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EDUCAÇÃO BÁSICA. ÍHUIÇÚES Patu. os Esruoos na Ln¢¿|_¡¡;,¿D Em
Copyriglrr Ú 2017 by Karla Cunha Pad , La M - .
Todos os direitos reservados ua na am de Caim sima" E Dilma cai-'I Mallard Scaldalerri [UI
COLEÇÃO PENSÀR A EDUCMQÃÚ PENS¿R_ 0 |111¿5¡¡_
1. . -.¡_.n._I . .

Corrrife Editorial
Marileide Lopes dos Santos (RMEIPBH - GEPHEJ UFMG)
Cleide Maria Maciel de Melo (GEPHEJUFMGJ i
1
Ilka Miglio de Mesquita (UNIT)
Juliana Cesario Hamdan (UFOP)
l
Luciano Mendes de Faria Filho (UFMG)
Marcus Aurelio Taborda de Oliveira (UFMG)
Marcus Vinicius Corrêa Carvalho (UFF)
Raylane Andreza Dias Navarro Barreto (UNIT)
Rosana Areal de Carvalho (UFUP)
1
Tarcísio Mauro Vaga (UFMG)

Série Estudos Históricos


Coorderroção
Iuliana Cesário Hamdan [UFDP]
Marcus Vinicius Corrêa Carvalho (UFF)

Capri
Túlio Oliveira
Revisão
Bruno Di-ltbruzzo
Projeto grrifico e diagramação
Anderson Luiaes

l
M54? Memoria e patrimonio cultural: contribuições para os estudos da localidade na
educação básica I Karla Cunha Padua. Lana Mara Castro Siman e Dilma
Célia Mailard Scaldaferri (organi?.adoras).- Belo Horizonte: Ma:r.a.a Edições. 20117.

I84p.

ISBN: 9?8-85-?I6U-TOU-2

I. Educação Básica. 2. Educacão - Memoria. 3. Palrirmflmio - Cultura. I.


Padua, Karla Cunha. ll. Simao, Lana Mara de Castro. ill. Scaldaferri. Dilma
Célia Mallard.

CDD: 3?l]
CDU: 3?

Produção Grúijico-editorial
LIAZZA EDIÇÕES LTDA.
Rua Bragança, lül - Pompeia
30230-410 BELÚ IIURIZÚNTE - MG
'rz1.z+ ss (31) 3-:ai-059:
edmar.1a@'uai.com.br
'mvvv.mazzaedicoes.com.br

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.- .|nz.-_:-'._ -. _ .

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Agradecemos ã FAPEMIG e ã CAPESpelo acordo firmado para
financiar o Edital 13/2012 - Pesquisa em Educação Básica;
ao Programa de Pós-Graduação em Educação (PPGE),
da Universidade do Estado de Minas Gerais (UEMG);
ã Pró- Reitoria de Pesquisa e Pós- Graduação da UEMG;
ã Fundação de Apoio e Desenvolvimento da
Educação, Ciência e Tecnologia de MG (FADECIT);
ã professora Lavinia Rosa Rodrigues,
por apoiaram a publicação deste livro.

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Sumário

Apresentação: Narrar a cidade; inventar a cidadania! ......................._. 9


Luciano Mendes de Faria Filho

introdução .......................................................................................13
Karla Cunha Padua, Lana Mara de Castro Siman e Dilma Célia Mallard
Scaldaferri

Venda Nova e sua Gente.................................................................... 19


Dilma Célia Mallard Scaldaƒerri e Kelly Amaral de Freitas
'__,_-

Trilhar uma rua: muitas histórias visíveis, invisíveis e sensíveis ....... 51


Lana Mara de Castro Siman, Ana Maria Silva e Frederico Luiz Moreira
__

Olhares sensíveis de Venda Nova no século XX ................................ '79


Karla Lobato Fonseca

Folia de Reis em Venda Nova: reflexões sobre processos de aprendiza-


gens em contextos não escolares ..................................................... 107
Soraia Freitas Dutra

“Trilhas Iuvenis: os jovens e seus lugares na/pela cidade” ............... 121


Sebastiao Everton de Oliveira

Quintais e áreas verdes nas trilhas de memórias


de Venda Nova-BH ......................................................................... 131
Karla Cunha Padua e Fatima Silva Risério

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,n›REsENTAÇAoz NARRAR A CIDADE;
rNvENTAR A CIDADANIA:
Luciano Mendes de Faria Filho

Existem mil e uma maneiras de viver a cidade e outras tantas de viver em uma
cidade! Existem mil e uma cidades que habitam a cidade em que vivemos! Existem
mil e uma cidades em cada um de nós que experimentamos a cidade onde vivemos!
Os sentidos da cidade são in-números e se multiplicam em nossos sentidos in-ces-
santernente. Por isso, é quase impossível apreender a cidade nas malhas de nossos
sentidos, de nossas narrativas, de nossas análises, de nossas experiências.
Contudo, curiosos e teimosos que somos, insistimos em entender e em com-
preender a cidade de todos e de cada um de nós, pois, ao fim e ao cabo, é a nós
mesmos que buscamos des-cobrir nas cenas da cidade. É disso, a meu ver, que trata,
fundamentalmente, este livro: a busca por encontrar os sentidos da cidade no ema-
ranhado de sentidos que nos habitam e que nos movimentam. A cidade é, a Luna só
vez, o palco e a cena deste livro, neste livro. Os sujeitos, aqui, são mobilizados para
dar vida à cidade.
Mas não se engano o leitor: isso acontece porque a cidade pulsa em cada ex-
periência contada, em cada caso narrado, em cada pessoa convidada a narrar, alem-
brar, a rememorar, a criar, a inventar... a Venda Nova de sua vida. É como se a própria
cidade abrigasse e transmitisse a vida aos sujeitos.
O livro É uma luta contínua contra o esquecimento e, por isso, incessantemen-
te busca e articula as lembranças e os lugares que fazem de Venda Nova um lugar
memorável. Mas a memória é falha, é incompleta, é invenção, é vastidão... sentida e
expressa nos sentidos, nos gestos, nas palavras, nos rostos, nas ruas, nas casas, nas

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árvores. 11 05 Q uintais Tal como o poeta Manoel de Barros, almejando as coisas miú-_
das nas quais- resplandece a gran d eza e dá co fp o e alma ao ser humano, as autorasj
pesquisadoras/moradoraslcidadãs narram aqui múltiplas Vendas Novas que encnn.
tram (ou constroemi) pelo caminho.
O livro evoca, continuamente, os deslocamentos. Aliás, deslocamento é parte
inerente da proposta: deslocamento do olhar para o paladar e para o ouvido; de uma
rua para outra; de um quintal para outro; de uma natureza para outra; de uma cul.
tura p ara outra; de uma geração para outra... No entanto, ao contrário do que pode
parecer, o fundamental não está num polo ou noutro. Lembrando Guimarães Rosa, a
beleza da coisa está justamente no entre-lugar, na travessia, na paisagem, nos cami-
nhos e nas caminhadas... Chegar é uma das possibilidades da aventura!
O livro é também linguagem. Não apenas nem fundamentalmente, na obvie-
dade do texto, da lingua, das linhas e dos parágrafos. É também evocação da lin-
guagem como fundamento do nosso estar no mundo: estamos num mundo que é
linguagem, estamos no mundo como linguagem e falamos sobre as linguagens do
mundo. A contínua referência, direta ou indireta, à figura do narrador em W. Ben-
jamim que povoa o livro nos força a pensar sobre a importância da linguagem na
criação do mundo e também dos próprios sujeitos. Os sujeitos que povoam o livro,
que habitam as Vendas Novas aqui narrados, não preeitistem à própria narração: eles
e elas vão se inventando, vão sendo inventados, ã medida que tomam a palavra, que
se tornam palavra.
São inúmeras as pessoas que habitam o livro. Crianças e adultos, professoras e
alunos, pesquisadoras e passantes, são... São Leonildes, Geraldos, Miros, Pedros Pin-
tos, são... Todos desfilam com suas alegorias e seus adereços. Todos fabricam cidades
e sonhos. E fabricam também as suas cidades dos sonhos. De seus lugares - escolas,
quintais, ruas, igrejas, casas, parques... - vão projetando uma cidade dentro da cida-
de. Não é por acaso que outra evocação contínua é Ítalo Calvino e suas cidades invisi-
veis. São cidades que habitam outras cidades, que habitam as cidades dos sonhos dos
sujeitos que este livro flagra em movimento.
Mas as Vendas Novas narradas e inventadas representam e, portanto, atuali-
zam os pesadelos de nossas cidades. Seja porque a cidade mudou e as lembranças de
outrora perseguem fantasmagoricamente os narradores, seja porque a cidade-que-aí
-está demonstra cabalmente as nossas maiores e piores desigualdades e dificuldades.
Entre as i ' ' - . _ . .
sado dnumefas qualidades (10 11"~'1'0. ele possibilita aos narradores - pesqui-
ras e mora o res/as _. perceber a impossibilidade
- - -- de se restaurar o passado, e que

