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UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARANÁ

PROGRAMA DE EDUCAÇÃO CONTINUADA EM CIÊNCIAS AGRÁRIAS


CURSO DE MBA EM GESTAO DO AGRONEGÓCIO - EAD

MBA EM GESTÃO DO
AGRONEGÓCIO

AGRONEGÓCIO E SISTEMAS AGROINDUSTRIAIS

Prof. Dr. João Batista Padilha Jr.


Vice-Diretor do Setor de Ciências Agrárias da UFPR
Coordenador do Centro de Informações do Agronegócio da UFPR
Coordenador do Laboratório de Pesquisas em Bovinocultura – LAPBOV-UFPR

2013
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CAPÍTULO 1

1 - O Agronegócio Brasileiro

Justificativa

Neste capítulo, procura-se mostrar ao estudante do MBA que a agropecuária já


não pode mais ser dissociada dos demais setores da economia responsáveis por todas
as atividades que garantem a produção, a transformação, a distribuição e o consumo
de alimentos, fibras e energia renovável.

Essa visão sistêmica ou de inter-relação dos vários agentes do sistema de


produção chama-se agronegócio, agribusiness ou complexo agroindustrial. Tal
conjunto de atividades que tem início nos fornecedores de insumos e bens de
produção e fim nos consumidores representa um papel fundamental na economia
brasileira, além de ser o setor chave de inserção do Brasil no mercado externo.

Objetivos

a) Permitir o entendimento do conceito de agronegócio e discutir as suas


principais tendências no Brasil,

b) Apresentar os principais elementos formadores do agronegócio, bem como o


processo de inter-relação dos vários agentes,

c) Apresentar a importância econômica do agronegócio, no Brasil, além da


contribuição de cada segmento para a economia como um todo.

1.1 - Visão e Conceito de Agronegócio

Até hoje, a maioria das pessoas ainda pensa que a agricultura se restringe a
arar o solo, plantar semente, fazer colheita, ordenhar vacas ou alimentar os animais.
Esse, na realidade, foi o conceito de agricultura que perdurou até o início dos anos
da década de 1960. Contudo, a chamada industrialização da agricultura, a qual
tem gerado crescente dependência da agropecuária com o setor industrial, como
resultado das grandes transformações tecnológicas incidentes sobre o setor rural,
fez com que a agropecuária sofresse uma radical mudança de concepção.

Mais recentemente, vem se utilizando o termo denominado agronegócio, no


qual se concebe a agropecuária como um amplo e complexo sistema, que inclui não
apenas as atividades dentro da propriedade rural (ou seja, dentro da “porteira
agrícola”, que é a produção em si); como também e principalmente as atividades de
distribuição de suprimentos agrícolas (ou seja, os insumos), de armazenamento, de
processamento e distribuição dos produtos agrícolas e demais funções de
comercialização necessárias à movimentação dos produtos agropecuários pelos
sistemas de comercialização.

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Isso significa dizer que o agronegócio ultrapassa as fronteiras da “propriedade


rural” (agrícola, pecuária, florestal) para envolver todos os que participam direta ou
indiretamente no processo de levar os alimentos, fibras e energia renovável aos
consumidores. Em outras palavras, o agronegócio engloba não apenas os que
trabalham diretamente com a produção agropecuária, mas também as pessoas e
empresas que fornecem os insumos (como, por exemplo, fertilizantes, defensivos,
rações, crédito e sementes), processam os produtos agropecuários (por exemplo,
grãos, fibras, carne e leite, entre outros) manufaturam os alimentos e fibras (tais
como: pão, bolachas, massas, sorvetes, calçados, roupas, entre outros),
transportam e vendem esses produtos aos consumidores (por exemplo,
supermercados, restaurantes, lanchonetes, panificadoras, lojas de calçados e
tecidos).

No início deste capítulo, já foi dado o primeiro passo para que se entendam
as atividades de produção-distribuição e consumo como integrantes de um sistema,
quando foi abordada a visão sistêmica da agropecuária, seja por meio dos estágios
integrados ou de coordenação de atividades de produção-distribuição. Numa outra
visualização, o sistema de agronegócio (sistema de alimentos e fibras, agribusiness
ou complexo agroindustrial) pode ser representado conforme mostra a figura 1.1.

Figura 1.1 – Os Elementos do Sistema de Agronegócio.

Desde os anos da década de 1960 (nos Estados Unidos, principalmente) e a


partir da década de 1970, no Brasil, esse sistema tem experimentado uma rápida
transformação, devida tanto ao surgimento de novas indústrias ligadas à
agropecuária, quanto ao fato de as atividades agrícolas virem se tornando cada vez
maiores (economia de escala e escopo) e mais especializadas.

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As primeiras transformações ocorreram no segmento de suprimentos


agrícolas, como resultado das adoções tecnológicas ligadas à agropecuária,
principalmente a tecnologia mecânica (que visa substituir o trabalho humano e a
força animal por trator) e a tecnologia química (que objetiva a substituição parcial
de trabalho com o uso de herbicidas, por exemplo) e de terra (exemplo: via utilização
de fertilizantes) por capital, e mais recentemente a biotecnologia (que visa ganhos
de produtividade utilizando melhoramentos genéticos).

Os avanços tecnológicos nas operações de processamento e manufatura de


alimentos e fibras e na preservação dos alimentos, em grande parte, estimulados
pelas mudanças nos gostos e preferências dos consumidores, fizeram com que o
conceito de agricultura fosse expandido para além das atividades “dentro da
porteira”, resultando no sistema de alimentos e fibras.

