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Disciplina: Classes e Movimentos Sociais III (ASS045) B - Noturno - 2021.

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Professora: Mônica Aparecida Grossi Rodrigues
Alunos: Gabriel Piccinini Labarba Saggioro (201968040) e Yuri Carvalho Machado
(201968039) - Serviço Social
Trabalho Final
A relação entre a questão agrária, a luta dos sujeitos coletivos no campo e o
Serviço Social.
Para iniciar o debate que possui por objetivo compreender a relação entre a
questão agrária, a luta dos sujeitos coletivos no campo e o Serviço Social, tendo
como base teórica os textos e as aulas expositivas ministradas na disciplina, é de
suma importância refletir primeiramente sobre o que circunda a questão agrária. Em
“Dicionário da Educação do Campo” à partir da página 641, João Pedro Stedile se
estende sobre o conceito de questão agrária e as consequências da mesma, à partir
disso é possível refletir que esta expressão está totalmente ligada à uma
configuração do sistema de propriedades de terras e sua respectiva utilização e
importância, é um método de analisar a posse, de maneira social ligada aos reflexos
da questão social, e a atividade agrícola de terras brasileiras, juntamente da
propriedade privada jurídica da terra, ou seja, ao pensar nos quesitos econômicos e
sociais ligados ao campo, automaticamente se pensa na questão agrária que
também é relacionada à concentração de renda e de posse de terras nas mãos dos
detentores do capital que tinham influência no desenvolvimento da agricultura,
enquanto pessoas às margens da sociedade não possuíam direito nem à moradia.
Sendo assim com o avanço gradativo do capitalismo e a sua exploração de tudo e
todos os meios, foi questão de tempo em que ele transformasse em mercadoria e
lucro, o direito de possuir uma propriedade, que mesmo não sendo algo proveniente
da mão-de-obra de um indivíduo e sim um direito natural, o capital encontrou
“brechas” para burlar esse direito à propriedade privada e fazer com que ela fosse
comercializada, introduzindo regras jurídicas para deter este objeto da natureza, um
exemplo do período colonial brasileiro dessas “brechas” criadas para transformar a
propriedade privada em mercadoria, sem legalmente fazer isso, e conceder acesso
à elas só aqueles que de fato detém o capital, foi a necessidade de ter que
conceder direitos de uso da terra para que outros investidores de outros lugares, se
sintam atraídos para investir na economia agroexportadora do Brasil, utilizando de
seu território para produzir lucro para sua própria região, e dessa forma, a coroa
portuguesa lucrava mesmo sem transformar o território em uma mercadoria. No
Brasil foi somente com a Lei de Terras aprovada em 1850 que se firmou legalmente
o comércio das propriedade privada de terras no Brasil, transformando o mesmo em
uma mercadoria agora sem precisar burlar, determinando legalmente que a terra
pertencia à um dono, e quem a quisesse deveria embolsar um valor de dinheiro
para a monarquia portuguesa. A Lei de Terras foi promulgada tornando o território
uma propriedade privada, dessa forma foi construído o sistema de propriedades
privadas brasileiro, que acumula capital e exclui trabalhadores, destacando a
desigualdade social e o início de movimentos sociais.
