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HISTÓRIA
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História Integrada FRENTE 1

HISTÓRIA AD
MÓDULO 1 Das Diásporas Gregas a Esparta
1. Períodos Históricos 3. Período Pré-Homérico

Costuma-se dividir a história da Grécia Antiga em A partir do segundo milênio a. C., vários grupos de
quatro períodos: povos nômades, de origem indo-europeia (arianos),
• Pré-Homérico – século XX a XII a. C. procedentes do norte do Mar Negro, deslocaram-se em
• Homérico – século XII a VIII a. C. direção à Península Balcânica e invadiram a Grécia em
• Arcaico – século VIII a VI a. C. sucessivas vagas de ocupação.
• Clássico – século VI a IV a. C. Os primeiros a chegar foram os aqueus. A Grécia,
Cada uma dessas fases tem características próprias, nesse momento, era ocupada por um povo de cultura
que procuraremos destacar a seguir. bastante rudimentar, conhecido como pelasgos, que aos
poucos foram assimilados pelos invasores. Com o passar
civilização migrações
Séc. XX a. C. do tempo, fundaram diversos núcleos urbanos bem fortifi-
creto-micênica indo-europeias
cados, destacando-se Micenas, Tirinto e Argos.
Séc. XIV a. C. apogeu de Micenas aqueus – jônios – eólios Em seguida, entraram em contato com os habitantes
da Ilha de Creta e assimilaram sua notável cultura, o que
Séc. XII a. C. 1.a diáspora – genos invasão dos dórios deu origem à civilização creto-micênica.
Pólis Atenas – Esparta – Por volta de 1700 a. C., chegaram os eólios e jônios,
Séc. VIII a. C. que se integraram pacificamente aos habitantes da região.
cidade-Estado Tebas
A partir daí, teve início uma notável expansão da população
Atenas – Esparta – grega, que se chocou contra a supremacia cretense no
Séc. VI a. C. hegemonias
Tebas mar. Cnossos, a principal cidade de Creta, foi destruída. A
Império Macedônia expansão micênica continuou pelo Mar Egeu em direção
Séc. IV a. C.
Helenístico Alexandre Magno ao Mar Negro, culminando com a destruição de Troia.
Cronologia dos principais períodos da história da Grécia Antiga. No auge da expansão micênica, a Grécia sofreu a
invasão dos dórios, também arianos, mas de nível cultu-
2. Introdução ral bem inferior. As cidades micênicas foram destruídas,
o que provocou a Primeira Diáspora Grega. Os aqueus,
A Grécia é um país da Europa localizado ao sul da eólios e jônios dispersaram-se em direção ao litoral da
Península Balcânica. O território grego é cortado ao meio Ásia Menor, ilhas do Mar Egeu e regiões isoladas do inte-
pelo Estreito de Corinto, que separa a Grécia Continental, rior da Grécia. Nesse processo, foram fundadas diversas
ao norte, da Península do Peloponeso, ao sul. As duas colônias gregas.
regiões são bastante montanhosas, sendo a vida na
Grécia determinada por duas regiões distintas: a
montanha e a orla marítima.
As montanhas dificultavam as comunicações entre
as planícies e os pequenos vales férteis, fragmentando o
território em numerosas comunidades, completamente
independentes entre si. Além disso, a existência de um
litoral bastante recortado e as numerosas ilhas do Mar
Egeu, bastante próximas entre si, orientaram a vocação
marítima dos gregos, facilitando o contato com os povos
do mundo exterior.
O clima da Grécia é muito seco, com chuvas raras,
tendo poucas áreas férteis. Desta forma, a pecuária teve
um papel importante na economia. A agricultura era
praticada nos vales e nas encostas das montanhas,
representada pelo cultivo do trigo, cevada e, principal-
mente, de vinhas e oliveiras.
A invasão dos dórios provocou a fuga de eólios e jônios para a Ásia
Menor e pôs fim à civilização creto-micênica, criada por aqueus e cre-
tenses. Parte dos dórios se fixou na Lacônia, mas outros atravessaram
o Egeu, alcançando a Ásia Menor.
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Esse fato assinalou o fim do Período Pré-Homérico e autônomas. A independência dessas cidades resultou de
o início do Homérico, assim chamado porque só pode ser vários fatores: o relevo montanhoso, que dificultava as
entendido a partir da Ilíada e da Odisseia, poemas cuja comunicações terrestres; o litoral recortado e as nume-
autoria é atribuída a Homero. rosas ilhas existentes no Mar Egeu, que estimulavam a
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navegação; a ausência de uma base econômica interna


4. Período Homérico sólida, que poderia aglutinar os gregos em um Estado-
nação. Entretanto, como havia unidade cultural (identi-
Sociedade Gentílica dade de língua, etnia, religião e costumes), podemos falar
Após a Primeira Diáspora Grega, no interior da Grécia, em um Mundo Grego, mas não em um Império Grego.
a população passou a viver isoladamente, em comuni- Cada pólis possuía um templo construído em sua
dades familiares conhecidas como genos. Estes consti- parte mais alta: a acrópole. Primitivamente, eram gover-
tuíam a primitiva unidade econômica, social, política e nada por um basileus (rei), cujo poder era limitado pelos
religiosa dos gregos. Toda a família vivia sob a autoridade eupátridas. Em geral, quando os reis tentaram maior
do pater familias que, ao morrer, era sucedido pelo controle sobre o poder, foram depostos e substituídos por
primogênito, e assim sucessivamente. Era um grupo Arcontes, magistrados indicados pelo Conselho dos
consanguíneo, e a solidariedade entre seus membros era Aristocratas e renovados anualmente.
muito grande. Os casamentos eram feitos dentro da Ao mesmo tempo, os gregos iniciaram uma expansão
própria família. Por isso, o genos agrupava uma população que culminou com a colonização das principais áreas da
relativamente numerosa. Bacia do Mediterrâneo. Esse processo é conhecido como
Os bens de produção (terras, sementes, instru- Segunda Diáspora Grega e foi motivado por várias
mentos) e o trabalho eram coletivos, sendo a produção razões: o crescimento populacional, a escassez de
distribuída igualmente entre todos os familiares. alimentos e terras cultiváveis, o ideal de aventura, o
Em razão da inexistência de diferenças econômicas, espírito de navegação e o próprio interesse das principais
predominava a igualdade social. As únicas diferenças cidades em manter colônias em outras regiões.
eram tradicionais, pois os parentes se hierarquizavam em
função de sua proximidade com o pater familias, cujo 5. Período Arcaico - Esparta
poder político se devia ao fato de ser ele o responsável
pelo culto dos antepassados, que era realizado todos os Organização primitiva
dias, antes das refeições comuns. Entre suas responsa- Esparta surgiu na planície da Lacônia, no sul da
bilidades estavam o controle da justiça costumeira (as leis Grécia, região localizada na Península do Peloponeso.
eram orais) e o comando do exército do genos. Seus fundadores foram os dórios, que ali se estabe-
leceram depois de destruir Micenas, dando origem à
Transformações cidade por volta do século IX a. C.
No final do Período Homérico, as comunidades gentí- Até o século VII a. C., Esparta não diferia muito das
licas começaram a se transformar. A produção agrícola demais cidades gregas, sendo governada por dois reis
não acompanhava o mesmo ritmo do crescimento popu- (diarquia), que exerciam o poder em tempo de guerra,
lacional. Faltavam terras férteis e as técnicas de assistidos pelo Conselho dos Anciãos – Gerúsia. O órgão
produção eram rudimentares. Em vista disso, o genos mais importante era representado pela Ápela, uma
desintegrou-se e seus membros resolveram partilhar as assembleia que reunia todos os cidadãos dórios, a quem
terras coletivas. Os parentes mais próximos do pater cabiam as decisões finais sobre todos os assuntos
familias foram beneficiados com as melhores terras, políticos e administrativos. Essa organização era atribuída
passando a ser chamados eupátridas (bem-nascidos); os a Licurgo, legislador lendário de Esparta.
parentes mais afastados herdaram as terras menos
férteis da periferia, sendo chama dos georgoi (agricul- As transformações do século VII a.C.
tores); muitos outros, porém, ficaram sem terras, o que No século VII a. C., Esparta passou por profundas
lhes valeu a denominação thetas (marginais). transformações econômicas e sociais. O motivo dessa
Os eupátridas herdaram a tradição do pater familias, mudança foi a conquista da vizinha planície da Messênia.
monopolizando o poder político e constituindo uma Após o domínio da região, os messênios revoltaram-se,
aristocracia de base fundiária. Esses aristocratas se dando início a um prolongado período de guerra. Com a
agrupavam em fratrias (irmandade). Um grupo de fratrias, vitória dos dórios, a população derrotada foi conduzida a
por sua vez, formava uma tribo. Esparta e reduzida à condição de escravos, cujo número
A reunião de várias tribos deu origem a pequenos superava em muito o de seus conquistadores.
Estados locais, a pólis ou cidade-Estado. Por volta do Foi nesse momento que começaram as transfor-
século VIII a. C., surgiram na Grécia cerca de 160 cidades mações, pois eram necessárias medidas que evitassem

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novas revoltas. As terras centrais, as mais férteis da planí- Aos 12, a responsabilidade era transferida ao Estado,
cie, foram divididas em lotes correspondentes ao número tendo-se início um rígido treinamento militar (Agogê).
de cidadãos espartanos: cerca de 8 mil. Os escravos Ambos os sexos aprendiam os valores cívicos, praticavam
foram distribuídos à razão de seis por lote, em um total de exercícios físicos e também se adestravam militarmente.

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aproximadamente 48 mil. Tanto os lotes quanto os Quando completavam 17 anos, os rapazes eram subme-
escravos eram propriedade estatal, emprestados aos tidos a uma prova na qual eram obrigados a matar um
dórios vitaliciamente. Assim, cada espartano recebia dos certo número de hilotas. Isso evitava a superação dos
escravos o necessário para seu sustento, podendo dedi- limites demográficos considerados ideais, mantendo o
car-se apenas ao preparo militar. equilíbrio do sistema. Havia ainda uma espécie de “polícia
Em consequência dessas transformações, a socie- secreta”, a krypteia, que se infiltrava entre os hilotas para
dade espartana organizou-se em três estamentos: espar- descobrir focos de revolta e reprimí-los. Dos 17 aos 30, os
tíatas, a camada dominante; periecos, os habitantes de espartíatas viviam em casernas, dedicando-se exclusiva-
periferia, sem direitos políticos; hilotas, os escravos do mente às atividades militares. Com a idade de 30 anos,
Estado, que trabalhavam nos lotes dos cidadãos. podiam casar-se e participar da Assembleia (Ápela).
Ocorreram também mudanças políticas. Os geron-
tes, velhos com mais de 60 anos, adquiriram uma autori-
dade ainda maior. Sua política, totalmente conservadora,
voltava-se para a preservação do status quo. Os reis
perderam grande parte de seus poderes, os quais foram
transferidos para os éforos, magistrados escolhidos pela
Gerúsia. A Ápela também perdeu seu antigo poder, limi-
tando-se apenas a aprovar, por aplauso, as proposições
do Conselho dos Anciãos.
O problema vital em Esparta era conservar a propor-
ção entre o número de espartíatas e o de hilotas. O
aumento em qualquer uma das duas camadas desequili-
brava o sistema. Por isso, os gerontes implantaram um
sistema educacional extremamente rígido.

A educação espartana
O caráter conservador de Esparta resultou da
preocupação da minoria espartíata em manter a maioria
hilota subordinada. Daí o militarismo do estamento
dominante, a xenofobia (aversão ao estrangeiro) e o
laconismo (forma sintética de expressão), que sufoca-
vam o surgimento de ideias e restringiam o espírito
crítico.
Os recém-nascidos eram selecionados por um critério Organograma político e social de Esparta, que concedia todos os privi-
légios para a minoria espartíata.
estritamente físico, sendo eliminados pelo mínimo
defeito. Até a idade de 7 anos, eram educados pela mãe.

6. Cronologia

2.000 a.C. – Os aqueus começam a chegar à Grécia. 1200 a.C. – Invasão da Grécia pelos dórios.
1700 a.C. – Começam a chegar os eólios e jônios. 1150 a.C. – Destruição de Troia
1400 a.C. – Destruição da cidade cretense de Século IX a.C. – Fundação de Esparta
Cnossos pelos aqueus.

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1. (Fuvest) – Não é possível pôr em dúvida por mais tempo, ao passar 2. “A partir dos sete anos as crianças do sexo masculino eram entre-
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em revista o estado atual dos conhecimentos, ter havido realmente uma gues ao Estado para sua educação: da gramática só aprendiam o
guerra de Troia histórica, em que uma coligação de Aqueus ou Micênios, necessário para as necessidades correntes; todo o resto da instrução
sob um rei cuja suserania era conhecida pelos restantes, combateu o tendia a que fossem obedientes, resistentes à fadiga, vencedores nos
povo de Troia e os seus aliados. A magnitude e duração da luta podem combates.”
ter sido exageradas pela tradição popular em tempos recentes, e os (Plutarco. “Vida de Licurgo”, In: Gustavo de Freitas. 900 Textos e
números dos participantes avaliados muito por cima nos poemas épicos. Documentos de História. Lisboa: Plátano, 1977, p. 73.)
Muitos incidentes, tanto de importância primária como secundária,
foram sem dúvida inventados e introduzidos na narrativa durante a sua A respeito da sociedade e da cultura espartana, podemos entender
viagem através dos séculos. Mas as provas são suficientes para a) que seu objetivo era integrar uma grande evolução espiritual e
demonstrar não só que a tradição da expedição contra Troia deve cultural ao caráter militar.
basear-se em fatos históricos, mas ainda que boa parte dos heróis b) que a guerra e o militarismo não eram o objetivo comum, e sim
individuais mencionados nos poemas foi tirada de personagens reais. apenas da elite, sendo que a totalidade dos espartanos eram
Carl W. Blegen. Troia e os troianos. Lisboa, Verbo, 1971. Adaptado. prejudicados por ela.
c) que o objetivo de seu militarismo era manter a população de hilotas
A partir do texto acima, (escravos) sob controle e evitar ataques externos.
a) identifique ao menos um poema épico inspirado na guerra de Troia d) que combatiam a prática da xenofobia, da kriptia, do laconismo e do
e explique seu título; militarismo.
b) explique uma diferença e uma semelhança entre poesia épica e e) que buscavam a integração com o conjunto da comunidade helênica,
história para os gregos da Antiguidade. mas com uma certa superioridade militar.

3. (Uece 2022) – Os gregos produziram uma civilização notável e


muitas conquistas dessa civilização ajudaram a formar a sociedade do
Ocidente Cristão, da qual somos herdeiros. Relacione corretamente os
períodos da história grega com as respectivas características, nume-
rando a Coluna II de acordo com a Coluna I.

Coluna I Coluna II
1. Período pré-helênico ( ) formação da pólis
2. Período homérico ( ) estabelecimento da democracia
3. Período arcaico ( ) regime gentílico
4. Período clássico ( ) governo de reis

A sequência correta, de cima para baixo, é:


a) 4, 2, 1, 3.
b) 1, 3, 2, 4.
c) 4, 1, 3, 2.
d) 3, 4, 2, 1.

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4. As Polis gregas, que eram a base da organização política que 5. (PUCCAMP) – Considere o texto abaixo.
caracterizou o povo heleno “Do ponto de vista territorial, uma pólis se divide em duas partes: a
a) mantinham política comum apesar da maioria possuir uma religião acrópole [...] e a ágora [...]. No entanto, se perguntássemos a um grego
monoteísta e teocentrica. da época clássica o que era a pólis, provavelmente esta não seria sua

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b) Pareciam com as cidades da atualidade sendo submissas a uma definição: para ele a pólis não designava um lugar geográfico, mas uma
autoridade central. prática política exercida pela comunidade de seus cidadãos. [...] Se no
c) Eram politicamente autônomas, sendo na realidade um conjunto de caso da pólis o conceito de cidade não se referia à dimensão espacial da
cidades que tinham em comum a religião e a língua helênica. cidade e sim à sua dimensão política, o conceito de cidadão não se
d) possuíam uma organização econômica solidária organizada em refere ao morador da cidade, mas ao indivíduo que pode participar da
cooperativas vida política.”
e) estavam unidas na política de organização do Mediterrâneo.
(Raquel Rolnik. O que é cidade. In: Nicolina L. Petta e A. B. Ojeda.
História, uma abordagem integrada. São Paulo: Moderna, p. 17)

O conhecimento histórico e o texto permitem afirmar que na Grécia


Antiga
a) a cidadania, direito de participar da vida pública, atingia todos os
habitantes da maioria das cidades-Estado.
b) o equilíbrio de poderes presente nas cidades-Estado evitou a
ocorrência de conflitos sociais.
c) a lei era o resultado de discussões entre os representantes da
cidade-Estado e definia o direito dos cidadãos.
d) a soberania dos cidadãos dotados de plenos direitos era fundamental
para a existência da cidade-Estado.
e) o direito à cidadania e a organização política possibilitaram a criação
da democracia em todo o país.

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MÓDULO 2 Atenas e o Período Clássico


1. Período Arcaico - Atenas • Economia – estímulo ao comércio e à indústria;
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incentivo à vinda de artesãos estrangeiros, os metecos;


Durante o período arcaico, Atenas sofreu importantes adoção de um padrão monetário único; proibição da
transformações econômicas. O comércio externo exportação de cereais.
desenvolveu-se bastante, principalmente em razão das
colônias fundadas pelos gregos nas ilhas do Mar Egeu e • Sociedade – abolição da escravidão por dívidas
no litoral da Ásia Menor. (Lei Seisachteia); diminuição da herança do primogênito
Ocorreram, então, profundas mudanças sociais. (Lei da Herança).
Alguns dos antigos marginais – thetas – dedicaram-se ao
comércio e ao artesanato, passando a ter uma grande • Política – acabou com o monopólio do poder
importância na vida da cidade. Muitos escravos foram exercido pela aristocracia, com base no critério do
comprados para trabalhar na agricultura, enquanto os nascimento, e estabeleceu um sistema censitário de
georgoi, não podendo pagar os empréstimos contraídos participação política, ou seja, fundamentado na riqueza do
com os eupátridas, perderam as terras e a liberdade, indivíduo.
tornando-se escravos por dívidas.
As novas classes sociais que surgiram — comer- A reforma de Sólon não chegou a ser integralmente
ciantes e artesãos — começaram a pressionar os aristo- realizada, por causa da resistência dos aristocratas. O
cratas, dando início a uma grave crise política em Atenas. reformador foi expulso de Atenas, agravando a situação
Dois partidos antagônicos formaram-se: o aristocrático e política, até que um eupátrida habilidoso, Pisístrato,
o popular. tomou o poder ilegalmente, dando início à fase da tirania.

Os legisladores Os tiranos
Em meio a uma violenta crise, marcada pela força das Entre 560 e 527 a.C., Pisístrato adotou uma política
camadas populares, a oligarquia recuou e foi obrigada a de equilíbrio entre as camadas sociais. Durante o seu
fazer concessões. O partido popular reivindicava refor- governo, confiscou as terras dos aristocratas que não
mas, a começar por leis escritas, pois até então a legis- eram cultivadas e distribuiu-as aos camponeses. Além
lação era oral e sujeita às interpretações mais duvidosas. disso, estimulou o comércio marítimo, construiu impor-
Surgiram, assim, os legisladores, com a finalidade de tantes obras públicas, como fontes, aquedutos e templos,
solucionar a crise política de Atenas. e incentivou as artes.
Em 621 a.C., os eupátridas incumbiram Drácon, um Com sua morte, em 527 a. C., o poder foi exercido
arconte (magistrado), de redigir as primeiras leis escritas por seus filhos, que transformaram a tirania em um
de Atenas, o que fez com extrema severidade. A crise, no governo cruel e marcado por violentas perseguições.
entanto, continuou. O partido popular exigiu a participação Hiparco acabou sendo assassinado e Hípias foi deposto
no poder político. Os aristocratas acabaram cedendo e e exilado de Atenas.
encarregaram outro legislador, Sólon, de realizar uma Os aristocratas colocaram Iságoras no poder, o qual
reforma. Entre suas propostas, destacaram-se: solicitou auxílio dos espartanos para manter seus

As lutas pela hegemonia sobre a Grécia Antiga


destruíram a essência do Mundo Helênico: as
cidades-Estado. Exaustas, elas não puderam
resistir à expansão dos habitantes do Norte, iro-
nicamente considerados inferiores pelos
gregos: tratava-se dos macedônios, que iriam
construir um dos maiores impérios da An-
tiguidade.

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privilégios políticos. Essa atitude gerou uma revolta geral com as conquistas em direção ao Mar Negro, subme-
dos atenienses que, liderados por um aristocrata de nome tendo as colônias gregas da Ásia Menor a uma pesada
Clístenes, expulsaram o tirano da cidade e derrotaram o tributação.
exército inimigo. A cidade de Mileto, localizada no litoral da Jônia,

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organizou uma revolta. Apesar da ajuda enviada por
A Democracia Atenas, foi completamente destruída. Com isso, a
Aproveitando-se dessa coesão temporária entre guerra atingiu todo o mundo grego.
aristocratas e populares, Clístenes realizou a reforma que Em 490 a. C., aproveitando-se do antagonismo
implantou em Atenas a democracia. As suas propostas existente entre as cidades-Estado, os persas invadiram
incluíam direitos políticos para os cidadãos: homens, a Grécia. A esquadra persa desembarcou a poucos quilô-
maiores de idade, filhos de pais atenienses e livres. Tais metros de Atenas, na planície de Maratona. Mesmo
limites faziam com que a democracia ateniense fosse contando com um pequeno número de soldados, os
exercida por aproximadamente 35.000 cidadãos em uma atenienses venceram a Batalha de Maratona, em virtude
população de cerca de 450.000. Além disso, a participa- da estratégia de seu comandante Milcíades.
ção política era exercida diretamente, pois os cidadãos Dez anos depois, sob o reinado de Xerxes, que
opinavam na Assembleia ou eram sorteados para ocupar sucedeu Dario I, os persas fizeram uma dupla ofensiva.
algum cargo. Por terra, venceram os espartanos na Batalha das
O principal órgão era a Eclésia – Assembleia dos Termópilas (300 de Esparta), onde morreu Leônidas, o
Cidadãos –, que votava as leis preparadas pela Bulé ou célebre rei de Esparta.
Conselho dos 500. O Areópago cuidava da alta justiça, Por mar, uma numerosa frota foi destruída na
ou seja, de julgar a constitucionalidade dos atos públicos Batalha de Salamina pelos atenienses, comandados por
e, junto com a Heliae (formada por 12 tribunais), com- Temístocles. Sem o apoio da esquadra, o exército persa
punham o Poder Judiciário. A execução das leis e o recuou para Plateia, sendo derrotado por um exército
comando do exército cabiam aos estrategos, em número composto de esparta nos e atenienses, liderado por
de dez, escolhidos pela Eclésia para um mandato anual. Pausânias.
Com a finalidade de preservar a democracia na cidade Em 477 a. C., Atenas liderou a formação de uma liga
de Atenas, Clístenes instituiu o ostracismo, que consistia marítima que reunia algumas cidades do continente e
em um exílio forçado dos maus cidadãos. Para isso, o das ilhas do Mar Egeu. O local escolhido como sede foi
nome do indivíduo era escrito em um pedaço de argila a ilha de Delos. As cidades deveriam fazer uma
chamado ostrakon. Quando a maioria votava pela contribuição anual em navios, soldados ou ouro. Essa
expulsão, o cidadão perdia seus direitos políticos, sem liga recebeu o nome de Confederação de Delos.
perda dos bens. Depois de dez anos, a pessoa banida Entretanto, Esparta e as cidades do Peloponeso
podia voltar à cidade e recuperar todos os seus direitos de mantiveram-se isoladas.
cidadão. Esse costume introduzido por Clístenes A Liga de Delos, que estava promovendo a guerra
prevaleceu até o final do século V a.C. contra os persas, acabou libertando todas as colônias
A democracia de Clístenes foi aperfeiçoada por gregas da Ásia Menor. Em 448 a. C., foi assinada a Paz
Péricles, que convenceu a Eclésia a estabelecer uma de Cálias, em que os persas reconheceram a hegemonia
remuneração para os cargos públicos, tornando-os de Atenas no Mar Egeu, expressa no Tratado de Susa.
acessíveis aos cidadãos pobres. A implantação da
democracia significou o início da consolidação de Atenas 4. Hegemonia de Atenas
dentro da Hélade (Grécia Antiga).
Com o final da guerra, Atenas transformou as contri-
2. Período Clássico: As hegemonias gregas buições das cidades aliadas em imposto obrigatório. Os
atenienses sofreriam uma profunda crise se a liga fosse
Durante o Período Clássico, as pólis gregas dispu- dissolvida: a indústria naval seria paralisada, o comércio
taram a supremacia em toda a Grécia. Essa fase foi entraria em decadência e numerosos remadores,
marcada pelas hegemonias e imperialismos no Mundo mercenários e artesãos ficariam sem emprego. Por esta
Grego, que acabaram com uma guerra fratricida entre razão, Atenas impôs seu domínio pela força. As cidades
os próprios gregos, concluindo com sua decadência e que se revoltas sem eram atacadas e destruídas. Era o
dominação por parte dos macedônios. início da hegemonia ateniense.
Em 444 a. C., os rumos de Atenas começaram a ser
3. As Guerras Médicas decididos por Péricles, sobrinho de Clístenes. As realiza-
ções de seu governo foram tão extraordinárias que o
No final do século VI a. C., o Império Persa encon- século V a. C. se tornou conhecido como “Século de
trava-se no auge de sua expansão. O rei Dario I avançou Péricles”, o “Século de Ouro” da Grécia.
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Péricles utilizou as contribuições das cidades aliadas Apesar de algumas vitórias atenienses, o exército
para embelezar Atenas com vários templos e monu- espartano era mais bem preparado. Em 404 a. C.,
mentos. Desta forma, aumentou o emprego na cidade, finalmente, na Batalha de Egos-Pótamos, os espartanos
melhorando as condições de vida das classes populares. venceram a esquadra ateniense. Consequentemente, a
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Durante seu governo, foi cercado por um grande Grécia passou a viver sob a hegemonia de Esparta,
número de intelectuais e artistas, como o escultor substituindo a ateniense.
Fídias, o historiador Heródoto e o poeta Sófocles. Durante o domínio de Esparta, Atenas reconstruiu
suas muralhas e sua frota, organizando uma segunda
5. A Guerra do Peloponeso liga marítima. Ao mesmo tempo, a cidade de Tebas
aliou-se a Atenas e atacou a guarnição espartana em
O imperialismo ateniense desagradava a muitas Tebas. Durante a Batalha de Leuctras, em 371 a.C., a
cidades da Grécia, que se sentiam ameaçadas. Esparta revolta dos escravos em Esparta, obrigando grande
passou, então, a apoiar os antigos aliados de Atenas, parte dos soldados a suspender sua campanha na
que se rebelavam contra sua hegemonia. Essas cidades defesa da cidade, conduziu os tebanos à vitória, sob o
e as do Peloponeso foram reunidas na formação de uma comando dos generais Epaminondas e Pelópidas.
poderosa liga terrestre, conhecida como Liga do O período da hegemonia tebana foi marcado pela
Peloponeso. libertação dos messênios do domínio de Esparta e pela
Em 431 a. C., teve início a Guerra do Peloponeso, conquista e submissão da Tessália, Trácia e Macedônia.
que deixou a Grécia completamente exaurida pelas Para consolidar seu domínio militar, Tebas iniciou a
destruições. No começo do conflito, enquanto Atenas construção de uma esquadra, o que lhe valeu a oposição
conduzia sua frota contra a região do Peloponeso, de Atenas. Em 362 a.C., Atenas e Esparta, agora aliadas,
Esparta atacou a Ática, causando grande pânico na impuseram a derrota a Tebas, na Batalha de Mantineia.
população, que foi surpreendida pela peste. Péricles O enfraquecimento das pólis, em decorrência de tantas
morreu vitimado pela doença em 429 a. C. lutas, facilitou a conquista da Grécia por Filipe, rei da
Macedônia.

As alianças das cidades-Estado e as guerras de hegemonia que fragilizaram o mundo grego.

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6. O Período Helenístico artística, são uma das formas estruturais mais simples,
não concebidos para receber multidões. Os cultos eram
O período das hegemonias gregas levou ao enfraq- realizados na parte externa, muito mais importante do que
uecimento geral das cidades-Estado. Os macedônios, o interior, cujo acesso era exclusivo aos sacerdotes e

HISTÓRIA AD
povo de origem ariana que habitava a região ao norte da onde era colocada a estátua do deus protetor da cidade.
Grécia, liderados por seu rei Felipe II, conquistaram toda Os templos eram construídos sobre uma plataforma de
a Grécia na Batalha de Queroneia, em 338 a. C. dois ou três degraus, denominada estereóbato, que junto
Alexandre Magno, filho de Felipe, sucedeu-o ao às colunas forma a parte sustentadora, deter minando a
trono, consolidando a conquista da Grécia e expandindo ordem arquitetônica. Apesar da ordem dórica ser a mais
o Império para o Oriente. Em 333 a. C., na Batalha de popular, destaca-se também a ordem jônica, que possui
Issos, Alexandre destruiu um imenso exército persa colunas mais delgadas, com ligeiro estriado, e o estilo
comandado pelo próprio rei Dario III; no ano seguinte, coríntio, mais ornamentado, na procura de enriquecer a
marchou para a Fenícia, conquistando a importante cidade ordem jônica.
de Tiro, e deslocou-se, em seguida, para o Egito, onde os Dentre as principais obras, destacam-se: o Parthenon;
sacerdotes do templo de Amon-Rá o receberam como o o Erectheion; o Pórtico das Cariátides; e o Templo de
filho do deus; em 331 a. C., Alexandre invadiu o centro Atena Niké.
do Império Persa, sendo coroado rei dos persas.
O Império Macedônico conquistou ainda a Palestina
e a Índia, fundando um dos mais vastos impérios da
humanidade. Em 323 a. C., antes que pudesse organizar
suas conquistas, Alexandre Magno morreu na Babilônia,
aos 33 anos de idade, em razão de uma febre violenta.
Com sua morte, em 323 a.C., o Império dividiu-se em
três reinos, centrados na Macedônia, no Egito e na
Mesopotâmia. Entre 197 a.C. e 31 a.C., todos esses
territórios foram conquistados pelos romanos.

7. Características da arte grega

A Grécia Antiga alcançou notável nível de desenvol-


vimento artístico e cultural. A arte grega é uma arte
antropocêntrica, exprimindo valores de equilíbrio,
harmonia, ordem, proporção e medida, sendo empe- A ordem dórica e a jônica, principais estilos da arquitetura grega.
nhada em exaltar a beleza e o calor da vida humana, não
a vida além-túmulo.
Nessa arte, é condenado o mistério. Os artistas
gregos não estavam sujeitos às limitações impostas pelos
sacerdotes e reis, como na maioria das civilizações
orientais, e tiveram suas ideias da filosofia racionalista e
humanista dominantes.
A arte grega não se voltava apenas para a estética,
mas sobretudo visava demonstrar o orgulho do povo por
sua cidade. Dessa forma, a arte era também a expressão
da vida política dos cidadãos. A busca do equilíbrio, a
forma de pensar e filosofar e a valorização do humanismo
foram, em certa medida, a fonte de toda a cultura ocidental.
O período mais brilhante da civilização helênica
(grega) corresponde ao século V a.C., em Atenas, o Parthenon, o mais célebre dos templos gregos, arquitetado por Ictino e
chamado “Século de Péricles”, o período clássico da decorado por Fídias.

cultura grega.
Escultura
Arquitetura No final do século VII a. C., apesar da influência das
civilizações orientais, a escultura grega começou a mani-
Dos edifícios da arquitetura grega, os templos foram
festar suas próprias características, utilizando-se dos
os mais importantes. Apesar de toda a sua excelência
depósitos locais de pedra e mármore. Os escultores
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HISTÓRIA AD

Praxíteles foi um dos maiores es-


Vitória alada de Samotrácia. Vênus de Milo. Chefe gaulês e sua mulher.
cultores do Período Clássico.
Afrodite de Cnidos.

gregos, interessados na representação anatômica, aproxi- interpretados por homens. As peças dividiam-se entre
maram-se mais da realidade, observando as leis de tragédias e comédias. Em Atenas, onde havia concursos
proporção e simetria e rompendo definitivamente com de tragédia no teatro de Dionísio, surgiram grandes poetas
as influências externas. trágicos. Ésquilo exaltou a glória de Atenas e o poder dos
Os grandes nomes da época são Fídias, amigo de deuses justiceiros em Os Persas, Os Sete contra Tebas
Péricles e diretor de todos os seus projetos de e Orestíada; Sófocles mostrou os heróis às voltas com o
construção; Praxíteles, com a estátua de Hermes; e destino em Antígona e Édipo Rei; Eurípedes, espírito
Miron, autor do Discóbulo. crítico, menos religioso que os anteriores, interessou-se
mais pelos homens, suas paixões, grandezas e misérias
Pintura e cerâmica em Alceste e Medeia. Os autores cômicos foram bem
A pintura era muito utilizada em cerâmica, com uma recebidos em Atenas, entre os quais o favorito no século
forte decoração linear ou de figuras geometrizadas, V a.C. era Aristófanes. Amigo da vida tradicional, atacava
notando-se a ausência de paisagens. Seus temas eram com vigor os partidários da guerra em A Paz, os excessos
os feitos dos deuses e semideuses e amores olímpicos. dos juízes populares em As Vespas e os inovadores
Encontram-se também cenas de jogos atléticos, de excessivos em Os Novos.
funerais e de carros de corrida, destacando-se, pela
liberdade de inspiração, observações anatômicas,
combinando de uma forma engenhosa as quatro cores
clássicas: preto, amarelo, branco e vermelho. Entre os
maiores representantes da pintura grega, destacam-se
Zêuxis e Apeles.
A indústria de cerâmica, que teve seus principais
centros em Atenas e Corinto, funcionou sob a pressão
das exigências dos mercados internos e externos,
comportando uma grande variedade de objetos, utilizados
como recipientes de vinho, azeite, mel e perfumes.

O teatro grego
O teatro, criação dos gregos, era ao ar livre. Os Teatro do Santuário de Delfos.
atores usavam máscaras e os papéis femininos eram

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Outros gêneros nas ideias de Sócrates e Platão, sistematizou os princípios


A poesia teve em Píndaro seu grande representante, da Lógica.
celebrador dos vencedores dos jogos gregos. Na
Cultura helenística

HISTÓRIA AD
História, Heródoto de Halicarnasso (pai da História) foi
prosador das Guerras Médicas, fazendo uma análise Com as conquistas de Alexandre Magno, houve gran-
equilibrada e buscando as causas da guerra e seus fins. O des transformações no Mundo Grego. Sua política consis-
ateniense Tucídides contou a Guerra do Peloponeso com tia em fundir a cultura grega com a dos povos
objetividade, apesar de seu amor por Atenas. orientais, a fim de que desaparecessem os rótulos de
A filosofia grega começou na Ásia (Jônia), com Tales conquistadores e conquistados. As influências não ocor-
de Mileto, e, no sul da Itália, com Pitágoras. No séc. V
reram apenas de Ocidente para Oriente, mas também de
a.C., a ascensão do homem médio nas cidades gregas
Leste para Oeste. A arquitetura, pintura e es cultura
trouxe uma nova preocupação: solucionar os problemas
gregas nada ganharam, uma vez que os artistas helenísti-
práticos mais intimamente ligados ao próprio homem.
cos desprezaram a noção de equilíbrio e harmonia, traços
Esta nova corrente deu origem aos sofistas, que procu-
mercantes da arte helênica, preocupando-se em dominar
ravam dar ênfase aos argumentos, mesmo que seus
resulta dos fossem falsos. Sócrates, considerado um dos um realismo exagerado e sensacionalista. Na arquite-
maiores filósofos gregos, continuou fiel aos antigos tura, a suavidade dos templos gregos cedeu lugar às cons-
métodos filosóficos, buscando sobretudo um método de truções de suntuosos palácios e casas espaçosas e
reflexão. Criticou duramente os sofistas, sendo conde- confortáveis, bem como edifícios burocráticos que simbo-
nado à morte, acusado de corromper a juventude e de lizavam a riqueza e o poder, refletindo o sentimento indivi-
introduzir novos deuses. Seu maior discípulo foi Platão, dualista do período. Um exemplo deste exagero é o Farol
que deixou muitos escritos, destacando-se suas obras de Alexandria, com 120 metros de altura, tendo no topo
políticas, como a República, na qual considera essenciais oito colunas para sustentar o recipiente do combustível
a sabedoria, a bravura e a justiça. Aristóteles, com base fornecedor de luz.