O setor de processamento de alimentos tem se desenvolvido paralelamente


com a tecnologia de preservação de alimentos. Por exemplo, o surgimento de latas
de estanho e vasos de vidro foi o caminho para preservar alimentos, possibilitando a
expansão da indústria de conservas. Atualmente, mais frascos de plástico, latas
(alumínio) e outros materiais tecnológicos (nanotecnologia, termoselantes,
polímeros, copolímeros) são usados como recipientes de alimentos.

Essa expansão foi possível porque as empresas que produzem plásticos,


celulose, latas, termoselantes e polímeros têm desenvolvido recipientes de camada
múltipla que podem resistir suficientemente bem ao ambiente externo do produto, de
modo a manter alimentos perecíveis sem deterioração, aumentando sua vida útil e
tornando o mercado irrestrito.

Do mesmo modo, o desenvolvimento de refrigeradores e “freezers” estimulou


a expansão da indústria de refrigeração e possibilitou a disponibilidade de alimentos
frescos.

Esse sistema de alimentos, fibras e energia renovável está ficando cada vez
mais conhecido e referido como agronegócio. O termo agronegócio foi cunhado por
dois economistas norte-americanos, John H. Davis e Ray A. Golberg, num
congresso sobre distribuição de alimentos, ocorrido em 1957. Davis e Golberg
definiram agronegócio como a contribuição à atividade econômica requerida para
que os alimentos, o vestuário, os calçados e o fumo cheguem aos consumidores
domésticos e, também, para apoiar as exportações agrícolas.

Outros autores utilizaram termos diferentes para expressar a mesma coisa,


como, por exemplo, Lee, Schluter, Edmondson e Wills, em 1987, usaram o termo
“sistema de alimentos e fibras” para os mesmos conceitos e mais o investimento
em capital agrário. Outros termos definidos foram: sistema de comercialização de
alimentos por S. W. Greig, em 1984, e indústrias manufatureiras de alimentos
por Connor, Rogers, Marion e Mueller, em 1985.

No termo agronegócio, que marcou definitivamente a forma moderna de


pensar a agricultura, estão contempladas as três partes do sistema: o setor de
suprimentos agropecuários (insumos agropecuários), o setor de produção
agropecuária propriamente dita e o setor de processamento e manufatura. Esses

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três setores são partes interrelacionadas de um sistema, no qual uma parte depende
fundamentalmente da outra.

O Conceito

Por agronegócio deve-se entender a soma total das operações de produção


e distribuição de suprimentos agropecuários, das operações de produção nas
unidades agrícolas, do armazenamento, do processamento e distribuição dos
produtos agrícolas e itens produzidos a partir deles. Estão, conseqüentemente,
nesse conjunto todos os serviços financeiros, de transporte, classificação, marketing,
seguros, bolsas de mercadorias, entre outros. Todas essas operações são elos de
cadeias que se tornaram cada vez mais complexos à medida que a agricultura se
modernizou, e o produto agrícola passou a agregar mais e mais serviços que estão
fora da fazenda.

Dessa forma, o conceito de agronegócio engloba os fornecedores de bens e


serviços para a agricultura, os produtores rurais, os processadores, os
transformadores e distribuidores e todos os envolvidos na geração e fluxo dos
produtos de origem agrícola até chegarem ao consumidor final. Participam também
desse complexo os agentes que afetam e coordenam o fluxo dos produtos, tais
como o governo, os mercados, as entidades comerciais, financeiras e de serviços.

Essa forma de pensar a agricultura é a visão sistêmica, na qual o todo é


maior do que a soma de suas partes. Essa visão se contrapõe à tradicional, que se
concentra nos elementos do sistema como segmentos independentes de um todo,
desconsiderando o que há de mais importante num sistema: o mecanismo de
interação dos vários elementos que o compõem e, mais do que isso, os efeitos que
as mudanças de um elemento podem trazer ao sistema como um todo.

Assim, de maneira mais detalhada do que o esquema apresentado na Figura


1.1, o agronegócio pode ser mais bem entendido em cinco principais setores:
fornecedores de insumos e bens de produção; produção agropecuária propriamente
dita; processamento e transformação; distribuição e consumo e serviços de apoio
(Figura 1.2).

Fonte: ABAG - Associação Brasileira de Agronegócio.

Figura 1.2 - Os Cinco Principais Setores do Agronegócio

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Ainda uma outra maneira de se apresentar o sistema de agronegócio em


cinco setores: o de insumos (composto pelas indústrias que fornecem insumos e
serviços necessários à produção agrícola); o de produção (que converte os
insumos em matérias-primas agrícolas); o de comercialização de produtos
agrícolas “in natura” (que consiste nos vários métodos pelos quais o agricultor vende
ou armazena seu produto); o de processamento/serviços/embalagem e
distribuição (que consiste daquelas indústrias que fazem os processos e serviços
de transformação de matérias-primas agrícolas em produtos manufaturados ou
semimanufaturados) e o de consumo pode ser observada na figura 1.3.

Para os empresários, o estudo do agronegócio não é um mero exercício


acadêmico, mas um instrumental de grande importância para o planejamento
estratégico de suas empresas.

Fonte: Anais do Simpósio da International Agronegócio Management Association (IAMA), 1992, pg. 221.

Figura 1.3 - Visão Alternativa do Sistema de Agronegócio

Por exemplo, a partir da matriz de insumo-produto1 de cada setor, que é


levantada pelo censo econômico, é possível inferir o efeito multiplicador na cadeia,
de cada alteração da demanda. É possível, para um determinado cenário sobre o
comportamento da renda nacional, projetar como se comportaria o consumo de
frango a um estímulo de renda e, a partir dai, estimar, segundo a análise de insumo-
produto, em quanto será necessário aumentar a oferta de rações e, em
conseqüência, de milho e soja, ou quanto se utilizará a mais de insumos nessas
lavouras. Informações como essa ou sobre as tendências de consumo são
importantes sinalizadores para investimentos das empresas.