Ao se enquadrar dentro do comércio capitalista, as propriedades privadas
agora estavam nas mãos dos acumuladores agrícolas, seguindo o mesmo caminho
que foi trilhado nas indústrias, ou seja apenas quem paga tinha direito à posse de
um terreno, e aqueles que não tinham condição socioeconômica para isso, viviam
em situações precárias sem moradia e vendendo sua mão-de-obra como única
maneira de adquirir alguma renda, com o sonho impossível de conquistar uma
moradia para viver de forma digna, ou seja, os trabalhadores estavam presos ao
sistema capitalismo e não haviam nenhum lugar para onde correr. A questão
agrária, no Brasil, foi marcada por um enorme período de escravidão e pela luta de
sujeitos coletivos pela abolição da mesma, trabalho escravo esse que estava
inserido no sistema brasileiro de agricultura de plantation que consistia em uma
configuração de enormes áreas de monocultura, ou seja produção em massa de um
mesmo produto, que respectivamente atingiu de maneira social e econômica no
Brasil, precarizando a vida dos trabalhadores explorados ao mesmo tempo que
investia em tecnologia para amplificar a produção agrícola, ficando visível a maneira
em como o capital age, explorando todos os meios para extrair lucro e produção em
massa, provando o ponto de que a agricultura é extremamente lucrativa. Se deu o
início de movimentos sociais, como por exemplo a indignação daqueles que foram
escravizados com sua situação social, implorando pela abolição legal da escravidão
no país. Após a abolição feita pela Lei Áurea em 1888, os escravos se encontram
perdidos e sem oportunidades, visto que ao se livrar da produção agrícola,
precisaram vender sua força de trabalho nas cidades, com uma carga física e
salarial exploratória, além de não possuírem direitos de terras devido a Lei de
Terras que antecedeu a abolição, ou seja ficaram sem moradias e recorreram aos
terrenos que “sobraram”, O dano exploratório do modo de produção, além de
socialmente trágico, causando uma enorme desigualdade social, também causa um
dano ambiental gravíssimo através da produção agrícola, como por exemplo o
desmatamento e contaminação de solos e rios que ao longo prazo afetaram os
trabalhadores e moradores das regiões rurais. Em conclusão, a questão agrária traz
à tona diversos problemas sociais, ambientais e econômicos na sociedade, essa
posse, do ponto de vista social, junto da utilização das terras para atividades
comerciais e a propriedade privada possuída de maneira jurídica e comprada,
trouxe uma concentração de renda e uma ampla desigualdade social daqueles que
foram excluídos propositalmente pelo sistema capitalismo de origem hegemônica
burguesa, essas vítimas do acirramento da questão social, foram os principais
protagonistas nas lutas dos sujeitos coletivos no campo por dignidade e condições
básicas de sobrevivência.
Na coletânea “Questão Agrária e Políticas Públicas em Minas Gerais, parte
1, capítulo 2 Questão Agrária e Questão Social no Capitalismo Brasileiro: Uma falsa
dicotomia”, José Amilton de Almeida e Cristina Simões Bezerra citam que “a
questão agrária constitui-se no momento em que a terra torna-se um meio de
explorar o trabalhador e não mais um meio para o trabalhador satisfazer suas
próprias necessidades, ou mesmo para a sua emancipação afastando as barreiras
naturais e sociais, estas últimas impostas pela exploração do homem pelo homem e
pela luta de classes.”, ao refletir essa questão, é possível entender de onde vem a
luta dos indivíduos no campo e como os conflitos e as lutas por terra e por reforma
agrária no Brasil se deram, elas foram marcados por funções delimitadas aos
camponeses que foram obrigados a se conectar com as demandas e leis do
mercado vigente da época, esses camponeses, que possuíam pedaços de
propriedades privadas, eram produtores locais que se viram obrigados a oferecer
mão-de-obra menos custosa para a indústria urbana, além de fazer com que os
camponeses acreditassem que suas próximas gerações pudessem prosperar,
saindo do ambiente rural e agrário para grandes empregos na indústria urbanizada,
então jovens do ambiente rural foram enviados pelas suas famílias para tentar
buscar novas oportunidades na cidade, ao invés de ficarem para batalhar pela
reforma agrária, e em consequência de possuir uma enorme procura de empregos
na indústria, não houve incentivo para que houvessem reajustes no salário, sendo
assim ele era mantido baixo porque sempre iriam ceder. Diferentemente dos
proletários, que não possuíam nenhum direito à propriedade privada e foram
expropriados com a Lei de Terras e a comercialização das propriedades privadas,
os camponeses são explorados pelo capital em sua forma sistemática, enquanto o
trabalhador é explorado por um capitalista, vendendo sua força de trabalho para
alguém para poder se sustentar.