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é preciso Sutufar as feridas, algumas delas produzidas pela e na própria nal-raçãü,


Talvez seja esta a grande dimensão educativa do livro: a mobilização da palavra, da
narrativa, como forma de elaboração do estar-no-mundo para os sujeitos que dele
participam. Nesse sentido, o livro, sua dinâmica de construção, sua elaboração e a
partilha que nele subsiste persistentemente são exercícios de cidadania oferecidos
aos leitores, esses passantes e caminhantes que habitam e que movimentam os textos.
Os exercicios de colaboração entre as pesquisadores, e destas com as professo-
ras da escola básica e com a população de Venda Nova, dão mostra de que é possivel
imaginar, juntos, uma cidade melhor, mais acolhedora de nossas díversíficadas for-
mas de ser-estar no mundo. Nesse investimento reside urna dimensão utópica do tex-
to. É como se as autoras quisessem contrariar W. Benjamin e dizer que ainda é possi-
vel resgatar ola narrador/a que subsiste em cada um de nos e, com isso, enriquecer a
nossa experiência passada ou presente e imaginar muitos e possiveis futuros. É disso
que trata o livro que li. Se certo ou errado, não sei. O certo é que li! E nas frestas dos
textos, a passos largos ou lentos, ola leitor/a poderá encontrar outros livros possíveis.
Mas nisso também reside a riqueza da obra. Então, prezado/a leitor!a, mãos à obra!

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' 51 l

TRILHAR UMA uuaz MUITAS HISTÓRIAS


vrsívsls, mvlslvsrs E ssnsívsrs
Lana More de Castro Simon
Ana Maria Silva
Frederico Luiz Moreira

A Rua nasce, como o homem, do soluço, do espasmo. Ha suor humano na


argamassa do seu calçamento. Cada casa que se ergue è feita do esforço
exaustivo de muitos seres, e haveis de ter visto pedreiros e canteiros, ao er-
guer as pedras para as frontarias, cantares, cobertos de suor, uma melopeia
tão triste que pelo ar parece um arquejante soluço.
l-«-l
Oh! Sim, as ruas tem alma! I-lã ruas honestas, ruas ambiguas, ruas sinis-
tras, ruas nobres, delicadas, trágicos, depravadas, puras, infames, ruas
guerreiras, revoltosas, medrosas, spleenéticas, snobs, rias, aristocráticas,
ruas amorosas, ruas covardes, que ficam sem pinga de sangue [...]. (João
as Ria. zoos. p. so-34)

Este texto tratará da historia de uma determinada rua: a Rua Padre Pedro
Pinto, de Venda Nova, Belo Horizonte, Minas Gerais, assim denominada a partir de
1954. Uma rua que, como muitas outras, contém a História de formação de uma
localidade, de uma região e, por vezes, de um território muito maior. Uma rua como
outras ruas que foram caminho por onde transitavam africanos, tanto escravizados
Como alforriados, mestiços, brancos europeus, portadores de tradições e de cultu-
HS muito diferentes - atores participantes ativos da dinâmica social e economica
do território das Minas. Uma rua que foi do comércio agropecuário e dos ofícios

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mecânicos, das religiosidades, do lazer, e, hoje, é de muitos outros cornércios, Dncins


e religiosidades. Uma rua que foi e, nesta proposta de trabalho, volta a se aprzsumai
como uma trilha: uma trilha da diversidade étnico-racial, de relações interét,,¡¡as.
portadora de sociabilidades. de conflitos e de sensibilidades expressas pelas diversa,
camadas do tempo nela contidas.
Este texto é um convite aos professores da educaçao básica de Venda Nm, E
a muitos outros professores, para conhecerem e se reconhecerem numa trilha sebm
uma rua plena de muitas histórias visíveis, invisíveis e sensíveis. E nesse rrtovintenra
outro convite: o de refletir sobre algumas possibilidades pedagógicas aqui propostas'
para serem exploradas juntamente com seus alunos, crianças, jovens e adultos. Para
isso, propõe-se o desvelamento dessa rua a partir de seus lugares de memória e da
suas rrzferëncies culturais, que serão abordados metodologicamente em uma perspr-Ç.
tiva da educação dos sentidos e das sensibilidades e da educação patrimonial.

z-u.‹;UMAs uersuaucms Hrsrorucas somos A


RUA runas Peoao PINTO
Uma rua que no século XVIII foi caminho de tropeiros; que, entre outras coi-
sas, ligava as capitauías de mineração e suas proximidades as capitanias do Rio de
janeiro, de São Paulo, de Goias e da Bahia. Um caminho que se tornou controlado
pela administração colonial, para aumentar os rendimentos do Erãrio Régio, a Coroa
Portuguesa, por meio da instalação de um ponto de fiscalização das mercadorias.
Eduardo França Paiva, em seu livro Vende Nova - séculos ..YVIII e XIX um estudo de
História Regional (1992), incorporando estudos de outros pesquisadores e com base 'I

em documentação analisada, assinala que, no último quartel do seculo XVIII, Venda


Nova tinha um ponto de fiscalização de mercadorias, tornando-se parada obrigató-
fífl. Havia estalagem para os tropeiros que vinham do interior da Bahia em direção
a Vila Real de Sabará, com o objetivo de abastecer essa região mineradora, a época.
com intensa atividade socioeconômica. Sabe-se ainda, por meio de fontes consulta-
d“5› fl'-1° PDT 955* flicfimil ¿PÚ¢i' l10UVi1 Illuitas solicitações de instalação de vendas ntI$
Pffiximifliidfifi fla WBÍÊÚ di? "1¡"¢fflÇüfl. Portanto, essa rua remonta aos caminhos qüfli
no seculo XVIII, ligavam a região mineradora do Saba;-1 às ¡-mas de 1b.¡s¡,,c¡mcn¡¿,
dos Currais da Bahia trajeto percorrido
' pl" Í"-*Pas no seu ir e vir travel '
.* tdo arltgüãi
principalmente de secos e molhados, para' o abast ectmento
' '
da região nrinemdm-3

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_
Esso É H 1'“il PÍÍPCÍPEIÍ CIE um povoado que alcançou, no final do século XIX,
aproximadamente 1.818 habitantes livres e 372 escravos, exportando mantimentos
para Sabará. Coflgollhfls e Santa Luzia, e importando, em pequena escala, gêneros de
secos e molhados (MARTINS, 1869, p. 157-58).

i' Vfiflda N°V3= h°l¢ bairro de Belo Horizonte, foi contemporânea do


distrito de Curral D'el Rey que, juntamente com Ribeirão das Neves,
Contagem, Vespasiano, Santa Luzia, Lagoa Santa, Betim, Esmeraldas e
Nova Lima, pertencia a Vila de Sabara, a mais populosa entre as regiões
mineradoras de Minas, nas Minas setecentistas.
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' . . -_ -Ú

