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Histórico e correntes
O termo agroecologia parece ter surgido na década de 1930, como sinônimo de
ecologia aplicada à agricultura (GLIESSMAN, 2001). Entretanto, no contexto do
aprofundamento da divisão do trabalho na sociedade capitalista e da crescente
fragmentação dos conhecimentos, e com a expansão do capitalismo no campo (da qual a
Revolução Verde é a face mais conhecida), ecologia e agronomia seguiram divorciadas.
Embora a agroecologia tenha sido inicialmente concebida como uma disciplina
específica que estudava os agroecossistemas, nas décadas seguintes, outras
contribuições foram se somando para dar-lhe sua conformação atual: o ambientalismo; a
sociologia, a antropologia, a geografia e o desenvolvimento rural; e o estudo de sistemas
tradicionais de produção, indígenas e camponeses, de países da periferia do capitalismo.
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No final da década de 1990, e com mais força, a partir do início dos 2000, os
Movimentos Sociais Populares do Campo, em especial aqueles vinculados à Via
Campesina, incorporaram o debate agroecológico à sua estratégia política e passaram a
dar contribuições importantes. Podemos citar a Jornada de Agroecologia (com o lema
“Terra Livre de Transgênicos e Sem Agrotóxicos”), realizada anualmente no Paraná
desde 2002, com um público médio de 4.000 participantes; a campanha “As sementes
são Patrimônio da Humanidade”, lançada pela Vía Campesina durante o III Fórum
Social Mundial, em 2003; e a ocupação do viveiro de mudas da multinacional Aracruz
Celulose, no Rio Grande do Sul, com a destruição de mudas ilegais de eucalipto
transgênico.
A realização do I Encontro Nacional de Agroecologia, em 2002 marcou a
tentativa de articulação nacional dos movimentos e organizações ligados à agroecologia.
Em 2003, realizou-se o I Congresso Brasileiro de Agroecologia, promovido anualmente,
desde então. Desses dois eventos, resultaram duas entidades de abrangência nacional: a
Articulação Nacional de Agroecologia-ANA (fundada em 2002), e a Associação
Brasileira de Agroecologia-ABA (fundada em 2004).
O debate conceitual
A agroecologia foi definida por Altieri (1989), na primeira publicação mais
sistemática sobre o tema, como “as bases científicas para uma agricultura alternativa”.
Como ciência, a Agroecologia emerge de uma busca por superar o conhecimento
fragmentário, compartimentalizado, cartesiano, em favor de uma abordagem integrada.
Seu conhecimento se constitui, mediante a interação entre diferentes disciplinas, para
compreender o funcionamento dos ciclos minerais, as transformações de energia, os
processos biológicos e as relações socioeconômicas como um todo, na análise dos
diferentes processos que intervêm na atividade agrícola.
A agroecologia pode ser caracterizada como “uma ciência que fornece os
princípios ecológicos básicos para estudar, desenhar e manejar agroecossistemas
produtivos e conservadores dos recursos naturais, apropriados culturalmente,
socialmente justos e economicamente viáveis” (ALTIERI, 1989), proporcionando, dessa
maneira, bases científicas para apoiar processos de transição a estilos de agriculturas de
base ecológica ou sustentável (CAPORAL; COSTABEBER, 2004).
Estas definições já indicam aspectos importantes da Agroecologia e permitem
diferenciá-la de outros processos dos quais tem sido interpretada como sinônimo, seja
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LINHART, Robert. Lênin, os camponeses, Taylor. Rio de Janeiro: Marco Zero, 1983.