Agroindústria e Agronegócio: A diferença

É importante deixar claro um aspecto: o termo agroindústria não deve ser


confundido com agronegócio, pois, o primeiro faz parte do segundo. No
agronegócio, a agroindústria é a unidade produtora integrante dos segmentos
localizados nos níveis de suprimento à produção, transformação e

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Uma técnica conhecida como modelo insumo-produto procura explicar a interdependência das atividades de produção das
várias diferentes indústrias que compõem a economia. A interdependência “capturada” no modelo advém do fato de que cada
indústria emprega os produtos (“outputs”) das outras indústrias como suas matérias-primas (“inputs”). Além disso, seu produto
pode ser usado por outros produtores ou indústrias, como um fator de produção.

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acondicionamento, e que processa o produto agrícola, em primeira ou segunda


transformação, para sua utilização intermediária ou final.

As instituições e organizações envolvidas no agronegócio podem ser


agrupadas em três categorias: as operacionais (que atuam fisicamente sobre o
produto ao longo do sistema, como é o caso dos produtores, processadores,
distribuidores); as fomentadoras (as que geram e transmitem energia no estágio
inicial do sistema, como é o caso das empresas de suprimentos de insumos e
fatores de produção, os agentes financeiros, os centros de pesquisa e
experimentação, entidades de fomento e assistência técnica e outras); e as
coordenadoras (as que regulamentam a interação e a integração dos diferentes
segmentos do sistema, como é o caso do governo, contratos comerciais, mercados
futuros, sindicatos, associações e outros).

Na realidade, essas instituições e organizações estão envolvidas direta ou


indiretamente com um ou mais dos sete níveis que compõem as funções do
agronegócio, a saber:

a) Suprimento de insumos à produção;


b) Produção;
c) Transformação;
d) Acondicionamento;
e) Armazenamento;
f) Distribuição;
g) Consumo.

O tema de cada um desses níveis será objeto de específica abordagem na


seqüência dos próximos capítulos.

Fonte: Pinazza et allii.

Figura 1.4 - Segmentos do Complexo Agroindustrial.

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Finalmente, uma alternativa do enfoque sistêmico do agronegócio é a


apresentada por Pinazza, em que o complexo agroindustrial é composto por quatro
segmentos (fornecedores de insumos e fatores; produção propriamente dita;
processamento e transformação e distribuição e consumo) formando uma cadeia. O
aspecto importante a ser destacado é que o início da interação na cadeia alimentar
começa no consumidor e daí vai se irradiando para os demais segmentos, conforme
observado na figura 1.4.

1.2 - O Agronegócio no Mundo e nos EUA

O valor do agronegócio, quando computados os valores em nível de insumos,


agropecuária, processamento (de alimentos, madeira/papel e papelão, têxteis,
vestuário e calçados, bebidas, fumo, álcool e óleos e essências) e distribuição, é o
maior negócio do mundo e da maioria dos países, inclusive o Brasil. O
agronegócio inclui um conglomerado de atividades com enorme efeito multiplicador
nas economias dos países.

O Grande Negócio está “Fora da Porteira”

O aspecto importante a ser destacado é que a parcela substancial do valor


global gerado ao longo da cadeia do agronegócio não ocorre “dentro da porteira”
agrícola, mas fora dela, em especial na fase de processamento e distribuição. Pode-
se dizer que é aí que está a “grande atividade” de negócios da agropecuária e, por
isso, é fundamental que os técnicos ligados ao setor rural, os produtores e os
dirigentes de cooperativas agropecuárias percebam isso com clareza, a fim de
tentarem participar mais ativamente da cadeia alimentar, a de fibras e a de energia
concentrada na agroindústria e na distribuição, que são os segmentos que mais
geram valor adicionado e, portanto, receita.

Caso contrário, agricultores e suas cooperativas estariam, voluntariamente ou


não, apoiando a transferência de renda de seus associados para as grandes
corporações internacionais ou mesmo nacionais, privadas, ligadas ao agronegócio.

Segundo o Banco Mundial, em sua publicação WDI indicators database


(2012), o mundo, em 2012, tinha um PIB total de US$ 70,1 trilhões correntes
(nominal), e o agronegócio representava em média 22%, sendo classificado como
o maior negócio do mundo, superando o petróleo, as telecomunicações e a energia.
Projeções de crescimento do setor para os próximos 10 anos, segundo a Harvard
Business School, indicam ampliação anual ao redor de 1,5%.

Estimativa do valor global do agronegócio mundial, incluindo produtos


alimentares e não-alimentares, em todas as suas respectivas cadeias, indica um
negócio que gera, atualmente, um montante em torno de 15,4 trilhões de dólares
por ano, com um crescimento adicional projetado de cerca de US$ 240
bilhões/ano, no decorrer dos próximos oito anos. Isso significa dizer que, para o
final da segunda década deste século, o valor do agronegócio de todos os países
deverá estar ao redor de US$ 17,4 trilhões (Tabela 1.1).

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Tabela 1.1 - Estimativas e Projeções dos Valores do Agronegócio Mundial.