8. Cronologia

Séc. VIII a.C. – Governo monárquico em Atenas. 476 a.C. – Confederação de Delos e início da Terceira
Séc. VII a.C. – Governo oligárquico em Atenas. Guerra Médica.
621 a.C. – Legislação de Drácon. 448 a.C. – Tratado de Susa e fim das Guerras
594 a.C. – Legislação de Sólon. Médicas.
560-527 a.C – Tirania de Pisístrato. 431 a.C. – Início da Guerra do Peloponeso.
527-514 a.C. – Tirania de Hípias e Hiparco. 404 a.C. – Vitória de Esparta na Guerra do
508 a.C. – Governo aristocrático de Iságoras Peloponeso.
507 a.C. – Reforma democrática de Clístenes. 371 a.C. – Batalha de Leuctras.
492 a.C. – O rei persa Dario I exige a submissão dos 362 a.C. – Batalha de Mantineia.
gregos. 338 a.C. – Domínio macedônico sobre a Grécia
490 a.C. – Batalha de Maratona (Primeira Guerra 808-168 a.C. – Civilização macedônica
Médica). 356-323 a.C. – Alexandre, o Grande
480 a.C. – Batalha das Termópilas (“300 de Esparta”)
– Batalha de Salamina (Segunda Guerra
Médica).

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1. (Unicamp) – O filósofo Aristóteles (384-322 a.C.) definiu a cidadania 2. (PUCRS Medicina 2022) – No desenvolvimento da história política
HISTÓRIA AD

em Atenas da seguinte forma: das cidades gregas da Antiguidade, Atenas ocupou um papel importante
A cidadania não resulta do fato de alguém ter o domicílio em certo lugar, na formulação de novos conceitos e formas de organização do poder. A
pois os estrangeiros residentes e os escravos também são domiciliados chamada época de Péricles representa um momento crucial da vida
nesse lugar e não são cidadãos. Nem são cidadãos todos aqueles que política grega. Faz(em) parte do(s) aspecto(s) do contexto social e político
participam de um mesmo sistema judiciário. Um cidadão integral pode dessa época a
ser definido pelo direito de administrar justiça e exercer funções a) elaboração de reformas legais totalmente excludentes e valorativas
públicas. do poder oligárquico.
b) implantação de um sistema exclusivamente oligárquico, mas sem
Adaptado de Aristóteles, Política. Brasília: Editora UnB, 1985, p. 77-78. participação na Bulé.
c) construção e afirmação da democracia, mas com exclusão política
a) Indique duas condições para que um ateniense fosse considerado das mulheres.
cidadão na Grécia clássica no apogeu da democracia. d) formação e expansão dos princípios da cidadania na Res Publica
b) Os estrangeiros, também chamados de metecos, não tinham Imperial.
direitos integrais, mas tinham alguns deveres e direitos. Identifique
um dever e um direito dos metecos.

3. (MACKENZIE–2019-adaptado) – A Confederação de Delos,


organizada no século V a.C., que chegou a registrar cerca de 400 poleis
gregas, está vinculada à
a) derrota grega nas Guerras Púnicas e à necessidade de unir forças
para enfrentarem um inimigo em comum.
b) extinção do sistema de produção escravista grego e ao caos
econômico que tal fato determinou.
c) unificação política das cidades-Estados gregas a fim de fazerem
frente à invasão macedônica.
d) defesa por parte grega do controle comercial do Mediterrâneo
oriental diante da ascensão persa.
e) supremacia de Atenas diante das demais cidades gregas após a
vitória sobre os macedônios.

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4 (PUC-SP) – 5. As consequências das conquistas de Alexandre, entre outras, foram:


“Segundo as minhas pesquisas, foram assim os tempos passados,
embora seja difícil dar crédito a todos os testemunhos nesta matéria. (...) I. Formação de grandes focos da cultura helenística: Alexandre
A explicação mais verídica, apesar de menos frequentemente alegada, é, fomentou a fusão entre vencedores e vencidos. Dez mil soldados

HISTÓRIA AD
em minha opinião, que os atenienses estavam tornando-se muito gregos e macedônicos casaram-se com mulheres persas. Ele
poderosos, e isto inquietava os espartanos, compelindo-os a recorrerem mesmo desposou a filha do rei Dario III, Estátira;
à guerra. (...)”. II. Difusão da cultura grega: a língua grega foi assimilada por muitos
(TUCÍDIDES. História da Guerra do Peloponeso. povos. A escrita grega substituiu a escrita cuneiforme e demótica. A
Brasília: Editora Universidade de Brasília, Instituto de Pesquisa de indumentária grega e o mobiliário foram adotados pelos vencidos,
Relações Internacionais; São Paulo: Imprensa Oficial do Estado de bem como cerimônias, danças e canções;
São Paulo, 2001. XLVII, 584, pp. 13-15.) III. Progresso econômico: com o desenvolvimento do comércio e o
renascimento da agricultura. O tráfico da seda e da porcelana
intensificou-se. As cidades tornaram-se grandes centros mercantis.
A partir do texto, pode-se afirmar que Tucídides
Os portos foram restaurados. Estradas foram abertas. Levantaram-
a) estudou as estratégias utilizadas na Guerra de Troia em sua formação
se fortalezas para proteger as caravanas de mercadores;
como general e registrou a sua própria experiência como
IV. O Império macedônico iniciado por Felipe II e prolongado por
combatente no conflito com os persas.
Alexandre o Grande pôs fim a independência das polis gregas e com
b) concluiu que a Guerra do Peloponeso ocorreu devido a um crescente
a democracia como forma de governo.
poder que ameaçou os demais, de acordo com a lógica do poder.
c) reconstituiu a Guerra do Peloponeso comparando os relatos dos
Responda com apoio no seguinte código:
líderes políticos das várias cidades envolvidas, chegando à verdade
a) desde que apenas I esteja correta.
dos fatos.
b) desde que apenas II esteja correta.
d) pesquisou as Guerras Médicas, conflito entre gregos e persas, e
c) desde que apenas III e IV estejam corretas.
concluiu que a vitória grega deveu-se à superioridade política das
d) desde que todas estejam corretas.
cidades-Estado sobre o poder imperial.
e) desde que todas estejam erradas.

– 13
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MÓDULO 3 Justiniano e Carlos Magno


1. Império Bizantino Política
HISTÓRIA AD

A estrutura política de Constantinopla inspirava-se no


Quando o imperador romano Constantino escolheu a despotismo dos imperadores de Roma, evidenciado no
região de Bizâncio para construir a sede da Nova Roma, poder ilimitado do soberano sobre todos os setores da
a antiga colônia grega tinha o aspecto de um simples vida nacional. O imperador controlava não apenas o poder
povoado. Localizada em um promontório da Trácia, entre temporal, com uma burocracia eficiente, como também o
a Europa e a Ásia, junto ao Mar Negro e ao Mediterrâneo espiritual, subordinando a Igreja ao Estado, o que ficou
Oriental, a cidade possuía excelente posição estratégica, conhecido como cesaropapismo.
tornando-se em pouco tempo uma potência marítima e
continental. Economia
Constantino trouxe arquitetos, artesãos e valiosas
A economia do Império Bizantino era essencialmente
obras de arte das mais diversas regiões do Império
agrícola e de bases escravistas. Existia ainda um impor-
Romano, construindo a cidade em um ritmo frenético e
tante comércio, que tinha como principais centros Antio-
dando-lhe o esplendor de uma grande capital: a cidade de
quia (Síria), Alexandria (Egito) e a própria Constantinopla.
Constantino, Constantinopla.
O forte controle do Estado desestimulava os
Inaugurada em 11 de maio de 330, Constantinopla foi
investimentos particulares, principalmente por causa dos
produto da fusão de elementos latinos, gregos, orientais
monopólios estatais de setores vitais da economia.
e cristãos. Ela apresantava uma população bastante
heterogênea, composta de maioria grega ou de habi-
tantes helenizados e de um grande número de imigrantes Religião
estrangeiros. A língua grega e a religião cristã constituíam Em seus primeiros séculos, a religião cristã mostrou
a união dessa cidade cosmopolita que, por volta do século certas divergências interpretativas, o que levou o
V, devia atingir cerca de um milhão de pessoas. imperador Constantino a convocar o Concílio de Niceia
Em 395, o imperador Teodósio dividiu o Império (325) com o objetivo de uniformizar a doutrina. A esse
Romano entre seus dois filhos: Honório ficou com o concílio, seguiram-se muitos outros, os quais consoli-
Ocidente, e Arcádio, com o Oriente. Tratava-se, em prin- daram um corpo doutrinário oficial, qualificando as
cípio, de uma divisão puramente administrativa e não divergências como heresias. Mesmo assim, houve
política, porém, com a constante pressão dos povos quem continuasse a defender variações da doutrina,
bárbaros acelerando a decadência do Ocidente, a divisão notadamente no Império Bizantino.
tornou-se uma condição permanente.

Mapa do Império Bizantino.

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O povo discutia a religião com ardor, muitas vezes Entretanto, a política interna do governo de
questionando os dogmas básicos do cristianismo e Justiniano não possuía grande aprovação. No início de seu
dissimulando fortes competições políticas. reinado esteve a ponto de ser deposto por uma suble-
As heresias encontraram adeptos fervorosos no Im- vação ocorrida no hipódromo de Constantinopla. Presente

HISTÓRIA AD
pério Bizantino. As mais importantes foram as seguintes: durante uma corrida de cavalos, Justiniano se desen-
tendeu com os torcedores insultando-os e sendo igual-
• Arianismo: Doutrina segundo a qual era Cristo mente xingado. A polícia prendeu alguns, porém seus
uma criatura de natureza puramente humana. companheiros os libertaram e, a partir daí, um conflito
generalizado teve início contra o imperador. Os sediciosos
• Nestorianismo: sustentava que se deveriam gritavam “Nika” (em grego, vitória) enquanto atacavam
distinguir em Cristo duas naturezas, a humana e a divina, as tropas do Estado. Tal evento durou cinco dias.
sem que pudessem se fundir. Justiniano temeu enfrentar a multidão e muitos de
seus conselheiros lhe sugeriram que fugisse. Teodora, no
• Monofisismo: Doutrina daqueles que admitiam entanto, interferiu impedindo-o. Justiniano, envergonhado
em Jesus Cristo somente a natureza divina. de sua fraqueza, ordenou ao general Belisário que
reprimisse a revolta. Com as tropas na rua, 30.000 foram
Governo Justiniano (527-565) mortos e a rebelião, sufocada.
Flavius Justinianus assumiu o trono em 527 e A “Revolta de Nika” evidencia o descontentamento
assumiu o papel de um verdadeiro imperador romano, com os efeitos do forte controle do Estado sobre a
bem como de um monarca oriental. Controlava a diplo- religião, a economia, as leis e os altos impostos.
macia, as finanças, as leis e os negócios militares, A morte de Justiniano (565) foi festejada pela popu-
cercando-se de uma autoridade absoluta e dando ao seu lação de Constantinopla, que esperava, a partir daí, um
poder caráter quase sagrado. período de paz e diminuição da excessiva carga tributária.
No plano religioso, procurando evitar que o Seus sucessores enfrentaram profundas dificuldades na
divisionismo afetasse a unidade do Império, combateu condução da administração, e assim o Império Bizantino
fortemente as heresias. Graças, porém, à forte influência entra em um lento processo de decadência.
da imperatriz Teodora, adepta do monofisismo, tentou
conciliar os interesses dessa heresia com a ortodoxia Decadência do Império
defendida pela Igreja, evitando dessa forma um choque Durante a Dinastia Isáurica (717 a 802), surgiu o
direto com a Igreja de Roma. movimento iconoclasta, por meio do qual o imperador
A política externa defendida por Justiniano consistia Leão III proibiu a representação e o culto às imagens
em restaurar as antigas fronteiras do Império Romano por sagradas, ordenando sua destruição, o que provocou forte
meio de guerras ofensivas. Visando a isto, o imperador reação da população e do papado romano.
estabeleceu uma “paz perpétua” com os persas, seus Os patriarcas (arcebispos) de Constantinopla sempre
antigos inimigos do lado oriental. demonstraram certa relutância em aceitar o papa, bispo
Reconquistou o norte da África frente os vândalos e de Roma, como suprema autoridade da Igreja. Essa
venceu os ostrogodos na Itália, fundando o Exarcado atitude de insubmissão contava com o respaldo dos
(governo militar) de Ravena. Mais tarde conquistou a imperadores, interessados em eliminar a influência papal
Espanha meridional aos visigodos fazendo com que o sobre a Igreja do Oriente. Assim, em 1054, o patriarca
Império Bizantino alcançasse seu limite máximo de Miguel Ceruláreo, tomando como pretexto uma diver-
expansão militar e geográfica. Com a morte do imperador, gência sobre a Santíssima Trindade, recusou-se a con-
no entanto, as regiões da África e Espanha caíram sob tinuar obedecendo ao papa. Essa recusa provocou o
domínio árabe. Era o fim do sonho de reconstrução do chamado Cisma do Oriente, que deu origem à Igreja
Império Romano. Católica Ortodoxa Grega, separada da Igreja Católica
Como legislador, Justiniano resolveu fazer uma Apostólica Romana. A ruptura do patriarca com o papado
revisão e uma codificação do Direito existente para que foi respaldada pelo imperador bizantino, fazendo com que
correspondesse às necessidades reais e servisse como a nova Igreja se subordinasse inteiramente ao imperador
base legal para o seu governo. Redigida por uma bizantino.
comissão de juristas presidida por Triboniano, a obra, que Além das crises de ordem interna, o Império conti-
recebeu o nome de Corpus Juris Civilis , contém quase nuava a sofrer ameaças em suas fronteiras. A crise
2.000 anos de jurisprudência romana. Esta recodificação econômica agravou-se e a fragilidade política fragmentou
do direito romano serve, até hoje, de modelo para as cada vez mais o poder central, até a queda de Constan-
nações europeias e para a América Latina. tinopla, em 1453, para os turcos otomanos, o que pôs
fim ao Império Bizantino.

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2. Cronologia

Império Bizantino 730 – Início do Movimento Iconoclasta.


HISTÓRIA AD

527-565 – Reinado de Justiniano. 1054 – Cisma do Oriente


532 – Revolta Nika. 1453 – Queda do Império Bizantino

Os mapas assinalam a evolução da monarquia francesa após a fragmentação do Império Carolíngio.

3. Império Carolíngio Fracos e quase sem nenhuma autoridade, os príncipes


herdeiros foram denominados reis indolentes. A partir
Origens – Reino Franco daí, o Reino Franco passou a ser administrado pelos
As invasões germânicas, na realidade, abriram as major domus, prefeitos de palácio.
portas do Império Romano para a entrada dos francos, Mais tarde, Carlos Martel subordinou os major
que se constituíram no reino mais poderoso da Europa domus à sua autoridade e, após deter o avanço muçul-
Ocidental. Suas origens remontam à figura mítica de mano na Batalha de Poitiers, em 732, deu continuidade
Meroveu que, aliado aos romanos, ajudou a combater os à centralização política, uma vez que a Igreja devia a ele a
hunos, passando à tutela de Roma. Em 476, quando a continuação de sua supremacia sobre a Europa.
“cidade eterna” foi conquistada definitivamente pelos
hérulos, os francos puderam iniciar o seu expansionismo Dinastia Carolíngia
territorial.
Em 751, seu filho Pepino, o Breve deu início a uma
Dinastia Merovíngia nova dinastia, a Carolíngia, remetendo a seu pai. Em 756,
Pepino lutou contra os lombardos, tomando-lhes os
Em 496, Clóvis, líder dos francos, derrotou os
territórios no centro da Itália, que foram doados à Igreja.
alamanos e foi Batizado em Reims com seus 3.000
guerreiros no dia 25 de Dezembro. Esse feito mostrou a Esses territórios, que aumentaram o poder do papa,
aliança do Estado com a Igreja, fortalecendo o poder real. ficaram conhecidos como Patrimônio de São Pedro.
Clóvis e seus descendentes passaram a ser o braço Com a morte de Pepino, o trono passou para seu
armado do catolicismo, o que assegurou o aumento do filho, Carlos Magno. O herdeiro Carolíngio lutou contra os
número de fiéis da Igreja Católica. saxões, anexou a Saxônia (parte da Alemanha) e a Baviera
Os herdeiros de Clóvis envolveram-se em contendas e reconquistou Barcelona, Pamplona e Navarra, criando
sangrentas, enfraquecendo sobremaneira o poder central. marcas na Espanha.
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Durante os 46 anos de governo, Carlos Magno e que Carlos receberia a França Ocidental. Essa divisão
procurou aprimorar a administração, centralizando seu foi fundamental para a estruturação do feudalismo,
poder e introduzindo ordem e disciplina nos negócios do uma vez que descentralizou o poder real, dando assim
Estado. O Império Carolíngio foi dividido em condados absoluta autoridade para os nobres dirigentes das

HISTÓRIA AD
ou circunscrições territoriais, cuja autoridade era exercida províncias.
conjuntamente por um bispo e um conde. Como os Com a morte de Luís II, herdeiro de Lotário, a França
litígios entre o poder espiritual e o temporal eram cons- Central foi repartida entre Luís, o Germânico, e Carlos, o
tantes, foi criado o cargo de missi dominici (enviado do Calvo, o que enfraqueceu ainda mais o Império Carolíngio,
soberano), que anual mente visitava uma determinada tendo em vista que as devastadoras invasões dos
região do Império para a consolidação da verdadeira normandos o atingiam naquele momento. Alguns nobres
justiça real. sobressaíram-se na luta, pois o rei não tinha mais condi-
As leis do Império Carolíngio seguiam as capitulares ções de ajudar os súditos e deter o avanço da nobreza
ou as ordens obrigatórias para todo o Império, abrangendo feudal que se formava. Em 987, Hugo Capeto, conde de
a referida “constituição” os mais diversos assuntos. Paris, pôs fim à dinastia Carolíngia, substituída pela nova
Durante o seu governo, a decadência cultural e dinastia que se formava, a dos Capetíngios.
literária de seus antecessores foi questionada, levando o
Reino Franco a um verdadeiro renascer das letras e das
artes, o Renascimento Carolíngio. Grandes mestres
estrangeiros foram trazidos à corte do grande imperador.
Talvez o êxito esperado não tenha sido logrado, porém há
de se destacar o esforço do Império em tentar combater
a corrupção da língua e do pensamento.
No Natal do ano 800, Carlos Magno foi coroado
Imperador Romano do Ocidente, cargo desocupado
desde 476.
Em 814, com a morte de Carlos Magno, assumiu a
chefia do reino franco Luís, o Piedoso. O novo monarca
não conseguindo conciliar a fé com a razão administrativa,
resolveu dividir o reino entre seus filhos: Carlos, o Calvo;
Luís, o Germânico; e Lotário.
Após um longo tempo de luta entre os herdeiros, foi
decidido, mediante o Tratado de Verdun, em 843, que:
Lotário ficaria com a Itália e com uma parte da antiga
Austrásia, que devido a isso passou a chamar-se
Lotaríngia; que Luís herdaria a França Oriental (Alemanha);

4. Cronologia

Império Carolíngio
751-768 – Reinado de Pepino, o Breve e início da
330 – Fundação de Constantinopla pelo imperador
Dinastia Carolíngia
Constantino.
756 – Criação do Patrimônio de São Pedro.
395 – Divisão do Império Romano por Teodósio.
771-814 – Reinado de Carlos Magno.
476 – Fim do Império Romano do Ocidente.
814-840 – Reinado de Luís, o Piedoso.
481-511 – Reinado de Clóvis e início da Dinastia
843 – Tratado de Verdun.
Merovíngia.
962 – Fundação do Sacro Império Romano-
711 – Conquista, pelos muçulmanos, da Península
Germânico.
Ibérica.
987 – Início da Dinastia dos Capetíngios, na França.
717-741 – Reinado de Carlos Martel
732 – Carlos Martel vence os muçulmanos em
Poitiers.

– 17
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1. (UNICAMP – 2019) – “Havia em Alexandria uma filósofa chamada 2. (Espm) – Observe a imagem, leia o texto e responda:
HISTÓRIA AD

Hipátia que foi admitida na escola de Platão, demonstrando competência


para ensinar as ciências a todos os que o desejassem. Hipátia
interrogava: “Por que as estrelas não caem do céu?” E respondia:
“Porque seguem a rota mais perfeita, que é o círculo do céu em torno
da Terra, que, por sua vez, é centro do cosmos.” Acreditando nesta
tradição e movida pela curiosidade, ela instigava: “Se você não
questiona aquilo em que acredita, não pode acreditar.” Além disso,
acrescentava: “Eu acredito na filosofia e é preciso nos livrarmos de
todas as ideias preconcebidas de qualquer natureza.” Na história da
filosofia, Hipátia é considerada uma expoente do neoplatonismo. A
oposição entre o neoplatonismo e o cristianismo teria marcado o tempo
em que ela viveu. Para o filósofo Pierre Hadot, o neoplatonismo foi um
foco de resistência ao cristianismo. Essa resistência continuou até 529,
quando o imperador Justiniano proibiu os pagãos de ensinar, fechou as
escolas filosóficas de Atenas e passou a perseguir filósofos em
Alexandria. Nesse contexto, a matemática Hipátia foi assassinada em Depois da queda do Império Romano do Ocidente (476) Roma caiu num
415, em Alexandria, por cristãos fanáticos.” período de obscuridade enquanto Constantinopla permanecia o farol da
(Adaptado de Salma Tannus Muchail, Notícias de Hipátia. Labrys, civilização e da cultura, sendo constantemente embelezada por
estudos feministas, v. 23, jan./jun. 2013. Disponível em monumentos magníficos. Um deles, Santa Sofia, obra-prima da
https://www.labrys.net.br/ labrys23/ filosofia/salma.htm. arquitetura, erguida no século VI e considerada pelos historiadores de
Acessado em: 10 jul. 2017.) arte como a oitava maravilha do mundo. Em 1453 Constantinopla foi
submetida ao domínio de outro povo e o monumento passou por
A partir do texto proposto e de seus conhecimentos históricos e filosóficos, modificações exteriores e interiores.
a) identifique dois princípios filosóficos defendidos por Hipátia; Assinale a alternativa que apresente, respectivamente, os responsáveis
b) aponte e explique uma motivação do imperador Justiniano para pela construção e pelas posteriores alterações em Santa Sofia:
perseguir correntes de pensamento não cristãs. a) gregos – persas;
b) gregos – turcos seljúcidas;
c) bizantinos – árabes muçulmanos;
d) bizantinos – turcos otomanos;
e) francos – hindus.

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3. Sobre o fase histórica chamada de Alta Idade Média, considere as O Saltério de Chludov, hoje na Rússia, é um dos mais importantes
seguintes afirmações. documentos provenientes do Império Bizantino. Essa iluminura, em
especial, retrata um importante movimento sociopolítico ocorrido nesse
I. Carlos Magno foi o artífice do processo de unidade de grande parte Estado, denominado

HISTÓRIA AD
do antigo território romano na Europa. a) Cesaropapismo, a aliança entre o Imperador e o Patriarca.
II. Os núcleos urbanos foram importantes centros econômicos e b) Iconoclasmo, o movimento pela destruição dos ícones religiosos.
culturais, devido, em parte, à reabertura do mar Mediterrâneo pelos c) Bizantinismo, a discussão interminável sobre temas exotéricos.
cruzados no século IX d.C. d) Cisma, a excomunhão mútua entre as igrejas Católica Romana e
III. A Europa cristã, fragilizada pelo declínio do Império Carolíngio, foi Ortodoxa Oriental.
vítima de inúmeras invasões, principalmente por parte dos povos e) Iluminismo, a política em prol da ilustração dos manuscritos.
escandinavos e Islâmicos.

Com base em seus conhecimentos, quais delas estão corretas?


a) Apenas I.
b) Apenas II.
c) Apenas I e III.
d) Apenas II e III.
e) I, II e III.

5. (UECE) – Após o fim do Império Romano do Ocidente em 476 d.C.,


o panorama político e cultural europeu encontrou-se extremamente
fragmentado e, aos poucos, iniciou-se o processo feudal. Considerando
essa proposição, escreva V ou F conforme seja verdadeiro ou falso o
4. (UPE-SSA) – que se afirma a seguir sobre a periodização relativa ao feudalismo.

( ) Entre os séculos VI-VIII formaram-se os reinos romanos-bárbaros.


( ) No ano de 800 d.C. Carlos Magno criou o Sacro Império Roma-
no-Germânico.
( ) O Sacro Império Romano-Germânico foi dividido em três partes em
843.
( ) O sistema Feudal firmou-se em toda a Europa entre os séculos IX
e XI d.C.

A sequência correta, de cima para baixo, é:


a) F, V, F, F.
b) V, F, V, F.
c) V, V, V, V.
d) F, F, F, V.

Iluminura do Saltério de Chludov. Bizantino, séc. IX.

(Disponível em: https://en.wikipedia.org/wiki/File:Clasm_Chludov.jpg.


Acesso em: 10 jul. 2017.

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MÓDULO 4 O Feudalismo e a Igreja na Idade Média


1. Introdução senhores ou nobreza), relações comunitárias (entre os
HISTÓRIA AD

servos) e relações servis (que ligavam o mundo dos


O sistema feudal corresponde ao modo de organiza- senhores ao mundo dos servos).
ção da vida durante a Idade Média. Suas origens re-
montam à crise do Império Romano a partir do século III. Economia
Costuma-se dividir o período em duas fases: Alta A unidade de produção era o feudo, constituído, na
Idade Média e Baixa Idade Média. A Alta Idade Média, maioria das vezes, pela terra, que podia ter uma extensão
século V ao XI, corresponde à formação e consolidação variável. A economia feudal era totalmente baseada na
do sistema feudal; a Baixa Idade Média, século XI ao XV, agricultura e no pastoreio, utilizando-se de técnicas
caracteriza-se pela crise do feudalismo e início da rudimentares, que geravam uma baixa produtividade. A
formação do sistema capitalista. produção era autossuficiente, desvinculada da ideia de
lucro. O único comércio existente era feito por meio de
2. Origens trocas in natura, isto é, produto por produto,
praticamente inexistindo a circulação monetária.
O processo de formação histórica do sistema feudal As terras do feudo estavam divididas, pelo uso, em
tem seu ponto de partida na crise do século III do Império três partes: reserva ou manso senhorial, de uso
Romano e acentua-se no século V, com as invasões particular do senhor; manso servil, que compreendia as
bárbaras. A retração do escravismo, a formação do terras ocupadas pelos camponeses; e as terras comuns,
colonato e a posterior implantação de um regime servil formadas pelos pastos, bosques e prados. As terras de
constituem o passo decisivo para a formação do sistema. cultivo eram identificadas por uma aldeia ao centro,
Por outro lado, os germanos que invadiram o Império cercada por campos abertos. Devido ao seu uso
Romano levaram consigo relações sociais comunitárias, constante, o desgaste aparecia rapidamente. O grande
de exploração coletiva das terras e subordinação aos progresso para o cultivo da terra foi a substituição do
grandes chefes militares (comitatus). As invasões bárba- sistema tradicional de plantio pela técnica de rotação
ras, além de despovoar as cidades, aumentando a trienal, que consistia em deixar a gleba descansando por
população rural, dificultaram as comunicações e provo- um ano após cultivá-la por dois anos seguidos
caram o isolamento das localidades, forçando-as a adotar
uma economia de subsistência autossuficiente. Obrigações servis
O islamismo também colaborou com a retração
O regime de trabalho era servil, na medida em que
europeia com seu poderoso processo de expansão. No
os produtores diretos eram os servos, os quais trans-
início do século VIII, a conquista muçulmana chegava à
feriam para o senhor feudal a maior parte da produção,
África e à Península Ibérica, sendo detida na Gália pelo
por meio de uma série de obrigações, transmitidas de
líder franco, Carlos Martel.
pai para filho, em caráter compulsório. Dentre as
Entre os séculos IX e XI, a Europa foi assolada por
principais obrigações, destacamos: corveia – dois ou três
uma nova onda de invasores. Vindos da Noruega, Dina-
dias de trabalho semanal nas terras do senhor feudal;
marca e Suécia, os vikings fizeram incursões no litoral da
talha – metade da produção obtida pelo servo em sua
Bretanha, saqueando mosteiros em busca de tesouros.
gleba era destinada ao senhor feudal; banalidades –
Posteriormente, aprofundaram-se na França, atacando
imposto pago em produto pela utilização das benfeitorias
várias cidades e estabelecendo acampamentos. Mais
do feudo, como o uso do moinho, do forno e das
tarde, ao descobrirem o caminho para o Mediterrâneo,
moradias; mão-morta – tributação paga pelo servo
avançaram sobre a África, Península Ibérica e França,
quando herdava um arrendamento.
subindo bem acima do Rio Ródano.
Os constantes ataques contra as cidades litorâneas,
Sociedade
principalmente os antigos entrepostos comerciais,
forçaram suas populações a fugir para os campos, A sociedade feudal era estamental e fortemente
cristalizando o processo de ruralização. hierarquizada, podendo ser comparada a uma pirâmide.
A Igreja, na condição de ordenadora ideológica do
3. O Feudalismo feudalismo, justificava a formação social do período
como tendo sido determinada pelo próprio Deus. Este a
O feudalismo pode ser definido de vários modos. A teria dividido em três ordens ou camadas, cada qual com
melhor maneira, porém, é defini-lo conforme suas uma atribuição específica. De acordo com essa
relações sociais básicas: relações vassálicas (entre os interpretação, a sociedade cristã compreendia o clero

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(membros da Igreja, teorizavam sobre a sociedade), a Política


nobreza (senhores feudais e guerreiros) e os servos O poder político no sistema feudal era exercido pelos
(trabalhadores, a mão de obra do modo de produção senhores feudais, daí seu caráter localista. Não tendo
feudal).

HISTÓRIA AD
autoridade efetiva, os reis apenas aparentavam poder,
Existiam também categorias intermediárias, tais pois na prática existia uma descentralização político-
como: os vilões (camponeses livres); os ministeriais administrativa. A principal relação política medieval foi a
(corpo de funcionários livres do senhor); e escravos (em de suserania e vassalagem.
número muito pequeno, pois não havia guerras de Impossibilitados de defender o reino, os soberanos
expansão, além de a Igreja condenar a escravização de delegaram essa tarefa aos senhores feudais. Por isso, e
cristãos). com vistas a se protegerem, os senhores procuravam
relacionar-se diretamente por um compromisso: o
juramento de fidelidade. O senhor feudal que o
prestasse tornar-se-ia vassalo e aquele que o recebesse
seria seu suserano. Na hierarquia feudal, suseranos e
vassalos tinham obrigações recíprocas, pois à
homenagem prestada pelo vassalo correspondia o
benefício concedido pelo suserano. Essa relação definia-
se em um rito denominado “cerimônia de investidura”
ou “cerimônia de adubamento”.

4. Igreja medieval

Com a decadência do Império Romano, apenas uma


instituição conseguiu sobreviver: a Igreja Católica. Du-
rante a Idade Média, a Igreja fugiu dos princípios que a
originaram, integrando-se às estruturas feudais, forne-
cendo as bases teóricas e materiais para o funciona-
A sociedade feudal
mento do feudalismo.
era estamental, e a Assim, a Igreja, única instituição organizada me-
nobreza e o clero dieval, determinava as regras de comportamento social,
sobrepunham-se aos hierarquizava a sociedade, condenava a usura, mono-
demais membros. polizava a cultura e a educação, influenciava gover-
nantes e era grande proprietária de terras.

Clero secular
Administrativamente, a Igreja estava dividida em
arcebispados ou arquidioceses, sob a responsabilidade
de arcebispos; abaixo destes, estavam os bispos,
responsáveis pelos bispados ou dioceses. Alguns
arcebispos e bispos tinham o título de cardeais – o mais
alto da hierarquia católica, abaixo somente do papa. O
conjunto de cardeais, arcebispos e bispos formava o alto
clero. Seguindo-se aos bispos, mas já integrados ao
baixo clero, havia os párocos ou vigários, sacerdotes
responsáveis pelas paróquias – igrejas locais que
reuniam os fiéis de uma aldeia ou de um bairro urbano.
Finalmente, subordinados aos párocos, vinham os padres
comuns, instalados em igrejas menores. Essa era a
estrutura do clero secular, ou seja, que possuía contato
direto com os fiéis e constituía a espinha dorsal da
Ilustração do século XV para o Tratado de Trabalhos Rurais de Pietro de
Crescenzi (1233-1321), mostrando as múltiplas atividades de um servo Igreja.
medieval. À esquerda, vê-se um senhor feudal com um falcão, utilizado
para caçar outras aves.

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Clero regular aparentemente, à Querela (ou questão) das Investiduras.


Desde o século IV, certos cristãos passaram a afastar- Posteriormente, Henrique IV levou seu exército à
se da sociedade e a viver isolados, dedicados à oração e Itália, destituiu o papa e indicou Clemente III para ocupar
o trono papal. O conflito só teve seu desfecho em 1122,
HISTÓRIA AD

ao ascetismo (sacrifício das necessidades físicas, com


vistas a aperfeiçoar as qualidades espirituais). Conhecidos com a Concordata de Worms, quando uma assembleia
como eremitas, existiram principalmente no Oriente composta de príncipes alemães e funcionários eclesiás-
Próximo, mas não chegaram a constituir uma organização. ticos firmou um acordo estabelecendo que os futuros
No século VI, surgiu na Itália um movimento inspira- bispos seriam investidos nos símbolos de sua autoridade
do nos eremitas, mas que, no lugar de religiosos solitá- política pelo rei, jurando ao monarca fidelidade como
rios, pretendia criar comunidades autossuficientes que vassalos, mas ficava reservado ao arcebispo investi-los
vivessem afastadas do mundo laico. Seus membros, nos símbolos espirituais.
denominados monges (do latim monachos), viveriam em
mosteiros (do latim monasterium), isto é, em estabele-
cimentos construídos para abrigar tais comunidades. Daí
esse movimento ter sido denominado monaquismo ou
monasticismo.

Reformas
Em determinado momento, a interferência dos
senhores feudais na escolha dos abades acabou corrom-
pendo também grande parte dos mosteiros beneditinos.
A deterioração da vida religiosa provocou a revolta dos
mosteiros de Cluny e Cister, que clamavam pelo fim
dessa interferência e pelo retorno aos princípios origi-
nais defendidos por São Bento.
Dentro desse contexto marcado por movimentos
reformistas, destaca-se o surgimento dos frades no
século XIII, considerados uma espécie de monges,
sendo, porém, leigos. Ao invés de viverem enclausu-
rados, passavam seu tempo pregando a benevolência, a
pobreza e o ensino, mostrando que a principal impor-
tância da religião era o esclarecimento do ser humano, na
busca de uma sociedade mais justa. O grande precursor
desta nova ordem foi Francisco de Assis.
Nessa mesma época, tentando acabar com a
interferência do Estado em assuntos eclesiásticos, o
papa Nicolau II criou o Colégio dos Cardeais (1059) cuja
finalidade era afastar a influência do imperador na
escolha do papa, ou seja, eliminar o cesaropapismo. Territórios italianos reconquistados após a expansão carolíngia.

Querela das Investiduras 5. Cultura


O primeiro papa eleito pelo Colégio dos Cardeais, em
1073, foi Hildebrando, monge de Cluny, que recebeu o A vida cultural na Idade Média europeia estava com-
título de Gregório VII. Dentre suas principais medidas, pletamente presa à religião católica e aos interesses da
proibiu a investidura leiga (nomeação dos bispos e Igreja, mantenedora da produção artística de forma que
abades pelo imperador), o nicolaísmo (vida irregular do justificasse suas ideias e dogmas. Tal controle deu à
clero) e a simonia (compra e venda de cargos ecle- cultura medieval o estereótipo de “período das trevas”
siásticos por autoridades leigas e de objetos sagrados ou da arte. Esta visão deve, no entanto, ser revista, uma vez
espirituais). Henrique IV, imperador do Sacro Império que representa uma ideia posterior e depreciativa da
Romano-Germânico, negou-se a aceitar o decreto papal Idade Média forjada no período renascentista.
que proibia a investidura leiga, e foi excomungado. O Podemos dividir a vida artística e cultural da Idade
imperador foi obrigado a se humilhar, fazendo uma Média em seus dois períodos: Alta Idade Média, quando
peregrinação até a gelada região de Canossa, nos Alpes, temos o desenvolvimento da arte Românica; e Baixa
onde humildemente implorou o perdão papal, pondo fim, Idade Média, com a ascensão da arte Gótica.
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mento religioso, formando uma arte essencialmente


sacra. Assim, caracteriza-se pela construção de castelos
e mosteiros com paredes grossas, muros altos e janelas
pequenas, como forma de proteção, além de imagens

HISTÓRIA AD
religiosas, buscando sempre evangelizar o fiel. Na
pintura, temos as iluminuras (desenhos feitos por
monges junto a textos sagrados) e na música, houve o
florescimento do canto gregoriano.
Já a arte Gótica está ligada ao período do renasci-
mento comercial e urbano, a partir dos séculos XI e XII.
Aqui vemos, nas cidades, a construção de gigantescas
catedrais, com grandes e coloridos vitrais propor-
cionando iluminação interna e o arco ogival como
marco arquitetônico. Esta audácia da engenharia refletia
certa despreocupação com possíveis guerras de invasão
ou saques, muito recorrentes no período anterior. Apesar
de ter surgido no momento de crise do feudalismo, o
estilo gótico ficou marcado como o “representante” da
arte medieval, sendo seu nome derivado de uma
conotação pejorativa: os italianos do Renascimento
Cultural empregavam o vocábulo “godos” para designar
todos os povos bárbaros. A partir daí, originou-se a
palavra gótico (coisa de godo).
Assim como a igreja românica fora uma represen-
tação das comunidades rurais e das tranquilas artes dos
monges e de seus auxiliares camponeses, a catedral
gótica é uma obra das cidades e das operosas artes que
a vida urbana suscitava.
Desta forma, à sua maneira, além de o medievo ter
colaborado para a posteridade com sua arquitetura única,
deixou-nos também as universidades – surgidas na Baixa
São João Evangelista. Iluminura do Evangeliário do abade Wedricus
(século XII). Idade Média – e a filosofia escolástica, que conciliava o
racionalismo aristotélico com o espiritualismo cristão,
A arte Românica caracteriza o período do auge do harmonizando fé e razão. Daí o erro em denominar este
feudalismo, com o forte temor de invasões e a pre- momento artístico-cultural como uma “Idade de
sença em todas as comunidades de um mesmo senti- trevas”.