A Rua Padre Pedro Pinto, antes chamada Nossa Senhora de Venda Nova, ou
ainda Santo Antônio de Venda Nova, representa o núcleo de formação inicial de Ven-
da Nova. Por isso, falaremos dela.
Essa rua, por ser o núcleo mais antigo de um sitio urbano, É também, como
tantas outras, o assentamento que contém o traçado original da urbe, como ressalta
Sandra Iathay Pesavento (2007), ao abordar os caminhos recentes da historia urba-
na. A autora também coloca em evidência as múltiplas temporalídades presentes no
espaço urbanístico e as diversas camadas de sentido que lhe são atribuídas por seus
habitantes, transformando o espaço urbano em territórios, ou seja, em extensões de
superficie apropriadas pelo social.
Portanto, a rua sobre a qual trataremos - antes caminho da "Carretaii "Estrada
do Carretão” - foi se alargando. Nesta rota, constituiu-se um povoado que cresceu
e chegou ao final do século XIX como Rua Direita, recebendo moradores do arraial
Curral Del Rey, que é demolido para abrigar a nova capital de Minas Gerais. Desse
modo, a Rua da Direita sofre impacto significalivo na sua vida cotidiana, ao mesmo
tempo em que Venda Nova passa a ser considerada pelos novos moradores do antigo
povoado Curral Del Rey como um lugar distante, rústico, atrasado, em oposição it
nova cidade e capital do Estado que se constrói sob a égide dos signos da modernida-
de e do progresso, atendendo à imagem de um país republicano.
Na ficção literária, vamos encontrar Venda Nova apresentada como um lu-
gar distante da modernidade e das oportunidades que a nova capital enseja. Em
A Capital de Avelino Fóscolo, primeiro romance ambientado em Belo Horizonte,
0 escritor oferece descrições com elementos interessantes para se visualizar como
a localidade era percebida em fins do século XIX e inicio do XX. Venda Nova está

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"la ao longe, no desconhecido“; é a região que recebe os que não se enquadram


no perfil de residentes da cidade planejada, moderna e republicana, que foram
expulsos de forma violenta, “aos empurrões lamentando-se, numa Clueliifi doridg
pesarosos, embora prometessem-lhes colocação, lá ao loflgfir “Ú d°5°°“h'i¢lil°.
donde foram expulsos", escreve Fóscolo (1977, p. 32)- Des*-llfllãdüs PÊl“ sua des-
truição. para a construção da nova capital de Minas Gerais, mutto habitantes bus-
cam a localidade mais próxima da nova coP¡t3'l* mais PTÚSPEÍ3' E C°_m terras E PFD-
priedades muito abaixo do custo, sendo Venda Nova o destino mais PTÚCUTHÚD.
0 autor ainda destaca em sua narrativa que "grãflfilfi Piifie da Püpulaçãü indí-
gena havia imigrado, para Venda Nova, com rt morte nielma, vendo esboÇflfem-Se as
suas ilusões, destruída como um brinco às mãos infantis da Capital sonhadaf' (FOS-
COLO, 1977, p. 97). Essa imagem de lugar distante e de população à margem repre-
senta um aspecto a ser suplantado pelos moradores dessa região, por meto da atuação
de suas lideranças locais. O personagem Mestre da obra de Póscolo é apontado como
inspirado na figura de Luís Daniel Cornélio da Cerqueira, liderança que atuou na
processo de dialogo com a Comissão Construtora para defender a construção da nova
capital no então distrito de Belo Horizonte. Após desentendimentos com a Comififiãfl.
ele teria se mudado para Venda Nova, e lá construiu o Casarão da Rua Boa Vista, o
Casarão Azul e Branco, que hoje abriga o Centro de Memória Regional de Venda
Nova, ainda em processo de implantação, como parte das ações de educação para o
patrimonio desenvolvidas pelo Cento Cultural de Venda Nova.
Em 1954, quando Venda Nova já havia se anexado a Belo Horizonte (desde
1948), apos movimentos prós e contrários a essa anexação, a Rua Direita recebeu o
nome do padre Pedro Pinto, como homenagem a este religioso muito admirado pelos
venda-novenses que atuou no local de 1923 a 1953, ano de sua morte.
As transformações da rua, no entanto, começam a ocorrer de maneira muito
visível a partir da década de 1960, e se intensificam nos anos 1970-80, acompanhan-
do o crescimento economico, aliado à industrialização de Belo Horizonte e do PHÍS-
Nos dias atuais, a rua deixou na invisibilidade muitas das referencias materiais e sim-
bólicas importantes para a compreensão da história da localidade, para o estabele-
cimento de relações entre o presente, o passado e o futuro, ou para se criar vlnclllfli
afetivos e sociais com o lugar.
Um importante conceito para o estudo de uma rua ou de uma localidade fl
ou cidade, na perspectiva patrimonial, é o de referencia cultural, conforme pl'0P°5l°
pelo Instituto Patrimonio Histórico Nacional (IPHAN), no Inventário Nacional de

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'l _ía
Ri-'feféncífls Cuniuíís UNRC* 2000)- E559 C°1'1C€ÍÍ0.que compreende "objetos, práticas
e lugares HPYÚPUH 05 Pfilfl Cultura na construção de sentidos de identidade [ ]" co-
loca em evtdënfllfl 05 bfirls culturais, incluindo. neles, as paisagens naturais que serão
- _- .|.-:q_?"_¡."I_-I-:'I|._

também
_ consideradas como patrimõnio
_ c Lt Itu ral e que nao
- serao
.. obrigatoriamente
sbjeto de_ _ tombamento. mas de rnventári 0. com o intuito de promover o sentimento
ds P='f“°'P“1` ° de P°“°“°" 3 um sfflpfl. de Pflfisuir um lugar zprúrasas autorai-
mente. Assim define o documento:

l---l fffèfëfifíflf São Edificações e são paisagens naturais. São também as ar-
tes . o S oflctos.
' ' as formas de ei-.pressao
- - e os modos de fazer. São as festas e os
lugares a que a memoria e a vida social atribuem sentido diferenciado: são
as consideradas mais belas, são as mais lembradas, as mais queridas. São
fatos, atividades e objetos que mobilizam a gente mais próxima e que rea-
proxima os que estão longe, para que se reviva o sentimento de participar
e de pertencer a um grupo, de possuir um lugar. Em suma, rfƒerêrrcias são
objetos, práticas e lugares apropriados pela cultura na construção de sen-
tidos de identidade, são o que se chama de raiz de uma cultura. (IPHAN,
2000.p.29)

Outro conceito É o de lugares de memória, que pode ser conjugado ao conceito


de referência cultural. Lugares de memoria é um relevante conceito para a história
e, por que não dizer, para a educação patrimonial. Foi forjado na década de 1970
por Pierre Nora, historiador francês, e pode ser descrito como “o conjunto de refe-
rências culturais, lugares, práticas e expressões originadas de um passado comum'Í
Esses lugares de memoria podem ser materiais e tangiveis, tais como são os objetos e
os monumentos, e podem também ser imateriais. como a história, a língua ou as tra-
dições' Importante ressaltar que a materialidade informa não apenas a respeito dos
elementos fisicos, químicos, matemáticos, geométricas dos materiais presentes nas
edificações, mas igualmente dos sentimentos, dos usos, dos costumes de uma época.

LUGARES DE MEMORIA

'Tradução |¡¬,›;¢_ ,at 5[n¡¢5¢ desse conceito foi retirada do artigo escrito por Alexandre Bibeau e Pascale
P-hrcottez Visiter des lieus e y Íabriquer as mérnoire: le tourisme dans Ia trasmission dela mèmoirc collective.
f1ümero¢;p,¡¡¡¡ da Rfluc dc |~ ,sQ1p, “_ 3, septembre 201 I. Montréal. Canadá (Les crrcurts patnmomaux).