SETORES 1980 1990 2012 2020(*)


US$ bilhões % US$ bilhões % US$ bilhões % US$ bilhões %
ANTES DA PORTEIRA
(insumos e bens de 250 12 330 11 1.697 11 1.564 9
produção agropecuários)
DENTRO DA
PORTEIRA 480 24 630 21 2.930 19 1.737 10
(agropecuária)
DEPOIS DA
PORTEIRA 1.270 64 2.040 68 10.795 70 14.072 81
(processamento e
distribuição)
TOTAL 2.000 100 3.000 100 15.422 100 17.373 100
Fonte: Harvard Agronegócio SEMINAR e WDI – World Bank (2012).
(*) Estimativa dos Autores.

O aspecto relevante a ser novamente destacado é que apenas 20% do valor


global do agronegócio mundial é gerado “dentro da porteira”, ou seja, dentro da
propriedade rural, o que corresponde a aproximadamente US$ 2,9 trilhões, cujo
valor deverá crescer em termos absolutos, porém proporcionalmente menos que o
segmento “depois da porteira”.

As fases de Processamento e Distribuição, que atualmente geram em torno


de US$ 11 trilhões por ano (ou seja, 70% do valor total do agronegócio), deverão ter
sua participação relativa aumentada para mais de 80% na segunda década deste
século, devendo chegar a gerar ao redor de 14 trilhões de dólares. Uma parcela
crescente desse montante estará associada a processos de valor agregado por
novas tecnologias e marcas voltadas às necessidades e novos hábitos e desejos
dos consumidores, que está em constante alteração.

Em outras palavras, as mudanças nos gostos e preferências dos


consumidores, o crescimento econômico das economias em desenvolvimento e as
alterações tecnológicas nos processos produtivos, especialmente no setor “depois
da porteira”, é que direcionarão as mudanças no sistema agroalimentar.

O Agronegócio nos EUA

É por isso que se diz que a importância da agropecuária de um país não pode
ser medida apenas pelo valor de sua produção “dentro da porteira” da propriedade
rural, como é o caso dos Estados Unidos que representa um pouco menos de 3% do
seu produto interno bruto (PIB) e cerca de 8% de sua população. Evidentemente
isso não conta toda a história e, ao mesmo tempo, distorce a realidade.

Nos EUA, ao longo da cadeia de alimentos e fibras (incluindo a indústria de


insumos e máquinas agrícolas, a produção agrícola em si, a agroindústria, a
comercialização agrícola, o atacado e o varejo), o sistema como um todo emprega
mais de 24 milhões de pessoas, o que representa 18,6% dos 129,2 milhões de
empregos em toda a economia norte-americana.

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Isso significa dizer que, naquele país, o agronegócio representa cerca de um


sexto do PIB e é o maior empregador de mão-de-obra. Desse contingente
empregado no agronegócio, mais da metade se concentra apenas no segmento de
alimentos (“depois da porteira”), tais como: restaurantes e lanchonetes,
supermercados, agroindústria e atacado.

A demanda por alimentos e fibras (produtos do agronegócio), nos EUA, gera


em torno de dois trilhões de dólares (cerca de um sexto do total mundial), o que
representa cerca de 16% do PIB daquele país, que é de US$ 14,6 trilhões por ano.
Esse valor de US$ 2,3 trilhões (que, por si só, já representa o PIB total brasileiro)
pode ser dividido em cinco componentes básicos da “cadeia”, na qual o
processamento de alimentos na agroindústria é o mais importante com 1,9 trilhão de
dólares, ou seja, a agroindústria em si contribui com 82% do valor global do
agronegócio norte-americano (Tabela 1.2).

Tabela 1.2 - Estimativa da Composição do Agronegócio dos EUA, 2010, em


US$ Corrente.

Valor da Valor
Principais Setores Produção Adicionado
US$ Bilhões % US$ Bilhões %
1 – Insumos e Máquinas Agrícolas 234,0 1,6 234,0 10,0
2 – Produção Agropecuária 421,2 2,8 187,2 8,0
2.1 – Agrícola 180,7 1,2 91,2 3,9
2.2 – Pecuária 210,6 1,4 79,5 3,4
2.3 – Florestal e outras 29,9 0,2 16,4 0,7
3 – Processamento (Agroindústria) e
2.339,6 16,0(*) 1.918,4(**) 82,0
Distribuição
A – Total do Agronegócio (1+2+3) - - 2.339,6 100
B – Demais Setores da Economia 12.280,8 84,0 - -
Total do PIB dos EUA (A+B) 14.620,0 100 - -
Fonte: USDA, Ohio State University e Bureau of Economic Analysis (BEA) – U.S. Department of
Commerce (2011), com cálculos dos autores.
(*) O processamento e a distribuição participam com 11,6%.
(**) Desse valor, a agroindústria contribui com 52%, os atacadistas e varejistas com 27% e os
serviços ligados aos alimentos (restaurantes, bares e lanchonetes) com 21%.

Os dois milhões de propriedades rurais nos EUA, cujos ativos estão


estimados em mais de 1,0 trilhão de dólares, tiveram, em 2010, segundo o
USDA/ERS, uma receita bruta de aproximadamente US$ 240 bilhões, com custos
totais de produção de cerca de US$ 225 bilhões. O principal componente do setor da
produção agrícola norte-americana é a pecuária, com US$ 211 bilhões estimados,
seguida por um conjunto de produtos agrícolas, com US$ 181 bilhões. Os subsídios
governamentais diretos alcançaram US$ 25 bilhões no ano de 2010.

Em outras palavras, do valor global de dois trilhões de dólares do agronegócio


norte-americano, o montante gerado “dentro da porteira” é de apenas US$ 187
bilhões, que significa aproximadamente 10% do valor da agroindústria. Isso é mais
uma evidência de que o grande negócio da agricultura está “fora da porteira”
agrícola.