6. Cronologia

Século IV – Prenúncios socioeconômicos da 843 – Divisão do Império Carolíngio pelo Tratado de


formação do sistema feudal Verdun.
325 – Concílio de Niceia: organização da Igreja 874 – Viquingues noruegueses atingem a Islândia.
Católica. 899-955 – Incursões dos magiares (húngaros).
534 – Elaboração da regra beneditina. 910 – Fundação do Mosteiro de Cluny.
Século VII – Invasão muçulmana na Europa. 1059 – Criação do Colégio de Cardeais e instituição
756 – Criação do Patrimônio de São Pedro por do celibato clerical.
Pepino, o Breve. 1076 – Início da Querela das Investiduras.
790-840 – Ataques viquingues à Inglaterra. 1122 – Concordata de Worms.

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1. (UNICAMP–2022) – A grande recusa do corpo não se dá apenas no 2. (FAMERP – 2021) – Surpreende que os ritos vassálicos ponham em
HISTÓRIA AD

campo da sexualidade. A luxúria passa a ser cada vez mais associada à jogo três categorias de elementos: a palavra, os gestos, os objetos. O
gula. Por isso, as recomendações da Igreja passam a se dirigir tanto à senhor e o vassalo pronunciam palavras, fazem gestos, dão ou recebem
carne quanto à boca. Os pecados da carne e os pecados da boca objetos que, além da impressão que comunicam aos sentidos, fazem-
passam a caminhar de mãos dadas. Assim, a embriaguez é reprimida nos conhecer algo mais. (Jacques Le Goff. Para um novo conceito de
também como forma de controlar os “camponeses e os bárbaros", Idade Média, 1980. Adaptado.) O excerto apresenta o ritual de
muito apreciadores de bebedeiras. A indigestão é igualmente associada vassalagem, presente no Ocidente medieval, e identifica
ao pecado. A abstinência e o jejum dão o ritmo, portanto, do "homem a) a inexistência de hierarquia política entre o monarca e os senhores
medieval". Gordo oposto ao magro, Carnaval que se empanturra contra feudais.
Quaresma que jejua. A tensão atravessa o corpo medieval. b) os componentes simbólicos que estabeleciam o vínculo e a forma
de relação entre membros da nobreza.
(Adaptado de Jacques Le Goff e Nicolas Truong, Uma história do c) a isonomia de funções econômicas e de condição social nos setores
corpo na Idade Média. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2006, p. eclesiásticos.
58 e 59.) d) as estratégias legais que definiam as relações profissionais entre
proprietários de terras e trabalhadores.
A partir da leitura do texto e de seus conhecimentos sobre Idade Média, e) a constituição jurídica formal da tripartição da sociedade entre
responda às questões. nobres, clérigos e trabalhadores.
a) Cite e explique as tensões, que o texto menciona, relacionadas, no
período medieval, ao corpo.
b) Cite e explique duas diferenças, entre a sociedade medieval e a
sociedade contemporânea, no que diz respeito à percepção sobre o
corpo ideal.

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3. (2019) – “De fato, não é porque o homem pode usar a 4. (2019) – “O cristianismo incorporou antigas práticas
vontade livre para pecar que se deve supor que Deus a relativas ao fogo para criar uma festa sincrética. A igreja
concedeu para isso. Há, portanto, uma razão pela qual retomou a distância de seis meses entre os
Deus deu ao homem esta característica, pois sem ela não poderia viver nascimentos de Jesus Cristo e João Batista e instituiu a data de

HISTÓRIA AD
e agir corretamente. Pode-se compreender, então, que ela foi concedida comemoração a este último de tal maneira que as festas do solstício
ao homem para esse fim, considerando-se que se um homem a usar de verão europeu com suas tradicionais fogueiras se tornaram
para pecar, recairão sobre ele as punições divinas. Ora, isso seria injusto “fogueiras de São João”. A festa do fogo e da luz no entanto não foi
se a vontade livre tivesse sido dada ao homem não apenas para agir imediatamente associada a São João Batista. Na Baixa Idade Média,
corretamente, mas também para pecar. Na verdade, por que deveria ser algumas práticas tradicionais da festa (como banhos, danças e cantos)
punido aquele que usasse da sua vontade para o fim para o qual ela lhe foram perseguidas por monges e bispos. A partir do Concílio de Trento
foi dada?” (1545-1563), a Igreja resolveu adotar celebrações em torno do fogo e
(AGOSTINHO. O livre-arbítrio. In: D. Marcondes. associá-las à doutrina cristã.”
Textos básicos de ética. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2008.) (L. Chianca. Devoção e diversão: expressões contemporâneas de
festas e santos católicos. Revista Anthropológicas, n. 18, 2007.
Nesse texto, o filósofo cristão Agostinho de Hipona sustenta que a Adaptado.)
punição divina tem como fundamento o(a) Com o objetivo de se fortalecer, a instituição mencionada no texto
a) desvio da postura celibatária. adotou as práticas descritas, que consistem em
b) insuficiência da autonomia moral. a) promoção de atos ecumênicos.
c) afastamento das ações de desapego. b) fomento de orientação bíblicas.
d) distanciamento das práticas de sacrifício, c) apropriação de cerimônias seculares.
e) violação dos preceitos do Velho Testamento. d) retomada de ensinamentos apostólicos.
e) ressignificação de rituais fundamentalistas.

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5. “É uma das maiores penas que um fiel pode receber da Igreja. O


fiel excomungado fica proibido de receber os Sacramentos e de fazer
alguns atos Eclesiásticos. A excomunhão faz parte das censuras no
Código de Direito Canônico, sendo uma das três mais duras e severas.
HISTÓRIA AD

A excomunhão então é uma disciplina que tem um sentido medicinal,


ou seja, uma oportunidade de um afastamento das pessoas envolvidas
no aborto, da comunhão de todos os bens espirituais que a Igreja
oferece, para que as mesmas repensem sua atitude, e na dimensão do
arrependimento, busquem a confissão e a pena, para retornar à
comunhão com o Senhor e com a Igreja: “Se reconhecemos nossos
pecados, então Deus se mostra fiel e justo, para nos perdoar os pecados
e nos purificar de toda injustiça”. (Cf. 1Jo 1, 9).”

Com base no texto acima bem como seus conhecimentos sobre a Igreja
católica medieval, podemos afirmar que:
a) A Igreja Católica utilizou a excomunhão como uma arma contra o
que considerava desvios doutrinários e também como um forte
mecanismo de intimidação de autoridades laicas e temporais, rivais
do poder espiritual do papado. Hoje apesar de todo o seu
simbolismo, a excomunhão perdeu muito de sua efetividade prática,
na condenação pela, Igreja, de posturas de foro pessoal e mesmo
de caráter político-científico.
b) A Igreja Católica utilizou a excomunhão como uma forma de
intimidação de rivais doutrinários Islâmicos. O forte alcance dessa
medida entre os fiéis do Islã, provocou uma reação xiita e sunita da
mesma intensidade em seus domínios. Em nossos dias, apesar de
todo o seu simbolismo, a excomunhão perdeu muito de sua
efetividade prática, pois a própria Igreja absorveu o apelo
cientificista de pesquisas e nos chamados avanços morais.
c) A excomunhão é universalmente aceita , por todas as religiões,
como uma forma de purificação da infidelidade doutrinária diante
dos abusos cientificistas e iconoclastas. Hoje, a excomunhão
manteve muito de sua efetividade prática, na condenação da
utilização de células tronco em pesquisas e da prática legal do aborto.
Em caso de riscos a gestante ou de estupro. Essa postura é muito
aceita por líderes científicos e chefes de Estado por todo o mundo.
d) A excomunhão é universalmente recusada, pela opinião pública
mundial, como uma forma bárbara e obscurantista de manutenção
da orientação doutrinária católica Em nossos dias, apesara de todas
a divulgação pela mídia de seu uso recorrente, a excomunhão
manteve pouco de sua efetividade, pois a religião e considerada
como uma postura pessoal que não deve reger o comportamento
prático do conjunto da sociedade.
e) A Igreja Católica utilizou a excomunhão como um instrumento de
afirmação de seu poder político sobre toda a cristandade. Com a
Reforma Protestante , a instituição da excomunhão passou a ser
considerado como um emblema da resistência ideológica daqueles
que se posicionavam contra a intolerância da Igreja Católica. Em
nossos dias com a retomada pela população a posturas religiosas e
ao misticismo, a excomunhão recuperou muito de sua efetividade,
chegando ao ponto de orientar políticas públicas e tendo total apoio
da opinião pública.

26 –
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MÓDULO 5 As Cruzadas e o Renascimento Comercial e Urbano


1. Introdução cavaleiros.

HISTÓRIA AD
Esse grande contingente humano, socialmente desa-
Entre os séculos XI e XV, profundas transformações justado, precisava de novas terras para sobreviver.
foram operadas na Europa Ocidental, período conhecido
como Baixa Idade Média. Fruto da instabilidade gerada 3. As Cruzadas
pela crise do feudalismo, a sociedade passou, nesse
período, por uma fase de transição que levou ao colapso Fatores
do Sistema Feudal e ao início da Idade Moderna. A intensa religiosidade da época constituiu um
motivo relevante para a realização das Cruzadas. Muitos
2. A crise do feudalismo daqueles que partiram para a conquista da Terra Santa
(Palestina) e da Cidade Santa (Jerusalém), fizeram-no na
A crise do feudalismo manifestou-se a partir do expectativa de assegurar a salvação eterna.
século XI mediante um crescimento populacional Devem-se considerar ainda outros fatores ligados à
incompatível com a produção feudal, estruturada para política da Igreja. O Cisma do Oriente – separação entre
uma economia de subsistência e uma situação demo- a Igreja de Constantinopla e a de Roma, ocorrida em 1054
gráfica estável. Esse desequilíbrio gerou a necessidade – ainda era recente, e o Papado buscava reunificar as duas
de se dinamizar a produção a partir do aprimoramento das Igrejas. Dentro desse projeto, os cruzados (católicos
técnicas agrícolas, além de se buscar uma solução para o romanos) poderiam obter a simpatia dos bizantinos (cató-
excedente demográfico. licos ortodoxos) propiciando-lhes ajuda militar contra os
Se por um lado o crescimento populacional esti- turcos seldjúcidas. Além disso, as Cruzadas também
mulava o aumento da produtividade, por outro gerava serviriam para uma reafirmação do poder papal, uma vez
também um grande contingente de mão de obra ociosa. que o Papa Urbano II estava no exílio devido à Querela
Antigos servos e vilões transformaram-se em vendedores das Investiduras.
ambulantes ou se estabeleceram nos núcleos urbanos Também podemos considerar a crise interna no islã,
como artesãos. Outros tornaram-se salteadores de agora fragmentado devido à formação dos diversos califa-
estradas, andarilhos ou simples mendigos. Essa margi- dos durante a expansão dos séculos anteriores.
nalização trouxe como consequência o aumento da Na verdade, a reação cristã começou dentro da
belicosidade, marcada por assaltos e sequestros a ricos própria Europa, por iniciativa de ibéricos e das cidades

A Cruzada dos Reis em direção à Terra Santa, da qual participaram: Ricardo Coração de Leão, da Inglaterra; Filipe Augusto, da França; Frederico Barba-Ruiva,
do Sacro Império.

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italianas, promovendo a Guerra de Reconquista para 4. Renascimento Comercial e Urbano


regiões onde, mais tarde, formar-se-iam Portugal e
Espanha. Os cristãos retomaram o controle do Mar
Em 1095, no Concílio de Clermount, o papa Urbano II Mediterrâneo por meio das Cruzadas. A abertura do
HISTÓRIA AD

convocou a cristandade para uma guerra santa contra o Mediterrâneo à navegação cristã fez renascer o
islã. Ao todo, foram realizadas oito Cruzadas entre 1095 comércio entre Ocidente e Oriente, dinamizando as
e 1270. Apesar de um início bem sucedido por parte dos relações comerciais há muito tempo amortecidas. Novos
cristãos – quando Jerusalém foi conquistada na Primeira produtos entram em circulação, as moedas voltam a ser
Cruzada –, a partir da Segunda Cruzada os europeus usadas no intercâmbio comercial: uma nova vida
começaram a enfrentar uma série de dificuldades na econômica começava a surgir na orla do Mediterrâneo.
manutenção de seus novos domínios orientais. A
ocupação superficial, as lutas entre ordens religiosas e a 5. Renascimento comercial
incapacidade da Igreja em organizar uma força que
soubesse superar essas dissensões acabaram por tornar No início da retomada das atividades comerciais
as Cruzadas um insucesso militar. terrestres, as dificuldades foram muitas: desde a co-
brança de pedágios até as péssimas condições das estra-
Consequências das. Também foi difícil para o comércio marítimo, que
Embora tenham resultado em um retumbante carecia de instrumentos de navegação e de bons navios.
fracasso militar, as Cruzadas tiveram alguns efeitos No século XI, termina o domínio árabe sobre o
fundamentais para a evolução da história europeia. Mediterrâneo, que passa a ser controlado pelos comer-
Com efeito, o bloqueio imposto pelos árabes à nave- ciantes italianos. Estes, antigos marginais, dirigiam-se
gação cristã desde os séculos VIII e IX foi quebrado, e os das cidades italianas de Gênova e Veneza para os
europeus puderam utilizar as vias marítimas para alcançar entrepostos comerciais do Mediterrâneo Oriental:
a Terra Santa. A reabertura do Mediterrâneo trouxe Constantinopla, Alexandria, Cairo e Antióquia, que forma-
consigo o renascimento do comércio e o desenvol- vam a Rota do Mediterrâneo. De Flandres, seguindo o
vimento de uma vida cada vez mais urbana. Esse pro- roteiro dos antigos vikings através da Rússia, os comer-
cesso levaria ao colapso do sistema feudal e a transição ciantes chegavam a Constantinopla pela Rota do Mar do
para um novo modo de produção, o capitalismo. Norte.

As rotas comercias incrementaram o comércio na Baixa Idade Média.

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Veneza e Gênova, através da França, atingiam cidades francas. Em alguns casos, porém, a separação
Flandres, centro manufatureiro de lã, promovendo o ocorria pela luta armada, dando origem às comunas.
desenvolvimento das atividades comerciais nas feiras de Com a emancipação das cidades e o desenvol-
Champagne. Essa rota terrestre era denominada Rota de vimento do mercado consumidor, surgiram as oficinas,

HISTÓRIA AD
Champagne, que ligava os três centros dinâmicos do locais onde se realizava a produção artesanal. Dela fazia
comércio: Constantinopla, cidades italianas e Flandres. parte o mestre-artesão, oficiais e aprendizes.
Nesse contexto, observamos o surgimento da figura O desenvolvimento de muitas oficinas de um mesmo
do mercador, que vagava de domínio para domínio, ramo, numa mesma cidade, levou à formação das corpo-
exibindo-se frente às fortificações. No dorso de seus rações de ofício, que se tornaram instituições básicas na
animais, transportava os exóticos produtos do Oriente, vida econômica e social da Idade Média. Entre suas prerro-
especiarias e artigos de luxo até então pouco vistos no gativas estava a de manter o monopólio da sua produção,
Ocidente e que, mesmo vendidos em pequenas quanti- como também do mercado local, assegurando, dessa
dades, davam-lhe um assombroso lucro. forma, um sistema econômico estável, sem concorrentes.
Procurando evitar os perigos a que estavam sujeitos, O crescimento do comércio entre as cidades originou
os mercadores recorreram às feiras, instituídas para a formação de guildas e hansas, cuja finalidade era asse-
atender às suas necessidades, pois lhes forneciam um gurar vantagens comerciais, reservando o mercado para
salvo-conduto para ir e voltar. Estas formavam-se em as cidades participantes. As guildas eram verdadeiras
pontos estratégicos, os “nós de trânsito” (cruzamentos corporações de mercadores, que controlavam e regula-
de rotas). Dentro das feiras, desenvolveram-se técnicas vam a economia urbana. Em seus primórdios, tinham por
de comércio exterior, como a troca de moedas e princípio básico uma ajuda mútua entre seus membros.
atividades bancárias. Com o passar do tempo, tornaram-se as verdadeiras
direcionadoras da economia das cidades, monopolizando
6. Renascimento urbano em suas mãos todo o comércio da região. Temos como
exemplo, a Grande Hansa Germânica, criada em 1358,
Desde o século IX, devido ao profundo clima de visando proteger o comércio contra piratas e impor sua
insegurança provocado pelas invasões, a Europa foi vontade ao rei da Dinamarca, que cobrava altos pedágios
inundada pela construção de um grande número de sobre os mercadores.
castelos e fortificações, que surgiram com a finalidade Ainda como consequência do Renascimento Comer-
de proteção. Estes locais e as antigas cidades consti- cial e Urbano, temos o nascimento da arte Gótica. O
tuíram a base da formação de novos centros urbanos, a maior fluxo de riqueza e pessoas incentivou um novo
partir do desenvolvimento do comércio. estilo arquitetônico compatível com a pujança das
Os comerciantes procuravam locais estratégicos para cidades, mas ainda a serviço da Igreja Católica e satis-
se estabelecer: burgos (castelos fortificados), sedes de fazendo o ideal cristão europeu. Esse estilo era carac-
bispados, centros administrativos etc. Dentro das terizado pela construção de grandes catedrais com seus
muralhas das cidades, os mercadores gozavam de famosos arcos ogivais, vitrais coloridos e verticalidade,
segurança, porém estavam submetidos à autoridade do mostrando o poder econômico da região onde ficavam.
senhor feudal, que, paradoxalmente, tentava associar as
evoluções capitalistas aos princípios feudais.
Nas cidades, uma nova camada social exercia o
poder: a burguesia, de origem humilde, que começava a
rivalizar com a nobreza, disputando-lhe o poder político.
Os reis protegiam os comerciantes, dando-lhes autono-
mia e garantindo o fluxo de riquezas para a região.
Entretanto, o crescimento natural e a falta de planeja-
mento das cidades acarretaram-lhes péssimas condições
sanitárias, o que facilitava as epidemias e fazia crescer a
mortalidade e o fanatismo.
A partir do século XII, com o grande crescimento
urbano que se manifestava em decorrência da mudança
de mentalidade, essa nova classe de mercadores come-
çou a buscar seu processo de independência, livre da tutela
senhorial. Dessa forma, surgiram as cartas de franquia,
pelas quais as cidades conseguiram sua independência a Catedral de Reims, França, segundo os planos do arquiteto Jean
partir de acordos monetários, passando a denominar-se d’Orbais.

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7. Conclusão sem o manuseio do dinheiro e sem a ideia de lucro. Essa


nova concepção rapidamente entrou em choque com os
Esta nova realidade econômica era muito diferente princípios básicos da Igreja Católica, que, ao ver o
do feudalismo: a produção se destinava ao mercado, as
HISTÓRIA AD

comércio como uma atividade marginal, repudiou-o como


trocas eram monetárias; começavam a surgir o espírito
o gene destruidor da estrutura feudal.
de empresa e o racionalismo. Essa fase de transição não
As sociedades agrárias tendem a ser imóveis,
é ainda capitalista, mas também já não é mais feudal; por
estamentais. Com o desenvolvimento da riqueza mobi-
isso, vamos denominá-la pré-capitalismo, que corres-
ponde ao período entre os séculos XII e XVI. liária, do dinheiro, surge a mobilidade social, a possibili-
O mercador deu início a um novo caráter da vida dade de ascensão na escala social. A tradição deixa de
feudal, pois era o único que vivia dos produtos que não ser o único elemento de hierarquização na vida social,
produzia, e sua existência era a única que não se concebia pois o econômico começa a adquirir importância.

8. Cronologia

1270 – Oitava Cruzada.


Século XI – Início da crise feudal.
1160 – Surgimento da companhia dos mercadores da
718-1492 – Guerra de Reconquista na Península Ibérica.
Ilha de Visby, no Mar Báltico.
1096-1099 – Primeira Cruzada.
Século XIII – Aquisição, por parte de certas cidades, do
1147-1149 – Segunda Cruzada.
direito de cunhar moeda.
1189-1192 – Terceira Cruzada.
1358 – Formação da Grande Hansa Teutônica (ou Liga
1202-1204 – Quarta Cruzada.
Hanseática).
1212 – Cruzada das Crianças.
Fim do século XIV – Início da decadência das feiras
1217-1221 – Quinta Cruzada.
medievais.
1228-1229 – Sexta Cruzada.
1407 – Fundação do primeiro banco público da Europa,
1248-1250 – Sétima Cruzada.
em Gênova.

1. (UFPR) – Durante o período das Cruzadas, São Bernardo de Claraval


(1090-1153) escreveu:

“Mas os soldados de Cristo combatem confiantes nas batalhas do


Senhor, sem nenhum temor de pecar por pôr-se em perigo de morte e
por matar o inimigo. Para eles, morrer ou matar por Cristo não implica
qualquer crime, pelo contrário, traz a máxima glória. (...) Em outras
palavras: o soldado de Cristo mata com a consciência tranquila e morre
com a consciência mais tranquila ainda.”

(São Bernardo de Claraval apud COSTA,


Ricardo da. Apresentação: A Cruzada Renasceu? BLASCO VALLÈS, Almudena,
e COSTA, Ricardo da (coord.). Mirabilia 10. A Idade Média e as Cruzadas. jan.-
jun. 2010/ISSN 1676- 5818, p. XIII)

No que se refere às Cruzadas no período medieval, determine quem


eram esses soldados de Cristo referenciados no trecho acima, quais as
motivações para empreender suas batalhas e quais as suas
consequências para o mundo ocidental daquele período.

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2. (Espcex (Aman) 2022) – Por quase duzentos anos (1096 a 1270), a 3. (UNIFOR-Medicina-2022) – De acordo com os registros históricos,
região do Mediterrâneo Oriental viveu o movimento das Cruzadas, foi a partir do século XI que diversas cidades europeias se tornaram
expedições de perfil militar organizadas pela Igreja Católica. Relativa- importante entroncamento das rotas comerciais. Produtos caros, e
mente a esse assunto, é correto afirmar que altamente requisitados, oriundos do Oriente, se fizeram presentes na

HISTÓRIA AD
a) na Idade Média havia uma distinção rígida entre o poder do clero e Europa. Os comerciantes da época, mesmo transportando em pouca
dos nobres, o que pode ser percebido inclusive no movimento das quantidade, obtiveram altas taxas de lucro.
Cruzadas. (Vicentino, Cláudio . Olhares da história: Brasil e mundo. 1ª ed.
b) as Cruzadas levaram ao enfraquecimento do poder real, à medida São Paulo: Scipione, 2017, p. 182.)
que os senhores feudais ganhavam força com as expedições.
c) a luta de reconquista das Cruzadas não era desejada pelos De acordo com as informações acima, qual era a mais importante e
imperadores bizantinos, os quais, desde o Cisma do Oriente (1054), lucrativa rota comercial que conectava a Europa ao Oriente?
pretendiam combater os povos muçulmanos sem ajuda do Ocidente. a) O antigo caminho romano, que interligava o mar Mediterrâneo ao
d) havia outros interesses em jogo nas Cruzadas, como o comércio, continente africano, em direção ao rio Nilo, e depois, Jerusalém.
atividade em destaque no início do período, mas que perdeu b) O tradicional caminho das Cruzadas, que partia de Gênova e Veneza
importância no decorrer do tempo, dado que era considerada uma rumo aos centros comerciais do Mediterrâneo oriental.
atividade “mundana”. c) A antiga rota greco-romana, no caminho do norte da África, passando
e) para a historiografia dos países árabes, as Cruzadas foram a primeira pelo Egito, em direção ao sul da Pérsia, no oriente próximo.
manifestação do imperialismo ocidental. d) A rota marítima no oceano Atlântico, margeando a África, em direção
ao sul, no intuito de chegar até o litoral da Índia e da Oceania.
e) A nova rota traçada no leste europeu: partia de Paris, França, em
direção ao reino saxão, norte, até chegar ao oriente médio.

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4. (UFU-2021) – Dentre os fatores que contribuíram para o fim desse 5. (UNICAMP-2020) – O surgimento das primeiras universidades, nos
sistema, estão o renascimento da atividade comercial e o desen- séculos XII e XIII, marca um momento capital da história do Ocidente
volvimento tecnológico. Com a evolução dos transportes, por exemplo, medieval. Em relação à época anterior, esse momento comportou
houve a possibilidade de um maior número de mercadores realizar o elementos de continuidade e de ruptura. Os primeiros devem ser
HISTÓRIA AD

comércio, o que, de certa forma, incentivou o aparecimento das cidades. buscados na localização urbana das universidades, no conteúdo dos
CASTELLAR, Sonia. Geografia. 2. ed. São Paulo: Quinteto Editorial, ensinamentos, no papel social dos homens de saber. Já os elementos
2006, p.129. de ruptura foram inicialmente de ordem institucional. No âmbito das
instituições educativas, este sistema era novo e original. As comu-
O trecho acima remete à nidades autônomas dos mestres e dos estudantes eram protegidas
a) transição do comunismo primitivo para o escravismo. pelas mais altas autoridades leigas e religiosas daquele tempo,
b) transição do escravismo para o feudalismo. permitindo tanto progressos no domínio dos métodos intelectuais e em
c) transição do feudalismo para o capitalismo. sua difusão como uma inserção mais eficiente das pessoas de saber na
d) transição do capitalismo para o socialismo. sociedade da época.
(Adaptado de J. Verger, Cultura, ensino e sociedade no ocidente nos
séculos XII e XIII. Bauru: EDUSC, 2001, p.189-190.)

Considerando o texto e seus conhecimentos sobre o período medieval,


assinale a alternativa correta.
a) A Igreja Católica apoiava a estruturação das universidades medievais,
que representavam o avanço das ciências e a superação de dogmas
e das teorias teocêntricas.
b) A organização institucional diferencia as universidades medievais das
corporações de ofícios, visto que seu método de estudo estava
calcado na escolástica, caracterizando o atraso do mundo medieval.
c) Uma ruptura trazida pelas universidades medievais foi o início da
atuação dos copistas nas bibliotecas, que copiavam sistemati-
camente a produção de autores latinos críticos aos dogmas
religiosos.
d) A institucionalização das universidades medievais era um dado novo
no período; essas instituições se caracterizavam pelo apoio das
autoridades de dentro e de fora da Igreja, e pela maior autonomia e
inserção social de seus membros.

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MÓDULO 6 Contexto e Fatores da Expansão Marítima


1. Introdução comercializadas com os italianos; estes as levavam para

HISTÓRIA AD
o comércio europeu, no qual obtinham altos lucros. O
A História da América é anterior à chegada dos crescimento econômico foi tal que até mesmo as rela-
europeus ao continente, pois aqui se encontravam ções sociais de produção sofreram transformações. As
comunidades e sociedades indígenas, as mais diferentes obrigações servis, que eram, anteriormente, pagas com
entre si, com graus diversos de organização econômica, produtos e trabalho, passaram, em alguns casos, a ser
social e política. remuneradas em dinheiro.
No entanto é inegável que a conquista da América Essa dinamização das atividades comerciais trouxe
pelo branco provocou alterações jamais vistas pelos uma nova necessidade para a ampliação de mercados,
povos do continente. Por mais organizados militarmente que foi justamente a de metais amoedáveis. As minas
que fossem, esses povos não resistiram ao domínio europeias estavam esgotadas, e os metais preciosos
imposto pelos europeus. eram fundamentais para a economia pré-capitalista.
Porém, no século XIV, estas atividades capitalistas
2. Expansão Marítima sofreram seu primeiro grande golpe. A Guerra dos Cem
Anos (1337 a 1453), a Peste Negra e a fome formaram a
Fatores econômicos e sociais trilogia da chamada crise de retração, que significou uma
A conquista e colonização da América ocorreram no queda da mão de obra, da produção e do consumo.
momento de expansão capitalista, realizada pela Europa Entretanto, no século XV, percebeu-se que a solução
durante a fase de transição feudo-capitalista. para a crise estava fora da Europa, no processo que
No século XII, teve início a Baixa Idade Média, carac- ficou conhecido como Grandes Navegações. No começo
terizada pela crise do sistema feudal, cujas origens se en- desse século, Portugal deu inicio a uma série de inves-
contram na contradição entre o crescimento demográfico tidas marítimas no Oceano Atlântico - alcançando o norte
europeu e um modo de produção estático, o feudalismo. da África com a tomada de Ceuta, em 1415 – e apontando
A situação foi contornada pelo movimento das Cruzadas, os novos rumos para a economia europeia.
que, proposto pela Igreja Católica, levou à reabertura do
Mediterrâneo, monopolizado pelos comerciantes italia- Fatores políticos
nos. Em consequência, foram restabelecidos os contatos O declínio do feudalismo levou à perda da autoridade
comerciais entre Ocidente e Oriente, que deram origem política dos senhores feudais. À medida que a nobreza
ao Renascimento Comercial e Urbano e a uma nova perdia seu poder político, o rei surgia como autoridade
classe social, a burguesia. forte no território nacional, centralizando o poder em suas
Os produtos básicos dessas transações comerciais mãos. Mas a centralização do poder político não foi uma
eram as especiarias (cravo, canela, pimenta etc.), trazidas obra pessoal do monarca. Para tal tarefa, os reis contaram
do Oriente até os portos do Mediterrâneo pelos árabes e com o apoio das respectivas burguesias nacionais.

Trazidos pelos árabes da


África e do Extremo
Oriente, por via terrestre,
as especiarias e os artigos
de luxo alcançavam a
Europa pelo Mar
Mediterrâneo,
transportados por
genoveses e venezianos.
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A burguesia, nesse momento, perdia com a extrema que foi fundamental para a formação de um Estado
fragmentação territorial do feudalismo. A cada feudo que absolutista capaz de levar adiante os empreendimentos
atravessava para realizar o comércio, a burguesia era marítimos e comerciais
obrigada a utilizar-se de um novo tipo de moeda, pagar
HISTÓRIA AD

impostos aos senhores feudais em cada região e sub- Fatores culturais


meter-se às leis e sistemas de pesos e medidas dife- O Renascimento Científico, trouxe para os europeus
rentes. Assim, para a burguesia, a unificação territorial, o conhecimento e o aprimoramento de técnicas – tais
administrativa e política era importante, porque levaria ao como a bússola e o astrolábio, a cartografia, a construção
fim dos obstáculos e ao pleno desenvolvimento do naval e o uso da pólvora – que permitiram às nações
comércio. europeias se aventurarem pelos mares. Sendo assim, as
Dessa forma, surgiu a aliança entre rei e burguesia, grandes navegações não foram obra do acaso.

3. Cronologia

1000-1453 – Baixa Idade Média 1330-1453 – Crise de Retração


1095-1270 – Cruzadas Século XIII – Início do Renascimento Cultural

1. (UNESP) – “(...) A abertura de novas rotas, a fim de superar os en-


traves derivados do monopólio das importações orientais pelos
venezianos e muçulmanos, e a escassez do metal nobre implicavam
dificuldades técnicas (navegações do Mar Oceano) e econômicas (alto
custo dos investimentos) (...), o que exigia larga mobilização de recursos
(...) em escala nacional (...) A expansão marítima, comercial e colonial,
postulando um certo grau de centralização do poder para tornar-se
realizável, constituiu-se (...) em fator essencial do poder do Estado
metropolitano.”
(Fernando Novais, O Brasil nos quadros
do antigo sistema colonial.
In: Carlos Guilherme Motta (org.) Brasil em perspectiva.)

A partir do texto, responda:


Por que a centralização política foi condição para a expansão marítima
e comercial nos séculos XV e XVI?

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2. (FUVEST) 3. (PUC-RJ) – A expansão comercial e marítima, dos séculos XV e XVI,


foi uma experiência de grande impacto no mundo europeu, pois:
I. possibilitou a exploração das novas terras descobertas, por
intermédio de atividades econômicas propiciadoras do abastecimento

HISTÓRIA AD
de gêneros agrícolas e metais preciosos em larga escala.
II. utilizou-se de novas técnicas, possibilitadoras da ampliação dos
conhecimentos náuticos e astronômicos.
III. estimulou a difusão de relatos de cunho etnocêntrico sobre os povos
e terras extraeuropeus.
IV. propiciou a paz religiosa entre reformadores e ortodoxos, na medida
em que viabilizou a distribuição desses grupos pelos novos espaços
habitáveis do mundo colonial.

Indique a opção que apresenta as afirmativas corretas.


(Alexander Anievas e Kerem Nisancioglu, How the West Came to a) Somente as afirmativas I e II são corretas.
Rule. The Geopolitical Origins of Capitalism. Londres: PlutoPress, b) Somente as afirmativas III e IV são corretas.
2015. Adaptado.) c) Somente as afirmativas I, II e III são corretas.
d) Somente as afirmativas II, III e IV são corretas.
Encontram-se assinaladas no mapa, sobre as fronteiras dos países e) Somente as afirmativas I, II, III e IV são corretas.
atuais, as rotas eurasianas de comércio a longa distância que, no início
da Idade Moderna, cruzavam o Império Otomano, demarcado pelo
quadro. A respeito dessas rotas, das regiões que elas atravessavam e
das relações de poder que elas envolviam, é correto afirmar que
a) a China, com baixo grau de desenvolvimento político e econômico,
era exportadora de produtos primários para a Europa.
b) a Índia era uma economia fracamente vinculada ao comércio a longa
distância, em vista da pouca demanda por seus produtos.
c) a Europa, a despeito do poder otomano, exercia domínio
incontestável sobre o conjunto das atividades comerciais eurasianas.
d) a África Ocidental se encontrava em posição subordinada ao poderio
otomano, funcionando como sua principal fonte de escravos.
e) o Império Otomano, ao intermediar as trocas a longa distância,
forçou os europeus a buscar rotas alternativas de acesso ao Oriente.

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4. (FGV) – Leia com atenção o trecho de Os Lusíadas. 5. (UNICID) – “A partir de 1471, o rei de Portugal anexa São Tomé e
Príncipe, no golfo da Guiné: é a primeira colônia dessa era. Depois vêm
“Quem eram, de que terra, que buscavam, as grandes expedições marítimas, na virada do século XV para o século
Ou que partes do mar corrido tinham? XVI: o genovês Cristóvão Colombo, a serviço da Coroa espanhola,
HISTÓRIA AD

Os fortes Lusitanos lhe tornavam “descobre” a América em 1492, e o português Vasco da Gama, a Índia,
As discretas respostas que convinham: em 1498. Nos dois casos, trata-se de, simultaneamente, encontrar as
– «Os Portugueses somos do Ocidente, rotas das especiarias, apropriar-se das riquezas da Ásia e evangelizar as
Imos buscando as terras do Oriente. populações. A colonização atende, tanto para Portugal quanto para a
«Do mar temos corrido e navegado Espanha, a um projeto ao mesmo tempo comercial e religioso. Ouro e
Toda a parte do Antártico e Calisto, Cristo... .”
Toda a costa Africana rodeado; (Marc Ferro. A colonização explicada a todos, 2017.)
Diversos céus e terras temos visto;
Dum Rei potente somos, tão amado, Considerando o texto e conhecimentos sobre as expansões marítimas
Tão querido de todos e benquisto, e comerciais europeias, pode-se afirmar que a primazia das colonizações
Que não no largo mar, com leda fronte, estava relacionada
Mas no lago entraremos de Aqueronte.” a) às cidades-Estado tradicionalmente vinculadas ao comércio de
(Luís de Camões, Os Lusíadas, século XVI. Disponível em: produtos orientais.
http://www.dominiopublico.gov.br/download/texto/ua000178.pdf. b) aos Estados protestantes enriquecidos com o confisco dos bens da
Adaptado.) Igreja Católica.
c) aos processos de centralização do poder político nas monarquias
Sobre a chamada expansão marítima do século XVI, é correto afirmar: europeias.
a) Iniciou-se com o Périplo Africano, que representou o primeiro d) às sociedades europeias caracterizadas pela manutenção da
contato histórico dos europeus com os povos da África. sociedade feudal.
b) Foi possibilitada pelo processo de descentralização política e) à pressão demográfica em Estados de pequenas dimensões no
portuguesa, que garantiu a participação de grupos particulares nas continente europeu.
atividades marítimas.
c) Teve motivações análogas às da Reconquista, como a conquista de
terras e riquezas, a expansão do Cristianismo e o combate aos
muçulmanos.
d) Foi promovida pela Igreja estabelecida em Roma, que incumbiu os
Estados ibéricos de empreenderem a conquista de novos
continentes.
e) Foi provocada pelos avanços dos povos islamizados do Norte da
África sobre o sul do continente europeu.