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¿5_________-_ -

pnorosra METODOLÓGICA
Algumas problematizações se faze m necessárias antes de se Pwcfidfir à sp¡e_
sentafião de uma PFÚPUSP1 mfitfldológica Patfimünial wltada Para a Educaçaü das
sentidos, das sensibilidades.
í

Fonte: Rua Padre Pedro Pinto - Venda Nova. Fonte: Jornal: O 'l'El*viPO - 1¬liU6i2Ui3. Disponivel em: <
http:Hsvvnv.otempo.com.brlcidadesiobras-do-brt-e-vias-estreitas-atrapalham-deslocamentos-1.d63?99>.
.acesso em: I fev. 2011?.

Como conhecer a história da transformação de um simples caminho em uma


rua de freguesia, de um distrito, e as transformações advindas com a metropolizaçãfl.
quando raras são as referências materiais e simbólicas que testemunham as relaçõflä
entre o passado e o presente? Quais referências culturais e lugares de memória se torna-
ram invisíveis, em decorrência do modo como as transformações produziram o eSPflÇ°
urbano representado pela Rua Padre Pedro Pinto? Quais histórias são silenciadas a pflf'
tir do que nela restou? Quais rastros e ruínas encontramos na reconstituição da história
dessa localidade? Quais camadas de tempo encontram-se sobrepostas nessa rua?
- --- --- -.-_ _ _ _.- -r
Metropolização é o processo de crescimento urbano de uma cidade e 1
.í-I-'F1-_'_1

. 5113 Citflâtltutção como centralidade de uma região metropolitana. ÍSÍÚ

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1 é, de tuna área composta por vários municípios quemcongregsm a 'masi --

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~ me dinâmica Espaço-territorial. A metrópole passa a ser vista como a í


zona na qual as demais cidades tornam-se dependentes e interligadas
--'':~-=!r-.=1.› s econoiiilcafllcflte. Entre os exemplos de metrópoles no Brasil, temos as '
-lu

l Cidades de São Pa“l°= df' RÍÚ de lflflfliros de Belo Horizonte, de Salvador, J


de Gflífllllflz de Püflü Alegre e muitas outras. PENA, Rodolfo F. Alves. i
“Metropolização'Í Brasil Escola. Disponível em: chttp:/ƒbrasilescola.uol. l
; com.br/gEDgr=1fia/mctropolizacao.htm::›. Acesso em: 12 dez. 2016. ~: l
*--'“-" '_""' _' ` '- - - - - _ _._._..._........_...._,..l

Nesse sentido, é pertinente lembrar o que Lucien Febvre disse no inicio do


século XX, numa posição de defesa da renovação da concepção de história e de seus
métodos de produção do conhecimento histórico:

A história faz-se com documentos escritos, sem dúvida. Quando eles exis-
tem. Mas ela pode fazer-se, ela deve fazer-se sem documentos escritos, se
os não houver. Com tudo o que o engenho do historiador pode permitir-
lhe utilizar para fabricar o seu mel, à falta de flores habituais. Portanto,
com palavras. Com signos. Corn paisagens e telhas. Com formas de cultivo
e ervas daninhas. Com eclipses da lua e cangas de bois. Com exames de
pedras por gedlogos e analises de espadas de metal por químicos. Numa
palavra, com tudo aquilo que pertence ao homem, depende do homem,
serve o homem, exprime o homem, significa a presença, a atividade, os
gostos e as maneiras de ser do homem [...]. (FEBVRE, 1985, p. 249)

Perguntamos, então, como perceber, no emaranhado das visualidades, dos


sons. dos cheiros, das texturas e da vida regida pela marcação cronológica do tempo,
essas sutilezas, esses detalhes, as minúcias que conectam o presente com o seu passa-
do e o presente com o seu futuro?

CDNHECER Hrsrontcaiueurs UMA RUA E Neca ss neconnscen


Nos Teatros ATUAIS
Engajar-se em um processo de conhecimento de uma rua de uma determina-
da localidade ou cidade exige envolver-se em situações que situem cada pessoa em
posição de afastamento e de aproximação - condição para ler e para sentir H rllfl ill
Pflflir de outras percepções e sensibilidades. Só dessa maneira, então, é possível in-

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'V

rerpretá-Ia num movimento de quem sobre ela reflete, de quem duvida do que ve, du
que ouve dizer e, nesse trânsito, se disponha a ouvir outras vozes, a parar em oun-05
pontos, a olhar sob outros ângulos até então pouco conhecidos e/ou percebidos.
Esse movimento de afastamento e de aproximação produflirifl Bolão o estes-
nharnento. exigência para escapar de uma tensão presente no cotidiano urbano das
cidades na modernidade atrial: a de viver irnerso num ambiente saturado pelo ex-
cesso de exploração dos sentidos - sons, cheiros, imagens, texturofi dí'‹'E1'5HS - e. ao
mesmo tempo, de se encontrar numa situação de emb otamento dos sentidos, provo-
cado por essa saturação. Esse mesmo mundo saturado pela exploração dos sentidosé
também, como analisam Andrea Moreno e Verona Campos Segantini, em “Conhecer
a História pelos cinco sentidos: na cidade com Alfredo Camarate e Machado de Assis”
(2012, p. 54), a cidade acabou por produzir em nós “um tipo de percepção educada
por fragmentos desconexos, os quais sugerem uma visada rápida, um voo do olhar,
com elementos aleatórios num rápido e incompleto percurso” Segundo ainda as au.-
toras, Machado de Assis, no final do século XIX, já apontava que “molda-se um novo
estado sensorial, vivenciado nas ruas que solicita, do passante. ao mesmo tempo,
o dispêndio de uma atenção muito grande e a distração na sequência” (MORENO:
SEGANTINI, 2012, p. 54).
Em perspectiva de análise semelhante, Lynch (1977) já havia dito que, nas
grandes metrópoles, o horizonte do observador se encontra, contraditoriamente,
ampliado e contraído. Seu olhar pode tanto captar, por lampejos, a multiplicidade
de sinais e signos quanto pode, contraditoriamente, nada observar, dada a pressa
da suposta homogeneidade rotineira que vive. O autor acrescenta que a “forma
fisica de uma cidade tem um impacto sensorial que condiciona profundamente a
vida de seus habitantes, e esse fato É frequentemente ignorado na tarefa da cons-
trução urbana” (LYNCH, 1977, p. 208).
Uma das possibilidades que se coloca para concretizar essa necessidade
do estranhamento e reeducar os sentidos é o de se tornar um caminhante, oil
seja, deixar de ser um passante. Silva Filho (2003) propõe uma distinção entffi'
o caminhame e o passante. O primeiro é aquele que perambula pela cidade sem
pressa, sem percursos predefinidos e obrigações rígidas. Compromissado com 3
observação, "ele consegue, num aprendizado sutil e diligente, mobilizar fragmfifl'
tos materiais de outros tempos, converte-los na matéria-prima das memórias
dos espaços e das culturas urbanas” (SILVA FILHO, 2003, p. 19). já o passaflíf
se encontra marcado pela imposição do relógio e do deslocamento eficiente. DB'

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r

59

liberadamente desatento ao espaço urbano, não tem a intenção de desvenda-lo.


