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FACULDADE VAN GOGH

ARQUITETURA E URBANISMO

TAMIRES TEMOTEO DE SOUZA

O ESPAÇO DIVIDIDO:
OS DOIS CIRCUITOS DA ECONOMIA URBANA DOS PAÍSES
SUBDESENVOLVIDOS

SÃO PAULO 2022


A modernização é dividida em três períodos, como a Modernização comercial,
Modernização industrial e a Modernização tecnológica. Essa última modernização
representa o momento atual do mundo, nessa configuração países subdesenvolvidos são
bastante afetados pela sociedade do consumo, gerando principalmente a desigualdade.
Ademais, a modernização trouxe problemáticas como, o desemprego e a instabilidade
de renda que afetam diretamente o poder de compra e venda. Sendo assim, gerou-se
uma sociedade dividida entre uma população que possuem grande valor de capital,
enquanto uma boa parcela não possui condições para consumir bens e serviços.

Milton Santos aborda esse assunto dando exemplo a cidade de Salvador, a qual
mostra tais problemáticas de forma intensa e nítida. Ao analisar Salvador é possível
perceber duas cidades coexistindo dentro de um mesmo espaço geográfico.

Gera-se dois circuitos, sendo o superior que é ligado aos benefícios do progresso
tecnológico e também podem consumir os mesmos, e o circuito inferior sendo aqueles
que não podem pagar pelos benefícios. Isso é bastante claro na cidade de Salvador, onde
possuem uma elite bem concretizada ocupando bairros com qualidade e segurando, e ao
redor delas bairros com características inferiores com uma população de baixa renda.
Ou seja, a segregação socioeconômica se concretizando na segregação espacial.
Entretanto, a casos onde o bairro possui essas duas classes distintas, existindo ocupação
formal com infraestrutura e qualidade de vida, e outra parte com ocupação informal que
vivencia uma realidade precária.

O circuito superior, sendo o moderno extra regional, as atividades são


classificadas como puras, impuras ou mista. Desta mesma forma essa divisão está
relacionada com a divisão de classes sociais, como classe rica, média e pobre, onde a
população se distribui entre eles de acordo com sua faixa de renda. A classe média é que
interage entre as demais, enquanto a classe baixa oferece a força de trabalho para o
circuito superior. Em Salvador é notório essa divisão, a maioria da população é pobre e
sobrevivem boa parte com o mercado informal. Desta forma, o circuito superior é
alimentado pelo inferior.

A expansão do crédito é usufruída de forma diferente entre os circuitos, mas ele


beneficia os dois. No circuito inferior o crédito tem uma finalidade pessoal, onde é usado
para o consumo básico. Possibilita que a classe média tenha condições de interagir mais
com o circuito superior, pois conseguem financiar uma casa, um carro e outros bens e
serviços duráveis e não duráveis. Já o uso de crédito pertencente ao circuito superior
possibilita a compra de produtos de alta qualidade e quantidade, que é influenciado pelo
consumismo.

Outro ponto, é como a importância do lucro é diferente entre os circuitos. Pois, no


circuito superior o lucro é extremamente importante, não há muitas mudanças de preços
e além disso, acompanham a evolução tecnológica e possuem acumulo de capitais que
serão investidos. Por outro lado, o circuito inferior não importa tanto com o lucro, sendo
assim o preço pode variar bastante, pois muitas vezes as atividades praticadas estão
relacionadas as questões de sobrevivência. Sendo assim, o circuito superior quer mais
dinheiro para produção e investimento, e o circuito menor que dinheiro para consumo de
bens e serviços básicos.

Existe vários outros fatores que diferenciam tais circuitos, e algumas


interferências como regionais podem influenciar nessa dinâmica. Nota-se que em
Salvador nos últimos anos ouve uma grande mudança de concentração de serviços, onde
apenas na capital eram servidos, porém observa-se que outras cidades menores
conseguiram se desenvolver e podem atender a demanda local, oferecendo escolas,
faculdades, especialidades na área da saúde, entre outros serviços.

