O conceito de “demokratia”: Ao contrário do que hoje se concebe por estado
democrático de direito, o sistema político que consagrou a Grécia antiga como modelo para os estados modernos é, na realidade, um tanto diferente do que é conhecido vulgarmente por democracia. Normalmente se atribui a instauração da democracia a Clístenes, legislador ateniense que deu o pontapé inicial para a formulação do sistema democrático em 508-07 a.C. Levando em consideração que “kratos” significa “poder soberano”, e que “demos”, se refere ao povo, se entende como demokratia um sistema de democracia direta, onde a população ativamente participava do processo de tomada de escolhas, diferente da democracia representativa moderna, onde são escolhidas figuras com o objetivo de representar os interesses do povo. A ekklesia: Com a ativa e direta participação das massas atenienses na política, a ekklesia surge justamente como meio de organização democrática, de modo a direcionar e esquematizar os papeis de tomada de decisão política. Sendo assim, a ekklesia funciona como uma assembleia popular, constituída pelos cidadãos maiores de dezoito anos, e também levando em consideração a autoridade da boule (conselho dos 500, comitê diretivo importante para a determinação de cargos e ocupações na assembleia). Era realizada quatro vezes por mês, além de contar com a possibilidade de convocações espontâneas em caso de necessidade. As reuniões eram feitas com uma gama de propósitos, desde a resolução de problemas administrativos, organização da logística interna da polis, consultas populares e por um breve período também foi responsável pela promulgação de leis. Apesar da posição de orador estar aberta para toda a assembleia, poucos eram aqueles que ousavam falar, pois, de fato, exigia uma boa oratória e retórica. A boule: A boule, também conhecida como “conselho dos 500”, era uma cúpula de homens dentro da ekklesia que servia como um comitê diretivo E organizador das assembleias. A boule tinha seus próprios comitês internos, e era responsável pela administração da agenda das assembleias e por assegurar que as decisões da ekklesia fossem de fato efetivadas. A fim de manter um cenário político seguro contra uma eventual oligarquia tirana paralela á ekklesia, os membros do comitê eram, em geral, homens comuns, escolhidos através de sorteio em uma espécie de sistema rotativo. Os 500 integrantes da boule eram divididos entre 50 representantes de cada uma dos 10 distritos da Ática, para que, dessa forma, fossem igualmente atendidas as necessidades de cada parte da polis. O areópago: Durante os períodos anteriores à democracia, a estrutura entre a Acrópole e o Pnix, chamada de Areópago, seria a sede da aristocracia e oligarquia ateniense, até as reformas de Clístenes, se tornando um tribunal. Durante os tempos oligárquicos, o arcontado era o cargo mais importante que uma figura política poderia obter em Atenas, representando o mais alto grau de autoridade cívica e legal na polis. No entanto, com a ascensão da demokrátia, tanto o órgão quanto o cargo caíram em inocuidade, visto que sua função primordial seria repartida entre a ekklesia e a boule. Os arkhaí: O núcleo de cidadãos possuidores de uma obrigação ou encargo político, é geralmente o que se pode se considerar o “arkhaí”. Se refere como arkhai a vasta gama de funcionários que o corpo cívico ateniense possuía, sendo responsáveis perante diversos aspectos da vida políade, partindo desde cargos militares, até funções corriqueiras do cotidiano da polis. Dentre esses funcionários se destacam alguns em especial: os strategoi, cidadãos de extrema importância por carregarem um posto de autoridade militar, como o próprio Péricles que, além de líder, também era um stratego; os arkhon, sub comitê dentro da boule - eram responsáveis pelos festivais, práticas religiosas, juntamente com os thesmothetai, encarregados de assegurar a justiça na polis e presidir os tribunais jurídicos; ainda dentro da hierarquia da boule, existiam “Os onze”, grupo incumbido de executar as penas jurídicas e gestão da prisão da cidade; por fim, cabe também ressaltar os arautos, grupo que tem sua gênese ainda nos tempos da Grécia dos basileus, eram eleitos pela assembleia, sendo responsáveis pela convocação da ekklesia, delegando mensagens tanto dentro quanto fora da polis, não surpreendentemente sendo associados com Hermes, o deus mensageiro. As práticas jurídicas: Parte da fama de Atenas com relação ao seu sistema político, também recai sobre algo extremamente bem caracterizado na literatura: o sistema jurídico. Dessa forma, as obrigações cívicas de um cidadão eram divididas entre o que Aristóteles definiu como “krísis” e “arkhai”, mostrando como a participação dos cidadãos no júri dos tribunais era tão importante quanto na tomada de decisões na ekklesia. Ao contrário da configuração do direito civil moderno, na Grécia clássica não havia um órgão oficial encarregado promover processos legais contra casos públicos de crimes, partindo exclusivamente na iniciativa de algum cidadão que o julgasse necessário. Todo cidadão podia exercer seus direitos civis, enviando uma carta de intimação para o indivíduo que publicamente ameaça a vida cívica da polis, como algum orador da assembleia que propõe medidas anticonstitucionais. Se fosse aberto uma ação penal contra um indivíduo, o querelante era responsável pelo seu discurso, e, portanto, não existia a função de um advogado, ou, pelo menos, não da forma que se conhece hoje. Ao fim dos discursos de ambos os lados, os thesmothetai e a bancada jurídica se juntavam e davam a sentença final. Uma das mais severas pena no sistema jurídico ateniense era a atimía, ou seja, a completa perda dos direitos civis, tornando o indivíduo completamente desamparado de reparações legais contra crimes cometidos contra ele, inclusive roubo e assassinato. Por conta disso, na maioria das vezes, os condenados acabavam se exilando da polis. O imperialismo ateniense: Diante de uma constante e iminente vigilância contra os Persas, no ano de 478 foi formada a Liga de Delos, a fim de estabelecer uma aliança político-militar em partes da Hélade buscando fortalecer os territórios gregos contra uma possível invasão vinda do oriente. Com efeito, a liga consistia em uma união de estados gregos que mutuamente se auxiliavam, contribuindo com um sistema de retenção de impostos para a construção de uma frota naval mais poderosa no mar Egeu. No entanto, representando o fornecedor da maior fração dos recursos alocados para o acordo, Atenas inevitavelmente atingiu o status de “hegemon”, que significa líder, porém, não apenas o líder militar, mas também político e econômico posteriormente. Dessa forma, aos poucos, Atenas tornou-se o mais próspero e poderoso centro cívico de toda a Hélade, fato esse, que, futuramente garantiria o seu posto de Império e seria um dos impulsionadores da guerra do Peloponeso. Em relação aos impactos econômicos, o Imperialismo Ateniense possibilitou um notável giro de capital e empregos pelos estados controlados por Atenas, pelo menos por parte das classes mais baixas, visto que, as taxas destinadas à liga viriam principalmente daqueles mais ricos. No fim, tornou-se inegável o fato que a liga havia se tornado completamente submissa a Atenas, e, por conta disso, com as noções de autonomia e independência dos estados aliados estando suspendidas, a Hélade se tornou um palco para algumas revoltas contra o poder central Ateniense.