Ao contrário. SLH1 intenção e a de percorre-lo sob a condução do tempo moderno,
promovendo uma pobreza de experiências. Segundo jorge Larrosa Bondla (2002,
P, 21). “H E¡Pf-'flência 9 0 que 1105 PHSSB. o que nos acontece, o que nos toca. Não
0 que se passa, nao o que acontece, ou o que toca. A cada dia se passam muitas
coisas, porém. do mfifimo iflmpo. quase nada nos acontece.”
Larrosa (2002) amplia a compreensão dessa perda moderna de experiência,
zssiin como a própria concepção de experiência. Para o autor, ha um paradoxo no
mundo contemporâneo: nunca aconteceram tantas coisas, e, no entanto, a experiên-
eia - considerada como aquilo q ue nos passa, nos acontece, nos toca - ê cada vez
mais rara. Isso se deve a quatro caracteristicas da vida moderna: o excesso de in-
formação, o excesso de opinião, a falta de tempo e o excesso de trabalho. Segundo
Larrosa (2002), a informação e a busca incessante por ela não apenas dificultain a ex-
periência, mas também, de certo modo, se constituem no seu oposto. Ao buscarmos
estar sempre informados, negarnos que algo nos aconteça, que algo nos toque; apenas
processamos mais e mais informação, mas não experienciamos, não vivenciamos. A
possibilidade da experiência, portanto, exige que estejarnos abertos ao rnundo, aber-
tos ao ócio, ao caminhar lento e curioso.
Acreditamos, então, que a atitude passional e aberta é a que permite a expe-
riência - e também a produção do saber da experiência -. que ê justarnente aquela
que não deve prescindir a fldiierie. Entendemos que o fliiiieur ê, de certa maneira, o
sujeito que detêm a possibilidade de pessoalmente combater a falta de experiências
da sociedade moderna e de engajar-se na produção de sentidos e de significados para
aquilo que por ele passa.

l
i UMA TRILHA INTERPRETATIVA NA PERSPECTIVA DA EDUCAÇÃO DOS
'I
SENTIDOS E DAS SENSIBILIDADES
Êí; Uma trilha pode se mostrar como porta de entrada para estudos mais profun-
dos por parte de estudantes e professores, tanto em suas salas de aula quanto indivi-
dualmente, como modo de participação ativa na localidade.
Diferentemente do que podem oferecer os livros e as mídias diversm, uma
trilha interpretativa pode oferecer um contato sensível e humanizado com o.conhe-
cimento. conferindo a essa experiência um potencial renovador das 1'ElflÇ9f-'5 das
"'p-Hs¿I.i_.':I. ~:.~
¬.

t
1-
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60
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crianças, dos jovens e dos adultos com o conhecimento. E isso se dá desde o mma
que diferentes transeuntes imprimem ao seu andar, aos seus gestos, às suas palmas'
comandados pelo relógio, às práticas que escapam ao circuito de produção, de vanda
e de consumo das mercadorias.
Em nossa trilha, alem da própria Rua Padre Pedro Pinto, identificamos outro;
pontos de referência ou lugares de memória de moradores de Venda Nova, como 3
Igreja da Matriz de Santo António, o Cine Teatro São Pedro, o Cruzeiro, o Casar-âg
(hoje Centro da Memória Regional de Venda Nova), a Igreja Metodista, o Casarão
Azul (Casa de Memórias de Venda Nova) e a Praça Amintas de Barros. Nesse senti-
do, este texto dialoga com o software interativo Trilhos de Memórias de Venda Nova,
no qual se encontram assinalados sobre o mapa de Venda Nova pontos de referên-
cia para habitantes dessa localidade, identificados por meio de fontes já formadas
(entrevistas, fotografias, artigos de jornais, anotações dispersas) e fontes construídas
durante o processo de desenvolvimento do projeto. Portanto, o presente texto, assim
como os demais que fazem parte deste livro, visa aprofundar as possibilidades de uso
dessas referências pelos professores da educação básica.

OS CINCO SENTIDOS

[...] quando entramos em contato com lugares que nos proporcionam


experiências ricas e revigorantes, todas as esferas sensoriais interagem e
se fundem na imagem do lugar que guardaremos em nossas memórias.
(Pa1.LasMaa.zo11. p. 45)
Podemos dizer que parece haver consenso entre os estudiosos sobre a per-
Cepçãü Sefleeriel de que os sentidos é a matéria produtora de sentido; como assinala
David Le Breton, em seu livro Antropologia dos Sentidos (2016, p. 32), "a experiência
sensorial e perceptiva do mundo se instaura na relação recíproca entre o sujeito e seu
meio ambiente humano e ecológico`Í. o que equivale a dizer que, “na origem de toda
elüelência humana, o outro É a condição essencial do sentido, isto é, o fundamento
do vinculo social.” -
U Assinala também Le Breton (2016, p. 14) que a percepção não coincide com ae
Cams' mas É ¡“l°fPfEÍação, alertando-nos: “as percepções sensoriais não dependem
somente de uma fisiologia, mas em primeiro lugar de uma orientação cultural, dei-

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II-"

_i
muda uma margem à sensibilidade individual." Continua o autor a nos dizer que as
.percepções sensoriais formam um prisma de significações sum-E 0 mundüi mas cj,-,S
são mudgladas pela educação e utilizadas segundo a história pessoal" (2016, p_ ]4)_
Nasse sentido, numa mesma mmunidade, as percepções variam de um indivíduo
Para outro. embora acordem sobre o essencial. Destaca ainda que, "para além das
5¡gnificações pessoais inseridas numa pertença sociais mais abrangentes, lógicas de
huflleflífilflde ((105 fl"“'°PÕlÚBÚ5l fl*-IE reúnem homens de sociedades diferentes em
sua sensibilidade no mundo" (2016, p. 14).
Esses posicionamentos teóricos nos incitam a pensar nas crianças e nos jovens
de hoje e na relação deles com as gerações passadas. Hoje, quando se vive de maneira
interligada ao mundo - no nosso caso, sobretudo, ao mundo ocidental - pelos meios
de comunicação virtuais e digitais, podemos nos dar conta de certas sensibilidades
partilhadas que, por vezes, anulam ou dificultam o reconhecimento eíou o apareci-
mento de outras ligadas às singularidades locais. Nesse sentido, promover uma edu-
cação das sensibilidades, por meio do aguçamento dos sentidos, para a percepção
da localidade, podera contribuir para tornar as sociedades mais ricas e diversas no
conhecimento a respeito de si e dos outros.
Por outro lado, Le Breton (2016) assinala que o conhecimento do espaço tem
uma conotação sinestésica, ou seja, para o conhecimento do espaço, há a mistura, a
todo instante, da totalidade da sensorialidade; muitas sociedades, situadas ou não na
mesma temporalidade histórica, darão ênfase a alguns dos sentidos, tornando outros
menos relevantes ou menos usados nos seus processos de conhecimento do mundo.

SENTIDOS E SENSIBILIDADES

No ãmbito da História Cultural prevalece também o entendimento da "sen-


sibilidade como outra forma de apreensão do mundo para além do conhecimento
cientifico"; ou seja, "o conhecimento sensível opera como uma forma de reconheci-
mento e tradução da realidade que brota não do racional ou das construções men-
tais mais elaboradas. l11e5 CÍDS 5€fllÍClü5. que vêm do íntimo de cada indivíduo."
A5 Sensibiliclades dizem de um outm no tempo e de um outro tempo, fazendo o
Pasfiflde existir no presente, como afirma Pesavento, em seu texto "Sensibilidades
no tempo, tempz; da sem-,ibilidades'* (2005). A autora também argumenta que “as
sensibilidades corresponderiam a este núcleo primário de percepção e tradução

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;e___.f_zf-fr*-É
¿ ex e¡.¡¿z¡-,cia 1-mm,-ma" (PESAVENTO, 2005, p.l), e, ainda, que se encontram no
a P n I F 1 u i

âmago da construção de um imaginário social. Sendo assim, as sensibilidades ¡¿_


jmunadas 5,5 gznsaçoes, às emoções, às subjetividades, aos valores, aos sentim¢n_
tos, obedecem a outras lógicas e a principios que não racionais. Pesavento fofura
também, apoiada em Paul Ricouer, que sensibilidades É um conceito que se insere,
no âmbito da História Cultural, sob o signo da alteridade e da diferença no temm
lembrando que

Recuperar sensibilidades não é sentir da mesma forma, É tentar ezplifiu


como poderia ter sido a eitperiencia sensível de um outro tempo pelos 115-
tros que deiitou. O passado encerra uma experiencia singular de percepção
e representação do mundo, mas os registros que ficaram, e que É preciso
saber ler, nos permitem ir além da lacuna, do vazio. do silencio. (Plisa-
VENTO, 2007, p. 9)

No nosso caso, para apreender as sensibilidades de um outro no tempo e de


um outro tempo, propomos a exploração de tres sentidos, excluindo, aqui, o paladar
e o olfato, deiitando em aberto a possibilidade de exploração destes conforme os in-
teresses.
No entanto, É importante relembrar que o propósito deste texto e da metodo-
logia do estudo de uma rua como trilha não tem por objetivo somente recuperar as
sensibilidades de uni outro tempo por meio dos sentidos. mas igualmente promover
a reflexão da relação entre o presente, o passado e o futuro, com vistas a que as criari-
ças e os jovens construam uma orientação temporal para suas ações no mundo.

