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Otávio Augusto e a República

A restauratio augustana: Após a morte de Júlio César e todo o conflito


interno causado pelo segundo triunvirato, é possível dizer que, o momento de
transformação política, cívica e religiosa vivida em Roma equipara-se apenas
ao período de transição da monarquia para a República. Dessa forma, com
Otávio Augusto no poder, uma série de reformas na própria paisagem e na
condução do Estado foram desencadeadas. Ainda nos primeiros anos de seu
principado, Augusto promoveu a reforma de prédios públicos fundamentais
para a vida religiosa em Roma, tais como a residência oficial do pontifex
maximus – a Regia, grandes templos de adoração dedicados a divindades
como Júpiter e Apolo, e, por fim, talvez o mais emblemático de seus feitos: a
restauração dos colégios sacerdotais. Com efeito, após a chegada de Otaviano
ao poder, Marco Emilio Lépido, ex cônsul constituinte do triunvirato com
Augusto, agora ocupando apenas o cargo de pontifex maximus (a maior figura
de autoridade religiosa em Roma), seria exilado da capital, se tornando incapaz
de exercer sua autoridade no campo da religião. Certamente, com todo o poder
que o pontífice segurava em suas mãos, a ordem de exílio de Emilio Lépido
configurava uma investida política por parte de Otávio Augusto, de modo a
concentrar ainda mais o seu poder. No entanto, somente 24 anos depois do
exílio de Lépido, após a sua morte, o cargo de pontifex maximus seria
transmitido a Otávio Augusto, e, dessa forma, dando o passo final para a
restauratio augustana, podendo concentrar tanto o poder político quanto
religioso em suas mãos. (ROSA C.B pg 15 a 17)

A carreira religiosa: Desde os mais arcaicos tempos de Roma, quando o


Império era constituído apenas por uma pequena cidade, se denota uma
grande participação da religião romana como parte fundamental do cotidiano
do povo e de toda esfera político-militar. Dessa forma, com o processo de
restauratio instituído por Otávio Augusto, a literatura proveniente dos
historiadores e escritores dos próximos séculos tiveram uma atenção ainda
maior ao analisar os componentes da vida religiosa em Roma. A carreira
religiosa romana era tão prestigiada quanto qualquer magistrado ou cargo na
política, tendo em vista que, as decisões tomadas por toda a hierarquia
religiosa, e, em especial pelo pontifex maximus, tinham efeito direto na política
do Estado e deveria desenvolver uma boa relação com o cônsul e seus
senadores. Os colégios religiosos eram encarregados de uma grande
variedade de tarefas da vida na urbs, tais como a organização de eventos e
festivais públicos, a participação na configuração do calendário e o
supervisionamento de rituais. Os diferentes colégios possuíam
responsabilidades diferentes e atuavam de formas distintas, possuindo uma
complexa hierarquia de ocupações, sendo, talvez, o colégio mais relevante
durante os últimos anos da República, o colégio dos pontífices. Com efeito, os
religiosos dentro do colégio dos pontífices detinham algumas das mais
importantes tarefas na vida cívica romana, bem como o gerenciamento da
vasta gama de rituais, cultos públicos e sacrifícios aos deuses, os casamentos
dos patrícios, a aplicação das leis funerárias, a formulação dos calendários e
uma série de outras incumbências registradas por Cícero. Em suma, os
pontífices eram a maior autoridade em matéria de conhecimento religioso, e
por conta disso, possuíam grande respeito por todas as classes romanas,
tendo em vista que o parecer do pontifex maximus era de grande peso na
tomada de uma decisão. (ROSA C.B pg 17 a 21)

Marco Emilio Lépido: A chegada de Marco Emílio Lépido ao cargo de


pontifex maximus é, até hoje, um verdadeiro motivo para intensa discussão
acerca de suas nuances e sua motivação. Por um lado, existe uma
interpretação augustana do ocorrido, delegando à imagem de Lépido um
caráter usurpador e despótico, pois, de acordo com Augusto, Lépido
representaria uma ameaça à sua soberania logo após a morte de Júlio Cesar.
No entanto, o mais importante a ser levado em conta é o fato que,
independente de suas motivações, o pontificado de Marco Emilio Lépido não foi
interceptado por Otávio Augusto. Como conta a história, foi exilado e afastado
da vida política em Roma, porém, a sua posição enquanto autoridade máxima
do colégios dos pontífices não foi alterada até o dia de sua morte. Autores
como Karl Galinksy postulam que a razão de Lépido ter passado tanto tempo
no pontificado, com Augusto já no poder, foi simplesmente um ato de
obediência civil por parte de Augusto. Entretanto, levando em consideração a
natureza autoritária e desobediente de Otaviano, é difícil crer que sua
motivação foi baseada simplesmente em um respeito pela legalidade do
pontificado de Marco Emilio Lépido. De qualquer modo, o fim tornou-se o
mesmo, Otavio Augusto priorizou uma boa relação com o “clã” de Lépido,
tendo em vista que a família Aemilii remonta a uma das mais tradicionais
linhagens de nobreza de romana, supostamente tendo suas origens nos
próprios fundadores da cidade, como Rômulo e Remo, e o mítico Enéias.
Dessa maneira, acredita-se que o respeito pela tradição e pelo verdadeiro
espírito aristocrático romano por parte de Otávio Augusto, seja uma das razões
pelo qual se deu a preservação do status de Lépido como pontifex maximus.
(ROSA C.B pg 21 a 26)

Augusto e o pontifex maximus: O que hoje conhecemos como a


restauração augustana pouco se parece com a imagem implacável e repentina
difundida a respeito da coroação de Augusto, como se fosse advinda de um
processo de subversão total dos valores republicanos e a instituição imediata
de uma nova forma de fazer política. É certo que, com o cargo de pontifex
maximus estando nas mãos do exilado Marco Emílio Lépido, limitou-se a
extensão do poder de Augusto e da possibilidade de instauração um sistema
político completamente novo. A unificação do poder máximo político e religioso
configura na verdade um demorado processo de organização dos poderes, e,
Augusto, só pôde gozar plenamente do status de Princeps anos após sua
chegada ao poder. Portanto, enquanto o poder do pontificado não estivesse
integralmente em suas mãos, a restauração augustana ainda não esteve
completamente realizada. Dessa forma, no ano 12 a.C, com o cargo de
pontifex maximus transferido para Augusto, foram feitas mudanças mais
significativas, principalmente no tocante à urbs, como a restauração de templos
religiosos em todo o império (principalmente os mais antigos, novamente
denotando seu apelo para o espírito tradicional romano). Foi também
apropriada a autoridade da formulação do calendário, além da simbólica
integração da “lareira privada” de Augusto com o fogo do templo de Vesta,
dessa forma, tornando a casa Estatal e a casa do Princeps uma só. Portanto,
Ao final de seu período como soberano de Roma, Otávio Augusto era detentor
supremo dos exércitos, da política e da vida cívica romana, mas também
possuía autoridade em matéria sagrada, e, dessa maneira, sucederia uma
série de novos imperadores cuja autoridade cobriria praticamente todos os
campos da vida em sociedade de Roma. (ROSA C.B pg 26 a 31)

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