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1.3 - O Agronegócio Brasileiro

A exemplo de outros países, no Brasil, o agronegócio compreende o segmento


de alimentos, fibras e energia renovável. No caso do Brasil, em 2010, o agronegócio
foi responsável por:

a) 21,8% do PIB (Produto Interno Bruto) que foi de R$ 4,0 trilhões, ou seja, R$
879,1 bilhões;

b) Cerca de 40% da receita gerada com a exportação do Brasil, ou seja, US$ 81


bilhões durante o ano de 2010, segundo MDICE;

c) Cerca de 37% da mão-de-obra ou total de empregos no país (36,6 milhões de


pessoas), sabendo que a PEA (População Economicamente Ativa) é de
aproximadamente de 100 milhões de pessoas;

d) Cerca de 45% dos gastos ou do consumo das famílias brasileiras (R$ 1,0
bilhão em 2010);

e) Utilização de mais de 50% da frota nacional de caminhões (600 mil veículos).


f)
Estima-se que o valor agregado do agronegócio brasileiro, em 2010, em R$,
ficou ao redor de R$ 879 bilhões, o que representa 21,8% do produto interno bruto
(PIB) do país, avaliado em R$ 4,0 trilhões. As atividades do agronegócio do Brasil
absorvem 45% do consumo total das famílias brasileiras. Ele também merece
destaque pela sua importância na geração de empregos, uma vez que ocupa em
torno de 36,6 milhões de pessoas, ou seja, 37% da população economicamente
ativa do país.

Cabe registrar, contudo, que, no conceito mais abrangente de pessoal


ocupado, a agropecuária emprega mais de 15 milhões de pessoas, numa
demonstração de que o setor rural é ainda extremamente intensivo no uso de mão-
de-obra, em geral de precária capacitação.

No decorrer das últimas quatro décadas, as grandes transformações por que


passou a economia e a sociedade brasileira, fizeram com que, de um lado, a
agricultura em si tivesse a sua participação reduzida à metade, em termos relativos
(pois de quase 23% do PIB do país, em 1950, atualmente é de cerca de 11%),
enquanto, do outro lado, crescia em importância a rede de serviços que permitia
fazer chegar a produção do campo à mesa do consumidor.

Com isso, a importância do agronegócio cresceu, em termos relativos e


absolutos, em contrapartida à perda de expressão das atividades eminentemente
agrícolas na riqueza nacional. Entre as principais transformações da economia e da
sociedade brasileira estão o rápido processo de urbanização e o relativamente baixo
crescimento da renda “per capita” nacional, que é reflexo direto do baixo
crescimento do PIB nos últimos anos.

Esses dois fatores, urbanização e renda, em conjunto, foram fundamentais


para que o agronegócio brasileiro assumisse a importância que tem agora, devido às

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mudanças radicais na cadeia de alimentos e fibras, tanto “antes da porteira” da


fazenda (pesquisa e experimentação, sementes melhoradas, corretivos e
fertilizantes, defensivos agrícolas, tratores, máquinas, combustíveis, vacinas e
medicamentos veterinários), quanto principalmente “depois da porteira” (transporte,
armazenamento, processamento e distribuição de produtos agrícolas ou deles
derivados).

Valor relativo do agronegócio brasileiro em 2011

Com base nos dados do CEPEA-USP e CNA (2013), podem-se decompor


estimativamente os valores dos grandes elos da cadeia do agronegócio brasileiro da
seguinte maneira:

a) O valor dos insumos e dos bens de produção para a agricultura alcança R$


108,3 bilhões, sendo que, em 2000, era de R$ 66,2 bilhões.

b) O valor da produção da agropecuária está ao redor de R$ 372,6 bilhões


(ou seja, esse setor adiciona R$ 264,3 bilhões), assim distribuídos: R$ 152,2
bilhões gerados pela produção vegetal e R$ 112,1 bilhões pela produção
animal.

c) O valor da produção já processada (alimentos, bebidas, fumo, fibras,


têxteis naturais, vestuário, calçados, madeira, papel e papelão, entre os
principais) é estimado em R$ 634,4 bilhões (ou seja, o valor adicionado pela
área de processamento é de R$ 261,8 bilhões, o que representa uma
participação de 28,5% do valor global do agronegócio brasileiro).

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d) O valor da produção do setor de distribuição [assim incluídos os


atacadistas e varejistas (supermercados, mercearias, panificadoras)] e os de
serviços ligados aos alimentos (restaurantes, bares, lanchonetes), é de R$
917,7 bilhões, cujo valor adicionado é de R$ 283,3 bilhões (Tabela 1.3).

Tabela 1.3 - Estimativa do Valor do Agronegócio Brasileiro, 1995 a 2011.

Valor – em bilhões de R$ Participação (%) no


Da Produção Adicionado valor adicionado
Setores
1995 2000 2011 1995 2000 2011 1995 2000 2011
Insumos 56,0 66,2 108,3 56,0 66,2 108,3 8,4 9,9 11,8
Agropecuária 215,1 224,9 372,6 159,1 158,7 264,3 23,8 23,8 28,8
Processamento 448,7 445,6 634,4 233,6 220,7 261,8 35,0 33,1 28,5
Distribuição 667,2 667,0 917,7 218,5 221,4 283,3 32,8 33,2 30,9
Total
- - - 667,2 667,0 917,6 100,0 100,0 100,0
Agronegócio
Fonte: CEPEA-USP/CNA (2013).