O VERE O OLHAR

[...] Há uma superposição de camadas de eitperiencia de vida que incitarfl


_ ao trabalho de um desfolhamento, de uma especie de arqueologia do olhar.
para a obtenção daquilo que se encontra oculto, mas que deisou pegãdist
talvez imperceptiveis, que e preciso descobrir. (PESFLVENTO, 2005. P- 26]

Dos cinco sentidos, a visão tem tido primazia ao longo do tempo. Atuallflf-'mf'
num mimdo em que a cultura da tecnologia e do consumo seduz pelo visual. W'
nou-se muito importante buscarmos a diferenciação entre o ver e o olhar. Pare l°5'i

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63
fí- í _ __-

Márcio Barros (1995). o ver é uma atitude involuntária, ingênua, que registra espon-
ianeamente aquilo que está visível, que ê superficial. Ia o olhar ê próprio daqueles que
investigam; é intencional; exige disposição cognitiva e sensorial; “resulta e é resultado
de nossa leitura sobre o mundo" (BARROS, 1996, p. 2). Parafraseando Ítalo Calvino,
em seu Cidades invisíveis, e acompanhando Pesavento em seu raciocínio sobre a ci-
dade como palimpsesto (2005), diríarnos que, para entender tuna cidade (uma rua),
é necessário entender que ela abriga muitas outras cidades (outras ruas), e que só a
vontade e a atitude hermenêutica de enxergar além daquilo que ê visto ê que permi-
tirá se chegar até as cidades soterradas na história e na memória.
Nesse sentido, faz-se necessário que se produza deslocamento em nossa pos-
tura habitual de passoiites para a de ciiiiiiiihoiites; em nossa atitude superficial de
ver pela profundidade do olhar; em nossos trajetos mecanicamente percorridos por
perambulações, pautadas pela inteligência e pela sensibilidade.
Antes de começarmos o deslocamento de andar pela Rua Padre Pedro Pinto à
procura de rastros, de ruínas, de evidências do passado no presente, propomos que,
de posse de um olhar aguçado, auxiliado por um par de lupas, você...
1. Observe as fotografias a seguir e as coloque em ordem temporal, apresen-
tando as razões que te levaram a ordena-las na sequência apresentada.
Para isso, sugerimos que observe a paisagem cultural, a forma como as
pessoas se vestiarn, como usavam a rua; o estilo arquitetõnico das casas, as
tecnicas construtivas, os meios de transporte, a presença da publicidade,
com suas placas, a iluminação e outros aspectos.

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Í-
2, Escreve Sübffi D que mais lhe chamou a atenção. Quais conexões podem
5€1'l-filas entre Pfffififlle. passado e futuro? Você proporia modificações na
Rua Padre Pedro Pinto, visando à qualidade de vida de seus moradores?
Quais seriam?
3. Ašflfih lhe CÚUVÍÚHTDUS para que se colocar como um fltiiieur - como al-
guém que perambula pela cidade com inteligência e sensibilidade. Então,
calce o seu tênis ou uma bota, vista uma roupa bem confortável e. munido
de sua Câmara fotográfica, ande pela Rua Padre Pedro Pinto. Carninhe de-
vagar... pare. observe, olhe atentamente. No presente, haveria vestígios do
passado? Registre com a sua câmara. Construa uma narrativa sobre o que
o seu olhar puder capturar. Compare-o com o registro anterior.

SOBRE O OUVIR
Discriniinar, identificar os diferentes sons que estão presentes na “massa so-
nora" produzida na Rua Padre Pedro Pinto requer sensibilizar os ouvidos para es-
cutar. Som dos vendedores, dos escolares, sons da vida de homens agitados, sons
da vida dos homens que tentam driblar a correria, sons das buzinas, das vozes das
pessoas que se misturam, atingindo diretamente os nossos ouvidos. Não temos como
escapar. Como disse Le Breton (2016, p. 130): “O ouvido não tem nem a maleabili-
dade do tato ou da visão, nem os recursos da exploração do espaço; ele só pode dar
ouvidos ou fazer ouvidos de marcador.” Ficar na escuta, no entanto, ê condição para
identifica-Io. Assim, devemos considerar que os sons “são associados ii afetividade e a
“ma Slšuificação que os filtra. descartando uns e privilegiando outros, salvaguardan-
tlo assim a distração ou a concentração do indivíduo que caminha na rua indiferente
ãliarulheira dos carros” (LE BRETON, 2016, p. 135).
bflrmcFabio Henrique Viana, em seu livro A piiisngeiii soiiordde Vila Rica e ii iiiiisicri
ri dos Mirins Gerais (1211-1822), trabalha com o conceito de paisagem sonora
pmpüstü Pele Compositor e educador canadense R. Murray Scliafer. Esse conceito
gif nos ser útil para pensar a sonoridade da Rua Padre Pedro Pinto, assim como a
fereñlëšíloutras ruas, em seus diferentes momentos em um mesmo dia, em .digls di-
mnceitü panäimana. nos meses do ano, em diferentes teinPora2daäles.n1:o;eqq:LqinÊ;S§
ambiente d emos ainda entender que o nosso ouvlfllfl HPTEEH ea É U b _
. esde os sons da natureza até os mais diferentes sons produzidos pelo lio

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66

mem e pelos artefatos por ele criados. Viana (2012, p. 116) evoca a comparação entre
a paisagem visual e a paisagem sonora alertando-nos sobre o quanto esta últimas:
define a partir da interação entre os sons de um ambiente e o ouvinte'Í
Por outro lado, é interessaiite o que Le Breton (2016, p. 130) propõe para pm
sar sobre esse órgão, quando o remetemos ã palavra: “o pensamento encontra ng
som, isto ê, na palavra, sua forma maior de expressão [...] o sentido se encarna pfi.
meiramente numa palavra dirigida ao outro“; sendo assim, “o ouvido É o sentido
tuiificador do vinculo social enquanto ouve a voz humana e recolhe a palavra do
outro“; e concluí: “ser ouvido significa ser compreendido`Í Dizer “entendido” significa
aquiescer. Nesse sentido, podemos dizer que ê também por meio do ouvido que o
mundo é apreendido, conhecido e compreendido. Le Breton (2016, p. 130) recorre,
entre outros autores, a Ong, segundo o qual mesmo as crianças surdas “participam
indiretamente de um universo no qual a voz gera coesão" ou ainda quando nos alerta
sobre o valor do som para nossa orientação no mundo, referindo-se à acuidade au-
ditiva do cego.

ATIVIDADES
Vejam que interessante!

"Cartografias Sonoras” promete provocar os sentidos


Exposição no Espaço do Conhecimento UFMG começa neste sábado.