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MÓDULO 7 Expansão Marítima: Ciclo Oriental


1. Origem de Portugal um conjunto de fatores político-econômicos, tais como o

HISTÓRIA AD
processo de centralização política e a formação de uma
A formação do Reino de Portugal está associada à monarquia nacional precoce, iniciada ainda na fase da
longa Guerra da Reconquista entre cristãos e muçul- Dinastia de Borgonha e planificada com a ascensão da
manos na Península Ibérica. Muitos nobres margina- Dinastia de Avis, após a Revolução de Avis, em 1385.
lizados pelas transformações do feudalismo participaram Esta última casa aparecia aliada a uma dinâmica burguesia
das lutas contra os mouros em troca de benefícios mercantil. Ademais, Portugal gozava de uma situação de
(feudos). Henrique de Borgonha recebeu do Rei de Leão paz interna conseguida após a ascensão de D. João I
e Castela, Afonso VI, terras si tua das entre os Rios Douro (primeiro rei da Casa de Avis) ao trono. Além desse
e Minho (Condado Portucalense). Em 1139, Afonso conjunto de fatores, temos o apoio do Estado português
Henriques, filho de Henrique de Borgonha, rompeu as (Avis) aos estudos e à arte náutica.
relações de suserania e vassalagem com os castelhanos Outro fator que colocou Portugal na condição de país
e intitulou-se rei de Portugal, fundando a Dinastia de pioneiro é a posição geográfica privilegiada desse país
Borgonha (1139-1383). ibérico: Portugal está situado na rota e na escala Mar
A consolidação do poder real ocorreu após a Mediterrâneo-Atlântico, que atinge o Mar do Norte e
Revolução de Avis (1383-85), quando a burguesia lusa importantes centros comerciais dessa área. Dessa forma,
apoiou a Casa de Avis num movimento que depôs a Portugal tinha uma certa tradição no comércio marítimo
Dinastia de Borgonha. Este processo fortaleceu a pelo fato de seus portos comerciais estarem relativa-
autoridade dos reis portugueses fazendo do país o mente desenvolvidos, privilegiados pela sua localização.
primeiro Estado Nacional com dirigentes detentores de
um poder verdadeiramente centralizado. 3. As viagens portuguesas

2. O Pioneirismo português Os lusitanos, lançando-se ao Atlântico, iniciaram o


chamado “ciclo oriental” devassando o litoral africano.
Entre os países europeus que participaram da Em 1415, a tomada de Ceuta pelo exército português
Expansão Marítimo-Comercial (Portugal, Espanha, Ingla- significou o marco inicial da Expansão Marítima Lusa.
terra, França e Holanda), coube a Portugal o pioneirismo Entre 1419 e 1456, foram descobertas as ilhas atlânticas
e a liderança inicial. Isso deveu-se, em primeiro lugar, a da Madeira, dos Açores e de Cabo Verde. Nesta fase,

Para realizar o Ciclo Oriental de Navegações, os portugueses organizaram sucessivas expedições que devassaram o litoral atlântico africano. Depois,
penetrando o Oceano Índico, navegaram até Calicute, na Índia.

– 37
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foram fundadas várias feitorias na costa africana para Oriente. A primeira e grande investida deu-se em 1500,
traficar escravizados e produtos locais (ouro, marfim, quando o reino ibérico organizou sua maior esquadra
pimenta-vermelha). militar, composta de 13 embarcações, sob o comando
Com a conquista de Constantinopla pelos turcos do almirante Pedro Álvares Cabral. Nesta viagem, foi
HISTÓRIA AD

(1453), os preços das especiarias orientais elevaram-se descoberto o Brasil, de forma intencional ou não, como
repentinamente, o que incentivou a busca de uma rota para parte do projeto de garantir a rota africana para o Oriente.
as Índias. Assim, com a morte do Infante D.Henrique A investida conquistadora atingiu os objetivos desejados.
(1460), que até então dirigira a expansão marítima portu- Entre 1509 e 1515, D. Afonso Albuquerque passou a ter
guesa, o Estado luso empenhou-se em completar o sucessivas vitórias no Oriente, sendo considerado o
“périplo africano”. Em 1471, os navegadores lusos
formador do Império Português nas Índias. A partir de
ultrapassaram a linha equatorial, penetrando no hemis-
1517, firmaram-se diversos acordos comerciais em
fério sul. Na costa sul da África, o português Diogo Cão,
feitorias e cidades da região da China (Pequim) e do
entre 1482 e 1485, atingiu a foz do Rio Congo e a região
Japão (Nagasaki).
de Angola.
A preservação deste vasto Império Oriental, entre-
O “périplo africano” foi completado em 1488, quando
Bartolomeu Dias alcançou o extremo sul, o Cabo da Boa tanto, implicou não apenas a formação de feitorias, mas
Esperança (anteriormente denominado “das Tormentas”). também excessivos gastos militares e com a burocracia
Estava, portanto, conquistado o caminho marítimo para o administrativa. Na década de 1530, o comércio lusitano
Oceano Índico. No entanto, a chegada dos lusitanos a oriental entrou em declínio por causa dos gastos, da
essa região somente ocorreu em 1498, com Vasco da corrupção administrativa, dos crescentes custos de
Gama, que atingiu a costa da Índia, Calicute e Goa, mas manutenção militar e da queda nos preços dos produtos
não chegou a empreender nenhuma conquista militar. orientais. No final do século XVI, o Império Lusitano (já
Portugal iniciou, no final do século XV e início do XVI, sob controle da Espanha) começou a ser invadido por
sucessivas tentativas de formar o seu Império no outros países e, no século XVII, foi desmantelado.

4. Cronologia

722-1249 – Guerra de Reconquista em Portugal 1498 – Viagem de Vasco da Gama


1139 – Fundação do Reino de Portugal por D. 1500 – Viagem de Pedro Álvares Cabral.
Afonso Henriques. 1507 – Os Portugueses conquistam Ormuz, no
1383-85 – Revolução de Avis Golfo Pérsico.
1415 – Conquista de Ceuta 1510 – Os Portugueses conquistam Goa, na Índia.
1444 – Descobrimento do Arquipélago de Cabo 1511 – Os Portugueses conquistam Malaca, na
Verde Malásia.
1454 – Chegada ao Golfo da Guiné 1557 – Chegada dos Portugueses a Macau na
1488 – Viagem de Bartolomeu Dias China.

1. (PUC-RJ) – A política expansionista empreendida pela Coroa


portuguesa desde o início do século XV pelo Atlântico, em direção à
África e à América Portuguesa, tinha como intuito a exploração
econômica, obtida por meio do comércio, sobretudo de produtos
tropicais, metais preciosos e escravos; e também objetivos geopolíticos
e religiosos com o estabelecimento das novas rotas atlânticas e a
expansão do cristianismo. Com relação à expansão do cristianismo nos
continentes americano e africano,
a) indique duas ações empreendidas pela Coroa portuguesa para
expandir o cristianismo na América portuguesa;
b) explique a relação entre a expansão do cristianismo e os interesses
comerciais portugueses em territórios africanos.

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3. (FAMERP)

HISTÓRIA AD
(Serge Gruzinski. 1480-1520: a passagem do século, 2008. Adaptado.)

Considerando o mapa e o contexto histórico, é correto constatar que


2. (FAMERP -2022) – Guinéus e negros tomados pela força, outros essas viagens
legitimamente adquiridos por contrato de compra foram trazidos ao a) estabeleceram as bases de uma economia planetária, com plena
reino, onde em grande número se converteram à fé católica, o que integração comercial entre as diversas partes do mundo.
esperamos progrida até a conversão do povo ou ao menos de muitos b) contribuíram para a globalização, ao conectar partes do mundo que
mais. [...] Por isso nós, tudo pensando com devida ponderação, por até então se ignoravam ou não se ligavam diretamente.
outras cartas nossas concedemos ao dito rei Afonso [de Portugal] a c) resultaram de equívocos e erros de navegação, mais do que de
plena e livre faculdade, entre outras, de invadir, conquistar, subjugar cálculos ou de um projeto expansionista organizado.
quaisquer sarracenos e pagãos, inimigos de Cristo, suas terras e bens, d) representaram a ampliação da hegemonia romana sobre o planeta,
a todos reduzir à servidão e tudo aplicar em utilidade própria e dos seus iniciada na Antiguidade Clássica.
descendentes. e) tiveram por objetivo a aquisição de escravos, daí privilegiarem rotas
(Apud: Ynaê Lopes dos Santos. História da África e do Brasil na direção da África e da Ásia.
afrodescendente, 2017.)

O excerto, extraído de uma bula emitida pelo Papa Nicolau V em 1454,


revela
a) o interesse econômico da Igreja católica nos negócios do tráfico
atlântico de africanos escravizados.
b) o repúdio da máxima autoridade da Igreja católica às formas de
trabalho servil e assalariado.
c) a aliança político-militar entre o Papado e o reino de Portugal na
defesa da conquista europeia da África.
d) o endosso oficial da Igreja católica à escravização de africanos, com
a finalidade de catequizá-los.
e) a tentativa de impedir a escravização dos nativos das colônias por
meio do estímulo à escravização de africanos.

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4. (UNESP) – “O dia em que o capitão-mor Pedro Álvares Cabral levan- 5. (FMABC) – A presença de portugueses e outros europeus na África
tou a cruz [...] era a 3 de maio, quando se celebra a invenção da Santa intensificou-se a partir do século XV, impulsionada por interesses
Cruz em que Cristo Nosso Redentor morreu por nós, e por esta causa comerciais. No contexto das trocas comerciais que se efetivaram, houve
pôs nome à terra que se encontrava descoberta de Santa Cruz e por crescente demanda por escravos. O comércio escravista estabelecido
HISTÓRIA AD

este nome foi conhecida muitos anos. Porém, como o demônio com o principalmente por portugueses, na África,
sinal da cruz perdeu todo o domínio que tinha sobre os homens, a) desestabilizou as trocas e as rotas comerciais vigentes no
receando perder também o muito que tinha em os desta terra, trabalhou continente, uma vez que o comércio de ouro, marfim e pedras
que se esquecesse o primeiro nome e lhe ficasse o de Brasil, por causa preciosas, até então hegemônico, foi abandonado e substituído pelo
de um pau assim chamado de cor abrasada e vermelha com que tingem tráfico de escravos gerido pelas feitorias portuguesas.
panos [...].” b) destruiu a convivência pacífica existente entre as sociedades
(Frei Vicente do Salvador, 1627. Apud Laura de Mello e Souza. africanas, uma vez que a disputa pelo abastecimento do tráfico
O Diabo e a Terra de Santa Cruz, 1986. Adaptado.) instituído pelos portugueses estimulou guerras religiosas, além de
provocar uma grande baixa demográfica.
O texto revela que c) alterou a estrutura econômica e a dinâmica do comércio escravista
a) a Igreja católica defendeu a prática do extrativismo durante o processo existente no continente, uma vez que passou a ser feito em enorme
de conquista e colonização do Brasil. escala, priorizando a captura massiva de homens para o
b) um esforço amplo de salvação dos povos nativos do Brasil orientou fornecimento de mão de obra às plantações coloniais no continente
as ações dos mercadores portugueses. americano.
c) os nomes atribuídos pelos colonizadores às terras do Novo Mundo d) aprofundou uma prática que existia há séculos, uma vez que o
sempre respeitaram motivações e princípios religiosos. comércio escravista africano era responsável pela riqueza de vários
d) o objetivo primordial da colonização portuguesa do Brasil foi impedir reinos, abastecendo não apenas o continente em questão, como os
o avanço do protestantismo nas terras do Novo Mundo. países árabes muçulmanos e europeus.
e) uma visão mística da colonização acompanhou a exploração dos e) desequilibrou as relações comerciais, culturais e políticas entre as
recursos naturais existentes nas terras conquistadas. diferentes sociedades africanas, uma vez que os reinos da costa
ocidental passaram a ser subjugados pelos reinos da África oriental,
engajados no tráfico escravista implementado por Portugal.

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Ciclo Ocidental e Consequências


MÓDULO 8
da Expansão Marítima

HISTÓRIA
1. Formação da Monarquia espanhola que, não obtendo êxito ao propor tal possibilidade ao rei
português, D. João II, procurou então pelos “reis
A Espanha atrasou-se nas navegações por causa de católicos”.
uma série de fatores que foram sendo superados, entre Dessa vez, Colombo obteve sucesso. Com apoio
eles a ausência de um Estado forte e centralizado. O financeiro da rainha Isabel de Castela, organizou sua
território espanhol permanecia dividido em reinos inde- expedição. Partiu do Porto de Palos, em 3 de agosto de
pendentes que às vezes guerreavam entre si. Esse pro- 1492, com três caravelas – Santa Maria, Pinta e Niña –,

AD
blema foi superado em meio à Guerra de Reconquista navegando em sentido ocidental. Em 12 de outubro do
Cristã, quando, em 1469, ocorreu o casamento dos “reis mesmo ano, momento em que se completava a
católicos” Fernando de Aragão e Isabel de Castela, que reconquista do território ibérico, Cristóvão Colombo
deram início à unificação dos diversos reinos locais sob chegava América (Ilha de Guanahani atual São Salvador),
uma única autoridade e à centralização monárquica possibilitando a formação de um imenso império para a
espanhola. A reconquista do território ibérico e, Coroa Espanhola. Após visitar outras ilhas, Colombo
consequentemente, a unificação territorial completaram- retornou à Espanha, onde anunciou a Isabel e Fernando
se com a expulsão dos muçulmanos do Reino de ter encontrado um novo caminho para o Oriente. Trouxe
Granada, em 1492. consigo alguns nativos, aos quais os europeus deram o
nome de índios, já que o navegador afirmava ter
desembarcado em terras localizadas nas Índias.
Colombo realizou mais três viagens, descobrindo
também as Pequenas Antilhas, Porto Rico, Jamaica,
Trinidad, o Continente Sul-Americano na foz do Rio
Orenoco e atingiu, finalmente, as costas da América
Central (atual Panamá).
O rumo oeste seguido por Colombo definiria todas
as expedições espanholas subsequentes, formando um
conjunto conhecido como “Ciclo Ocidental das Nave-
gações”.
Em 1513, Vasco de Balboa transpôs o Istmo do
Panamá e descobriu o Oceano Pacífico, a que deu o
nome de Mar do Sul. Essa notícia causou consternação
na Espanha, pois deixou claro que havia uma grande
massa líquida interpondo-se entre as terras visitadas por
Colombo e a Ásia. A partir daí, as expedições espanholas
passaram a priorizar a busca de uma passagem que
ligasse o Atlântico ao Pacífico, contornando o sul do
continente americano.
Em 1519, Fernão de Magalhães, português a serviço
da Espanha, recebeu o comando de 5 navios e 234
homens para tentar circum-navegar o globo terrestre. O
navegador morreu em uma escaramuça com nativos nas
Filipinas; mas os tripulantes remanescentes, coman-
dados por Sebastián Elcano, prosseguiram a viagem,
2. A chegada à América contornando a África e reentrando na Espanha em 1522,
com um navio e apenas 18 homens. Não obstante as
Como os portugueses buscavam o Oriente dificuldades encontradas, a viagem corroborou duas
navegando em sentido oriental, aos espanhóis restou informações de enorme relevância: a Terra era realmente
buscar o Oriente navegando em sentido ocidental. O esférica e Colombo não havia chegado ao Oriente, mas
principal partidário dessa ideia era Cristóvão Colombo, “descobrira” um Novo Mundo.

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HISTÓRIA AD

Viagens de Colombo à América.

3. Consequências da Expansão Marítima Europeia 4. Tratados territoriais

Entre as principais consequências da expansão marí- Diante da rivalidade que invariavelmente surgia entre
timo-comercial europeia, temos: Portugal e Espanha, pela disputa das terras recém-des-
cobertas, os dois reinos ibéricos firmaram uma série de
• Deslocamento do eixo econômico europeu do tratados de partilha.
Mediterrâneo para o Atlântico, acarretando a
decadência das cidades italianas. Tratado de Toledo (1480)
• O reaparecimento da escravidão. Ressalta-se que, Segundo tal tratado, anterior à fase mais intensa dos
a partir de então, ocorreu necessariamente a ade- descobrimentos espanhóis e do aumento da rivalidade,
quação do novo escravismo às exigências e às Portugal cedia à Espanha as Ilhas Canárias, no litoral
bases do pré-capitalismo nascente. africano, e recebia o monopólio do comércio e da
• Expansão do comércio europeu (Revolução navegação no litoral africano ao sul da Linha do
Comercial) e Revolução dos Preços, provocada Equador.
pelo grande afluxo de metais preciosos prove-
nientes da América. Bula Inter Coetera (1493)
• formação do sistema colonial tradicional, forte- Em função do aumento da rivalidade causado pelo
mente vinculado à política econômica mercan- descobrimento da América, o papa Alexandre VI, de
tilista. nacionalidade espanhola, mediou a questão.
• Acumulação primitiva de capitais, realizada pela Esse pontífice estipulou um meridiano divisório que
circulação de mercadorias (capitalismo comercial). passaria 100 léguas a oeste de Cabo Verde, o que
atendia a interesses hispânicos: a Espanha ficaria com
• Fortalecimento da burguesia mercantil nos países
as terras situadas a oeste do meridiano, recebendo,
atlânticos e consolidação do Estado Moderno
portanto, toda a América; e Portugal ficaria com as terras
(absolutista).
a leste, que na realidade eram uma vasta região do
• Europeização do mundo e expansão do catolicismo. Oceano Atlântico.

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Evidentemente, tal divisão provocou os mais veementes e enérgicos protestos do rei absolutista de Portugal, D.
João II, que passou radicalmente a exigir a mudança de tal acordo. Esse fato foi o que deu origem a um novo tratado.

HISTÓRIA AD
Tratado de Tordesilhas (1494)
Em função dos protestos portugueses, foi estipulada uma nova linha imaginária e divisória, passando, agora, 370
léguas a oeste das ilhas de Cabo Verde. Dessa forma, parte das terras do Brasil já passavam a pertencer a Portugal.
Com tal tratado, os países ibéricos procediam à divisão das terras do Ocidente.

Tratado ou Capitulação de Saragoça (1529)


Mediante esse acordo, os países ibéricos realizavam a partilha das terras orientais, criando também uma linha
imaginária e divisória que passaria pelas proximidades da região das Ilhas Molucas. Esse conjunto de tratados ibéricos
de partilhas das terras ocidentais e orientais provocou uma forte reação dos países marginalizados em Tordesilhas,
como Inglaterra, França e Holanda. Estes, a partir do século XVI, iniciaram uma série de represálias políticas aos ibéricos,
como ataques, saques de corsários e invasões das possessões ibéricas na América, na África e na Ásia.

5. Cronologia

1469 – Casamento dos Reis Católicos:

Fernando de Aragão e Isabel de Castela.

1492 – Fim da Guerra de Reconquista e

Descobrimento da América.

Maio/1493 – Bula Inter Coetera do papa Alexandre VI.

Junho/1494 – Tratado de Tordesilhas.

1499-1501 – Viagens de Américo Vespúcio

1506 – Morte de Colombo

1513 – Descobrimento do “Mar do Sul”

(Oceano Pacífico) por Vasco de Balboa.

1515 – Viagem de Juan de Solís até o rio da Prata

1519 – Início da primeira viagem de circunavegação,

comandada por Fernão de Magalhães.

1522 – Sebastián Elcano completa a primeira viagem de

circunavegação.

1524 – Exploração do litoral da América do Norte por

Verrazano (a serviço da Inglaterra).

1529 – Capitulação de Saragoça, delimitando os

domínios ibéricos no Oriente.


Apesar da resistência da França, Holanda e Inglaterra, o Novo Mundo foi
dividido entre Portugal e Espanha pelo Tratado de Tordesilhas.

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1. (FUVEST-2021) – No dia 12 de outubro de 1492, três navios a 2. (FUVEST) – A representação cartográfica a seguir refere-se à viagem
HISTÓRIA AD

serviço da coroa de Castela, comandados pelo navegador genovês de circunavegação, iniciada em Sanlúcar de Barrameda, na Andaluzia,
Cristóvão Colombo, chegaram às atuais Bahamas. Relacione tal em 20 de setembro de 1519, e comandada pelo português Fernão de
acontecimento com a Magalhães, a serviço da monarquia da Espanha. A despeito da
a) concepção medieval-cristã de que a Terra era uma criação de Deus; repercussão da viagem para o desenvolvimento dos conhecimentos
b) competição mercantil interestatal europeia de fins do século XV; náuticos e para a exploração do Oceano Pacífico, Battista Agnese foi
c) memória construída em torno dele em dois momentos dos séculos um dos poucos cartógrafos a registrar a empreitada de Magalhães.
XX ou XXI.

(Battista Agnese, Atlas Portulano, 1545. Biblioteca Digital Mundial.


Disponível em: https://www.wdl.org/pt/.)

A representação cartográfica de Battista Agnese


a) revelava a permanência das técnicas e sentidos simbólicos da
cosmografia medieval, que orientaram os navegadores ibéricos na
época da expansão ultramarina.
b) estava vinculada aos dogmas cristãos e procurava conciliar o registro
da viagem de Fernão de Magalhães com a perspectiva de Terra Plana
ainda presente entre letrados cristãos.
c) estava baseada nos relatos dos navegadores, no acúmulo de
conhecimentos acerca das rotas marítimas e em estimativas de
distâncias a partir de cálculos matemáticos e da planificação do globo
terrestre.
d) apresentava o Oceano Pacífico em suas reais dimensões de acordo
com o entendimento de Fernão de Magalhães e de Cristóvão
Colombo e em desacordo com as perspectivas cristãs.
e) estava assentada nos conhecimentos e detalhamentos geográficos
bíblicos e nas formulações cosmológicas de Ptolomeu, fundamentais
para o sucesso da viagem de Fernão de Magalhães.

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3. (MACKENZIE-2020) – “Com a longa depressão dos preços do c) associa a introdução de novos cultivos na África com o aumento do
açúcar brasileiro que persistiu na maior parte do século XVIII, o tráfico tráfico negreiro.
baiano com a Costa da Mina tornou-se a principal fonte de escravos na d) evidencia o escambo de produtos agrícolas americanos por cativos
economia colonial em um sistema assemelhado ao uso da geritiba do interior africano.

HISTÓRIA AD
(cachaça) pelos comerciantes do Rio na compra de escravos em e) destaca a importância da monocultura de exportação desenvolvida
Benguela e Luanda. Os baianos compravam escravos no ocidente da no Atlântico Sul.
África com tabaco de rolo feito com a parte não vendida da colheita e
resultante de um processamento inferior que o tornava um produto
agrícola de baixo custo em relação à indústria do fumo orientada para
mercados metropolitanos.”
(PANTOJA, Selma e SARAIVA, José Flávio.
Angola e Brasil nas rotas do Atlântico.
Rio de Janeiro: Bertrand, 1998. p. 27)

É possível inferir que o trecho acima indica que


a) A lucratividade do tráfico negreiro está relacionada com o baixo custo
na aquisição dos escravos em território africano e o alto valor desses
vendidos no litoral brasileiro.
b) A crise do açúcar brasileiro acarretada pela concorrência com o
5. (FGV) – “Nas vésperas dos Descobrimentos e no próprio momento
açúcar antilhano dinamizou o tráfico de escravos para o sudeste da
das viagens de Colombo, de Vasco da Gama e de Vespúcio, nenhuma
colônia.
das cinco representações da Terra descritas por Crates, Aristóteles,
c) A geritiba e a tabaco eram os únicos produtos aceitos nas trocas
Parmênides (as zonas), Lactâncio e Ptolomeu parece prevalecer. Embora
entre traficantes de escravos africanos e baianos.
elas nos apareçam como absolutamente incompatíveis, as quatro
d) O preço do escravo africano caiu vertiginosamente no litoral
primeiras tendem, com efeito, a conjugar-se para preservar o paradigma
brasileiro, durante o século XVIII, devido às crises econômicas
medieval de uma ecúmena* plana, colocada sobre uma esfera
coloniais.
‘cosmográfica’.”
e) A economia brasileira foi menos dependente da mão de obra
(RW. G. L. Randles. Da Terra Plana ao Globo Terrestre. Uma rápida
escrava, durante o século XVIII, devido à mineração e a uma nova
mutação epistemológica (1450-1520). Lisboa: Gradiva, 1990, p. 35.)
dinâmica econômica.
*ecúmena: área da Terra habitada pelos seres humanos.

Acerca das concepções sobre a Terra e da Expansão Marítima Europeia


afirma-se:
I. À época dos Descobrimentos, não havia nenhuma teoria acerca da
esfericidade da Terra, o que reforçava a posição de setores religiosos
que ainda sustentavam o mito bíblico da Terra Plana.
II. A viagem de circum-navegação realizada por Fernão de Magalhães,
entre 1519 e 1522, tornou-se um marco na História mundial por ter
comprovado a tese da esfericidade da Terra.
III. As lendas acerca da existência de monstros e de seres fantásticos
4. (FAMEMA-2020) – O avanço das culturas sul-americanas nas zonas
que habitariam os mares e terras desconhecidos faziam parte do
tropicais africanas conhece três etapas. Num primeiro tempo, a América
imaginário europeu à época dos Descobrimentos.
exporta mandioca através da Guanabara e do litoral vicentino. Numa
segunda etapa, a mandioca, o milho, a batata-doce e frutas sul-
Está correto o que se afirma em
americanas passam a ser plantados nas terras africanas. Num terceiro
a) I e III, apenas. b) I, II e III. c) II, apenas.
tempo, tais culturas espalham-se pelos sertões africanos.
d) II e III, apenas. e) I e II, apenas.
O uso do milho e da mandioca como ração dos povos da região
permitiu que os guerreiros negreiros dilatassem suas áreas de captura.
Roças de mandioca e milho são abertas nas áreas de parada e descanso
dos bandos, facilitando o transporte terrestre de um maior número de
cativos do sertão.
(Luiz Felipe de Alencastro.
O trato dos viventes, 2000. Adaptado.)

O historiador
a) relaciona a influência cultural africana com o desenvolvimento da
agricultura na América.
b) mostra o intercâmbio econômico entre os indígenas americanos e os
guerreiros africanos.

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MÓDULO 9 Civilizações Pré-Colombianas

1. Introdução da Ásia Oriental que atravessaram o Estreito de Bering


HISTÓRIA AD

na última glaciação (cerca de 40 mil anos), quando uma


A América é um continente com uma área aproxima- violenta mudança climática no planeta transformou o
da de 42 083 606 km2, ou seja, possui 28,2% das terras Estreito numa “ponte de gelo”, facilitando a locomoção
emersas do globo terrestre. Esse imenso continente entre os dois continentes. No entanto, essa explicação
teve um processo heterogêneo de conquista e domi- não é suficiente para justificar a heterogeneidade dos
nação pelos colonizadores europeus e, portanto, não é diversos povos pré-colombianos.
possível tratar a História da América de forma homo- A hipótese polinésia, defendida por Paul Rivet, sus-
gênea na atualidade, desconsiderando as especificidades tenta, com base nas semelhanças etnográficas, linguís-
do processo colonizador. ticas e biológicas, ter existido também um povoamento
A primeira coisa que é necessário saber ao se iniciar da América realizado por povos vindos da Polinésia.
o estudo da História da América é ter consciência de que Existe ainda a hipótese da arqueóloga brasileira
esta não é uma tarefa fácil, principalmente no que diz Niède Guidon, que tem realizado intensas pesquisas no
respeito aos chamados povos pré-colombianos. Parque Nacional da Serra da Capivara no município de
São Raimundo Nonato (PI), onde encontrou objetos com
existência calculada em 45.000 anos, os quais, segundo
ela, foram produzidos pelo homem. Se for comprovada,
sua tese provocará um recuo significativo na data
calculada para a chegada do homem à América.

Isolamento da América
Por volta do ano 7 mil a.C, a temperatura da terra
tornou a subir, e desapareceram numerosas espécies de
animais que esses povos caçavam, assim como a “ponte
de gelo” do Estreito de Bering. Isolados do outro conti-
nente e com uma nova realidade, muitos povos começa-
ram a buscar a sua sobrevivência em outras atividades.
Distribuindo-se pelo continente, esses povos tiveram
processos diferenciados de estruturação de suas socie-
dades (fato perceptível em razão de, no momento da
chegada dos colonizadores, os grupos apresentarem
variados graus de desenvolvimento cultural e material).
Podemos, entretanto, encaixá-los em três grandes
grupos, que representam três estágios de desenvol-
vimento, segundo a classificação do antropólogo norte-
americano Morgan:
• Paleolítico (selvageria): Grupos cuja subsistência
dependia da caça, da pesca, da coleta vegetal e
da agricultura rudimentar.
• Neolítico (barbárie): Grupos já sedentarizados,
com prática da agricultura e uma relativa organi-
zação social, política e econômica.
• Civilização: Sociedades complexas em alguns
2. Hipóteses da ocupação da América aspectos, como o seu modo de produção.

Atualmente, trabalhamos basicamente com duas A Antropologia contemporânea considera o esquema


hipóteses para explicar o povoamento do continente evolutivo de Morgan extremamente rígido e, até certo
antes da chegada dos europeus. Uma delas é a hipótese ponto, preconceituoso; e defende que, na realidade,
asiática, defendida pelo dinamarquês Ales Hrdlicka, que existem diversidades étnicas, e não grupos humanos
considera os ameríndios descendentes de populações “superiores” ou “inferiores”, como insinua a teoria de
Morgan.
46 –
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HISTÓRIA AD
O Oriente Médio é considerado o “berço da civilização”, pois foi ali que surgiram os primeiros homens. O índio brasileiro, segundo as mais
recentes pesquisas antropológicas, teria vindo da Ásia e da Polinésia.

3. Os Maias político era teocrático e hereditário. Cada cidade-Estado


possuía um governante local que devia obediência ao
Introdução – Os Olmecas poder central.
Entre 1500 e 500 a.C., floresceu a cultura olmeca, na A sociedade era estamental e a posição social era
costa sul do Golfo do México. Tinham como dirigente, dada pelo nascimento. No topo da pirâmide social, estava
em suas comunidades, a classe sacerdotal, a quem a família governante, altos funcionários do Estado (sacer-
pagavam impostos, tanto sobre a produção agrícola dotes e militares) e comerciantes; abaixo destes, vinham
quanto sobre a artesanal. os cobradores de impostos, militares e responsáveis
Foi durante seu apogeu que essa civilização construiu pelas cerimônias; na base da pirâmide, encontravam-se
a Cidade dos Deuses – Teotihuacán –, totalmente plane- os trabalhadores braçais.
jada, e também pirâmides dedicadas ao Sol e à Lua, Na economia, o cultivo da terra era coletivo e as
ricamente decoradas com esculturas e afrescos. A popu- comunidades pagavam um imposto também coletivo,
lação de Teotihuacán, sucessora dos olmecas, aperfeiçoou caracterizando-se pelo Modo de Produção Asiático, pois
as técnicas de cultivo, desenvolveu o sistema de irrigação ao Estado cabia a propriedade das terras e à comunidade,
e as chinampas (técnica de plantio feita sobre esteiras de a posse útil. O principal produto cultivado era o milho,
varas flutuantes que eram colocadas no Lago Texcoco). base da alimentação dos maias. Além da produção agrí-
A cultura teotihuacana desapareceu durante o século cola, os maias davam significativa importância às ativida-
VI, sendo difícil precisar quais fatores foram responsáveis des comerciais. Os mercadores eram os responsáveis
por tal fato. Porém, presume-se que doenças, rebeliões pela realização de trocas de produtos agrícolas e arte-
ou invasões expliquem a destruição da Cidade dos Deuses sanais.
e sua civilização. No momento em que Teotihuacán entrou A religião era politeísta e defendia que o destino dos
em decadência, o sul da Mesoamérica conheceu o homens era controlado pelos deuses, aos quais presta-
esplendor da civilização maia. vam cultos, realizavam cerimônias e construíam templos
em forma de pirâmides com escadarias, utilizando mão
Características gerais de obra camponesa recrutada de forma compulsória.
Ainda em função da religião, desenvolveram a escultura
Os maias não chegaram a constituir um império. Ao
em terracota, a pintura e o calendário cíclico, com 52 anos,
contrário do que se pensava, as cidades maias estiveram
com base em seus sofisticados estudos de Astronomia.
constantemente em conflito, sendo sua organização
Com a intenção de facilitar os cálculos, inventaram o zero.
caracterizada pela formação de cidades-Estado. O poder
– 47
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A escrita elaborada é denominada glífica e consiste em A religião era politeísta. Os astecas acreditavam que
um conjunto de caracteres que representam parcialmente eram o povo incumbido de zelar pela manutenção da
um objeto ou algo relacionado a esse objeto. harmonia no universo, o que só poderia ser feito por meio
da alimentação dos deuses; assim, o seu código religioso
HISTÓRIA AD

Decadência admitia o sacrifício humano. Os deuses que regiam o


Por volta do ano 900, iniciou-se o declínio da civiliza- universo e asseguravam as boas colheitas e vitórias
ção maia, que, dois séculos mais tarde, passou a sofrer militares também regiam o destino dos homens.
influência da cultura tolteca. As hipóteses para explicar a A arquitetura foi extremamente desenvolvida, desta-
sua decadência são muitas. Entre elas, podemos citar o cando-se a construção de pirâmides, palácios e sistemas
esgotamento do solo em razão da prática da agricultura de de irrigação, além de aquedutos. Estudavam astronomia
coivara ou queimada, a deficiência alimentar (era raríssimo e criaram um calendário extremamente preciso.
o consumo de carne e, portanto, de proteína) e ainda os
acirrados conflitos internos entre os diversos líderes das Decadência
cidades-Estado. No momento em que os espanhóis chegaram à
A partir de então, ocorreu a fusão das culturas maia e região do Império Asteca, em 1521, Montezuma II era
tolteca, dando início ao chamado Novo Império Maia. reconhecido como o único imperador na região, e os
Quando os espanhóis chegaram, os maias já estavam em astecas viviam seu momento de apogeu. As armas de
decadência. fogo e as doenças trazidas pelos espanhóis, além das
alianças destes com tribos inimigas acabaram por permitir
4. Os Astecas que os astecas fossem dizimados pelos europeus.

Origens
A localização geográfica originária dos astecas é a
região noroeste do México, denominada Aztlán, daí se
denominarem astecas. Primitivamente, os astecas organi-
zavam-se em clãs, denominados calpulli, que tinham por
base os laços de parentesco.
Ao se estabelecerem no Vale do México, durante o
século XII d.C., após o saque à cidade de Tula, dos toltecas,
os astecas sedentarizaram-se, dando início à formação de
um império centralizado.