Em países de Terceiro Mundo o interesse de produção se expande para atender


demandas internacionais, deixando de segundo plano o mercado interno e as necessidades
da população. Isso colabora para o aumento desigualdade econômica e social, pois os
lucros são divididos para uma pequena parcela da sociedade, e a outra grande parte é
exportada.

Portanto, para resolver esses impasses, medidas devem ser realizadas nesses
países de Terceiro Mundo. Sendo necessário analisar a realidade dos mesmos, pois cada
contexto implica de formas diferentes nos circuitos. Mas de forma geral, algumas
mudanças podem colaborar para todos, como o lucro sendo deixado de ser prioridade,
produção feita pela necessidade de consumo da população, economia fortalecida pelo
trabalho e produção de bens e serviços. Tais medidas colaborariam de forma positiva na
sociedade, até mesmo diminuindo o êxodo rural, pois descentralizariam as atividades da
metrópole incentivando cidades menores ao desenvolvimento. Por fim, é dever do Estado
defender os direitos e interesses nacionais, de tal forma garantindo qualidade de vida para
todos.
REFERÊNCIAS

SANTOS, Milton. O espaço dividido: os dois circuitos da economia urbana. 2ª ed. São
Paulo: Editora da Universidade de São Paulo, 2008.

BRITTO, Lays. O Espaço Dividido: os dois circuitos da economia urbana dos países
subdesenvolvidos. Revista Baru - Revista Brasileira de Assuntos Regionais e
Urbanos, Goiânia, v. 3, n. 1, p. 165-169, ago. 2017. ISSN 2448-0460. Disponível em:
<http://seer.pucgoias.edu.br/index.php/baru/article/view/5839>. Acesso em: 19 ago.
2022. doi:http://dx.doi.org/10.18224/baru.v3i1.5839.
BIBLIOGRAFIA

Milton Santos

Nasceu no dia 03 de maio de 1926, em Brotas de Macaúbas, na Chapada


Diamantina (BA), sendo filho de professores. Ainda quando criança foi para Salvador,
Diplomou-se como bacharel em Ciências e Letras em 1941. Em 1948, concluiu o curso
jurídico na Faculdade de Direito da Universidade Federal da Bahia. Em 1958, doutorou-
se em geografia pela Universidade de Estrasburgo, na França.

A vocação de Milton estava voltada para o campo de ensino e pesquisa, foi


professor de Geografia Humana na Universidade Católica de Salvador entre 1956-1960.
Lecionou a mesma cadeira na USP entre 1983-1995. Se tornou professor da Universidade
Federal da Bahia em 1961. Além de ter lecionado também fora do país em diversas
instituições. Como pesquisador alcançou a categoria 1ª do CNPq.

Ademais, a vida fora dos muros das universidades também foi bastante
importante. Escreveu em jornais, ocupou cargos políticos como por exemplo chefe da
Casa Civil da Presidência da República no Estado da Bahia, em 1961. Além disso, foi
consultor das Nações Unidas, da UNESCO, da OIT e da OEA.

Trabalhando para o gabinete da casa civil do presidente Jânio Quadros, foi com a
comitiva federal em uma visita a Cuba. Em 1964, com o golpe militar, Milton ficou em
prisão domiciliar durante alguns meses até ir ao exílio por treze anos.

Milton escreveu mais de quarenta livros e vários artigos. Em suas produções


textuais possui um posicionamento crítico nítido, abordando estudos e teorias no campo
da Geografia Humana e do Urbanismo, e principalmente crítica ao sistema capitalismo e
como o mesmo afeta a sociedade.

Em 1984, foi para a Universidade de São Paulo, onde atuou até falecer, em 2001.

REFERÊNCIAS

ROSESILVA. Milton Santos: biografia completa à vista. Disponível em:


<https://fpabramo.org.br/2017/07/18/milton-santos-biografia-completa-vista/>. Acesso
em: 20 ago. 2022.
Milton Santos» Biografia. Disponível em:
<https://miltonsantos.com.br/site/biografia/>. Acesso em: 20 ago. 2022.

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