A mostra coletiva “Cartografias Sonorasil, que abre neste sábado


(19/1112016), às 10 horas, no Espaço do Conhecimento UFMG, brinca
com os sons em objetos inusitados e ruídos urbanos nas mais diversas
formas. A experiência é uma proposta dos artistas Frederico Pessoa.
Henrique Ivvao, Marco Scarassatti, Pedro Aspah an e Pedro Durães, que
criaram obras voltadas para a audição, passando pela música, perfor-
marice, cinema e artes visuais. A entrada É gratuita.
“Os sons estão por toda a parteíl explica Frederico Pessoa, cura-
dor da exposição e autor da obra “Em famflia“Í. 'lã ideia é trabalhar com

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IS?
í -D _

a sensibilização, escutar os sons da cidade, das mídias e propor uma


interação e uma percepção diferenciada com o seu entorno",'. diz ele.
Mflfffl' sfflfflfiflfifi autor de “Derivos Soiiorcis“, propõe aos vi-
sitantes escutar os paisagens sonoros das runs de Belo Horizonte e
experimentar novos modos de estan sentir e compartilhar os espaços
da cidade, utilizando, rias caminhadas coletivas pela cidade, capace-
tes criados pelo artista, que filtrem e modificam os soris do ambiente,
colocando tt escuta no centro do experiência do caminhar. (http:IIcir-
euiiuflüllüffillíbefdflde.Cum.brlpluslmodulos/noticias/leizphp?cdno-
ticia=3928tcdcategoria=2)
1. Essa experiência parece ser inspiradora para você? Caso sim, então,
recrie-a com originalidade.
2. Busque capturar os sons da rua em diferentes momentos de um
mesmo dia e em diferentes dias da semana.
3. Realize uma pesquisa acústica para a representação dos sons da rua
em diferentes momentos da história da cidade: os sons de hoje em
dia; os sons de outros tempos, do passado. Se desejar, recorra às
fotografias para lhe ajudar.
4. Capture, por meio de sua pesquisa acústica, sons que se retiram ao
século XVIII, sons de alguns momentos do século XIX, sons do iní-
cio do sêculo XX, das décadas de 1950/60/T0, e sons dos dias atuais.
5. Por meio de algum aplicativo, faça a medida dos decibéis dos sons
presentes na rua nos momentos de niaior barulho. Qual a origem
desses sons? É possível discriminá-los? O que eles podem provocar
nas pessoas?
6. Quais os sons você julga que estão silenciados e que você gostaria
de ouvir hoje e no futuro?
7. Ao realizar a pesquisa acústica, quais as interpretações que você faz
dos sons capturados?

Sobre 0 tato

Se um lorai se perde na floresta tropical e precisa reencontrar o ca-


minho de volta não obstante o desaparecimenlo do Sul, ele HPHÍPP

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___

a casca das árvores a fim de perceber seu lado mais aquecido pelü


S01. E 116552 forma Ele Consegue deduzir o rumo a ser tomado. (LE
Bnsron, 2016, p. 249)
Iuhani Pallasmaa (2011, p. 10) afirmou que com o título do
seu livro, Os olhos da pele, pretendeu “expressar a importância do
tato para experimentarmos e entendermos o mundo” e, com isso,
que também buscou “provocar um curto-circuito conceitual entre o
sentido dominante da visão e do tato, a modalidade reprimida dos
sentidos.” Pallasmaa defende ainda que “todos os sentidos, incluindo
a visão, são extensões do tato” (2011, p. 10). Entre os autores a que
recorre para sustentar a defesa dessa ideia, está o antropólogo Ashely
Montagu, que assim se refere à pele:

A pele É nosso órgão mais antigo e mais sensível, nosso primeiro


meio de comunicação e nossa protetora mais eficiente... até mesmo
a córnea transparente dos olhos É coberta por uma camada de pele
modificada... o tato é pai de nossos olhos, nosso nariz, nossa boca.
Ele è o sentido que se especializou e gerou os demais, algo que pa-
rece ser reconhecido pelo fato de ser considerado há muito tempo
“o pai de todos os sentidos". (apud PALLASMAA, 2011, p. 10)

Como disse Iuhami Pallasmaa (2011, p. 25), o "tato nunca


é independente do sentido térmico. A pele é uma instância de re-
gulação da temperatura corporal, do ambiente, pela pele também
sentimos afetividade. Por meio do tato, do toque também podemos
aferir a qualidade do contato com outrem." Enfim, o tato pode ser
revelador da qualidade das interações: "Estendemos rt mão àquele
que está em dificuldade ou não lhe damos atenção. Por outro lado, o
tatear culmina na elaboração de um conhecimento.” (LE BRETON.
2016.p.257)

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ATIVIDADES

Praça Amintas de Barros


Propomos aqui, para a exploração do tato, uma visita à Praça
Amintas de Barros. Uma praça que poderá reconectar as crianças e os
jovens com a natureza, em plena rua que promoveu esse afastamen-
to. Nela existem árvores que, além de oferecerem a sua sombra, alte-
rando a sensação térmica da temperatura capturada pela nossa pele,
podem ser abraçadas, indagadas a respeito de suas espécies, de suas
histórias naquele lugar. Uma praça que poderá reconectar as crian-
ças e os jovens com um outro sentido do tempo, aquele que inclui
pausas, calma, opondo-se ao tempo da correria; e, em consequência,
propiciar o contato fisico corporal entre diferentes gerações que por
ali transitam ou que se encontram no seu entorno; uma praça que
poderá reconectar as crianças e os jovens com o passado, perspecti-
vando o futuro.
A Praça Amintas de Barros é vista por Ana Maria Silva (2016)
como uma ilha no trajeto da Rua Pad re Pedro Pinto. Essa praça, embora
pequena, tem valor simbólico para a região, pois, ao longo das décadas
de 1980/90, foi palco de manifestações de diferentes grupos sociais e de
naturezas diversas. Entre os acontecimentos que nela ocorrerarn, des-
tacam-se eventos artísticos do encontro anual do CULTURARTE, a rea-
lização semanal da Feira de Arte e Artesanato de Venda Nova, durante
as quais aconteciam diversas manifestações da cultura local, e apresen-
tações de artistas e grupos locais.
O local onde a praça foi construída ainda guarda uma referência
que está apenas na memória de alguns de seus vizinhos. Nesse espaço
existia uma pequena capela de invocação do Sagrado Coração de Ie-
sus. a Capelinha, como a ela se referem os moradores mais antigos. Em
1962, ela foi demolida, na gestão do prefeito que a nomeia, Amintas
de Barros. Não raras vezes, ao se mencionar o nome da praça, escu-
tam-se relatos de toda sorte. São narrativas pessoais que trazem àquele
local um expressivo valor simbólico, evidenciando o significado dolu-
Ezfll' para as pessoas que residem em suas proximidades. Ela também

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é denominada pelos moradores como "Praça da Regionalfi por estar
localizada em frente à sede da Administração Regional de Venda Nova,
Vejamos como essa praça tem sido utilizada por crianças e ja-
vens no Programa Escola Integrada (PEI). O projeto intitulado PEI na
Praça é oferecido em todas as escolas de Venda Nova e consiste na am-
pliação da jornada escolar dos participantes, durante a qual os estudan-
tes, por meio de atividades diversas, experienciam a apropriação dos
espaços da localidade e também de seus bens culturais. A proposta do
PEI na Praça foi concebida a partir da experiência de Ana Maria Sil-
va,1 e estimulada pela sua participação no projeto Educar pela cidade:
memória e património cultural e arnbieutal de Venda Novafi que tinha
como proposta a criação de percursos e de trilhas que possibilitassem o
contato das pessoas com referências culturais importantes da memória
da localidade, inspirado na ideia de que a cidade é um texto a ser lido
e decifrado por quem nela perambula com inteligência e sensibilidade.
Seguem algumas sugestões de exploração do “tato” por seus alu-
nos. Antes, porém, sugerimos a analise de registros fotográficos das
crianças e dos jovens da Rede Municipal de Belo Horizonte, participan-
tes do PEI na Praça.

ofessora de História da Rede Municipal de Iinsino de Venda Nova. Ana Maria atuou. até dezembtfl
como Acompanhante Pedagógica do Programa Escola Integrada da Gerencia Regional de Edutílfliãfl
a Nova. A Trilha da Praça foi realizada entre a Rua Alcides Lins e a Praça Amintas de Barros. -'I 11 l"
numero 1055 da Rua Padre Pedro Pinto, no ano de 2015.
' Educar pela cirfarle: memdria e património cultural e arulvieutal de Venda Nova foi finaociatlfl
Edital l3l'2I1l2 Cap-es!FAPEl'»'llG - Pesquisa em Educação Básica.