Desta forma, verifica-se que o agronegócio brasileiro apresentou uma taxa de


crescimento de 4,38% em 2011, o que significa 1,65 pontos percentuais superiores
ao crescimento do PIB do Brasil, cuja taxa de crescimento no mesmo período foi de
2,73%. Isto demonstra a importância do agronegócio brasileiro no sentido de
proporcionar um crescimento sustentável para a economia brasileira.

Figura 1.5 – Ranking brasileiro da produção e exportação do


agronegócio, 2010.

A figura 1.5, baseada em dados do Ministério da Agricultura (2010), apresenta


as principais cadeias produtivas do agronegócio brasileiro em termos de
importância tanto de produção quanto de exportação para o ano de 2010.

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Nela, verifica-se a grande dinâmica do agronegócio e a potencialidade que


pode ser desenvolvida caso o custo Brasil seja minimizado.

Figura 1.6 – Quantidade de destinos da exportação do agronegócio


brasileiro, 2010.

A figura 1.6 apresenta a quantidade de diferentes destinos (mercados) para


os produtos das principais cadeias produtivas do agronegócio brasileiro, bem
como o valor das exportações no ano de 2010. Já a figura 1.7 apresenta a
evolução média da balança comercial do agronegócio no período 2008-2010.
É este superávit comercial que garante a atual reserva cambial do Brasil. Sem
o Agronegócio, o Brasil teria certamente déficit da balança comercial.

Figura 1.7 – Evolução média da balança comercial do agronegócio


brasileiro no período 2008 a 2010.

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Figura 1.8 – Emissão de carbono pelo agronegócio brasileiro.

Na figura 1.8, pode-se observar que o agronegócio brasileiro pode ser


considerado como de baixa emissão de carbono. No contexto global,
ocupamos a décima quarta posição como emissor total e septuagésima
posição em termos de emissão “per capita”.

Figura 1.9 – Evolução da produção de grãos no agronegócio brasileiro,


1960-2010.

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A figura 1.9 mostra a grande evolução que o setor produtivo brasileiro


apresentou nos últimos 50 anos. Evidentemente obtivemos ganhos de
produtividade muito superiores à expansão física da área de produção. A
população aumentou 172,4% no período, a área de produção expandiu
116,8%, a produção de grão incrementou 776,7% e a produtividade aumentou
305,2%.

Figura 1.10 – Evolução da produção pecuária de corte no agronegócio


brasileiro, 1960-2010.

A figura 1.10 mostra a evolução da pecuária de corte no período analisado.


Nesta, pode-se observar que o rebanho aumentou 251,7% contra os 172,4%
da expansão populacional. A evolução da área de pastagem natural e artificial
cresceu apenas 39% em 50 anos e a produtividade incrementou 155,3%.

1.3.1 - Análise Setorial do Agronegócio

Nesta seção, são feitos breves comentários econômicos sobre a composição


de cada um dos quatro setores acima mencionados, os quais compõem o
agronegócio brasileiro. Essa análise será apenas sobre a magnitude dos valores
econômicos, uma vez que outros aspectos, tais como concentração de mercado,
produção física e tendências serão abordadas em partes específicas do curso.

O Setor de Insumos Agrícolas

Quanto aos insumos agrícolas, pode-se afirmar que eles se constituem num
importante setor do agronegócio. Esse setor fornece aos agropecuaristas os bens
de produção de que eles necessitam para operacionar suas atividades. Entre os
principais fatores de produção adquiridos pelos produtores rurais estão: sementes,

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rações, crédito, máquinas e implementos agrícolas, combustível, fertilizantes,


defensivos agrícolas entre outros. Sabe-se que a melhoria na qualidade desses
insumos adquiridos se constitui em importante fonte de ganhos de produtividade
para todo o sistema.

A industrialização da agricultura, conforme anteriormente referido, levou a


uma crescente dependência da agropecuária do setor secundário, uma vez que as
grandes transformações tecnológicas incidentes sobre o setor rural fizeram com que
ele passasse a adquirir, cada vez mais, os insumos produzidos pela indústria.

Tanto a tecnologia mecânica quanto a química induzem o uso intensivo de


fatores de produção gerados “fora da porteira” da propriedade rural. Para se ter uma
idéia dessa dependência, nos Estados Unidos mais de três quartos dos insumos
utilizados na produção agrícola são adquiridos do setor industrial, cujo valor
ultrapassa cem bilhões de dólares, anualmente.

Isso quer dizer que, em média, cada um dos quase dois milhões de
produtores rurais norte-americanos “gasta” aproximadamente US$ 60 mil por ano
com insumos gerados no setor secundário.

No caso do Brasil, estima-se, conforme referido, que os nossos produtores


rurais despendem em torno de R$ 108 bilhões por ano com insumos adquiridos do
setor industrial, entre os quais se destacam: rações, com R$ 34 bilhões; máquinas
e equipamentos, R$ 25 bilhões; fertilizantes e corretivos de solo, R$ 21 bilhões;
sementes, R$ 8 bilhões; defensivos agrícolas e pecuários, R$ 8 bilhões, cuja
participação relativa média está na Figura 1.10.

Máquinas
23,1%

Fertilizantes
19,2%

Rações
30,8%

Sementes
Demais Defensivos Defensivos 7,7%
insumos animais agrícolas
6,1% 5,4% 7,7%

Figura 1.10 -Estimativa Média da Composição Percentual (%) dos Gastos na


Produção Agropecuária, Brasil, 2011.

