas) e fontes construídas
durante o processo de desenvolvimento do projeto. Portanto, o presente texto, assim
como os demais que fazem parte deste livro, visa aprofundar as possibilidades de uso
dessas referências pelos professores da educação básica.
OS CINCO SENTIDOS
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muda uma margem à sensibilidade individual." Continua o autor a nos dizer que as
.percepções sensoriais formam um prisma de significações sum-E 0 mundüi mas cj,-,S
são mudgladas pela educação e utilizadas segundo a história pessoal" (2016, p_ ]4)_
Nasse sentido, numa mesma mmunidade, as percepções variam de um indivíduo
Para outro. embora acordem sobre o essencial. Destaca ainda que, "para além das
5¡gnificações pessoais inseridas numa pertença sociais mais abrangentes, lógicas de
huflleflífilflde ((105 fl"“'°PÕlÚBÚ5l fl*-IE reúnem homens de sociedades diferentes em
sua sensibilidade no mundo" (2016, p. 14).
Esses posicionamentos teóricos nos incitam a pensar nas crianças e nos jovens
de hoje e na relação deles com as gerações passadas. Hoje, quando se vive de maneira
interligada ao mundo - no nosso caso, sobretudo, ao mundo ocidental - pelos meios
de comunicação virtuais e digitais, podemos nos dar conta de certas sensibilidades
partilhadas que, por vezes, anulam ou dificultam o reconhecimento eíou o apareci-
mento de outras ligadas às singularidades locais. Nesse sentido, promover uma edu-
cação das sensibilidades, por meio do aguçamento dos sentidos, para a percepção
da localidade, podera contribuir para tornar as sociedades mais ricas e diversas no
conhecimento a respeito de si e dos outros.
Por outro lado, Le Breton (2016) assinala que o conhecimento do espaço tem
uma conotação sinestésica, ou seja, para o conhecimento do espaço, há a mistura, a
todo instante, da totalidade da sensorialidade; muitas sociedades, situadas ou não na
mesma temporalidade histórica, darão ênfase a alguns dos sentidos, tornando outros
menos relevantes ou menos usados nos seus processos de conhecimento do mundo.
SENTIDOS E SENSIBILIDADES
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¿ ex e¡.¡¿z¡-,cia 1-mm,-ma" (PESAVENTO, 2005, p.l), e, ainda, que se encontram no
a P n I F 1 u i
O VERE O OLHAR
Dos cinco sentidos, a visão tem tido primazia ao longo do tempo. Atuallflf-'mf'
num mimdo em que a cultura da tecnologia e do consumo seduz pelo visual. W'
nou-se muito importante buscarmos a diferenciação entre o ver e o olhar. Pare l°5'i
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Márcio Barros (1995). o ver é uma atitude involuntária, ingênua, que registra espon-
ianeamente aquilo que está visível, que ê superficial. Ia o olhar ê próprio daqueles que
investigam; é intencional; exige disposição cognitiva e sensorial; “resulta e é resultado
de nossa leitura sobre o mundo" (BARROS, 1996, p. 2). Parafraseando Ítalo Calvino,
em seu Cidades invisíveis, e acompanhando Pesavento em seu raciocínio sobre a ci-
dade como palimpsesto (2005), diríarnos que, para entender tuna cidade (uma rua),
é necessário entender que ela abriga muitas outras cidades (outras ruas), e que só a
vontade e a atitude hermenêutica de enxergar além daquilo que ê visto ê que permi-
tirá se chegar até as cidades soterradas na história e na memória.
Nesse sentido, faz-se necessário que se produza deslocamento em nossa pos-
tura habitual de passoiites para a de ciiiiiiiihoiites; em nossa atitude superficial de
ver pela profundidade do olhar; em nossos trajetos mecanicamente percorridos por
perambulações, pautadas pela inteligência e pela sensibilidade.
Antes de começarmos o deslocamento de andar pela Rua Padre Pedro Pinto à
procura de rastros, de ruínas, de evidências do passado no presente, propomos que,
de posse de um olhar aguçado, auxiliado por um par de lupas, você...
1. Observe as fotografias a seguir e as coloque em ordem temporal, apresen-
tando as razões que te levaram a ordena-las na sequência apresentada.
Para isso, sugerimos que observe a paisagem cultural, a forma como as
pessoas se vestiarn, como usavam a rua; o estilo arquitetõnico das casas, as
tecnicas construtivas, os meios de transporte, a presença da publicidade,
com suas placas, a iluminação e outros aspectos.
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2, Escreve Sübffi D que mais lhe chamou a atenção. Quais conexões podem
5€1'l-filas entre Pfffififlle. passado e futuro? Você proporia modificações na
Rua Padre Pedro Pinto, visando à qualidade de vida de seus moradores?
Quais seriam?
3. Ašflfih lhe CÚUVÍÚHTDUS para que se colocar como um fltiiieur - como al-
guém que perambula pela cidade com inteligência e sensibilidade. Então,
calce o seu tênis ou uma bota, vista uma roupa bem confortável e. munido
de sua Câmara fotográfica, ande pela Rua Padre Pedro Pinto. Carninhe de-
vagar... pare. observe, olhe atentamente. No presente, haveria vestígios do
passado? Registre com a sua câmara. Construa uma narrativa sobre o que
o seu olhar puder capturar. Compare-o com o registro anterior.