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fí_-i

ATIVIDADES
1) Análise de fotografias
1.1. Observe, detalhadamente, as fotografias que registram a presen-
ça do PEI na Praça. O que elas registram? O que elas levaram vocé a
pensar?

2) Explorando a paisagem cultural com o talo: as árvores como pa-


trimónio
2.1. Toque em cada uma das árvores; abrace-as. Pelo contato de pelo
com a casca de seu tronco. você diria que todas são de uma mesma
espécie? Ao toca-las, abraça-las, voce pode supor a idade delas, aproxi-
madamente? O que mais esse contato revelou para voce?
2.2. Recolha folhas caldas no chão. Toque-as docemente. Sinta a espes-
sura de cada uma das folhas. percorra com os seus dedos o desenho de
cada uma. identifique a qual arvore cada folha pertence. Dé nome a cada
uma delas. Agora, embaralhe as folhas e, com os olhos vendados, usando
o tato identifique cada uma delas pela sua espessura e por seu desenho.
3-3- Discuta com as colegas as sensações térmicas sentidas por cada um
em difm-En¡E5 pontos da p¡-;1ça_ O que essas sensações levaram você a
Pfflsar?

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2.4. Recolha na praça, lembranças de sua visita: folhas, flores, cascas
de árvores que lhe chamaram a atenção pela sua textura, pelas formas
geométricas. Leve-as para a escola, para que possam estuda-las e rea-
lizar lindos trabalhos.

3) Explorando a paisagem cultural com o tato: o edificado como


património
3.1. Um trabalho “arqueológico", de "escavação'Í. poderá ser realizado
no entorno da praça. Escolha uma casa mais antiga para ser tocada:
Quantas demãos de pintura e de reboco têm essas casas? Programe
com os proprietários uma visita e tateie o subterrâneo da edificação.
Recolha, com a permissão do proprietário, fragmentos de um objeto.
Tateie esses objetos, sinta de que ou de quais materiais foram feitos;
sinta suas formas e proponha perguntas que os possam situar em seu
tempo de produção e de uso.

Atividade de criação, imaginação e de intervenção urbana


Apresentamos aqui atividades de potencialização da explora-
ção dos sentidos. Se os sentidos são a porta para o inteligível, se, por
meio das percepções sensoriais, podemos avançar nossa compreen-
são e ação no mundo em que vivemos, propomos criar intervenções
urbanas com imaginação.
Eraldo Miranda, o autor de Guerra e Paz, um livro inspirado
n os a in'is"
e Guerra" ePaz " de Candido ' Portman
` `,escreveu:

Quando abrlamos os olhos para o passado, num tempo em que as


lembranças nos contavam histórias, existiu certa Mão Contadora
de Histórias. Mas como poderia mão contar história? Esta Mão,
ao toque de cores, contava o céu e a terra, o dia e a noite, a criança
e o homem, não com palavras escritas ou faladas, mas com tintas
que ganham uma infinidade de formas em palavras declamadas
pela poesia, cantadas pela música, pois a vida e o movimento es-
tavam nela. E, para perceber e ouvir essas inesquecíveis histórias.
bastava ter dois corações despertos nos olhos, e todas as imagens

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ganhavam vida em cores, pois era assim que a Mais Çüntadflra de


Históri as fazia
` os homens se lembrarem de que eram |wmzn5_
(MIRANDA, 2012, p. 6)

Após a leitura desse extrato do texto de Eraldo Miranda, convide


as al unos para contarem com a mão uma história sobre a Rua Padr
e
Pedro Pinto. Essa história poderá ser contada individualmente ou em
grupo, formando um painel para uma exposição dentro da escola, ou
em outro ambiente; podera ainda ser contada no muro da escola ou em
outro muro de Venda Nova em que seja permitida essa atividade.
Essa mesma história podera também levar os alunos a pesqui-
sarem pintores e muralistas, que contam histórias por meio de seus
quadros e murais.

Reflexão sobre questões politicas e sociais


No cenário dos processos levados a cabo na mobilização em
prol da recuperação da história local de Venda Nova, hã grupos de
pessoas, homens e mulheres, que se empenharam e que continuam a
se empenhar nessa tarefa por meio, por exemplo, do movimento de-
nominado CULTURARTE e da União das Associações de Moradores
de Venda Nova (UNAVEN).
1. Quais foram e quais tém sido as lutas empreendidas pelos mora-
dores em prol das referéncias culturais e dos lugares de memória
situados na Rua Padre Pedro Pinto?
2. A identidade local desapareceu. ou seja, siias singularidades his-
tóricas foram destruídas totalmente? Houve o apagamento da di-
versidade religiosa e étnico-cultural? Da diversidade ainbiental?
Quais os silenciamentos sobre a história dessa riia?
3. Quais as novas referencias identitãrias dos jovens? Quais tem
sido os laços de pertencimcnto com ii localidade que são cons-
truídos pelos jovens e pelas crianças?
4. Quais decisões determinaram a configuração urbana atual de
Venda Nova. analisada com base nos elementos oferecidos sobre
ai história da Rua Padre Pedro Pinto? Vocé acha importante inter-
ferir nas decisões atuais? Quais deveriam ser essas deC¡5ÕflS?

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CONSIDERAÇÕES FINAIS E ABERTURA DEIPARA OUTRAS - í-PÇi"'T'gÍ í-irá'

POSSIBILIDADES 1--¡..-
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Neste texto, tivemos a intenção de afirmar o valor da exploração dos semi.


dos - visão, audição e tato - na perspectiva de educar pelos sentidos, pelas 5¢n_.,¿_
bilidades e pelo património, tendo como foco uma rua que representa o núcleo de
formação inicial de uma localidade e/ou cidade.
Poderíamos ter explorado outros sentidos, como o paladar e o odor, ou aín.
da ter feito a escolha de explorarmos todos os sentidos em cada um dos pontos dg
referéncía propostos para o estudo da Rua Padre Pedro Pinto: a Igreja da Matriz
de Santo António, o Cine Teatro São Pedro, o Cruzeiro, o Casarão, hoje Centro da
Memória Regional de Venda Nova, a Igreja Metodista e a Praça Amintas de Barros.
Fica essa possibilidade de exploração como convite aos professores, que poderão,
de posse do software Trilhas de Memórias de Venda Nova e de outros artefatos
pedagógicos, recriar roteiros para a exploração dos pontos de referéncia e dos di-
ferentes sentidos.
As referéncias históricas, os conceitos e a metodologia apresentados aqui
buscaram demonstrar como os atos de conhecer, de produzir conhecimento, assim
como o de ensinar e aprender, articulam razão e sensibilidade, tendo os professores
e estudantes no centro dos processos educativos. Está presente também no texto.
de forma implícita, a ideia de que a relação entre a escola e a localidade e/ou cidade.
quando vivida e pensada como experiencia de alteridade, de encontro com o outro.
no tempo e no espaço do presente e do passado, permite construir alternativas para
o futuro, engajando crianças, jovens e adultos nesse processo. Tal perspectiva vai
ao encontro da ideia de que os processos educativos podem estimular e capacitflf
os professores, os jovens e as crianças para a participação cidadã critica e sensível.
em prol da qualidade humana de vida.
Esperamos, assim, que essa trilha de interpretação de uma rua possa se moi'
trar como a porta de entrada para estudos mais profundos por parte de estudantE5
E PTÚÍESSDFES. em suas salas de aula, bem como individual e coletivamentfii 1105 `
Efipflços de participação politica, na localidade.

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