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O Setor de Produção Agropecuária

Muito embora já referido, é sempre importante relembrar que o maior valor


econômico do agronegócio não é gerado “dentro da porteira” das propriedades e,
sim, fora dela ao longo do sistema de comercialização. Nos Estados Unidos, para
um valor total do agronegócio, avaliado em mais de dois trilhões de dólares, o valor
da produção agropecuária norte-americana está em torno de US$ 391,3 bilhões, ou
seja, menos de 20% do complexo agroindustrial.

No Brasil, em condições normais, o valor da produção agropecuária está ao


redor de 132 bilhões de dólares, sendo que US$ 76,2 bilhões são gerados na
produção agrícola e US$ 56,1 bilhões se referem à produção animal. Os dados da
Tabela 1.4 dão uma razoável idéia da provável receita bruta (valor bruto da
produção agropecuária ou VBP) dos principais produtos do agronegócio do Brasil e
dos Estados Unidos.

Tabela 1.4 - Valor Estimativo Médio da Produção dos Principais Produtos


Agropecuários do Brasil e dos EUA, 2009/2011.

Principais Valor da Produção no Brasil Valor de Produção nos EUA


Produtos US$ bilhões % US$ bilhões %
A - Agrícolas 76,2 100,0 180,7 100,0
Soja 25,2 33,0 27,8 15,4
Cana-de-açúcar 7,9 10,4 1,8 1,0
Café beneficiado 5,6 7,3 - -
Milho 9,0 11,7 34,7 19,2
Arroz 5,9 7,7 2,7 1,5
Banana 2,7 3,5 - -
Mandioca 3,2 4,2 - -
Feijão 2,4 3,1 - -
Fumo 2,7 3,5 6,7 3,7
Algodão em caroço 3,1 4,0 12,1 6,7
Demais produtos 8,5 11,7 94,9 52,5
B - Pecuários 56,1 100,0 210,6 100,0
Carne Bovina 24,9 44,4 95,6 45,4
Frango 12,4 22,2 21,7 10,3
Leite e derivados 8,9 15,8 45,5 21,6
Suínos 4,6 8,2 24,0 11,4
Ovos 2,7 4,9 8,0 3,8
Demais produtos 2,6 4,3 15,8 7,5
Total Agropecuária 132,3 - 391,3(*) -
Fonte: USDA (2013), IBGE e CONAB (2013), com cálculos dos autores.
(*) Neste total desconsiderou-se o valor da produção florestal e outras (US$ 29,9 bilhões).

Cabe destacar a importância econômica do milho e da soja, nos EUA, que


juntos geram uma receita bruta de cerca de 62,5 bilhões de dólares, valor esse
muito próximo ao montante de todos os produtos agrícolas brasileiros. De um modo
geral, para cada dólar gerado de receita de produtos agrícolas, no Brasil, são
gerados dois na agricultura norte-americana.

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EUA: Pecuária Maior do que a Agricultura, ao Contrário do Brasil.

No caso dos produtos pecuários, a importância econômica dos EUA é ainda


mais acentuada, em comparação com o Brasil. Por exemplo, a receita bruta da
pecuária de corte norte-americana (US$ 95,6 bilhões por ano) é quase quatro vezes
superior à obtida no nosso país. Merece também destaque, nos EUA, o valor da
produção de leite e derivados com mais de US$ 45 bilhões, de carne suína (US$ 24
bilhões) e carne de frango (US$ 21,7 bilhões). O valor da produção animal norte-
americana é 275% superior à receita obtida no Brasil.

Outro importante diferencial a ser registrado entre os dois países é o fato de,
no Brasil, o valor dos produtos agrícolas (US$ 76,2 bilhões) ser superior ao valor dos
produtos pecuários (US$ 56,1 bilhões), enquanto, nos Estados Unidos, ocorre o
contrário (Tabela 1.4 e Figura 1.11).

Na realidade, isso tem muito a ver com o nível de renda dos consumidores,
pois, os produtos de origem animal, por serem mais nobres e de maior valor por
unidade de peso, têm o consumo “per capita” aumentado entre os consumidores de
nível de renda mais elevado, como é o caso dos EUA, cuja renda por habitante é
bem superior à que ocorre no Brasil.

Figura 1.11 - Diferença de participação do valor gerado pela agricultura e pela


pecuária, no Brasil e nos Estados Unidos, 2009/2011 (em %).

Calculando-se a receita bruta para dez principais produtos agrícolas (soja,


milho, cana-de-açúcar, café, arroz, feijão, algodão, mandioca, fumo e laranja),
segundo as grandes Regiões do Brasil, constata-se que as regiões Sul (PR, SC e
RS) e Sudeste (MG, ES, RJ e SP) geram pelo menos um terço, cada, do valor global
desses produtos, ou seja, essas duas regiões, juntas, são responsáveis por mais de
dois terços da receita com esses dez produtos.

O Setor de Processamento e Manufatura (Agroindustrialização)

O setor de processamento e manufatura inclui as empresas que processam


os produtos agropecuários (como, por exemplo, converter o leite em queijo ou o trigo
em farinha; o milho em farinha ou amido; a carne de porco em presunto),
manufaturam os alimentos (converter farinha, ovos e outros insumos em pão), ou
seja, diz respeito à atividade agroindustrial.

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Tabela 1.5 - Estimativa da Composição do Valor do Processamento


Agroindustrial no Brasil, 1980 e 2011.
1980 2011
Grupos
US$ bilhões % US$ bilhões %
Alimentos 24,0 46,1 158,3 49,9
Madeira, Papel e Papelão. 8,2 15,7 13,2
Têxteis 6,5 12,5 91,0 11,7
Vestuário e Calçados 5,8 11,1 10,8
Bebidas 1,8 3,5 33,4 10,5
Fumo 0,9 1,7 8,5 2,7
Álcool 1,2 2,3 3,5
Consumo Rural 2,7 5,2 3,4
Óleos e Essências 1,0 1,9 2,0
Total Agroindústria 52,1 100 317,2 100

Fonte: CEPEA, IBGE, ABIA, FGV e AGROCERES para 1980 e Estimativa dos Autores para 2011.