Características gerais
O
N TIC
A sociedade era estamental e a família imperial ocu- TLÂ
OCEANO A
pava o topo da pirâmide social. O imperador era o
comandante supremo do Exército e possuía um poder Teotihuacán
Mayapán
teocrático e hereditário Tenochtitlán Chichén Itzá
A expansão sobre o Vale do México e a conquista de Uxmal Copán
terras, realizada por meio da guerra, conferiram grande
poder dentro do império aos militares, que constituíram a
nobreza, junto aos sacerdotes, compondo a classe domi-
O

C
nante dentro da sociedade. Tinham como privilégios a FI
ACÍ
O P
isenção de impostos e o domínio sobre extensões de terra. AN
OCE
Os comerciantes e os artesãos compunham a Cuzco
camada social intermediária. Na base da pirâmide social Nazca
estavam os camponeses e os escravos. Os primeiros, de
origem asteca, deviam obrigações ao Estado, como traba-
lhar em obras públicas e na agricultura e prestar serviço
militar. Os escravos, adquiridos em guerras como
Cultura asteca
pagamento de dívidas ou condenados por crimes,
Cultura maia
trabalhavam a terra e podiam ser libertados.
A economia caracterizava-se pelo Modo de Produ- Cultura inca

ção Asiático, ou seja, as terras pertenciam ao Estado e


os camponeses cultivavam as terras coletivamente e de
As três grandes civilizações pré-colombianas.
forma compulsória (cuatequil).
48 –
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5. Os Incas Com a conquista incaica sobre a região do Altiplano,


no século XIII, as comunidades foram subordinadas e o
Origens poder político passou para as mãos de um imperador –
Inca ou Sapa Inca –, cuja força se fundamentava na

HISTÓRIA AD
O território ocupado pelos incas corresponde
atualmente a Peru, Bolívia, Equador, parte do Chile e norte religião e no Exército, do qual era o comandante supremo,
da Argentina, na região do Altiplano Andino. caracterizando, assim, um governo teocrático-militarista.
A ocupação da região pela civilização inca iniciou-se a A sociedade era estamental e rigidamente dividida.
partir do ano 1200 e não constituiu o primeiro agrupa- Abaixo do imperador estava a nobreza, composta por
mento humano da região. Antes da presença inca, o seus parentes, altos funcionários do Estado, clero e pelos
Altiplano Andino foi palco de culturas que são denomi- curacas, que mantiveram seu prestígio em razão da
nadas pré-incaicas, dentre elas temos: a cultura Chavin; o tradição de sua família; em seguida, vinham os artesãos,
Império Tiahuanaco; os huari; e o Império Chimu. médicos, artistas, militares e contabilistas; finalmente, na
Os incas, originariamente, constituíam um povo base da pirâmide social, estavam os camponeses e os
nômade, parte integrante do grupo quíchua, da região da escravos.
Amazônia. Após sucessivas conquistas, estenderam o Dentro do Império, o ayllu continuou a ser a base da
seu poder sobre uma área de quase 5 200 000 km2, com organização social e administrativa. Era formado a partir
uma população estimada entre 3,5 milhões e 7 milhões de laços de parentesco e chefiado pelo curaca, cujo poder
de habitantes. era transmitido hereditariamente. Primitivamente, a terra,
no Altiplano Andino, era propriedade coletiva da comu-
nidade ayllu, que trabalhava em conjunto nas plantações.
Com a chegada dos incas e seu processo de expansão
e submissão das comunidades, as terras passaram a
pertencer ao Estado e a estrutura fundiária original foi
alterada. Passaram a ser divididas em terras da comu-
nidade e terras do Estado, cultivadas pelos membros do
ayllu. Para ampliar a área cultivável, faziam terraços nas
regiões do Altiplano Andino, o que, além de favorecer a
agricultura, evitava a erosão da terra. O solo era fertilizado
com o guano, fertilizante natural de excremento de aves.
O tributo em espécie não era pago diretamente ao
Estado, mas este detinha o direito de requisitar a mita,
que era paga sob a forma de trabalho compulsório nas
minas, na construção de estradas e em obras públicas,
como canais de irrigação. Na época em que a mita era
requisitada, o Estado devia prover os trabalhadores com
víveres. O comércio também se desenvolveu, com base
na produção de cerâmica, tecidos e artesanato em ouro,
bronze e prata.
Os incas dedicaram-se à astronomia, elaborando um
calendário que, além de marcar o tempo, servia para fazer
previsões astrológicas.
Sua religião era politeísta e, além do Sol, da Lua, do
Trovão e da Terra, cultuavam Viracocha, o “Criador do
Universo”. Completando as suas cerimônias, que
incluíam danças e uso da chicha (espécie de cerveja feita
de cereais), sacrificavam humanos e lhamas.

Decadência
Quando os espanhóis chegaram, no ano de 1532, o
Império Inca vivia seu auge, impressionando os espanhóis
Características gerais por sua organização e suas imponentes obras arquite-
Antes da dominação inca, a organização social básica tônicas. Apesar da dominação espanhola, a influência dos
era a comunidade denominada ayllu, liderada pelo curaca, incas faz-se presente até hoje. No Peru, o quíchua, antiga
fundador ou descendente do ancestral do grupo. língua dos incas, é hoje uma das línguas oficiais do país.

– 49
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STÓRIA AD

6. Cronologia

50000-20000 – Última Era Glacial 1300-1521 – Auge da civilização Asteca


39000 – Mais antigo vestígio humano das Américas 300-1100 – Império Tiwanaku
12500-13000 – Idade aproximada de Luzia, fóssil 600-1100 – Império Ayacucho
humano mais antigo da América do Sul 1430-1533 – Auge da civilização Inca
250 d.C.-900 d.C. – Auge da civilização Maia.

1. (FUVEST)

Estimativa da população indígena da


América na época do contato europeu

Percentual em
População relação à
Região
estimada população total
da América

América
4.400.000 7,7
do Norte

México 21.400.000 37,3

América
5.650.000 9,9
Central

Caribe 5.850.000 10,2

Andes 11.500.000 20,1

Planícies da
8.500.000 14,8
América do Sul

Total 57.300.000 100,0

(Stuart B. Schwartz & James Lockhart, A América Latina na época


colonial. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2002.)

Com base nos dados fornecidos pela tabela,


a) explique as razões da distribuição geográfica desigual da população
indígena no hemisfério americano no momento do contato europeu;
b) compare as unidades políticas indígenas do México com as dos
Andes, citando ao menos um padrão comum e uma divergência
entre elas.

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2. (FATEC) – As misteriosas cidades e edificações da civilização maia 4. (UNICAMP) – Desde o período Neolítico os povos de distintas partes
que resistiram ao tempo incluem obras reconhecidas como patrimônio do mundo desenvolveram sistemas agrários próprios aproveitando as
mundial. Tais achados vêm intrigando pesquisadores até a atualidade, já condições naturais de seus habitats e do conhecimento adquirido e
que pouco se sabe sobre as origens, a organização social e as causas transmitido entre os membros da comunidade.

HISTÓRIA AD
do fim dessa civilização, no século X. Assinale a alternativa que estabelece corretamente a relação entre o
povo habitante de uma determinada área, o sistema produtivo por ele
Assinale a alternativa que apresenta corretamente as principais desenvolvido, as condições naturais aproveitadas e os produtos
características da civilização maia. cultivados.
a) Desenvolveu-se na floresta Amazônica (atuais Peru, Bolívia e a) Incas; uso de terraços com técnicas de curvas de nível e irrigação de
Suriname) e sua economia se baseava na coleta de tributos vales; aproveitamento dos altiplanos andinos; batata e milho.
provenientes do comércio com os incas e os astecas. b) Egípcios; uso da irrigação e drenagem; planícies úmidas e férteis dos
b) Ocupava a região das atuais Guatemala, Honduras e Península de rios Tigres e Eufrates; arroz e café.
Yucatán (Sul do México), e desenvolveu saberes matemáticos, c) Chineses; uso intensivo dos terraços das altas montanhas; planalto
astronômicos e arquitetura sofisticados para a época. de Anatólia no extremo leste da Ásia; café e cacau.
c) O poder era centralizado nas mãos do Imperador, cuja origem era d) Mesopotâmicos; uso de cultivos de inundação e de regadio; vales
considerada divina, e a capital, Machu Picchu, foi construída no topo férteis dos rios Ganges e Amarelo; cana-de-açúcar e feijão.
de uma grande montanha para evitar ataques de povos inimigos.
d) Habitava a região do Rio da Prata, atuais Uruguai e Argentina, onde
desenvolveu a cultura de algodão, com o qual fabricava tecidos para
exportação, e projetou um sistema de vigilância eficaz para se
proteger de ataques inimigos.
e) A organização social igualitária favorecia a distribuição equilibrada
dos recursos naturais provenientes do comércio marítimo, realizado
no Caribe, e os grandes templos e pirâmides honravam as divindades
do Sol (Rá) e da Lua (Anúbis).

5. (FGV) – Na colonização espanhola da América Andina, uma insti-


tuição incaica foi utilizada pelos conquistadores, que fizeram dela um
importante instrumento de dominação. Essa instituição foi
a) a plantation.
b) o quipo.
c) a mita.
d) a encomienda.
e) a hacienda.

3. (VUNESP – Adaptado) – Entre as civilizações pré-colombianas de


maias e astecas, havia semelhanças culturais significativas. No
momento em que foram conquistadas,
a) os maias tiveram seus documentos escritos preservados pelos
espanhóis, enquanto a civilização asteca foi destruída.
b) os astecas e os maias mantinham relações pacíficas com os povos
que habitavam as atuais regiões do México e da Guatemala.
c) o território asteca se estendia do Atlântico ao Pacífico; mas os maias
já não habitavam as cidades que haviam construído.
d) tiveram suas populações dizimadas pelos espanhóis, que destruíram
as cidades astecas de Palenque, Uxmal e Chichén Itzá.
e) eram constituídas por caçadores nômades, desconheciam a agricul-
tura e utilizavam a roda e os metais para fins militares.

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MÓDULO 10 Bases do Colonialismo Mercantilista

1. Introdução – O Antigo Regime profundamente o poder papal, limitando em muito sua


HISTÓRIA AD

pretensão de arrogar o poder universal, que se


Dá-se o nome de Antigo Regime à estrutura política, manifestou durante a Idade Média. A falência do poder
econômica e social que caracterizou a quase totalidade papal é, talvez, o dado mais importante do problema,
dos Estados europeus durante a Idade Moderna (1453- porque facultava aos reis o controle das igrejas nacionais,
1789). Esse aparente paradoxo (vigência do Antigo o exercício da justiça eclesiástica (até então monopólio
Regime em plena Idade Moderna) se deve ao fato de que da Igreja) e o recebimento das rendas eclesiásticas.
a expressão francesa Ancien Régime foi criada pelos
revolucionários de 1789 para indicar o conjunto das Fatores militares
instituições derruba das pela Revolução Francesa – O rei, possuindo recursos próprios, assalariava
embora elas se tivessem mantido, na maioria dos Estados mercenários para lutar no exército, em nome do Estado.
europeus, até meados dos séculos XIX. Os batalhões de infantes, progressivamente, substituíram
Ao analisar a estrutura do Antigo Regime, poderíamos os cavaleiros no exército. As próprias cidades compa-
resumi-la em três expressões: absolutismo, no plano reciam, armadas à própria custa, para lutar ao lado do rei.
político; mercantilismo, no plano econômico; e sociedade O Exército Real era o instrumento por excelência da
de ordens, no plano social. centralização. Era utilizado contra os nobres resistentes em
aceitar o poder do rei. Pouco a pouco, numerosos senhores
2. Absolutismo foram subjugados, e o domínio real começou a se expandir.

Conceito Fatores culturais


Absolutismo é o regime político monárquico em que O Renascimento Cultural, profundamente individua-
todos os poderes de governo estão concentrados na lista, estimulou o ideal nacional, do qual o rei era a própria
pessoa do rei. Embora essa estrutura tenha existido, representação material, visto como defensor e protetor
com algumas variações, desde a Antiguidade até os dias da nação. Devemos levar em consideração que existia
de hoje, os historiadores costumam chamar de “absolu- uma tradição de poder hereditário, firmado durante toda
tistas” somente as monarquias desse tipo existentes nas a Idade Média, quando o poder real não tinha existência
Idades Moderna e Contemporânea. Contribuíram para o de fato, mas sim de direito.
fortalecimento do poder real na Baixa Idade Média os
seguintes fatores: Mecanismos
A luta entre as ordens sociais foi, entretanto, o traço
Fatores socioeconômicos
essencial do fortalecimento do poder real. Talvez não
Havia uma estreita relação entre o desenvolvimento fosse excessivo dizer que a monarquia nacional e o poder
econômico europeu, principalmente da atividade comercial, real resultaram desse conflito, pois, não havendo um
e a centralização do poder real. A crise do feudalismo grupo social que impusesse o seu domínio, uma pessoa
obrigou a Europa a mudar sua organização para se integrar conseguiu imperar sobre elas. O rei protegia o burguês,
à economia de mercado, provocando o enfraquecimento dando-lhe monopólios comerciais e industriais, arrendava
da nobreza feudal ligada à terra. os impostos e protegia-o na concorrência comercial
A burguesia urbana, ávida em obter o apoio do poder externa e também contra os nobres e contra a Igreja.
real contra os nobres e contra os entraves que eles A nobreza, decadente, aproximou-se do rei para se
representavam para o comércio, começou a contribuir manter, obtendo dele pensões para os filhos, postos de
com impostos, que passaram a constituir uma importante chefia na guarda real e nas praças-fortes e o direito de
fonte de renda. Com o desenvolvimento das nações, as governar províncias. O nobre cortesão dependia econo-
tarifas alfandegárias fortaleceram a arrecadação, a moeda micamente do rei e, só a ele recorrendo, podia opor-se à
real substituía as moedas locais cunhadas pelos senhores burguesia.
feudais, dando uniformidade ao mercado monetário. As guerras acentuaram o sentimento de amor à
pátria; o rei era seu defensor, uma espécie de herói nacio-
Fatores religiosos nal cultivado pelo humanismo, herdeiro das tradições
No plano internacional, evidenciou-se nesse período cavalheirescas cristãs. A concorrência comercial com
o declínio acentuado do poder universal, representado outros países e a disputa dos mercados coloniais aguça-
pelo papado e pelo Sacro Império. Esse declínio resultou ram ainda mais as rivalidades nacionais, contribuindo para
da Reforma religiosa do século XVI, que abalou o fortalecimento do poder real.
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Legitimação do poder absoluto como ordem uma categoria social claramente definida e
Durante os séculos XVI e XVII, diversos pensadores inserida em uma estrutura hierarquizada, segundo
buscaram justificar o poder absoluto dos monarcas. A critérios de privilégios e obrigações. Em outras palavras,
trata-se de uma sociedade marcada pela desigualdade

HISTÓRIA AD
teorização sobre o poder real teve início com o importante
trabalho de Maquiavel, O Príncipe, no qual ele desen- de direitos (que poderíamos igualmente chamar de
volve a ideia da razão de Estado para justificar os atos dos desigualdade jurídica ou desigualdade civil). Até certo
governantes absolutos (“Os fins justificam os meios”). ponto, a sociedade de ordens conservou a tradicional
Thomas Hobbes, em seu livro Leviatã, justifica a neces- divisão do feudalismo em três camadas: clero, aristocracia
sidade do poder real para que haja paz na sociedade civil. e o restante da formação social. Os dois primeiros pos-
Os homens uniram-se em torno de um contrato, legando suíam um status superior e gozavam de vários privilégios,
a um soberano todos os direitos para protegê-los contra entre os quais se destacava a isenção de impostos.
a violência. Jean Bodin, autor de A República, associava
o Estado à própria célula familiar, colocando o poder real 4. Mercantilismo
como ilimitado, comparado ao chefe da família. Jacques
Bossuet, contemporâneo de Luís XIV, foi o maior Origens
defensor do direito divino dos reis; em sua obra A Política No plano econômico, a Época Moderna se caracte-
extraída da Sagrada Escritura, afirmava que a monarquia rizou pela ampliação da transição feudo-capitalista, com a
era de origem divina, cabendo aos homens aceitar todas mundialização da economia europeia. O processo de
as decisões reais, pois questioná-las transformá-los-ia não acumulação de capitais, iniciado no século XII, acelerou-
somente em inimigos públicos, mas também em inimigos se e ampliou-se, adquirindo as características que lhe
de Deus. valeram ser chamado de pré-capitalismo, capitalismo
comercial ou acumulação primitiva de capitais (expressão
cunhada por Marx para designar a fase de encaminha-
mento para o capitalismo). Nesse período, a evolução do
sistema econômico corporificou-se em um conjunto de
teoria e práticas conhecido pelo nome de mercantilismo.
Este, como seu próprio nome indica, estava indissoluvel-
mente ligado às atividades mercantis (comerciais); pode,
portanto, ser conceituado como a política econômica do
capitalismo comercial, constituindo uma prática de Estado
que dominou a Europa entre os séculos XVI e XVIII.

Maquiavel dedicou O Princípe a Lourenço de Médici, governante de


Florença.

3. Sociedade de ordens
Apoiada no tripé econômico do Antigo Regime (capitalismo comercial,
A sociedade do Antigo Regime não se cristalizou mercantilismo e Sistema Colonial), deu-se a acumulação do capital.
como estamental nem como sociedade de classes
porque, representando um período de transição, Características
englobava estamentos de origem feudal e classes O mercantilismo alicerçava-se no metalismo, isto é,
prenunciadoras da sociedade capitalista. Ficou, então, na crença de que os metais preciosos amoedáveis
conhecida como sociedade de ordens, entendendo-se formavam a base da riqueza de um país – o que tornava

– 53
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prioritário, a todos os Estados europeus, acumular a maior Tipos de mercantilismo


quantidade possível de ouro e prata. Os Estados, para os
quais a acumulação metalista não poderia ser realizada Todos os países que praticaram a política econômica
por meio do mero extrativismo, empenharam-se em mercantilista procuraram seguir seus fundamentos.
HISTÓRIA AD

aperfeiçoar suas práticas comerciais, formando o arca- Alguns deles, porém, se singularizaram pela ênfase dada
bouço da política econômica mercantilista. Essas práticas a uma atividade econômica específica. Nesse sentido, o
foram as seguintes: mercantilismo pode ser dividido nos seguintes tipos:

• Balança comercial favorável. O valor das exporta- • Mercantilismo comercial. Praticado pela Inglaterra
ções deveria sempre superar o das importações, priorizava a atividade mercantil propriamente dita,
gerando um saldo positivo (superávit). lucrando principalmente com a compra e venda de
mercadorias.
• Intervencionismo. Os governos intervinham na
vida econômica, regulamentando-a. • Mercantilismo industrial. Posto em prática pelo
ministro francês Jean-Baptiste Colbert (1619-84)
• Protecionismo. Consistia em proteger a produção e, por isso, chamado de colbertismo, incentivava
nacional contra a concorrência estrangeira, inibindo as manufaturas de luxo (cristais, porcelanas,
as importações por meio de pesadas taxas tapeçarias, tecidos finos e per fumes), para que a
aduaneiras (alfandegárias). França se tornasse a principal exportadora desses
produtos.
• Monopólios. Ocorria quando o governo estabe-
lecia a exclusividade (para si ou para terceiros) na • Mercantilismo comercial-industrial. Praticado
exploração de algum produto ou de uma atividade pelos Países Baixos, essa forma de mercantilismo
econômica. atuava em duas frentes: na intermediação de
mercadorias produzidas por outros países e na
• Sistema Colonial. Se todas as nações europeias comercialização de produtos próprios (tecidos,
buscassem uma balança comercial favorável, a artigos do Oriente e açúcar refinado).
concorrência mercantil faria com que algumas
delas acabassem não atingindo o seu objetivo, • Mercantilismo metalista. Também conhecido
ficando, assim, com a balança desfavorável. Nessa como bulionismo, foi praticado pelos espanhóis,
medida, as colônias se tornavam indispensáveis, influenciados pela aparente inesgotabilidade de
pois manteriam favorável a balança mercantil de suas jazidas americanas. Concentrou-se na
suas metrópoles. Daí a necessidade de enquadrar extração de metais preciosos, sem procurar criar
as colônias no conjunto da política mercantilista e uma estrutura produtiva que tornasse a Espanha
do sistema colonial, regidos pela noção de acumu- menos dependente de importações.
lação mercantil, de monopólio e de protecionismo.
As colônias deviam alcançar sua finalidade: enrique-
cer a burguesia do reino e contribuir para o
fortalecimento do Estado.

5. Cronologia

1492 – Descoberta da América.


1500 – Descoberta do Brasil.
Séc. XVI – Preponderância do metalismo.
Séc. XVII – Preponderância do comércio.
Séc. XVIII – Preponderância da indústria.

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1. No período histórico que se estende entre os séculos XVI e XVIII, 2. (2ªaplicação) – Polemizando contra a tradicional tese

HISTÓRIA AD
com o fim do feudalismo e a consolidação dos Estados Nacionais, a aristotélica, que via na sociedade o resultado de um
doutrina econômica dominante foi o mercantilismo, que possuía como instinto primordial, Hobbes sustenta que no gênero
uma de suas características o metalismo. humano, diferentemente do animal, não existe sociabilidade instintiva.
a) Cite e explique duas outras características da doutrina mercantilista. Entre os indivíduos não existe um amor natural, mas somente uma
b) Em que consistia o metalismo? explosiva mistura de temor e necessidade recíprocos que, se não fosse
disciplinada pelo Estado, originaria uma incontrolável sucessão de
violências e excessos.
NICOLAU, U. Antologia Ilustrada de filosofia: das origens à Idade
Moderna. São Paulo: Globo, 2005 (adaptado).

Referente à constituição da sociedade civil, considere, respectivamente,


o correto posicionamento de Aristóteles e Hobbes:
a) Instrumento artificial para a realização da justiça e forma de legiti-
mação do exercício da coerção e da violência.
b) Realização das disposições naturais do homem e artifício necessário
para frear a natureza humana.
c) Resultado involuntário da ação de cada indivíduo e anulação dos
impulsos originários presentes na natureza humana.
d) Objetivação dos desejos da maioria e representação construída para
possibilitar as relações interpessoais.
e) Realização da razão e expressão da vontade dos governados.

3. (UNESP-2021) – As práticas econômicas mercantilistas são


frequentemente relacionadas aos Estados modernos e representam
a) uma concentração de capitais, alcançada principalmente por meio da
exploração colonial e de mecanismos de proteção comercial.
b) uma difusão do comércio em escala mundial, obtida com a
globalização da economia e a multipolaridade geoestratégica.
c) uma redução profunda no grau de intervenção do Estado na
economia, que passou a ser gerida pelos movimentos do mercado.
d) o resultado da concentração do poder político nas mãos de
governantes que defendiam, sobretudo, os valores e interesses da
burguesia industrial.
e) o combate sistemático às formas compulsórias de trabalho, que
impediam o crescimento dos mercados consumidores internos nos
países europeus.

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4. (FGV-2020) – “Por volta do final do século XVI, teve início uma 5. (SANTA CASA) – “Examinemos, pois, os mecanismos de
transformação profunda no gênero de vida das classes privilegiadas. Os funcionamento do Antigo Sistema Colonial do mercantilismo. É no
castelos deixaram de ser fortalezas e se tornaram residências de lazer regime do comércio entre metrópoles e colônias que se situa o
no campo. Seus fossos foram cobertos e suas torres transformaram-se elemento essencial desse mecanismo.”
HISTÓRIA AD

em ornamentos. As famílias ricas tinham, além disso, solares na cidade, (Fernando Novais.
onde passavam uma parte do ano. Os divertimentos tornaram-se menos Portugal e Brasil na crise do antigo sistema colonial,1981.)
guerreiros, o torneio foi substituído pelo carrossel, exercício de
A importância atribuída pelo texto ao “regime do comércio entre
habilidades a cavalo, vindo da Itália. O jogo de combate transformou-se
metrópoles e colônias” deriva do fato de esse comércio ser
na esgrima com espada, de origem italiana, modificada na França.”
(Charles Seignobos. a) regulado pelo monopólio colonial, ou exclusivo metropolitano, o que
Histoire sincère de la nation française, 1982. Adaptado.) favorecia a acumulação de capitais nos países colonizadores.
b) liberado de quaisquer entraves ou barreiras, o que estimulava a
As transformações assinaladas pelo texto sugerem concorrência e permitia a obtenção de vantagens no comércio
a) a extinção das famílias nobres medievais com a ascensão social da ocidental.
burguesia de comerciantes e industriais. c) controlado por órgãos internacionais, o que assegurava a regulação
b) a pacificação das disputas entre Estados como resultado da evolução dos preços e facilitava a elevação periódica dos preços das
cultural da sociedade europeia. mercadorias.
c) a passagem do poder político descentralizado para a centralização d) caracterizado pela igualdade de condições, ou isonomia de poder,
política do absolutismo monárquico. entre metrópoles e colônias, o que impedia o prevalecimento de uma
d) a dissolução da hierarquização social com base no nascimento face das partes.
ao advento da sociedade de classes. e) desenvolvido por companhias de comércio privadas, o que ampliava
e) a democratização do uso das terras produtivas com a abolição da a circulação e a distribuição dos capitais obtidos nas operações
exploração da mão de obra servil. comerciais.

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MÓDULO 11 Colonização Espanhola na América


1. Introdução empreendida na América pelos colonizadores europeus.
O escritor chileno Pablo Neruda (1904-73) resumiu a

HISTÓRIA AD
Pouco depois da chegada de Colombo à América, os condição dos indígenas sob o jugo dos espanhóis com
espanhóis iniciaram a colonização das Antilhas. A estas palavras: “A espada, a cruz e a fome dizimaram a
princípio, o centro desse processo foi a Ilha de São família indígena”. Entende-se por espada o poderio
Domingos e, mais tarde, Cuba. Partindo desses pontos, militar espanhol que, durante a conquista, foi responsável
as primeiras expedições concentraram-se na exploração pelos massacres e até pelo extermínio de muitos grupos
do interior do Golfo do México e do litoral setentrional da aborígines; a cruz simboliza a conversão dos índigenas
América do Sul. Nessas regiões, os espanhóis receberam ao catolicismo e, por consequência, sua aculturação e
informações sobre a existência de cidades possuidoras submissão à ordem imposta pelos europeus; a fome,
de grandes riquezas no interior. Tais notícias excitaram finalmente, resultou da apropriação, pelos colonizadores,
a cobiça dos conquistadores, levando-os a empreender da terra de onde os nativos tiravam seu sustento.
uma série de expedições militares para consolidar a
colonização europeia na América, o que resultou na 3. Administração espanhola na América
chegada às duas principais fontes de metais preciosos:
México, conquistado por Hernán Cortés; e Peru, As terras americanas eram consideradas propriedade
conquistado por Francisco Pizarro. pessoal dos reis espanhóis. Assim, a administração
seguiu um rígido esquema, determinado pela Coroa.
2. A conquista espanhola Durante a fase de conquista europeia, grandes extensões
de terras eram entregues aos chefes conquistadores,
Nas guerras travadas pelos espanhóis contra astecas que eram denominados adelantados (“adiantados”) e
e incas, causa espanto o pequeno número de europeus possuíam autonomia de poder dentro do território. Os
envolvidos nos combates. Essa aparente inferioridade era colonizadores espanhóis estabeleceram, então, um
compensada pela utilização, pelos espanhóis, de alguns sistema de organização político-administrativo que visava
elementos desconhecidos dos ameríndios, como o ferro, ao controle direto sobre a América, por meio da divisão do
cavalos e a pólvora. Além disso, os combatentes Império Espanhol em vice-reinos e capitanias-gerais.
europeus foram consideravelmente fortalecidos pela Eram eles:
aliança com guerreiros nativos, assim como, também,
pela introdução na América de doenças infecciosas • Vice-reinos: Nova Espanha, Nova Granada, Peru
contra as quais os indígenas não tinham imunidade. e Prata.
A brutalidade dos espanhóis para com os • Capitanias-Gerais: Cuba, Guatemala, Venezuela
ameríndios, nas primeiras décadas da conquista do Novo e Chile.
Mundo, não encontra paralelo em nenhuma outra ação

Ao contrário do Brasil, as
colônias espanholas
foram divididas em
quatro grandes Vice-
Reinos e quatro
Capitanias Gerais, subor-
dinadas diretamente ao
Conselho das Índias.

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Órgãos administrativos 4. Sociedade e trabalho


No século XVI, a Espanha já organizava os órgãos que
controlariam, a partir da Europa, as possessões ame- Quanto à estrutura social, havia profundas diferenças
entre as classes sociais, com relação aos nascidos na
HISTÓRIA AD

ricanas. Dentre os mais importantes, temos:


Espanha e aos nascidos na América. Podemos identificar,
• Casa de Contratação: responsável pela fiscaliza- claramente, quatro grupos: chapetones, brancos
ção da exploração colonial e impedir o contrabando. nascidos na Espanha que, na América, ocupavam os
cargos burocráticos da administração; criollos , brancos
• Conselho das Índias: fazia a nomeação de vice- nascidos na América que, apesar de constituírem a elite
reis, capitães-gerais e audiências, além de redigir econômica local, estavam impedidos de assumir cargos
leis para a América superiores dentro da administração; mestiços, resultado
da miscigenação de brancos e indígenas, que desempe-
• Audiências: representavam a justiça real na colônia nhavam funções como as de capatazes e artesãos; e
escravizados negros, que, trazidos da África, eram
• Cabildos (ou ayuntamentos): compostos pela utilizados em várias atividades.
elite local, correspondiam às Câmaras Municipais, O grupo indígena era majoritário e constituía a base
constituindo o poder político local com conside- de sustentação da economia colonial. Eram considerados
rável autonomia. Ao longo da colonização, foram vassalos do rei e sobre eles recaía a tarefa mais árdua:
perdendo essa liberdade local para a forte trabalhar para fortalecer o Império Espanhol. Eram
centralização da administração espanhola. obrigados a pagar impostos, e o pagamento era feito com
trabalho compulsório. Uma das formas de pagamento
era a encomienda, segundo a qual era dado ao
colonizador o direito de posse sobre um território e os
indígenas que nele se encontravam; esses indígenas, para
permanecerem no território, pagavam tributos sob a
forma de trabalho e, em troca, recebiam a catequese.
Outra forma de imposto era o repartimiento, instituído
pela Coroa para a construção de grandes obras públicas
ou para a exploração de regiões ricas, como minas e
grandes latifúndios; consistia no recrutamento de massas
indígenas, que era feito, geralmente, por sorteio, e, em
troca do trabalho, o indígena recebia uma quantia em
dinheiro. Esse fato, porém, não significa que se tratava de
relações capitalistas de trabalho, pois este era compulsório
e assemelhava-se à mita e ao cuatequil, instituições, res-
pectivamente, incaica e asteca, que foram formas de
exploração de trabalho exercidas pelas elites dessas
Centralizada nas mãos dos reis, a colonização espanhola foi marcada por um
rígido controle, garantindo para o Estado e para os mercadores espanhóis os
civilizações.
lucros da exploração colonial americana.

5. Cronologia

1503 – Criação da Casa de Contratação.


1511 – Início da colonização de Cuba por Diego Velásquez.
1519-21 – Conquista do Império Asteca por Hernán Cortés.
1524 – Criação do Conselho das Índias, presidido pelo rei da Espanha.
1532 – Descobrimento da Califórnia.
1531-33 – Conquista do Império Inca por Francisco Pizarro.
1535 – Fundação de Ciudad de los Reyes (atual Lima).

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1. (FUVEST 2022) – Analise a imagem: 2. (PUC-SP) – Em 1532, o navegador espanhol Francisco Pizarro

HISTÓRIA AD
conquistava o poderoso Império Inca. Seus irmãos, Hernando e Pedro,
que participaram dessa conquista, assim iniciaram o relato da
inesquecível Batalha de Cajamarca, considerada o principal marco desse
processo por ter resultado na prisão do Imperador Ataualpa:

“A prudência, o rigor, a disciplina militar, o trabalho, as perigosas


navegações e as batalhas dos espanhóis – vassalos do mais invencível
imperador do Império Católico Romano, nosso rei e senhor – causarão
alegria aos crentes e terror aos infiéis. Por essa razão, e para a glória de
Deus nosso Senhor e para servir à Majestade Católica Imperial, pareceu-
me bom escrever essa narrativa e enviá-la a Sua Majestade, para que
tenha conhecimento do que aqui é relatado”
(Retirado de Diamond, Jared – Armas, germes e aço; os destinos das
sociedades humanas. Rio de Janeiro: Record, 2001, p. 69.)

Esse encontro entre espanhóis e indígenas na América revela


a) uma preocupação dos espanhóis em preservar a cultura indígena,
oferecendo-lhes, porém, a possibilidade da conversão ao catolicismo.
b) uma proposta religiosa e econômica de domínio, caracterizada pela
difusão e imposição do catolicismo e exploração de metais
preciosos.
c) uma proposta eminentemente católica, sem obrigatoriamente um
viés econômico.
d) uma imposição católica sobre os “infiéis”, preservando, porém, sua
cultura e costumes para melhor controlá-los.
El Greco, Alegoria da Santa Aliança (Sonho de Filipe II), 1579.
El Escorial, Espanha. Óleo sobre tela. PUPPI, Lionello. El
Grecco. Florença: Sadea Editore, 1977, prancha 8.

A partir da pintura de El Greco:


a) Identifique um aspecto religioso característico do império espanhol
ao final do século XVI.
b) Identifique e explique um aspecto social característico do império
espanhol ao final do século XVI.
c) Explique o papel da religião na formulação das justificativas para a
colonização da América.

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3. (SANTA CASA-2020) – “Assim que os distritos ricos começaram a 5. (FAMEMA) – “A varíola cruzou pela primeira vez o oceano Atlântico,
vomitar metal, cresceram as vilas em muitas regiões inóspitas — o chegando, especificamente, à ilha Hispaniola no final de 1518 ou início
planalto do norte do México, por exemplo — onde antes só haviam de 1519. Durante os quatro séculos seguintes, a doença desempenhou
vivido populações esparsas. As estradas e o comércio expandiram-se um papel tão essencial quanto a pólvora no avanço do imperialismo
HISTÓRIA AD

rapidamente à medida que se desenvolveram novos circuitos branco do ultramar – um papel talvez até mais importante, pois os
econômicos, energizados pela mineração.” indígenas acabaram voltando o mosquete, e depois o rifle, contra os
(Peter Bakewell. “A mineração na América espanhola colonial”. invasores, mas a varíola pouquíssimas vezes lutou do lado dos primeiros
In Leslie Bethell (org.). História da América Latina, v. II, 1999. habitantes.”
Adaptado.) (Alfred W. Crosby. Imperialismo ecológico:
a expansão biológica da Europa, 900-1900, 2011. Adaptado.)
Nas colônias espanholas da América, a exploração de metais preciosos
implicou Depreende-se do excerto que
a) a proibição metropolitana de utilização da mão de obra indígena na a) o controle sobre o avanço da varíola trazida pelos europeus
economia mineradora. fortaleceu os ameríndios.
b) o processo de enriquecimento monetário dos mais tradicionais b) a passividade dos ameríndios diante da conquista europeia
povos ameríndios. consolidou a colonização.
c) o confronto militar entre colonizadores espanhóis e ingleses pelo c) a suscetibilidade dos ameríndios a novas doenças facilitou o domínio
domínio das minas. dos europeus.
d) a transformação histórica de territórios com a internacionalização de d) o uso de armas de fogo foi o fator principal da vitória dos ameríndios
atividades econômicas locais. sobre os europeus.
e) o aparecimento de uma burguesia ameríndia politicamente contrária e) a vulnerabilidade dos europeus decorreu da tecnologia bélica dos
ao domínio colonial. ameríndios.

4. (FGV-2020) – “De maneira geral, a conquista progrediu com mais


rapidez e mostrou-se mais eficiente contra os Estados indígenas
organizados, uma vez que estes se renderam aos espanhóis como
entidades unificadas. Quando caía uma capital urbana, todo o território
imperial perdia muito do seu poder de resistência.”
(Charles Gibson. “As sociedades indígenas sob domínio espanhol”.
In Leslie Bethell (org.). História da América Latina, v. II, 1999.)

O texto alude a um aspecto da conquista espanhola dos povos


ameríndios, no século XVI, que
a) substituiu, em povos tradicionalmente dominados, a escravidão pelo
trabalho assalariado.
b) encontrou nas populações litorâneas da América grandes acúmulos
de metais preciosos.
c) contou com o apoio dos líderes religiosos nativos convertidos ao
monoteísmo cristão.
d) subjugou de forma pacífica antigas instituições imperiais em plena
decadência política.
e) usufruiu de uma estrutura hierárquica de dominação política nativa
previamente instalada.

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MÓDULO 12 Primórdios da Colonização Portuguesa


1. Período Pré–Colonial (1500-30) Martim Afonso percorreu o litoral desde o

HISTÓRIA AD
Maranhão até o Rio da Prata, combateu os contra-
O governo português pouco se interessou pelo Brasil bandistas que encontrou e finalmente, em 1532, fundou
nos anos que se seguiram ao descobrimento, uma vez São Vicente — primeira vila do Brasil, marco inicial da
que o comércio com as Índias oferecia perspectivas de colonização portuguesa na América e local de instalação
lucro muito mais imediatas. É importante notar que, na- do primeiro engenho de açúcar.
quela época, a acumulação de capitais se fazia principal-
mente por meio da circulação de mercadorias (capitalismo 2. Capitanias hereditárias
comercial ou acumulação primitiva de capitais). Toda via,
o “abandono” do Brasil pela metrópole foi apenas A implantação do regime de capitanias hereditárias
relativo, já que a Coroa, além de arrendar a exploração do no Brasil, em 1534, está vinculada à incapacidade econô-
pau-brasil a um grupo de particulares, chegou a enviar mica do Estado português em financiar diretamente a
duas expedições exploradoras e duas guarda-costas. colonização, pois o monopólio do comércio com as Índias
O extrativismo de pau-brasil, muito utilizado na se tornara deficitário. Por essa razão, e considerando a
Europa por suas qualidades tintoriais, ocorria ao longo do premência de se colonizar o Brasil, D. João III decidiu
litoral brasileiro e era considerado estanco (monopólio) dividí-lo em capitanias hereditárias, para que elas
da Coroa. A mão de obra utilizada era livre e se limitava mesmas fossem colonizadas com recursos particu-
aos elementos indígenas, com os quais as companhias lares, sem ônus para a Coroa. No próprio Brasil, já existia
faziam o escambo, recebendo deles diversos produtos a capitania de São João, correspondente ao atual
em troca de bugigangas. Os portugueses que participa- arquipélago de Fernando de Noronha.
vam do comércio do pau-brasil passaram a ser conhe- O território brasileiro foi dividido em 14 capitanias
cidos pelo nome de “brasileiros”. (uma delas subdividida em dois lotes), doadas a doze
A exploração econômica do pau-brasil não chegou a donatários. Os limites de cada território, definidos
provocar o povoamento da terra, pois este somente sempre por linhas paralelas iniciadas no litoral, estavam
surgiu em função de uma atividade agrícola vinculada à especificados na Carta de Doação, documento esti-
cana-de-açúcar. pulava também que a capitania seria hereditária, indivisí-
vel e inalienável, podendo ser readquirida somente pela
Início da colonização Coroa.
A partir de 1530, Portugal viu-se obrigado a mudar de
atitude, tendo em vista o fracasso do comércio de
especiarias e a presença constante de contrabandistas
franceses no litoral brasileiro. Assim, com o objetivo de
proteger sua colônia e nela desenvolver uma atividade
econômica mais pragmática, o rei D. João III (o Coloni-
zador) enviou para o Brasil uma primeira expedição coloni-
zadora, sob o comando de Martim Afonso de Sousa.

