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Em um longo processo de exclusão racial e social, o Brasil tem em grande parte do seu
território, Periferias e Favelas, locais onde a violência policial se tornou institucional em um
ímpeto de controlar os “favelados”. Nessa realidade os contornos de segregação racial e social
são fortemente demarcados, sendo perceptível uma luta constante entre os moradores dessas
regiões para resistir e buscar seus direitos contra ataques do governo e das classes mais ricas.
E nesse ímpeto de exclusão esses agentes criam estereótipos sobre as Favelas, que são
caracterizadas como locais de insalubridade, ignorância e principalmente de criminosos, uma
visão que acaba legitimando ainda mais a forte representação policial.
Esse é um cenário presente na história do país desde o Brasil Império que perdura até
os dias atuais, se alterando apenas na forma como o governo pretende lidar com esses locais.
A violência sobre tais locais sempre foi marcante, mas é com o início da Ditadura Militar que
se inicia um forte processo de exclusão e repressão. É um período no qual, questões
socioespaciais seriam o foco principal dos debates sobre as Favelas, pois muitas delas se
localizavam em regiões propícias para o mercado imobiliário. Desta forma, um processo de
remoção forçada, exclusão, separação de classes sociais e medida de controle sobre as Favelas
foram tomadas. E em diversas partes pelo país os militares buscaram lidar com essa questão e
muitas dessas medidas perduram até hoje.
Além disso, essa remoção das Favelas foi feita amparada pelo estigma de que favelado
seria alguém marginal, ilegal e sem direito a cidade. Dessa forma a remoção se consolida
como praticamente a única política de Estado para as Favelas. (BRUM, 2012, P.357). Então,
essa transferência de uma grande parcela da população das cidades para as periferias acaba
gerando um forte impacto social, primeiramente porque as cidades se tornam um marco de
exclusão, já que passou a ser um local que apenas as classes médias e altas habitavam,
consequentemente não existiria mais o convívio entre diferentes categorias étnicas ou sociais.
(BRUM, 2012, P.358)
Todo esse processo acaba afetando muitas famílias, que tiveram sua vida alterada
drasticamente e precisaram se adaptar a uma nova realidade, muitas delas trabalhavam nas
cidades e quando expulsas para as margens precisam se locomover quilômetros para os
centros das cidades, diminuindo ainda mais sua qualidade de vida. Desse modo, "o favelado,
com baixo orçamento, não suporta as despesas extras que o deslocamento para as periferias
distantes dos locais de trabalho ocasionava.” (Jornal do Brasil, 1968). Assim sendo, essa
mudança causou significativa redução de suas rendas, já que nas cidades mulheres e crianças
acabavam conseguindo ajudar a compor a renda e agora fica apenas restrita a um trabalhador,
chefe da família, que precisa custear também seu transporte e alimentação. (QUEIRÓS, 2019,
P.68)
É importante lembrar que é na realidade de uma Ditadura que esse processo foi
permitido, pois como os canais democráticos estavam fechados, a remoção pôde ser
implementada sem resistência. Sendo que muitos movimentos sociais que buscavam os
direitos dos moradores das favelas estavam sofrendo constantes vigilâncias e ataques. E
revoltas e a busca por direitos básicos eram mais motivos para uma repressão violenta
(BRUM, 2012, P.368).
Foram mais de 100 mil pessoas expulsas para uma região sem nenhum tipo de infra
estrutura, a 30 km do Plano Piloto. Não somente Ceilândia é criada para isso, outras cidades
nas regiões foram iniciadas no ímpeto da remoção de Favelas próximas ao plano-piloto. Em
uma realidade não planejada, onde os moradores acabam sendo obrigados a se adaptarem a
terrenos inóspitos, sem condições mínimas para viver como água e comida. (SERÚBAL,
2019, P. 571)