SOBRE O OUVIR
Discriniinar, identificar os diferentes sons que estão presentes na “massa so-
nora" produzida na Rua Padre Pedro Pinto requer sensibilizar os ouvidos para es-
cutar. Som dos vendedores, dos escolares, sons da vida de homens agitados, sons
da vida dos homens que tentam driblar a correria, sons das buzinas, das vozes das
pessoas que se misturam, atingindo diretamente os nossos ouvidos. Não temos como
escapar. Como disse Le Breton (2016, p. 130): “O ouvido não tem nem a maleabili-
dade do tato ou da visão, nem os recursos da exploração do espaço; ele só pode dar
ouvidos ou fazer ouvidos de marcador.” Ficar na escuta, no entanto, ê condição para
identifica-Io. Assim, devemos considerar que os sons “são associados ii afetividade e a
“ma Slšuificação que os filtra. descartando uns e privilegiando outros, salvaguardan-
tlo assim a distração ou a concentração do indivíduo que caminha na rua indiferente
ãliarulheira dos carros” (LE BRETON, 2016, p. 135).
bflrmcFabio Henrique Viana, em seu livro A piiisngeiii soiiordde Vila Rica e ii iiiiisicri
ri dos Mirins Gerais (1211-1822), trabalha com o conceito de paisagem sonora
pmpüstü Pele Compositor e educador canadense R. Murray Scliafer. Esse conceito
gif nos ser útil para pensar a sonoridade da Rua Padre Pedro Pinto, assim como a
fereñlëšíloutras ruas, em seus diferentes momentos em um mesmo dia, em .digls di-
mnceitü panäimana. nos meses do ano, em diferentes teinPora2daäles.n1:o;eqq:LqinÊ;S§
ambiente d emos ainda entender que o nosso ouvlfllfl HPTEEH ea É U b _
. esde os sons da natureza até os mais diferentes sons produzidos pelo lio
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mem e pelos artefatos por ele criados. Viana (2012, p. 116) evoca a comparação entre
a paisagem visual e a paisagem sonora alertando-nos sobre o quanto esta últimas:
define a partir da interação entre os sons de um ambiente e o ouvinte'Í
Por outro lado, é interessaiite o que Le Breton (2016, p. 130) propõe para pm
sar sobre esse órgão, quando o remetemos ã palavra: “o pensamento encontra ng
som, isto ê, na palavra, sua forma maior de expressão [...] o sentido se encarna pfi.
meiramente numa palavra dirigida ao outro“; sendo assim, “o ouvido É o sentido
tuiificador do vinculo social enquanto ouve a voz humana e recolhe a palavra do
outro“; e concluí: “ser ouvido significa ser compreendido`Í Dizer “entendido” significa
aquiescer. Nesse sentido, podemos dizer que ê também por meio do ouvido que o
mundo é apreendido, conhecido e compreendido. Le Breton (2016, p. 130) recorre,
entre outros autores, a Ong, segundo o qual mesmo as crianças surdas “participam
indiretamente de um universo no qual a voz gera coesão" ou ainda quando nos alerta
sobre o valor do som para nossa orientação no mundo, referindo-se à acuidade au-
ditiva do cego.
ATIVIDADES
Vejam que interessante!
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Sobre 0 tato
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ATIVIDADES
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é denominada pelos moradores como "Praça da Regionalfi por estar
localizada em frente à sede da Administração Regional de Venda Nova,
Vejamos como essa praça tem sido utilizada por crianças e ja-
vens no Programa Escola Integrada (PEI). O projeto intitulado PEI na
Praça é oferecido em todas as escolas de Venda Nova e consiste na am-
pliação da jornada escolar dos participantes, durante a qual os estudan-
tes, por meio de atividades diversas, experienciam a apropriação dos
espaços da localidade e também de seus bens culturais. A proposta do
PEI na Praça foi concebida a partir da experiência de Ana Maria Sil-
va,1 e estimulada pela sua participação no projeto Educar pela cidade:
memória e património cultural e arnbieutal de Venda Novafi que tinha
como proposta a criação de percursos e de trilhas que possibilitassem o
contato das pessoas com referências culturais importantes da memória
da localidade, inspirado na ideia de que a cidade é um texto a ser lido
e decifrado por quem nela perambula com inteligência e sensibilidade.
Seguem algumas sugestões de exploração do “tato” por seus alu-
nos. Antes, porém, sugerimos a analise de registros fotográficos das
crianças e dos jovens da Rede Municipal de Belo Horizonte, participan-
tes do PEI na Praça.
ofessora de História da Rede Municipal de Iinsino de Venda Nova. Ana Maria atuou. até dezembtfl
como Acompanhante Pedagógica do Programa Escola Integrada da Gerencia Regional de Edutílfliãfl
a Nova. A Trilha da Praça foi realizada entre a Rua Alcides Lins e a Praça Amintas de Barros. -'I 11 l"
numero 1055 da Rua Padre Pedro Pinto, no ano de 2015.
' Educar pela cirfarle: memdria e património cultural e arulvieutal de Venda Nova foi finaociatlfl
Edital l3l'2I1l2 Cap-es!FAPEl'»'llG - Pesquisa em Educação Básica.
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ATIVIDADES
1) Análise de fotografias
1.1. Observe, detalhadamente, as fotografias que registram a presen-
ça do PEI na Praça. O que elas registram? O que elas levaram vocé a
pensar?
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2.4. Recolha na praça, lembranças de sua visita: folhas, flores, cascas
de árvores que lhe chamaram a atenção pela sua textura, pelas formas
geométricas. Leve-as para a escola, para que possam estuda-las e rea-
lizar lindos trabalhos.
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POSSIBILIDADES 1--¡..-
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