A Carta de Doação, garantindo a posse da terra e estabelecendo as


obrigações dos donatários, era uma das bases jurídicas do sistema de
A vinda da expedição capitanias.
de 1530, sob o
Um segundo documento era a Carta Foral, que
comando de Martim
Afonso de Sousa, re- definia direitos e tributos devidos ao rei, além dos
vela a preocupação deveres e direitos dos colonos. Na realidade, os
de Portugal em donatários não recebiam a propriedade das capitanias,
colonizar o Brasil. mas apenas sua posse. De qualquer forma, possuíam

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amplos poderes administrativos, militares e judiciais, Por meio dessa medida, o monarca visava centralizar a
sendo responsáveis unicamente perante o soberano. administração colonial, subordinando as capitanias a um
Tratava-se, portanto, de um regime administrativo governador-geral que coordenasse e acelerasse o
descentralizado. processo de colonização do Brasil. Com esse objetivo,
HISTÓRIA AD

elaborou-se em 1548 o Regimento do Governador-Geral


no Brasil, que regulamentava as funções do governador
e de seus principais auxiliares — o ouvidor-mor (Justiça),
o provedor-mor (Fazenda) e o capitão-mor (Defesa).
O primeiro governador-geral foi Tomé de Sousa, que
fundou Salvador, primeira cidade e capital do Brasil. Com
ele vieram os primeiros jesuítas e foi criado o primeiro
bispado em terras brasileiras. Este último fato é
relevante, tendo em vista a importância da igreja católica
e sua estreita ligação com o Estado português.
A administração do segundo governador-geral, Duarte
da Costa, apresentou sérios problemas: sublevação dos
índigenas na Bahia, conflito entre o governador e o bispo
e, principalmente, a invasão francesa do Rio de Janeiro
(criação da França Antártica). Em compensação, o terceiro
governador-geral, Mem de Sá, mostrou-se tão eficiente
que a metrópole o manteve no cargo até sua morte; foi
ele quem conseguiu expulsar os invasores franceses,
graças à atuação de seu sobrinho Estácio de Sá.
Depois de Mem de Sá, por duas vezes a colônia foi
dividida temporariamente em dois governos-gerais: a
Repartição do Norte, com capital em Salvador, e a do Sul,
com capital no Rio de Janeiro.

Câmaras municipais
Além das capitanias e do Governo-Geral, foram
criadas as Câmaras Municipais nas vilas e nas cidades
do Brasil Colônia. O controle político das Câmaras
A divisão do Brasil em donatárias correspondeu aos interesses lusos de Municipais era exercido pelos grandes proprietários
ocupação sistemática do litoral brasileiro. locais, os “homens-bons”, o que reforçava suas
Apenas duas capitanias alcançaram certo sucesso: a de posições sociais de mando. Entre suas competências,
Pernambuco, pertencente a Duarte Coelho, e a de São destacavam-se o poder deliberativo sobre preços de
Vicente, de Martim Afonso de Sousa, ambas em função da mercadorias e a fixação dos valores de alguns tributos.
agricultura canavieira e da instalação de engenhos. O As eleições para as Câmaras Municipais eram
fracasso do projeto como um todo decorreu de vários realizadas entre os próprios aristocratas rurais. Ao
fatores: longo da colonização, os choques entre os interesses da
metrópole e os da colônia, isto é, entre o centralismo e
• grande distância da metrópole; o localismo, foram simbolizados, respectivamente, pelo
• excessiva extensão territorial; Governo-Geral e pelas Câmaras Municipais.
• ataques indígenas;
• desinteresse de vários donatários; Estatuto jurídico da colônia
• insuficiência de recursos; A base jurídica da colônia estava assentada num
• a ausência de um órgão centralizador, coorde- estatuto, idêntico ao da metrópole, isto é, seguia as
nador das ações dos donatários, por parte da denomina das Ordenações Reais, conjuntos de leis
Coroa. publicadas pelo Estado português, que possuíam como
característica a ação centralizadora e absolutista. As
3. Governo Geral primeiras foram as Ordenações Afonsinas de 1446,
alteradas em 1512 pelas Ordenações Manuelinas e, em
Reconhecendo o fracasso do regime de capitanias 1603, pelas Ordenações Filipinas. Tinham por inspiração
hereditárias, D. João III resolveu criar o Governo-Geral. originária o Código Romano e o direito de Justiniano.

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4. Cronologia
hereditárias.
1549 – Tomé de Sousa, primeiro governador-geral;
1501 e 1503 – Expedições exploradoras.

HISTÓRIA AD
fundação de Salvador.
1501 – Concessão da exploração de pau-Brasil a
1553 – Duarte da Costa, segundo governador-geral.
Fernando de Noronha
1554 – Fundação de São Paulo.
1504 – Criação da capitania de São João, doada a
1555 – Instalação da França Antártica no Rio de
Fernando de Noronha.
Janeiro.
1516 e 1526 – Expedições guarda-costas.
1558 – Mem de Sá, terceiro governador-geral.
1530 – Expedição colonizadora de Martim Afonso de
1565 – Fundação da cidade do Rio de Janeiro.
Sousa.
1567 – Expulsão dos franceses do Rio de Janeiro.
1532 – Fundação da vila de São Vicente.
1580 – Início da União Ibérica.
1534 – Implantação do regime de capitanias

1. (UNICAMP-2021) – “Em estudo amplamente divulgado pela


historiografia luso-brasileira, o historiador Charles Boxer afirmou: ‘entre
as instituições que foram características do império marítimo português
e que ajudaram a manter unidas as suas diferentes colônias, contavam-
se o Senado da Câmara, as irmandades de caridade e as confrarias
laicas’.”
(Adaptado de Maria Fernanda Bicalho, As Câmaras Municipais no
Império Português: o Exemplo do Rio de Janeiro. “Revista Brasileira
de História”, São Paulo: ANPUH, v. 18, n. 36, p. 252, 1998.)

A partir da leitura do texto e dos seus conhecimentos,


a) cite e explique uma função de uma das instituições citadas no texto
que contribuía para a manutenção da unidade de diferentes colônias
do império marítimo português;
b) explique duas razões pelas quais a existência de quilombos no
período colonial problematiza a noção de integridade do império
português.

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2. “Porque todos confessamos não se poder viver sem 4. (FATEC) – “O projeto de ocupação populacional da Colônia foi
alguns escravos, que busquem a lenha e a água, e estabelecido entre 1534 e 1536, com a adoção do sistema de capitanias
façam cada dia o pão que se come, e outros serviços hereditárias, que já havia sido empregado com sucesso nas ilhas
que não são possíveis poderem-se fazer pelos Irmãos Jesuítas, máxime atlânticas e, além do Brasil, seria estendido à Angola. O objetivo do rei
HISTÓRIA AD

sendo tão poucos, que seria necessário deixar as confissões e tudo D. João III com o sistema de capitanias hereditárias era promover a
mais. Parece-me que a Companhia de Jesus deve ter e adquirir ocupação territorial, transferindo o ônus para particulares. O sistema
escravos, justamente, por meios que as Constituições permitem, consistia na concessão pelo rei de extensos domínios a particulares, os
quando puder para nossos colégios e casas de meninos.” quais recebiam uma carta de doação real e um foral, no qual estavam
(LEITE. S. “História da Companhia de Jesus no Brasil”. especificadas suas obrigações. O donatário, nome dado ao particular
Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1938. Adaptado.) que recebia a capitania, tinha o direito de explorá-la economicamente,
administrar a Justiça e, ao mesmo tempo, estava obrigado a se sujeitar
O texto explicita premissas da expansão ultramarina portuguesa ao à autoridade da Coroa, a recolher os tributos e a expandir a fé católica,
buscar justificar a entre outras atribuições. Cabia ao donatário, ainda, a concessão de
a) propagação do ideário cristão. sesmarias, grandes extensões de terras que estão na origem do
b) valorização do trabalho braçal. latifúndio no Brasil. O sistema, contudo, começou a apresentar
c) adoção do cativeiro na Colônia. problemas para os donatários. Poucas foram as capitanias que
d) adesão ao ascetismo contemplativo. efetivamente prosperaram.”
e) alfabetização dos indígenas nas Missões. (Disponível em: https://tinyurl.com/y6q37ysu.
Acesso em: 15 out. 2019. Adaptado.)
Assinale a alternativa que apresenta, corretamente, algumas das causas
do fracasso do sistema descrito no texto.
a) A maior parte dos donatários enfrentou a resistência dos grupos
indígenas à ocupação de seus territórios tradicionais, os altos custos
de manutenção e de desenvolvimento das capitanias e/ou a falta de
assistência por parte da Coroa portuguesa.
b) Por serem de origem nobre, os donatários não demonstraram as
habilidades necessárias para administrar adequadamente os
recursos econômicos de suas capitanias e gerar lucros, forçando a
Coroa portuguesa a promulgar a Lei de Terras.
3. (UNESP 2022) – [O rei D. João III] ordenou que se povoasse esta
c) A natureza política do sistema de capitanias hereditárias foi
província, repartindo as terras por pessoas que se lhe ofereceram para
questionada pela burguesia portuguesa, que recorreu a cortes
as povoarem e conquistarem à custa de sua fazenda, e dando a cada um
internacionais para impedir a distribuição da maior parte das terras
50 léguas por costa com todo o seu sertão [...]; são sismeiros das suas
americanas aos membros da nobreza.
terras, e as repartem pelos moradores como querem, todavia movendo-
d) O declínio do sistema é consequência do fracasso agrícola, causado
se depois alguma dúvida sobre as datas, não são eles os juízes delas,
pela alternância de períodos de chuva intensa e secas prolongadas,
senão o provedor da fazenda, nem os que as recebem de sesmaria têm
características do clima de monções predominante na maior parte do
obrigação de pagar mais que dízimo a Deus dos frutos que colhem [...].
território americano.
(Frei Vicente do Salvador. História do Brasil (1500-1627). In:
e) O sistema entrou em colapso quando a terceira geração de
www.dominiopublico.gov.br.)
donatários foi derrotada na guerra contra os corsários franceses, que,
após a vitória, ocuparam os territórios das antigas capitanias
O excerto, do século XVII, caracteriza a
hereditárias.
a) definição de rigoroso sistema tributário voltado aos interesses da
Coroa portuguesa.
b) autorização para a instalação de sesmarias destinadas exclusiva-
mente ao cultivo de algodão e tabaco.
c) constituição de um regime fundiário apoiado na pequena propriedade
rural.
d) atribuição de poder político, econômico e jurídico aos senhores de
engenho.
e) criação das capitanias hereditárias e a atribuição de direitos aos
donatários.

64 –
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5.

Texto I

HISTÓRIA AD
“E pois que em outra cousa nesta parte me não posso vingar do
demônio, admoesto da parte da cruz de Cristo Jesus a todos que este
lugar lerem, que deem a esta terra o nome que com tanta solenidade lhe
foi posto, sob pena de a mesma cruz que nos há de ser mostrada no dia
final, os acusar de mais devotos do pau-brasil que dela.”

(J. Barros. In L. M. Souza. Inferno atlântico: demonologia e colonização: séculos


XVI-XVIII. São Paulo: Cia. das Letras, 1993.)

Texto II
“E deste modo se hão os povoadores, os quais, por mais arraigados
que na terra estejam e mais ricos que sejam, tudo pretendem levar a
Portugal, e, se as fazendas e bens que possuem souberam falar,
também lhes houveram de ensinar a dizer como os papagaios, aos quais
a primeira coisa que ensinam é: papagaio real para Portugal, porque tudo
querem para lá.”
(F. V. Salvador. In: L. M. Souza. (org.).
História da vida privada no Brasil: cotidiano e vida privada na América
portuguesa. São Paulo: Cia. das Letras, 1997.)

As críticas desses cronistas ao processo de colonização portuguesa na


América estavam relacionadas à
a) utilização do trabalho escravo.
b) implantação de polos urbanos.
c) devastação de áreas naturais.
d) ocupação de terras indígenas.
e) expropriação de riquezas locais.

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História Geral FRENTE 2


HISTÓRIA AD

MÓDULO 1 Da Monarquia à República Romana


1. Introdução 2. A Monarquia Romana

Apesar de sua posição geográfica privilegiada, no Durante a fase da Monarquia, a economia de Roma
centro do Mediterrâneo, a Península Itálica manteve-se era baseada na agricultura e no pastoreio. A sociedade
durante muito tempo isolada do contato com outros povos. era forma da pelos patrícios, originários das antigas
A região apresenta várias planícies férteis, como o famílias, que se constituíam nos grandes proprietários de
Lácio e a Campânia, junto ao Mar Tirreno, e a Apúlia, no terra e rebanhos; clientes, homens livres, de famílias
Mar Adriático. A grande fertilidade do solo despertou as pobres, que vi viam sob a proteção dos patrícios;
comunidades para a agricultura e o pastoreio, além da plebeus, representa dos pelos estrangeiros, pequenos
exploração de alguns recursos minerais, como cobre, proprietários, artesãos e comerciantes.
estanho, chumbo e ferro. A existência de poucos portos Em toda a fase monárquica, as lendas falam da
naturais retardou a navegação e o desenvolvimento do existência de sete reis: dois latinos, dois sabinos e os
comércio exterior. três últimos etruscos. Nessa última fase, a cidade de
No século VIII a. C., a península era ocupada por Roma teve um grande desenvolvimento urbano, em
diversos povos: italiotas, ao centro, dividindo-se em decorrência do notável conhecimento de técnicas arqui-
vários grupos ou tribos; gregos, estabelecidos em tetônicas dos etruscos, que exerceram uma profunda
colônias ao sul, na região conhecida como Magna Grécia; influência na civilização romana.
etruscos, localizados ao norte, entre os Rios Tibre e Arno. Até o advento dos reis etruscos, em 640 a. C., Roma
A história de Roma passou por três períodos era governada por soberanos que dependiam do Senado
distintos de governo: — Conselho dos Anciãos —, órgão formado exclusi-
vamente por patrícios. As decisões eram aprovadas pela
• Monarquia ou Realeza, de 753 a 509 a. C. Assembleia Curiata, que reunia todos os cidadãos das
famílias aristocráticas, cuja finalidade era votar as leis e
• República, de 509 a 27 a. C. aprovar a guerra.

• Império, de 27 a. C. a 476 d. C.

Rômulo e Remo: a origem lendária de Roma.

Crise da monarquia
O último rei de Roma, Tarquínio, o Soberbo, de
origem etrusca, aproximou-se da plebe com a finalidade
de anular a força do Senado. Por esta razão, os patrícios
depuseram-no e implantaram a República, órgão essen-
cialmente aristocrático, em 509 a. C.
As lendas, porém, atribuem a deposição do rei
Tarquínio, o Soberbo, a uma crise que envolveu Casta
Os colonizadores da Península Itálica. Lucrécia, uma jovem de família aristocrática, seduzida
66 –
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pelo filho do rei. Assim, a justificativa que assinalou o fim • Tribunos da Plebe: representava a plebe perante
da Monarquia envolveu uma profunda questão moral, o Senado.
que orientou a conduta dos cidadãos romanos durante
grande parte de sua história. • Lei das Doze Tábuas: as primeiras leis escritas

HISTÓRIA AD
de Roma.
3. A República Romana
• Lei Canuleia: autorizava o casamento entre
Com a queda da Monarquia e a implantação da Repú- classes.
blica (de respublica = “coisa pública”), o poder passou a
ser monopolizado pelo patriciado. A partir daí, o novo • Direito de participar de magistraturas inferiores e
governo conduziu a política no sentido de evitar a superiores.
participação da plebe e qualquer tentativa de concen-
tração de poder em uma única pessoa. As instituições • Lei Poetelia Papiria: Abolição da escravidão por
básicas da República eram o Senado, as Magistraturas dívidas.
e a Assembleia Centuriata.
O Senado era o principal órgão, formado pelos • Lei Licínia Sextia: Obrigava que a cada ano, um
patrícios mais ilustres, que exerciam cargos vitalícios. dos dois cônsules fosse plebeu.
Entre suas atribuições mais importantes, destacamos:
conduzir a política externa; administrar as províncias; • Lei Hortência: Direito de rejeitar decisões do
cuidar das práticas religiosas; supervisionar o tesouro Senado que afetassem os interesses dos plebeus. Esse
público (Aerarium). direito ficou conhecido como plebiscito.
Os magistrados exerciam o Poder Executivo, sendo
eleitos pela Assembleia Centuriata. Em geral, o mandato As vitórias da plebe deram-lhe praticamente a
era limitado pelo período de apenas um ano e havia dois igualdade política perante os patrícios em meados do
ou mais representantes para cada função. Os principais século III a. C. Essa paz interna possibilitou que Roma
magistrados eram: passasse a focar de forma mais prática em seu processo
de expansão territorial.
• Consulado: exercido por dois magistrados, que
tinham como funções convocar o Senado, comandar o 4. A expansão romana
Exército e presidir os cultos públicos;
O primeiro momento a ser considerado quando
• pretores: ministravam a justiça; tratamos da expansão romana é a conquista da própria
Península ltálica. Foi um processo lento que precisou de
• censores: zelavam pela moral dos cidadãos, mais de 230 anos para se efetivar, mas que resultou na
faziam o censo, preparavam o Álbum Senatorial e orien- anexação de todos os povos vizinhos (inclusive os aliados,
tavam os trabalhos públicos; como os latinos). Nesse processo, Roma logrou derrotar
e anexar territórios dos sabinos, a Etrúria, a Gália, a
• questores: administravam o tesouro e orientavam Planície da Campânia e Tarento, conquistas que lhe deram
os gastos financeiros em campanhas militares; o controle sobre toda a Península. O principal instrumento
para a conquista foi um exército muito bem preparado
• edis: responsáveis pela conservação pública para dominar os demais povos.
Os romanos foram grandes engenheiros. Por volta de
As lutas sociais 200 a.C., centenas de quilômetros de estradas, algumas
Os plebeus tinham participação meramente formal com até 12 metros de largura, cortavam seus domínios.
na Assembleia Centuriata, a qual era reunida para votar Elas eram construídas pelos legionários do exército
as leis já preparadas pelo Se na do; tratava-se, portanto, durante suas campanhas.
de leis ao gosto dos patrícios. Estes decretavam leis que Roma preocupou-se com a construção de estradas
empobreciam a plebe, obrigando-a a se endividar e aca- para, justamente, facilitar o deslocamento de suas tropas
bando por escravizá-la pelo não pagamento das dívidas e a mobilização de recursos necessários às conquistas.
contraídas dos próprios patrícios. Quando Roma partiu para a expansão além da
Tal fato provocou revoltas sociais em Roma, obri- Península ltálica, internamente havia uma relativa estabili-
gando os patrícios a fazer concessões à plebe: dade política, pois as questões sociais entre patrícios e
plebeus tinham sido resolvidas, temporariamente, pelas
conquistas plebeias — algumas ocorreram paralelamente
à unificação da Península ltálica.
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As Guerras Púnicas Na própria Itália, contudo, a agricultura entrou em


Com a conquista de Tarento, o grande alvo de Roma decadência. Os campos ficaram incultos ou subocu-
passou a ser a cidade de Cartago, pois essa antiga colônia pados, por causa da evasão dos camponeses plebeus,
convocados para a guerra.
HISTÓRIA AD

fenícia dominava o comércio no Mediterrâneo, chegando


a atingir a costa ocidental da África, a Bretanha e a Norue- Como consequência do desenvolvimento mercan-
ga. Os cartagineses ofereciam tecidos, perfumes, pedras til, surgiu uma classe de comerciantes, banqueiros,
preciosas, trigo, marfim e ouro, além de possuírem uma arrendatários, cobradores de impostos (publicanos), deno-
poderosa frota naval e um exército de terra. minados homens novos ou cavaleiros. Os patrícios,
Na Primeira Guerra Púnica (264-241 a.C.), os dependentes da exploração fundiária, empobreceram-se,
romanos investiram contra Cartago na disputa pelo con- passando a depender dos cargos públicos para manter
trole sobre a Sicília. A vitória romana forçou os cartagi- seu nível social. A plebe, marginalizada pelo aumento
neses a pagar-lhes uma pesada indenização de guerra e do número de escravos, passou a ser sustentada pelos
a entregar-lhes a Sicília, a Córsega e a Sardenha. homens novos ou pelo Estado, que distribuía trigo e
A Segunda Guerra Púnica (218-202 a.C.) deu aos proporcionava espetáculos circenses gratuitamente: a
romanos o controle sobre o norte da África e o sul da política de pão e circo, que tinha como meta principal a
Espanha, exceto o Reino da Numídia e Cartago. alienação política da plebe romana.
Na Terceira Guerra Púnica, entre 150 e 146 a.C., Frequentemente, os plebeus serviam como agre-
Roma invadiu o território cartaginês e os derrotou definiti- gados aos mais ricos em troca de esmolas e alimentos,
vamente. passando a se incorporar aos clientes. Nessa fase, os
Ao mesmo tempo em que Roma e Cartago se defron- escravos provenientes das conquistas militares chegavam
tavam, os romanos desenvolviam guerras também no a Roma em grandes proporções, tornando-se cada vez
Mediterrâneo Oriental. Durante a Segunda Guerra mais baratos e sendo considerados seres inferiores,
Púnica, como Filipe V da Macedônia havia dado apoio aos apenas “instrumentos falantes” (instrumenta vocalia). Isso
cartagineses, Roma invadiu o seu território, tornando as consolidou um sistema escravista de produção em Roma.
cidades-Estado gregas independentes da Macedônia. O O contato com o Oriente e com a Macedônia colocou
domínio sobre a Macedônia e a Grécia concluiu-se em os romanos em encontro direto com sua cultura, a
146 a.C. Também no século II a.C., Roma anexou a Síria, helenística, que passou a ser assimilada por Roma. O
a Ásia Menor, a Gália, o Ponto, Israel, a Bitínia e o Egito. Exército, principal agente das conquistas, também se
alterou: os soldados foram profissionalizados e
passaram a receber salários. O Exército cada vez mais
interferia na vida política romana. A estrutura republicana
já não dava mais conta do império universal e passava a
dar sinais de desintegração.

6. Cronologia

753 a.C. – Fundação de Roma, segundo a tradição.


640 a.C. – Roma passa a ser governada por
soberanos etruscos.
509 a.C. – Deposição de Tarquínio, o Soberbo, e
instauração da República Romana.
494 a.C. – Criação dos Tribunos da Plebe.
450 a.C. – Lei das Doze Tábuas.
445 a.C. – Lei Canuleia.
366 a.C. – Lei Licínia.
Guerras Púnicas
326 a.C. – Lei Poetelia Papiria
287 a.C. – Criação do Comício da Plebe.
5. Consequências das conquistas 335 a.C. – Submissão dos latinos.
272 a.C. – Conquista de Tarento, no sul da Itália.
O comércio interligava Roma e suas províncias em 265 a.C. – Anexação da Etrúria.
toda a orla do Mediterrâneo, permitindo o desenvol-
vimento das atividades agrícolas.
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146 a.C. – Domínio sobre a Grécia.


264-241 a.C. – Primeiro Guerra Púnica.
133 a.C. – Domínio sobre a Espanha.
218-202 a.C. – Segunda Guerra Púnica.

HISTÓRIA AD
120 a.C. – Domínio sobre o Sul da Gália
200 a.C. – Ocupação da Macedônia
Século I a.C. – Conquista da Ásia Menor, Síria,
150-146 a.C. – Terceira Guerra Púnica
restante da Gália e Egito.

1. (UFG) – Leia o fragmento da Lei das Doze Tábuas, datada de 450


a.C.

1. Se alguém for chamado a Juízo, compareça.


2. Se não comparecer, aquele que o citou tome testemunhas e o
prenda.
Tábua Primeira, do chamamento a Juízo.

3. Se alguém cometer furto à noite e for morto em flagrante, aquele


que o matou não será punido.
[…]
7. Se, pela procura, a coisa furtada for encontrada na casa de alguém,
que esse alguém seja punido como se fora um furto manifesto.
Tábua segunda, dos julgamentos e dos furtos. 2. (IFCE) – Consideremos o significado da palavra república. Ela vem do
latim res publica, que quer dizer “coisa de todos”. Denomina, portanto,
LEI DAS DOZE TÁBUAS. Disponível em: uma forma de governo em que o Estado e o poder pertencem ao povo.
<http://www.jurisciencia.com/legislacoes/legislacao-diversa/lei-das- No entanto, o que se observou na fase inicial da república romana foi a
doze-tabuas-lei-das-12-tabuas-lei-das-xiitabuas/210/>. instalação de uma organização política dominada apenas pelos patrícios.
Acesso em: 13 out. 2010. [Adaptado] Não houve a distribuição do poder entre todos, pois a maioria da
população, os plebeus, não tinha, inicialmente, o direito de participar
Esse código de leis estabeleceu os princípios do Direito Romano, que das decisões políticas. Isso gerou grandes conflitos.
forneceu as bases para o direito no Ocidente. De acordo com o
historiador Paul Veyne, “os costumes romanos são traduzidos com Por conta da situação acima mencionada, os plebeus iniciaram uma
bastante exatidão pelo direito civil”. Diante do exposto e considerando longa luta em busca dos seus direitos, sobre a qual é incorreto afirmar-
a leitura do fragmento, se que
a) analise os conflitos sociais na República Romana, que explicitam a a) a “Lei das XII Tábuas”, ainda que favorecesse os patrícios, serviu
relação entre lei e costume; para dar clareza às normas e aos costumes.
b) explique o papel da testemunha e a importância da prova, explícitos b) a “Lei Canuleia” autorizava o casamento entre patrícios e plebeus.
na Lei das Doze Tábuas. c) o “Comício da Plebe” deu aos patrícios o direito de decidirem pelos
plebeus assuntos relativos aos interesses de ambos.
d) a “Eleição de Magistrados” deu aos plebeus a condição de
ascenderem, aos poucos, aos principais cargos públicos.
e) a proibição da escravização por dívidas fez com que nenhum romano
fosse mais escravizado por conta de dívidas existentes.

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3. (FGV) – “A partir de então, passou-se a eleger cônsules em número c) o emprego de novas técnicas de navegação e de guerra anfíbia por
de dois, ao invés de um único rei, com o propósito de que, se um deles parte do exército gaulês liderado por Aníbal na Guerras da Gália (58
tivesse a intenção de agir mal, o outro, investido de igual autoridade, o a.C. - 51 a.C.) tornaram-no um dos grandes nomes da guerra naval.
coibisse.” d) a tática de “terra arrasada” utilizada pelo exército de Aníbal na defesa
HISTÓRIA AD

(Flávio Eutrópio, Sumário da história romana, in Historiadores de Cartago frente ao exército romano na Segunda Guerra Púnica
latinos, NOVAK, G., M e outros (orgs.), trad., (218 a.C. - 201 a.C.) é utilizada até hoje nos conflitos terrestres, tal
São Paulo, Martins Fontes, 1999, p. 259.) como na Guerra da Bósnia (1992-1995).
e após a transposição dos Alpes pelo exército de Aníbal, toda a parte
ocidental do Mediterrâneo tornou-se domínio de Cartago e dos
O trecho acima refere-se ao período da história de Roma conhecido fenícios até a incorporação deste território por Pompeu, o Grande,
como: em 65 a. C.
a) Diarquia, instituída logo após a época imperial.
b) Democracia, organizada após a revolta dos plebeus e dos escravos.
c) Consulado, criado para diminuir o poder dos tiranos.
d) República, estabelecida pela aristocracia patrícia.
e) Pax Romana, imposta pelos senadores como forma de limitar o
poder dos patrícios.

5. (CPS) – Imagine um só lugar onde você possa fazer compras, alugar


livros, fazer ginástica e trilhas, ver obras de arte, comer, tomar um banho
quente. Assim eram as termas da Roma Antiga, casas de banho criadas
no século II a.C. As construções eram enormes e chegavam a abrigar
milhares de banhistas. O ato de banhar-se era visto mais como uma
4. (Pucpr Medicina 2022) – O pintor espanhol Francisco de Goya
atividade social do que como de higiene para os romanos. Era nas
(1746-1828) retratou o general Aníbal numa das mais estudadas
termas que eles fechavam negócios, falavam de política e fofocavam.
passagens da história militar mundial. Assinale a alternativa que resume
Os banhos tinham horários separados para homens e mulheres e os
CORRETAMENTE a importância histórica de Aníbal e o contexto militar
escravos também podiam frequentar.
no qual atuou
<https://tinyurl.com/cynbuy> Acesso em: 08.02.2017. Adaptado.

De acordo com o texto, é correto afirmar que as construções citadas


a) eram grandes edificações onde ocorriam diversas atividades sociais,
além dos banhos quentes.
b) surgiram da necessidade de combater doenças relacionadas à falta
de higiene no período medieval.
c) atendiam, ao mesmo tempo, a homens e mulheres, nunca
ultrapassando a ocupação de mil pessoas.
d) sediaram a assinatura de acordos políticos que tiveram como
consequência a unificação italiana.
e) funcionavam em pequenos edifícios e eram destinadas ao lazer dos
nobres e de seus escravos.

Goya, Francisco de. Aníbal vencedor contemplando dos Alpes pela


primeira vez a Itália. Óleo sobre tela, 1770. Disponível em:
http://artepedrodacruz.files.wordpress.com/2010/05/anibal-vencedor-
que-por-primeira-vez-miro-italia-desde-los-alpes-1770-oleo.jpg. Acesso
em 09/08/2021.

a) por episódios como a passagem do exército cartaginês pelos Alpes


durante a Segunda Guerra Púnica (218 a.C. - 201 a.C.), Aníbal é
considerado um dos maiores estrategistas da história.
b) a crueldade de Aníbal durante a invasão de Roma na Primeira Guerra
Púnica (264 e 241 a.C.) colocou o general cartaginês na galeria dos
grandes tiranos da Antiguidade.

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MÓDULO 2 Da Crise da República ao Alto Império


1. A Crise da República Os triunviratos

HISTÓRIA AD
Em 60 a. C., Júlio César, Pompeu e Crasso, vitorio-
Com as conquistas militares, as instituições políticas sos em diversas campanhas militares, formaram o Pri-
da República Roma na começaram a se desintegrar, pois meiro Triunvirato. Com o apoio do Exército, assumiram o
não mais se adequavam às novas condições de um poder em Roma, reduzindo a autoridade do Senado.
império universal. Crasso morreu na Pérsia, Pompeu foi vencido por
A crise da República evidenciou-se durante as guerras César no Egito, onde a rainha Cleópatra passou a receber
civis, que acabaram implantando o Império. Diversas a proteção do vencedor. Em Roma, César procurou lega-
forças se defrontaram durante essas guerras: os patrícios, lizar o seu poder, obtendo a ditadura. O Senado cumulou-
que procuravam manter a República e os seus privilégios; o de títulos, mas César passou a pretender também a
os cavaleiros, que almejavam o controle do poder; os hereditariedade que só o título de “rei” lhe proporcionaria.
clientes, que serviam de instrumento na luta política; o Por isso, foi assassinado por um grupo de senadores
Exército, que se tornou profissional, a partir da reforma liderados por Brutus e Cassius.
realizada em 105 a. C., constituindo-se, igualmente, em O general Marco Antônio uniu-se a Caio Otávio,
um instrumento político nas mãos dos generais. sobrinho de César, e, juntamente com Lépido, formaram
o Segundo Triunvirato. Venceram os rebeldes na
As guerras civis Macedônia e dividiram a República entre si. Mais tarde,
Os primeiros sinais da crise apareceram quando os devido à enorme rivalidade entre os triúnviros, Otávio
Irmãos Graco — Tibério e Caio — pretenderam realizar a afastou Lépido, venceu Marco Antônio e Cleópatra e se
Reforma Agrária, a fim de libertar a plebe de seu estado apoderou do Egito. Os tesouros pilhados propiciaram-lhe
de submissão. Foram abatidos pelos nobres e cavaleiros um exército numeroso e celeiros abarrotados de trigo,
unidos. distribuído à plebe em seu nome. Voltou para Roma e foi
Surgiram, em seguida, generais políticos – primeiro recebido como o salvador da República; na verdade,
Mário, depois Sila –, que, apoiados na plebe e no Exército, seria o fundador do Império.
exerceram o poder de forma absoluta durante anos.
Após a morte de Sila, em 79 a. C., eram evidentes os 2. Alto Império
sintomas de crise da República. Esse período de ditaduras
militares mostrou que a plebe e o Exército se transfor- O Império Romano foi estabelecido, de fato, quando
maram em forças poderosas, verdadeiros instrumentos Caio Otávio retornou do Egito com seu numeroso
nas mãos de indivíduos ambiciosos pelo poder político. exército. O Senado concedeu-lhe vários títulos que
legalizaram seu poder absoluto, destacando-se: Pontífice

O Império Romano sob o governo de Augusto. Trajano, em cujo reinado (98-117) o Império
Romano atingiu sua máxima extensão.

