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CURSO: FARMÁCIA

DISCIPLINA: MIC

RESENHA DA OBRA PRODUZIR É APRENDER, APRENDER PARA


PRODUZIR E LUTAR MELHOR DE SAMORA MACHEL

Docente: Teodoro Andrade Waty


Discente: Natércia Waty

Katembe, Julho de 2022


O presente trabalho visa fazer uma resenha sobre a obra do primeiro presidente de
Moçambique independente Samora Moisés Machel, cujo título é Produzir é aprender,
aprender para produzir e lutar melhor, publicado em Outubro de 1978 pelo Departamento
do Trabalho Ideológico da FRELIMO.

Introdução

Após a independência de Moçambique, o governo tentou implementar um sistema


económico marxista-leninista. Lançou-se, em 1983, a Operação Produção que obrigou
milhares de pessoas a deixar as famílias e a ir para o Niassa, onde estavam instaladas as
principais bases da operação. Para a FRELIMO, essa acção não poderia ser considerada
como um movimento migratório qualquer, ou seja, uma deslocação desordenada, mas sim
uma forma bem estruturada e administrativa de controlo estatal sobre o desenvolvimento
humano.

Essa obra de Samora Machel, é o espelho da visão da FRELIMO enquanto um movimento,


é nela onde são apontadas as directrizes a seguir logo que terminasse a luta pela
independência nacional.

Na concepção de Machel, para combater a fome, a nudez, o subdesenvolvimento, para


materializar os direitos conquistados com sangue e sacrifício, as massas populares devem
apropriar-se dos conhecimentos científicos e técnicos. Só a educação generalizada permite
ao Povo moçambicano desenvolver a sua personalidade e afirmar a sua cultura nacional.
Samora Machel.

Em linhas gerais, pode-se dizer que a obra tem como tema a necessidade de combatermos
um novo inimigo, uma vez que o colono já tinha saído do país, havia necessidade
combatermos a fome com recurso a outras armas, diferentes da MG3 e outros tipos, desta
vez era preciso pegarmos em enxadas e produzirmos para o país e não para uma família, a
produção tinha de estar virada para o nível nacional e não local.

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Estrutura da obra

A obra apresenta três capítulos, ou seja, está dividida em três partes, uma vez que os
capítulos não estão ilustrados na obra, mas podem ser identificadas a partir da leitura do
mesmo.

1. O primeiro capítulo, é a parte introdutória, é constituído pela introdução, é neste


período ou fase do trabalho que de forma resumida tenta-se contextualizar a obra,
as expectativas em volta da obra. Logo depois a proclamação da Independência
Nacional em 1975, uma das palavras de ordem de Samora Machel, primeiro
Presidente da então República Popular de Moçambique era fazer da agricultura a
principal actividade industrial;
2. O segundo capítulo, é o desenvolvimento da obra. O autor deixa patente a ideia de
que logo após a independência haverá a necessidade de começarmos a produzir, e
para tal é imperioso preparar as machambas para um novo ciclo de produção. A
produção almejada pelo autor, é aquela produção que deve satisfazer as nossas
necessidades biológicas fundamentais. Mas ela é necessária para nos libertarmos da
miséria, ela é necessária para melhor conhecer, dominar e utilizar a natureza, ela é
necessária para nos formar politicamente. Nós somos revolucionários, os nossos
actos todos têm um sentido político, um conteúdo político. Por isso a nossa
produção, além de ter um sentido e um conteúdo económico, tem um conteúdo
político;
3. O terceiro capítulo, é o desfecho, conclusão ou encerramento da obra, é o onde o
autor coloca em linhas gerais as principais linhas orientadoras para a
implementação do projecto. É nessa fase também que encontram-se anexados
alguns testemunhos dos guerrilheiros ou ex-gerrilheiros que dedicam boa parte do
seu tempo na actividade agrícola.

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Analise crítica

a) Um dos aspectos aqui mencionado, é a necessidade de produzir para alimentar o


país, a produção deve ser para nível nacional e não somente local. Isso por si só já
representa uma visão ampla e virada a nível nacional. Contudo, o documento não
especifica quais os mecanismos, como será feita a distribuição da renda ou dos
dividendos da produção;
b) Num dos trechos, o autor defende que “os colonialistas e capitalistas, porque não
produzem e vivem da nossa produção, porque se pretendem sábios e dizem que nós
somos brutos e ignorantes, nunca podem reconhecer que se aprende na produção,
que a produção é uma das mais importantes escolas”. Sendo Moçambique um país
em busca da independência ou que acabava de conquistar a independência a pouco
tempo, sairia ganhando celebrando contractos ou parceria com qualquer país amigo
(capitalista ou socialista), e não adoptando uma linha muito restrita nos
relacionamentos internacionais;
c) “A produção é uma escola, porque dela vem os nossos conhecimentos, é na
produção que aprendemos e corrigimos os nossos erros, é indo ao Povo,
trabalhando com o Povo que aprendemos e ensinamos ao Povo”. Do mesmo modo
que celebrou-se várias parceria na área da educação e saúde com países com
Rússia, Índia e Cuba, acreditamos que quanto mais parceria na área da agricultura,
mais conhecimentos, mais produtos e técnicas de cultivo teríamos produzido,
evitando com que o país registasse défice de alguns tipos de produtos inclusive de
1ª necessidade;
d) A não democratização da actividade agrícola, isto é, a busca compulsória de
trabalhadores para os campos agrícolas (operação produção), fez com que muita
gente que estava nas zonas de produção não se sentissem a vontade, encarraram
essa actividade como um trabalho forçado, uma escravatura imposta por aquele que
durante muito tempo lutou para os libertar do jugo colonial. Essas pessoas não se
sentiam livres, sentiam-se como tivessem sido transferidos de um colono branco
para outro colono da raça negra.

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Acessibilidade linguística

Durante o tempo colonial em Moçambique, o acesso à educação por parte dos


moçambicanos era muito limitada, poucas pessoas tiveram acesso ao ensino. As poucas
escolas existentes e direccionadas à população indígena, tinham como função a civilização
do indígena com vista a tornar possível a comunicação com os colonizadores, em nenhum
momento a formação do homem integro, com domínio de leitura foi prioridade, até porque
havia até certo ponto o receio de despertar nesse homem a luta pelos seus direitos.

Logo após o início da luta de libertação nacional, existia nas zonas libertadas alguns
centros de educação, mas o objectivo principal era somente ensinar as pessoas a terem
noções básicas de escrita e leitura.

Diante desses factos, fica difícil dizer que o principal grupo alvo tenha tido informação
privilegiada sobre o assunto publicado na obra. Contudo, é preciso lembrar que nesse
período existia nos bairros (aldeias) os grupos dinamizadores, que eram responsáveis ou
desempenham o papel de elo entre o governo e a população no geral. Portanto, pode-se
dizer que nos primeiros anos após a independência, o governo reconhecendo a fragilidades
ou dificuldades de comunicação impostas pelo não domínio da escrita, procurou
alternativas de melhor comunicar-se com o povo fazendo chegar sempre ao público-alvo a
informação, seja através dos famosos Grupos Dinamizadores, seja pela imprensa (rádio).

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