Os movimentos de posse dos territórios que não estavam executando
nenhuma atividade produtiva, apenas afirmando a concentração exagerada de
propriedade privada por parte dos detentores do modo de produção, começaram a
tomar força, como por exemplo o Movimento Sem Terra (MST), os posseiros que
foram expropriados pela Lei de Terras, iniciaram uma luta ativista e organizada no
campo para se instalar nessa unidades não ocupadas, exigindo o direito básico à
moradia em que lhes foi retirado, principalmente com a chegada da ditadura militar
que intensificou a modernização conservadora que incentivava a melhoria da
agricultura sem realizar a distribuição justa de terras, aumentando a produtividade
através de tecnologias e mudanças que a revolução verde traz, as consequências
econômicas, políticas, sociais e ambientais da modernização da agricultura junto da
revolução verde, são, a mudança insana da agricultura que agora é padronizada e
artificial com imensa produção de transgênicos e agrotóxicos, êxodo rural, expulsão
de posseiros e enorme desigualdade de distribuição de renda juntamente do
aumento da concentração de terras. Modernização essa que surgiu com a não
realização da reforma agrária, pauta em que os sujeitos coletivos abordam e pedem
para ser realizada, reforma que traria dignidade e direitos básicos na redistribuição
de terras, democratizando o acesso às propriedades privadas e regulamentando
suas atividades agrícolas. A luta dos sujeitos coletivos no campo, inseridos na
produção da agricultura, clama por direitos básicos ambientais e de saúde, o imenso
uso de agrotóxicos que afeta diretamente na vida dos trabalhadores e camponeses,
também deteriora a qualidade dos alimentos em busca de uma produtividade em
uma escala maior, gerando mais lucro aos detentores do capital, ao mesmo tempo
em que causa um desenfreado impacto na vida das pessoas que trabalham e
consomem os produtos criados artificialmente pelo agronegócio. É também
importante citar movimentos de resistência além do MST, como o MMC (Movimento
de Mulheres Camponesas), que luta pelos direitos das mulheres trabalhadoras do
campo que sofrem pela exploração do capitalismo, e o movimento negro e
antirracista que é impescindivel ao debater a luta de classes, propriedade privada e
o capital.
O Serviço Social é um pilar de intervenção dentro das pautas que envolvem
a questão agrária, a profissão é de extrema importância para intervir e contribuir na
recuperação de atingidos por crimes ambientais, retificando direitos de saúde e
moradia pelos danos causados pela exploração do capital através do agronegócio.
Essa intervenção tem como principal objeto, a utilização das políticas públicas do
Estado para contribuir com os usuários do campo que são vítimas diretas da
questão social, que envolve os crimes de exploração do agronegócio e o processo
de expropriação dos trabalhadores em relação às propriedades privadas. A questão
social, que também é um objeto de trabalho do Serviço Social, está completamente
ligada ao acúmulo de capital, pois onde há uma concentração de renda, há também
simultaneamente, uma situação oposta de extrema pobreza, e é o que acontece na
atual configuração da questão agrária brasileira, que sem uma reforma, se enquadra
no enorme número de vítimas da questão social oriunda da produção agrícola do
campo e sua distribuição desigual de terras. O assistente social, que também está
inserido na divisão sócio-técnica do trabalho, também faz um enorme papel na luta
desses sujeitos coletivos no campo, ele também tem um compromisso com a
organização e incentivo dos movimentos sociais, garantindo direitos aqueles que
estão em assentamentos e também sendo um aliado à essa classe que luta contra a
exploração do capital, ao mesmo tempo que gerencia as políticas públicas cabíveis
para todos os afetados pelo sistema do agronegócio, como por exemplo, atuando de
maneira direta na proteção às vítimas do crime ambiental cometido pela Vale em
Mariana, Minas Gerais.

Referências Bibliográficas:
MORISSAWA, M. “A História da luta pela terra e o MST” - São Paulo: Expressão
Popular, 2001.
STEDILE,J. P. - ESTEVAM, D. “A Questão agrária no Brasil: O debate na
esquerda - 1960 - 1980” - São Paulo: Expressão Popular, 2012
BRUZIGUESSI, B. [et. al.] “Questão agrária e políticas públicas em Minas
Gerais: conflitos sociais e alternativas populares” - Juiz de Fora, MG: Editora
UFJF, 2021
SALETE, R. [et. al.] “Dicionário da Educação do Campo” - Rio de Janeiro, São
Paulo: Escola Politécnica de Saúde Joaquim Venâncio, Expressão Popular, 2012

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