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Máximo, em que se tornou o chefe da religião romana; Durante o período de estabilidade existiram quatro
Princeps Senatus, recebendo o direito de governar o diferentes dinastias que governaram Império: a
Senado; Imperator, reservado aos generais vencedores; JúlioClaudiana (14-69); os Flávios (69-96); os Anto-
finalmente, Augusto, título até então destinado aos ninos (96-192); e os Severos (193-235).
HISTÓRIA AD

deuses e que permitia a Otávio escolher seu sucessor. A partir da metade da Dinastia Antonina (governos de
O poder de Caio Otávio apoiava-se efetivamente no Trajano e Adriano, 98 a 138), o Império Romano não
Imperium, comando do Exército; no poder proconsular, realizou novas conquistas, limitando-se a travar lutas
ou seja, no direito de indicar os governadores das localizadas para consolidar suas fronteiras na Europa
províncias; no poder tribunício, de caráter popular e (contra os germanos) e no Oriente (contra os persas, que
delegado pela plebe. Era a fase do principado de Augusto, se libertaram dos partas no século III).
em que as aparências republicanas escondiam o seu Em 212, o Imperador Caracala destacou-se por ter
poder de imperador. assinado um edito (decreto real ou imperial) que estendeu
a cidadania a todos os homens livres do Império,
Reformas de Augusto igualando-os perante o Direito Romano.
Augusto reorganizou as províncias, dividindo-as em Na época dos Severos, o imperador era um soberano
imperiais (militares) e senatoriais (civis). Indicava os que se apoiava na burocracia e no Exército. O Senado
governadores e controlava-os por meio de inspeções havia-se esvaziado. Os crescentes problemas econô-
diretas e relatórios anuais. Criou o sistema estatal de micos prenunciavam a crise: o Império entrava em sua
cobrança de impostos, acabando com a concessão da fase de declínio.
arrecadação a particulares.
No plano social, acabou com a tradicional superio- 3. O Baixo Império
ridade do patriciado, criando uma estrutura social
fundamentada em critérios censitários. Os mais ricos, Em termos militares, a anarquia e o final das
que tinham uma renda acima de 1 milhão de sestércios, guerras de conquistas contribuíram para a diminuição
pertenciam à Ordem Senatorial, que tinha os privilégios do número de escravos, pois a agricultura romana, para
políticos e distinguia-se pelo uso da cor púrpura. A Ordem garantir uma boa produção, necessitava de um número
Equestre era composta de romanos com renda acima de abundante de escravos. À medida que as guerras
400 mil sestércios, usava a cor azul e possuía menos cessavam, escasseava a mão de obra disponível e o seu
direitos. Abaixo desse nível, ninguém mais possuía preço se elevava. O deficit orçamentário, resultante do
direitos políticos; a grande maioria constituía a Ordem aumento das despesas, levou o poder político a aumentar
Inferior. excessivamente os impostos.
Buscando conter a influência da cultura helenística Ocorreu, então, o êxodo urbano. A população
(grega e oriental) no Império, Augusto tentou reavivar os começou a se concentrar nos campos, em propriedades
valores do passado agrário de Roma, sem muito êxito. autossuficientes, denominadas villas, precursoras dos
Para defender suas ideias, trouxe para a corte literatos feudos medievais. As cidades foram deixando de ser o
como Tito Lívio, Virgílio, Ovídio e Horácio. centro da vida do Império, verificando-se uma tendência
Em 9 d.C., uma expedição enviada contra a Germânia de ruralização da economia. Esse fato se acentuou com
(atual Alemanha) foi destruída pelos bárbaros; essa as pressões bárbaras sobre o Império, levando as villas a
derrota causou tamanha impressão que Augusto constituírem verdadeiras fortalezas, o que fez a vida de
interrompeu a expansão romana, a qual somente seria suas populações mais segura.
retomada algumas décadas depois. Esse breve período
de paz externa recebeu o nome de Pax Augusta. Expansão do cristianismo
Os piratas que prejudicavam o comércio marítimo e Nessa mesma época, agravou-se a crise religiosa. O
os salteadores de estradas foram eliminados; esse fato, cristianismo começou a se difundir pelo Império, logo
somado ao fim das guerras civis, permitiu o restabele- após o martírio de Cristo, ocorrido no reinado de Tibério.
cimento das leis e da ordem em todas as províncias do A difusão era feita pelos apóstolos, que percorriam as
Império, assegurando o livre trânsito de pessoas e regiões da época, pregando a mensagem do Messias.
mercadorias. Gerou-se assim uma situação de paz e Nero foi responsável pela primeira perseguição aos
segurança internas que perduraria até o século III d.C (Pax cristãos, acusados de não cultuar o imperador (consi-
Romana), quando, a partir de então, se tem o início da derado uma divindade), nem os deuses pagãos. Além
crise que levaria ao fim do Império. disso, atribuía-se aos cristãos a responsabilidade por
Sem herdeiros diretos, Augusto indicou como suces- todas as calamidades que ocorriam: enchentes, tempes-
sor seu filho adotivo, Tibério. Não obstante, as indicações tades, pestes e incêndios. As perseguições, contudo,
seguintes seriam feitas em geral pelos militares. tiveram um efeito contrário ao esperado, pois acabaram

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HISTÓRIA AD
A divisão do Império Romano, realizada pelo imperador Teodósio, em 395, e a demarcação dos limites, destacando os impérios
existentes nas fronteiras no ano 450.

convertendo os espectadores pagãos, impressionados Depois dessa divisão, nunca mais o Império se
com a firmeza e resignação dos cristãos diante dos reunificou em sua integridade, pois os bárbaros germâ-
sofrimentos. nicos ocuparam a parte ocidental, enquanto o Império
Em 313, Constantino baixou o Edito de Milão, Oriental sobreviveu até a conquista turca de Constan-
proibindo as perseguições e dando aos cristãos liberdade tinopla, em 1453.
de culto. A partir de então, a difusão do cristianismo
ganhou um impulso ainda maior. Em 380, o imperador Invasões bárbaras e fim do Império
Teodósio proibiu o culto pagão e oficializou o cristia- O enfraquecimento militar facilitou as invasões dos
nismo como religião do Império Romano, com o Edito bárbaros, que foram ocupando o território do Império
da Tessalônica. Romano do Ocidente: visigodos, na Espanha; vândalos,
Portanto, ao mesmo tempo que enfraquecia o poder na África; francos, na Gália; anglo-saxões, na Bretanha;
imperial, o cristianismo tornava-se a própria base legal no ostrogodos, na Itália.
fim do Império Romano. Em 476, o Império do Ocidente reduzia-se à Itália. O
imperador Júlio Nepos foi deposto por Orestes, chefe do
Medidas contra a crise Exército, que colocou seu filho de 6 anos no trono com o
nome de Rômulo Augústulo. Odoacro, rei dos hérulos,
Entretanto, a situação se agravava. A crise estava
chefe bárbaro aliado a Júlio Nepos, deu um contragolpe:
intimamente relacionada com os problemas militares. O afastou Orestes e Rômulo Augústulo, tornando-se rei da
Exército conturbava a ordem na época da sucessão Itália. As insígnias imperiais foram enviadas a Constan-
imperial. Nessa última fase, o imperador Diocleciano tentou tinopla, o que significava, ao menos teoricamente, a
contornar o problema dividindo o Império em quatro partes reunificação do Império.
(tetrarquia). Depois de sua morte, as disputas sucessórias Mais tarde, o imperador do Oriente, Zenon, preten-
renasceram, pois Constantino reunificou o Império. dendo livrar-se dos ostrogodos, que lhe causavam proble-
Outras divisões se verificaram, até a última, determi- mas, concedeu-lhes a Itália. Chefiados por Teodorico,
nada por Teodósio, em 395, que criou o Império Romano esses bárbaros formaram o último reino germânico do
do Ocidente, com sede em Roma, e o Império Romano Ocidente: o Reino Ostrogótico da Itália. Era o fim do
do Oriente, com sede em Constantinopla. Império Romano do Ocidente.
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4. Legado Cultural O latim deu origem às línguas românicas da Europa:


o português, o francês, o espanhol, o italiano e o romeno.
A estrutura do Direito Romano influenciou toda a Devemos ainda destacar seus ensinamentos na arte
sociedade ocidental. Seu código de justiça é até hoje a militar, na administração pública e na arquitetura, além
HISTÓRIA AD

base de todos os códigos de justiça do Ocidente e, por claro, do cristianismo que, enquanto religião, nasceu,
isso, disciplina obrigatória na formação dos juristas atuais. cresceu e se consolidou dentro do Império Romano.

5. Cronologia

212: concessão de cidadania a todo o Império.


133-121 a.C. – Tentativas de reformas dos Irmão
235 – Início da anarquia militar.
Graco.
Século III – Início da crise econômica do Império
107-79 a.C. – Fase dos Generais.
Romano.
60 a.C. – Primeiro Triunvirato.
284 – Criação da Tetrarquia por Diocleciano.
40 a.C. – Segundo Triunvirato.
313 – Fim da Tetrarquia.
27 a.C.-14 d.C. – Principado de Caio Otávio. Início do
- Edito de Milão.
Império.
325 – Concílio de Niceia e organização da Igreja
14 a 68: Dinastia Júlio-Claudiana: Tibério, 14 a 37;
Católica.
Caio Calígula, 37 a 41; Cláudio, 41 a 54;
380 – Edito da Tessalônica.
Nero, 54 a 68.
395 – Divisão do Império Romano em Ocidente e
64: perseguição de Nero aos cristãos.
Oriente.
69 a 96: Dinastia dos Flávios: Vespasiano, 69 a 79;
406 – Início das invasões Germânicas.
Tito, 79 a 81; Domiciano, 81 a 96.
410 – Saque de Roma pelos visigodos.
96 a 192: Dinastia dos Antoninos: Nerva, 96 a 98;
415 – Fundação do Reino Visigótico.
Trajano, 98 a 117; Adriano, 117 a 138;
439 – Fundação do Reino Vândalo.
Antonino Pio, 138 a 161; Marco Aurélio,
443 – Fundação do Reino Borgúndio.
161 a 180; Cômodo, 180 a 192.
449 – Ocupação da Bretanha por anglos, saxões e
193 a 235: Dinastia dos Severos: Septímio Severo,
jutos.
193 a 211; Caracala e Geta, 211 a 212;
455 – Saque de Roma pelos vândalos.
Caracala, 212 a 217; Heliogábalo, 218 a
476 – Fim do Império Romano do Ocidente.
222; Alexandre Severo, 222 a 235.
488 – Ocupação da Itália pelos ostrogodos.

1. (Ufes) – No ano 15 a.C, nasceu Julio César Germânico, também


conhecido como Nero Cláudio Druso e, posteriormente, celebrizado
apenas sob a alcunha de Germânico. Sobrinho de Tibério, pai de Calígula
e irmão do imperador Cláudio, Germânico morreu misteriosamente em
Alexandria, no Egito. Ele ficou assim conhecido por ter vencido várias
tribos germânicas e ajudado a estabelecer as fronteiras ao norte e a
leste do Império Romano, tendo recebido várias honrarias de Roma e
ocupado os cargos de questor e de cônsul.
a) Analise a relação dos chamados povos bárbaros com a expansão e
a decadência do Império Romano.
b) Identifique duas características importantes do período imperial
romano.

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3. (UTFPR) – No período imperial, a cidade de Roma, atingiu algo em


torno de um milhão de habitantes, mas boa parte dessa população vivia
em condições precárias, já que o sistema escravista a impedia de
arrumar trabalho. Para diminuir as tensões sociais os imperadores

HISTÓRIA AD
adotavam a Política de Pão e Circo, que pode ser definida como:
a) distribuição de cereais e grandes espetáculos públicos em que
gladiadores lutavam entre si ou com animais ferozes.
b) distribuição de alimentos como pães, frutas e hortaliças, além da
realização de jogos variados.
c) distribuição de alimentos em geral e representações teatrais, mas
somente de comédias, com o objetivo de alegrar a assistência.
d) distribuição de pães e outros alimentos, além da realização de
corridas de biga pelas ruas centrais da cidade.
e) distribuição de alimentos variados e grandes espetáculos de circo,
com a presença de mágicos, palhaços e malabaristas.

4. “[...] uma grande multidão foi condenada não apenas pelo crime de
incêndio mas por ódio contra a raça humana. E, em suas mortes, eles
foram feitos objetos de esporte, pois foram amarrados nos esconderijos
de bestas selvagens e feitos em pedaços por cães, ou cravados em
2. (Imed) – As conquistas territoriais romanas do período republicano cruzes, ou incendiados, e, ao fim do dia, eram queimados para servirem
trouxeram, como consequência, uma forte tensão social. Como de luz noturna.”
tentativa de superação dessa crise, os irmãos Tibério e Caio Graco (TÁCITO, Cornelius. Anais. Rio de Janeiro: W. M. Jackson, 1964).
propuseram:
a) O Édito Máximo, que estabelecia um controle sobre o preço dos Sobre o tratamento dado aos cristãos pelo Estado Romano, é correto
alimentos. afirmar:
b) A criação do cargo de tribuno da plebe com poder de veto sobre as a) A perseguição violenta desencadeada contra os seguidores do
decisões do senado. cristianismo foi praticada até a queda do Império Romano.
c) A reforma agrária como forma de satisfazer as necessidades da b) A violência contra os cristãos foi decorrente da fraqueza doutrinária
plebe empobrecida. da sua religião, o que facilitava a aplicação da justiça por parte do
d) A anexação dos territórios localizados ao norte de Roma, que Estado Romano.
estavam sob o poder dos povos bárbaros. c) As perseguições aos cristãos foram circunstanciais, motivadas pelo
e) A descolonização das regiões incorporadas ao Estado romano. fanatismo de alguns governantes, pois o Estado Romano tolerava a
presença de todas as religiões.
d) Apenas os principais líderes cristãos foram perseguidos, pois o
Estado Romano se caracterizava pela tolerância religiosa.
e) As razões da violenta perseguição ao cristianismo no Império
Romano têm relação com o fato de que os cristãos não aceitavam
que o Imperador fosse adorado como um deus.

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5. A queda do Império Romano foi causada por uma série de fatores


que o fragilizaram, facilitaram as invasões bárbaras e causaram a
derrubada final do Estado. Em geral, a expressão "queda do Império
Romano" refere-se ao fim do Império Romano do Ocidente, ocorrido em
HISTÓRIA AD

476 d.C., com a tomada de Roma pelos hérulos, uma vez que a parte
oriental do Império, que posteriormente os historiadores denominariam
Império Bizantino, continuou a existir por quase mil anos, até 1453,
quando ocorreu a Queda de Constantinopla.
Entre as causas do colapso do Império Romano Ocidental, podemos
citar:
a) A Anarquia Militar, que impedia a estabilidade política provocando a
ascensão das massas populares plebeus ao poder em Roma. Esse
fator conduziu a uma onda democrática tornando inviável a
administração e a continuidade dessa civilização.
b) Da implantação da religião Cristã que diminuiu a eficiência do
exército, devido a seu arraigado pacifismo. Outro fator foi à a total
abolição da escravidão pelo imperador Constantino, o que provocou
uma crise da mão de obra.
c) Da invasão dos Persas, hunos e das tribos germânicas que
destruíram o império do Oriente e implantaram formas servis de
produção agrária.
d) da desagregação do sistema escravista de produção romano,
causado, basicamente. pelo fim das guerras de conquista e na
redução do afluxo de escravos e riquezas , a partir do século III d.C.
e) Do processo de invasões de tribos Nórdicas que atingiram o império
ocidental no momento em que este estava entrando numa fase de
êxodo rural , o que ocasionou o colapso acelerado dessa civilização.

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MÓDULO 3 A Arábia e o Islamismo


1. Introdução 3. Maomé

HISTÓRIA AD
Desde sua origem no século VII, a religião islâmica, Maomé era descendente de uma família pobre (haxe-
fundada por Maomé, propagou-se pelo mundo, tornando-se mitas), mas pertencia à tribo dos coraixitas. Dedicando-
peça fundamental na compreensão da história da huma- se desde cedo ao trabalho em caravanas, conheceu outros
nidade. povos do Oriente Médio e entrou em contato com o
Nos 13 séculos que se passaram desde a sua gêne- cristianismo e o judaísmo. Depois de seu casamento
se, a religião congrega hoje mais de 800 milhões de adep- com uma rica viúva, Kadidja, Maomé entregou-se aos
tos, “unidos pelo sentimento profundo de pertencerem a retiros espirituais e meditações, sem abandonar por
uma só comunidade. E essa expansão, que continua, é completo a atividade profissional. Segundo ele próprio
devida principalmente a um espírito de que transcende afirmou, teve sucessivas visões do arcanjo Gabriel. Este
qualquer distinção de raça e permite a cada povo se lhe teria confiado a missão de propagar uma nova religião,
integrar no Islão mas, ao mesmo tempo, conservar sua cuja essência se consubstanciava na seguinte frase:
cultura própria.” “Maomé, tu és o Profeta do Deus único, Alá.”
(O Correio da Unesco, 1981.) Maomé converteu primeiramente seus familiares e,
em seguida, tentou convencer os coraixitas, sem obter
2. A Arábia pré-islâmica êxito. Perseguido, fugiu de Meca para Yatreb (desde
então chamada Medina en Nabi, que significa “a Cidade
A Península Arábica é uma região desértica em sua que recebeu o Profeta”) com vários familiares, no episó-
maior parte, localizada entre o Mar Vermelho e o Golfo dio que ficou conhecido como Hégira, que marca o início
Pérsico. Essa região imensa, aparentemente vazia, do calendário muçulmano.
possuía numerosos oásis e postos caravaneiros, além de Apoiando-se nos habitantes de Medina, Maomé deu
algumas cidades situadas na proximidade da costa e dos início à Guerra Santa contra Meca, atacando suas cara-
portos. As rudes condições de vida da região explicam vanas. O prestígio de Maomé cresceu com suas vitórias e,
seu isolamento; as sim, não foi conquistada pelos com o apoio dos beduínos, marchou contra Meca,
grandes Impérios da Antiguidade Oriental, nem mesmo destruindo os ídolos da Caaba (exceto a Pedra Negra),
pelos romanos, que diziam não lhes interessar as “pedras declarando sagrado o recinto do santuário e implantando
e a areia da Arábia”. definitivamente o monoteísmo. Nesse ano de 630,
nasceu o Islã.
Religiosidade Os últimos anos de sua vida, Maomé passou conver-
A palavra islamita quer dizer “submisso a Deus” e tendo os demais árabes pela força das armas. Morreu em
muçulmano significa “crente”. Os árabes acreditavam em Medina, onde construíra a primeira mesquita do Islão,
espíritos (djinns), representados por ídolos como árvores deixando elaborada a doutrina islâmica, que transmitiu a
e pedras, e em uma infinidade de divindades subordinadas seus seguidores.
a um ser superior – Alá (Deus, a divindade). O único fator
de unidade religiosa era o santuário existente na cidade
de Meca, a Caaba, em cujo interior estava depositada
uma Pedra Negra, reverenciada por todos os árabes que
para lá se dirigiam em peregrinação. Ali estavam também
representados os ídolos das diversas tribos da Arábia, que
todos os anos eram visitados pelos peregrinos que
aproveitavam para realizar suas práticas comerciais.
Aos habitantes de Meca interessavam, sobretudo, as
romarias que se realizavam ao final de cada ano, pois
dinamizavam as trocas e transformavam a cidade em um
grande centro comercial. Sua única grande rival era
Yatreb, velha cidade situada em um oásis, 350 quilô-
metros ao norte de Meca. Desse afluxo de beduínos
viviam os grandes comerciantes pertencentes à tribo dos
coraixitas, que controlavam o santuário da cidade e o
poder político local.
O arcanjo Gabriel revela a Maomé, sempre representado por
uma chama, sua missão profética.

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HISTÓRIA AD

As conquistas árabes, após a morte de Maomé, deram origem ao mundo muçulmano.

Preceitos do islamismo árabe saiu de suas fronteiras, convertendo uma grande


As transcrições de seus ensinamentos consubs- população que, com o passar do tempo, integrou-se com
tanciaram-se mais tarde no livro sagrado, o Corão ou os mesmos direitos ao mundo muçulmano.
Alcorão. A doutrina islâmica é um sincretismo funda- No entanto, a unidade do mundo muçulmano foi
mentado no cristianismo e no judaísmo, bem como nas quebrada com o surgimento de vários movimentos, entre
tradições religiosas da própria Arábia. Prega a crença em os quais se destacam os sunitas e os xiitas. A diver-
um único Deus, nos anjos, no paraíso celestial e no Juízo gência inicial entre esses dois grupos reside na questão
Final. Impõe aos fiéis como princípios essenciais do do direito de sucessão ao governo do Islão. Segundo o
dogma: peregrinar a Meca, pelo menos uma vez na vida; Corão, somente os parentes de Maomé poderiam subs-
dar esmolas; jejuar no mês do Ramadã; orar cinco tituí-lo no comando dos crentes. Mas na Suna não havia
vezes ao dia, voltados em direção a Meca; fazer a Guerra a mesma afirmação sobre a questão. Assim, os xiitas
Santa, que representava uma obrigação ocasional. constituíram o grupo fundamentalista que aceita apenas
As tradições em torno da vida de Maomé foram as regras estabelecidas pelo Corão, ou seja, que apenas
reunidas por seus adeptos em outro livro denominado os descendentes de Maomé possuem o direito de
Suna (Tradição), utilizado sempre que se tratava de achar governo, enquanto os sunitas abraçaram a Suna e inicia-
argumentos para impor uma decisão ou definir uma norma ram um processo de disputa sucessória com os xiitas.
de governo para a qual o Corão não fornecesse elementos.
5. Expansão Muçulmana
4. Divisão interna
Causas
Quando Maomé morreu, deixou a Arábia unificada,
com sua capital em Meca e sob a preponderância política A expansão islâmica é algo a se ressaltar, principal-
dos Haxemitas. A morte do profeta não provocou a mente pelo seu caráter rápido e fulminante. Em pouco
dissolução do incipiente Estado árabe: primeiro, porque mais de cem anos, os árabes construíram um vasto
os adeptos do islamismo, em sua maioria, eram crentes Império que se estendeu do Atlântico ao Oriente.
apegados à fé e à propagação dos ideais religiosos; Ao desejo desse povo de expandir a fé e converter o
segundo, porque surgiram de imediato dois homens, Abu mundo à religião islâmica, preceito fundamental da
Bekr e Omar – os dois primeiros califas –, que souberam Guerra Santa, somam-se a atração pelo butim e a ideia
assumir a sucessão e a herança de Maomé, exercendo de um paraíso material aos que morressem pela causa de
autoridade civil, militar e religiosa. Alá. Além disso, a expansão foi motivada pela busca de
Os quatro primeiros califas eram parentes de melhores terras, em decorrência da explosão demo-
Maomé, fazendo parte da dinastia dos Haxemitas, que gráfica, fruto da poligamia; pela fraqueza dos Impérios
estenderam seus domínios sobre as antigas civilizações Persa e Bizantino; e pela fragmentação dos reinos
da Síria, Palestina, Pérsia e Egito. Desta forma, o domínio bárbaros que conquistaram o Império Romano.
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Processo Desenvolvimento científico


A substituição dos califas Haxemitas pelos Omíadas, Afora a civilização material criada pelos árabes, ocor-
em 660, levou a duas mudanças: a capital foi transferida reu também um florescimento intelectual. A conquista da
Pérsia possibilitou o contato com uma civilização muito

HISTÓRIA AD
para Damasco, na Síria, e as conquistas voltaram-se para
o Ocidente. Avançando de forma fulminante, os antiga, fecundada por influências indianas e helenísticas,
maometanos conquistaram a África do Norte, a Península conservadas cuidadosamente pelos documentos reprodu-
Ibérica e até o sul da Gália, onde foram detidos pelos zidos por copistas profissionais.
francos, liderados por Carlos Martel, na Batalha de Durante a Dinastia Abássida, os estudos científicos
Poitiers; as ilhas de Córsega, Sardenha e Sicília também ganharam importância. As ciências introduzidas no meio
caíram sob dominação muçulmana. Os árabes passavam árabe foram a Filosofia, a Matemática e a Medicina.
a deter o controle sobre o Mar Mediterrâneo. Na Filosofia, destacou-se Averróis, que viveu no
Em 750, em Damasco, um golpe político afastou os século XII, estudioso da obra de Aristóteles e, ao mesmo
Omíadas do poder. Nesse momento, ascendia a Dinastia tempo, filósofo, médico, jurisconsulto e astrônomo. Os
Abássida, formada por parentes do profeta. A nova princípios da Matemática foram buscados em Euclides;
dinastia provocou algumas mudanças no mundo islâmico: os cálculos, muito simplificados pelo uso dos algarismos
transferiu a capital para Bagdá e promoveu uma expan- arábicos – que, na verdade, foram assimilados da Índia –
são territorial rumo ao Oriente, além de um notável e pela criação da Álgebra.
desenvolvimento cultural. A vastidão do Império tam- Além da Matemática, os árabes tinham predileção
bém produziu seus efeitos negativos, como a perda da pela Astronomia, pois já estavam familiarizados com as
unidade política (separatismo de muitas regiões) e a constelações que lhes serviam de guias em suas traves-
formação de dinastias locais. sias noturnas no deserto.
A Alquimia também foi estimulada em pesquisas e
Consequências da expansão experiências, com a finalidade de descobrir o elixir da
longa vida e a pedra filosofal, que permitiria transformar
A expansão dos árabes significou, além da conquista
todos os metais em ouro.
de um vasto território, o controle das principais rotas
Na Medicina, Avicena (980-1037) descobriu a natu-
comerciais do Mediterrâneo. Suas técnicas de navega-
reza contagiosa da tuberculose. Sua principal obra médica,
ção permitiram-lhes navegar livremente pela bacia medi-
Cânon, brevemente tornou-se o compêndio padrão para
terrânica, levando o pânico às cidades costeiras da
a educação médica em toda a Europa até o século XVII.
Europa. Além disso, os árabes proibiram qualquer tipo de
A arquitetura árabe foi notável, desenvolvida com
navegação por parte dos cristãos que, segundo o histo-
uma finalidade prática: assegurar, onde quer que os
riador Ibn Khaldun, “não conseguiram fazer flutuar sequer
muçulmanos se encontrassem, a possibilidade de fazer
uma tábua sem o consentimento dos islamitas”.
em comum suas preces de sexta-feira, num edifício desti-
O quase completo desaparecimento do comércio
nado para isso – a mesquita.
europeu acelerou o processo de ruralização que já se
A pintura e a escultura praticamente não se desen-
processava na Europa, contribuindo sobremaneira para a
volveram, em razão da proibição à idolatria. Porém, os
formação do feudalismo.
árabes destacaram-se na arte decorativa, na sua escrita
ornamental (arabescos), na caligrafia e na ilustração.
Na Literatura, cabe destacar: As Mil e Uma Noites,
o Livro dos Reis e Rubayat, de Omar Khayan.

6. Cronologia

660-750 – Dinastia Omíada.


570 – Nascimento de Maomé.
711 – Invasão da Espanha pelos árabes (mouros).
610 – Maomé tem a primeira visão do arcanjo Gabriel.
732 – Derrota dos árabes perante Carlos Martel na
622 – Hégira.
Batalha de Poitiers.
629 – Conquista de Meca por Maomé.
750-1258 – Dinastia Abássida.
632 – Morte de Maomé.
756 – Fundação do califado de Córdoba; início da
630-660 – Governo dos califas haxemitas.
fragmentação do Império Árabe.

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1. (UNICAMP) – “A palavra árabe iman provém de uma raiz que 2. (UNESP -2021) – A migração de Maomé e seus seguidores para
HISTÓRIA AD

significa ‘ter certeza’ e designa fé, no sentido da certeza. A fé, por Medina, em 622, marca a
conseguinte, não contradiz o conhecimento nem a compreensão. Pelo a) conquista muçulmana da Terra Santa, após as lutas contra os
contrário, o desejo de saber é uma obrigação religiosa, e os tempos pré- cruzados europeus.
islâmicos (século VI) na Arábia são chamados pelos islâmicos de jahiliya, b) passagem da união familiar e clânica dos árabes para a constituição
ignorância.” de uma religião coesa. c) expansão política das oligarquias locais, por
(Burkhard Scherer (org.), As Grandes religiões: temas centrais meio da imposição do islamismo a todos os árabes.
comparados. Petrópolis: Vozes, 2005, p. 77. Adaptado.) d) consolidação da primeira religião baseada na Bíblia, fora do âmbito do
cristianismo.
a) Cite uma característica política e uma característica religiosa da e) transição do politeísmo imposto na Palestina para uma religião
península arábica pré-islâmica. monoteísta institucionalizada.
b) Como conviveram fé e conhecimento científico no mundo islâmico
na Alta Idade Média?

3. O Império Árabe está associado a um legado cultural islâmico


secular. Assinale o significado histórico correto da expressão islâmica
que se manifesta na crise atual do Golfo Pérsico. Os árabes, entre os
Séculos VII e XI, ampliaram suas conquistas e forjaram importante
civilização. Sob a ação catalisadora do Islã, foi mantida a unidade política,
enquanto que o comércio destacou-se como elo do relacionamento
tolerante com muitos povos. Além disso, argumenta-se que os valores
culturais da Antigüidade Clássica chegaram ao conhecimento do Mundo
Moderno Ocidental. Sobre o islamismo podemos afirmar:
a) “Jihad” é a luta pela fé, pela restauração da palavra de Alá e ação
contra a opressão.
b) Apenas os Árabes são considerados muçulmanos dentro do universo
islâmico
c) “Mesquita” é um templo e ao mesmo tempo centro administrativo
d) fundamentalista é aquele que pratica rezas diárias e segue o Islã.
e) “Hégira” é vocábulo árabe que no léxico português significa tufão.

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4. (UFJF) – A notícia abaixo, publicada em uma revista semanal 5. (Upe) – O Islamismo – religião pregada por Maomé e seus seguidores
brasileira, informa acerca de um importante problema contemporâneo. – tem hoje mais de 1 bilhão de fiéis espalhados pelo mundo, sendo ainda
Observe: predominante no Oriente Médio, região onde surgiu. Um dos principais
Islã e Terrorismo (Carta Capital, 01/12/2015) fundamentos da expansão muçulmana é a Guerra Santa. A respeito dos

HISTÓRIA AD
muçulmanos, é correto afirmar que
a) a expansão árabe-muçulmana acabou por islamizar uma série de
povos, exclusivamente árabes.
b) o povo árabe palestino, atuando na revolução armada palestina, rejeita
qualquer solução que não a libertação total do Estado de Israel.
c) em Medina, a religião criada por Maomé, embora tenha crescido
rapidamente e tenha criado a Guerra Santa –Gihad – não teve caráter
expansionista.
d) a história do Líbano contemporâneo esteve sempre ligada à busca de
um certo equilíbrio entre várias comunidades que compõem o país,
especialmente as duas mais importantes: xiitas e cristãos.
e) a facção dos fundamentalistas islâmicos pertence à corrente xiita,
sendo que os mais radicais repudiam os valores do mundo ocidental
moderno.

“Homem carrega cartaz com a inscrição ‘terrorista não é muçulmano’


durante marcha a favor da paz que reuniu 10 mil pessoas em Toulouse,
na França, em 21 de novembro de 2015.”

"Os atentados terroristas em Paris serviram de estopim para uma nova


onda de discurso de ódio direcionado ao islã. Na França, a desconfiança
e a hostilidade aos muçulmanos se solidificam, enquanto nos Estados
Unidos a islamofobia ganha legitimidade no debate político e, até no
Brasil, muçulmanos são alvos de agressões físicas."
(Carta Capital, 01/12/2015)

O problema evocado na notícia possui uma raiz histórica profunda e


secular. Em que cenário histórico podemos situar essa raiz?
a) nas sucessivas guerras entre cidades-Estado gregas no século V a.C.
b) nos conflitos provocados pelas chamadas expansões bárbaras no
século V.
c) na relação entre mundo árabe e cristão desde a expansão árabe no
século VIII.
d) na expansão marítima europeia no século XV.
e) na ocupação dos territórios americanos pelos europeus no século
XVI.

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MÓDULO 4 Monarquias Nacionais e Crises dos Séculos XIV e XV


1. Introdução partir do qual todos os casos graves seriam julgados pelos
HISTÓRIA AD

juízes reais. Nas províncias, combateu duramente os


Com a crise do feudalismo e o nascimento do abusos dos funcionários por meio de leis escritas e
capitalismo, o poder evoluiu da descentralização para a proibiu também as guerras privadas. No âmbito externo,
centralização, dos senhores feudais para o rei. O exercício destacou-se pelo Tratado de Paris, que tentou abrandar
do poder pelo rei sobre a nação dá origem às monarquias as difíceis relações com a Inglaterra.
nacionais.
Vários fatores contribuíram para o êxito real: a
fragilidade da nobreza por causa da crise do feudalismo,
o fortalecimento da burguesia decorrente da ascensão do
capitalismo e a necessidade de dar unidade politica ao
território nacional, o que somente seria possível com a
centralização do poder.
A condição básica para conseguir a unificação é a
centralização. O rei é o único que tem condições de
uniformizar pesos, medidas, moedas, leis alfandegárias
e, ao mesmo tempo, organizar a expansão em direção ao
mercado externo, rumo às conquistas marítimas.
Para realizar a sua tarefa, o rei teria de se aproximar
do aparelho de Estado, isto é, dominar a tributação
(apropriação dos excedentes), monopolizar a violência
pelo domínio da força e, finalmente, exercer o poder por
intermédio da administração burocrática e da justiça
organizada.
Esse processo de centralização teve início na França, Luís IX, com
continuando na Inglaterra, Portugal e Espanha. Neste sua vida
monástica,
módulo analisaremos apenas os dois primeiros casos. ampliou seus
poderes políticos.
2. França
Felipe IV (1285-1314), o Belo, cercou-se de um
No ano 987, após derrubar o último rei carolíngio, grupo de legistas para legitimar o seu poder real de forma
Hugo Capeto assumiu poderes políticos que foram absolutista. Seu reinado foi marcado pelo litígio com o
preservados por mais de 300 anos. Embora não houvesse papa Bonifácio VIII. O Sumo Pontífice não aceitou a
leis que concedessem à dinastia Capetíngia poderes excessiva tributação cobrada pelo monarca e exco-
centralizadores, diversos Capetos governaram vigorosa- mungou Filipe em 1303. Entretanto, o papa foi cercado
mente. pelas tropas reais em Anagni, onde morreu.
A Monarquia nacional francesa teve seu início com A política de Filipe, o Belo, visava angariar fundos para
Felipe Augusto (1180-1223). O rei nomeou funcionários o erário francês. Para tanto, expulsou os judeus da
de sua confiança para supervisionar a justiça nos tribunais França, confiscando seus bens. A crise política agravava-
feudais, o que diminuiu consideravelmente a autonomia se, obrigando o rei a convocar, em 1302, uma assembleia
dos senhores de terras. Apesar de continuar dependendo que, reunindo o clero, nobres e representantes das
de seus vassalos em questões bélicas, preocupou-se em cidades, dando origem aos Estados-Gerais.
tomar providências para criar um exército nacional, Os constantes litígios entre o Estado e o papado
submetido à sua autoridade. Por isso, tratou de convocar culminaram com uma cisão profunda no seio da Igreja
e assalariar soldados aos milhares, conseguindo, desta Católica, uma vez que Filipe, o Belo, forçou o Colégio dos
forma, o poder da força militar. A partir daí, muitas Cardeais a escolher Clemente V (francês) como o novo
funções atribuídas aos senhores dos feudos caíram em pontífice. Manipulado pelo monarca, o papa colaborou no
mãos reais. processo que culminou na eliminação da Ordem dos
A unificação da França avançou substancialmente Templários (1307-1312). Nesse ínterim, a sede do
com a figura de Luís IX (1226-1270). No decurso de sua papado foi transferida de Roma para Avignon no ano de
vida monástica, soube utilizar-se de princípios religiosos 1309, e lá ficaram os papas até 1377. O papa passou a ser
em seu proveito político, instituindo o direito de apelo, a um instrumento nas mãos reais, uma vez que os dízimos
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cobrados aos fiéis acabavam passando aos cofres do conhecida como a Guerra das Duas Rosas. A violência
Estado francês. não teve limites, varreu a Inglaterra de ponta a ponta. Os
Com a extinção da dinastia capetíngia, no século XIV, campos foram queimados e as cidades, saqueadas.
assumiu o trono Filipe VI (1328-1350), iniciador da dinastia A nobreza restante e a burguesia viram no Duque

HISTÓRIA AD
dos Valois, cujos representantes governaram até 1589. Henrique Tudor uma esperança para o fim da contenda.
A nova dinastia deu início a um conflito com a Em 1485, ele assumiu o trono, proclamando-se rei da
Inglaterra, conhecido como Guerra dos Cem Anos. A Inglaterra com o nome de Henrique VII. A partir daí, a
violenta guerra acabou provocando a destruição da Dinastia Tudor tornou-se a responsável por implantar o
nobreza feudal, contribuindo para a formação de um forte absolutismo na Inglaterra.
sentimento nacional, que favoreceu sobremaneira o
poder real.

3. Inglaterra

Em 1066, a influência normanda ainda se fazia sentir


na Inglaterra, uma vez que Guilherme, o Conquistador,
acompanhado de um exército das mais diversas origens,
venceu o herdeiro legal, Haroldo, na Batalha de Hastings,
apoderando-se, dessa forma, do trono inglês. O rei
submeteu a nobreza inglesa, obrigando-a a prestar um
juramento de fidelidade. Para centralizar o seu poder,
dividiu o reino em condados, colocando os sherifs,
pessoas de sua confiança, para administrar as províncias
reais, o que lhe garantiu um vasto controle sobre os seus
domínios.
Em 1154, o trono da Inglaterra passou para Henrique
II, que iniciou a dinastia dos Plantagenetas, reforçando
ainda mais o poder real. Seu filho Ricardo Coração de
Leão (1189-1199) deu continuidade à obra do pai e
marcou o seu governo pelo envolvimento na Terceira
Cruzada.
Após a morte de Ricardo, seu irmão e sucessor, João
Sem-Terra, tentou manter-se no poder despoticamente.
Desprezado pelos ingleses, que o viam como usurpador
A formação da Monarquia Nacional Inglesa.
do trono, conduziu a política externa de forma desastrosa,
tendo perdido grande parte dos feudos que os ingleses
possuíam na França, ao ser derrotado pelo rei francês
Felipe Augusto. Em 1215, os barões ingleses, sentindo- 4. Península Ibérica
se pressionados pela excessiva centralização do rei
regente, impuseram-lhe a Magna Carta, que limitava A formação de Portugal e Espanha está diretamente
seus poderes, abortando provisoriamente a centralização. ligada à Guerra de Reconquista contra os mouros,
Esse documento assegurava a todos os ingleses proteção presentes no ocidente europeu desde o século VIII. A luta
contra o despotismo real. A Magna Carta foi considerada contra os muçulmanos na Península Ibérica foi
a precursora dos princípios de liberdades individuais. praticamente constante, tendo início no momento em
Em 1399, o trono foi assumido por Henrique de que o local foi perdido, intensificando-se durante as
Lancaster, que foi proclamado rei sob o nome Henrique Cruzadas, no século XII, e finalizando-se no século XV.
IV, iniciando uma nova dinastia. Os inimigos do rei e de Esses processos, somados a uma posição geográfica
seu sucessor, Henrique V, agruparam-se em torno dos ímpar, propiciaram a Expansão Marítima, tanto portu-
duques de York, que reivindicavam o trono. guesa quanto espanhola. Assim, para melhor compreen-
Em 1455, eclodiu um conflito envolvendo as duas são da ligação entre o surgimento destes Estado e as
famílias – Lancaster e York –, o qual acabou se Grandes Navegações, esses temas serão abordados
estendendo a toda a Inglaterra. Coincidentemente, ambas apenas alguns módulos adiante.
traziam em seus brasões uma rosa: a branca simbolizava
os York e a vermelha, os Lancaster. A guerra ficou

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5. Crises dos Séculos XIV e XV Em meio à guerra e ao fervor religioso, surgiu Joana
d’Arc, que, após conduzir um pequeno exército francês
Após um período caracterizado pelo desenvolvimento à algumas vitórias que alteraram os rumos da guerra a
comercial e urbano, pelo processo de fortalecimento do favor da França, foi aprisionada pelos ingleses e conde-
HISTÓRIA AD

poder real mediante aliança do rei com a burguesia mer- nada, posteriormente, como herege pela Igreja. A guerra
cantil e, particularmente, pelas mudanças que atingiram terminou com a vitória da França e, em virtude das devas-
a velha ordem feudal, anunciando a nova ordem capita- tações dos campos e da fuga dos servos, a nobreza
lista, a Europa foi sacudida por crises de natureza estru- feudal estava arruinada.
tural e conjuntural.
Guerras, pestes, fomes generalizadas e rebeliões 7. Peste Negra
camponesas atingiram o Velho Mundo e os séculos XIV e
XV foram marcados pelo aprofundamento da crise feudal Durante a guerra, a peste chegou à Europa trazida da
e pelas primeiras crises do capitalismo embrionário, mo- Ásia pelos comerciantes italianos e alastrou-se rapida-
mento que ficou conhecido como Crise de Retração. mente por várias regiões, em virtude da atividade
comercial e das péssimas condições de higiene exis-
6. Guerra dos Cem Anos tentes nas cidades, ceifando ao menos 1/3 da população
europeia. Inicialmente, atribuiu-se a chegada da peste aos
Em 1337, estourou a Guerra dos Cem Anos, que se judeus e ao misticismo, típico daquela época. A popu-
estendeu até 1453 e envolveu a nobreza feudal da lação a considerava como um castigo divino, o que deu
Inglaterra e os senhores feudais da França. A disputa da origem a uma forte demonstração de fanatismo reli-
riquíssima região de Flandres, célebre pelas feiras que lá gioso. Para se livrarem da doença, os citadinos fugiram
eram realizadas e um problema sucessório francês para os campos, onde acreditavam estar mais distante
foram responsáveis pelo conflito. dela. A grande mortandade causada pela doença provo-
Eduardo III, da Dinastia dos Plantagenetas, rei da cou a escassez de alimentos, a alta dos preços e, conse-
Inglaterra e neto de Filipe, o Belo, da França, foi impedido quentemente, a fome.
de assumir o trono francês, tendo em vista que na lei
sálica os descendentes por linhagem feminina não tinham 8. A fome generalizada
direito ao trono. A França foi invadida pelo norte, com o
apoio da região de Flandres. Nesse momento, emergiu A crise agrícola provocada pela guerra e pela peste
plenamente a crise do feudalismo: os camponeses se foi associada também às péssimas condições atmos-
rebelaram, eclodindo as Jacqueries; cavaleiros em busca féricas da Europa no século XIV. Com isso, criou-se um
de vantagens pessoais vieram à luta e exércitos merce- ciclo que parecia interminável: guerra, peste e fome.
nários se formaram.