A agroindústria brasileira, desta forma, representa 16,4% do valor total da


produção da indústria de transformação brasileira, de acordo com dados da
Pesquisa Industrial Anual (PIA) de 2009 do IBGE e compreende os setores que,
primordialmente, fornecem suprimentos diretamente para a agropecuária ou
realizam a primeira transformação industrial dos bens do setor primário.

Em linhas gerais, baseado no Boletim Regional do Banco Central do Brasil


(2012), a agroindústria registrou expansão acumulada significativamente inferior à
da indústria de transformação, de 2000 a 2011, excetuando-se o período de
intensificação da crise econômica internacional, quando a retração importante da
demanda externa exerceu desdobramentos mais intensos sobre a indústria de
transformação. A esse respeito, vale ressaltar que a produção de alimentos é
sustentada, em grande parte, pelo mercado interno, favorecido, na economia
brasileira, pelas trajetórias recentes do emprego e da renda real.

A produção de bens relacionados à agricultura, que detém o peso mais


expressivo na agroindústria (64,9%), aumentou 13,3% no período 2000 à 2011, com
ênfase na expansão de 32,5% na atividade produtos industriais utilizados pela
agricultura (adubos e fertilizantes, e máquinas e equipamentos) e no recuo de 2,1%
no segmento produtos industriais derivados da agricultura.

No âmbito da produção agroindustrial vinculada à pecuária (que representa


28,6% da agroindústria brasileira), que registrou expansão acumulada de 23,6% no
período, observa-se que a atividade produtos veterinários (rações e suplementos
vitamínicos) assinalou crescimento de 47,3%, superior à média da indústria de
transformação, enquanto a indústria de produtos de origem animal expandiu-se
17,2%. As divisões inseticidas, herbicidas e outros defensivos para uso
agropecuário, e desdobramento da madeira apresentaram variações respectivas de
28,6% e -12,4%, no período.

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Tabela 1.7 - Composição percentual média da agroindústria brasileira, 2011.

Discriminação Peso (em %)


Total da Agroindústria Brasileira 100,0
a) Total da Agricultura 64,9
a.1) Produtos industriais derivados da agricultura 55,5
a.2) Produtos industriais destinados à agricultura 9,4
b) Total de Pecuária Brasileira 28,6
b.1) Produtos industriais derivados da pecuária 22,6
b.2) Produtos industriais destinados à pecuária 6,0
c) Inseticidas, herbicidas e outros defensivos agropecuários 5,0
d) Desdobramentos da Madeira 1,5
Fonte: IBGE (2012)

Convém destacar que, do valor global do processamento agroindustrial


(estimado em US$ 317,2 bilhões), o grupo alimentos tem a maior importância, uma
vez que o faturamento da indústria agroalimentar é avaliado em US$ 158,3 bilhões
para o ano de 2011, contra US$ 52,1 bilhões em 1980. Estima-se que o valor médio
do processamento agroindustrial tenha a seguinte composição (Tabela 1.12 e Figura
1.8)

Figura 1.12 - Participação (%) média dos Principais Segmentos do Agronegócio


Brasileiro, 2009/2011.

Muito embora se tenha enfatizado, sempre é fundamental ter em mente a estreita


interdependência dos três grandes setores do sistema do agronegócio (o setor de
insumos, o da produção agrícola em si e o do processamento/manufatura), conforme
mostrado na figura 1.13, de tal modo que, se um desses setores não estiver
funcionando bem, isso afetará negativamente os demais.

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Figura 1.13 -Interdependência dos Três Setores do Agronegócio

1.4 – Resumo do Capítulo

Os aspectos mais importantes a serem destacados no presente módulo são


os seguintes:

Até hoje, a maioria das pessoas ainda pensa que a agricultura se restringe à
arar o solo, plantar semente, fazer colheita, ordenhar vacas ou alimentar os animais.
Esse, na realidade, foi o conceito de agricultura que perdurou até o início dos anos
da década de 1960. Contudo, a chamada industrialização da agricultura, a qual tem
gerado crescente dependência da agropecuária do setor industrial, como resultado
das grandes transformações tecnológicas incidentes sobre o setor rural, fez com que
a agricultura sofresse uma radical mudança de concepção, criando com isso o
agronegócio.

Por agronegócio deve-se entender a soma total das operações de produção


e distribuição de suprimentos agrícolas, das operações de produção nas unidades
agrícolas, do armazenamento, do processamento e distribuição dos produtos
agrícolas e itens produzidos a partir deles.

Estão, conseqüentemente, nesse conjunto todos os serviços financeiros, de


transporte, classificação, marketing, seguros, bolsas de mercadorias, entre outras.
Todas essas operações são elos de cadeias que se tornaram cada vez mais
complexos à medida que a agricultura se modernizou e o produto agrícola passou a
agregar mais e mais serviços, que estão fora da fazenda.

O valor do agronegócio, quando computados os valores em nível de insumos,


agropecuária, processamento (de alimentos, madeira/papel e papelão, têxteis,
vestuário e calçados, bebidas, fumo, álcool e óleos e essências) e distribuição, é o
maior negócio do mundo e da maioria dos países, inclusive o Brasil. O
agronegócio inclui um conglomerado de atividades com enorme efeito multiplicador
nas economias dos países.

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