O cerco de Orléans. Nessa tapeçaria do século Pieter Bruegel. Triunfo da morte.


XVII, Joana d’Arc é retratada à frente do exército
francês, durante o cerco à praça de Orléans.

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Diante da crise, muitos servos acabaram conseguindo mercado consumidor que estivera retraído. Contudo,
sua liberdade e os senhores feudais, incapazes de manter havia uma dificuldade para abastecê-lo, pois a queda de
a estrutura feudal, começaram a substituir as obrigações Constantinopla nas mãos dos turcos otomanos (1453)
servis por pagamento em moedas e a arrendar as terras deu a estes o controle do mais importante entreposto das

HISTÓRIA AD
para não perdê-las. tão desejadas mercadorias orientais.
Outro empecilho ao crescimento do comércio era o
9. Crise de desenvolvimento esgotamento de metais preciosos, ou por causa do seu
afluxo para o oriente, como pagamento de mercadorias, ou
A soma de todas essas catástrofes acabou por ace- pelo esgotamento de jazidas desses minérios na Europa.
lerar o processo de transformação do feudalismo para o A solução viria de fora da Europa. A busca de uma
capitalismo na Europa Ocidental. No entanto, a partir do rota alternativa para se chegar às Índias levou ao proces-
século XV, superadas as dificuldades do século anterior, o so de expansão ultramarina que, mais tarde, resultaria
capitalismo enfrentaria um novo problema: o crescimento. na chegada dos europeus à América, contribuindo para o
A população europeia, que fora reduzida quase à sua crescimento da burguesia e para a consolidação do
metade, voltava a crescer vertiginosamente, ampliando o Estado Moderno.

10. Cronologia
Crises dos Séculos XIV e XV
França
1315-1322 – Primeira crise de fome
1180-1223 – Reinado de Filipe Augusto e início da 1337 – Início da Guerra
centralização monárquica na França. 1337 – Início da Guerra dos Cem Anos.
1223-1226 – Reinado de Luís IX (São Luís). 1346 – Vitória dos ingleses sobre os franceses em Crécy.
1285-1314 – Reinado de Filipe IV, o Belo. 1347 – Início da Peste Negra.
1302 – Primeira convocação dos Estados-Gerais. 1351 – Nova crise de fome.
1303 – Excomunhão de Filipe, o Belo, por Bonifácio VIII. 1358 – revolta camponesa na França (Jacquerie).
1307 – Eliminação da Ordem Templária por Filipe, o Belo. 1369 – Terceira crise de fome.
1309 – Transferência do Papado para Avignon. 1381 – Revolta camponesa na Inglaterra (Wat Tyler).
1328 – Ascensão de Filipe VI de Valois. 1429-31 – Participação de Joana d’Arc na Guerra dos
Cem Anos.
1453 – Vitória francesa e fim da Guerra dos Cem Anos.

Inglaterra

1066 – Conquista da Inglaterra por Guilherme, o


Conquistador, duque da Normandia.
1171 – Início da conquista da Irlanda.
1189-1199 – Reinado de Ricardo Coração de Leão.
1199-1216 – Reinado de João Sem Terra.
1215 – Carta Magna.
1265 – Instalação do primeiro Parlamento.
1272-1307 – Conquista do País de Gales.
1350 – Divisão do Parlamento em Câmara dos Lordes e
Câmara dos Comuns.
1455-85 – Guerra das Duas Rosas.
1485 – Ascensão da Dinastia Tudor.

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1. (UFPR) – Sobre Joana D’Arc, o historiador Jules Michelet escreveu: 2. (UNISC-2021) – “As lutas entre a nobreza, a Igreja e os príncipes por
HISTÓRIA AD

“Pela primeira vez, sente-se, a França é amada como uma pessoa, e suas respectivas parcelas no controle e produção da terra prolongaram-
ela torna-se tal desde o dia em que a amam. Até ali era uma reunião de se durante toda a Idade Média, de modo que nos séculos XII e XIII
províncias, um vasto caos feudal, um país imenso, de ideia vaga. Mas emergiu mais um grupo como participante desse entrechoque de
desde esse dia, pela força do coração é uma pátria.” forças”.
(Michelet, Jules. Joana D‘Arc. (Elias, Norbert. O processo civilizador. Rio de Janeiro: Jorge Zahar,
São Paulo: Fulgor, 1964, p. 16.) 1993, 2v, p.15.)

Comente esse excerto, explicando as consequências da Guerra dos Marque a alternativa relacionada ao conceito que contempla o grupo
Cem Anos (1337-1453) para a França e para o sistema feudal. social emergente naquele contexto histórico:
a) Os cruzados.
b) A elite.
c) O empresariado.
d) A maçonaria.
e) A burguesia.

3. (MACKENZIE) – Sobre a Magna Carta de 1215, é correto afirmar


que
a) foi assinada pelo rei João Sem Terra, sob pressão da nobreza, e con-
solidou a separação entre a Inglaterra e o Papado, tornando o sobe-
rano chefe da Igreja Inglesa Anglicana.
b) instaurou na Inglaterra uma monarquia constitucional parlamentar e
transferiu os bens da Igreja para as mãos da nobreza senhorial, que
apoiava o rei João Sem Terra.
c) declarou o rei João Sem Terra “Lorde Protetor da Inglaterra, Escócia
e Irlanda”, o que desencadeou entre os ingleses uma onda de
nacionalismo extremado.
d) foi imposta pela nobreza inglesa ao rei João Sem Terra, limitando o
poder do monarca e obrigando-o a respeitar os direitos tradicionais
de seus vassalos.
e) criou na Inglaterra um Parlamento bicameral, formado pelas Câmaras
dos Lordes e dos Comuns, e impôs ao rei João Sem erra a Declara-
ção de Direitos (“Bill of Rights”).

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4. (UNICAMP)

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5. (UECE 2022) – O fim do Feudalismo foi acelerado pela peste negra,
Giacomo Borlone de Buschis, O triunfo da morte a reunião dos três que devastou a Europa durante o verão de 1348 e ceifou a vida de um
vivos e dos três mortos. Parte superior de afresco na cidade de terço de sua população. Atente para o que se afirma a seguir sobre o
Clusone (Itália), século XV. colapso do Feudalismo:

Na Europa medieval cristã, prevalecia a ideia de que a morte era a I. A falta de mão de obra, ocasionada pela peste negra, provocou
transição para uma vida espiritual plena. Os ritos fúnebres buscavam o aumento das reinvindicações dos trabalhadores por melhores
assegurar uma passagem organizada para esse outro plano e evita-se condições de trabalho.
mostrar o processo de decomposição dos corpos. A chegada da peste II. A crise generalizada provocou levantes no campo e nas
negra rompeu com essa concepção. De acordo com a historiadora cidades, enquanto a nobreza se entregava a conflitos dinásticos
Juliana Schmitt, a doença deixava marcas no corpo, as pessoas morriam como a Guerra dos Cem Anos.
de repente, algumas em locais públicos. A ideia apaziguadora da morte, III. Outra resposta para a crise da época foi o fortalecimento dos
na concepção cristã, foi substituída pela ideia de morte caótica, causada senhores feudais em aliança com seus poderosos vassalos.
pela peste. As imagens cotidianas relacionadas ao surto da doença IV. Para resolver a crise vigente, algumas nações investiram em
passaram a ser reapresentadas no campo das imagens e na literatura, uma política de expansão marítima.
no que hoje se conhece como “estética macabra”. O que caracteriza as
obras macabras é a ênfase dada aos processos de decomposição do Está correto o que se afirma somente em
corpo. A estética é anterior ao período medieval, mas foi impulsionada a) I, III e IV.
pela peste negra. b) II, III e IV.
(Adaptado de Christina Queiroz, Pandemia como alegoria. Revista c) I, II, III.
Pesquisa Fapesp. Edição 294. ago. 2020.) d) I, II, IV.
a) A peste negra, enfrentada pela Europa do século XIV, afetou as
representações da morte nas artes visuais, propondo reflexões sobre
o potencial das ciências modernas para a resolução da peste à época.
b) A estética do macabro, criada na Idade Média, é acionada pelas artes
visuais como elemento valorizador da vida, gerando a negação dos
contextos sanitários marcados pela peste e pela morte.
c) A estética do macabro declinou no período medieval, ficando restrita
a um ambiente religioso, católico e temente ao juízo final, como
apresenta a obra através das figuras dos reis e das autoridades
religiosas.
d) A peste negra tornou-se uma referência presente na estética do
macabro, que faz alusão a caveiras e cadáveres entre os vivos,
compondo um ambiente festivo e aterrador.

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MÓDULO 5 Renascimento: Conceito, Origem e Características


1. Introdução fortunas, que controlavam as cidades-Estado e buscavam
HISTÓRIA AD

na arte a legitimação de seu poder. O comércio tinha se


O desenvolvimento que se processou na Europa a internacionalizado e uma grande rede bancária surgiu na
partir da crise do sistema feudal deu origem a uma nova Península Itálica, nos moldes de Bizâncio.
mentalidade, associada às transformações socioeco- Com a tomada de Constantinopla pelos turcos-
nômicas que se faziam sentir a partir dos séculos XII e otomanos, em 1453, acelerou-se a fuga de sábios bizan-
XIII. Essa nova forma de pensar, sentir e agir contrapunha- tinos em direção às cidades italianas, onde buscavam
se à velha ordem feudal, exercida pela nobreza e pelo proteção dos grandes comerciantes. Esses sábios
clero, criando tendências novas, que se assentavam no puderam reunir uma enorme quantidade de manuscritos
espírito do nascente capitalismo burguês. greco-romanos.
Nessa fase de transição do feudalismo para o A ausência de um forte governo centralizador, que
capitalismo, a expansão do comércio e da vida urbana impusesse sua vontade e seu costume sobre o povo,
provocaram mudanças culturais no homem europeu, que também favoreceu o movimento renascentista. O exer-
passou a ter um gosto apaixonado pela Antiguidade. É cício da política acabou dando ao homem consciência de
uma revolução cultural que corresponde à ascensão da suas potencialidades. Assim, os governantes passariam a
burguesia, que pretende romper com os padrões estabe- utilizar-se mais efetivamente da astúcia para manter-se
lecidos pela cultura medieval, impregnada de misticismo no poder.
e religiosidade. O engenho humano, guiado pelos prin-
cípios clássicos, despertou para novas concepções O mecenato
intelectuais, artísticas e científicas, a partir de um movi- Da acumulação de riquezas foi possível o surgimento
mento conhecido como Renascimento Cultural. dos mecenas, homens que enriqueceram a ponto de ficar
em condições de proteger as artes e os artistas. Estes
2. Origens do Renascimento acabavam conhecidos e respeitados por todos; a arte os
ajudava a conseguir créditos e a divulgar as atividades
O movimento renascentista originou-se na Itália, que de suas empresas.
mantinha vivas as tradições da civilização romana, a partir O mecenato passava a constituir um sinal de pres-
de seus monumentos e pela persistência de seus tígio e a ele aderiram príncipes e papas. Porém, entre
costumes e instituições. O desenvolvimento do comércio mecenas e obras encontrava-se, muito mais, o interesse
e das cidades transformou a Itália em uma região de econômico e político da classe que as patrocinava do que
poderosos mercadores, proprietários de enormes o interesse pela arte em si.

A Criação do Homem, de Michelangelo, na Capela Sistina.

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3. Características do Renascimento A primeira é denominada Trecento, que corresponde


à arte do século XIV, quando se assiste a uma arte de
O Renascimento cultural surgiu em oposição ao transição do Período Medieval para o Renascimento.
teocentrismo medieval, caracterizando-se pelo antro- Nessa fase, destacam-se Dante, com a Divina Comédia,

HISTÓRIA AD
pocentrismo, que colocava o homem como centro de Petrarca, com África, e Boccaccio, com a obra Decameron.
todas as coisas. O individualismo burguês, em oposição Como pode-se ver, a renovação cultural no período
ao coletivismo da Idade Média, foi outro importante valor restringiu-se à literatura produzida na Península Itálica.
renascentista. No Quatrocento, que corresponde ao século XV,
O estudo da cultura greco-romana permitiu o Florença abriga um dos mais célebres momentos do
surgimento de um espírito racionalista, por meio do qual Renascimento, sob a proteção do mecenato da Família
se demonstrava que todo o conhecimento poderia ser Médici. Foi nesse período que chegaram de Constan-
explicado pela razão e pela ciência (cientificismo), de- tinopla estudiosos bizantinos, trazendo consigo muitos
vendo-se negar o misticismo ou fatos que não pudessem clássicos gregos. Destaca-se a figura do mecenas
ser comprovados. Incentivou-se, assim, o método experi- Lorenzo de Médici, o “Magnífico”, que fundou a “Acad-
mental, que passou a ser utilizado em todas as áreas: emia Platônica”, na qual pensadores ilustres buscavam
política, economia, sociedade etc. O renascentista era conciliar o ideal cristão com o pensamento antigo. Nas
universalista, ou seja, buscava se especializar em artes plásticas, esse período representa um grande
diversas áreas do conhecimento. brilhantismo na produção de obras, sendo seus expoen-
Desenvolveu-se, também, o naturalismo, a partir do tes Masaccio, Boticelli, Tintoretto, Ticiano e Leonardo Da
qual o homem passou a observar as forças naturais, Vinci (“o gênio universal da humanidade”).
recusando qualquer idealização da realidade que não A terceira e última fase do Renascimento é deno-
estivesse associada à natureza ou às suas leis. Além do minada Cinquecento e corresponde à arte do século XVI,
naturalismo, surgia também a doutrina hedonismo, que que, apesar de ter artistas como Rafael e Michelangelo,
buscava os prazeres mundanos. já demonstra o período de crise do movimento dentro
da Itália. Roma passou a ser a sede do movimento e, sob
Humanismo a proteção de mecenas papas, Michelangelo pintou os
O Humanismo é um dos aspectos mais importantes afrescos na Capela Sistina e esculpiu Pietá, Davi e
do Renascimento, traduzindo-se pelo estudo e imitação Moisés. A ciência política teve em Nicolau Maquiavel o
das formas greco-romanas. seu esplendor, com sua obra máxima, O Príncipe, onde
Os humanistas, geralmente, eram eclesiásticos ou lançou as bases do absolutismo monárquico.
professores universitários que desprezavam a cultura
gótica medieval e primavam pelo individualismo, a
vontade do poderio, o refinamento cultural e espiritual.
Dedicavam-se a dominar todos os ramos do conheci-
mento e constituíram o verdadeiro espírito do movimento
renascentista.
Na verdade, os humanistas da Renascença foram
mais do que meros estudiosos da cultura clássica, pois
demonstraram possuir uma aguda percepção da época
em que viviam, com suas glórias e mazelas. Acreditando
nas potencialidades do ser humano, apontaram caminhos
para seu aperfeiçoamento e o da sociedade em geral.

4. Fases do Renascimento

Sendo a Itália o berço do Renascimento, foi aí que


esse movimento se desenvolveu em plenitude, tanto nas
artes plásticas quanto na literatura e ciência. Em razão das
obras e das características que elas apresentam, o
Renascimento pode ser dividido em três fases distintas.
A Mona Lisa ou Gioconda, de Leonardo da Vinci

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HISTÓRIA AD

A notável escultura de Davi, Davi, de Donatello. A Madona e o menino, de Rafael.


esculpida em mármore, por Mi-
chelangelo.

5. Cronologia

1265-1321 – Dante Alighieri. 1452-1519 – Leonardo Da Vinci.


1266-1337 – Giotto. 1469-1527 – Nicolau Maquiavel.
1304-1374 – Francesco Petrarca. 1483-1520 – Rafael.
1313-1375 – Giovanni Boccaccio. 1475-1564 – Michelangelo
1444-1550 – Sandro Botticelli.

1. (UFJF-pism) – Observe as seguintes figuras e leia o texto a seguir:

(Os quatro evangelistas, (Rafael. Madonna Cowper.


iluminura de 820. Catedral de 1504/1505. National Gallery
Aachen, Alemanha. of Art, Washington.
Disponível em: Disponível em:
http://pt.wikipedia.org/wiki/Ar http://pt.wikipedia.org/wiki/R
te_carol%C3%ADngia. enascimento.
Acesso em: 6 ago. 2014.) Acesso em: 6 ago. 2014.)

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2. (FUVEST-2022) – O advento da Modernidade nos séculos XV e XVI


associa-se
a) à expansão ultramarina europeia e ao Renascimento.
b) à revolução científica e ao declínio do catolicismo.

HISTÓRIA AD
c) ao Humanismo e ao Darwinismo Social.
d) ao nascimento do capitalismo e à industrialização.
e) à conquista da América e ao movimento indigenista

(Michelangelo. David. 1504.


Gallerie dell’Accademia.
Disponível em:
http://pt.wikipedia.org/wiki/R
enascimento.
Acesso em: 6 ago. 2014.)

No final da Idade Média, a Europa Ocidental passou por transformações


sociais, políticas e econômicas relacionadas ao desenvolvimento do
comércio e das cidades. E, no âmbito da cultura, as cidades italianas
constituíam um ambiente propício para a consolidação de um
movimento de transformação cultural, o chamado Renascimento.

a) Disserte sobre uma transformação socioeconômica que possibilitou


a afirmação da cultura renascentista na Península Itálica.
b) Cite e analise um aspecto da cultura renascentista que entrava em
conflito com os ensinamentos da Igreja.
c) Analise um aspecto do Renascimento no âmbito das artes.

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3. (PUCRS MEDICINA-2022) – As funções sociais urbanas e a imagem 4. (FUVEST)


das cidades, durante a Idade Média, encontravam-se intimamente
vinculadas às transformações econômicas da Revolução Comercial. No
decorrer dos séculos XI, XII e XIII, os novos núcleos urbanos do
HISTÓRIA AD

Ocidente Medieval representaram os espaços primordiais para as


modificações ocorridas na estrutura social e nas relações econômicas.
A imagem da iluminura que segue constitui testemunho histórico
importante dessas transformações sociais e econômicas.

Leonardo da Vinci: Leben und Werk.


Stuttgart, Zurich: Belser Verlag, 1989, p. 171.
Iluminura mostrando a corporação dos mercadores de Paris. Imagem
extraída do manuscrito da vida de São Denis, Paris, século XIV,
O “Homem Vitruviano” foi desenhado por Leonardo da Vinci (1452-
Biblioteca Nacional.
1519) com base em um tratado sobre Arquitetura escrito e ilustrado por
Sobre o contexto histórico abordado, as informações do texto e o
Marcus Vitruvius no século I a.C., na Roma Antiga. A obra ganhou
significado da imagem apresentada, afirma-se:
versões impressas e traduções nos séculos XV e XVI.
I. A imagem apresentada no texto refere-se ao início do
crescimento econômico e da vida social da Alta Idade Média.
O desenho de Da Vinci expressa propostas do movimento Renas-
II. A imagem apresentada evidencia que as transformações
centista ao
econômicas e sociais da Idade Média tiveram relação direta
a) buscar perpetuar obras da Antiguidade Clássica por meio da cópia e
com o aparecimento dos mercadores e com o advento do
da salvaguarda.
comércio.
b) censurar os estudos da anatomia humana herdados da Antiguidade
III. As trocas de mercadorias no Mediterrâneo, o aumento da
Clássica.
circulação e o crescimento do eixo de trocas nas regiões do
c) retomar a percepção da simetria e das proporções humanas como
Norte da Europa só foram possíveis a partir da Liga Hanseática
ideal do Belo.
no século XIV.
d) apoiar-se no legado da Antiguidade greco-romana para reafirmar o
IV. Os intercâmbios econômicos produzidos pelas trocas entre as
teocentrismo.
regiões das feiras de Champagne e o eixo comercial do
e) separar a arte do pensamento humanista e do conhecimento
Mediterrâneo foram decisivos para o desenvolvimento dos
matemático.
mercadores e para as transformações da estrutura social.
Estão corretas apenas as afirmativas
a) II e III. b) II e IV. c) I, II e IV. d) I, III e IV.

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Texto para a próxima questão:

As maiores descobertas/invenções da humanidade

HISTÓRIA AD
“Um dos aspectos que diferenciam os humanos de outros seres
vivos é a capacidade de lidar com situações de maneira inteligente,
criando meios para solucionar problemas ou para, simplesmente,
compreender melhor o Universo. A busca pela inovação/descoberta
levou muitos homens e mulheres a desenvolverem ferramentas,
materiais e tecnologias tão bem-sucedidas que mudaram completa-
mente a forma de as pessoas viverem e verem o mundo.

Nesse sentido, a(s) questão(ões) abordará(ão) o eixo temático ‘As maiores


descobertas/invenções da humanidade’.”

5. (USC-2021) – “Em meados de 1455, o ourives alemão Johannes


Gutenberg realizou seu grande sonho. Após anos de pesquisas e
trabalho duro, pegou nas mãos seu trunfo em forma de livro, impresso
com uma técnica inédita: a prensa de tipos móveis. A técnica de
impressão com moldes não era novidade – já havia sido iniciada havia 14
séculos, na China, por meio da impressão de gravuras. Mas, com a
criação de Gutenberg, que moldara os tipos em um material bem mais
resistente e durável que os usados pelos chineses, ela ficava muito mais
eficaz e rápida. A impressão em massa, possibilitada a partir daí,
transformaria a cultura ocidental para sempre. Antes dela, cada cópia
de livro exigia um escriba – que escrevia tudo à mão, página por página.
Em 1424, por exemplo, a Universidade de Cambridge, no Reino Unido,
possuía apenas 122 livros – e o preço de cada um era equivalente ao de
uma fazenda ou vinícola. Gutenberg conseguiu, com seu invento, suprir
a crescente necessidade por conhecimento da Europa rumo ao
Renascimento. A partir desse feito, a informação escrita deixou de ser
exclusividade dos nobres e do clero. Até 1489, já havia prensas como a
dele na Itália, França, Espanha, Países Baixos, Inglaterra e Dinamarca.
Em 1500, cerca de 15 milhões de livros já haviam sido impressos.”
(Disponível em:
https://aventurasnahistoria.uol.com.br/noticias/acervo/prensa-
gutenberg-435887.phtml. Acesso em: 22 fev. 2021. Adaptado.)

Levando em consideração seus conhecimentos em História e os


impactos da técnica de impressão criada por Gutenberg, é correto
afirmar que a
a) invenção da imprensa, associada à tradução da Bíblia para o alemão,
feita por Lutero, provocou uma grande difusão do protestantismo na
Alemanha.
b) consequência das novas técnicas de impressão foi o desapare-
cimento das gravuras, que deram lugar a uma nova manifestação de
arte gráfica: as iluminuras.
c) transformação proporcionada pela revolução da imprensa foi
facilitada, principalmente, pelo fato de a grande maioria da população
europeia já ser alfabetizada no século XVI.
d) invenção da imprensa deu à Igreja Católica acesso a diversas obras,
já que até então as bibliotecas eram praticamente monopólio das
realezas europeias.
e) invenção dos tipos móveis de metal tornou possível a rápida difusão
de livros e, consequentemente, dos ideais do Humanismo e do
Renascimento.

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MÓDULO 6 Renascimento: Difusão e Crise


1. Difusão do Renascimento Países Baixos
HISTÓRIA AD

Na medida em que o Renascimento estava asso


Como a Itália era o centro cultural da Europa, estu- ciado ao desenvolvimento capitalista, os Países Baixos,
dantes das mais remotas regiões iam para lá a fim de pela Holanda e Bélgica, que acompanhavam esse desen-
aprender os princípios humanistas. Os estudantes, ao volvimento, criaram condições favoráveis ao desenvolvi-
retornarem aos seus países, passavam a ser os divulga- mento cultural, sobretudo da pintura e literatura.
dores das obras renascentistas. O Renascimento, nesse A pintura flamenga foi caracterizada por uma brilhante
contexto, entrava em crise na Itália, propagando-se para arte, representada por grandes nomes, como Rembrandt,
outros países. Rubens, Bosch, Van Eyck e Peter Brueghel. Erasmo de
Paralelamente, a instabilidade política, fruto das Rotterdam (1466-1536), sem dúvidas, é o maior ex-
constantes guerras para o controle das repúblicas italia- poente do humanismo nos Países Baixo. Chamado de “O
nas, levou a Itália a uma quase destruição, o que gerou Príncipe dos Humanistas”, em 1509 publicou sua obra
insegurança e facilitou as invasões estrangeiras. Foi mais famosa, Elogio da Loucura, na qual tece críticas
durante os fins do século XV, quando se iniciaram as satíricas à sociedade de seu tempo.
guerras da Itália (promovidas pelos reis franceses), que a
extraordinária criação cultural da Itália foi vislumbrada Península Ibérica
pelos demais países europeus. Os soldados e os diplo-
Os países ibéricos assumiram a liderança no pro-
matas foram os principais agentes dessa difusão.
cesso das Grandes Navegações, o que resultou em um
É importante ressaltar também como a invenção da
grande afluxo de metais preciosos para Portugal e
imprensa foi fundamental para a difusão do Renas-
Espanha. Os monarcas ibéricos atraíram para suas cortes
cimento. O aperfeiçoamento dos tipos móveis da
grandes mestres do Humanismo e da pintura italiana.
antiguidade por Johannes Gutenberg, no século XV, criou
Miguel de Cervantes foi o maior representante do
a possibilidade de publicação de obras literárias com
humanismo na Espanha. Em sua obra Dom Quixote de
várias exemplares e edições, ampliando o acesso ao
La Mancha, satirizou a sociedade feudal e os costumes da
conhecimento e estimulando a propagação e o flores-
cavalaria. Nas artes plásticas, El Greco e Murillo desen-
cimento de diversas ideias.
volveram obras impregnadas de religiosidade e emoção.

Principais centros do Renascimento italiano e sua difusão. Erasmo de Rotterdam, o grande humanista
holandês.

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Em Portugal, Luís Vaz de Camões, com sua obra Os Europa Central


Lusíadas, traçou a épica narrativa das navegações Apesar de os Estados alemães encontrarem-se em
portuguesas. Gil Vicente produziu uma obra conside- franco progresso econômico, seu fracionamento impediu
rável, tendo títulos como A Farsa de Inês Pereira e Auto

HISTÓRIA AD
um desenvolvimento mais profundo da cultura renas-
da Barca do Inferno. centista, que também foi bastante atacada pela Reforma
França religiosa. A pintura foi a arte que revelou maior produ-
Dentre os grandes expoentes da literatura da época tividade, tendo a arquitetura e a escultura um desem-
destaca-se François Rabelais (1494-1553), que, ao es- penho medíocre.
crever Gargântua e Pantagruel, elaborava uma violenta Na ciência, o estudo nas universidades permitiu o
crítica à Filosofia Escolástica, defendendo a razão e a natu- desenvolvimento de teorias astronômicas, como as do
reza, procurando o ideal humano por meio de uma total alemão Johannes Kepler e do polonês Nicolau Copér-
liberdade de vida, de fé e de pensamento. Em Montaigne, nico, ambos defensores da teoria heliocêntrica – teoria
os famosos Ensaios fazem a defesa da natureza humana. que coloca o Sol como o centro do Universo –, que se
opunha à teoria geocêntrica, defendida pela Igreja Católica.
Inglaterra
No campo literário destacou-se Thomas Morus, com 2. Crise do Renascimento
sua obra Utopia, em que descreve um país imaginário
onde não existe propriedade privada nem pobres e ricos. A partir de 1550, o Renascimento Cultural começou
William Shakespeare é o nome de maior relevância do a sofrer uma mudança em seu eixo, devido à decadência
período: maior dramaturgo de todos os tempos, criou econômica das cidades italianas, que perderam a
obras imortais, revelando o temor à anarquia e o constante hegemonia no comércio das tão cobiçadas especiarias. A
apelo à ordem. Entre suas obras destacam-se Hamlet, Expansão Marítima transferiu para os Oceanos Atlântico
Romeu e Julieta, Rei Lear e muitas outras. e Índico a supremacia comercial. Outro fator de peso na
Na ciência, o grande representante foi Francis decadência do renascimento italiano foi a Contrarreforma,
Bacon, que desenvolveu seu método da experimentação. que imprimiu uma série de restrições morais às obras
artísticas. Além disso, a atuação da Igreja Católica
confundia renascentista com reformista.

3. Cronologia

1439 – Invenção da prensa móvel por Gutemberg


1450-1550 – A Península Itálica desponta como centro irradiador do Renascimento.
1453 – Queda de Constantinopla
1492 – Chegada dos europeus à América.
1509 – Erasmo de Rotterdam publica Elogio da Loucura.
1513 – Publicação de O Príncipe, de Maquiavel.
1517 – Publicação do Auto da Barca do Inferno, de Gil Vicente.
1532 – Publicação de Pantagruel, de Rabelais.
1534 – Publicação de Gargantua, de Rabelais.
1543 – Publicação de A Revolução das Esferas Celestes, de Copérnico.
1564-1616 – William Shakespeare.
1572 – Publicação de Os Lusíadas, de Luís de Camões.
1597 – Publicação d’O Mistério Cosmográfico, de Kepler.
1605 – Publicação de Dom Quixote, de Miguel de Cervantes.
1633 – Condenação de Galileu.

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1. (UERJ-2020) 2. (UFRGS 2022) – Leia o segmento abaixo a respeito da recente


HISTÓRIA AD

popularização do período medieval.

Graças ao cinema e à literatura [...], o período medieval tornou-se


objeto de numerosas celebrações coletivas, cujas iniciativas são tanto
públicas quanto privadas: filmes, espetáculos, romances, festas
medievais, butiques e restaurantes, sites, jogos etc. No entanto, essa
popularização não significou o triunfo de uma visão positiva sobre o
período medieval. Não são raras as vezes em que ele é evocado para
realçar aspectos negativos da atualidade: a tortura, a intolerância
religiosa, a submissão da mulher e os crimes hediondos, entre outros.
Ainda que nenhuma dessas práticas seja uma exclusividade daquele
período, elas são identificadas como ‘medievais’.
(Silva, M. C. História medieval. São Paulo: Contexto, 2019. p. 138.)

Com relação à construção e ao uso do conceito de “Idade Média”,


considere as seguintes afirmações.
(François-Guillaume Ménageot. A morte de Leonardo da Vinci. 1781.
Pintura, óleo sobre tela. Disponível em: pt.wahooart.com) I. Os humanistas italianos definiram o período como um
contexto intermediário, marcado pela ideia de “trevas”, em
Na tela que representa o leito de morte de Leonardo Da Vinci, encontra- contraposição aos valores artísticos e culturais da antiguidade
se o rei da França, Francisco I, que acolheu o gênio renascentista em um greco-romana e ao seu “renascimento” a partir do século XIV.
dos castelos reais de 1516 até 1519. II. O Romantismo elaborou, na primeira metade do século XIX,
uma valorização do período medieval, a partir da busca pelas
Identifique a prática adotada por monarcas como Francisco I, ao origens culturais e pelos elementos definidores das identidades
acolherem artistas como da Vinci. Indique, ainda, duas características nacionais dos povos europeus.
culturais desse período. III. A noção de “Idade Média”, além de conceito usado para
demarcar um período histórico, é utilizada como um valor de
contraponto àquilo que é considerado moderno, progressista e
democrático nas sociedades contemporâneas.

Qual(is) está(ão) correta(s)?


a) Apenas I.
b) Apenas III.
c) Apenas I e II.
d) Apenas II e III.
e) I, II e III.

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3. (UPF-2022) – A discriminação sociopolítica e cultural da mulher, 4. (SANTA CASA) – Leia o trecho de uma carta.
reconhecida e combatida atualmente, é fato recorrente na história da
humanidade. À noite, eu retorno à minha casa e visto-me com gala real e pontifical
para conviver com homens da Antiguidade grecoromana. Recebido por

HISTÓRIA AD
A esse respeito, Albrecht Dürer, provavelmente o mais famoso eles com afabilidade, eu os interrogo sobre os motivos e as razões de
artista do Renascimento, numa nota registrada em seu diário, em 1521, suas ações e atitudes e eles, em virtude de seu humanismo, respon-
evidencia a “reabilitação” da posição da mulher, mas expressa a visão dem-me com atenção. E, durante quatro horas, não sinto o menor
depreciativa e machista àquela época. Lê-se: “Mestre Gerardo, o aborrecimento, esqueço meus tormentos e deixo de temer a pobreza e
iluminador, tem uma filha com cerca de dezoito anos chamada Susana. a morte.
Ela fez uma iluminura do Salvador, a qual eu paguei um florim. É um (Nicolas Machiavel. “À Francesco Vettori”. Lettres familières.
grande milagre que uma mera mulher possa ser tão talentosa.” Oeuvres complètes, 1982. Adaptado.)

A esse respeito, analise as afirmativas abaixo: Nicolau Maquiavel estava exilado no interior da Toscana quando
I. A “reabilitação” da mulher na época moderna não significa uma escreveu essa carta a um amigo, datada de 10 de dezembro de 1513.
efetiva emancipação feminina, pois pode-se perceber clara- O conteúdo da carta
mente o imaginário “machista” da sociedade de corte. a) demonstra a inferioridade filosófica do Renascimento face ao mundo
II. As mudanças do lugar social das mulheres na renascença são clássico.
mais sensíveis entre as classes dominantes. b) revela um princípio central da renovação cultural do Renascimento
III. Na Europa Renascentista, à exceção das mulheres das italiano.
camadas mais elevadas, mães e filhas camponesas execu- c) comprova a presença no renascimento do teocentrismo medieval.
tavam vários trabalhos, participavam das atividades agrícolas, d) atesta o descompromisso do Renascimento para com o momento
de pastoreio e de tecelagem, e as aristocratas também se histórico italiano.
ocupavam dos trabalhos agrícolas, porém, no aspecto e) idealiza a Antiguidade em contraposição à pobreza da sociedade
organizativo, quando os maridos se ausentam. renascentista.
IV. No Renascimento, um papel alternativo ao de Maria ou ao de
Eva foi o de amazona, uma mulher-homem perigosamente
hábil. Joana D'Arc, a primeira delas, paga caro como coman-
dante militar: é condenada à morte como feiticeira pelo seu
papel masculino.

Está correto o que se afirma em:


a) I, II, e IV, apenas.
b) I, III e IV, apenas.
c) I, II, III e IV.
d) I, II e III, apenas.
e) II, III e IV, apenas.

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5. (PUCRS MEDICINA – 2022)


HISTÓRIA AD

Considerando o contexto histórico, o texto e a imagem apresentados,


o movimento cultural e artístico relacionado a esse afresco de Rafael é
o _________, caracterizado pela _________.

a) Renascimento – valorização do legado clássico e do mecenato


burguês
b) Renascimento – valorização exclusiva do teocentrismo e do
naturalismo
c) Barroco – valorização do antropocentrismo e dos ideais epicuristas
d) Barroco – valorização exclusiva do racionalismo e do
antropocentrismo grego

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